quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Perdendo a Superioridade Aérea *224



Um estudo de caso da Segunda Guerra Mundial


Dr. Richard R. Muller

O que ocorre quando uma força aérea perde a capacidade de conquistar e manter a superioridade aérea? Como pode uma força aérea capaz e engenhosa lidar com essa situação? 

À medida que os Estados Unidos preparam-se para enfrentar os adversários do Século XXI, é altamente improvável que eles encontrem uma força aérea que possa igualar-se à Força Aérea dos EUA em termos de tecnologia, adestramento, efetivo e poder de combate. Entretanto, os Estados Unidos podem vir a ter de lidar com oponentes que empreguem estratégias assimétricas para tentar travar uma “guerra aérea de pobres.”

Um estudo dos esforços da Luftwaffe em lidar com a perda da superioridade aérea diurna em 1944-45 é mais do que de interesse histórico. Serve como um estudo de caso de como uma organização militar, diante da neutralização de grande parte de seu arsenal e da crescente inadequação de sua doutrina, pode tentar prolongar sua vida útil. 

Uma vez que os Estados Unidos podem vir no futuro a enfrentar um adversário deste feitio, um exame de como um inimigo do passado lidou com esse estado de coisas pode servir de subsídio aos planejadores aéreos e espaciais contemporâneos.





A perda da superioridade aérea sobre o território nacional

Quando o bombardeio ofensivo anglo-americano começou a ameaçar seriamente o controle, pela Alemanha, de seu espaço aéreo, a liderança da Luftwaffe respondeu vigorosamente. 

O Gen Günther Korten, Chefe de Estado-Maior da Luftwaffe, deu início à tarefa de criação de uma “cobertura de aeronaves de caça sobre o Reich”. Korten pertencia ao “círculo dos defensivos”, que incluía o Cel Adolf Galland – inspetor geral das aeronaves de caça – e o Marechal de Campo Erhard Milch – chefe do armamento aéreo. Korten robusteceu a organização da defesa aérea do território nacional por meio da criação da Esquadra Aérea do Reich – equivalente a uma força aérea numerada — a qual centralizou todo o armamento antiaéreo, aeronaves de caça e funções de comando e controle.

Ao mesmo tempo, e em conformidade com a doutrina básica da Luftwaffe, a reforma de Korten também preconizou poderosas forças de bombardeiros para os teatros de operações leste e oeste a fim de permitir à Luftwaffe desempenhar suas operações estratégicas. Desta forma, o programa de Korten trouxe um incremento ao poder e à eficácia das defesas aéreas alemãs.

As reformas organizacionais de Korten foram igualadas por Milch na produção de caças. Em parceria com Albert Speer, o ministro de armamentos, Milch minimizou a ineficiência da indústria aeronáutica alemã. Por meio de ações rigorosas ele foi capaz de incrementar a produção de aeronaves, sem aumentar o consumo de matérias-primas.

Em junho de 1943, as fábricas alemãs estavam produzindo mais de 1.100 caças por mês. Em março de 1944, Milch e Speer estabeleceram um “Estado-Maior de Caça” combinado, com ampla autoridade sobre a produção, dispersão das indústrias, construção de fábricas resistentes a bombardeios, matéria-prima e recursos humanos. A despeito de meses de ataques aéreos dos Aliados, em setembro de 1944, a produção alemã de aeronaves atingiu o máximo de pouco mais de 3.700 unidades.

Esse esforço de produção reflete a tensão subjacente entre a necessidade de reforçar as forças de defesa do território nacional e o anseio de manter uma capacidade ofensiva, já que entre 1943 e 1944 os alemães também produziram milhares de bombardeiros (cuja produção consumiu muito mais matéria-prima e capacidade industrial do que a produção das aeronaves de caça). A busca do poder ofensivo contribuiu para a perda definitiva da superioridade aérea.

A resposta operacional da Luftwaffe a essa crise não foi menos vigorosa, pautada na capacidade de seus interceptadores, o Messerschmitt (Me) Bf 109G e o Focke-Wulf Fw 190A. Essas aeronaves, inicialmente, careciam do armamento necessário para ações contra os bombardeiros pesados aliados.

Versões posteriores, entretanto, foram dotadas de metralhadoras de 13 mm e canhões de 30 mm em substituição aos de 7.9 mm e 20 mm, respectivamente. Ambas aeronaves podiam, ainda, ser armadas com foguetes de 210 mm dotados com ogiva similar a um morteiro com o propósito de desestruturar formações de bombardeiros inimigas — esses foguetes podiam ser lançados de fora do perímetro defensivo dessas formações. Com isso, os caças alemães podiam, então, atacar livremente as aeronaves dispersas.

A despeito dessas inovações introduzidas, as modificações acabaram por acelerar a perda da superioridade aérea quando os caças de escolta de longo alcance americanos entraram em cena. As aeronaves 109 e 190, excessivamente pesadas, enfrentaram grande desvantagem em combate contra as aeronaves americanas, mais leves – um problema que o comando da Luftwaffe nunca resolveu. Uma tentativa de remediar essa situação compreendeu o desenvolvimento de caças desprovidos de armamento pesado com vistas à obtenção tanto de desempenho superior a elevadas altitudes quanto de maior capacidade de combate ar-ar. 

Tais desenvolvimentos incluíram os caças Bf 109G e K com supercarregadores especiais e injeção com óxido nitroso e metanol, assim como o Fw 190D “de nariz longo” e o Ta 152. Esses interceptadores amplamente aperfeiçoados foram produzidos em pequeno número; a coordenação entre aeronaves “leves” e “pesadas” mostrou-se extremamente difícil e, na prática, taticamente ineficaz.

Outra proposta que tem atraído atenção no período pós-Guerra foi a sugestão de Galland de concentrar de 2.000 a 3.000 caças alemães para um golpe decisivo. Seu propósito era engajar essas forças contra as formações de bombardeiros americanos, a fim de “derrubar um total aproximado de 400 a 500 bombardeiros quadrimotores, contra uma perda estimada de cerca de 400 aeronaves e aproximadamente 100 a 150 pilotos”. Uma vitória nessa escala levaria os americanos a cessarem suas incursões diurnas, restabelecendo, em um único golpe, a superioridade aérea. Na visão de Galland, Hitler descartou essa ação potencialmente decisiva ao alocar sua zelosamente preservada reserva de caças no apoio à contraofensiva nas Ardenas, em dezembro de 1944.

Há razões para duvidar da potencial eficácia desse “Grande Golpe”. Enquanto a operação estava em seus estágios de planejamento, considerável parcela da reserva de caças travou combate com formações americanas; mesmo em condições favoráveis, contudo, os alemães não conseguiram abater um número significativo de aeronaves americanas. No outono de 1944, os padrões de treinamento dos pilotos de caça alemães estavam tão baixos que o grosso dos mais de 2.000 pilotos que participariam da operação proposta seriam incapazes de operar efetivamente. Além disso, a tarefa de agrupar e controlar tão grande número de aeronaves, em uma única operação, estava, provavelmente, muito além da capacidade da Luftwaffe no final daquele ano.



Com as táticas convencionais alemãs evidenciando-se cada vez mais ineficazes, surgiram expedientes desesperados. No verão de 1944, o comando da Luftwaffe criou os “grupos de caças de assalto”. Aeronaves Fw 190 modificadas, dotadas de revestimento blindado reforçado e armamento pesado, compuseram “cunhas voadoras “ de 48 unidades cada. Essa força maciça potencial, fortemente escoltada por caças convencionais, aproximar-se-ia de uma formação de combate composta por B-17 diretamente pela retaguarda. 

A lógica era simples: assegurar o maior número possível de aeronaves abatidas, abalar o moral inimigo e quebrar a disciplina da formação. Conforme um dos pilotos desse grupo recorda, “nós nos posicionávamos cerca de 100 jardas à retaguarda dos bombardeiros antes de abrir fogo. Nós dificilmente errávamos dessa distância e quando os projetis explosivos de 30 mm atingiam o alvo, podíamos ver os bombardeiros inimigos literalmente destroçando-se à nossa frente”.

Caso tudo mais falhasse, os pilotos desse grupo deveriam colidir com seus alvos. De acordo com as instruções oficiais do Alto-Comando da Luftwaffe, “a diretriz de ação para o grupo de caças de assalto é: a certeza de uma aeronave destruída para cada caça de assalto que entrar em combate com o inimigo.” Essas unidades especiais alcançaram algum sucesso digno de reconhecimento, mas o custo total acabou sendo elevado – especialmente quando os caças de escolta americanos engajavam a formação ainda na fase de reunião.

A inovação tecnológica alemã objeto da maior parte da análise levada a efeito no período pós-Guerra foi o desenvolvimento dos interceptadores turbojato e propulsionados por foguete. Não causa surpresa que o estudo das “armas maravilha” alemãs tenha se transformado em objeto de crescente interesse porque o poder aéreo e a superioridade aérea vêm-se tornando crescentemente dependentes da tecnologia desde 1945.

Muitos especialistas consideram que a gestão indevida do potencial dessas armas foi uma das razões fundamentais da derrota da Luftwaffe. Sem dúvida, o Me 262, com velocidade máxima de 540 nós e fortemente armado com 4 canhões de 30 mm (e, ao final, lançadores de foguetes ar-ar) era uma arma impressionante. Galland, e muitos outros autores lhe fazem eco no que a isso se refere, atribui o atraso da estreia dessa aeronave à inapropriada intromissão de Hitler em assuntos da força aérea. O Führer, de acordo com o argumento, teria determinado que o Me 262 fosse configurado como um bombardeiro de alta velocidade; essa decisão evitou que essa aeronave fosse alocada a unidades operacionais em tempo hábil para mudar o curso dos acontecimentos.

A percepção do Me 262 como uma “arma maravilha” potencialmente decisiva é um dos mitos mais duradouros na história do poder aéreo. A frequentemente citada ordem de Hitler proibindo o emprego dessa aeronave como caça data de maio de 1944, época em que nenhum Me 262 estava em serviço. Uma vez que falhas de projeto e técnicas ainda persistiam nessa aeronave, seu emprego em qualquer tipo de missão — bem como o treinamento de um número suficiente de pilotos, muitos dos quais achavam difícil dominar o interceptador “temperamental” — teria de aguardar a solução delas. 

É improvável que esse jato pudesse ter entrado em combate muito antes do que o fez, mesmo sem a interferência de Hitler. O 262, embora uma aeronave mortífera nas mãos do piloto certo, permaneceu, essencialmente, um protótipo colocado em operação de forma apressada. Ao longo de sua curta vida em serviço, essa aeronave foi objeto de uma taxa enormemente elevada de acidentes e alcançou somente um número muito reduzido de vitórias em combate.

No último ano da Guerra, a indústria alemã produziu outras armas avançadas menos importantes. Embora essas armas causassem alguma preocupação ao Serviço de Inteligência Aliada, nenhuma delas teve um impacto notável no combate pela superioridade aérea. Durante os anos vitoriosos de 1939-41, a indústria aeronáutica alemã deixou de impor um ritmo acelerado ao desenvolvimento dos sucessores dos tipos básicos de aeronaves com que a Alemanha tinha iniciado a Guerra. Uma estratégia de produção mais racional teria poupado a Luftwaffe do dilema de ter de combater em 1944 com aeronaves ou obsoletas, ou de fabricação incompleta.

Um indício inequívoco da decrescente eficácia dos caças foi o ressurgimento das unidades de artilharia antiaérea como o principal elemento de defesa antiaérea territorial. A concentração de unidades antiaéreas alemãs ao redor de alvos chaves aumentou de forma dramática. A espinha dorsal dessa força era o canhão antiaéreo 36 de 88 mm; por volta de 1944, outros canhões aperfeiçoados de 105 e 128 mm foram incorporados. Embora as unidades antiaéreas tivessem sido de fato mais eficazes do que muitas análises pós-Guerra nos levariam a crer, o colapso da defesa aérea levou a uma dependência maior – e, em 1945, completa — das unidades antiaéreas.

Antes de janeiro de 1944, os caças reivindicaram para si a responsabilidade pelos bombardeiros da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos [US Army Air Forces – AAF] abatidos; entretanto, só no mês de junho de 1944, a antiaérea derrubou 201 aeronaves pesadas da 8ª Força Aérea – enquanto os caças abateram apenas 80. As instruções para as unidades antiaéreas enfatizavam que elas estavam autorizadas a abrir fogo em todas as altitudes do espaço aéreo, sem levar em consideração a possibilidade da existência de aeronaves de caça amigas na área. 

