domingo, 30 de junho de 2019

Como uma Brigada Blindada Conquistou Bagdá *171



Alex Alexandre de Mesquita


ANTECEDENTES

A conquista de Bagdá foi a última etapa da Operação Iraq Freedom conduzida pelos EUA durante o primeiro semestre de 2003, operação esta que tinha por objetivo depor Saddam Hussein do governo. 

A Operação Iraq Freedom iniciou-se em 20 de março com uma ação ofensiva terrestre a partir do Kuwait, conduzida por uma coalizão entre EUA e Inglaterra, principalmente. Sincronizada com a ofensiva terrestre, ocorreram  uma série de ataques aéreos com mísseis e bombas a Bagdá e arredores. 

Os efetivos, assim como os meios materiais do exército iraquiano, haviam sofrido forte deterioração, desde a Guerra do Golfo (1991), e Saddam contava agora com 17 divisões do exército regular (contra as 40 que possuía na guerra de 1991), além das seis divisões da Guarda Republicana.

Diferentemente de 1991, em março de 2003 as forças da coalisão eram bem menores em número total de homens e meios, porém eram ainda mais qualificadas e acabaram enfrentando um exército iraquiano degradado pelo isolamento de suas fontes estrangeiras de suprimento, sem lideranças expressivas e com o moral depreciado.

O Exército Iraquiano era formado pela Guarda Republicana (constituída pela Divisão Mecanizada Adnan, Divisão de Infantaria Bagdá, Divisão de Infantaria Abed, Divisão Blindada Medina, Divisão de Infantaria Nabucodonossor e a Divisão Mecanizada Hamurabe), pelo Exército Regular (constituído por cinco corpos de exército que incluíam Div Mec, Div Inf e Div Bld) e por unidades especiais como a Unidade 999, o Serviço de Segurança Militar e o Exército do Povo. 

A Força Aérea Iraquiana (FAI) e a Marinha eram pouco expressivas e apresentavam um baixo índice de disponibilidade, o que reduzia o poder de combate daquele país.

Além das chamadas forças regulares, Saddam Hussein contava ainda com um efetivo de tropas irregulares, combatentes muito mais dedicados do que aqueles que integravam as forças regulares. Conhecidos como fedayins (mártires), esses combatentes eram na sua maioria oriundos de outros  países árabes disposto a combater a guerra santa contra os EUA. Por conta da sua organização e pela permeabilidade que possuíam para entrar e sair do país, era muito difícil identificar e calcular o efetivo total desses mártires.

Por outro lado, as forças da Coalizão contavam com um poder de combate cujo principal ponto de desequilíbrio estava na qualidade dos militares e na tecnologia envolvida. Coube ao Comando Central (CENTCOM) a condução da ação militar, enquadrando forças norte-americanas da Marinha, dos fuzileiros Navais, do Exército e da Força Aérea. As forças terrestres do CENTCOM estavam subdivididas em duas grandes estruturas, sendo uma delas constituída exclusivamente por organizações do Exército enquadradas pelo 5º Corpo de Exército, e a outra liderada pela 1ª Força Expedicionária de Fuzileiros que enquadrou a 1ª Divisão Blindada inglesa, entre outros grupamentos de forças.

No dia 20 de março de 2003 iniciou-se a ofensiva terrestre com o 1º Batalhão do 7º Regimento de Fuzileiros Navais a partir do Kwait. Além do 1º /7º Regimento, mais de 50 unidades valor batalhão também romperam a linha de partida com o objetivo de conquistar os campos petrolíferos iraquianos para que não fossem destruídos, o que poderia causar um grande desastre ambiental.




Estimava-se que o inimigo combateria as forças de coalizão com oito divisões, mas já se tinha a informação de que boa parte de suas forças havia desertado e retornado à vida civil. Isso aconteceu principalmente em função da violenta ofensiva a partir do Kwait, da campanha aérea contra Bagdá e das ações de operações psicológicas conduzidas antes da ação bélica propriamente dita.

Até a conquista da capital iraquiana havia a necessidade de assegurar a uma importante passagem sobre o rio Eufrates próximo à pequena cidade de Nasiriyah e o corredor de Karbala, por onde passava a Rodovia 8, porta de entrada dos subúrbios da cidade. Em Bagdá, outro objetivo era o Aeroporto Internacional de Bagdá, que tinha grande valor simbólico para o regime e alto valor militar para a coalisão, pois permitiria a ligação aérea com o exterior.

Em 2 de abril, a 3ª Divisão de Infantaria começou a se preparar para cruzar o rio Eufrates, cujas pontes não haviam sido destruídas, como muitas outras no decorrer dos combates. Nessa mesma data carros de combate norte-americanos começaram a cruzar o rio e tropas iraquianas tentaram impedi-los, mas sem sucesso. Estavam criadas as condições para o avanço à Bagdá pela 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada, ação esta que se  iniciou com a conquista do Aeroporto Sadam Hussein e do centro de Bagdá pela a “2nd Brigade Combat Team”. 

