domingo, 15 de janeiro de 2017

Salto Livre Operacional - Paraquedismo Militar #130


A tropa paraquedista, seja ela composta por grandes contingentes como brigadas ou divisões inteiras, ou por pequenos grupos como aqueles praticados pelas forças de operações especiais; tem como característica fundamental de seu envelope de atuação a elevada mobilidade estratégica proporcionada pelas aeronaves que a vetora. Os exércitos do mundo a utilizam nos tempos modernos como sua primeira linha de resposta devido a sua capacidade de mobilização em tempo mínimo e de se deslocar facilmente a grandes distâncias para atender às demandas que exigem pronta resposta, e taticamente para ocupar pontos sensíveis atrás das linhas inimigas até que a tropa convencional e melhor armada pratique uma operação de junção.

O salto livre operacional é uma modalidade de paraquedismo militar praticado por pequenas frações de tropas, e proporciona ao elemento paraquedista uma flexibilidade maior que o salto enganchado. Grandes contingentes saltam na modalidade de salto enganchado, que força a abertura do paraquedas assim que o indivíduo deixa a aeronave, evitando desta forma que o caos e a confusão se instalem em uma operação de grandes proporções, devido a abertura tardia dos velames.

No salto livre a abertura dos velames fica a critério de cada indivíduo, devendo ser praticado apenas por aqueles com adestramento apurado. Podendo ser lançado de grande altitude, de dia ou à noite, e com um nível de furtividade superior, proporciona ao paraquedista que se desloque planando em queda livre por grandes distâncias, visando o pouso em áreas restritas com elevado grau de precisão quando dotado de equipamentos modernos e alheio aos olhares do inimigo.  Permite ainda que a fração de tropa se reorganize no ar em torno de seu líder, desloque-se por médias distâncias ocultos aos radares e pouse em uma área restrita, que pode ser conjugado com outro processo de infiltração, como o mergulho de combate, por exemplo. 

A técnica denominada de HALO (High Altitude Low Opening - lançamento a alta altitude e abertura do velame a baixa) é uma técnica de infiltração praticada por forças de operações especiais que fazem o salto livre operacional atingir sua performance máxima, pois permite que estas tropas cruzem fronteiras em queda livre com possibilidade de detecção mínima, com aeronaves muito altas e longe das áreas de aterragem e abertura dos velames próximos ao solo. Este tipo de saldo é muito perigoso ao seus praticantes, e deve ser executado dentro da técnica que lhe é peculiar, com risco de morte àqueles que o negligenciarem.

No início do século XX acreditava-se que uma queda longa resultaria em uma velocidade elevadíssima, impedindo a respiração e levando a morte. Em 1925 um instrutor do US Army decidiu provar que quando praticada dentro de uma técnica adequada, estas quedas não ofereciam perigo. Saltando de 2.300 metros, ele atingiu a velocidade terminal após 12 segundos. A medida que a gravidade acelera o corpo do paraquedista em queda livre, a resistência do ar aumenta geometricamente com a velocidade que se estabiliza a cerca de 200 km/h e se mantem. Quanto mais alta a altitude, maior o tempo que se leva para atingir a velocidade terminal, e maior será esta velocidade que poderá se reduzir a medida que se atinge camadas mais densas de atmosfera.

Na técnica HALO  os paraquedistas enfrentam altitudes comparáveis àquelas praticadas pelos alpinistas de elite. Grandes altitudes, da ordem de 9 km apresentam características singulares como temperaturas de -40 graus Celcius e ar extremamente rarefeito, o que exige do indivíduo equipamento capaz de suportar os rigores do salto. Equipamento inadequado pode causar hipoxia, enrijecimento de extremidades e hipotermia, além de danos ao corpo e ao equipamento pelo choque com o granizo. Somente indivíduos bem adestrados e experientes estão autorizados a praticá-lo, pois exige grande nível de especialização. Saltos acima de 10.700 metros de altitude são considerados não viáveis por equipes que devem estar prontas para o combate.

Além dos conhecimentos de paraquedismo, os praticantes de salto livre operacional deverão ter capacidade de navegação a longas distâncias, equipamento adequados às condições de baixa temperatura e hipoxia e outros fenômenos meteorológicos, como o granizo que poderá danificar equipamento de má qualidade.


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Reconhecimento, Escolha e Ocupação de Posição #129


A ocupação de posição é uma atividade necessária a todas as unidades militares, estejam elas buscando posicionamento tático adequado ao combate ou posicionamento administrativo para que possam desempenhar suas funções na área de operações.

Em condição de combate, a ocupação de uma posição deve cercar-se de cuidados e medidas de segurança a fim de preservar a integridade e poder de combate dos efetivos envolvidos, e ao mesmo tempo permitir que as unidades exerçam com eficiência máxima todas as funcionalidades que lhes são inerentes.

