sábado, 29 de novembro de 2025

A Defesa Antiaérea de uma Força-Tarefa Naval **048


A guerra moderna trouxe, ao contrário daqueles conflitos anteriores ao século XX, uma ameaça aérea em níveis cada vez mais acentuados às forças, bases e instalações na superfície. Os meios aéreos demonstram rapidez e amplo campo de tiro, devido a permeabilidade do espaço em que atuam e às altitudes que podem atingir, fazendo-os os atores mais temidos e mortais de qualquer campo de batalha.

Esta ameaça sobre as forças navais evoluiu de simples ataques de bombardeiros para um complexo desafio que inclui mísseis antinavio supersônicos, drones e mísseis de cruzeiro que voam muito baixo (os "sea-skimmers"). A defesa contra essas ameaças exige sistemas integrados e multicamadas. Mísseis Antinavio são a maior ameaça atual, especialmente os modelos que voam a altitudes muito baixas (<20m) para evitar a detecção precoce pelo radar do navio. Os Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs/Drones) são utilizados para vigilância, reconhecimento e, cada vez mais, como plataformas de ataque ou iscas, complicando a defesa. As Aeronaves de Caça e bombardeio continuam a ser uma ameaça significativa, capazes de lançar mísseis de longo alcance ou realizar ataques diretos. Os Mísseis de Cruzeiro são armas de longo alcance que podem ser lançadas de plataformas aéreas, navais ou terrestres e seguir rotas complexas para atingir seus alvos.

Historicamente, a defesa naval evoluiu de armas de fogo convencionais para sistemas sofisticados de mísseis e eletrônicos. Atualmente, a defesa antiaérea naval é baseada em uma abordagem em camadas. O primeiro agente desta modalidade de guerra são as atividades de detecção e rastreamento, que em atividade constante em qualquer cenário, seja de paz, baixa ou alta ameaça, monitora tudo aquilo que acontece no espaço aéreo e naval em um entorno da frota. Este entorno considera todos os meios conhecidos ou não que se apresentem nos sensores que possam constituir algum tipo de ameaça. Se lança mão de radares avançados, meios de EW e sensores diversos para identificar e rastrear ameaças o mais cedo possível. Também constituindo este sistema de detecção e rastreamento existe uma anel defensivo de navios de superfície e submarinos em torno do núcleo da frota, além de meios aéreos próprios que ampliam o perímetro que pode ser rastreado pela combinação de todos os sensores, ampliando seu alcance.

A defesa de área ou de longo alcance dispõem de mísseis superfície-ar de grande alcance (SAMs), frequentemente lançados de navios-escolta, para interceptar ameaças longe da frota. Estes meios são caros e complexos e estão disponíveis apenas às marinhas mais abastadas. Nas marinhas que dispõem de navios-aeródromo existe ainda, além do alcance dos SAMs de “Perna longa” um nível defensivo composto por aeronaves de caça quem ampliam em muito o anel defensivo. A Área de Defesa Expandida tem seus limites externos, estendendo-se a até 110 km do núcleo da força-tarefa, limite este ditado pelo alcance dos radares de vigilância e mísseis SAM disponíveis. Esta distância pode ser estendida pela presença de aeronaves de caça e interceptação, baseadas em navios-aeródromo ou em terra se houverem bases aéreas para que possam atuar, ou ainda o apoio de reabastecimento aéreo capazes de estender os tempos de patrulha. Para contrapor àqueles meios hostis que transpassem a defesa externa, os navios de superfície dispõem de Defesa de Ponto ou curto alcance que são sistemas de armas de reação rápida, como mísseis de curto alcance, mísseis de curtíssimo alcance e sistemas de artilharia de tiro rápido (CIWS) com calibres de 20 a 40 mm e munição com espoleta de proximidade, para engajar alvos que penetraram a defesa de área. 



A chamada área de defesa Interna, prolonga-se a até 48 km do núcleo. Este é o horizonte naval médio dos radares baseados na superfície para detecção de alvos muito próximos á superfície, pois é uma limitação imposta pela curvatura da terra. Além deste horizonte os meios navais necessitam do apoio de meios aéreos, orgânicos ou não. Complementando estes sistemas o meios navais atuam de forma passiva através de Guerra Eletrônica (EW) e Contramedidas com o uso de chaffs, flares e sistemas de interferência eletrônica para confundir os sistemas de guiagem dos mísseis inimigos.

A eficácia contra essas ameaças depende da integração de todos esses sistemas em uma arquitetura de defesa robusta, dispostas em níveis como por exemplo o sistema de defesa antimísseis Aegis da US Navy.

Uma tática de ataque muito eficiente e difícil de enfrentar, com capacidade de provocar estragos significativos tanto aos meios de escolta como ao núcleo é o ataque de saturação com mísseis antinavio, que podem ser supersônicos. Consiste em várias aeronaves lançando vários deste mísseis ao mesmo tempo, saturando às defesas. Quando detectados, os sistema antinavio de todos os meios que atuam interligados por data-link e sob comando central, liberam suas armas dentro de seus setores de responsabilidade, procurando neutralizar as ameaças o maior longe possível de seus potenciais alvos. Um grande número de mísseis liberados ao mesmo sobrecarrega os diretores de tiro, de forma que quanto mais escoltas existirem, mais diretores de tiro poderão atuar setorizados garantindo uma defesa mais eficiente.

A perda de qualquer um dos meios de uma força naval contribui para a debilidade desta força, como não poderia deixar de ser, mas a perda de uma escolta força uma redistribuição dos meios no espaço de defesa sem comprometer a missão principal. A perda dos navios capitais é mais problemática, pois pode inviabilizar a própria missão da força-tarefa. Estas unidade podem ser um grupo anfíbio, cuja perda de um dos navios pode desmantelar todo um plano de desembarque; pode ser um núcleo de navios-aeródromo que impede a força de lançar ataques aéreos em proveito de forças em terra ou controle de área marítima, se esta for a finalidade, ou pode ser ainda um núcleo de comboio logístico levando suprimentos vitais a quem os necessita.

Defender estes núcleos é a própria finalidade da força naval como um todo, que além da ameaça aérea tem que ser defendida da ameaça submarina, muito mais difícil de detectar e rastrear. Colocar as escoltas em risco é sempre necessário para que o núcleo permaneça em segurança, até porque esta é a missão delas. No conflitos das Falklands/Malvinas o HMS Sheffield estava em uma missão de piquete de radar avançado (ou patrulha de piquete antiaéreo) quando foi atingido por um míssil antinavio, lançado por um bombardeiro argentino. O ataque foi realizado por um avião de caça naval argentino Super Étendard, que lançou um míssil antinavio Exocet AM39, que atingiu o navio, resultando em um incêndio incontrolável que levou ao seu abandono e, posteriormente, ao seu afundamento. O destroier Tipo 42 era um dos 3 navios (junto com o HMS Glasgow e o HMS Coventry) posicionados ao sul e a oeste da principal força-tarefa britânica para fornecer cobertura de radar de longo alcance e alerta antecipado contra ataques aéreos argentinos. Em 4 de maio de 1982, o Sheffield estava operando a cerca de 29 a 48 km de distância da força principal quando foi detectado e subsequentemente atacado pelas aeronaves. A missão do piquete de radar era, ironicamente, a de ser a primeira linha de defesa da frota, mas devido a uma combinação de fatores técnicos e falhas de procedimento, o navio não conseguiu detectar a aproximação dos mísseis a tempo.



A Defesa Antiaérea dos Grupos de Batalha de Porta-Aviões

O míssil lançado do ar representa a principal ameaça à qualquer força de superfície, especialmente àquelas nucleadas por navios-aeródromo. A proteção de porta-aviões contra ataques de mísseis torna-se tanto mais eficaz quando o número de escoltas e outros navios aumenta. Na maior parte das situações, os porta-aviões e seus respectivos grupos de ataque operam individualmente, e é nessas situações que se tornam mais vulneráveis. O poder de fogo antiaéreo desses grupos de ataque é fundamental.

Em certas áreas do mundo, os grupos navais em operação enfrentam uma ameaça substancial de ataques coordenados com mísseis. Até recentemente, a US Navy, principal força naval do mundo, não deu a essa ameaça a consideração que ela merece. Isso se refletiu nos programas de construção naval; no desenvolvimento e aquisição de sistemas de armas defensivas adequados em quantidades suficientes; e até mesmo na composição dos grupos de ataque em operação. Mesmo assim, uma defesa em profundidade altamente eficaz contra mísseis guiados de precisão pode ser prontamente obtida equipando os navios desta marinha com o número necessário de armas defensivas e dispositivos de contramedidas eletrônicas.

Os mísseis russos e chineses podem ser divididos em ameaças de curto e longo alcance. Os de curto alcance podem ser disparados de até cerca de 40 km. A arma é guiada contra alvos adquiridos por seus próprios sensores — radar, sensores eletrônicos, ópticos, laser ou infravermelho — e normalmente contra alvos identificados positivamente pelo navio, submarino ou aeronave lançadora. Para ameaças de longo alcance, como navios ou aeronaves inimigas que não estão em contato visual, a localização e identificação do alvo exigem sensores externos, uma aeronave, navio ou satélite para fornecer informações à plataforma de lançamento e, em alguns casos, também para fornecer orientação de meio curso aos mísseis.

A ameaça de curto alcance é, sem dúvida, a mais perigosa, exceto por possíveis ataques aéreos coordenados de longo alcance, massivos ou contínuos, que poderiam saturar as defesas. Um ataque de curto alcance, amplo e coordenado, só poderia ocorrer a partir de um ataque preventivo total da Marinha russa ou chinesa. Este é o tipo de ataque contra o qual a US Navy é atualmente menos capaz de se defender.

As aeronaves dos grupos de porta-aviões possuem ampla capacidade de reação ofensiva a um ataque antecipado, desde que haja porta-aviões suficientes operando em conjunto. Os porta-aviões precisam ser capazes de fornecer aeronaves de caça, ataque e guerra antissubmarino (ASW) em número suficiente para neutralizar todas as ameaças potenciais, de modo que sua capacidade de lançamento de armas seja reduzida ao mínimo. Esta capacidade consiste do número de canhões de médio e pequeno calibre com capacidade antiaérea, mísseis SAM de médio e curto alcance, e do número de mísseis antinavio. Submarinos de ataque patrulhando as bordas externas do núcleo da força-tarefa podem evitar que plataformas lançadores de mísseis antinavio se posicionem ao alcance de lança-los. É desejável, portanto, que as escoltas disponham de mísseis antinavio em todas as unidades em operação, e também a disponibilidade de projéteis guiados para seus canhões.

Tendo abordado a resposta ofensiva a um ataque preventivo de curto alcance, vejamos as capacidades defensivas. Para começar, os próprios porta-aviões devem dispor de armas de autodefesa, na maioria dos casos consistindo de mísseis manpads ou canhoes CIWS. Os navios de superfície da escolta interior ou próxima do núcleo devem possuir canhões de calibre maior, além dos CIWS e mísseis SAM de curto alcance, pelo menos. Escoltas mais especializadas que se posicionam a meia distância já devem dispor de mísseis SAM de alcance superior, formando a primeira linha de defesa do núcleo depois da aviação de caça.

Cada navio de combate de superfície e auxiliar precisa de seu próprio sistema de defesa de ponto para uso contra mísseis antinavio e alvos de lançamento surpresa de curto alcance que não podem ser detectados a uma distância suficiente para a defesa de área. Os sistemas de defesa de ponto também servem para mísseis que ultrapassam as defesas de área. Mísseis como os RIM-116, Sea Sparrow, Sea Viper e Sea Ceptor são exemplos de sistemas de defesa de curto alcance. Cada bateria de Sea Sparrow da US Navy por exemplo, inclui um lançador com 8 mísseis e 2 sistemas de controle de tiro por radar. Uma bateria é capaz de suportar apenas 2 mísseis por vez. Tanto para porta-aviões quanto para seus navios de escolta, não há dúvida de que são necessárias mais baterias destes sistemas do que as atualmente a bordo destes navios.

Para combater alvos que penetrem as defesas Manpads, muitas marinhas usam os sistemas CIWS dedicados e os canhões de uso geral que tem capacidade antiaérea. A Royal Navy possui em seus navios os sistemas Sea Viper (alcance médio) e Sea Ceptor (curto alcance) em substituição aos Sea Dart e Sea Wolf usados anteriormente. desenvolveu e está instalando o sistema antimíssil de defesa aproximada Sea Wolf em seus navios. O Sea Ceptor utiliza modos de rastreamento por radar e data-link e é altamente manobrável. Os britânicos o consideram, naturalmente, o melhor dos sistemas de defesa aproximada disponíveis, especialmente contra alvos manobráveis ​​e de baixa altitude (aviões rasantes). O Sea Ceptor tem demonstrado repetidamente capacidade de abater mísseis supersônicos de teste de alto desempenho e projéteis de canhão em ambientes com forte interferência, com mais alta capacidade de sucesso no engajamento.

Os sistemas de defesa de ponto destas marinhas da OTAN demonstram resultados impressionantes em testes de lançamento. A aquisição prioritária destes sistemas deve ser realizada pelas forças navais dos EUA e de seus aliados para instalações rápidas em todos os navios de combate de superfície e auxiliares, em números e combinações que proporcionem a cada embarcação uma defesa antimíssil eficaz de curto alcance.

O RIM-116 (capaz de suportar força G superior a 20 Gs) é um sistema "dispare e esqueça", permitindo o lançamento sucessivo de mísseis dos mesmos lançadores contra alvos diferentes sem demora. A US Navy está instalando estes mísseis em cada um dos lançadores Sea Sparrow. A marinha alemã instalou lançadores com capacidade para 21 mísseis cada. Este programa altamente promissor merece desenvolvimento e aquisição prioritários. Os projéteis guiados para canhões de 5 polegadas também melhorarão significativamente as capacidades da força-tarefa, especialmente contra ataques preventivos com mísseis. Os 2 modos de guiamento (infravermelho e laser) proporcionarão uma grande melhoria para sistemas de canhões com essa capacidade contra todos os tipos de alvos.

O RIM-116 é um sistema conjunto EUA-Alemanha projetado para fornecer uma defesa de reação rápida contra ataques de mísseis antinavio altamente coordenados. Este sistema complementa os sistemas de canhões Phalanx e o míssil Sea Sparrow na função de defesa de curto alcance. O míssil é baseado no AIM-9 Sidewinder e no míssil Stinger (Manpads), utilizando um sistema de guiamento de modo duplo (radar passivo e infravermelho) para garantir capacidade em todas as condições climáticas. Ele será projetado especialmente para combater mísseis de ataque de baixa altitude que fornecem muito pouco aviso prévio.

Para suplementar estas defesas antimísseis e antiaéreas, existem os sistemas de defesa passiva. Após o afundamento do destróier Eilat em 1967, a Marinha Israelense (ao contrário da Força Aérea Israelense) aprendeu a lição e instalou em todos os seus navios o equipamento adequado de contramedidas eletrônicas (ECM). Como resultado, durante a Guerra do Kippur em 1973, embora mais de 50 mísseis Styx tenham sido disparados contra navios israelenses, seus dispositivos ECM foram 100% eficazes em interferir ou enganar os sistemas de orientação por radar ativo dos Styx, de modo que nenhum navio de guerra foi atingido. Em contraste, o míssil antinavio Gabriel de Israel foi altamente eficaz contra navios de guerra sírios que não possuíam proteção ECM.

Todas as marinhas modernas possuem sistemas passivos de ECM acionado automaticamente para neutralizar a ameaça de mísseis atacantes. A maioria dos mísseis antinavio usa guiamento terminal por radar ativo, com capacidade de guiamento mesmo com interferência e/ou um buscador de entrada terminal. Além disso, mísseis mais modernos estão sendo desenvolvidos com guiamento passivo antirradiação, guiamento por laser e guiamento por enlace de comando eletro-óptico, o que exigirá contramedidas ainda mais modernas. Outros sistemas ECM muito usados são as nuvens de chaff, iscas infravermelhas ou uma combinação de chaff e cartuchos infravermelhos, além do reposicionamento do navio a fim de oferecer um alvo menor.