A seguir, será analisada a ação dessa brigada investindo em Bagdá, realizando o que ficou conhecido como “Thunder  Run”




A AÇÃO NORTE-AMERICANA

Até a chegada aos subúrbios de Bagdá a ofensiva da coalizão estava sendo conduzida com uma extraordinária velocidade e os comandantes não pretendiam interromper ou reduzir esse ímpeto, agora que estavam prestes a investir contra a capital iraquiana. Entretanto, as lembranças dos combates em Mogadíscio ainda estavam vivas na memória de todos os combatentes desdobrados no Iraque.

O general Tommy Franks, comandante do V Exército Norte Americano, estava convencido de que os oponentes haviam perdido os meios para uma defesa organizada em Bagdá e desta forma deu liberdade para que ações de reconhecimento em força fossem realizadas pelos seus elementos subordinados.

Sua intenção era a levantar o dispositivo, a composição e valor do inimigo que possivelmente estivesse no interior da cidade. Essa autorização está relacionada às estimativas referentes ao valor do inimigo. Era possível conceber que incursões relâmpago ao centro da cidade pudessem ser bem sucedidas, pois funcionariam como  demonstrações de força e ação de choque.

Isso fez com que em 5 de abril a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada realizasse uma operação de reconhecimento em força que ficou conhecida como Thunder Run.

Para cumprir essa missão, foi designado o 1º Batalhão do 64º Regimento Blindado, que a partir das suas posições localizadas nos subúrbios de Bagdá seguiu rumo à região do Distrito Governamental, onde se localizava o Palácio Presidencial e os ministérios. Sabia-se que o centro da cidade estava repleto de  fedayins,  de elementos remanescentes da Guarda Republicana, de remanescentes do Exército regular e de fanáticos estrangeiros e o avanço do 1º/64º Regimento Blindado acabou por levantar importantes informações a esse respeito. 

O sucesso dessa operação contribuiu para assegurar  que os iraquianos estavam realmente debilitados e não tinham condições de conduzir uma defesa organizada. Na realidade o que se apresentava era uma resistência descontínua, onde não havia unidade de comando, por conta da campanha aérea ter reduzido a um mínimo a capacidade de comando e controle de Saddam e de seus generais.

Em 7 de abril o comandante de 3ª Divisão de Infantaria, general Blount concluiu que poderia mais uma vez se valer da ação  de choque de seus meios blindados para, de uma forma decisiva, conquistar o centro da capital do Iraque.

Para isso, ele decidiu empregar a 2ª Brigada, então comandada pelo coronel Perkins, para realizar um segundo Thunder Run, agora com a missão de conquistar e manter a região dos palácios, que foi designada como objetivo DIANE.

A 2ª Brigada estava composta pelas unidades:
  • 3º Batalhão do 15º Regimento de Infantaria, dotado de VBC Fuz Bradley;
  • 1º e 4º Batalhões do 64º Regimento Blindado, dotados de CC Abrams
  • Esquadrão E do 9º Regimento de Cavalaria Blindado, dotado de CC Abrams e VBC Fuz Bradley 
  • 1º Batalhão do 9º Regimento de Artilharia de Campanha, com VBC Obus M 109. 
Com essa organização, é possível identificar que a brigada tinha forte componente de carros de combate.

O acompanhamento de inteligência identificou e informou que a missão não seria tão fácil quanto a executada no dia 5 de abril. As forças inimigas começaram a estabelecer posições de bloqueio na região dos entroncamentos principais da cidade, empregando áreas minadas e construindo obstáculos com escombros para impedir qualquer movimento. A rodovia 8, principal via de acesso em direção à cidade estava toda minada.




A operação foi planejada de modo que a FT 1º/64º Regimento Blindado conquistasse e mantivesse o objetivo DIANE, enquanto a FT 4º/64º Regimento Blindado  conquistaria dois outros palácios próximos ao rio  Tigre, objetivos designados como WOOD WEST e WOOD EAST. Desataca-se que ambas as FT eram fortes em carros de combate e dessa forma pouco aptas a manter o terreno.

A terceira unidade, a FT 3ª/15 Regimento de Infantaria , forte em fuzileiros, ficou com a missão de manter a posição inicial da brigada, objetivo SAINTS, com parte de seu efetivo, estabelecer uma linha de comunicação e suprimento desse ponto até os objetivos WOOD e bloquear a rodovia 8, devendo conquistar e manter as três maiores interseções ao longo da rodovia. Esses objetivos receberam os nomes de a CURLEY, LARRY e MOE.

O Cel Perkins já havia percebido que a principal tática dos iraquianos era atacar as forças norte-americanas quando estas estavam estacionadas, por isso foi tomada a decisão de manter a brigada sempre em movimento. A FT 1º/64º Regimento Blindado, que liderou o movimento não deveria parar sob hipótese alguma, qualquer viatura danificada deveria ser ultrapassada, seus integrantes socorridos e no menor espaço de tempo dever-se-ia destruí-la ou inutilizá-la.  O ataque iniciou às 05h38min, mas teve que inicialmente vencer uma área minada, o que levou cerca de 20 minutos e às 06h00min a brigada iniciava o seu Thunder Run. 

Por volta das 06h11min a subunidade testa estabeleceu contato com o inimigo, sofrendo fogos de armas automáticas, RPG e morteiros, danificando um CC que foi deixado para trás e sua guarnição socorrida, como havia determinado o coronel Perkins.