O princípio da doutrina do poder aéreo alemão do período anterior à Guerra, o qual atribuía aos canhões antiaéreos o papel dominante na defesa antiaérea, acabou por ser posto em execução tendo em vista o fato de os caças não terem atendido às expectativas.

Mesmo que a engenhosidade alemã fosse capaz de prover à Luftwaffe um grande número de aeronaves, ela não ofereceu uma solução ao problema da formação de um número suficiente de pilotos qualificados para essas aeronaves. Em 1939, a Luftwaffe detinha o que provavelmente seriam os mais altos padrões de treinamento de tripulações de aeronaves da Europa. Como resultado da experiência auferida em combates na Espanha em 1936-39, os pilotos alemães, em 1940, eram os melhores do mundo. Não obstante, a começar com a Batalha da Inglaterra, o aumento nas perdas de tripulações trouxe consigo um declínio no período e no rigor dos programas de formação.

Os instrutores das escolas de aviação eram constantemente convocados para servirem como pilotos de combate. Em julho de 1944, quando a crise geral de combustível atingiu a Alemanha, os pilotos de caça em formação alemães estavam voando menos de 25 horas em aeronaves de caça, em comparação com as mais de 150 horas que os pilotos americanos voavam.

Em termos claros, em meados de 1944, o piloto de caça mediano alemão era muito mais uma preocupação do que uma vantagem, demasiadamente propenso a acidentar-se em sua primeira surtida. Qualificações especiais, tais como voo noturno ou em condições atmosféricas adversas e navegação em longa distância inexistiam na Luftwaffe naquele período. 

Na tentativa de dar uma solução a essa problemática, o comando da Luftwaffe tomou diversas decisões drásticas em termos de políticas de pessoal. As escolas de formação de pilotos, já com efetivo incompleto, foram obrigadas a abrir mão de mais instrutores, e todos os pilotos de caça fisicamente capazes, servindo em postos de estado-maior, foram convocados para missões de combate. 

Galland vasculhou unidades de combate noturno, de ataque ao solo e a frente russa em busca de pilotos treinados. O curso da guerra aérea sobre o Reich impôs enormes exigências a uma organização já sobrecarregada.

Em abril e maio de 1944, a seção de operações do estado-maior observou um alarmante aumento de perdas de aeronaves de treinamento, correio e transporte que operavam em áreas consideradas seguras nas regiões leste e sul da Alemanha. Operando livremente sobre todo o território do Reich, os caças aliados reduziram drasticamente a capacidade da Luftwaffe de treinar novos pilotos para substituir as baixas sofridas nos meses anteriores. 

Muitos filmes gravados pelas câmaras acopladas às metralhadoras dos Mustangs e Thunderbolts da AAF mostram ataques efetuados a aeronaves, com frequência equivocadamente identificadas como “Me-109”, que eram, de fato, aeronaves de treinamento Arado 96 – normalmente com um atordoado piloto em formação no controle. Para fazer frente a essa situação, a Seção de Treinamento emitiu novas instruções enfatizando vigilância redobrada por parte dos pilotos (“sonhar acordado leva à morte”).




Os vôos que não envolvessem o combate deveriam ser realizados tão somente ao amanhecer e ao anoitecer. A Luftwaffe expandiu seu sistema de alerta contra aeronaves incursoras e concebeu uma série de códigos visuais e rádio. Mesmo as aeronaves dedicadas a missões de correio foram armadas. Se atacadas, as aeronaves deveriam adotar medidas evasivas de defesa e mergulhar rapidamente para o nível mais próximo do solo. Se necessário, a tripulação deveria executar um pouso sem trem (pouso de barriga) e buscar cobertura para evitar ser metralhada.

O início desse tipo de “guerra de guerrilha aérea” pelos caças de escolta da AAF implicava que não somente as instalações de treinamento, mas toda a infraestrutura de apoio da Luftwaffe estava correndo perigo. Os caças de escolta americanos, de início isoladamente, porém depois atuando em conjunto, começaram a metralhar pistas de pouso e instalações terrestres quando retornavam a suas respectivas bases.

Os comandantes das bases da Luftwaffe adotaram diversas medidas de defesa passiva, incluindo a construção de barreiras de proteção e o aumento do uso de camuflagem visual e cortinas de fumaça, além de enterrar cabos elétricos e de comunicação importantes que atendiam aos postos de comando e instalações radar. Trincheiras estreitas e profundas foram construídas nos aeródromos e o combustível e a munição armazenados em túneis. Postos adicionais de vigilância visual e uma reorganização do serviço de informações sobre aeronaves incursoras propiciaram uma capacidade crucial de alerta antecipado. No último mês da guerra, algumas unidades aéreas operaram a partir de trechos das vias expressas alemãs, abrigando suas aeronaves sob viadutos.

A contramedida mais efetiva levada a efeito pela Luftwaffe foi equipar os aeródromos com proteção antiaérea adicional. As diretrizes operacionais da Luftwaffe salientavam que o fogo concentrado de todo o armamento disponível – até mesmo metralhadoras e canhões removidos de aeronaves estacionadas – poderia tornar os aeródromos verdadeiras “armadilhas antiaéreas” contra aeronaves voando a baixa altura. 

A seção de operações do estado-maior da Luftwaffe observou, com satisfação, o depoimento de pilotos da AAF capturados sobre os perigos associados ao metralhamento de alvos. De fato, em 1944 a AAF perdeu 1.293 caças no teatro de operações europeu em ação contra caças inimigos, tendo perdido 1.611 face à artilharia antiaérea – em sua maioria durante missões a baixa altura.

Durante os últimos 5 meses da guerra, os abates de caças da AAF pelo fogo antiaéreo excederam, a uma razão de quase 4 contra 1, os provocados por caças da Luftwaffe.

A última alternativa para o dilema da superioridade aérea merece menção: o emprego de pilotos voluntários em missões suicidas. A literatura popular está repleta de referências wagnerianas às tentativas de última hora de emular as táticas dos kamikazes japoneses. Embora a realidade seja de alguma maneira menos dramática (somente em raras ocasiões tais ataques realmente tiveram lugar), essa opção permanece de interesse: esses expedientes raramente ocorrem de forma organizada em guerras entre estados, embora atores não-estatais, tais como grupos terroristas, não se esquivem de empregá-las.

A situação militar desesperadora em 1944-45 é responsável pela consideração desses esforços extraordinários. Conforme observado pelo historiador Omer Bartov em seu estudo sobre motivações para o combate na Frente Oriental, os reveses militares dos últimos anos da guerra, conjugados com a intensificação do doutrinamento nazista, geraram um novo nível de fanatismo entre os soldados alemães. 

Publicações oficiais da Luftwaffe, incluindo periódicos de ciência militar e mesmo diretrizes operacionais, as quais, até 1944, possuíam relativamente pouco conteúdo político explícito, começaram a referir-se à luta em termos ideológicos. Algumas diretrizes afirmavam que somente “a cosmovisão nacional socialista” poderia prover a “força interior” necessária para vencer o inimigo. As fontes primárias dessas “armas espirituais” foram a Divisão Militar da Liderança Nacional Socialista, que contava com “oficiais políticos” (semelhantes aos comissários do Exército Vermelho) nas unidades da Luftwaffe e do exército, e a Seção de Ciência Militar do Estado-Maior Geral da Luftwaffe

Embora essa seção tenha produzido análises operacionais valiosas e estudos históricos tradicionais de campanhas recentes, em 1944, ela estava mais preocupada em inculcar na oficialidade da Luftwaffe uma apropriada postura nacional socialista. Tomaram-se as medidas mais extremadas para retomar dos Aliados a superioridade aérea nesse ambiente ideologicamente carregado.

Os programas da Luftwaffe nessa direção encaixaram-se em 2 amplas categorias. A primeira compreendia missões de risco extremamente elevado (embora teoricamente com possibilidade de sobrevivência) contra alvos aéreos e terrestres inimigos. As táticas dos grupos de caças de assalto enquadram-se nessa categoria, já que mesmo ataques de colisão contra aeronaves inimigas não impediam o piloto de ejetar-se. Mais desesperada ainda foi a proposta de rapidamente treinar rapazes integrantes da Juventude Hitlerista no uso de planadores e, imediatamente, enviá-los para combate nos “caças populares” Heinkel 162– uma versão aérea da Volkssturm, a “milícia popular”, com a qual a Alemanha esperava criar uma versão nazista do “levee en masse.” Somente o final da Guerra poupou adolescentes de pilotarem essas aeronaves perigosas e destituídas de confiabilidade.

A segunda (e muito mais rara) categoria eram as chamadas missões de Compromisso Total, explicitamente caracterizadas como operações suicidas. Com as batalhas aéreas sobre o Reich sendo consideradas a maior ameaça contra a sobrevivência nacional alemã, surgiram diversas propostas no final de 1944 para o uso de pilotos voluntários em ataques suicidas contra formações de bombardeiros americanos ou contra outros alvos compensadores. Korten determinou a formação do Esquadrão Leônidas, que deveria operar velhos bombardeiros, planadores de ataque e bombas voadoras tripuladas dentro desse conceito. 

A unidade foi finalmente dispersa depois de extenso treinamento e doutrinamento político. Não obstante, as propostas e os programas para ataques de colisão contra formações de bombardeiros persistiram durante toda a guerra, culminando em um desesperado ataque de colisão em massa pela unidade Schulungslehrgang Elbe, rapidamente formada, em 7 de abril de 1945. 120 Bf-109 engajaram uma formação da AAF, destruindo, no máximo, 13 bombardeiros a um custo de 53 caças alemães. Muitos dos pilotos alemães insuficientemente treinados nunca chegaram a engajar a formação da AAF.

A despeito desse desperdício de sangue e recursos financeiros, a Luftwaffe nunca foi capaz de retomar a superioridade aérea sobre o Reich. A despeito dos indícios de um “golpe final” tecnológico de última hora, a Luftwaffe de 1944-45 era uma força ineficaz, incapaz de controlar a dinâmica temporal das operações ou mesmo de causar uma inconveniência mais do que ocasional à AAF. A partir de junho de 1944, a maioria dos seus pilotos eram mais um perigo para si mesmos do que para seus inimigos, e suas unidades operacionais, que já se achavam sobrecarregadas, empregavam aeronaves obsoletas e mal fabricadas. 

Durante o último ano da guerra na Europa, os caças alemães de emprego diurno destruíram 703 bombardeiros pesados da AAF; de junho de 1943 a maio de 1944, uma força muito menor havia destruído 1.579 aeronaves. Todas as medidas vigorosas estabelecidas pelo comando da Luftwaffe para combater a ofensiva de bombardeio diurno fracassaram. 




Lidando com a superioridade aérea aliada: as frentes de combate

A despeito do enorme número de perdas sofridas por suas unidades de caça nos primeiros meses de 1944, o comando da Luftwaffe acreditava que seria capaz de prover uma resposta aérea bem-sucedida à iminente invasão aliada da Europa Ocidental: “A defesa contra essa tentativa de desembarque é decisiva para o desfecho da guerra”.

Luftwaffe desenvolveu um complexo esquema para reforçar o setor de invasão assim que os Aliados iniciassem a Operação Overlord. Ao receber a frase-código Drohende Gefahr West (Perigo Iminente a Oeste), esquadrões das forças de defesa do Reich deveriam deslocar-se para aeródromos previamente identificados no norte da França. O maior número possível de aeronaves de combate deveriam ser dotadas de pilones para bombas de modo a poderem participar diretamente na batalha terrestre.

Luftwaffe aproveitou-se de sua experiência adquirida nos meses que precederam a invasão para preparar-se para o combate. No início de 1944, unidades posicionadas na França relataram um aumento dos ataques por caças e caças-bombardeiros inimigos – incrementados por ataques conduzidos por bombardeiros médios e pesados – contra aeródromos, centros de transporte, malha ferroviária, e instalações radar e de comunicações.

As unidades de terra desenvolveram técnicas sofisticadas de camuflagem, dissimulação, dispersão e mobilidade como meios de redução de perdas de material e pessoal por ataques aéreos. Baseada em sua experiência no território alemão, a Luftwaffe deslocou baterias antiaéreas móveis, em especial o canhão quádruplo antiaéreo de 20 mm. Essa arma útil, frequentemente montada em reboques, caminhões, meia-lagartas ou mesmo chassis de carro de combate, prestaram apoio de fogo concentrado e altamente flexível a alvos importantes, incluindo aeródromos, pontes e ferrovias.