Após o primeiro dia de uma hipotética hostilidade entre as forças navais americanas e russas, a ameaça de mísseis antinavio de curto alcance terá sido substancialmente reduzida. Poderá haver um submarino ocasional ou — ainda menos provável — um grupo de aeronaves táticas, que poderão penetrar as defesas externas do grupo de ataque e empregar mísseis de curto alcance.

A principal ameaça nesse momento viria dos mísseis ar-superfície de longo alcance carregados pelos grandes bombardeiros navais russos — os "Badgers" e os "Backfires". A maneira mais segura de neutralizar essa ameaça o mais rápido possível seria atacar as bases de bombardeiros dentro da Rússia. No entanto, para isso, seria necessário um armamento de longo alcance de alta precisão, como o míssil Tomahawk convencional. Somente um armamento desse tipo evitaria a necessidade de aeronaves táticas americanas tentarem penetrar as defesas russas e possivelmente sofrerem baixas.

A versão de ataque terrestre de alta precisão do Tomahawk, com alcance de 2.400 km e ogiva convencional, segundo relatos, com capacidade de destruição próxima à de uma pequena ogiva nuclear. Portanto, qualquer atraso no desenvolvimento, aquisição e implantação dessa arma pode ser visto com alarme (especialmente por quem se preocupa com a defesa de grupos navais contra ataques maciços de bombardeiros).

Na luta da US Navy contra os bombardeiros russos com seus mísseis ar-superfície de longo alcance, ela receberá ajuda de fontes externas. Por exemplo, o sistema NADGE (Air Defense Ground Environment da OTAN), que se estende da Noruega à Turquia, deverá fornecer ao comandante do grupo de tarefas da Marinha um alerta antecipado de ataques de bombardeiros e, em alguns casos, poderá tentar interceptar os bombardeiros. Uma lacuna nesse sistema, que permitia que bombardeiros voando em baixa altitude contornassem o norte da Noruega e adentrassem o Atlântico Norte sem serem detectados, foi preenchida com a designação de uma aeronave AWACS (Sistema de Alerta e Controle Aerotransportado) para patrulhar a região entre a Groenlândia, a Islândia e o Reino Unido. Aeronaves baseadas no norte do Reino Unido, estarão disponíveis para auxiliar na interceptação de voos de bombardeiros que tentem penetrar a região entre a Islândia e o Reino Unido.

No Mediterrâneo Central e Oriental, estudos demonstram que 3 porta-aviões são necessários para garantir o combate à ameaça naval e aérea russa em momentos de tensão, mas um terceiro porta-aviões pode não estar disponível devido a tarefas de maior prioridade. O estacionamento de uma ala aérea do Corpo de Fuzileiros Navais em Sigonella, na Sicília, ou em uma base em Creta, melhoraria significativamente as chances da Sexta Frota de obter o controle marítimo e aéreo dessas áreas vitais. Essa ala aérea estaria então em posição para auxiliar a Sexta Frota em qualquer projeção de poder do Corpo de Fuzileiros Navais em terra no flanco sul da OTAN.

No noroeste do Pacífico, o alerta antecipado de ataques de bombardeiros viria de radares terrestres japoneses, reforçados por aeronaves de alerta antecipado E-2C. A possível interceptação dos voos russos por caças da Força Aérea japonesa ou americana, durante a passagem pelo Japão, ajudaria a reduzir os problemas de defesa aérea da frota nessa área.


A principal defesa contra os bombardeiros navais continua sendo composta pelos aviões de alerta aéreo antecipado E-2D e pelos caças F-18E/F dos EUA, armados com mísseis AIM-9x, AIM-120D e AIM-174B . Os russos, no entanto, possuem uma doutrina nacional de guerra eletrônica integrada e é provável que lancem uma campanha para atingir os principais centros de detecção, comando e controle do grupo de trabalho da US Navy para a defesa da força-tarefa — os E-2D. Eles podem tentar bloquear o radar da aeronave, interferir em seu enlace de dados e canais de comunicação e /ou atacar o próprio E-2D, seja com mísseis ar-ar ou aeronaves de caça de longo alcance. A US Navy e a USAF desenvolvem continuamente programas nessa área, o que minimiza a ameaça de interferência no enlace de dados e nas comunicações . Se houver canais de dados e/ou comunicação não interferíveis disponíveis , o E -2D terá seu próprio grupo de caças F-18 para repelir qualquer tentativa de ataque ao próprio E-2d. Além disso, o rastreamento de mísseis antirradiação de longo alcance pelos sinais de radar do E-2D é um problema difícil, pois o comprimento de onda da antena UHF a torna um alvo difícil para uma arma antirradiação. No entanto, por prudência , o E-2D é equipado com um sistema de autodefesa contra interferência, chaffs e flares.

O F-18, que compõe a defesa da US Navy contra ataques de bombardeiros e mísseis antinavio , também é extremamente adequado para a tarefa. Seu radar de alta potência é capaz de superar a maioria das interferências e detectar alvos com confiabilidade a até 200 km de distância usando radar e IRST. Possui um sistema de disparo automático capaz de lançar simultaneamente múltiplos mísseis.

Com uma aeronave de alerta aéreo antecipado E-2D orbitando a 370 km da força na direção da ameaça e o caça de patrulha aérea de combate F-18 orbitando nas proximidades, qualquer formação de bombardeiros que se aproximasse da força-tarefa seria interceptada pelos mísseis a mais de 500 km da força, muito provavelmente antes do lançamento dos mísseis. O desgaste causado por 10 a 16 F-18 de cada um dos 2 ou 3 porta-aviões operando como um grupo-tarefa seria considerável contra praticamente qualquer força de bombardeiros que os russos pudessem coordenar. Obviamente reconhecendo essa ameaça, a Rússia usaria uma combinação de mísseis hipersônicos avançados, como o 3M22 Zircon, o Kh-47M2 Kinzhal, e potencialmente o míssil balístico intermediário Oreshnik, para um ataque de saturação contra um grupo de porta-aviões da US Navy.

Sem dúvida, alguns bombardeiros russos serão capazes de penetrar a rede de defesa do E-2D/F-18 para alcançar o ponto de lançamento do míssil . No entanto, selecionar seus alvos e fornecer orientação de meio curso aos seus mísseis continuarão sendo problemas, já que seus radares e links de comunicação estarão sujeitos a interferências.

Aeronaves EA-18G Growler e sistemas de contramedidas eletrônicas estão embarcados para enganar os navios. Estudos sobre a eficácia de ataques com mísseis lançados do ar contra navios mostram que a capacidade de selecionar o alvo correto (o porta-aviões) e coordenar os ataques para que um número suficiente de mísseis atinja o alvo simultaneamente, saturando suas defesas de curto alcance, são 2 dos fatores mais importantes para o sucesso de um ataque. Com os EA-18G interferindo nos radares e sistemas de comunicação dos bombardeiros russos e com os F-18 abatendo-os, o alto fator de confusão tornaria um ataque coordenado eficaz extremamente improvável.

Supondo que alguns bombardeiros russos consigam penetrar as defesas externas e lançar seus mísseis, então uma parte importante da defesa recai sobre os mísseis terra-ar de médio e longo alcance do grupo de ataque.

O Aegis, com seu novo radar AN/SPY-1 e mísseis Standard, é um sistema totalmente automatizado, capaz de detectar, identificar, rastrear e engajar múltiplos alvos a longas distâncias. A melhoria mais significativa nas capacidades defensivas dos grupos de porta-aviões foi o advento do F/A-18E/F, que substituiu os aviões de ataque mais antigos a bordo dos porta-aviões. Equipados com o novo míssil ar-ar de médio alcance avançado AIM-120 e AIM-174 que aumentaram consideravelmente as capacidades defensivas de um grupo de porta-aviões.

Em resumo, o porta-aviões e seu grupo de ataque podem ser defendidos com sucesso contra a ameaça de mísseis antinavio russos, desde que a Marinha atribua a prioridade necessária ao equipamento de seus navios com os sistemas requeridos. Mais ênfase deve ser dada à garantia da sobrevivência do porta-aviões em um ambiente de alta ameaça de mísseis. O porta-aviões continua sendo o único sistema de armas que assegura a manutenção da supremacia marítima pelo Ocidente. Sua defesa deve receber uma prioridade proporcional.


terça-feira, 25 de novembro de 2025

Guerra Eletrônica (Parte 4) - O Radar **076


O Radar (Radio Detection And Ranging) é o sensor eletrônico mais confiável e comumente empregado, funcionando independentemente da luz do dia. Ele pode ser instalado em qualquer plataforma e medir com precisão a posição e a velocidade de objetos no ar, mar e terra; não tendo capacidade submarina. São usados em um amplo leque de aplicações e na atividade militar são usados em reconhecimento e alerta inicial, detecção e rastreamento de alvos, orientação e controle de mísseis e interceptadores, detecção de fogo de artilharia a fim de responder em contrabateria, navegação e alerta de colisão, sensoreamento remoto e mapeamento do solo, seguimento do terreno e medição de altitude, além de outras aplicações.

Sua origem é antiga. A formulação matemática fundamental, que possibilitou um estudo aprofundado dos fenômenos de propagação das ondas eletromagnéticas, pode ser encontrada nas Equações de Maxwell, apresentadas em 1871. O ponto de partida é a teoria eletromagnética desenvolvida pelo físico escocês James Clerk Maxwell. Em 1865, Maxwell previu matematicamente a existência de ondas eletromagnéticas que se propagavam à velocidade da luz, unificando os campos da eletricidade, magnetismo e óptica em um conjunto de equações. Os trabalhos de Maxwell foram confirmados experimentalmente por Heinrich Hertz em 1888. Hertz, um físico alemão, demonstrou em laboratório a produção e detecção de ondas de rádio, provando que elas podiam ser refletidas, refratadas e polarizadas da mesma forma que a luz visível, validando assim a teoria de Maxwell e abrindo caminho para inúmeras aplicações tecnológicas. A compreensão das propriedades das ondas eletromagnéticas inspirou inventores a explorar seu potencial para além da comunicação sem fio.

Em 1904, o alemão Christian Hülsmeyer patenteou uma invenção notável denominada "Método para informar ao observador a presença de objetos metálicos com ondas eletromagnéticas". Seu dispositivo, o "Telemobiloscope", foi projetado para detectar a presença de navios no mar, especialmente em condições de pouca visibilidade, como nevoeiro, alertando sobre possíveis colisões. Embora rudimentar e limitado, o trabalho de Hülsmeyer representa a primeira aplicação prática registrada do princípio que viria a ser o radar, utilizando a reflexão das ondas de rádio para um propósito de detecção, e não de comunicação. Mais tarde, em 1922, o inventor italiano Guglielmo Marconi, apresentou um trabalho descrevendo as possibilidades da rádio-detecção usando a reflexão das ondas eletromagnéticas. Marconi notou que as ondas de rádio podiam ser refletidas por objetos metálicos, como navios, e sugeriu que essa propriedade poderia ser usada para localizar embarcações e outros obstáculos, inclusive prevendo a futura aplicação do radar para fins de navegação e segurança.

A década de 1930 é apontada como o catalisador para o impulso nas pesquisas do radar. Em um cenário geopolítico tenso, a necessidade de sistemas eficazes de alerta antecipado tornou-se primordial. A Inglaterra, reconhecendo essa urgência, assumiu a liderança no desenvolvimento dessa tecnologia, superando inclusive os Estados Unidos. Esse pioneirismo resultou na criação de um radar com um alcance de 65 km já em 1936.

O ápice dessa fase de desenvolvimento militar foi a implementação da cadeia de estações-radar na costa leste da Inglaterra em 1938. Esse sistema de defesa integrada foi decisivo para a vitória da RAF na Batalha da Inglaterra, um dos confrontos aéreos mais importantes da guerra. A capacidade de detectar aeronaves inimigas e coordenar a defesa aérea de forma eficiente proporcionou uma vantagem estratégica inestimável, ilustrando perfeitamente a influência da tecnologia na estratégia militar e no desfecho de conflitos.

Um avanço tecnológico fundamental ocorreu em 1940, com a invenção do magnetron de cavidade ressonante na Universidade de Birmingham. Essa válvula revolucionária permitiu a geração de pulsos de radar de alta potência em comprimentos de onda muito menores, cerca de 90 mm. A inovação do magnetron possibilitou a miniaturização dos equipamentos de radar, tornando viável sua instalação em plataformas móveis, como navios e aeronaves, o que ampliou significativamente as capacidades operacionais e táticas das forças aliadas.



O radar funciona através da emissão de radiação eletromagnética de forma direcionada, captando em seguida seu eco e medindo a distância do alvo através do tempo que o sinal leva para ir até o alvo e voltar. A direção é dada pelo azimute da antena, que pode girar em 360º ou em ângulos menores, dependendo do modelo do equipamento e seu emprego dedicado.

As ondas eletromagnéticas viajam pelo espaço e ao encontrar seu(s) alvo(s), seja uma aeronave, um vaso de superfície ou qualquer outro refletor, parte dessa energia é refletida de volta na direção do emissor, na forma de um "eco". A antena, que alterna entre os modos de transmissão e recepção, capta esse eco, na forma de um sinal extremamente fraco. Esse sinal é amplificado, processado e analisado por sistemas eletrônicos dedicados.

No radar de pulso, versão mais comumente usada, um transmissor de alta potência gera um pulso concentrado de micro-ondas, que é direcionado para uma área específica, desliga seu transmissor e fica aguardando o retorno (eco) desse pulso. O pulso seguinte só é enviado assim que tenha decorrido tempo suficiente para que o pulso em trânsito atinja o alcance projetado do radar e retorne. A taxa com que os pulsos são enviados denomina-se Frequência de Repetição de Pulsos (PRF). Quanto maior o alcance do radar menor a sua PRF. Modelos modernos podem se valer de PRFs variáveis, usadas de acordo com o alcance demandado. O Comprimento do Pulso é importante para que o radar possa distinguir entre vários alvos ao mesmo tempo. Se este comprimento é maior que o tempo necessário para que o pulso se desloque de um alvo ao outro, os ecos se sobreporão e o radar não poderá distingui-los. Pulsos curtos são desejáveis para distinguir alvos, mas carregam pouca energia e consequentemente reduzem o alcance. A PRF se constitui na principal “impressão digital” do radar e seu principal parâmetro de identificação.

O radar de onda contínua (CW), ao contrário do radar de pulsos, transmite sem interrupções, porém varia sua frequência para poder determinar os dados do alvo.



Antenas de radar geralmente têm a forma de um refletor sólido ou reticulado iluminado por um alimentador central ou outra fonte de energia. Elas operam segundo o mesmo princípio do holofote, com uma única fonte de energia iluminando o refletor para formar um feixe. A antena de um radar é projetada para produzir um formato de feixe mais adequado à tarefa para a qual o equipamento foi projetado. Um feixe fino e no formato de um lápis é mais adequado ao rastreamento de alvos, enquanto os feixes em forma de leque e semifocalizados são frequentemente empregados em operações de busca. Alterações mecânicas na antena permitem uma avaliação modesta da conformação dos feixes para aplicações múltiplas, mas uma antena convencional é basicamente projetada para gerar um único tipo de feixe preconcebido para adequar-se, em maior ou menor grau, às especificações operacionais que o equipamento está capacitado a cumprir. Além do feixe principal, as antenas também têm feixes secundários menores (conhecidos como lobos laterais), que irradiam em diversos ângulos, a partir do feixe principal ou, mesmo diretamente, para a parte posterior. Os projetistas tentam minimizar o tamanho dos lobos laterais, uma vez que eles são explorados pelos sistemas de EW dos inimigos.