Contudo essa resistência, mais uma vez desorganizada não foi suficiente para deter o avanço da brigada. Verificava-se que embora os iraquianos tivessem tido tempo de preparar posições defensivas eficientes isso não ocorreu. Não havia integração entre o fogo e a manobra, as posições e  as áreas de obstáculos não eram batidas por fogos. Na verdade, mais e mais se confirmava que o inimigo conduzia uma resistência descontínua.

Às 07h56min a FT 4º/64º Regimento Blindado informou que havia conquistado seus objetivos e os mesmos já haviam sido vasculhados, entretanto essa informação não reduziu um sério problema ocorrido às 07h00min, quando o Centro de Operações Táticas (COT) da brigada foi atingido por um míssil ou foguete.

Esse fato retirou do comandante a capacidade de coordenar a manobra e o apoio de fogo, o que poderia comprometer toda a missão. Somente às 09h00min é que o COT voltou a funcionar em plenas condições.

O combate continuou intenso até o dia 8, mas a maioria do inimigo era formada por  fedayins, que embora não possuíssem formação militar de combate mostravam-se bastante determinados em cumprir a sua missão pela causa árabe. Assim, eles desfechavam ataques suicidas com carros bombas e homens bombas, além de disparos a curta distância com RPG. O único local em que se apresentaram elementos da Guarda Republicana foi próximo ao centro de Bagdá. Próximo ao objetivo MOE onde os iraquianos atacaram com uma FT de T-72 e BMP-1 e empregaram também armas antiaéreas realizando o fogo direto.

No dia 8 de abril, pela manhã a 2ª Brigada sofreu um contra-ataque vindo de leste do rio Tigre. Os iraquianos formavam pequenos grupos de 10 a 20 homens com RPG e armas automáticas. Muitos usavam roupas civis, mas alguns foram identificados como integrantes da Guarda Republicana. A ação foi rechaçada e enfim a posição da 2ª Brigada se estabilizou e a linha de comunicação e suprimento havia sido estabelecida.

Isso permitiu que a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada determinasse que a 3ª Brigada atacasse Bagdá pela Rodovia Nr1 em 9 de  abril, ligando-se com a 2ª Brigada. No dia seguinte a 1ª Brigada realizou a limpeza da Rodovia Nr 8, desde o aeroporto, vindo por fim a ligar-se com 2ª Brigada no centro de Bagdá. Não foram contabilizadas todas as perdas iraquianas, mas com certeza chegaram à casa do milhar e mais de cem veículos foram destruídos. Não houve prisioneiros de guerra, aqueles que se rendiam eram desuniformizados e liberados, pois os únicos iraquianos que os norte-americanos queriam prender eram os assessores de Sadam e o próprio presidente.  

O emprego de meios predominantemente blindados na conquista de Bagdá surpreendeu muitos especialistas militares que previam uma derrota fragorosa da coalizão combatendo em ambiente urbano. Entretanto a lembrança de Mogadíscio, onde tropas leves foram cercadas e quase destruídas por somalis ainda persistia na mente dos comandantes norte-americanos, como registra Zucchino : “Blout e Perkins não queriam repetir Mogadísico. [...] A coluna blindada tem distintas vantagens sobre as forças leves de Rangers e Delta Forces que conduziram o ataque em Mogadíscio”.

Além disso, era senso comum que os blindados dentro de Bagdá seriam alvos fáceis para os iraquianos e que, assim como em Grozny, o resultado seria desfavorável ao atacante. Os próprios comandantes norte-americanos temiam pelo sucesso da missão, mas ao final tudo se transformou em sucesso.



A MISSÃO

A missão da 2nd Brigade Combat Team era conquistar a região do distrito governamental onde se localizava o Palácio Presidencial e os demais edifícios ministeriais do governo iraquiano, de modo a contribuir com a missão da 3ª Divisão de Infantaria de conquistar Bagdá. O comando da 3ª Divisão, ouvido o comandante da 2ª  Brigada, resolveu empregar a sua grande unidade com maior quantidade em carros de combate e veículos blindados. 

Isso foi decorrente do fato de que a missão compreendia a conquista de objetivos específicos, que não demandariam, obrigatoriamente, a necessidade de vasculhamento. Isso justifica emprego de uma Bda Bld e a utilização da técnica de investimento seletivo. Tanto o coronel Perkins, comandante da brigada como o general Blount, comandante da divisão não aceitavam o consenso convencional de que empregar blindados em ambiente urbano é uma desvantagem. Para eles, os blindados não só podiam combater em ambiente urbano, como também prevalecer.



O INIMIGO

Após os combates conduzidos desde o dia 20 de março as forças terrestres iraquianas estavam desorganizadas, com efetivos incompletos por baixas e deserções e com equipamento e armamento parcialmente destruído ou obsoleto, Saddam Hussein ainda comandava seu exército e determinou que a defesa de Bagdá fosse realizada a todo custo. O centro de Bagdá ainda estava repleto de combatentes da Guarda Republicana, do Exército Regular e dos fedayins. Segundo fontes do sistema de inteligência norte-americano, Saddam dispunha em Bagdá de duas brigadas da Guarda Republicana e 15.000 fedayins. 

Dessa forma ainda havia em Bagdá carros de combate em número ignorado, viaturas blindadas de diversos tipos, artilharia de campanha e antiaérea, dentre outros componentes dos diversos sistemas operacionais.