Para proteger as unidades terrestres, os alemães concentraram suas baterias antiaéreas, com suas armas aprestadas, à frente e à retaguarda das colunas. Os comandantes alemães conceberam procedimentos de resposta rápida a alarmes aéreos; quando uma aeronave inimiga era avistada, a coluna interrompia seu avanço e as viaturas portadoras das armas antiaéreas eram dispostas nas laterais das rodovias, provendo fogo antiaéreo concentrado contra as aeronaves aliadas “Jabos” que voavam a baixa altura.

O efeito da superioridade aérea aliada foi muito pior do que até mesmo os mais pessimistas planejadores da Luftwaffe haviam previsto. Um oficial da Luftwaffe declarou que a atividade aérea inimiga tornou impossível o tráfego de comboios durante o dia, com exceção de unidades totalmente blindadas.

As comunicações por cabos terrestres na zona de invasão foram desorganizadas do dia-D em diante em virtude tanto dos ataques aéreos quanto das atividades da Resistência Francesa. Os alemães responderam por meio do aumento de comunicações via rádio, se bem que, por serem tão dependentes da máquina de cifrar Enigma, tais medidas tornassem as intenções alemãs ainda mais transparentes à inteligência Aliada.

A superioridade aérea aliada tornou a transferência organizada de unidades da Luftwaffe para o teatro de operações uma empreitada extremamente difícil.

A resposta imediata da Luftwaffe aos desembarques foi “quase que imperceptível.” De fato, o esforço aéreo alemão durante as primeiras 24 horas somaram apenas 319 surtidas, frustrando, assim, a expectativa inicial de deter a invasão durante as primeiras horas cruciais. Mesmo assim, o desdobramento das unidades de caça defensivas do Reich tiveram algum sucesso com a chegada de 200 aeronaves nas primeiras 36 horas. No dia-D+7, mais de 1.000 aeronaves alemãs estavam diretamente fazendo frente ao desembarque. Além de terem de prover suas próprias defesas, elas tinham ainda de escoltar trimotores de transporte lentos que conduziam pessoal e peças de reposição.

Os verdadeiros problemas para essas aeronaves iniciavam com sua chegada à cena de ação, já que os ataques aéreos aliados tinham danificado muitos de seus aeródromos. A força de caça alemã foi atraída para uma batalha perdida para manter seus índices de disponibilidade em face de intensa atividade aérea inimiga.

Os comandantes alemães logo perceberam que seus métodos destinados a confrontar a superioridade aérea aliada não se revelaram à altura das tarefas que tiveram à frente na Normandia. As organizações de terra tinham de lidar com condições muito mais difíceis do que as enfrentadas no território do Reich. Como resultado, o Alto-Comando da Luftwaffe enfatizou que “as forças de ar e as organizações de terra são uma única arma” e buscou incutir o “comportamento guerreiro” até mesmo entre o pessoal de apoio que operava os aeródromos.

Os alemães reforçaram fortemente seus sistemas de alarme contra incursões aéreas, já que os ataques levados a efeito pelos caças-bombardeiros aliados frequentemente ocorriam com pouco ou sem aviso. Camuflagem e dispersão tornaram-se quase que uma arte, com as aeronaves sendo descobertas imediatamente antes de uma surtida e rapidamente cobertas depois que suas hélices paravam de girar. As forças antiaéreas eram subordinadas a um comandante da defesa da base, responsável por treinar, implementar novas medidas defensivas e, com efeito, dirigir as operações no caso de a base ser atacada. 

Os comandantes de artilharia antiaérea tomaram proveito do fato de os caças-bombardeiros aliados atacarem tudo que se movia nas estradas da Normandia e criaram engenhosas “armadilhas para aeronaves que voassem a baixa altura”. Desdobraram simulacros de lona móveis equipados com painéis de vidro para simularem o reflexo de pára-brisas de veículos. Quando os caças-bombardeiros mergulhavam para atacar, um conjunto emassado de canhões de artilharia antiaérea (AAA), costumeiramente camuflados como arbustos, abriam fogo.

Nos estágios iniciais da invasão de verão, os alemães experimentaram deslocar aeronaves para longe dos aeródromos ameaçados e dispersá-las em pistas de pouso de emergência. Os “vôos de evacuação” logo cessaram. Em primeiro lugar, esses deslocamentos consumiam os parcos estoques de combustível de aviação; em segundo lugar, o espaço aéreo sobre a Normandia revelou-se muito mais perigoso do que seu terreno. 

No início de agosto de 1944, a Luftwaffe teve que retirar suas unidades de caça dos aeródromos avançados, já que, como relembra um comandante, seus caças estavam “presos ao solo” pelas aeronaves aliadas. Essas novas bases – localizadas a sudoeste de Paris – embora um pouco menos vulneráveis a ataques diretos pela aviação aliada, obrigavam a Luftwafe a percorrer grandes distâncias, utilizando, dessa forma, combustível precioso e diminuindo o tempo sobre os alvos. A esperança de utilizar caças em “tarefas-alternadas” de aeronaves de ataque ao solo mostrou-se fútil: os pilones para bombas eram rapidamente alijados à medida que os caças se concentravam sobre unidades alemãs selecionadas para proverem um mínimo de cobertura aérea.

Eles também tentaram abater aeronaves de observação aérea aliadas, as quais corrigiam o tiro de artilharia convencional e naval contra as forças terrestres alemãs sob grande pressão.

Claramente, a força de caça não podia criar um impacto apreciável, e as forças de ataque ao solo achavam-se em situação ainda mais precária. Aeronaves Fw 190s carregadas de bombas eram ainda menos capazes do que os caças alemães de penetrarem as formações avançadas de caças aliados. 



Luftwaffe limitou suas missões de ataque ao solo ao amanhecer e ao anoitecer – ou às condições atmosféricas adversas. O Estado-Maior Geral da Luftwaffe concluiu que “aeronaves de ataque ao solo . . . não mais prestavam qualquer apoio decisivo às forças de terra, e as pesadas perdas sofridas elevaram-se, ao final, a um nível desproporcional aos êxitos alcançados”.

Luftwaffe pelo menos tinha poucas ilusões de que sua força de bombardeiros, uma vez considerada seu principal vetor ofensivo, teria um papel significativo a desempenhar nos combates diurnos da Normandia.

Afastada até mesmo dos céus noturnos da Europa Ocidental, a força ofensiva da Luftwaffe dependia cada vez mais de armas sem pilotos – as “bombas voadoras” Fieseler Fi 103 (V-1). Como um substituto para a capacidade de bombardeio convencional, as V-1 tinham várias deficiências, especialmente sua falta de precisão. 

Não obstante, o bombardeio levado a efeito por essas bombas voadoras, iniciado em 13 de junho de 1944, comprometeu o emprego de um grande número de aeronaves de caça aliadas e baterias antiaéreas aliadas que, de outra forma, teriam sido empregadas na Normandia.

O estado-maior da Luftwaffe chamou a atenção especialmente para esse benefício colateral em seus memorandos táticos. Mais tarde, na invasão de verão, os mísseis balísticos A-4 (V-2) do Exército entraram em cena. Embora há muito alardeado pelo Programa de Armamentos de Foguetes do Exército como um potencial substituto para o bombardeio estratégico, os V-2 possuíam ainda menos precisão do que as V-1 e (já que nenhuma defesa era possível) não causaram qualquer remanejamento de forças de caça ou antiaéreas aliadas.

Foi somente na área de apoio ao reconhecimento que as contramedidas da Luftwaffe efetivamente produziram alguma melhora significativa. A incapacidade da Luftwaffe em conduzir até mesmo o reconhecimento aéreo mais básico tornava as forças alemãs praticamente cegas, uma situação que contribuiu enormemente para a operação de despistamento Aliada (Fortitude) anterior à invasão, assim como propiciou um nível sem precedentes de liberdade operacional às formações aliadas combatendo na Normandia.

Embora a superioridade aérea aliada parecesse ter condenado as forças de reconhecimento da Luftwaffe à mesma irrelevância de suas unidades de combate, neste caso novas tecnologias radicais fizeram surgir uma melhora notável. Embora o interceptador a jato ME 262 não tivesse alterado de forma apreciável o equilíbrio na luta pela superioridade aérea sobre a Alemanha, seu equivalente menos festejado – o bombardeiro/aeronave de reconhecimento a jato Arado Ar 234 – aumentou dramaticamente as possibilidades de sucesso das operações de reconhecimento. 





No final de julho e início de agosto de 1944, 2 protótipos do Ar 234 chegaram na área costeira da invasão. O Ar 234 não era armado, levava apenas 2 câmeras panorâmicas de alta resolução e confiava em sua tremenda velocidade e capacidade de operação em elevadas altitudes para evadir-se de interceptações.

Durante uma única missão, em 2 de agosto, um piloto de Ar 234, voando a única aeronave operacional, “alcançou o que havia estado além do alcance de toda a força de reconhecimento da Luftwaffe no decorrer das 8 semanas precedentes: ele fotografou quase toda a área de ocupação dos Aliados na Normandia.” De fato, no restante da guerra, unidades de reconhecimento equipadas com Ar 234 puderam operar praticamente sem interferência a oeste, na Itália, e mesmo sobre as Ilhas Britânicas. Embora as forças armadas alemãs não mais dispusessem da capacidade para tomar ações efetivas baseadas em um melhor fluxo de dados de inteligência, a carreira operacional do Ar 234 indica as possibilidades conferidas por um simples item de nova tecnologia até mesmo a uma força aérea irremediavelmente inferiorizada.

À exceção de pequenos êxitos, as contramedidas da Luftwaffe à superioridade aérea aliada na Normandia não prolongaram significativamente o embate. O apoio aéreo às contra-ofensivas alemãs como o ataque a Mortain em agosto foi deficiente, e as organizações de terra da Luftwaffe foram apanhadas na retirada generalizada que se seguiu na França. Comentava-se na Alemanha que o prefixo “WL” nas placas dos veículos da Luftwaffe, de fato, significavam “estamos de saída [we´re leaving!]”. 

O apoio tático prestado pela Luftwaffe às operações terrestres permaneceu esporádico e ineficaz durante o resto da campanha. Mesmo os raros ataques em massa desencadeados pelos caças da Luftwaffe, como ocorreu na Operação Bodenplatte – o ataque surpresa a bases aéreas aliadas no dia de Ano Novo de 1945 — dificilmente compensaram as perdas sofridas.

A perda da superioridade aérea na frente russa, embora não tão extensa, nem tão dramática como no oeste, também gerou problemas consideráveis. Embora a Luftwaffe pudesse concentrar suas forças e arrebatar a superioridade aérea local da Força Aérea Vermelha até mesmo no início do último ano da guerra, ela ainda tinha de lidar com o fato de que podia formar uma resistência aérea tão somente bastante limitada ou inexistente sobre largos setores da frente de combate.

Nessas regiões, os alemães lançaram mão de algumas das mesmas práticas de camuflagem, dissimulação e técnicas antiaéreas utilizadas no oeste, mas muitas das contramedidas foram de emprego exclusivo no teatro de operações oriental. Uma dessas “soluções de baixa tecnologia” mais interessantes e de uso mais generalizado para o problema da superioridade aérea foi o emprego de aeronaves em missões noturnas de inquietação.

Desde os primeiros dias da campanha no oriente, mesmo quando os alemães ainda dispunham de uma superioridade aérea geral, as unidades da frente de combate do Exército tornavam-se inquietas com o surgimento de biplanos obsoletos soviéticos, operando à noite e frequentemente pilotados por mulheres (as chamadas Feiticeiras da Noite). Embora o efeito material desses ataques fosse mínimo, ataques noturnos com bombas de fragmentação erodiam o moral da tropa, privavam os soldados do sono, ocasionalmente destruíam depósitos de suprimentos e infligiam baixas.

Os comandantes aéreos alemães inspiraram-se nesses acontecimentos. Nas áreas de retaguarda da Luftwaffe havia uma multiplicidade de aeronaves de treinamento e reconhecimento obsoletas, assim como muitas aeronaves capturadas. Essas aeronaves desempenharam papel limitado nas operações aéreas de envergadura, mas – dada a dimensão do TO e a dispersão das alas aéreas de bombardeiros e caças da Luftwaffe – muitos comandantes aderiram à filosofia de que “uma aeronave não utilizada está auxiliando o inimigo.” 