O radar de vigilância é em geral projetado para fornecer informação precisa sobre alcance e posição, enquanto descreve alvos com variados ângulos de elevação e tende a utilizar um feixe no formato de um leque com apenas uns poucos graus de largura, mas com 30° ou mais de altura. Como a amplitude do feixe é inversamente proporcional às dimensões da antena, as antenas empregadas em equipamentos desse tipo tendem a ser largas e relativamente baixas. Radares especializados em calcular altitudes e empregados para medir a altitude de aeronaves em mira, detectadas por equipamento de vigilância, requerem uma precisão de elevação de primeira classe e, portanto, tendem a ser estreitos e muito altos. Radares de rastreamento devem ser precisos em ambos os planos e, portanto, requerem antenas cuja altura e largura sejam similares. A forma de varredura também depende do papel desempenhado. Equipamentos de vigilância tendem a varrer um setor angular ou uma circunferência completa. Quando direcionados na posição de um alvo, os calculadores de altitude apresentam uma forma de varredura semelhante à de um "aceno", característico e exclusivo de radares desse tipo. Quando os radares transportados por caças operam no modo de busca, eles geralmente procuram alvos empregando uma forma de varredura chamada de rastreamento de barra múltipla. Após a localização do alvo, eles, como a maioria dos radares de rastreamento, manterão suas antenas apontadas na direção do alvo com uma visada fixa ou quase fixa.

Embora os princípios básicos tenham permanecido inalterados durante décadas, a eficácia militar do radar aumentou sensivelmente devido ao avanço tecnológico. Os transmissores mais antigos trabalhavam com uma frequência fixa estável, prefixada durante a fabricação ou selecionada no campo, entre diversas opções. Um equipamento assim tão simples era relativamente fácil de monitorar ou interferir. Assim, a agilidade de frequência é uma característica de muitos radares modernos: as frequências operacionais do transmissor e do receptor são rápida e imprevisivelmente mudadas dentro de uma faixa de valores, dificultando a localização de sinais, por receptores de busca, e inutilizando equipamentos de interferência mais simples, projetados para usar uma única frequência prefixada. A agilidade de frequência oferece uma vantagem adicional. Uma aeronave ou um navio podem parecer, a olho nu, de um tamanho praticamente constante, mas para o radar o tamanho aparente deles frequentemente irá variar. Numa frequência qualquer, o tamanho do alvo depende muito de sua altitude, de modo que ele pode variar muito rapidamente à medida que pequenas alterações no seu aspecto causem variações na quantidade de energia refletida. A agilidade de frequência reduz esse problema. Numa dada atitude de um alvo, os pulsos em algumas frequências serão fortemente refletidos, enquanto que outros, em frequências bem menos adequadas ao alvo, serão refletidos mais fracamente. À medida que a frequência do transmissor muda de um pulso a outro, a potência dos sinais recebidos também muda. Integrando-se a amplitude de um grande número de pulsos sucessivos, o radar é capaz de eliminar em muito os efeitos de tais flutuações.



Um problema dos radares com agilidade de frequência era o fato de que o magnetron dos radares tradicionais desde o início da década de 40, tinha que ser otimizado ao ser empregado numa frequência fixa exata ou aproximada. Na pesquisa de maior agilidade, os projetistas voltaram sua atenção para uma fonte alternativa de sinais na forma de um tubo de ondas propagantes (TWT), que é capaz de operar em níveis de alta potência sobre uma largura de faixa que, tipicamente, pode se estender até 10% acima da frequência central. Outra vantagem associada aos tubos de ondas propagantes é sua capacidade de operar com formas de modulação complexas (métodos de se alterar sistematicamente uma forma de onda de acordo com outro sinal). O magnetron era idealmente adequado a aplicações em radares de pulsos, uma vez que seu ciclo de trabalho é tipicamente cerca de 0,1% para 99,9% do tempo de transmissão, não havendo radiação de potência e a saída completa apresentando a forma de uma série de pulsos curtos, mas de alta energia. Esse ciclo muito elevado de ligado/desligado é exatamente o necessário a radares de pulsos simples, mas impede o emprego desses radares em modos de operação mais complexos, necessários a aplicações secundárias, além do aperfeiçoamento de melhor proteção contra interferência. Mais uma vez, o tubo de ondas propagantes revelou-se útil, já que seu ciclo de trabalho atinge uma ordem de grandeza mais alta do que a de um magnetron.

Até a década de 1970, o processamento de sinais nos equipamentos de radar era totalmente analógico. Os alvos e outros dados eram representados por sinais elétricos que podiam ser amplificados, formatados ou processados, conforme a necessidade. A eletrônica analógica é simples e bem conhecida, mas tem a desvantagem de acrescentar ruídos indesejáveis aos sinais empregados, e a adoção de eletrônica mais complexa implica em mais ruído.

As novas gerações de radares, empregam o processamento de sinais digitais, que podem ser catalogados ou processados sem o risco de degeneração. Num sistema digital, os dados são armazenados de forma integra, e são praticamente imunes a ruído ou interferência, não obstante a quantidade de vezes que sejam processados.

Num radar analógico convencional, a interpretação do painel é uma habilidade que os operadores devem dominar, ao aprenderem como se distinguem alvos de ruídos atmosféricos e comuns. Particularmente no caso dos radares que tentavam seguir alvos, voando em baixa altitude, isso sempre foi um problema. A qualidade da imagem apresentada no painel do radar degenera acentuadamente à medida que as reflexões do sinal, no terreno e em obstáculos abaixo do alvo, inundam o radar.

Nos radares digitais, o painel não emprega mais a simbologia de radar analógico (frequentemente referida como dado "bruto"), mas sim, uma simbologia gerada digitalmente. No lugar de manchas disformes de luz, os alvos são apresentados numa forma simbólica, de acordo com a preferência do usuário, alvos "amigos" podem ser círculos, "desconhecidos", quadrados e, "hostis", triângulos; todos devidamente acompanhados de números de busca e dados pertinentes buscados em bibliotecas digitais preexistentes. Os sistemas de estado sólido são uma tecnologia que utilizam semicondutores para gerar e processar sinais, substituindo a tecnologia tradicional de magnetron. Esses sistemas oferecem vantagens como maior durabilidade, menor consumo de energia, maior confiabilidade, imagens mais nítidas e a capacidade de monitorar múltiplos alvos simultaneamente.

Dados digitais podem ser facilmente enviados a longa distância por enlaces de comunicações, ocorrendo, algumas vezes, a introdução de ruídos. Assim, recorre-se às técnicas elaboradas para se identificar e corrigir qualquer truncamento introduzido por má transmissão. Isso facilita o envio de dados em grande escala e possibilita que aeronaves AEW, transmitam informações detalhadas sobre alvos para estações terrestres e a outras aeronaves AEW ou interceptadores. E a informação pode ser analisada, selecionada e redistribuída digitalmente em diversos sistemas sem a intervenção humana.

Uma combinação do processamento de sinais digitais com transmissores de tubos de ondas propagantes possibilitou a criação de radares de pulsos-Doppler, os quais são capazes de operar no modo "de cima para baixo", a partir de interceptadores, estrearem alvos em voo rasante. Pela percepção do deslocamento de frequência no sinal de eco, refletido por um alvo devido ao efeito Doppler, o radar pode agora distinguir entre os sinais de eco refletidos pelo alvo e os sinais de eco, bem mais fortes, provenientes de um terreno ao fundo. Os pulsos de saída individuais da cavidade do magnetron não guardam entre si qualquer relação de fase, mas o TWT possibilitou que sinais de baixa potência, de um oscilador ultraestável, sejam empregados para disparar uma série de pulsos de saída coerentes (isto é, que guardam entre si uma relação de fase), cujo eco poderia ser precisamente comparado para se detectar a diferença de frequência.

As propriedades dos sinais coerente são difíceis de serem descritas em termos simples, mas uma analogia grosseira talvez ajude. Nos primórdios da era do rock, a polícia de uma cidade escocesa decidiu reprimir o comportamento ocasionalmente turbulento de alguns fās. Os policiais, trajando jaquetas longas e calças "bocadesino" e com os cabelos devidamente engordurados, conhecidos como "Teddy Boys", começaram a se misturar aos jovens locais. A tática, porém, foi um fracasso: a cena de alguns altos "Teds" rumo à discoteca local, em passo de marcha, causou riso. Sinais coerentes são tão facilmente detectáveis entre sinais normais como os "Teds" policiais o foram na discoteca. Seu comportamento rigidamente controlado destacou-os.

Um problema no projeto dos radares de pulso-Doppler é que os tubos de ondas propagantes não possuem uma potência de saída semelhante à potência do magnetron, de modo que frequências mais elevadas de repetição de pulsos devem ser empregadas para assegurar-se que o alvo é iluminado com energia suficiente. Os magnetrons operam mais eficazmente em baixas frequências de repetição de pulsos (menos que 5 kHz), embora o TWT possibilite o emprego de frequências médias de repetição de pulsos ou mesmo frequências elevadas. Porém, como as frequências elevadas de repetição de pulsos não dão tempo suficiente para que os pulsos individuais completem a viagem de ida e volta ao alvo, antes que o próximo pulso seja enviado, os pulsos individuais precisam ser modulados em baixa frequência para que o radar possa determinar qual pulso é responsável por qual eco e, assim, calcular a distância do alvo.

Este alcance calculado não é tão preciso como o obtido por radares de baixa frequência de repetição de pulsos de modo que recentemente os projetistas de radares começaram a empregar frequências médias de repetição de pulsos, na faixa entre os 6 e 16 kHz. Uma vez que as frequências de repetição de pulsos, adequadas à obtenção de boas informações sobre o alcance (suficientemente baixas para possibilitar que os pulsos individuais completem a viagem de ida e volta, antes que o próximo pulso seja enviado), talvez não sejam as melhores para se medir a velocidade dos alvos, uma série de frequências de repetição de pulsos na faixa média são frequentemente empregadas em rápidas sequências.

Um outro problema das frequências elevadas de repetição de pulsos ocorre quando o alvo e o radar têm baixa velocidade relativa - uma situação que pode facilmente ocorrer se uma caça estiver se aproximando de seu objetivo por trás. O rastreamento de todos os aspectos e de todas as altitudes de alvos móveis pelo radar de pulsos-Doppler exige uma série de formas de ondas.

Antes do advento do processamento digital, a informação Doppler era derivada de uma série de até 1000 filtros nos circuitos do radar. Estes eram projetados para um determinado conjunto de condições, de modo que a mudança nas frequências de repetições de pulsos não era possível. Frequências adicionais iriam requerer conjuntos de filtros adicionais. Num equipamento moderno, estas operações de filtragem são realizadas por software, e podem ser automaticamente modificadas para combinarem-se com a forma da onda transmitida.



Uma outra característica dos radares mais modernos é o largo emprego de antenas de placas planas. Em vez de empregarem refletores passivos, eles usam sistemas de antenas, compostos a partir de um grande número de elementos denominados deslocadores de fase. Cada deslocador transmite uma minúscula porção do sinal, com um retardo programável produzindo um feixe.

Num radar convencional, a antena deve apontar na direção do alvo. Muitos sistemas de antenas em fase empregam a nova antena plana que substitui a antena convencional, em forma de "prato" ou "casca de laranja" e, portanto, mantém o servossistema ou o mecanismo de varredura tradicionais empregados para orientar as antenas. Para rastrear alvos múltiplos – uma necessidade militar comum - uma a antena deve varrer uma grande porção do céu ou terreno preestabelecido e, assim, elaborar um "arquivo de rastreamento" de alvos a partir dos dados, de posição e de velocidade, obtidos à medida que cada alvo é brevemente iluminado pelo diagrama de varredura.

Ou então, alterando o grau de comutação de fase gerado em cada elemento de um sistema, o projetista do radar pode planejar como o feixe pode ser direcionado ou formatado, de acordo com as necessidades. A antena pode permanecer fixa, enquanto o feixe é varrido para alinhá-lo com o alvo. Ao rastrear alvos múltiplos, a antena é capaz de mudar rapidamente de um alvo para outro em microssegundos, o que possibilita o controle quase que simultâneo de todos os alvos.

Um problema fundamental que persegue tanto projetistas como operadores de radar, sonar ou qualquer tipo de sistema de leitura remota é o "ruído". Ele pode surgir na forma de sinais indesejáveis que chegam ao sistema através de sua entrada normal ou a partir de atividade eletrônica gerada no próprio sistema. A quantidade de ruído gerado no interior do sistema pode ser minimizada por um bom projeto, mas nunca totalmente eliminada.

Os elétrons de um componente eletrônico ou mesmo de um pedaço de fio elétrico movem-se aleatoriamente numa quantidade que depende da temperatura do componente ou do fio. Trata-se de um fato fundamental da física. Desses movimentos resultam correntes elétricas minúsculas e aleatórias que o sistema recebe como sinais de baixa intensidade. Não se trata de um problema teórico, como a operação de alguns eletrodomésticos demonstram. Se um televisor com antena interna é ligado num local de sinal fraco, a imagem será fraca e parcialmente obscurecida (ou inexistente na tv digital) por pontos brancos aleatórios, que se movimentam rapidamente, denominados pelos técnicos de televisão como "chuvisco". O sinal é tão fraco que os componentes eletrônicos do aparelho tentam interpretar o ruído como um sinal autêntico. Como o ruido ocorre aleatoriamente, resultam minúsculas zonas de interferência aleatórias, espalhadas sobre a imagem. O ruído é um fator significativo na guerra eletrônica. Muitos métodos de ataque visam a introduzir ruído no sensor inimigo, enquanto algumas das técnicas empregadas por projetistas de radares e sonares, numa tentativa de reduzir os efeitos do ruído - inclusive o conceito "Range Gate" mencionado anteriormente acarretam uma fraqueza que os planejadores de contramedidas podem explorar com sagacidade na batalha eletrônica.



Um radar phased array é um sistema de radar que usa um conjunto de antenas eletronicamente direcionados para emitir seu feixe sem que seja necessário mover fisicamente a antena. Os sistemas de radar tradicionais normalmente dependem da rotação mecânica de uma única antena ou de um pequeno conjunto de antenas para varrer o espaço aéreo circundante. Em contraste, o radar phased array atinge a direção do feixe ajustando o tempo e a fase dos sinais enviados para cada elemento de antena do array. Essa capacidade de direcionamento eletrônico do feixe permite que este equipamentos varra rapidamente múltiplas direções, rastreie vários alvos simultaneamente e alterne rapidamente entre diferentes tarefas, como vigilância e rastreamento.

Phased array em radar refere-se à técnica de controle da fase das ondas eletromagnéticas emitidas por cada elemento de antena em um array. Ao ajustar com precisão a fase destas ondas, o sistema de radar pode controlar a direção e a forma do feixe de radar produzido pelo conjunto. Este controle eletrônico fornece direção e varredura rápida do feixe, permitindo que o radar rastreie alvos com eficácia e se adapte às mudanças nos requisitos operacionais em tempo real. A tecnologia de matriz progressiva é amplamente utilizada em sistemas de radar modernos para melhorar o desempenho, a agilidade e a confiabilidade em comparação com os radares tradicionais de varredura mecânica.

A tecnologia de arranjo progressivo refere-se a um arranjo de antenas onde as fases relativas dos respectivos sinais que alimentam as antenas variam de modo que o padrão de radiação efetivo do arranjo seja aumentado em uma direção desejada e suprimido em direções indesejáveis. Isso permite que o sistema direcione o feixe eletronicamente sem mover fisicamente as antenas. Ao controlar a fase do sinal de cada elemento da antena, o radar pode obter direcionamento preciso do feixe, varredura rápida do feixe e recursos aprimorados de rastreamento de alvos em comparação com sistemas de radar convencionais.

Os benefícios do radar de matriz progressiva incluem maior agilidade, flexibilidade e velocidade na direção e varredura do feixe. Ao contrário dos radares de varredura mecânica que requerem peças móveis, o radar phased array pode direcionar eletronicamente o feixe do radar em microssegundos, permitindo a varredura rápida do espaço aéreo circundante e o rastreamento de vários alvos simultaneamente. Esta capacidade aumenta a capacidade do radar de detectar e rastrear objetos em movimento rápido, como aeronaves e mísseis, e melhora a consciência situacional em ambientes operacionais dinâmicos. Além disso, o radar de matriz progressiva oferece custos de manutenção reduzidos e maior confiabilidade devido ao seu design de estado sólido e menos peças móveis.