Uma unidade é considerada desdobrada no terreno, e conseguinte em condições plenas de cumprir sua missão quando está com seu material operando em um dispositivo mínimo considerado operacional e com a devida munição disponível, quando a unidade a demandar; suas ligações de comando e controle estabelecidas com um fluxo regular de ordens necessárias através de redes de comunicação orgânicas; sua rede de observação e vigilância instalada e produzindo os informes operacionais afins ou no caso de unidades de apoio a capacidade de inteirar-se tempestivamente das demandas das unidades apoiadas e, seus apêndices logísticos proporcionando o suporte mínimo necessário para que a unidade opere com eficácia.

O desdobramento de uma unidade no terreno deve considerar um grande número de aspectos para que possam cumprir sua missão com a segurança e eficiência. Devem ser observados:
  • Ciência dos planos do escalão superior que possam envolver a unidade, de forma que esta possa estar em condições de oferecer os recursos que este demandar.
  • Tamanho da área a ser ocupada, de forma a comportar todos os meios da unidade, e sua posição relativa na área de operações mais adequada a sua missão.
  • Segurança em relação ao assédio do inimigo, sua posição relativa às unidades mais capazes de absorver o choque direto, inserção na malha de defesa antiaérea do escalão superior, desenfiamento dos campos de tiro das unidades de artilharia do inimigo e cobertura de retaguarda e flancos eventualmente expostos, cobertura natural e capacidade de camuflagem e ocultação.
  • Segurança em relação a infortúnios da natureza, como avalanches, enchentes e enxurradas, deslizamentos, doenças veiculadas por mosquitos e outros meios naturais, frio e calor, presença de animais selvagens perigosos e outros.
  • Estradas e meios de ligação que permitam a unidade cumprir com suas obrigações, que suportem o tráfego necessário e existam em número suficiente, com pontes capazes e áreas de estacionamento suficientes.
  • Capacidade de trocar de posição de forma fluida e natural quando se fizer necessário, com posições nas proximidades se esta possibilidade for considerada importante, bem como a disponibilidade de rotas de fuga ou retraimento.
  • Capacidade de uso do espaço aéreo a partir do solo se esta condição for necessária; disponibilidade de acessos ao mar, rios e lagos.
  • Proximidade de vilas e cidades e os prós e contras que esta localização acarreta.
  • Disponibilidade de água e energia elétrica para as unidades que delas necessitem.
  • Capacidade, em relação a posição, de ser apoiada pelas unidades logísticas e de apoio ao combate necessárias.


O Reconhecimento

Escolhidas as possíveis áreas de desdobramento da unidade através de estudos nas cartas da área de operações, seu estado maior providencia as ações de reconhecimento da posição, onde o pessoal especialista da unidade avalia se as condições das áreas pré-selecionadas atendem as suas necessidades específicas. O reconhecimento deve ser executado por efetivos mínimos de forma a ser ágil e eficaz, envolvendo oficiais mais experientes podendo contar até com o comandante da unidade. Ações de reconhecimento devem levar em consideração a presença do inimigo na área as cercar-se de efetivos de segurança, caso se julgue necessário.

Ocupações de posição se dão em áreas pacificadas e sob controle amigo, porém em combate toda a cautela se faz necessária, pois imprevistos acontecem àqueles mais desavisados e negligentes. São verificadas a adequação da área, se seu tamanho comporta a dispositivo, a situação em relação a forças amigas e inimigas e a capacidade da unidade ali desdobrada operar conforme o esperado.

Pode-se empregar vários meios para o reconhecimento como a observação aérea, a indispensável presença no local pelo alto comando da unidade, além do estudo de arquivos e dados existentes sobre as locações consideradas.

Particularmente importante é o reconhecimento dos itinerários de acesso, a resistência das pontes e as condições das estradas,a presença de áreas minadas e propícias a emboscadas. Também deve ser considerado o volume de tráfego dos itinerários escolhidos, pois em terrenos restritos as estradas podem ser escassas e o deslocamento difícil. Uma unidade que tem seu deslocamento interrompido por problemas, como um congestionamento por exemplo, podem ter sua capacidade operativa prejudicada ou interrompida.

O reconhecimento pode ainda envolver procedimentos técnicos como a pontaria de peças, no caso da artilharia de campanha por exemplo. Pode envolver levantamentos topográficos e trabalhos de engenharia, se dando de dia ou a noite. 

Em campanha o posicionamento das unidades no terreno e em relação a suas pares, bem como em relação ao inimigo é muito importantes e pode fazer a diferença na eficácia operacional desta, principalmente quando se opera em terreno restrito e com poucas estradas e áreas aproveitáveis, tendo-se que dispensar especial atenção a disciplina de tráfego adotada vigente e a existência de congestionamentos, que podem comprometer de forma séria a operatividade de todo o sistema. O congestionamento aéreo e aquaviário também deve ser considerado.