Luftwaffe explorou extensamente essas aeronaves obsoletas, agrupando-as em unidades de ataque noturno e de ataque ao solo. Virtualmente não detectáveis por radar ou outros meios, essas aeronaves atacaram depósitos de suprimentos soviéticos, acampamentos de tropas irregulares, aeródromos inimigos e outros alvos vulneráveis com bombas leves de fragmentação e o fogo de metralhadoras.

Não é de causar surpresa que essas simples aeronaves pudessem operar de forma tão efetiva; mesmo 60 anos depois, em certas circunstâncias, aeronaves leves podem penetrar até mesmo sofisticados sistemas de defesa antiaérea. No outono de 1944, mais de 500 dessas aeronaves estavam em operação, a maioria na Rússia; entretanto, os Aliados também depararam-se com unidades de ataque ao solo de emprego noturno equipadas com aeronaves mais modernas na frente italiana e na frente ocidental.

Tal como muitas improvisações observadas ao largo da história militar alemã, esse expediente de baixo custo surgiu dos escalões inferiores da Força. Foi somente no início de 1944 que uma doutrina oficial sobre o uso desse tipo de arma foi publicada; e a maior parte do trabalho de desenvolvimento e experimentação do conceito ocorreu no escalão unidade. A fixação da seção de operações do Estado-Maior da Luftwaffe pela retomada da superioridade aérea, por meios convencionais, provavelmente impediu uma dependência mais ampla em tais improvisos de baixa tecnologia.




Conclusão

O poder aéreo fez sua maior contribuição à vitória aliada na Segunda Guerra Mundial ao destruir a Luftwaffe e conquistar a superioridade aérea sobre toda a área de combate. A Força Aérea alemã respondeu a essa ameaça com engenhosidade e determinação. Muitas das medidas por ela tomadas conduziram a um sucesso temporário; outras não tiveram um efeito identificável sobre o rumo dos eventos.

É possível avaliar a eficácia dessas medidas em vários níveis. Ao criar uma organização para a defesa do território nacional, diante de muitos compromissos onerosos em 3 frentes de combate amplamente separadas, o Alto-Comando da Luftwaffe fez, realmente, um trabalho digno de crédito; de fato, no final de 1943, ele estivera prestes a tornar demasiado cara a continuação das operações de incursão em profundidade da AAF. A indústria aeronáutica alemã certamente elevou-se à dimensão do desafio ao aumentar significativamente a produção de caças – tanto que até o final a Luftwaffe não sofreu da carência de aeronaves desse tipo.

Mesmo sob intensos ataques por bombardeio, os dirigentes da indústria de armamentos da Alemanha Nazista conseguiram operar “um milagre de produção.” O êxito dessas medidas sublinha o nível de resiliência de um estado moderno, mesmo diante das circunstâncias mais adversas.

A despeito de notáveis desenvolvimentos tecnológicos, tal como o interceptador Me 262, as soluções de alta tecnologia alemãs para o problema da superioridade aérea, em larga medida, fracassaram. Por mais convincente que possa ter sido a visão de novas tecnologias confrontando a superioridade numérica aliada, os desenvolvimentos alemães no final da guerra não podiam justificar as exageradas expectativas a seu respeito. É um fato que as tripulações e o pessoal de terra da Luftwaffe obtiveram seus poucos êxitos defensivos já próximo do final da guerra por meio do emprego de armas convencionais ou mesmo em estado de obsolescência.

Que lições o empenho da Luftwaffe em reconquistar a superioridade aérea sugere? Claramente, com a vantagem da perspectiva auferida pelos conhecimentos no início do século XXI, muitos aspectos tornam os eventos ocorridos apenas de interesse histórico. O ritmo das operações de combate na Segunda Guerra Mundial foi bastante lento e incremental. A ofensiva aérea aliada levou anos para desenvolver-se, somente provocando danos reais à economia alemã no último ano da guerra.

Mesmo após os desembarques na Normandia, a estratégia de “frente ampla” dos Aliados Ocidentais permitiu que as forças alemãs – a despeito da derrota decisiva sofrida na França – se reorganizassem e não só derrotassem a Operação Arnhem (Market-Garden), em setembro de 1944 mas, também, lançassem uma grande ofensiva nas Ardenas. É improvável que conflitos futuros propiciem a um adversário pausa semelhante para se recompor, durante a qual os alemães implementaram reformas organizacionais e na produção de aeronaves.

Tampouco pode um futuro adversário fiar-se em dispor de tempo para aprestar novas tecnologias, mesmo para limitadas ações de combate. Além do mais, as contramedidas alemãs foram projetadas para infligir uma derrota decisiva às forças aéreas de seus inimigos. Por mais vã que aquela esperança tenha sido, é ainda mais improvável que, no futuro previsível, um adversário venha a engajar a Força Aérea dos EUA em combate semelhante pela superioridade aérea.

A despeito do evidente hiato entre a experiência da Luftwaffe e qualquer cenário futuro, esse estudo de caso histórico apresenta lições relevantes. Uma das conclusões mais notáveis refere-se à relutância por parte das forças aéreas de efetuarem amplas mudanças em suas doutrinas operacionais.

Sugerir que a fixação da Luftwaffe por operações ofensivas foi a única – ou principal – causa de sua derrota é simplificar em demasia a situação; contudo, sua aderência a princípios, que lhe eram caros, relativos ao emprego apropriado do poder aéreo certamente retardou e prejudicou sua resposta à perda da superioridade aérea. Os custos de manutenção de uma capacidade ofensiva mostraram-se enormes e, para a Luftwaffe, isso foi, em grande medida, um ferimento infligido a si mesma.

Nada obstante, em certa medida a Luftwaffe libertou-se dos grilhões da doutrina anterior à guerra, e as medidas resultantes por ela tomadas são de enorme interesse para os atuais profissionais do poder aéreo. Embora o desempenho passivo da Força Aérea iraquiana em 1991 e 2003 frente ao domínio do ar por parte da Coalizão seja reconfortante, a experiência da Luftwaffe – assim como o desempenho da aviação argentina durante a Guerra das Malvinas em 1982 – sugere que uma força aérea bem adestrada continuará a operar mesmo diante de desvantagens esmagadoras.

Além disso, os mais relevantes, embora transitórios, êxitos defensivos alemães resultaram do emprego astuto e determinado de aeronaves convencionais, a despeito da fixação por “armas maravilha” no período pós-Guerra. 

Ironicamente, a lição mais importante da experiência da Luftwaffe pode ser o emprego de biplanos obsoletos de baixa detectabilidade por radar em missões noturnas de inquietação, do que a incorporação tardia do caça mais rápido do mundo. Recentes experiências de combate americanas ao redor do globo sugerem várias possibilidades de emprego de armamentos menos sofisticados.

A dependência em defesas baseadas em terra também oferece um grande número de lições. Em meados de 1944, as unidades antiaéreas alemãs podiam reivindicar para si a responsabilidade pela maioria das aeronaves aliadas destruídas pelas forças alemãs. Embora a concentração de canhões AAA pesados em torno de alvos importantes possa parecer uma ação ineficaz em relação ao custo, a proteção de alvos táticos com armas de pequeno calibre concentradas mostrou ser outra história.

Uma vez que as aeronaves aliadas atacavam imediatamente qualquer veículo em movimento, tornou-se fácil atraí-las para armadilhas anti-aéreas bem dissimuladas. Mesmo medidas mais simples como camuflagem, dissimulação, cortinas de fumaça, construção de abrigos antiaéreos e evacuação de áreas críticas não devem passar desapercebidas. Seu efeito cumulativo complicou enormemente a tarefa dos planejadores aéreos aliados. Conforme Milch sumarizou, “Se a última guerra nos ensinou a a cavar trincheiras, essa guerra nos tem ensinado a camuflar.” Baratos e exigindo pouco treinamento e preparação, tais métodos prestam-se rapidamente ao repertório de qualquer nação que venha a confrontar um inimigo que mantenha o domínio do ar.

Além disso, dissimulação e mobilidade podem evidenciar-se como contramedidas efetivas diante de munições guiadas de precisão, já que esses armamentos freqüentemente possuem uma pequena ogiva e dependem de precisão para serem eficazes. Um futuro adversário bem faria em estudar o exemplo alemão.

Ao falhar em deter os Aliados, até mesmo as mais astutas contramedidas alemãs assumiram um ar de total futilidade. Era improvável que o aumento no número de baixas infligidas por algumas dessas medidas demovesse os Aliados do seu objetivo enunciado de rendição incondicional. Não obstante, em um contexto político-social diferente, a capacidade de prolongar um conflito ou de aumentar o número de baixas pode ser suficiente para forçar uma potência a repensar seus comprometimentos. Por mais infrutíferas que tenham sido as medidas alemãs em uma guerra total entre estados-nação, a capacidade de infligir baixas inesperadas à Força Aérea dos EUA, a seus parceiros de coalizão, ou populações amigas, pode render lucros desproporcionais a futuros adversários.


terça-feira, 19 de outubro de 2021

O Bombardeio à Ploesti - A Doutrina dos EUA *223



Força Aérea - A luta pelo reconhecimento

A maioria dos historiadores concorda que a Segunda Guerra Mundial representou a parte inacabada da Grande Guerra anterior. O resultado foi um fracasso em esmagar as potências militares que buscavam conquistar o mundo, e haviam desenvolvido uma mentalidade de super-raça. Tudo começou com a invasão alemã da Polônia, aparentemente um conflito local, em 1 de setembro de 1939, que se expandiu até o ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, para formar uma guerra global de proporções imensas. Os combates se deram entre os Poderes do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) contra os Aliados (Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética). As apostas – a dominação mundial pelo Eixo por um lado, e a preservação da liberdade para os Aliados. Assim, no amanhecer de 1942, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos empenharam-se para elaborar um plano para derrotar a Alemanha; que incluiria um novo conceito – o bombardeio estratégico.

Conceito Estratégico e Doutrina

O bombardeio estratégico pode ser visto como uma prática relativamente autônoma. Sua intenção é ser decisivo em sua capacidade de destruir as capacidades centrais de guerra de um inimigo. A sua vantagem única reside no seu alto grau de flexibilidade, pois não tem uma posição fixa em batalha que possa ser explorada contra ele. As forças estratégicas, em vez disso, podem atacar, reagrupar e rearmar em suas bases, e em seguida, atacar novamente, de forma repetida e ilimitada (mesmo que teoricamente). Isso pressupõe que variáveis ​​como as ações inimigas, o clima e seu suporte logístico necessário são favoráveis ​​e/ou estão sob controle.

Durante as décadas de 1920 e 1930, o General Douhet, Mitchell e Lord Trenchard emergiram como oa maiores expoentes mundiais do poder aéreo. Seus conceitos em relação ao uso do bombardeiro, a vontade civil como centro de gravidade, a seleção de alvos e o bombardeio de precisão, definiram a estrutura para o planejamento estratégico e aplicação do poder aéreo na Segunda Guerra Mundial.

Douhet fixou seus olhos diretamente no papel estratégico das aeronaves de bombardeio. Ele argumentou que uma pequena força de bombardeiros poderia abrir caminho através de qualquer defesa, e por lançar bombas de gás, virtualmente exterminar uma população inimiga. Ele acreditava que a defesa contra os bombardeiros era inútil e os alvos mais importantes eram os centros urbanos onde a vontade do povo poderia ser esmagada.

Mitchell acreditava que uma força aérea devia derrotar a força aérea adversária para ganhar o controle do ar (obter a superioridade aérea); então ela deveria atingir os centros de produção e transporte. Bombardeiro era o principal instrumento do poder aéreo, e Mitchell preconizava que bombas lançadas com precisão bombas causariam efeitos devastadores. Ele sentiu que as pessoas não podiam enfrentar o estresse do bombardeio e que a indústria não poderia se recuperar dos ataques.

Trenchard propôs que o coração do poder aéreo estava no bombardeio estratégico como uma função independente. Todas as operações de apoio direto ao exército e a marinha eram consideradas diversivas por ele. Qualquer defesa pela caça contra os bombardeiros seria infrutífera. Trenchard acreditava que os efeitos psicológicos dos bombardeios superavam os efeitos materiais em uma proporção de 20:1.