Próximas ao centro de Bagdá estavam concentradas as forças regulares iraquianas que incluíam uma combinação de elementos a pé e mecanizados pertencentes à Guarda Republicana.

Esse inimigo em particular tinha condições de atacar com CC T-72 e VBC Fuz BMP-1 (Foto 3) e armamento antiaéreo empregado para o fogo direto. Havia somente uma posição defensiva organizada com trincheiras e tocas e outras posições preparadas nos edifícios que dominavam os entroncamentos rodoviários.

Nesse momento, as forças convencionais ainda atuavam enquadradas por comando superiores. Particularmente a Guarda Republicana e o comando geral estavam sob responsabilidade dos filhos do presidente, que nada conheciam a respeito do emprego rápido de forças militares e não dispunham de meios de comando e controle para coordenarem suas ações. Esses fatores contribuíram para que a resistência iraquiana não respondesse de forma rápida e eficaz a investida das tropas da coalizão.

As forças militares iraquianas apresentavam uma vulnerabilidade peculiar, que era o seu sistema de informações públicas. O ministro da Informação Ali Mohamed Said al-Sahhf insistia em repetir que o combate estava sendo vencido pelas forças do Iraque e que os norte-americanos estavam sofrendo pesadas baixas, o que não era verdade. Essa prática foi determinante para que as forças iraquianas em Bagdá não esperassem o investimento dos norte-americanos, não se preparando para a defesa efetiva da cidade. Isso contribuiu para reduzir o seu poder de combate.

Em verdade somente os fedayns continuavam lutando tenazmente, mas por conta de suas múltiplas origens e procedências esses combatentes não possuíam uma unidade de comando convencional. Os  fedayins também não estavam habilitados a operar os equipamentos militares mais complexos, como os carros de combate de origem russa. Assim, a resistência iraquiana ficou reduzida a grupos armados com armas automáticas e RPG que não chegaram a causar danos consideráveis aos blindados das forças dos EUA e nem baixas aos soldados. Ao concentrar o poder em suas mãos e centralizar todas as decisões Saddam Hussein pode ter contribuído para que houvesse reduzida resistência em Bagdá. 

Os seus comandantes subordinados, nos diversos níveis, não puderam se valer da iniciativa para tomar decisões que poderiam contribuir para a defesa da cidade, como por exemplo, preparar as edificações como posições defensivas, preparar túneis para auxiliar na movimentação entre os edifícios ou preparar destruições em obras de arte diversas.

Outra característica importante é que não havia um sistema de defesa organizado na cidade, embora Saddam tenha dito que um anel de aço protegia Bagdá. Isso pode ter sido resultado do desgaste sofrido durante a campanha no deserto desde a fronteira com o Kwait. Como até a chegada a Bagdá havia predominado o combate convencional e muitas das forças em Bagdá eram compostas por militares que haviam se retirado do deserto, não houve tempo nem coordenação para a execução de uma defesa eficiente.

Ao se observar as ações dos fedayins é possível identificar o início de um combate irregular, principalmente por meio da utilização de técnicas de emboscada. Também começava a ficar difícil identificar o inimigo, pois este começou a atuar desuniformizado  e empregando até mesmo veículos civis, como, por exemplo, o que os norte-americanos chamam "techinicall". Essa mudança de atitude começou a configurar um combate assimétrico e os valores numéricos relativos ao poder de combate do inimigo, já não representavam fielmente as possibilidades do inimigo.




Foram empregados também muitos IEDs e também se registrou a ocorrência de homens-bomba, mas em algumas regiões de Bagdá predominaram as minas terrestres em ruas e avenidas. As minas tinham o objetivo de reduzir a velocidade de progressão dos militares norte-americanos, enquanto que os dispositivos explosivos e homens bombas eram empregados para causarem baixas.

Ainda sobre os fedayins, a sua principal motivação para o combate vinha da crença e fanatismo religioso. A crença de que tinham a missão de derrotar o grande Satã e de que estavam lutando uma guerra santa. Isso era um fator moral positivo para os defensores de Bagdá, mas nem todos agiam ou pensavam como eles.

O fato de Saddam Hussein ter sido um ditador violento e vingativo fez com que as diversas etnias por ele perseguidas e rivais entre si não apoiassem as ações em Bagdá, recusando-se a combater, elevando o número de deserções e dificultando o homizio dos combatentes no seio da população. Os militares do
exército do Iraque simplesmente despiam seus uniformes e se transformavam em cidadãos normais, não contribuindo mais para o esforço de guerra.

Resumindo, o inimigo enfrentado pelos norte-americanos em Bagdá não tinha condições de defender a cidade de forma organizada, mas tão somente apresentar resistências descontínuas. Esse fato muito se deve à aversão que a população iraquiana sentia por Saddam Hussein, negando-se a combater e perder a vida por um ditador violento, vingativo e sanguinário. Embora o ambiente urbano pudesse contribuir para desequilibrar o poder de combate em favor dos iraquianos, não houve uma preparação prévia de posições defensivas, linhas de comunicações e suprimento ou  mesmo delegação de competência para que os pequenos grupos adotassem ações que impedissem o avanço da coalizão.