Um exemplo deste tipo de radar é o sistema AN/SPY-1 usado em sistemas de combate AEGIS em navios da US Navy. O AN/SPY-1 é um radar multifuncional que utiliza tecnologia progressiva para fornecer vigilância de longo alcance, rastreamento e capacidades de defesa antimísseis. Consiste em vários conjuntos de elementos de antena dispostos em forma cilíndrica ao redor do mastro do navio. Ao direcionar eletronicamente os feixes de radar emitidos por essas matrizes, o radar AN/SPY-1 pode rastrear simultaneamente centenas de alvos e guiar mísseis para interceptar ameaças que chegam, tornando-o um componente crucial dos modernos sistemas de defesa naval.


domingo, 16 de novembro de 2025

Guerra Eletrônica (Parte 3) Medidas de Apoio Eletrônico (ESM) **037

Guerra Eletrônica parte 2 - O Espectro Eletromagnético

Medidas de Apoio Eletrônico (ESM)

A exploração eletrônica é a primeira forma que qualquer força armada lança mão para obter informações sobre seus inimigos ou potenciais inimigos. Ela é usada tanto em tempos de paz como em situações de crise e conflito. Conhecer seu inimigo é uma das máximas da guerra, e a vigilância e o reconhecimento eletrônico são constantemente usados a fim de atingir este objetivo. Lançar mão destes meios se mostra muito conveniente pois não viola qualquer tipo de regra internacional em tempos de paz e não expõem ao perigo os meios de inteligência em tempos de crise e conflito.

A espionagem eletrônica se encarrega de alimentar bibliotecas com parâmetros de radares e sistemas de armas e de comunicações para que possam ser usadas quando necessário, interceptar mensagens e fornecer subsídios diversos a elaboração da ordem eletrônica de batalha dos inimigo e potenciais inimigos

Ordem Eletrônica de Batalha (EOB): é um conceito militar que se refere ao conhecimento detalhado da organização, localização, capacidade e intenções das forças inimigas, especificamente no que diz respeito ao seu uso do espectro eletromagnético, relacionando seus sistemas eletrônicos, seus localizações, frequências usadas por cada sistema e seus “modus operandi”, e todas as outras informações relacionadas a estes sistemas.

Estas informações permitem realizar interferências eletrônicas, monitorar sinais, determinar a localização físicas dos emissores, e outras ações que permitem aos comandantes localizar o inimigo, acompanha-lo e engajá-lo. 

No campo de batalha moderno, emitir qualquer tipo de radiação eletromagnética fatalmente sensibilizará um sistema passivo de monitoramento do inimigo, que em muitos casos poderá resultar em uma resposta mortal, de forma que todas as emissões devem ser disciplinadas e reduzidas ao mínimo, e efetuadas somente quando autorizadas.

Todos os atores de um teatro de operações devem se limitar a emitir o mínimo indispensável, pois sempre haverá um sensor passivo à espreita. Sensores de radiação eletromagnética podem ser ativos e passivos. O radar é um sensor ativo, que se vale da própria radiação refletida para obter sua informação desejada e um alvo primário dos sensores passivos do inimigo.  Radiocomunicadores também são emissores de radiação e alvo das MAGE (medidas de apoio de guerra eletrônica) e embora não sejam sensores, são faróis acessos na escuridão. A situação tática determinará o nível desta disciplina de emissões, e em situações assimétricas ela pode em muito ser relaxada à medida que um dos lados assume a supremacia das operações. Em tempos de paz emissões alimentam as bibliotecas eletrônica dos inimigos em potencial e em tempo de guerra denunciam seus emissores que viram alvos.

Ao uso de medidas de apoio eletrônico (ESM) chamamos de esclarecimento eletrônico. Os registros assim adquiridos, vindos de diversos sistemas, são sistematizados e mostrados aos comandantes de forma a compor um cenário dos meios inimigos. O grau de eficiência deste esclarecimento é função da área coberta pela unidade de tempo, guardadas as particularidades de cada sistema dedicado. Cabe aos sistemas de comando e controle (C2) relacionar estes dados à situação tática e disseminá-los entre suas forças para ações efetivas.

Devido ao alcance e letalidade dos sistemas de armas modernos, cada vez vale mais a condição de vantagem de quem encontra o inimigo primeiro e realiza um ataque efetivo, enquanto esquiva-se da recíproca. O campo de batalha eletrônico moderno é hoje a chave da vitória.


O Reconhecimento Eletrônico

Primeira forma de emprego da EW, o reconhecimento eletrônico é uma atividade passiva e discreta, exercida principalmente em tempos de paz e visa monitorar toda a atividade eletrônica praticada nas áreas de interesse de uma nação, com vistas a formação de bancos de dados de informações eletrônicas.

Estas informações coletadas a partir dos emissores dos meios aéreos, terrestres e navais de potenciais inimigos, e também, por que não dos meios amigos, são analisadas, avaliadas, e interpretadas, e por fim usadas para alimentar as memórias dos sistemas MAGE e permitir o planejamento tático das ações de EW e de resposta de fogo. Quando em operação, os sistemas eletrônicos inimigos devem ser localizados e identificados, e a partir das informações previamente armazenadas são tomadas as ações adequadas.

Formas de Reconhecimento Eletrônico

  • SIGINT (Signal Inteligence) (Inteligência de sinal) - Consiste na detecção, identificação, classificação e análise de emissões eletrônicas amigas, inimigas, potenciais inimigos e outros. A localização do sinal não é muito importante pois busca-se suas características, e esta pode mudar quando do emprego operacional. Pode ser tática ou estratégica. São realizadas por plataformas aéreas, terrestres, marítimas ou espaciais (satélites). 
  • ELINT (Eletronic Inteligence) (Inteligência eletrônica) - É a forma de SIGINT em que as emissões-alvo não são comunicações eletrônicas nem explosões nucleares, e sim sinais de radares e outros emissores. 
  • COMINT (Comunication Inteligence) (Inteligência de comunicações) - É a forma de SIGINT em que as emissões-alvo são derivadas das comunicações eletrônicas. Pode ser explorada para localizar as forças inimigas ou obter informações relevantes. 
  • TELINT (Telemetry Inteligence) (Inteligência de telemetria) - É a forma de SIGINT que tem a função de coletar dados de voo (telemetria) de aeronaves e foguetes. 
  • RINT – RADINT (Radiation Inteligence) (Inteligência de radiação) - É a forma de SIGINT que se destina a coleta informações derivadas de todos emissores de energia residual (emissões não propositais) e que não seja uma detonação nuclear. Por exemplo, a presença de um transformador de energia emitindo involuntariamente pode denunciar a presença de atividade naquele local.
  • MAGE/MAE/ESM (medidas de apoio eletrônico) - Semelhante a ELINT pois busca a detecção de radares hostis e outros equipamentos. A diferença é que a ELINT concentra-se na pesquisa original ou repetida confirmação dos dados paramétricos, enquanto a MAGE consistem nas ações de busca, interceptação, identificação e localização dos sinais eletrônicos para reconhecimento imediato da ameaça (durante as operações). Apenas para emissores já conhecidos.
  • RWR (Radar Warning Receiver)(Alerta Radar) - É um sistema MAGE especializado a prover alerta contra ameaças imediatas como artilharia antiaérea e mísseis SAM e AIM guiados por radar. Este sistema detecta a radiação que o está "iluminando" e alerta o piloto para tomar medidas evasivas/defensivas.

As atividades de reconhecimento eletrônico envolvem a medição dos parâmetros das transmissões de rádio-frequência dos radares (RF), frequência de repetição de pulso (PFR) e duração de pulso (PD), além da razão e padrão de varredura . A maioria dos radares tem RFs e PRFs de reserva para uso em tempos de guerra e a monitoração frequente irá revelar estes modos. A monitoração COMINT também revelam padrões e devem ser monitoradas constantemente. 


Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica (MAGE/MAE/ESM)

Os sistemas MAGE atuam no sentido de  detectar, interceptar, monitorar, localizar, gravar e registrar, avaliar, identificar e analisar a radiação recebida de forma a identificar sua fonte em proveito das operações ou da segurança própria. Uma emissão radar detectada, pode por exemplo, alertar que um míssil guiado por esta radiação específica está se aproximando.

O alerta antecipado da presença inimiga é sempre uma função dos receptores MAGE, que sempre detectarão a “iluminação” dos radares inimigos antes que as plataformas dotadas desses receptores possam ser vistas pelos radares emissores, pois as ondas radar, para retornarem na forma de "ecos" úteis aos equipamentos radares inimigos, têm que percorrer um caminho de ida e volta. Grandes distâncias atenuam essas ondas que terão potência suficiente para chegar aos receptores MAGE, mas os "ecos" de retorno carregando a informação útil podem se tornar pouco discerníveis pelos emissores. Esta situação em particular é própria à função de Alerta Radar (RWR), por periscópios de submarinos, navios de superfície e aeronaves. Um submarino ou caça pode saber da presença de uma emissão hostil de forma instantânea e evadir-se em tempo hábil. Os parâmetros recebidos podem também ditar as contra-medidas ativas adequadas, se for o caso.

De características discretas, pois tem emissão zero, a monitoração de sinais compreende basicamente a busca, interceptação e goniometria do sinal e da fonte, sua análise e Identificação se valendo de bibliotecas de sinais.

Radiogoniometria (esta técnica será descrita com mais detalhes em artigo próprio)

A radiogoniometria é uma técnica usada para localizar, monitorar e interceptar emissões como comunicações de rádio e outras, utilizando equipamentos para determinar a direção de um sinal de transmissão. É empregada em diversas funções, como navegação, reconhecimento de comunicações e inteligência eletrônica, tanto em ambientes de navegação marítima e aérea quanto em cenários táticos terrestres. Permite identificar a origem de transmissões de rádio, como as feitas por inimigos, ajudando a prever seus movimentos e ações, auxilia na determinação da posição de uma embarcação ou aeronave por meio da identificação da direção de sinais de rádio de auxílio à navegação, como faróis de rádio. É fundamental para coletar informações sobre as comunicações do adversário, auxiliando na tomada de decisões estratégicas e táticas, além de envolver a identificação de diversas comunicações em diferentes frequências.

Utiliza os radiogoniômetros, que são equipamentos que captam os sinais de rádio e determinam a direção de onde eles vêm. Podem ser fixos (em estações costeiras ou aéreas) ou portáteis para uso em campo. Se valem de técnicas de triangulação, que -e a mais comum para determinar a localização dos emissores. Envolve a tomada de direções de um sinal de diferentes pontos de observação para encontrar o ponto exato de origem. Outras técnicas como os métodos de diferença de tempo na chegada (TDOA) e a diferença de potência na chegada (PDOA) também são utilizados para localizar o transmissor. Em equipamentos portáteis, é comum a integração com uma bússola para facilitar a leitura da direção do sinal, mesmo com o movimento da embarcação ou aeronave.    



Guerra Eletrônica (Parte 4) - O Radar

domingo, 9 de novembro de 2025

Mergulhadores de Combate **038


Durante a “War of Attrition” (Guerra de Atrito contra o Egito) em 1969, mergulhadores israelenses desembarcaram incógnitos em uma ilha ocupada por forças egípcias no Canal de Suez. A sua frente barreiras de arame farpado reforçando um muro de concreto defendiam seu alvo: uma unidade radar. Despindo-se de seus equipamentos de mergulho e conferindo a operacionalidade de suas armas, cortaram o arame e escalaram o muro, abrindo fogo contra sentinelas que estavam poucos metros acima. Mais à frente neutralizaram o restante da guarnição com fogo pesado de armas automáticas e granadas de mão, assegurando as condições para destruição do radar-alvo com a instalação de cargas explosivas.

Vindos de uma embarcação próxima e discreta, normalmente um submarino, este exemplo mostra a perigosa atividade do mergulho de combate. Além de incursões como a descrita acima do tipo “Comando”, os mergulhadores de combate (MC) realizam reconhecimento, inspecionam praias de desembarque e removem e desativam minas, entre outras funções afins e que exigem treinamento apurado e habilidades superiores de combate, sua função é a de se infiltrar, sem serem percebidos, em áreas litorâneas e ribeirinhas, e executar tarefas de alta complexidade de valor estratégico. Devido às suas características, estas tropas de pequeno efetivo sempre procuram atuar de forma discreta, engajando com o inimigo de forma ostensiva apenas em situações inevitáveis.

São soldados integrantes das forças especiais por definição, geralmente vinculados a suas respectivas marinhas de guerra e com doutrina semelhante às outras forças especiais, porém voltados a uma atuação a partir do mar. Também são especialistas em guerra irregular (guerrilha) o que também caracteriza a sua doutrina das forças especiais. Atuam principalmente, como dito, a partir de submarinos que os levam até suas áreas de atuação e depois os recolhem. Podem sair nadando, em caiaques, barcos ou em veículos especialmente construídos como minisubmersíveis, que podem ser lançados ainda sob a água. Também podem alcançar o alvo através de infiltração aeroterrestre ou desembarcando de helicópteros.

Possibilidades de Atuação dos Mergulhadores de Combate:

  • Limpeza de Portos e Canais de acesso, minas e destroços; 
  • Detecção e desativação de engenhos explosivos convencionais e improvisados; 
  • Ataques de sabotagem, Interdição e diversionários contra navios (com minas imantadas, de retardo, que são presas aos cascos), instalações portuárias, diques, defesas costeiras, plataformas petrolíferas, refinarias e terminais de petróleo, reconhecimento e vigilância de praias, rios, canais e portos; 
  • Apoio a operações de guerra anfíbia. As complexas operações anfíbias têm, nos MECs, elementos virtualmente indispensáveis. Cabe a eles obter informações vitais ao desembarque como o gradiente (inclinação) da praia escolhida, dados sobre o tipo de solo (areia, pedra, lama, etc.) obstáculos naturais e artificiais, minas e a existência de" edificações e habitantes da área. Igualmente importante será a avaliação das forças de oposição, o que deve ser feito sem contato com o inimigo, se possível;
  • Apoio a operações C-SAR;
  • Recuperação pessoal aliado;
  • Seqüestro de pessoal selecionado; 
  • Buscas Subaquáticas; 
  • Patrulhas de segurança e contraterrorismo. 


Origens Históricas

A atividade de mergulhador de combate, embora possua raízes antigas, foi impulsionada e moldada para sua forma moderna principalmente por forças navais durante os conflitos do século XX, especialmente a Segunda Guerra Mundial.

As origens do mergulho com propósitos militares podem ser traçadas até a Grécia Antiga, onde já havia relatos do uso de mergulhadores para reconhecimento, recuperação de objetos e, em apoio a operações militares, como a destruição de embarcações inimigas ou barreiras portuárias. No entanto, essas atividades eram rudimentares, dependendo da capacidade de prender a respiração ou de equipamentos de respiração muito básicos.

O verdadeiro nascimento da atividade de mergulhador de combate como uma força de operações especiais organizada e equipada ocorreu no século XX, com o desenvolvimento de equipamentos de mergulho autônomo (SCUBA) e táticas especializadas. As principais forças que deram este impulso foram a Regia Marina Italiana, considerada a pioneira no desenvolvimento das táticas modernas de mergulho de combate. Durante a Segunda Guerra Mundial, a unidade conhecida como "Decima Flottiglia MAS" utilizou com grande eficácia mergulhadores e torpedos tripulados ("maiali") para afundar navios de guerra britânicos em portos do Mediterrâneo, demonstrando o potencial estratégico dessa força; e a Royal Navy, que em resposta às ameaças italianas e à necessidade de suas próprias capacidades de operações especiais, desenvolveram unidades como o "Special Boat Service" (SBS) e equipes de demolição subaquática. Outra força a ser mencionada é U.S. Navy com o desenvolvimento e padronização do treinamento de mergulhadores de combate, inicialmente com as equipes de "Underwater Demolition Team" (UDT), que mais tarde evoluíram para os modernos "Navy SEALs". O intercâmbio de experiências com as forças aliadas e o desenvolvimento de doutrinas de combate foram fundamentais para a consolidação da atividade nos EUA. Essas forças, através da necessidade imposta pela guerra e dos avanços tecnológicos em equipamentos de mergulho, transformaram o mergulho de combate em uma capacidade militar essencial, focada em infiltração discreta, reconhecimento e sabotagem em ambientes aquáticos e litorâneos, inspirando a criação de forças deste tipo em diversas marinhas de todo o mundo.