Embora cada uma das filosofias desses 3 aviadores variassem ligeiramente, o tema principal era o mesmo. O bombardeio estratégico dominaria a guerra no futuro. Nos EUA, suas crenças foram refinadas ainda mais na Escola Tática do Corpo Aéreo e se tornaram a Doutrina americana como Documento de Planejamento de Guerra Aérea AWPD-1 antes da guerra e AWPD-42 logo após entrar na guerra. Ambos os planos tinham uma grande semelhança ao plano conjunto British/American Combined Bomber Offensive (CBO) que ajudou a levar os Aliados à vitória final na Europa.




Liderança Política e Militar

O presidente Roosevelt e o primeiro-ministro Churchill realmente não entenderam o aspectos científicos e técnicos do poder aéreo, nem apreciaram que o bombardeio também estava sujeito às mesmas consequências da guerra que o da guerra naval e terrestre operações. Portanto, o bombardeio estratégico não gozou de reconhecimento oficial nos planos aliados de guerra, exceto na preparação para a invasão da Europa Ocidental, ou como uma atividade empreendida para fornecer suporte de tipo semelhante.

O apoio morno para o bombardeio estratégico nos altos níveis de decisão logo se tornou evidente quando os EUA entraram na guerra. O Brigadeiro-General Eaker apresentou-se à Inglaterra em março 1942 para iniciar o estabelecimento do VIII Comando de Bombardeiros, o principal componente da a 8ª Força Aérea. O Major General Spaatz chegou em maio, como General Comandante da 8ª Força Aérea, ao mesmo tempo que o novo Comandante Geral do Teatro Europeu de Operações, Major General Eisenhower. As ordens de marcha do General Eisenhower foram assinadas pelo General Marshall, Chefe do Estado-Maior do Exército, e foram preparados pelas Operações. Na Divisão do Estado-Maior do Departamento de Guerra - o bombardeio estratégico não foi abordado. Por outro lado, o General Spaatz recebeu suas instruções do General Arnold, Comandando as Forças Aéreas Gerais do Exército - suas instruções também não traziam detalhes específicos por conduzir uma ofensiva de bombardeio estratégico.

A busca pelo reconhecimento terminou na Conferência de Casablanca em janeiro de 1943 com a diretiva para uma ofensiva aérea estratégica contra a Alemanha. Para os americanos, operar em alta altitude, a luz do dia e com bombardeio de precisão ocuparam o centro do palco na guerra como o mais direto meios de atacar a máquina de guerra nazista. O primeiro e mais difícil teste do poder aéreo americano o chegou em agosto de 1943 com o ataque a Ploesti, na Romênia, por 178 B-24 Liberators baseados no Norte da África. Este ataque se destacou do resto da guerra no ar. A ideia e as táticas incomuns empregadas vieram de cima, gerado a partir da sede do General Arnold e foram aprovadas pelo Presidente Roosevelt. Winston Churchill qualificou Ploesti de "O cerne do poderio alemão". Ela não fazia parte de nenhuma campanha em particular, mas era considerada vital em si mesma. Foi meticulosamente planejada e executada com relativa rapidez pelos mais bem preparados e a mais experimentada força disponível na época. Também foi lutada com bravura sem paralelo, a única ação da guerra pela qual 5 medalhas de honra do Congresso foram concedidas.

Ploesti

Muitos consideram o nascimento significativo de Ploesti em 1856, quando a primeira refinaria de petróleo foi construída. Uma pequena cidade ao norte de Bucareste, Ploesti era o alvo ideal. Frágil, concentrado e vital. Era a fonte de 60% do suprimento de petróleo bruto dos nazistas. A Alemanha tinha pouco óleo natural, mas na Romênia ele era abundante e de alta qualidade, e alimentado a alta demanda do esforço de guerra nazista por óleo combustível, lubrificantes e gasolina de alta octanagem. As refinarias de Ploesti produziam 10 milhões de toneladas de petróleo a cada ano, o que incluía combustível de aviação de 90 octanas, considerada a de mais alta qualidade na Europa. Para enfatizar a importância colocada em Ploesti pelos alemães, o Chefe do Estado-Maior de Hitler, General Jodl, sentiu que o sucesso que os russos poderiam alcançar na frente oriental, não seria igual aos efeitos desastrosos se os campos de petróleo da Romênia foram capturados; O próprio Hitler acreditava que se as refinarias de Ploesti foram destruídas, o dano seria irreparável. Portanto, não admira que os comandantes aéreos aliados olhassem para Ploesti e desejassem destruí-la.

Objetivo e Intenção

Examinaremos o bombardeio de 1º de agosto de 1943 contra o complexo de Ploesti com suas refinarias por uma força-tarefa americana composta por grupos de bombardeio do 8ª e 9 ª Forças Aéreas. O objetivo de examinar Ploesti é, primeiro, obter uma avaliação completa com compreensão dos eventos que levaram ao planejamento da campanha, do bombardeio em si e, finalmente, o impacto sobre os alemães em suas consequências. Com isso estabelecido, a intenção é avaliar o ataque, mantendo uma questão fascinante em mente - depois de construir uma doutrina para 20 anos baseados em alta altitude, luz do dia e bombardeio de precisão, em seu primeiro grande esforço de bombardeio, os EUA "afastaram-se da doutrina" e conduziram uma missão de baixo nível de bombardeio em Ploesti, a única missão de bombardeio de baixo nível realizada na guerra. No entanto, para investigar com eficácia esta questão, é primeiro importante compreender o esforço geral de bombardeio estratégico durante a guerra.




Bombardeio Estratégico - ajudando a vencer a guerra

Para os oficiais superiores mais perceptivos da Luftwaffe, seus rumos estratégicos estavam claros, sua principal tarefa em breve seria defender o Reich contra ataques aéreos devastadores que nem mesmo Adolf Hitler poderia ignorá-los. Esta era a principal preocupação do Luftwaffe em uma reunião em Berlim realizada quase ao mesmo tempo que as deliberações de Casablanca em janeiro de 1943. Em 16 de abril de 1945, na Sede das Forças Aéreas Estratégicas dos Estados Unidos (USSTAF), quando emitiram uma ordem encerrando a guerra aérea estratégica em Europa, seus piores temores haviam se confirmado. Quase todos os especialistas concordavam que em março de 1945, a Alemanha havia sofrido tanta destruição que estava à beira de um colapso total. Os nazistas não podiam exercer as funções essenciais da vida corporativa, muito menos continuar a guerra. Tanto a capacidade industrial alemã quanto sua estrutura econômica nacional foram dizimadas.

O Caminho para um CBO

O desenvolvimento do CBO foi o resultado de um processo evolutivo cujo seu genesis tomou a forma do AWPD-1, posteriormente refinado pelo AWPD-42. AWPD-1 e AWPD-42 eram planos de requisitos para bombardeios estratégicos projetados para descrever o que deve ser realizado e com quais recursos. No verão de 1941, fortemente apoiado pelo General Arnold, foi que o presidente Roosevelt foi à procura de um plano estratégico de ofensiva aérea, caso os EUA se envolvessem na guerra da Europa. Este plano, AWPD-1, propunha uma ofensiva de bombardeio estratégico destinada a enfraquecer a capacidade de guerra da Alemanha, permitindo assim uma invasão da Europa pelo Ocidente, se necessário.

Em 25 de agosto de 1942, um ano após o desenvolvimento do AWPD-1, o Presidente Roosevelt novamente solicitou uma estimativa dos requisitos aéreos necessários para realizar um ofensiva aérea contra a Alemanha. Este plano revisado, designado AWPD-42, exigia o esforço combinado das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e da Real Força Aérea Britânica (RAF). A USAAF se concentraria no bombardeio diurno de precisão, enquanto a RAF se concentraria no bombardeio noturno de área. Como com o AWPD-1, o objetivo principal do AWPD-42 era destruir a capacidade da Alemanha de sustentar-se e continuar a luta destruindo suas indústrias de apoio à guerra e sistemas econômicos relacionados, através dos quais sua máquina de guerra funcionava e sua população civil florescia.

A Diretiva de Casablanca

Quando o presidente Roosevelt e o primeiro-ministro Churchill se reuniram com seus Chefes de Estado-Maior em Casablanca em janeiro de 1943, claramente a manchete de sua conferência foi a exigência dos Aliados para a rendição incondicional da Alemanha. Para os aviadores, no entanto, houve um desdobramento muito mais importante - A Diretiva de Casablanca. Segundo esta diretriz, o objetivo da ofensiva aérea contra a Alemanha era "para provocar a destruição progressiva e o deslocamento das forças armadas, industriais, e sistema econômico, e o enfraquecimento do moral do povo alemão a um ponto onde sua capacidade de resistência armada seja fatalmente enfraquecida. Dentro desta diretriz, ficou entendido que, em momento oportuno, as Forças Aéreas Estratégicas seriam temporariamente usadas pelo Comandante Supremo, como Forças Expedicionárias Aliadas, em preparação para a invasão da Europa Ocidental planejada para a primavera de 1944. Assim, com a Diretiva de Casablanca que define o objetivo geral da ofensiva aérea, um novo um plano aéreo estratégico combinado precisava ser desenvolvido, e esse plano seria o CBO.

O CBO Nasce

Após a Conferência de Casablanca, a equipe de planejamento CBO iniciou a tarefa de desenvolver um plano de capacidade, ao contrário do AWPD-1 e AWPD-42 que eram planos de requisitos, para descrever o que deveria ser feito para satisfazer os objetivos com as forças já identificadas. O CBO não começou oficialmente até 10 de junho de 1943 com o emissão da Diretiva POINTBLANK, um guia de operações para as frotas de bombardeio da USAAF e RAF. Para a ofensiva aérea americana, construída sobre o bombardeio de precisão a princípio, a diretiva listava grupos-alvo específicos em ordem de prioridade. No entanto, para a RAF o compromisso com o programa POINTBLANK foi, na melhor das hipóteses, provisório. Enquanto a USAAF bombardearia objetivos industriais específicos durante o dia, o Comando de Bombardeiros da RAF atingiria as cidades associadas a esses objetivos à noite; no entanto, os britânicos atacariam as categorias-alvo POINTBLANK apenas na medida em que forem consideradas viáveis. Em qualquer caso, essas cidades associadas foram muitas vezes alvo de destruição como parte de um objetivo de qualquer maneira. Mais importante, ambas as forças aéreas estavam de acordo que os alemães eram seu inimigo mais perigoso e este objetivo merecia a mais alta prioridade. Assim, com uma concordância mútua de interesses, em vez de uma campanha coordenada de perto, o O CBO começou em meados de 1943.




Estratégia Política e Militar

O presidente Roosevelt e o primeiro-ministro Churchill viram o objetivo principal do CBO de maneira muito diferente do que seus aviadores. Eles viram o verdadeiro objetivo da ofensiva de bombardeio como uma forma de preparar o caminho para uma possível invasão da Europa Ocidental, levando assim à derrota final da Alemanha. Este objetivo era uma grande preocupação para eles já que seu aliado soviético, o marechal Stalin, recusou-se a participar da Conferência de Casablanca. Ele afirmou que havia recebido a promessa de uma segunda frente europeia na primavera de 1942. A situação na frente russa era crítica, e Stalin habilmente manipulou os temores dos Aliados em exigindo que uma segunda frente seja iniciada para aliviar a pressão contra seus exércitos. Assim, o presidente Roosevelt e o primeiro-ministro Churchill viram o enfraquecimento fatal da referência na Diretiva de Casablanca como significando a interrupção/destruição do Sistema militar alemão que se oporia à invasão aliada e final combinada operações no continente.

O alto comando da Força Aérea Aliada acreditava firmemente que a capacidade de decisão potencial do bombardeio estratégico atenderia melhor ao objetivo principal; a derrota da Alemanha. Eles viam a capacidade do poder aéreo estratégico de atacar o coração da Alemanha, por meio de massivos bombardeios de alvos industriais importantes, como a forma mais eficaz de acabar com a guerra. Portanto, eles consideraram qualquer redirecionamento das forças aéreas estratégicas em apoio às operações de invasão como no Norte da África e no Mediterrâneo, como prejudiciais a capacidade de efetivamente manter a ofensiva aérea contra a indústria alemã. Para os comandantes e Planejadores do CBO, o efeito dessa dispersão foi desmoralizante. Para as tripulações aliadas que agora lutavam regularmente contra os nazistas pela Europa ocupada e pelo espaço aéreo alemão, isso significava que eles estavam em nítida desvantagem numérica contra uma oposição efetiva dos caças da Luftwaffe. No entanto, a necessidade política provou ser mais forte do que a estratégia militar. O povo americano entendeu a invasão, mas eles não entenderam o potencial decisivo do bombardeio estratégico.

