APFSDS (Armor-Piercing, Fin-Stabilized,
Discarding-Sabot): Munição perfuradora de blindagens, estabilizada por
aletas e de cinta descartável.
O projétil APFSDS
é um tipo de munição perfurante de atuação por energia
cinética que, como o próprio nome diz, não usa explosivos e causa seus efeitos
através da intensa dissipação de energia decorrente de seu impacto, através de
um elemento de altíssima densidade, ao qual é imprimida enorme aceleração.
É usada para atacar as armaduras mais avançadas dos
blindados modernos de primeira linha e constitui na principal munição usada
pelos MBTs quando em combate direto com seus pares inimigos. Estes projéteis
são constituídos por um núcleo de metal muito duro como o carbeto de tungstênio
ou o urânio empobrecido e subcalibrados
a fim de concentrarem sobre seus alvos uma impressionante carga de energia
cinética sobre uma área mínima, rompendo as armaduras através do intenso
estresse decorrente, atingido cerca de 1.800 graus celcius no impacto e provocando o
estilhaçamento e derretimento da armadura, pulverizando o interior dos
veículos.
Quanto mais comprida for a haste penetradora, maior será
sua massa e conseqüentemente a energia que transmitirá. Quanto maior for seu
diâmetro, maior será seu arrasto induzido e menor a velocidade de impacto. Como uma haste
longa de metal é aerodinamicamente instável, o núcleo conta com barbatanas
(aletas) que lhe dão estabilidade em voo, razão pela qual também é conhecida
como munição “flecha”. Podem ser disparadas de canhões de alma lisa ou raiada,
estes porém imprimem ao projétil uma rotação
que ao mesmo tempo que produzem um efeito estabilizante, reduzem
sensivelmente seu desempenho, pois o arrasto decorrente faz com que chegue ao
alvo com velocidade reduzida e consequente impacto menos potente. Canhões de alma raiada também sofrem desgaste excessivo, sendo os da alma lisa preferidos para esta munição.
O núcleo duro é montado no interior de um invólucro (Sabot) que
tem por função adequar-se ao diâmetro do cano e é descartado imediatamente
depois que deixa o interior da arma, quebrando pelo estresse provocado pela
intensa pressão do disparo. Nos disparos a partir de armas de alma raiada estes
invólucros são dotados de obturadores de deslizamento, que permitem que o
núcleo gire a uma taxa muito inferior e eles, com sensíveis ganhos
aerodinâmicos, pois uma rotação muito alta sobre as aletas produz um arrasto significativo.
A capacidade de penetração de um projétil em uma armadura
é uma relação direta de sua densidade, massa e velocidade (e=mc2) e a densidade
e espessura do alvo. Estes projéteis requerem velocidades iniciais muito altas,
o que requer pressões internas igualmente grandes, não sendo possível
dispará-los de qualquer arma. Um penetrador efetivo, além de ser muito denso
deverá ser dúctil suficiente para não se quebrar no impacto, e ter a capacidade
de sobreviver às altas acelerações do lançamento. Por fim deverá ainda alcançar
o alvo em ângulo favorável e sobreviver a contramedidas como as armaduras
reativas.
O desenvolvimento de armaduras mais complexas de natureza
composta e ação reativa provocaram o desenvolvimento de penetradores mais
complexos, com complexas ligas de tungstênio e urânio empobrecido, ambos duros,
dúcteis, muito densos e fortes. Porém cada material tem suas particularidades,
como o urânio que tem propriedades pirofóricas e seus fragmentos tendem a
inflamar no impacto quando em contato com o ar e incendiar combustível e munição do alvo, contribuindo
para a letalidade do impacto. Apesar destas características que o tornam um
pouco mais efetivo que os projéteis de tungstênio, apresenta inconvenientes
sérios e controversos, devido a emissão de radiação residual (material
radiativo). O tungstênio continua mais abundante e barato, sendo usado pela
maioria.
O “Sabot” (invólucro descartável) usado para lançar um
projétil de tungstênio não se presta ao lançamento de um projétil de urânio, mesmo
que tenham exatamente a mesma forma. Os dois materiais se comportam de maneiras
diferentes sob altas pressões e forças de aceleração elevadas, de modo que o
“sabot” é completamente diferente em sua integridade estrutural. Estes
projéteis operam a velocidades de 1.400
a 1.900 m/s, porém o comprimento da peça é mais importante do que a
velocidade de impacto, embora esta seja fator significativo e uma velocidade
mínima essencial. O modelo M829 dos EUA voa a 200 m/s mais rápido que o modelo
M829A3 mais novo, porém possui apenas a metade do comprimento e é inadequado a
penetração de armaduras compostas de última geração.
Um dos maiores desafios de engenharia ao projetar
“sabots” na atualidade é a necessidade de lançar penetradores excessivamente
longos (cerca de 800 mm), pois seu peso extrapola o desejado e subtrai
velocidade de todo o projétil, chegado a quase a metade da massa de todo o
conjunto, além do custo de materiais mais resistentes. Os fragmentos do “sabot”
ao serem descartados quando deixam o tubo também viajam a velocidades muito
altas em trajetórias imprevisíveis, oferecendo perigo real às tropas e veículos
leves, requerendo seu disparo a observação de critérios mínimos de segurança nos primeiros 1.000 metros.