Perfil Operacional das Forças de Mergulhadores de Combate

As principais missões das forças de operações especiais são a ação direta contra forças e alvos militares convencionais; a guerra não convencional em apoio a objetivos militares estratégicos mais amplos; o reconhecimento especial contra alvos táticos, tanto estratégicos quanto de campo de batalha; e outras operações conforme necessário para apoiar operações e objetivos militares convencionais.

Uma das missões da equipe SEAL da US Navy que se enquadra perfeitamente na categoria de ação direta, são as operações com mergulhadores de combate. Embora essas operações sejam praticamente desconhecidas na era das operações antiterroristas, sem dúvida teriam algum impacto em uma futura guerra contra um adversário militar com uma marinha capaz. Não há ativos navais da Al-Qaeda para alvejar e destruir, nem portos do Estado Islâmico para infiltrar e sabotar, mas certamente existem muitos alvos navais tanto na China quanto na Rússia.

Em uma guerra contra a China, por exemplo, os Estados Unidos enfrentariam milhares de quilômetros de litoral chinês. Os portos, bases navais e ancoradouros situados ao longo dessa costa seriam alvos fáceis para as forças de mergulhadores de combate. O mesmo se aplica à Rússia.

O Objetivo das Operações de Mergulhadores de Combate

O objetivo de uma operação de mergulhadores de combate é atacar um alvo naval inimigo, geralmente situado em um porto ou próximo à costa. Esses alvos podem incluir submarinos, navios de guerra, embarcações de apoio naval ou mesmo infraestrutura marítima, como portos, docas ou outras estruturas fixas ao longo da costa que dão suporte às operações navais ou ao comércio marítimo do inimigo. Por outro lado, um navio inimigo no mar seria um alvo para a marinha em geral atacar com recursos de superfície, aéreos ou submarinos, e não tanto para uma equipe de forças especiais.

O que é necessário para que isso aconteça?

Uma operação de mergulhadores de combate é semelhante a qualquer outra missão das Forças de Operações Especiais no que diz respeito ao processo de planejamento. Uma ordem operacional é emitida pelo comando superior, designando um elemento operativo em teatro de operações para atacar um alvo, digamos, um porta-aviões chinês atracado. Se for um alvo marítimo, como descrito acima, a missão quase certamente será atribuída a uma unidade SEAL da US Navy ou ao SBS da Royal Navy.

O elemento operativo planejaria a missão da mesma forma que planeja todas as missões; o principal fator de diferenciação seria a complexidade adicional de uma infiltração subaquática, ou uma que seja uma combinação de infiltração aérea, de superfície e subaquática.

Usando o exemplo do porta-aviões, um mergulho de combate pode decidir se infiltrar a partir de um helicóptero ou submarino localizado em alto-mar. Em seguida, usariam pequenas embarcações de combate infláveis ​​para se infiltrar ainda mais perto da costa. A embarcação de ataque deixaria duplas de mergulhadores de combate para a infiltração subaquática final até o alvo. Eles também podem se infiltrar com a ajuda de tripulantes de embarcações de combate de guerra especial ou mesmo convencionais.

O ataque propriamente dito poderia ocorrer através da colocação de minas magnéticas no casco do navio de guerra atracado, onde as duplas de mergulhadores posicionariam os explosivos e nunca emergiriam. O ataque também poderia envolver os mergulhadores de combate emergindo e colocando explosivos em um alvo próximo à água.

Se o ataque em si fosse um assalto ou incursão envolvendo armas leves e a perseguição de um alvo acima da superfície da água, a equipe de MC poderia perseguir o alvo e retornar à água para a exfiltração, ou poderia ser extraída por algum método direto alternativo, como um helicóptero. No entanto, missões que ocorrem acima da superfície da água são mais apropriadamente descritas como uma infiltração "sobre a praia" e uma incursão de ação direta do que uma verdadeira operação de mergulhadores de combate. Uma operação de mergulhadores de combate geralmente significa que o alvo está na água e o elemento atacante não sai da água, nem mesmo emerge de baixo.

Quando o alvo é destruído, sabotado ou incapacitado de alguma forma, os mergulhadores de combate geralmente já estarão em plena retirada da área-alvo, pois não gostariam de estar perto de um navio de guerra explodindo, por exemplo. Os MC podem então retirar-se da área-alvo exatamente da maneira inversa à infiltração, ou usar recursos diferentes, dependendo da missão e dos recursos disponíveis.

Os Riscos das Operações com Mergulhadores de Combate

As operações de mergulhadores de combate apresentam os mesmos riscos que qualquer outra missão das Forças de Operações Especiais. Esses riscos podem incluir navegação malsucedida até o alvo, falha de equipamento, interrupções de comunicações, contato com o inimigo durante a infiltração ou no alvo, falha em atingir o alvo com sucesso e muitas outras contingências.

Mas existem riscos adicionais associados à parte subaquática da operação: as duplas de mergulhadores podem se perder e ficar sem ar durante a navegação até o alvo; podem sofrer falhas de equipamento debaixo d'água; podem não conseguir colocar os explosivos no alvo correto (navios parecem muito semelhantes quando vistos debaixo d'água); ou podem ser descobertos no alvo enquanto colocam os explosivos. Todos esses riscos tornam as operações de mergulhadores de combate extremamente complexas e perigosas, razão pela qual exigem centenas de horas de treinamento e preparação antes mesmo de uma unidade chegar ao teatro de operações.

As operações de mergulhadores de combate são uma capacidade que a maioria dos comandantes provavelmente valorizam muito em seus arsenais táticos e estratégicos. No entanto, nas forças armadas americanas de hoje, a maioria provavelmente tem experiência ou conhecimento limitado da execução dessas operações ou das capacidades reais dos elementos SEAL que as realizam.

Assim como os comandantes de operações especiais tiveram que se adaptar rapidamente a um novo ambiente operacional durante a Guerra Global contra o Terrorismo, os comandantes de forças convencionais que enfrentarem guerras contra adversários de mesmo nível no futuro precisarão descobrir rapidamente a melhor maneira de utilizar seus recursos de operações especiais. Essa é a forma como as guerras geralmente são travadas, e as nações capazes de se adaptar mais rapidamente costumam ser proclamadas vencedoras.


Veículos de Propulsão para Mergulhadores de Combate

Os Veículos de Propulsão para Mergulhadores são dispositivos movido à bateria que podem transportar 1 ou 2 mergulhadores e seus equipamentos debaixo d'água ou ao longo de sua superfície.

São utilizados como plataformas de inserção clandestina por mergulhadores de combate de diversas marinhas como os Seal da US Navy. Estes dispositivos permitem que os mergulhadores de combate se desloquem consideravelmente mais longe debaixo d'água e emerjam menos fatigados do que quando se movem por conta própria.

O principal veículo de propulsão para mergulhadores (DPV) militar é o Stidd DPD (Dispositivo de Propulsão para Mergulhadores), fabricado nos EUA, com mais de 400 unidades vendidas em todo o mundo. Ele se destaca por sua robustez e confiabilidade, gozando de boa reputação entre as Forças Especiais, e não se compara aos brinquedos sofisticados disponíveis no mercado civil. Os DPDs são maiores e mais robustos do que os veículos de propulsão para mergulhadores usados ​​por mergulhadores recreativos e técnicos.

Os DPDs (dispositivos de proteção contra intempéries) utilizados pelas unidades militares dos EUA são fabricados pela STIDD Systems Inc. Os dispositivos possuem cascos anodizados de alta resistência, feitos de alumínio naval soldado. A flutuabilidade é garantida por um núcleo composto de PVC de células fechadas. A parte frontal do DPD apresenta uma placa frontal transparente de policarbonato.

Os DPDs podem operar até 35 m abaixo da superfície e têm um alcance de até 12 km. A velocidade média é de 2,5 km/h.

O modelo padrão e mais comum utiliza um único propulsor eletrônico direcionável e silencioso, alimentado por uma bateria de íon-lítio. Uma versão de longo alcance possui uma segunda bateria, enquanto um terceiro modelo, mais rápido, ostenta dois propulsores independentes, cada um alimentado por uma bateria.

A profundidade e o rumo do DPD são controlados por um manche operado com uma só mão. A estação de pilotagem dos DPDs abriga uma bússola magnética e um medidor de profundidade. Um painel de navegação opcional apresenta um mapa móvel juntamente com dados de um sonar de varredura do fundo.



Com 2,23 metros de comprimento e um peso de apenas 79 kg (175 libras) no ar, o DPD pode ser facilmente lançado de diversas plataformas. Ele pode ser transportado até a praia e de volta por seus operadores, e lançado na água por paraquedas.

Especificações:
Comprimento: 2,23 m estendido, 1,3 m recolhido;
Largura: 0,61 m;
Peso: 72 kg com 1 bateria;
Velocidade: 4,8 km/h máx. com 2 mergulhadores;
Autonomia: 19 km;
Profundidade: 80 m;
Carga: 46 kg mais compartimento de carga rebocado de 154 kg


Equipamento de Mergulho em Circuito Fechado

Os mergulhadores de combate usam  respiradores de circuito fechado a fim de permitir operações silenciosas e sem bolhas e tempos de mergulho estendidos. Esses sistemas funcionam reciclando a respiração exalada de um mergulhador, reciclando o dióxido de carbono para reinalação. Os principais recursos incluem baixas assinaturas acústicas, materiais não magnéticos, controle eletrônico e sistemas de comunicação integrados, juntamente com máscaras especializadas e computadores de mergulho.

Principais Componentes e Recursos

Os respiradores de circuito fechado (CCRs) usam o CO2 produzido na respiração subaquática para reciclagem, contado com absorventes químicos, como Sofnolime, para remover o dióxido de carbono do ar exalado. Contam com Sensores de oxigênio que monitoram a pressão parcial do oxigênio injetando oxigênio automaticamente para manter um ponto de ajuste, fornecendo avisos aos mergulhadores sobre níveis perigosos de oxigênio altos ou baixos. O sistema adiciona oxigênio ao circuito para manter uma mistura de gases respirável, permitindo tempos de mergulho prolongados e consumo de gás reduzido em comparação com sistemas de circuito aberto.

O design de circuito fechado elimina as bolhas altas associadas ao mergulho tradicional, tornando os mergulhos mais furtivos. Muitos deste respiradores de nível militar são construídos com materiais não magnéticos para operações em ambientes sensíveis. As máscaras faciais completas fornecem um excelente campo de visão e podem ser configuradas para sistemas respiratórios e de comunicação.

Computadores de mergulho de nível militar são necessários para monitorar o desempenho do respirador, gerenciar misturas de gases e permitir uma transição segura para o resgate de circuito aberto  em caso de falha do sistema. Os mergulhadores de combate também podem usar arneses especializados, que podem ser montados na parte traseira para manter a frente do mergulhador livre, bem como sistemas de peso integrados e nadadeiras de mergulho.

Uma opção menos complexa, os SCRs (respiradores semi-fechados) também são usados por mergulhadores militares. Eles são mais simples de operar e podem ser um trampolim para sistemas de circuito fechado. 

Entre as vantagens para o mergulho de combate temos que a operação silenciosa e sem bolhas é fundamental para operações secretas, o uso eficiente do gás permite missões mais longas do que os sistemas de circuito aberto permitiriam. A Flexibilidade operacional os torna adequados para uma ampla gama de operações, desde trabalhos em águas rasas até desminagens mais profundas, dependendo do dispositivo específico. O  monitoramento eletrônico fornece avisos para condições perigosas e a capacidade de alternar para o modo de circuito aberto, garante a segurança em caso de mau funcionamento. Alguns destes respiradores fornecem um fluxo constante de gás umidificado, o que é mais confortável para o mergulhador. 

Algumas Forças de Mergulhadores de Combate


Special Boat Service (SBS)

O Special Boat Service é a unidade de forças especiais de elite da Royal Navy. Esta unidade de "Nível 1" é responsável principalmente pelo contraterrorismo marítimo e por apoio à guerra anfíbia. Grande parte das informações sobre o SBS são altamente confidenciais, e a unidade não recebe comentários do governo britânico nem do Ministério da Defesa (MoD) devido ao sigilo e à sensibilidade de suas operações.

O SBS faz parte das Forças Especiais do Reino Unido (UKSF). É também considerado a unidade irmã do Serviço Aéreo Especial (SAS) do British Army. O SAS especializa-se em contraterrorismo, resgate de reféns, ação direta e proteção pessoal, entre outras áreas. Ambas as unidades recebem apoio direto do Regimento de Reconhecimento Especial (SRR) para fins de vigilância e reconhecimento. Essas unidades estão sob o comando operacional do Diretor das Forças Especiais (DSF).

Origens

Quase todas as Forças Especiais do Reino Unido de hoje têm suas origens nas unidades de comandos criadas durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, a Grã-Bretanha criou diversas unidades especiais que realizaram uma variedade de operações ousadas contra as Potências do Eixo. O SBS remonta a várias dessas unidades. Elas realizaram incursões, sabotagens e reconhecimento a partir de pequenas embarcações, canoas e submarinos durante a Segunda Guerra Mundial.

Essas unidades foram muito ativas na Grécia. Além da Seção Especial de Barcos dos Comandos do Exército, o Reino Unido possuía outras unidades marítimas. Algumas delas eram o Destacamento de Patrulha de Represas dos Fuzileiros Navais Reais (RMBPD), formado em 1942, e as Equipes Combinadas de Pilotagem de Operações. Após a guerra, em 1945, o Ministério da Guerra dissolveu a maioria delas, concluindo que não eram mais necessárias.

Suas diversas funções, juntamente com grande parte de seu pessoal, foram absorvidas pela Seção Combinada de Operações de Praia e Barcos (COBBS) dos Fuzileiros Navais Reais (Royal Marines), criada em 1947. Essa unidade foi inicialmente comandada pelo Major Herbert “Blondie” Hasler. No ano seguinte, a COBBS formou uma nova Seção Especial de Barcos. Em 1951, o nome foi alterado para Companhia Especial de Barcos.

Operações do SBS

As primeiras missões do SBS ocorreram na Palestina e envolveram a remoção de minas de artilharia e minas magnéticas de navios em Haifa. O SBS também participou da Guerra da Coréia. Seus membros foram mobilizados em operações ao longo da costa norte-coreana, bem como em operações atrás das linhas inimigas, destruindo linhas de comunicação e instalações, além de coletar informações. Durante a Guerra da Coreia, o SBS operou a partir de submarinos, assim como seus antecessores em tempos de guerra.

Em 1952, equipes do SBS estavam de prontidão para combate no Egito, caso a revolução de Gamal Abdel Nasser se tornasse mais violenta. O Ministério da Defesa também preparou o SBS durante a crise de Suez em 1956 e o ​​golpe contra o rei Idris I da Líbia em 1959, mas em ambos os casos, as equipes não entraram em ação. Em 1961, equipes do SBS realizaram missões de reconhecimento durante o Conflito Indonésio (Operação Claret). Nesse mesmo ano, o Iraque ameaçou invadir o Kuwait pela primeira vez, e o SBS posicionou um destacamento no Bahrein.

Em 1972, o SBS ganhou destaque quando uma equipe de quatro especialistas em desativação de explosivos saltou de paraquedas no Atlântico para abordar o navio de passageiros "Queen Elizabeth II" após uma ameaça de bomba. Depois de inspecionar o navio, a equipe não encontrou nenhuma bomba e o FBI prendeu o autor da farsa. O SBS também realizou operações na Irlanda do Norte durante o período conhecido como "The Troubles" (Os Conflitos), inclusive com submarinos. Em janeiro de 1975, duas equipes de caiaque do SBS, a bordo do HMS Cachalot, realizaram uma operação contra o tráfico de armas na área entre Torr Head e Garron. Em 1973, a Seção Especial de Barcos foi renomeada para Esquadrão Especial de Barcos. 