A Campanha CBO

Missão

A missão CBO prescrita em Casablanca foi implementada em meados de 1943 como o plano de operações para as forças aéreas estratégicas da RAF e USAAF contra o coração da Alemanha. Agora que as invasões militares do continente estavam se tornando possibilidades, acordou-se mais ou menos que o objetivo do bombardeio estratégico deveria ser pavimentar o caminho para eles, enfraquecendo o coração do inimigo. Como tal, a Diretiva de Casablanca deixou claro que não se esperava que o bombardeio estratégico vencesse a guerra por si própria, mas que se destinava a produzir uma situação em que a vitória pudesse ser conquistada pelos exércitos.

Objetivos / Metas

Em apoio ao objetivo geral da guerra - a derrota da Alemanha - os objetivos prioritários incluíam: (1) a indústria aeronáutica alemã, (2) a construção de submarinos pátios e bases, (3) rolamentos de esferas, (4) refinarias de petróleo e plantas sintéticas, (5) plantas sintéticas de borracha e (6) transporte militar. Outro objetivo de alta prioridade dentro era o esgotamento da caça alemã, a principal ameaça à longevidade de uma tripulação de bombardeiro. Os objetivos do CBO assemelham-se aos do AWPD-1 e AWPD-42. Todos os 3 planos eram essencialmente o mesmo no contexto estratégico. Uma mudança perceptível de AWPD-1 para o plano final do CBO era o número total de alvos identificados para destruição; o total de 191 alvos identificados no AWPD-1 foram refinados para 76 alvos básicos no CBO devido à experiência crescente dos Aliados na avaliação de seus objetivos. O objetivo listado no tocante a produção de energia elétrica produziu a maior dúvida; estava em segundo lugar em AWPD-1 e caiu completamente das 6 principais prioridades do CBO. Em retrospectiva, quase todas as autoridades concordaram que a interrupção efetiva do sistema de energia elétrica alemão teria contribuído muito para o caos que então crescia na Alemanha. Concernente aos alvos aliados em geral, o Marechal Speer comentou ... "naquela época, ansiosamente nos perguntamos quando o inimigo perceberia que poderia paralisar a produção de milhares de fábricas de armamentos simplesmente destruindo 5 ou 6 alvos relativamente pequenos. Assim, o plano CBO em si era relativamente simples; como os participantes optaram por cumprir objetivos variados de acordo com sua própria doutrina.

Forças e Capacidades

O CBO envolveu as capacidades combinadas de bombardeiros do RAF e do USAAF em um esforço sustentado para fornecer bombardeio estratégico 24 horas por dia contra Alemanha. Isso aconteceu para se encaixar bem na doutrina existente, uma vez que a RAF preferia operar à noite enquanto os americanos apoiavam os esforços diurnos. A incursão anterior da RAF em um bombardeio diurno de alvos selecionados provou ser desastroso. Os bombardeiros pesados ​​britânicos (Lancasters e Sterlings) estavam levemente armados, para proporcionar uma maior capacidade de carga paga e, como tal, a RAF acreditava que sua sobrevivência dependia das operações noturnas. Com os ataques noturnos também ocorreram bombardeios de área com a intenção de atingir o moral e a vontade do povo alemão. Os americanos, por sua vez, seguiram uma doutrina de precisão, alta altitude, bombardeio diurno, empenhado na destruição de alvos industriais vitais selecionados. Eles também enfrentaram o mesmo ataque implacável da Luftwaffe. Eles acreditavam que seus bombardeiros fortemente armados (Fortaleza Voadora e Liberators), voando em formações compactas e concentradas, poderiam sobreviver ao ataque e de forma eficaz acertar seus alvos.

Recursos Disponíveis

Para os americanos, o acúmulo de força foi planejado em 4 fases, a fim de completar o enfraquecimento fatal em preparação para a invasão de meados de 1944: Fase I - 800 pesados bombardeiros disponíveis em julho de 1943; Fase II - 1.192 bombardeiros pesados ​​disponíveis até outubro 1943; Fase III - 1.746 bombardeiros pesados ​​disponíveis em janeiro de 1944; Fase IV - 2.702 bombardeiros pesados no total. Em junho de 1944, a força total Aliada era de mais de 4.000 bombardeiros pesados. Na RAF o comando de nombardeiros tinha 1.000 aviões, a 8ª Força Aérea tinha 2.000 com 2 tripulações para cada bombardeiro e a 15ª força aérea tinha 1.200 bombardeiros, também com 2 tripulações por aeronave.

Destaques; 1942-1945

O esforço aliado como uma força de bombardeio combinada demorou a se acumular seguindo o Conferência de Casablanca. A RAF surgiu em 1942 com vários grandes bombardeios sob seu cinto: Colônia foi bombardeada por 1.046 aeronaves, Bremen por 1.006, Essen por 956, e Dusseldorf em 630. Os americanos, no entanto, estavam sofrendo de dispersãom pois o General Eisenhower desviou bombardeiros pesados ​​da ofensiva aérea europeia para apoiar operações terrestres no Mediterrâneo. Como resultado, em novembro de 1943, havia apenas 800 bombardeiros pesados ​​ou 66 por cento do acúmulo programado dedicado ao CBO. Além disso, quando no ar, os americanos empreenderam missões diurnas sem escolta profundas na Alemanha, o que custou caro - as defesas aéreas nazistas eram ferozes - as baoxas eram muito mais altas do que o projetado. O segundo ataque de 14 de outubro de 1943 às fábricas de rolamentos de esferas em Schweinfurt foi o pior desastre da história do poder aéreo. Dos 291 B17 que partiram naquele dia, 198 foram perdidos ou danificados; 60 tripulações nunca voltaram para casa. A preocupação dos Aliados com a superioridade aérea alemã sobre seu território foi além do problemas experimentados por ataques de bombardeiros americanos durante o dia; eles também estavam preocupados com a invasão iminente da Normandia pelos exércitos anglo-americanos projetada para maio de 1944.

Com o caça de longo alcance P-51 Mustang chegando em dezembro de 1943 para escoltar os bombardeiros, juntamente pela a aceleração da produção de aeronaves, e o poder aéreo americano de fato foi recuperando-se. À medida que a campanha crescia, a Alemanha se via apanhada em um aperto estratégico.

Em 20 de fevereiro de 1944 começou a ”The Big Week”, um ataque de 6 dias às fábricas de estruturas de aeronaves e montadoras alemãs que paralisou as capacidades da Luftwaffe – a ponto de permitir aos Aliados superioridade aérea pelo resto da guerra. Atacando do norte (Inglaterra) e do sul (Itália), de dia (USAAF) e de noite (RAF), os contínuos bombardeios dos Aliados fizeram com que a produção de aeronaves alemãs caísse em 20%. Talvez mais importante, um total de 225 aviadores alemães foram mortos, com outros 141 feridos, representando 10 por cento de seus aviadores mais experientes.

Com a aproximação do Dia D, a tão esperada invasão da Europa Ocidental, o bombardeiro contra a Alemanha foi em grande parte desviada por 2 meses para atacar os sistemas ferroviários franceses. Naquela época, este esforço representava os mais bem sucedidos ataques de bombardeio produtivos em escala sustentada já realizados.

Após a invasão da Normandia e o rompimento em St. Lo, todos as missões estratégicas foram retomadas novamente. Ataques bem-sucedidos agora contra o sistema de transporte alemão reduziu os níveis de estoques de carvão para as ferrovias para 18 dias em outubro de 1944, 4,5 dias em fevereiro de 1945, e menos de um dia em março de 1945. Em 16 de abril 1945, a guerra aérea estratégica na Europa chegou ao fim. 21 dias depois, no dia 7 Maio de 1945, todas as hostilidades na Europa terminaram.

Quando tudo acabou, as perdas foram pesadas (um bombardeiro americano perdido em cada 76 surtidas, um bombardeiro RAF perdido em cada 56,5 surtidas) e eficácia da estratégia conceito parecia estar sob escrutínio constante. No entanto, o efeito geral do CBO provavelmente pode ser melhor apreciado quando visto pelos olhos do inimigo. Em seus 15 Relatórios de março de 1945 a Hitler, Albert Speer, Ministro do Reich para Armamentos e Produção, declarada categoricamente; “A economia alemã caminha para um colapso inevitável dentro de 4 a 8 semanas.

O impacto do CBO não pode ser ignorado - forçou a Alemanha a uma postura defensiva, utilizando assim recursos escassos que, de outra forma, teriam sido aplicados ao ataque. Por exemplo: 2 milhões de soldados alemães foram retirados da linha de frente para ajudar a prover defesa aérea de sua pátria; A produção de aeronaves alemãs mudou para caças projetados para defesa aérea em vez de suporte ofensivo no campo de batalha; e, com o colapso da produção de combustível alemã, tanto a Wehrmacht no solo quanto a Luftwaffe no ar deixaram de funcionar como forças de combate eficazes.

Uma última observação de Albert Speer será usada para ilustrar o sucesso do Campanha CBO. "O Reichmarshal disse a seus captores em 1945 que a razão estratégica dos bombardeios não conseguirem tirar a Alemanha da guerra foi o fracasso em acompanha-los. Independentemente disso, esses bombardeios fizeram com que a Alemanha desviasse enormes recursos de outras áreas vitais para reparar os danos do bombardeio estratégico e para se defender contra ele. Speer estimou que a Alemanha perdeu 10.000 armas pesadas, 6.000 tanques e 20.000 armas antiaéreas somente em 1943, devido à campanha de bombardeio. Foi, disse ele, para a Alemanha a maior batalha perdida.

O Plano para Bombardear Ploesti - um afastamento da doutrina

A gênese de um ataque a Ploesti pode realmente ser rastreada até junho de 1941. Durante esse tempo, os russos tentaram 3 vezes bombardear as refinarias de petróleo com pequenos ataques e pouco sucesso. Quando os EUA entraram na guerra no final daquele ano, o bombardeio de Ploesti apelou ao presidente Roosevelt não só por sua importância como alvo, mas também como um meio de atacar duramente os alemães. Nesta época (início de 1942), a guerra não ia indo bem e o moral estava baixo. Os EUA receberam um impulso quando O tenente-coronel Doolittle foi capaz de surpreender os japoneses bombardeando Tóquio (abril 1942) com dezesseis B-25s decolando a duras penas do porta-aviões Hornet.

No mês seguinte, os EUA tentaram outra ação elevadora de moral contra o Japão, com um ataque de bombardeio novamente planejado para Tóquio, desta vez por vinte e três B-24s. Nomeado Halverson Projeto Número 63 (HALPRO), este missão cobriria 13 mil milhas, deixando a Flórida e finalmente chegando a Chekiang, China, de onde o ataque seria encenado. Infelizmente, no momento em que essa força chegou a Cartum, no norte da África, a missão teve de ser abortada, pois a queda de Chekiang para os japoneses era iminente.Com a campanha indo mal no Norte da África, General Marshall procurou desesperadamente uma maneira de desacelerar os tanques do Marechal de Campo Rommel -O presidente Roosevelt concordou em usar a força HALPRO contra Ploesti em uma tentativa de retardar a fonte de combustível do Afrikakorps.

Em 12 de junho de 1942, Ploesti se tornou a primeira missão de bombardeio americana contra um alvo europeu quando treze HALPRO B-24s foram enviados para atacar a refinaria de Astra Romana. Danos reais aos campos de petróleo foram insignificante e nenhum dos B-24s foi perdido para a ação inimiga. A missão era significativa em vários aspectos - foi a primeira missão americana de bombardeiro pesado a qualquer alvo dentro da Europa ocupada pela Alemanha, e também foi a mais longa (uma jornada de 2.600 milhas). Ironicamente, a história não reconhece esta missão secreta em Ploesti como a primeira - em vez disso, os livros didáticos reconhecem o ataque da 8ª Força Aérea de 17 de agosto de 1942 ao estaleiros de empacotamento em Rouen, França, como início oficial para os bombardeios dos EUA. Em qualquer caso, este pequeno ataque em Ploesti serviu como um alerta para a Luftwaffe. Coronel Gerstenberg ("O Protetor") que era o responsável pela defesa do petróleo campos, sabia que isso era apenas o começo.