Somente os  fedayins se mostraram resistentes, passando a empregar técnicas de guerra irregular contra as forças da 3ª Divisão de Infantaria. Entretanto essas ações se aproximaram mais do martírio advindo do fanatismo religioso do que propriamente uma resistência militarmente organizada.

Por fim, ao passar de um combate tipicamente convencional em largas frentes e profundidades, como no deserto, para um combate assimétrico em ambiente urbano os iraquianos não souberam se adaptar para tirar o máximo proveito da cidade de Bagdá, das suas características e das limitações que ela poderia apresentar ao emprego de grandes formações  blindadas e motorizadas norte-americanas.

Foi graças a esse inimigo e a esse modus operandi que a 2ª Brigada pôde realizar o seu Thuder Run, não se preocupando em vasculhar as regiões ultrapassadas, mas somente progredir de forma rápida e potente para o seu objetivo. E foi essa agressividade, somente possível por meio do emprego de meios blindados, que causou a surpresa ao inimigo e a sua conseqüente derrota.




O TERRENO

A capital iraquiana possui uma área de aproximadamente 400 km2 e em 2002 abrigava uma população de cerca de 5.000.000 de habitantes, mas que se reduziu com o conflito em 2003, não havendo dados disponíveis a respeito. A cidade é cortada de sudeste para sudoeste pelo rio Tigre, pelo Canal do Exército e pelo rio Diyala. Além disso, havia pelo menos cinco importantes ramais ferroviários e diversas rodovias e auto-estradas que chegam à cidade.

Isso fazia com que a cidade fosse dividida em setores segmentados. Essa segmentação era interligada por pontes, viadutos, passagens de nível e nós rodos-ferroviários que passaram a ter grande importância para as operações, pois permitiam controlar cada setor. Essa configuração segmentada dificultou o apoio mútuo entre os elementos de manobra da 2ª Brigada. Embora seja uma das cidades mais antigas do mundo, Bagdá passou por uma grande modernização. Essa modernização lhe conferiu uma configuração bastante regular no que se refere à disposição das ruas, com largas avenidas, em quarteirões organizados e grandes espaços abertos, como a região dos palácios.

Essa organização facilitava a marcação de limites e o emprego de meios blindados, mecanizados e motorizados em grandes formações de combate. A observação e os campos de tiro também foram favorecidos pelos espaços amplos e as largas avenidas principalmente no Distrito Governamental.

As edificações em Bagdá seguiam o seguinte padrão: nos subúrbios casas e prédios de pequena a média altura. As casas normalmente construídas em tijolos e os prédios em concreto. Havia também grandes áreas industriais, principalmente petroquímicas próximas ao leito do rio Tigre. No centro da cidade já predominavam os prédios de grande altura, com mais de 15 andares, como hotéis e prédios governamentais, construídos em concreto. Além disso, havia a região dos palácios, com uma arquitetura toda peculiar. 

Por ser a capital do Iraque, Bagdá possuía uma boa infra-estrutura. Havia o Aeroporto Saddam Hussein, a Estação Ferroviária Central, hospitais, a sede administrativa do governo. Havia ainda estações de rádio e televisão, subestações elétricas e uma rede de transporte estruturada. Logicamente, após campanha aérea houve muitos danos a essa infra-estrutura, mesmo com a política de redução de danos e o emprego maciço de armas inteligentes.

O tamanho da cidade facilitava em muito a instalação de um sistema defensivo eficiente, permitia a observação do alto dos principais edifícios e a utilização da infra-estrutura que ainda estivesse intacta para apoiar as operações militares. Para os norte-americanos, o fato de investir contra uma metrópole com cerca de 5.000.000 de habitantes era um desafio extremamente difícil e complexo. Assim como em outros conflitos em ambiente urbano, a existência de prédios altos dificultava a realização de fogos indiretos, pois as granadas de artilharia e morteiro encontravam altos edifícios em suas trajetórias não atingindo o alvo selecionado. 

Isso além de reduzir a eficiência do tiro ia de encontro à política de redução de danos e por vezes contra as regras de engajamento. Mesmo utilizando munições inteligentes, os norte-americanos causaram muitos danos às obras de arte em geral e dessa forma algumas ruas ficaram cobertas de escombros. Para o inimigo isso foi favorável por que limitava o movimento dos veículos e tropas do oponente. Além disso, esses mesmos escombros eram utilizados na construção da proteção das posições defensivas. 

A existência de túneis diversos, como os de esgoto, facilitava a progressão, aumentando a mobilidade tática dos iraquianos, principalmente dos fedayins. Entretanto não houve uma preparação minuciosa da cidade, com a construção de túneis de interligação entre as diversas posições defensivas e dessa forma essa vantagem não pode ser explorada na plenitude.

Em resumo, essas eram as principais características do terreno em que os norte-americanos da 2ª Brigada combateram as forças iraquianas em Bagdá. Por haver muitas áreas abertas, permitindo a observação e o emprego do armamento principal dos CC foi possível o seu emprego e de viaturas blindadas de combate de fuzileiro. Soma-se a isso o fato de que a cidade não havia sido preparada defensivamente para a ofensiva dos Estados Unidos.




OS MEIOS BLINDADOS

A 2nd Brigade Combat Team é na verdade uma grande unidade blindada com CC Abrams, artilharia SPG e fuzileiros embarcados em VBC Fuz Bradley.

