veja Também: Morteiros
O obuseiro é o sucessor nos campos de batalha das
catapultas medievais, e surgiu no século XVII como uma arma de cerco, tal qual
sua antecessora. Com uma lenta introdução durante o século seguinte,
consolidou-se como uma arma capaz de disparar projéteis explosivos, ao
contrário dos canhões da época que disparavam projéteis cinéticos. Estas bocas
de fogo passaram a acompanhar as tropas em campanha a medida que adquiriam a
mobilidade necessária, e tanto no cerco como no campo podiam endereçar
invólucros de metal recheados de pólvora, variando seu ângulo de tiro, o que
demandou o desenvolvimento de uma técnica para que o projétil atingisse seu
alvo. Dessa forma sua operação era mais complicada que a dos morteiros e
canhões, o que demandou guarnições capazes de realizar cálculos, resultando em
uma arma muito mais flexível que seus similares, utilizando-se de trajetórias
variadas. Os projéteis cinéticos esféricos cederam lugar aos cilíndricos
explosivos, capazes de carga equivalente (em volume) com calibres bem menores.
O século XX trouxe a esta arma a maturidade, após uma
longa gestação entre armas de alma lisa ou raiada, com aplicação de sítio ou em
campanha. A guerra de trincheiras do início do século XX demandou trajetórias
altas com ângulos de impacto pronunciados, os tubos tornaram-se mais longos com
os alemães adotando modelos de 105 mm e 16 e 22 calibres. Ao mesmo tempo
canhões de 77 mm capazes de ângulos mais altos foram entregues, assumindo parte
da função dos obuseiros. O entre-guerras resultou na tendência de fusão de
ambos os tipos. A grande guerra que se seguiu consolidou o uso da artilharia
como arma principal nas forças soviéticas, sendo estes parte fundamental de sua
doutrina. Surgiram os freios de boca para redução do recuo e estas armas
consolidaram a tendência de canos longos, cargas de projeção múltiplas e
escolhidas conforme o alcance, altas velocidades iniciais e ângulos de tiro
superiores aos 45º. O obuseiro passou a compor as fileiras de todos os
exércitos modernos.
O obuseiro é a peça padrão da artilharia de campanha
moderna no que diz respeito a artilharia de tubo, e uma das principais armas do
campo de batalha da atualidade. É a principal arma provedora de fogos apoio, e
equipa a grande maioria das unidades de artilharia. As outras armas que, ao
lado do obuseiro também compõem as unidades de artilharia, são os morteiros e
os lançadores múltiplos de foguetes (MLRS Multiple Launch Rocket System). Estes
primeiros são armas mais simples e baratas, e ainda com peso reduzido em
relação ao obuseiro, porém não alcançam a mesma precisão nos impactos. Os
morteiros de 120 mm rivalizam com os obuseiros de 105 mm em alcance e são
empregados em tropas leves ao lado dos mesmos, onde a maneabilidade torna-se o
principal fator. Os MLRSs são armas mais poderosas e caras, que exigem
estruturas logísticas para remuniciamento mais complexas, e provocam efeitos
mais devastadores, sendo empregados em unidades de escalão superior e não são
adequadas ao apoio de fogo às armas-base.
Idêntico ao canhão tradicional aos olhos do leigo, o
obuseiro diferencia-se deste por sua capacidade de realização do tiro
balístico, por cima das cabeças da tropa apoiada, valendo-se de técnica de tiro
mais elaborada uma vez que as baterias não visualizam seus alvos, e material
que emprega velocidades iniciais e pressões de tubo inferiores. O obuseiro possui ainda a capacidade de
realizar o tiro vertical (acima dos 45º), tal qual os morteiros. Muitos o
designam erroneamente como “obus”, porém vale salientar que este termo designa
a munição, e não o reparo lançador da mesma, embora existam interpretações
diversas. Vocacionado para a realização do tiro balístico, o obuseiro pode,
inopinadamente, realizar o tiro tenso ou direto, tal qual um canhão
tradicional, possibilidade esta impossível aos morteiros.
O obuseiro opera compondo baterias de tiro, geralmente de
4 ou 6 unidades, que disparam seus fogos de forma coletiva obedecendo a
elementos de tiro comums e disparos simultâneos, a fim de proporcionar volume
de fogo na área de impactos (no alvo). O obuseiro não é uma arma de precisão,
sendo seus impactos considerados “no alvo” quando atingem determinada distância
deste, geralmente de 50 m, dependendo do calibre do material e do raio de ação
dos arrebentamentos (no material de 105 mm é de 25 m). Operando a retaguarda dos “fronts” de combate, e sem
visualizar seus alvos, as baterias de obuseiros contam com os olhos dos
observadores avançados (OAs) para dirigir seus disparos e verificar sua
eficácia. Os OAs inimigos por sua vez, estão de olho nas baterias e tem nelas
seus principais alvos, razão pela qual as baterias de tiro devem sair
rapidamente de posição após cumprirem a missão de tiro, exigindo tanto do
equipamento quanto das guarnições elevada mobilidade e agilidade, sempre que a
ameaça do tiro de contra-bateria estiver presente.