Os Desafios do Planejamento

A decisão de realizar um ataque maciço a Ploesti foi tomada na Conferência de Casablanca em janeiro de 1943. As ordens de Casablanca para as missões a Ploesti foram então entregue ao General Arnold, Comandante da USAAF, e sua equipe de planejamento em março de 1943 - o Coronel Smart foi nomeado responsável pelo desenvolvimento de um plano para atacar os campos de petróleo. Vários estudos realizadas determinaram que seriam necessários 1.370 aviões para ter 90% de chance de atingir Ploesti de grandes altitudes. Também seriam necessários 4 a 5 semanas para voar as 120 missões de avião para realizá-lo - simplesmente não havia o suficiente aeronaves disponíveis para destruir Ploesti de grande altitude. Além disso, em consulta com especialista que já havia trabalhado em campos de petróleo, o Coronel Smart descobriu que a maioria das refinarias estavam situadas em um círculo de 6 milhas ao redor de Ploesti. Ao tentar bombardear este anel, parecia que o Coronel Smart tinha recebido um desafio estratégico sem solução tática viável. 19

A Solução em Baixo Nível de Voo

A solução do Coronel Smart foi fazer com que os B-24 conduzissem sua missão em baixa altitude - significando "no nível do topo da árvore" . Ele raciocinou que as vantagens seriam: (1) permitiria a maior seleção possível de alvos e o bombardeio mais preciso; (2) isso reduziria as vítimas civis; (3) daria aos artilheiros antiaéreos inimigos apenas um tiro fugaz nos B-24s; (4) permitiria aos artilheiros B-24 a chance de atirar de volta Unidades terrestres; (5) privaria os combatentes inimigos da metade de sua esfera normal de ataque; (6) colocaria os B-24s abaixo do nível mais baixo alcançado pelo radar alemão; (7) seria dar aos B-24 sua melhor chance de sobreviver a uma aterrissagem forçada; e (8) seria contrário à doutrina americana do bombardeio de alta altitude e, portanto, seria uma surpresa completa para os alemães.

Maremoto

O plano do Coronel Smart, codinome Tidal Wave, foi aprovado pelo General Arnold e apresentado a Roosevelt, Churchill e os Chefes Combinados na Conferência Tridente em maio de 1943. Eles também aprovaram o plano, mas queriam que o comandante de teatro, General Eisenhower, concordasse com a missão. Ele o fez, mas com reservas de sua equipe. Seus conselheiros, General Spaatz e General Marshal Tedder questionaram a eficácia de uma única incursão e anteciparam uma taxa de perda de 40%. O Coronel Smart reconheceu uma falha em seu planejamento, pois o B-24 era apenas parcialmente projetado para esta missão. Ele tinha a velocidade e o alcance, mas sua carga paga relativamente pequena era uma grande desvantagem, e sua grande configuração semelhante a um vagão não era adequada para uma missão de baixa altitude. No entanto, o Major General Brereton, Comandante da 9ª Força Aérea, que teria que dar a ordem, o fez depois de estudar as pastas de destino por 2 semanas – a incursão começou em 1º de agosto de 1943.

As Tripulações Aéreas

O General Brereton tinha 5 grupos de bombardeio: o 376º (30 B-24s sob Coronel Compton); o 98º (46, Coronel Kane); o 44º (36, Coronel Johnson); o 93º (36, Tenente Coronel Baker); e o 389º (30, Coronel Wood) . Os grupos do Coronel Compton e do Coronel Kane estavam baseados na Palestina e no Delta do Nilo para reforçar o 8º Exército Britânico bombardeando navios e portos no Mediterrâneo. Os grupos do Coronel Johnson e do Coronel Baker foram os B-24 componentes da 8ª Força Aérea dos EUA na Grã-Bretanha, enviado para reforçar a invasão de Norte da África. O grupo do Coronel Wood havia chegado recentemente à Grã-Bretanha vindo dos EUA. No final de junho de 1943, todos estavam reunidos nos aeródromos perto de Benghazi, na Líbia, em treinar para o ataque a Ploesti.

O Treinamento

As tripulações viviam em tendas no deserto em condições miseráveis. Eles tiveram que lidar com tempestades de vento diárias que exigiam que o equipamento fosse continuamente limpo. Boa comida estava em falta e isso prejudicou a saúde geral das tripulações. Em 19 de julho de 1943, os 5 grupos de bombardeio foram retirados das operações da Sicília e o treinamento começou para seu ataque de baixo nível contra Ploesti. Eles foram bem informados e receberam excelente apoio de inteligência. Eles tinham mapas detalhados de cada refinaria-alvo, acompanhados por um esboço oblíquo de como seria para eles quando fizeram sua abordagem final. Ao sul de Benghazi, no deserto, era um plano em escala real de Ploesti pintado no chão em branco. Por duas semanas antes da invasão, eles bombardearam o alvo simulado com bombas de prática. Em seu ensaio geral final com bombas reais, eles destruíram o deserto de Ploesti em menos de 2 minutos. Eles estavam prontos, mas nada poderia prepará-los para as defesas ferozes que os aguardavam na Ploesti real.

O Alvo: Ploesti

Em 27 de julho de 1943, os planejadores de missão e chefes foram surpreendidos por dados de inteligência obtido através de um piloto romeno que desertou - afirmou que as defesas ao redor Ploesti era umas das mais pesadas ​​da Europa. Até este ponto, as tripulações foram informadas que as defesas de Ploesti eram fracas, com muitas armas e aeronaves que se acredita serem tripuladas por Romenos sem entusiasmo pela guerra. Isso não poderia estar mais longe da verdade.

No longo período de calmaria desde a missão HALPRO, há um ano em junho, Coronel da Luftwaffe Gerstenberg tinha feito seu trabalho bem, tornando a cidade uma fortaleza invencível. Ploesti fica entre 2 cristas. Ao longo deste terreno elevado, Gerstenberg colocou 237 armas antiaéreas, de 88 e 105 mm. 80% destas armas eram operadas por guarnições alemãs. Dentro das áreas da refinaria havia balões de barragem, torres FLAK (canhões de 88 mm) e centenas de metralhadoras. A principal base aérea alemã estava 20 milhas a leste, onde havia 4 alas de Messerschmitt (Me)109s, das quais aproximadamente metade era pilotada por pilotos alemães; outra base próxima realizava combates noturnos com Me 110s. Outras unidades da Luftwaffe também estavam à sua disposição na Grécia e na Itália, bem como unidades romenas e búlgaras espalhadas por toda a área geral.

O fato mais ameaçador de tudo e desconhecido para os planejadores americanos, era que Gerstenberg tinha estabelecido uma rede de detecção de radar eficiente. Isso, juntamente com uma Unidade de interceptação de sinais perto de Atenas que estava decodificando as transmissões da 9ª Força Aérea, e a Luftwaffe com um Comando de Caças em Bucareste com capacidade de rastrear todas as aeronaves.

A Caminho de Ploesti

No domingo, 1º de agosto de 1943, 178 B-24s decolaram de Benghazi ao amanhecer em seu caminho para fazer história - o bombardeio de baixo nível das refinarias e campos de petróleo em Ploesti. O grupo do Coronel Compton estava na liderança, seguido em sucessão por Baker’s, Kane’s, Johnson’s, e Wood, todos sob o comando do Brigadeiro General Ent que estava voando com Compton. Cada B-24 carregava aproximadamente 3.100 galões de combustível e uma carga média de 4.300 libras de bombas e munição, excedendo assim sua capacidade máxima de carga - tirar cada aeronave do solo foi um grande sacrifício.

Assim que a frota aérea entrou em formação, dirigiu-se para o norte, através do Mediterrâneo, à 2 para 3 mil pés, mantendo o silêncio do rádio para evitar a detecção pelos alemães. Infelizmente, essa precaução foi em vão. Os alemães os pegaram quase imediatamente. Uma mensagem informal enviada a outras forças aliadas no norte da África para anunciar sua partida de Benghazi foi decodificada em Atenas e retransmitida para Comando de caça da Luftwaffe que entrou em alerta.

Quando o grupo do coronel Compton se aproximou da ilha de Corfu, o azar começou. O avião de chumbo começou a cambalear e, em seguida, inexplicavelmente bateu no mar. Então, outro O B-24 violou os procedimentos e desceu para investigar - não conseguiu recuperar a altitude e teve que ir para casa. Perderam-se os navegadores da missão. Neste ponto, a força estava agora reduzida a 165 B-24s - outra aeronave abortou a missão devido a dificuldades mecânicas.

À medida que o grupo se dirigia para o nordeste através da Albânia e Iugoslávia se aproximaram de uma cordilheira com forte cobertura de nuvens, com 4 dos comandantes do grupo escolhendo voar sobre as nuvens - Coronel Kane passou por baixo delas.Quando eles saíram do outro lado na fronteira com a Bulgária, não apenas sua sequência de ataque foi confundida, mas o grupo do Coronel Kane foi deixado para trás. Uma vez nas montanhas da Bulgária, o grupo desceu e desapareceu das Telas de radar alemãs. Não importa. Os alemães sabiam que os americanos dirigiam-se para Ploesti e acionou sua aviação de caça.

Apesar da perda de ambos os navegadores da missão, a força principal (o Coronel Kane tinha ficaram para trás) fizeram seu ponto inicial (PI) em Targovisti. Infelizmente, neste ponto, por ordem do General Ent, a missão tomou o caminho errado e, em vez de seguirem para Ploesti, aproaram para Bucareste. A confusão havia começado e o ataque de Gerstenberg e os caçadores estavam prestes a piorar as coisas.

Acima do Alvo

O Coronel Baker foi o primeiro grupo a corrigir o erro com rumo a Ploesti. À medida que seu grupo se aproximava, o céu se enchia de arrebentamentos de fogo antiaéreo e balões de artilharia. O avião do Coronel Baker pegou fogo e caiu quando os tanques de armazenamento de óleo começaram a explodir ao redor. Dos 32 aviões que atingiram a área alvo, apenas 15 emergiram, agora para enfrentar a ira dos caças alemães.

O Coronel Compton corrigiu sua abordagem logo depois que o Coronel Baker o fez, aproximando-se de Ploesti pelo sul. Fogos de Flak pesados os forçaram a leste e o General Ent ordenou um ataque a alvos de oportunidade. Parte de sua força atingiu uma das principais fábricas de craqueamento eliminando 40% de sua capacidade. O restante da força não foi capaz de encontrar alvos e despejou suas bombas ao norte de Ploesti.

Neste ponto, outros grupos chegaram à área de destino de diferentes direções, e agora, o maior problema para os B-24 passou a ser evitar bater uns nos outros. Enquanto isso, Gerstenberg ficou maravilhado com a precisão com que os B-24s manobravam sobre Ploesti, sem saber que isso era na verdade o resultado de um plano que havia dado errado.

O grupo do Coronel Wood teve um ótimo desempenho neste dia. Depois também compensando a curva errada, eles destruíram totalmente seu alvo (Steaua Romana Refinaria). Essa refinaria só voltaria a operar em 6 meses. Apenas 6 aviões foram perdidos entre os 29 que atacaram Ploesti. O Grupo do Coronel Posey de 21 B-24 da força do Coronel Johnson também teve um bom desempenho. Eles receberam uma usina de combustível de aviação ao norte de Ploesti (Creditul Refinaria Minier), que era a instalação mais moderna da Europa. Eles perderam apenas 2 aviões, e seu alvo ficou fora de operação pelo resto da guerra.

Finalmente, o Coronel Kane e o restante do grupo do Coronel Johnson atacaram do sul entrando em uma Ploesti cheia de fumaça (de ataques anteriores), complicado por bombas de ação retardada ainda explodindo. O Fogo Flak era tão pesado que 8 dos 57 bombardeiros dos 2 grupos foram duramente atingidos antes de chegar à área alvo. O coronel Johnson perdeu 5 aeronaves sobre Ploesti, e o coronel Kane perdeu 15, mas tiveram sucesso em destruir metade da capacidade produtiva das maiores refinarias de petróleo (Astra Romana,Phoenix-Orion e Columbia Acquila) na Europa.