O carro de combate M1A1 Abrams é uma modernização do seu original o M1, cujo desenvolvimento é da década de 1980. Essa  versão recebeu um novo canhão de 120 mm, sistemas de proteção químicos, biológicos e nucleares e um pacote de robustecimento da blindagem. O carro é dotado dos seguintes armamentos, além do canhão: uma metralhadora coaxial de 7,62 milímetros, duas metralhadoras antiaéreas de .50 polegadas e 7,62 mm e seis lançadores de granadas fumígenas.

Como todo carro de combate, o M1A1 foi desenvolvido para o combate em ambientes com amplas frentes e grandes profundidades, seu canhão tem a capacidade de engajar alvos a até 4.000 metros com munição APFSDS e graças aos seus sistemas de direção e controle de tiro a probabilidade de acerto desses alvos é próxima aos 100%, evitando o risco de fratricídio. Além da munição cinética o canhão também tem condições de disparar munições químicas  explosivas e de cabeça esmagável (HESH). Essas características tornam o Abrams um dos melhores CC do mundo. A sua guarnição é de 4 militares, como a maioria dos CC em operação no mundo, com o comandante do carro, o atirador, o  auxiliar do atirador e o motorista. 

O comandante do carro conta com seis periscópios que permitem observar o ambiente externo, mas o seu principal instrumento ótico é o visor termal independente que proporciona uma visão de 360º, estabilizada, dia e noite, com busca e travamento de alvo selecionado que envia a  informação diretamente ao atirador. Além disso, o comandante, por meio de um  punho de prioridade de tiro pode engajar o alvo desabilitando o atirador. Essas peculiaridades permitem um engajamento rápido e preciso do inimigo.




O carro conta ainda com um computador digital que processa as diversas variáveis envolvidas no tiro, quer sejam ambientais (vento, temperatura, etc), situacionais (velocidade do carro, posição do carro em aclive ou declive, inclinação lateral, tipo de munição, etc) e do alvo (distância, medida por telemetria laser, velocidade do alvo, etc). O motorista, cuja posição é no centro do carro, tem periscópios que permitem monitorar o ambiente em um ângulo de 120º. Um desses equipamentos é um intensificador de luz que garante a condução do carro à noite, ou com reduzida luminosidade.

A composição da blindagem é confidencial, mas há evidência de que contenha urânio empobrecido, tornando-a bastante resistente, no seu arco frontal, a armas anticarro portáteis do tipo AT-4 e algumas versões de RPG, além do tiro de munições explosivas de outros carros de combate. Essas características garantem um alto grau de sobrevivência.

Como todo CC, a maior proteção está no arco frontal e vai decrescendo para a retaguarda. A parte superior da torre também é bastante vulnerável, bem como a parte inferior do CC, com destaque para as lagartas.

Durante a operação Iraq Freedom o Abrams se comportou muito bem, progredindo pelo deserto, como já havia acontecido na Guerra do Golfo. Entretanto, havia a preocupação relativa ao seu emprego em ambiente urbano. Essa preocupação era pelo fato de que os sistemas de armas ficariam comprometidos pela diminuição da largura e profundidade dos campos de tiro, dificuldade de engajamento de alvos em locais altos ou muito baixos, por conta da elevação e depressão do canhão, existência de espaços estreitos, escombros e pelo uso de armas anticarro pelo inimigo.

Apesar disso, o Abrams mostrou-se extremamente eficiente, resistindo aos fogos anticarro do inimigo, graças à sua blindagem; engajando alvos a grandes distâncias, em função da topografia de Bagdá e da configuração das ruas e quarteirões, causando a ação de choque desejável ao combate, por meio do seu poder de fogo e mobilidade. O resultado é que nenhum carro foi destruído e uns poucos foram postos fora de ação, sendo que nenhuma guarnição foi perdida. Essas características foram determinantes para o emprego do carro dentro da localidade.

Isto é, a sua capacidade de sobrevivência era compatível com a ameaça inimiga. Para que fosse formado o binômio carro/fuzileiro  havia disponível na 2ª Brigada as VBC Fuz Bradley. A missão do Bradley é proporcionar transporte protegido e poder de fogo às frações de fuzileiros ou às frações de cavalaria, tais como os exploradores.

Para isso, o carro possui uma grande mobilidade através campo, por ser um veículo sobre lagarta. A sua blindagem em grande parte de alumínio, com reforço em determinadas partes do carro como arco frontal onde também possui blindagem em aço, protege os ocupantes contra fogos de artilharia, algumas armas anticarro, fogos de .50 e de armamento leve de todo o tipo.

O seu armamento principal é um canhão de 25 mm, que pode disparar munições cinéticas e explosivas a uma distância de até 2000 m. Coaxial ao canhão, há ainda uma metralhadora de 7,62 mm. Sua torre é estabilizada com sistemas de condução de tiro computadorizado e com capacidade de atuação de dia e de noite, graças ao seu sistema de imagem termal.  O canhão permite ainda a realização de rajadas de até 200 tiros por minuto.

Com esse armamento o Bradley tem a capacidade de derrotar ou causar danos na maioria das viaturas blindadas existentes, incluindo alguns CC mais antigos. Outro armamento de relevo no Bradley é o míssil TOW, montado na lateral do carro em dois lançadores, que ficam prontos para serem empregados, entretanto o carro necessita parar para efetuar os disparos. 