SBS na Guerra das Falklands/Malvinas

Em 1982, após a invasão argentina, o SBS foi enviado para a Geórgia do Sul. Lá, os operadores do SBS se dedicaram principalmente a localizar e eliminar as forças argentinas quando possível, além de direcionar o fogo de artilharia. 

Em 22 de abril de 1982, a situação das tropas britânicas na geleira Fortuna, na Geórgia do Sul, estava se tornando cada vez mais perigosa devido às condições climáticas. A Aviação Naval enviou 3 helicópteros para resgatar a equipe: 2 helicópteros Westland Wessex HU 5 do 845º Esquadrão Aéreo Naval e um Westland Wessex HAS 3 do 737º Esquadrão Aéreo Naval. As condições adversas causaram a queda de 2 dos 3 helicópteros. Todos os ocupantes sobreviveram, embora alguns tenham ficado feridos, e foram posteriormente resgatados com sucesso. Em 9 de maio de 1982, 2 equipes do SBS invadiram um navio espião argentino, o ARA Narwal, que vinha monitorando a frota britânica. Em 21 de maio, uma força do 25º SBS eliminou com sucesso uma posição argentina no topo de Fanning Head, que representava uma ameaça significativa ao desembarque britânico.

O SBS no Oriente Médio

Na Guerra do Golfo (1990-91), o SBS não desempenhou um papel anfíbio. No entanto, o Ministério da Defesa britânico estabeleceu uma "linha de operações" no centro do Iraque. O SAS operava a oeste e o SBS a leste. Além de procurar lançadores móveis de mísseis Scud, o SBS era responsável por uma área com cabos de fibra óptica que forneciam informações de inteligência ao Iraque. Vários anos depois, em setembro de 2000, o SBS e o SAS participaram da Operação Barras, em Serra Leoa. Lá, resgataram 5 soldados britânicos capturados.

Em novembro de 2001, os Esquadrões C e M do SBS desempenharam um papel fundamental na invasão do Afeganistão no início da guerra. Eles faziam parte da Força-Tarefa Conjunta de Operações Especiais Combinadas (CJSOTF) durante a Operação Liberdade Duradoura. Em particular, membros do Esquadrão M, juntamente com outros operadores, participaram da batalha de Tora Bora. O SBS integrou-se diretamente à Força-Tarefa Sword (posteriormente Força-Tarefa 11), uma unidade secreta, sob o comando direto do JSOC. Essa unidade era uma força de "caça e eliminação" dedicada a capturar ou matar líderes importantes e alvos de alto valor dentro da Al-Qaeda e do Talibã.

Na invasão do Iraque em 2003, o Esquadrão M foi destacado para a Jordânia como Força-Tarefa 7, parte da CJSOTF-Oeste. Sua missão era realizar ataques aerotransportados contra diversas instalações petrolíferas iraquianas equipadas com pistas de pouso no deserto. Uma vez capturadas, essas instalações eram utilizadas como áreas de concentração para as Forças de Operações Especiais. Em 2005, a DSF reequilibrou o destacamento das forças especiais britânicas, com o Afeganistão sob a responsabilidade do SBS e o Iraque sob a do 22º SAS.

O SBS no século XXI

Em 27 de fevereiro de 2011, durante a Primeira Guerra Civil Líbia, a BBC noticiou que o Esquadrão C auxiliou na evacuação de 150 trabalhadores do setor petrolífero em 3 voos de aeronaves C-130 Hercules da RAF, de um aeródromo perto de Zella para Valletta, em Malta. 

Em 2012, uma pequena equipe do SBS tentou resgatar 2 reféns do Boko Haram na Nigéria. A missão, conhecida como a tentativa de resgate de reféns em Sokoto, não teve sucesso, pois os sequestradores mataram os 2 reféns antes ou durante a operação.

Em 21 de dezembro de 2018, a equipe do SBS resolveu uma situação ao invadir o navio porta-contentores Grande Tema. 4 clandestinos sequestraram a embarcação exigindo entrada no Reino Unido. Em 25 de outubro de 2020, a equipe do SBS invadiu o navio-tanque Nave Andromeda, a sudeste da Ilha de Wight. Eles suspeitavam que 7clandestinos nigerianos, em busca de asilo na Grã-Bretanha, haviam sequestrado a embarcação. O SBS acabou entregando-os às autoridades locais.

Objetivo do SBS

O SBS, juntamente com os outros regimentos das Forças Especiais Britânicas, foi concebido para auxiliar tanto em guerras prolongadas quanto em guerras assimétricas. Isso responde à necessidade de forças especiais compostas por unidades pequenas, bem treinadas e com amplo apoio, operando em campos de batalha onde as linhas de combate são mal definidas e os inimigos se misturam às forças aliadas. Essas forças especiais atuam como "multiplicadores de força", ou seja, pequenas equipes de operadores que alcançam resultados comparáveis ​​aos de forças maiores.

Os operadores do SBS são mergulhadores experientes. Desde a sua formação durante a Segunda Guerra Mundial, a unidade utiliza a água como meio para movimentações e ataques clandestinos. Hoje, grande parte da função de vigilância e reconhecimento cabe ao SRR, uma unidade formada, organizada e equipada para realizar essa atividade. Isso liberou o 22º SAS, o SBS e o Grupo de Apoio para se concentrarem em ações ofensivas, além de influência e apoio. 

Para além destas tarefas tradicionais, o papel das forças especiais britânicas centra-se hoje na luta global contra o terrorismo. O SBS, juntamente com as outras forças especiais do Reino Unido, está, portanto, preparado para combates irregulares e assimétricos.

Doutrina SBS

A missão do SBS é bastante multifacetada, pois seus operadores são altamente qualificados em disciplinas especializadas para realizar diferentes tipos de missões muito exigentes. Suas competências estão principalmente voltadas para o combate ao terrorismo marítimo (CTM), resgate de reféns e incursões secretas.

O SBS também é treinado em guerra anfíbia, demolições subaquáticas, vigilância e reconhecimento, bem como coleta de informações. Para estas últimas tarefas, o SBS recebe apoio de outras unidades de elite das Forças Especiais do Reino Unido, como o SRR e o SFSG. Além disso, os operadores do SBS são especialmente treinados para realizar sabotagens e ações ofensivas contra alvos de alto valor.

O SBS também é responsável por operações de apoio quando necessário, incluindo o direcionamento de ataques aéreos, artilharia e fogo naval, bem como munições guiadas de precisão. Esta unidade altamente especializada e secreta é reconhecida por realizar algumas das missões mais perigosas e desafiadoras do mundo.

Mergulhadores de Combate Ucranianos em Ação

Após a invasão ilegal e anexação de território da Crimeia em 2014, forças militares da OTAN e de alguns países não pertencentes à OTAN estiveram envolvidas no treinamento das forças armadas ucranianas, incluindo os mergulhadores de combate do 73º Centro de Operações Especiais Marítimas. Após a invasão em larga escala da Ucrânia em 2022, o treinamento e o fornecimento de equipamentos continuaram, com suas forças especiais envolvidas em diversas operações, cujos detalhes permanecem em grande parte secretos. No entanto, os ucranianos ocasionalmente nos permitem vislumbrar operações que envolveram seus mergulhadores de combate, incluindo o ataque para retomar a ilha ucraniana de Zmiinyi, localizada ao sul de Odessa e próxima à fronteira da Ucrânia continental com a Romênia. A ilha é fundamental para as rotas marítimas de navios mercantes que transportam cargas de e para a região de Odessa.

Em 24 de fevereiro de 2022, navios de guerra russos aproximaram-se da Ilha Zmiinyi (também conhecida popularmente como Ilha da Serpente) e exigiram a rendição dos ucranianos do destacamento de fronteira ali estacionado. Apesar de estarem em desvantagem numérica e de armamento, os guardas de fronteira responderam com palavras nada amigáveis, ordenando que os russos se retirassem. Os russos decidiram não obedecer e, após um breve bombardeio, desembarcaram suas tropas e tomaram a ilha, capturando os defensores, que foram libertados pouco depois em uma troca de prisioneiros.

Os ucranianos não estavam dispostos a desistir da ilha, então, quando surgiu a oportunidade, bombardearam-na a tal ponto que, em 30 de junho, os russos se retiraram, embora tenham classificado a retirada como um gesto de "boa vontade". O que os planejadores militares ucranianos não conseguiram determinar foi se todos os russos haviam partido ou se alguns permaneceram para aguardar o retorno dos ucranianos e emboscá-los.

Na noite de 7 de julho de 2022, mergulhadores de combate do 73º Centro de Operações Especiais Marítimas das Forças de Operações Especiais (Ucrânia) aproximaram-se da Ilha de Zmiinyi de forma secreta, utilizando veículos subaquáticos para o transporte dos mergulhadores. Os veículos específicos não foram divulgados, mas podem ser quaisquer embarcações de propulsão para mergulhadores ou veículos de transporte de mergulhadores em serviço em todo o mundo. Como a unidade foi treinada pelas forças especiais americanas e britânicas, é provável que tenham recebido embarcações utilizadas por essas forças. De fato, houve inúmeros relatos na mídia de que o Serviço Secreto Britânico (SBS) viajou para a Ucrânia para auxiliar no treinamento dos mergulhadores de combate do 73º Centro de Operações Especiais Navais ucraniano no uso de Dispositivos de Propulsão para Mergulhadores. Oficialmente, o Ministério da Defesa não comenta publicamente tais atividades. Esses veículos são abertos para o mar, permitindo que os mergulhadores utilizem seus equipamentos de mergulho de combate submersos.

Certamente, presume-se geralmente que os ucranianos não tinham acesso a um submarino, portanto a operação teria sido realizada a partir de embarcações de superfície que transportariam os mergulhadores até uma distância operacional da zona de desembarque em terra. Em seguida, sob a cobertura da escuridão, os mergulhadores teriam usado botes infláveis ​​para se aproximarem da costa antes de entrarem na água com seus veículos de propulsão para a etapa final da aproximação. Ao chegarem à ilha, estariam preparados para quaisquer defensores que pudessem ter ficado para trás e, não querendo um confronto em grande escala, teriam feito uma transição cautelosa da água para a terra. Com a zona de desembarque imediata segura, teriam inspecionado a costa em busca de minas antidesembarque ou outras obstruções e marcado quaisquer que fossem neutralizadas. No mar, as tropas de apoio estariam prontas e, uma vez confirmada a segurança da zona de desembarque, os mergulhadores sinalizariam para a força principal de desembarque que poderiam prosseguir.

A força principal teria desembarcado e se movimentado taticamente para verificar a área em busca de defensores e recolher quaisquer itens de equipamento militar, incluindo armas, dispositivos de comunicação e documentos que tivessem sido deixados para trás quando a força de ocupação russa fugiu. Para marcar presença, as tropas hastearam bandeiras ucranianas em diferentes pontos da ilha e a bandeira do 73º Centro Naval de Operações Especiais da Marinha Ucraniana também foi hasteada em Zmiinyi. No entanto, o ataque foi planejado para ser de curta duração e, como navios de guerra russos foram avistados navegando em direção à ilha e tendo concluído suas tarefas, a força invasora se retirou da ilha para evitar o ataque de mísseis e artilharia lançado pelos navios de guerra russos. A força retornou à sua base sem baixas.

Kinburn Spit

Enquanto as forças militares russas fugiam para o outro lado do rio Dniepre, as forças ucranianas se consolidaram antes de lançar uma operação para expulsar as tropas russas de uma península estratégica na costa do Mar Negro. Um ataque de comandos à Península de Kinburn, uma faixa de terra que se projeta para o mar ao sul de Mykolaiv e que estava ocupada pelas forças russas, ocorreu em 23 de novembro de 2022. A Península de Kinburn, com aproximadamente 5 km de extensão, está localizada na ponta oeste da península, na foz do rio Dniepre no Mar Negro. Uma operação bem-sucedida interromperia o bombardeio de Odessa, reabriria o porto de Mykolaiv para a exportação de grãos e permitiria que as tropas ucranianas avançassem para uma posição que ameaçaria a principal linha de suprimentos logísticos da Rússia para a Crimeia, a cerca de 225 km a leste. Seria uma tarefa árdua, mas, considerando a capacidade militar da Ucrânia, aparentemente nada pode ser descartado.

Se os ucranianos conseguissem controlar a Península de Kinburn, seriam capazes de bloquear efetivamente o Rio Dniepre e impedir o acesso dos russos aos portos de Kherson e Mykolaiv, o que seria um primeiro passo para a eventual retomada da Crimeia. Natalie Humeniuk, porta-voz do Comando de Operações do Sul da Ucrânia, anunciou que a Península de Kinburn era “uma zona de operações militares ativas”, mas se recusou a dar mais detalhes. Em 8 de janeiro de 2023, Nataliia Humeniuk, porta-voz do Comando Operacional Sul da Ucrânia, afirmou que “nenhuma mudança crítica ocorreu na frente sul, onde as forças armadas ucranianas estão trabalhando para a ‘destruição das capacidades de combate russas’ em quase toda a margem esquerda (controlada pela Rússia) do Dniepre, ou seja, estão realizando ataques às instalações de retaguarda russas”.

Um ataque marítimo teria envolvido os mergulhadores de combate do 73º Centro Naval de Operações Especiais da Ucrânia como principais elementos anfíbios, que seriam desdobrados com outras forças especiais usando botes infláveis. Os detalhes da missão não foram divulgados, embora haja relatos não confirmados de que forças especiais ucranianas desembarcaram usando pequenas embarcações para percorrer os 4 quilômetros da cidade costeira de Ochakiv até a península.

Atravessando o rio Dnipro

O jornal ucraniano Pravda descreve como mergulhadores de combate das Forças de Operações Especiais atravessaram o rio Dnipro para alcançar os ocupantes de uma vila na margem oposta. Os mergulhadores entraram no rio e nadaram pelo fundo até o território controlado pelos russos, à frente de um grupo invasor que os seguia em botes infláveis. Sua missão era reconhecer uma área onde os botes pudessem desembarcar sem resistência e, uma vez estabelecida uma área segura, a unidade atravessou o rio e seguiu em direção à vila ocupada.

Os invasores russos haviam criado postos de observação avançados na aldeia para identificar qualquer atividade ucraniana em seu lado do rio, mas quando a unidade, composta por membros do 73º Centro de Operações Especiais Marítimas da Ucrânia e da Legião Internacional, cruzou o rio em botes infláveis ​​e avançou para limpar cada casa danificada, descobriu que os ocupantes inimigos haviam partido. Durante a operação, houve fogo de metralhadora inimiga, mas não ficou claro qual foi o impacto, embora pareça que a unidade não permaneceu na aldeia por muito tempo, já que os russos poderiam usar a artilharia para bombardeá-los. O objetivo dessas ações limitadas provavelmente era sondar as linhas inimigas para coletar informações, com resultados que permanecem secretos.


US Navy SEALs (SEa, Air, and Land - Mar, Ar e Terra) (Seal no inglês – foca)

Os SEALs da US Navy foram criados pelo presidente John F. Kennedy em 1962 como uma pequena força militar marítima de elite para conduzir guerras não convencionais. Eles executam missões clandestinas, de pequeno porte e alto impacto, que grandes forças com plataformas de grande visibilidade (como navios, tanques, jatos e submarinos) não conseguem realizar. Os SEALs também realizam reconhecimento especial essencial em terra de alvos críticos para ataques iminentes por forças convencionais maiores.

Nascimento dos SEALs da Marinha

Os SEALs são a força de escolha do Comando de Operações Especiais dos EUA, dentre as Forças de Operações Especiais (SOF) da Marinha, do Exército e da Força Aérea, para conduzir operações militares marítimas de pequenas unidades que se originam e retornam a um rio, oceano, pântano, delta ou litoral. Essa capacidade litorânea é mais importante do que nunca em nossa história, visto que metade da infraestrutura e da população mundial está localizada a menos de 1,6 km de um oceano ou rio. De importância crucial, os SEALs podem navegar em áreas de águas rasas, como o litoral do Golfo Pérsico, onde grandes navios e submarinos têm sua atuação limitada pela profundidade.