No caminho para casa, os caças alemães começaram a pegar os bombardeiros danificados enquanto eles deixavam Ploesti. Inicialmente, a baixa altitude tornou difícil para o Me 109s efetivamente atacar os B-24s sem que eles próprios colidissem com o solo. Infelizmente, o Os pilotos de caça alemães aprenderam a improvisar suas táticas e abateram uma parte dos B24s.

A Consequência

A contagem final de aeronaves foi impressionante. Da força que partiu para Ploesti, 93 retornaram a Benghazi, 19 pousaram em outros campos de aviação aliados, 7 pousaram na Turquia, e 3 caíram no mar. Os números finais mostraram que 54 aviões foram perdidos (quarenta e um em combate) e 532 homens estavam mortos, capturados, desaparecidos ou internado (de um total de 1.726).

Se não fosse pelo caminho errado feito em Targovisti, tudo indica que a missão Ploesti teria conseguido cumprir todos os seus objetivos; destruindo 90% do complexo da refinaria. Em vez disso, na confusão de que em seguida, as refinarias Romano Americana, Standard Petrol e Unirea Sperantza saíram ilesas.

Desde então, a história concluiu que Ploesti, como um todo, havia perdido 42% de capacidade total, a produção da planta de craqueamento foi cortada em 40%, e a produção de óleos lubrificantes foi consideravelmente reduzida. Infelizmente, nada disso fez muita diferença, já que Ploesti estava operando a apenas 60% de capacidade. Isso significava que a perda efetiva de longo prazo não era de quarenta e dois por cento, mas de 2%. Assim, as plantas inativas foram ativadas, outras reparadas e em semanas Ploesti estava produzindo em uma taxa mais alta do que antes do ataque.

Retrospectiva e Avaliação

Embora tenha sido argumentado que Ploesti não foi um sucesso estratégico, muitos consideraram isso uma vitória moral pronunciada para os Aliados, especialmente os americanos. Para os europeus, o Tidal Wave era a prova de que as tripulações americanas eram corajosas o suficiente para lutar entre suas próprias bombas explodindo. Eles mostraram que podiam lançar bombas precisamente em objetivos militares com um mínimo de baixas civis. Isso passou uma boa impressão para o povo da Europa que desprezava os imprecisos bombardeios de alta altitude dos Aliados que mataram muitas pessoas inocentes. Eles consideraram esta missão como o último grande ato de cavalaria no bombardeio aéreo.

A reação ao ataque dos militares alemães e romenos em Ploesti foi de pura admiração pela ousadia dos americanos. Sob o comando do General Gerstenberg's, os americanos mortos no local do ataque receberam funerais com honras militares completas. As mulheres romenas fizeram vigílias para os americanos, e nos caixões elas colocaram bolos finos especiais - cada um com uma pequena bandeira americana feita de doces coloridos. Um oficial alemão perguntou por que essas mulheres faziam isso e choravam pelos americanos, e uma senhora respondeu: "Nós choramos, porque sabemos que as mães americanas logo estarão chorando por seus filhos”.

Depois de construir um doutrina por 20 anos baseada em alta altitude, luz do dia e bombardeio de precisão, por que, em seu primeiro grande esforço de bombardeio, os EUA "afastaram-se da doutrina" e conduziram um missão de bombardeio de baixa altitude em Ploesti, a única missão de bombardeio de baixo nível realizada na guerra? Ao responder a esta pergunta, deve-se considerar 4 áreas: (1) o afastamento da doutrina - do que você faz de melhor; (2) a necessidade de surpresa no ataque Ploesti; (3) a falácia da crença em um único golpe; e (4) a flexibilidade que o poder aéreo oferta ao planejamento.

Faça o que Você Faz Melhor

A doutrina, em definição simples, é determinar a melhor maneira de fazer algo. Para o EUA que antecederam a Segunda Guerra Mundial em termos de bombardeio estratégico, tinham por doutrina as incursões a alta altitude, luz do dia e bombardeio de precisão. Como vimos, os teóricos americanos forjaram por um tempo longo e de forma cuidadosa sua doutrina militar nesta área. Seu treinamento, armas a todas as suas táticas apoiavam-se e giravam em torno dessa doutrina. Treinou-se uma força para voar e lutar em bombardeiros. Desenvolveu-se bombardeiros de longo alcance para atacar o inimigo a grande distâncias. Equipou-se fortemente esses bombardeiros para que fossem fortalezas defensivas. Foi desenvolvida também a mira de bombardeio Norden para permitir precisão no bombardeio em grandes altitudes. Foram desenvolvidas táticas, como voar em formações de caixa apertada para fornecer o melhor concentração de poder de fogo contra um inimigo atacante. Em suma, esta foi o a doutrina de bombardeio do Army Air Corps com todos os seus “sinos e apitos”. Embora não tenham tido a oportunidade de usar esta doutrina em conflito, era o que os aviadores sentiam que eles faziam de melhor!

Ploesti foi um grande desafio como alvo, não se engane quanto a isso, e a lógica foi conduzir a missão de baixa altitude era sensata, razoável e apropriada. Contudo, essa doutrina de bombardeio não foi completamente testada neste ponto. Por tudo que se sabia, e se deveria acreditar, o bombardeio de alta altitude poderia ter feito o trabalho facilmente – e não havia nenhuma lição aprendida para indicar o contrário. Ainda não se tinha as experiências frustrantes de Regensburg e Schweinfurt (agosto de 1943) e então Schweinfurt novamente (outubro de 1943).

É realmente uma virtude ser adaptável e não ser pego por dogmas - pergunte a quem viveu os horrores da guerra de trincheiras na Primeira Guerra Mundial; uma mudança na doutrina certamente foram apreciadas lá. No entanto, Ploesti não era o lugar. Foi a primeira vez em grande escala para se testar esta doutrina. A liderança devia isso aos homens que enviaram para lutar e morrer para fazer isso conforme foram treinados - para permitir que eles o fizessem o que fazem de melhor!

Muitos aviadores corajosos e lutaram e morreram no ataque a Ploesti, e em retrospectiva, as perdas acabaram sendo tão catastróficas quanto Regensburg e Schweinfurt. Isto foi uma missão que exigiu grande oportunidade, sorte incrível e aviadores corajosos. Infelizmente, só se viu o último desses três, e pagou-se caro por isso.




O Elemento Surpresa

Muito tem sido escrito sobre o elemento surpresa na escolha do bombardeio de baixa altitude contra Ploesti. Entre outras razões, o coronel Smart acreditava que os alemães seriam pegos de surpresa, já que a doutrina preconizava ações a partir de grandes altitudes. Além disso, voar baixo colocaria a força de bombardeiros abaixo da capacidade de detecção do radar alemão e, juntamente com o silêncio de rádio, garantiriam a chegada à Ploesti sem aviso prévio. Este foi um empreendimento ambicioso, dada a longa distância (cerca de 2.400 milhas) que os bombardeiros precisavam cruzar para alcançar seus respectivos alvos. No entanto, os aviadores exibiram grande disciplina na execução desse aspecto da missão.

Infelizmente, a surpresa era a última coisa que o Tidal Wave tinha a seu favor. Como nós saibamos, todas as defesas de Ploesti estavam posicionadas e esperando pelos bombardeiros do General Ent. Completamente desconhecido para os americanos foi o fato de os alemães terem quebrado o Código da 9ª Força Aérea, sendo de seu conhecimento o momento em que a força atacante partia de suas bases em Benghazi. Com a extensa rede de radar que estabeleceram, os alemães rastrearam facilmente os bombardeiros até que eles descessem para atacar Ploesti, e por isso a Luftwaffe e a cidade estavam em alerta total.

Apesar de tudo o que foi dito acima, o elemento surpresa foi realmente perdido por muito tempo antes de 1 de agosto de 1943. Pode ter sido até um ano antes, quando conduziu-se a missão HALPRO contra Ploesti em 12 de junho de 1942. Naquela época, em que acabou sendo um esforço simbólico, como uma reflexão tardia, alertou-se os alemães que Ploesti era um alvo considerado. Esta mensagem não foi perdida por eles. Eles colocaram estes 13 meses de aviso prévio transformando Ploesti em uma fortaleza defensiva. Gerstenberg recebeu todo o apoio de que precisava de Hitler (por meio de Goering), e foi apenas responsável por fazer de Ploesti um dos alvos mais difíceis do Terceiro Reich.

A Fantasia do Golpe Único

Ironicamente, embora os EUA possam ter comprometido sua doutrina de alta altitude em Ploesti, se agarrou à crença de que qualquer alvo poderia ser nocauteado com um único golpe; golpe decisivo. Obviamente, Ploesti se tornou a primeira grande lição aprendida de que não era bem assim. À medida que a guerra avançou, constatou-se que os alvos precisavam ser atingidos com força, mas então frequentes missões de acompanhamento também eram necessárias para inibir os esforços de reparo alemães. O sucesso limitado em Ploesti foi apenas temporário. As refinarias foram rapidamente reconstituídas. Durante a longa calmaria após a missão HALPRO, as refinarias tiveram muito tempo para desenvolver soluções alternativas em caso de danos durante um bombardeio. Os alemães fizeram bom uso dessas ideias para se reerguer. Além disso, foi uma pena para os americanos que, naquela época, Ploesti era apenas operanda a 60% da capacidade. Portanto, em nenhum momento, as refinarias de Ploesti foram produzindo em um nível mais alto do que antes do ataque.

O ataque à Ploesti continuaria - a 15ª Força Aérea pegaria este encargo em 5 de abril de 1944 e o levaria até 19 de agosto de 1944. Quando as tropas russas marcharam para Ploesti em 30 de agosto, eles encontraram o local literalmente fechado, mas a 15ª Força Aére também pagou o preço. 19 missões de alto nível foram realizadas durante esse tempo - 5.479 surtidas - 223 bombardeiros perdidos - quase 1,2 milhão de toneladas de produção de petróleo destruída. Ploesti ficou conhecido como o “cemitério dos bombardeiros” .

Flexibilidade é a Chave para o Poder Aéreo

De muitas maneiras, o ataque a baixa altitude em Ploesti seria um dos muitos eventos históricos liderando o caminho para uma tendência futura de expectativas cada vez mais altas sobre as capacidades de poder aéreo. Sua notável adaptabilidade e capacidade de reagir rapidamente, colocou-o diretamente no meio dos planos atuais para o futura segurança nacional dos EUA. Na época, Ploesti provou quão rápido o Corpo da Força Aérea poderia “mudar de direção em tempo real” e realizar uma missão única; isso não foi considerado pelos visionários do período entre guerras.

Os preparativos para a missão a Ploesti foram um processo relativamente rápido. Vários meses de planejamento foram seguidos por extensa coordenação para cima e para baixo na estrutura de comando - Roosevelt deu a ordem em Casablanca e aprovou o plano na Conferência Trident. O treinamento para esse ataque especial durou apenas algumas semanas. Ao longo do caminho, muitos obstáculos foram superados; carregando combustível extra para permitir que os B-24s alcançassem Ploesti, mudando o nível do bombardeio, e o ajuste de espoletas e bombas para atrasar a detonação e permitir que a força agressora deixasse a área, e durante todo o tempo, a segurança era de a maior importância na esperança de manter um elemento surpresa. Foi realmente um empreendimento impressionante de um incipiente Corpo de Aviação.

Hoje, o poder aéreo é um jogador integral na arena da segurança nacional - sua capacidade de reagir rapidamente está no centro de todas as tomadas de decisão. Seja um B-2 cruzando o globo em uma demonstração de projeção de força, esquadrões de F-15s destacando-se para realizar uma possível parada, ou o conceito prestes a ser empregado da Força Expedicionária Aérea (AEF) pronto para responder ao apelo em alguma ação hostil futura, a gênese de todas essas começou com o potencial inicial exibido pelo poder aéreo em lugares como Ploesti e outras operações aéreas.

Aqui possivelmente reside uma explicação para o afastamento da questão doutrinária – flexibilidade e a capacidade de reagir rapidamente. O coronel Smart e sua equipe de planejamento perceberam que a potência aérea, neste caso, o bombardeio estratégico, tinha potencial em outras altitudes - e assim o empregou. O poder aéreo oferecia outras opções, e eles continuavam o processo de desbravar novos caminhos - um processo que começou com os visionários do poder aéreo da década de 1920 e 30, e que continuaria pelos próximos 50 ou mais anos.