O TOW é um míssil guiado, com alcance aproximado de 4.000 m, sendo capaz de destruir qualquer blindado existente na atualidade ou destruir posições fortificadas. O Bradley tem uma grande capacidade de sobrevivência no campo de batalha graças ao seu armamento e a sua proteção blindada, transportando a guarnição de três homens e um grupo de combate de 6 militares com grande segurança. Durante o investimento a Bagdá, o Bradley mostrou-se extremamente eficiente na proteção aproximada dos Abrams realizando fogos com seu canhão nos andares mais altos dos edifícios, onde os CC não podiam atirar, por conta da deficiência em elevação. Graças à sua capacidade de sobrevivência não houve a perda de nenhum grupo de combate ou guarnição, possibilitando a progressão embarcada, mesmo quando recebendo fogos de RPG.

Não resta dúvida de que a vantagem proporcionada por essas duas viaturas foi determinante para que se decidisse combater com esses meios blindados no interior de Bagdá. A sua capacidade de sobrevivência aliada à ação de choque foi o diferencial para o sucesso da conquista da região dos palácios na capital do Iraque, possibilitando a conquista de objetivos específicos sem a realização de ações de vasculhamento.




ENSINAMENTOS

A Operação Iraq Freedom demonstrou, sem sombra de dúvida, o poder militar dos Estados Unidos, não só em termos tecnológicos, como também na qualidade de seus recursos humanos. Isso ficou provado nos combates na ampla planície desértica e principalmente nas confinadas ruas de Bagdá.

Nesse contexto, o feito da  2nd Brigade Combate Team registrou-se na história militar como uma decisão audaciosa e surpreendente, quando cerca de 1000 militares receberam a missão de capturar uma cidade de 5 milhões de habitantes.  Não há registro da proporção exata de forças envolvidas nessa batalha, principalmente por que do lado iraquiano houve muitas deserções e o combate foi conduzido por remanescente, guerrilheiros estrangeiros e os aguerridos  fedayins. 

Contudo, o fato de Bagdá possuir esta população indicava que pela doutrina tradicional haveria a necessidade de  um grande efetivo com uma grande quantidade de fuzileiros para realizar o investimento e o vasculhamento. Entretanto o Exército dos EUA identificou que era importante se entender o componente humano, a sociedade iraquiana, de modo a atuar em suas fraquezas para que a ação militar fosse um sucesso. Uma dessas vulnerabilidades era o fato de que nem todos apoiavam Saddam Hussein e dessa forma contribuíram para a ofensiva da coalizão. Poucos foram aqueles que apoiaram os soldados iraquianos e muitos informaram sobre locais de homizio das forças e lideranças.

Essa relativa afeição também foi fruto da preocupação com a redução de danos durante o início dos combates e do bombardeio da capital. Isso foi possível por conta do uso de armas inteligentes. A redução de danos também contribuiu para que as ruas ficassem menos restritas ao movimento dos veículos, pois foram reduzidas as ocorrências de escombros.

Os norte-americanos exploraram ao máximo seus conceitos ofensivos de ataques preventivos, velocidade das ações, manobra, exploração das vantagens técnicas e superioridade de comando e controle, emprego de armas combinadas, liderança, exploração da surpresa. Tudo isso foi alcançado quando a 2ª Brigada penetrou de forma veloz e poderosa rumo ao coração da cidade. Por isso é que mesmo atuando em ambiente urbano, onde as ações são mais próprias para elementos a pé, o exército manteve o foco no emprego de meios blindados.




Essa técnica se mostrou eficiente principalmente por que os meios blindados norte-americanos eram muitos superiores aos iraquianos e às armas anticarro em presença. Esse pode ser apontado como  um dos fatores mais importantes que contribuíram para o sucesso do “Thunder Run”. A capacidade de sobrevivência e a potência de fogo dos Abrams e dos Bradleys permitiram que o combate fosse conduzido embarcado todo o tempo, sendo que nenhum carro foi destruído. Mesmo assim, após a guerra modificações foram propostas para que o Abrams se tornasse mais eficiente em localidade, surgindo um protótipo dedicado.

As atividades logísticas poderiam ter comprometido toda a missão, pois o consumo de munição e combustível foi muito grande apesar da brigada percorrer somente 20 quilômetros e o inimigo ser relativamente fraco. Assim, deve ser prevista a limpeza da futura Estrada Principal de Suprimento (EPS) o mais rápido possível de modo a garantir o ressuprimento e a evacuação de pessoal e material.

Em termos de comando e controle, a principal dificuldade ocorreu quando o COT da brigada foi bombardeado, mas a missão não foi comprometida, pois os comandos subordinados sabiam qual era a intenção do comandante e assim mantiveram a impulsão do ataque conquistando objetivos importantes com WOODY EAST e WOODY WEST.

O estudo de situação de inteligência foi primordial para o sucesso da operação. Ciente das fraquezas do inimigo, o Cel Perkins foi capaz de organizar a sua brigada e investir de forma rápida e agressiva contra pequenos e desorganizados efetivos inimigos. O sucesso do Thunder Run também está diretamente ligado à fragilidade do inimigo, que em momento algum apresentou uma defesa organizada que impusesse obstáculos expressivos ao movimento dos blindados da 2ª Brigada.