Os SEALs da Marinha são treinados para operar em todos os ambientes (mar, ar e terra) que lhes conferem o nome. Os SEALs também estão preparados para operar em climas extremos, desde o deserto escaldante ao Ártico congelante e a selva úmida. A atual busca dos SEALs por alvos terroristas evasivos, perigosos e de alta prioridade os leva a operar em regiões remotas e montanhosas do Afeganistão e em cidades devastadas pela violência entre facções, como Bagdá, no Iraque. Historicamente, os SEALs sempre tiveram "um pé na água". A realidade atual, no entanto, é que eles iniciam ataques letais de Ação Direta com a mesma eficácia tanto por ar quanto por terra.

Origens na Segunda Guerra Mundial

Os SEALs de hoje incorporam em uma única força a herança, as missões, as capacidades e as lições de combate aprendidas de 5 grupos audaciosos que não existem mais, mas que foram cruciais para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e no conflito da Coreia. Esses grupos eram os Scouts (do Exército) e os Raiders (da Marinha); as Unidades Navais de Demolição de Combate (NCDUs); os Nadadores Operacionais do Escritório de Serviços Estratégicos; as Equipes de Demolição Subaquática da Marinha (UDTs); e os Esquadrões de Lanchas Torpedeiras.

Esses diversos grupos, treinados na década de 1940 para atender a necessidades urgentes de segurança nacional, combateram na Europa, no Norte da África e no Pacífico, mas foram em sua maioria dissolvidos após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, as UDTs foram novamente convocadas e se expandiram rapidamente para a Guerra da Coreia em 1950. Demonstrando grande engenhosidade e coragem, essas unidades marítimas especiais conceberam e executaram, com relativamente poucas baixas, muitas das missões, táticas, técnicas e procedimentos que os SEALs ainda realizam hoje.

Essas missões incluíam reconhecimento de praias e hidrografia, corte de cabos e redes com explosivos; destruição explosiva de obstáculos subaquáticos para viabilizar grandes desembarques anfíbios; ataques com minas magnéticas, operações submarinas e localização e marcação de minas para navios caça-minas. Eles também realizavam levantamentos fluviais e treinamento militar estrangeiro. Ao mesmo tempo, os antecessores dos SEALs foram pioneiros em natação de combate, mergulho em circuito fechado, demolições subaquáticas e operações com mini-submarinos (submersíveis secos e molhados).

Unidade Marítima da OSS

Alguns dos primeiros predecessores dos SEALs na Segunda Guerra Mundial foram os Nadadores Operacionais do Escritório de Serviços Estratégicos (OSS). O veterano das Operações Combinadas Britânicas, o Capitão-Tenente Wooley, da Marinha Real Britânica, foi colocado no comando da Unidade Marítima do OSS em junho de 1943. Seu treinamento começou em novembro de 1943 em Camp Pendleton, mudou-se para a Ilha de Catalina em janeiro de 1944 e, finalmente, para as águas mais quentes das Bahamas em março de 1944. Dentro das forças armadas americanas, eles foram pioneiros em nadadeiras e máscaras de mergulho flexíveis, equipamentos de mergulho de circuito fechado, o uso de submersíveis para nadadores e combate aquático com natação e ataques com minas magnéticas.
Em maio de 1944, o Coronel "Wild Bill" Donovan, chefe do OSS, dividiu a unidade em grupos. Ele cedeu o Grupo 1, sob o comando do Tenente Choate, ao Almirante Nimitz, como forma de introduzir o OSS no Teatro de Operações do Pacífico. Eles passaram a fazer parte da UDT-10 em julho de 1944. 5 homens do OSS participaram da primeira operação submarina da UDT com o USS BURRFISH nas Ilhas Carolinas em agosto de 1944.

Escoteiros (aqueles que operam sozinhos) e Invasores

Para atender à necessidade de uma força de reconhecimento de praia, pessoal selecionado do Exército e da Marinha se reuniu na Base de Treinamento Anfíbio de Little Creek, em 15 de agosto de 1942, para iniciar o treinamento de batedores e invasores anfíbios (conjunto). A missão dos batedores e invasores era identificar e reconhecer a praia alvo, manter uma posição na praia designada antes do desembarque e guiar as ondas de assalto até a praia de desembarque.

O primeiro grupo incluía Phil H. Bucklew, o “Pai da Guerra Naval Especial”, que dá nome ao Centro de Guerra Naval Especial. Comissionado em outubro de 1942, esse grupo entrou em combate em novembro de 1942 durante a OPERAÇÃO TOCHA, os primeiros desembarques aliados na Europa, na costa norte-africana. Os batedores e os batedores também apoiaram os desembarques na Sicília, Salerno, Anzio, Normandia e no sul da França.

Um segundo grupo de batedores e invasores, codinome Unidade de Serviço Especial nº 1, foi estabelecido em 7 de julho de 1943 como uma força conjunta de operações combinadas. A primeira missão, em setembro de 1943, foi em Finschafen, na Nova Guiné. Operações posteriores ocorreram em Gasmata, Arawe, Cabo Gloucester e nas costas leste e sul da Nova Bretanha, todas sem qualquer perda de pessoal. Conflitos surgiram em relação a questões operacionais, e todo o pessoal não pertencente à Marinha foi realocado. A unidade, renomeada 7º Batalhão de Batedores Anfíbios, recebeu uma nova missão: desembarcar com as lanchas de assalto, sinalizar canais com bóias, erguer marcadores para as embarcações que se aproximavam, prestar atendimento aos feridos, realizar sondagens em alto-mar, explodir obstáculos na praia e manter comunicações de voz ligando as tropas em terra, as lanchas que se aproximavam e os navios próximos. O 7º Batalhão de Batedores Anfíbios conduziu operações no Pacífico durante todo o conflito, participando de mais de 40 desembarques.

A terceira organização de Escoteiros e Incursores operava na China. Os Escoteiros e Incursores foram destacados para lutar ao lado da Organização de Cooperação Sino-Americana (SACO). Para reforçar o trabalho da SACO, o Almirante Ernest J. King ordenou que 120 oficiais e 900 homens fossem treinados para a “Operação Anfíbia Roger” na escola de Escoteiros e Patrulheiros em Fort Pierce, Flórida. Eles formaram o núcleo do que foi idealizado como uma “organização anfíbia de guerrilha composta por americanos e chineses, operando em águas costeiras, lagos e rios, utilizando pequenos barcos a vapor e sampanas”. Embora a maior parte das forças da Operação Anfíbia Roger tenha permanecido no Campo Knox em Calcutá, três dos grupos entraram em ação. Eles realizaram um levantamento do Alto Rio Yangtzé na primavera de 1945 e, disfarçados de trabalhadores braçais, conduziram um levantamento detalhado de três meses da costa chinesa, de Xangai a Kitchioh Wan, perto de Hong Kong.

Unidade de Demolição de Combate Naval (NCDU)

Em setembro de 1942, 17 militares da Marinha especializados em salvamento chegaram à Base Aérea de Little Creek, na Virgínia, para um curso intensivo de uma semana sobre demolições, corte de cabos com explosivos e técnicas de incursão de comandos. Em 10 de novembro de 1942, essa primeira unidade de demolição em combate conseguiu cortar uma barreira de cabos e redes no rio Wadi Sebou durante a Operação Tocha, no Norte da África. Suas ações permitiram que o USS Dallas (DD 199) atravessasse o rio e desembarcasse Rangers americanos, que capturaram o aeródromo de Port Lyautey.

Os planos para uma invasão maciça da Europa através do Canal da Mancha haviam começado, e informações de inteligência indicavam que os alemães estavam colocando extensos obstáculos subaquáticos nas praias da Normandia. Em 7 de maio de 1943, o Capitão-Tenente Draper L. Kauffman, "O Pai da Demolição em Combate Naval", recebeu ordens para criar uma escola e treinar pessoas para eliminar obstáculos em uma praia ocupada pelo inimigo antes de uma invasão.

Em 6 de junho de 1943, o Capitão-Tenente Kaufmann estabeleceu o treinamento da Unidade de Demolição de Combate Naval em Fort Pierce, Flórida. A maioria dos voluntários de Kaufmann vinha dos batalhões de engenharia e construção da Marinha. O treinamento começou com uma semana exaustiva, projetada para separar os homens dos meninos. Alguns disseram que os homens tiveram bom senso suficiente para desistir e abandonar os meninos. Era, e ainda é, considerada a "SEMANA DO INFERNO".

O treinamento utilizou botes infláveis ​​e, surpreendentemente, pouca natação. A ideia era que os homens remassem e trabalhassem em águas rasas, deixando as demolições em águas profundas para o Exército. Nesse ponto, os homens passaram a usar fardas da Marinha com botas e capacetes. Receberam ordens para se manterem presos aos botes por cabos de segurança e permanecerem fora da água o máximo possível. A experiência de Kauffman era em desarmar explosivos; agora, ele e suas equipes estavam aprendendo a usá-los ofensivamente. Uma inovação foi o uso de pacotes de tetril de 1,1 kg (2,5 libras) colocados em tubos de borracha, criando assim tubos explosivos de 9 kg (20 libras) que podiam ser manipulados ao redor de obstáculos para demolição.

Em abril de 1944, um total de 34 Unidades de Defesa Naval (NCDUs) foram enviadas para a Inglaterra em preparação para a Operação Overlord, o desembarque anfíbio na Normandia.

Testado em combate: Invasão da Normandia no Dia D

6 homens da Unidade de Demolição de Combate Naval Onze (NCDU-11) de Kauffman foram enviados à Inglaterra no início de novembro de 1943 para iniciar os preparativos para limpar as praias para a invasão da Normandia. Posteriormente, a NCDU-11 foi ampliada para equipes de assalto de 13 homens. Os Scouts e Raiders também foram mobilizados para iniciar o reconhecimento da costa da Normandia.

O General Rommel, o mais alto Marechal de Campo de Hitler, implementou as complexas defesas encontradas no litoral francês. Estas incluíam, de forma criativa, postes de aço cravados na areia e cobertos com explosivos. Grandes barricadas de aço de 3 toneladas, chamadas de Portões Belgas, foram colocadas bem na zona de arrebentação. Além disso, ele posicionou estrategicamente ninhos reforçados de morteiros e metralhadoras. Os batedores e os batedores passaram semanas coletando informações durante missões de vigilância noturnas ao longo da costa francesa. Réplicas dos Portões Belgas foram construídas na costa sul da Inglaterra para que a UDT (Unidade de Defesa do Ulster) praticasse demolições. A estratégia da UDT era derrubar os portões, não destruí-los e espalhá-los pelas praias, criando assim um obstáculo maior para as tropas que avançavam.

Homens armados com artilharia naval de longo curso, incluindo bombas e projéteis, lideraram o ataque inicial às 2 praias de desembarque americanas de Omaha e Utah. Em seguida, uma primeira onda de tanques e veículos de transporte de tropas desembarcaria para eliminar quaisquer bunkers e atiradores alemães remanescentes. As equipes de assalto da Demolition Gap entrariam com a segunda onda e trabalhariam na maré baixa para remover os obstáculos.

Como frequentemente acontece na névoa da guerra, os aviões Aliados acabaram lançando suas bombas muito para o interior. A artilharia naval, então, disparou a maior parte de seus projéteis muito além das posições alemãs, causando estragos nas terras agrícolas francesas, mas deixando os canhões alemães, bem posicionados, em perfeitas condições de funcionamento. Esses canhões dispararam fogo terrestre devastador contra as forças Aliadas que se aproximavam. As marés também acabaram empurrando muitas das equipes de demolição bem à frente da primeira onda. Elas se viram as primeiras a desembarcar nas praias. Muitas das equipes foram mortas por metralhadoras e morteiros antes de chegarem à praia. Outros membros da equipe, sob fogo inimigo, conseguiram colocar cargas nos obstáculos e explodi-los. Em um dado momento, soldados estavam se abrigando atrás dos obstáculos, que continham explosivos com temporizadores. Os soldados americanos rapidamente se dirigiram para as praias para evitar se tornarem baixas amigas na guerra. A missão era abrir 16 corredores de 15 metros de largura para o desembarque. Ao anoitecer, apenas 13 estavam abertos, e essas praias cobraram um alto preço das equipes de assalto naval.

Dos 175 homens da NCDU e da UDT na praia de Omaha, 31 foram mortos e 60 ficaram feridos. Seus companheiros na praia de Utah tiveram um destino muito melhor, pois a praia era consideravelmente menos fortificada. 4 foram mortos e 11 ficaram feridos quando um projétil de artilharia atingiu uma das equipes que trabalhavam para limpar a praia. Semanas antes da invasão, todos os homens disponíveis da equipe de demolição subaquática foram enviados de Fort Pierce para a Inglaterra. A maior perda ocorreu no desembarque na praia de Omaha, na Normandia. Poucos meses após o fim da guerra, as equipes da UDT foram dispersas. Isso encerrou um período difícil, porém evolutivo, na história da Guerra Naval Especial.

Em 6 de junho de 1944, enfrentando grandes adversidades, as Unidades de Demolição de Navios (NCDUs) na Praia de Omaha conseguiram abrir 8 brechas completas e 2 parciais nas defesas alemãs. As NCDUs sofreram 31 mortos e 60 feridos, uma taxa de baixas de 52%. Enquanto isso, as NCDUs na Praia de Utah encontraram fogo inimigo menos intenso. Elas avançaram 640 metros de praia em 2 horas e outras 820 metros até o final da tarde. As baixas na Praia de Utah foram significativamente menores, com 6 mortos e 11 feridos. Durante a Operação Overlord, nenhum demolidor morreu devido ao manuseio inadequado de explosivos.

Em agosto de 1944, as Unidades de Desembarque Naval (NCDUs) da Praia de Utah participaram dos desembarques no sul da França, a última operação anfíbia no Teatro de Operações Europeu. As NCDUs também operaram no teatro do Pacífico. A NCDU 2, sob o comando do Tenente Frank Kaine, que dá nome ao prédio do Comando de Guerra Naval Especial, e a NCDU 3, sob o comando do Tenente Lloyd Anderson, formaram o núcleo de seis NCDUs que serviram com a 7ª Força Anfíbia, encarregada de limpar os canais de navegação após os desembarques de Biak a Bornéu.

Pacífico Sul – Crescimento da UDT

Após uma grande catástrofe na ilha de Tarawa, a necessidade da Unidade de Transporte Aéreo Não Tripulado (UDT) no Pacífico Sul tornou-se gritante. As ilhas desta região têm marés imprevisíveis e recifes rasos que podem facilmente impedir o avanço dos navios de transporte naval. Em Tarawa, a primeira leva conseguiu atravessar o recife em veículos anfíbios (Amtracs), mas a segunda leva, em lanchas Higgens, ficou presa em um recife exposto pela maré baixa. Os fuzileiros navais tiveram que desembarcar e caminhar até a praia. Muitos se afogaram ou morreram antes de chegar à areia. Os Amtracs, sem reforços da segunda leva, foram dizimados na praia. Foi uma lição valiosa que a Marinha não permitiria que se repetisse. Os Mergulhadores de Combate foram então chamados em busca de uma solução.

A 5ª Força Anfíbia estabeleceu treinamento em Waimanalo, na costa de Oahu, no arquipélago havaiano. Participaram homens de Fort Pierce, bem como do Exército e dos Fuzileiros Navais. Estavam representados os Scouts e Raiders, além das Equipes Navais de Demolição em Combate. Eles treinaram às pressas para o ataque a Kwajalein em 31 de janeiro de 1944. Este foi um ponto de virada crucial para as táticas da UDT (Underwater Demolition Team). O plano era enviar equipes de reconhecimento noturno, como as que os Scouts e Raiders estavam acostumados a usar. Então, o Almirante Turner, preocupado com a presença de obstáculos colocados pelos japoneses, ordenou 2 operações de reconhecimento diurnas.