Os obuseiros podem ser montados tanto sobre plataformas
autopropulsadas como rebocadas, sendo os primeiro destinados a acompanhar
forças mecanizadas e blindadas, e os segundos componentes de tropas mais leves
e menos móveis. Os modelos rebocados podem ser aerotransportados com maior
facilidade, possuindo mobilidade estratégica superior aos seus pares
autopropulsados, pois apresentam peso reduzido em relação aos primeiros, tanto
por aeronaves de asa fixa como por helicópteros. Podendo nos helicópteros valer-se
de aerotransporte em suspensão abaixo da aeronave, prática essa usada para
deslocamentos táticos de curta distância e reposicionamento de baterias no
terreno.
A pontaria de um obuseiro é realizada com o auxílio de
pranchetas de tiro baseada em mapas do terreno. Uma luneta de tiro com
graduação angular tem sua pontaria “amarrada” a uma baliza, cujo ângulo
registrado pela visada nesta baliza representa um ângulo real em relação ao
norte. Ao de se designar uma missão de tiro, uma central de tiro calcula na
prancheta o novo ângulo a ser registrado na luneta, que ao ter sua visada
realinhada a baliza faz com que o tubo por conseqüência se realinhe também,
apontando na direção do alvo. O alcance é calculado a partir de tabelas
pré-determinadas e materializado a partir da elevação dada ao tubo e da carga de projeção usada.
Devido a fluidez da guerra moderna e a já citada
necessidade de atirar rapidamente a abandonar a posição, os equipamentos mais
modernos contam com facilidade tanto nos sistemas de pontaria como nos de
carregamento. Estes incorporam sistemas integrados digitais que contam com
localizadores inerciais e GPS ou similares que dão a posição exata da peça e a
distância do alvo, podendo apontar os tubos automaticamente ou fornecerem em
tempo reduzido os dados para tal. Contam ainda com medidores de velocidade
inicial dos disparos proporcionando mais precisão nos disparos, com dados
integrados por computadores balísticos. Alguns modelos permitem a fantástica
capacidade de efetivar alguns disparos (geralmente 3) em seqüência e em ângulos
diferentes para um mesmo alcance, de forma que os projéteis alcancem o alvo ao
mesmo tempo, com os primeiros descrevendo trajetórias mais longas que os
últimos, causando um efeito superior.
Taticamente falando, o obuseiro é uma arma incrivelmente flexível, pois sem trocar de posição pode transportar seus fogos de seu alcance mínimo até o máximo em minutos, em qualquer direção. Isto permite que uma bateria de artilharia efetue um grande número de missões de tiro sem deixar a posição atual, atirando por exemplo, a 10 km para oeste, em seguida 30 km ao noroeste e em poucos minutos 15 km para o norte, se seu alcance permitir. Esta forma de atuação tática só é possível se não houver risco do inimigo em empreender fogo de contrabateria como eram nas bases de fogo do US Army no Vietnam.
Taticamente falando, o obuseiro é uma arma incrivelmente flexível, pois sem trocar de posição pode transportar seus fogos de seu alcance mínimo até o máximo em minutos, em qualquer direção. Isto permite que uma bateria de artilharia efetue um grande número de missões de tiro sem deixar a posição atual, atirando por exemplo, a 10 km para oeste, em seguida 30 km ao noroeste e em poucos minutos 15 km para o norte, se seu alcance permitir. Esta forma de atuação tática só é possível se não houver risco do inimigo em empreender fogo de contrabateria como eram nas bases de fogo do US Army no Vietnam.
A tendência moderna é a padronização dos calibre em 105
mm mais leve e 155 mm padrão, amplamente usados no ocidente e tendência esta
sendo seguida por países de outras partes do mundo, embora outros calibre
também estejam em uso. O modelo de tubo mais usado pelo membros da NATO é o de
155 mm de 52 calibres, e que representa a tendência mundial. Transportar
munição de 155 mm (volumosa) nas quantidades necessárias às missões requeridas
exige grande esforço logístico, sendo que estas armas (mesmo as de 105 mm),
exigem grande esforço de remuniciamento. Mesmo no ocidente as peças de 105 mm
vem perdendo espaço para as 155 mm, ficando exclusivas para tropas mais leves
como tendência.
Os obuseiros e morteiros compartilham com a aviação de CAS, a artilharia naval e os MLRSs a incumbência de proporcionar volume de fogo nos campos de batalha modernos, porém os demais nem sempre estão disponíveis e a artilharia orgânica está diretamente sob o comando dos comandantes de campo, o que garante flexibilidade na sua utilização e a certeza destes comandantes que contarão com o fogo de que necessitam a hora que lhes for conveniente.