Além disso, foram selecionados objetivos específicos, o distrito governamental e os três entroncamentos. As ações foram direcionadas para a conquista desses objetivos, sem a preocupação de realizar a limpeza da área ultrapassada, buscando aproveitar a velocidade proporcionada pela ação de choque dos blindados. A limpeza foi realizada posteriormente por outra tropa, a 1ª Brigada. Dessa maneira a 3ª Divisão de Infantaria compôs uma força com a missão específica de atacar e conquistar os objetivos e outra com a missão específica de limpar o terreno ultrapassado.

A 2ª Brigada também privilegiou organização de FT valor batalhão com meios suficientes para que estas organizassem subunidades autônomas, principalmente com apoio de engenharia. O reforço de engenharia se mostrou extremamente eficaz no interior da cidade, onde os obstáculos foram superados com facilidade. 




Além disso, na fase da manutenção foi possível se aproveitar de escombros e áreas destruídas para as ações de contramobilidade e proteção. Ainda no que se refere à organização para o combate, o comandante da brigada e seu estado-maior levaram em consideração primordialmente as informações sobre o inimigo. Não foi feita nenhuma consideração a respeito da proporção entre quantidade de quarteirões a serem conquistados e pelotões disponíveis, mas sim, qual o valor do inimigo, suas características possibilidades e limitações.

Somente assim foi possível conceber que a ação de uma brigada blindada, forte em carros de combate, poderia conquistar Bagdá. Ficou evidenciado que a 2ª Brigada valorizou os princípios de guerra do objetivo, pois estava perfeitamente definido que a missão era conquistar o distrito governamental; da ofensiva por meio da execução do  próprio  Thunder Run; da manobra, ao empregar seus batalhões para conquistar diversos objetivos simultaneamente, negando ao inimigo uma reação organizada e colocando-o em posição desvantajosa.

Ao par disso, no que se refere aos fundamentos das operações ofensivas, a todo o momento era buscado o contato com inimigo, quer seja pela ação de tropas, quer seja pelo monitoramento por outros meios e exploração das suas vulnerabilidades, dois fundamentos importantes das  operações ofensivas. 

conquista dos objetivos LARRY, MOE e CURLY, importantes entroncamentos rodoviários contribuíram para evidenciar outro importante fundamento das operações ofensivas que é o controle de acidentes capitais, neutralizando a capacidade de reação do inimigo.

Ao empregar unidades blindadas foi possível manter  a impulsão, principalmente por conta da conjunção do fogo e do movimento, concentrando o poder de combate no momento e local desejados. Todas essas considerações também vão ao encontro dos fundamentos das operações ofensivas.

Pode-se dizer que a organização de elementos de combate fortes em CC contribuiu para o sucesso do ataque da 2ª Brigada. Isso por que os CC proporcionaram ação de choque e efeito psicológico. Soma-se a isso a sua capacidade de manter a velocidade e o ritmo do combate; a proteção blindada que oferecem, em função da sua blindagem ter sido modernizada para suportar as principais armas anticarros portáteis existentes e os sistemas de armas embarcados que garantem apoio de fogo imediato e preciso, de dia e de noite, e com uma grande variedade de calibres.



CONCLUSÃO 

A ação da 2ª Brigada foi inovadora por que mostrou que não só é possível empregar meios blindados em localidade, como também eles serão responsáveis por desequilibrar o poder de combate em favor de quem os emprega. 

Mais ainda, na operação quem liderava o movimento eram batalhões de carros de combate. Os seus elementos testa eram FT subunidades de carros de combate, tudo isso vai de encontro ao consenso geral de que quem deve liderar o movimento são os fuzileiros embarcados. Os fuzileiros das FT, pelo contrário, permaneciam embarcados, somente deixando a proteção de seus veículos quando o fogo inimigo se tornava intenso ou quando necessitavam manter o terreno conquistado.

Outro fator importante refere-se ao componente humano: militares adestrados, conhecedores do equipamento e do armamento e das suas interações com o do ambiente, confiantes no seu conhecimento e em suas capacidades. Esse fator, reunido sob o comando de lideranças bem preparadas e sistemas de informação eficientes, torna qualquer sistema bélico eficaz, diferentemente do Exército do Iraque.

O sucesso norte-americano se deveu também à débil resistência inimiga, indicando que ações rápidas levam a surpresa ao inimigo. Isso é possível com a conquista de objetivos específicos sem a preocupação de realizar a limpeza do terreno ultrapassado, a não ser para a sua própria segurança. A técnica do  Thunder Run se apresentou como bastante eficiente, entretanto para a realização de ações dessa natureza é importante C2 bem estruturado, comunicações amplas e flexíveis, constante adestramento, iniciativa e liderança em todos os níveis, flexibilidade na organização dos elementos de combate formando conjuntos de armas combinadas e material de emprego militar compatível com o ambiente urbano. 

Por fim, vale o ensinamento de considerar o modus operandi dos norte-americanos, analisando de forma bastante atenta o desencadear das ações, as condições ambientais, materiais, pessoais, de preparo e adestramento e principalmente os ensinamentos advindos da prática nos campos de batalha do Iraque.