As missões deveriam seguir o procedimento padrão. A 1ª equipe deveria ir em um bote inflável, trajando uniforme completo, botas, coletes salva-vidas e capacetes de metal. O recife de coral mantinha a embarcação muito distante da costa, impedindo a avaliação precisa das condições da praia.  Os operadores tomaram uma decisão que mudaria para sempre a Guerra Naval Especial. Tirando tudo, exceto as roupas íntimas, nadaram destemidamente através do recife. Retornaram com esboços da localização dos canhões na praia, juntamente com informações sobre um muro de troncos construído para impedir desembarques e outras informações vitais. O Nado de Combate Naval passou a integrar a Lista de Tarefas Essenciais da Missão da Unidade de Treinamento de Combate Naval (UDT).

Após Kwajalein, a UDT criou a Base Experimental e de Treinamento de Demolição em Combate Naval em Maui. As operações começaram em abril de 1944. A maioria dos procedimentos de Fort Pierce foi modificada, com ênfase no desenvolvimento de excelentes nadadores. Treinamento extensivo foi realizado na água sem linhas de vida, usando máscaras faciais e vestindo calções de banho e sapatos aquáticos. Esse novo modelo nos deu a imagem que permanece até hoje do "Guerreiro Nu" da UDT na Segunda Guerra Mundial. Os desembarques continuaram e, em Iwo Jima, as equipes de reconhecimento se saíram bem. As maiores baixas da UDT não ocorreram na água, mas a bordo do contratorpedeiro USS Blessman, quando um bombardeiro japonês o atingiu. Quando a bomba explodiu no refeitório, 15 homens da equipe da UDT morreram. Outros 23 ficaram feridos. Essa foi, de longe, a perda de vidas mais trágica sofrida pela UDT no teatro de operações do Pacífico.

Até então, todas as ilhas exploradas ficavam em águas do sul. Logo, as forças se deslocaram para o norte, em direção ao Japão. Sem proteção térmica, os homens da UDT corriam o risco de hipotermia e cãibras severas. Esse problema foi extremo durante o levantamento topográfico de Okinawa. O maior destacamento da UDT na guerra empregou as equipes veteranas 7, 12, 13 e 14, além das recém-treinadas equipes 11, 16, 17 e 18. Quase 1000 membros da UDT trabalharam em conjunto em operações reais e simuladas para criar a ilusão de desembarque em outros locais. Estacas pontiagudas fincadas no recife de coral da praia protegiam as praias de desembarque em Okinawa. As equipes 11 e 16 foram enviadas para explodir as estacas. Após todas as cargas serem instaladas, os homens nadaram para limpar a área e a explosão subsequente eliminou todos os alvos da equipe 11 e metade dos alvos da equipe 16. A equipe 16 abandonou a operação devido à morte de um de seus homens; portanto, sua missão foi considerada um fracasso e uma vergonha. A Equipe 11 foi enviada de volta no dia seguinte para concluir a missão e, em seguida, permaneceu para guiar as forças até a praia. A UDT continuou se preparando para a invasão do Japão. Após a explosão da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, a guerra terminou rapidamente. A necessidade de uma invasão do Japão foi evitada e o papel da UDT no Pacífico Sul chegou ao fim.

Ao todo, foram estabelecidas 34 equipes UDT. Vestindo trajes de banho, nadadeiras e máscaras faciais em operações de combate, esses "Guerreiros Nus" entraram em ação em todo o Pacífico, em todos os principais desembarques anfíbios, incluindo: Eniwetok, Saipan, Guam, Tinian, Angaur, Ulithi, Pelilui, Leyte, Golfo de Lingayen, Zambales, Iwo Jima, Okinawa, Labuan, Baía de Brunei e, em 4 de julho de 1945, em Balikpapan, em Bornéu, que foi a última operação de demolição das UDT na guerra. A rápida desmobilização ao final da guerra reduziu o número de UDTs em serviço ativo para 2 em cada costa, com um efetivo de 7 oficiais e 45 praças cada.

China

Um graduado de Annapolis, chamado Milton E. Miles, morou na China e sabia falar o idioma. Ele foi enviado para lá para fazer tudo ao seu alcance para preparar um possível desembarque aliado na China. Embora o desembarque nunca tenha ocorrido, Miles causou grande perturbação às regiões da China ocupadas pelos japoneses. Ele estabeleceu uma valiosa rede de vigilância ao longo de 1300 quilômetros da costa. Também fundou um campo de treinamento de guerrilha em conjunto com um senhor da guerra chinês. Dali, comandaram muitos ataques bem-sucedidos e incursões de guerrilha contra os japoneses. Outro membro da UDT, Phil Buckelew, também passou um tempo infiltrado na China continental, interrompendo as linhas de comunicação inimigas e fornecendo informações aos comandantes da Marinha. O Centro de Guerra Naval Especial Philip Buckelew em Coronado, Califórnia, recebeu esse nome em homenagem a esse homem lendário.

UDT na Coreia

A Guerra da Coreia começou em 25 de junho de 1950, quando o exército norte-coreano invadiu a Coreia do Sul. Inicialmente, com um destacamento de 11 militares da UDT 3, a participação da UDT expandiu-se para 3 equipes, totalizando 300 homens.

Durante a “guerra esquecida”, as Equipes de Demolição Subaquática (UDT) lutaram heroicamente e discretamente. A UDT começou a empregar a experiência em demolição adquirida na Segunda Guerra Mundial e a adaptou para um papel ofensivo. Mantendo o uso eficaz da água como cobertura e camuflagem, bem como método de inserção, a UDT da era coreana tinha como alvo pontes, túneis, redes de pesca e outros alvos marítimos e costeiros. Desenvolveram também uma estreita relação de trabalho com a UDT/SEALs da República da Coreia (ROK), a quem treinaram, relação que perdura até hoje.

Durante a Guerra da Coreia, a UDT aprimorou e desenvolveu suas táticas de comando, concentrando seus esforços inicialmente em demolições e desativação de minas. Além disso, a UDT acompanhou comandos sul-coreanos em incursões no Norte para demolir túneis ferroviários. Os oficiais de alta patente da UDT desaprovavam essa atividade por se tratar de um uso não convencional das forças navais, que as afastava demais da linha d'água. Devido à natureza da guerra, a UDT manteve um perfil operacional discreto. Algumas de suas missões mais conhecidas incluem o transporte de espiões para a Coreia do Norte e a destruição de redes de pesca norte-coreanas, utilizadas para abastecer o Exército do Norte com várias toneladas de peixe anualmente.

Como parte do Grupo de Operações Especiais (SOG), as UDTs realizaram com sucesso incursões de demolição em túneis ferroviários e pontes ao longo da costa coreana. Em 15 de setembro de 1950, as UDTs apoiaram a Operação CHROMITE, o desembarque anfíbio em Inchon. As UDTs 1 e 3 forneceram pessoal que entrou à frente das embarcações de desembarque, explorando os bancos de lama, marcando pontos baixos no canal, limpando hélices emperradas e procurando minas. 4 membros das UDTs atuaram como guias de ondas para o desembarque dos fuzileiros navais.

Em outubro de 1950, as UDTs apoiaram operações de desminagem no porto de Wonsan, onde mergulhadores localizavam e marcavam minas para os caça-minas. Em 12 de outubro de 1950, 2 caça-minas americanos atingiram minas e afundaram. As UDTs resgataram 25 marinheiros. No dia seguinte, William Giannotti realizou a 1ª operação de combate americana utilizando um equipamento de mergulho autônomo (aqualung) ao mergulhar no USS Pledge.

Durante o restante da guerra, as UDTs realizaram reconhecimento de praias e rios, infiltraram guerrilheiros atrás das linhas inimigas a partir do mar, continuaram as operações de desminagem e participaram da Operação FISHNET, que prejudicou gravemente a capacidade de pesca da Coreia do Norte.

A Guerra da Coreia foi um período de transição para os homens da UDT. Eles testaram seus limites anteriores e definiram novos parâmetros para seu estilo especial de guerra. Essas novas técnicas e horizontes expandidos posicionaram a UDT de forma favorável para assumir um papel ainda mais amplo à medida que as tempestades da guerra começavam a se formar ao sul, na península vietnamita.

Vietnã intensifica operações – Equipes SEAL são formadas

Em 1962, o presidente Kennedy criou as Equipes SEAL 1 e 2 a partir das Equipes UDT existentes para desenvolver uma capacidade de Guerra Não Convencional da Marinha. As Equipes SEAL da Marinha foram concebidas como o equivalente marítimo dos "Boinas Verdes", as Forças Especiais do Exército. Elas foram imediatamente enviadas ao Vietnã para operar nos deltas e nos milhares de rios e canais do país, interrompendo com eficácia as linhas de comunicação marítimas do inimigo.

A missão das equipes SEAL era conduzir operações de contra-guerrilha e operações marítimas clandestinas. Inicialmente, os SEALs assessoravam e treinavam as forças vietnamitas, como a LDNN (SEALs vietnamitas). Mais tarde na guerra, os SEALs realizaram missões de ação direta noturnas, como emboscadas e incursões, para capturar prisioneiros de alto valor para a inteligência.

Os SEALs eram tão eficazes que o inimigo os apelidou de "os homens de rosto verde". No auge da guerra, 8 pelotões SEAL estavam no Vietnã em regime de rotação contínua. O último pelotão SEAL deixou o Vietnã em 1971 e o último conselheiro SEAL em 1973.

Período colonial inicial

Os franceses colonizaram o Vietnã em 1857. O país fez parte da Indochina Francesa até a Segunda Guerra Mundial, quando ficou sob domínio japonês por um breve período. Durante o domínio japonês, os cidadãos vietnamitas se rebelaram, apoiados pelos comunistas e pelo OSS (Escritório de Serviços Estratégicos, precursor da CIA). Um novo sentimento nacionalista surgiu entre os vietnamitas. A Segunda Guerra Mundial catalisou o movimento nacionalista, liderado por um homem que se autodenominava Ho Chi Minh.

Após a guerra, a França retornou e buscou retomar o controle do Vietnã e de outros territórios controlados pelos japoneses. Já em 1941, o Partido Comunista da Indochina clamava pela libertação do domínio francês. O Viet Minh, organização política e militar do movimento nacionalista, sob a liderança de Ho Chi Minh, ganhava força no norte. Em 1945, Ho Chi Minh proclamou a República Democrática do Vietnã e o direito dos vietnamitas de se autogovernarem. Sua Declaração de Independência foi redigida de forma semelhante à Declaração de Independência dos Estados Unidos de 1776, na esperança de obter apoio e simpatia de seu antigo aliado, os Estados Unidos.

As eleições que se seguiram foram fortemente favoráveis ​​à posição do Viet Minh, e Ho Chi Minh foi proclamado Presidente da nova República e exigiu a retirada imediata dos franceses e a independência total do Vietnã. Ho Chi Minh fez essas exigências contando com o apoio e a ajuda que recebia de 2 fontes importantes: os comunistas chineses e as equipes do OSS americano. Os comunistas chineses treinaram o Viet Minh e lutaram ao lado deles contra os japoneses. O OSS americano assessorava Ho Chi Minh em sua luta conjunta contra os japoneses. O governo dos Estados Unidos percebeu que o Viet Minh era uma força de combate eficaz e que a organização de Ho Chi Minh era a única liderança estável no Vietnã.

Com o apoio dos chineses e do OSS a Ho Chi Minh, a França teve dificuldades em se opor à sua nova República. No final de 1945, as equipes do OSS foram finalmente retiradas e os franceses concordaram em reconhecer a República Democrática do Vietnã, desde que esta permanecesse parte da França. Os franceses também concordaram que, se em algum momento futuro o país desejasse se unificar sob a liderança de Ho Chi Minh, a França acataria a decisão do povo.


No entanto, as negociações fracassaram, pois nenhum dos lados estava disposto a fazer concessões reais. Confrontos armados começaram entre as tropas francesas e o Viet Minh, agora chamado de Frente Nacional. O Vietnã se dividiu: Ho Chi Minh consolidou seu poder no norte, em Hanói, enquanto os franceses estabeleceram governo e comando no sul, em Saigon.

Os franceses, com seus aliados vietnamitas, lutaram contra o Viet Minh de 1946 a 1953. Essa guerra consistiu principalmente em ações de guerrilha, sem que nenhum dos lados tivesse uma vantagem clara. A política militar francesa não se mostrou eficaz contra as táticas de guerrilha, e o melhor que os franceses podiam fazer era manter as principais áreas povoadas e as principais linhas de comunicação, na esperança de atrair o Viet Minh para um confronto direto. Os franceses estavam sofrendo pesadas perdas e baixas e precisavam de uma grande vitória. Acreditavam que, se conseguissem levar o Viet Minh para um campo de batalha convencional, a França teria a vantagem.

A armadilha foi montada em um pequeno vale no noroeste do Vietnã, que se acreditava ser uma base de poder guerrilheira, a cerca de 240 quilômetros a oeste de Hanói e a 40 quilômetros da fronteira com o Laos. Sob o comando do General Henri Navarre, as tropas francesas planejaram atrair o Viet Minh para a batalha com uma grande força de assalto aerotransportada, que asseguraria o vale e estabeleceria uma fortificação ao redor do aeródromo abandonado ali presente. Quando o Viet Minh atacasse, os franceses os aniquilariam.

Dien Bien Phu tornou-se uma das maiores batalhas do pós-Segunda Guerra Mundial. Os franceses foram derrotados em Dien Bien Phu porque subestimaram enormemente a determinação e as habilidades das forças guerrilheiras vietnamitas. As fortificações francesas eram insuficientes; estavam em desvantagem numérica, de armamento e de manobras. Nem a bravura das tropas francesas, nem o heroísmo lendário dos paraquedistas da Legião Estrangeira Francesa foram suficientes para reverter a situação. Essa derrota chocou o povo francês e seu governo, eliminando sua vontade de continuar a guerra.

Em julho de 1954, as negociações entre a França e a recém-formada República, realizadas em Genebra, finalmente produziram um acordo. O Acordo de Genebra pôs fim ao domínio colonial no Vietnã, estabelecendo um plano para a transição pacífica de poder dos franceses para os vietnamitas. O acordo dividiu a Indochina em 4 partes: Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul. O Viet Minh, fervorosamente comunista e liderado por Ho Chi Minh, governou o Norte, enquanto os franceses auxiliaram no estabelecimento de um governo vietnamita anticomunista no Sul, chefiado pelo Imperador Bao Dai.

Com a região norte sendo o centro industrial e as regiões sul, agrícolas, a divisão do Vietnã gerou problemas econômicos. Essa divisão também causou uma grande mudança populacional. A grande população católica do Norte, temendo represálias do novo regime comunista por seu apoio aos franceses, iniciou um êxodo para o Sul. Estima-se que 100.000 vietnamitas estacionados em todo o Sul, por ordem do governo de Hanói, também começaram seu êxodo para o Norte. No entanto, pelo menos 5.000 deles permaneceram, juntando-se à Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul para formar o Viet Cong (VC). Eles viviam nas aldeias do Vietnã do Sul e lutavam contra o ARVN (Exército da República do Vietnã), financiado pelos Estados Unidos, e contra as tropas americanas.

Ho Chi Minh estava confiante de que venceria as eleições e voltou sua atenção para os problemas econômicos e sociais que seu governo enfrentava. Ele percebeu que os EUA poderiam auxiliar o Sul em seu estabelecimento, mas não previu que o Vietnã do Sul encontraria motivos para cancelar as eleições. Os americanos apoiaram o primeiro-ministro do Vietnã do Sul, Ngo Dihn Diem, que substituiu Bao Dai, exilado. Ngo Dihn Diem gradualmente expandiu sua esfera de poder, enquanto os Estados Unidos começaram a assumir o papel de apoiador deixado vago pelos franceses.

Os Estados Unidos se envolvem

O Camboja foi o único Estado envolvido que se recusou a assinar o Acordo de Genebra; declarou-se neutro e era liderado pelo Príncipe Norodom Sihanouk.

Embora o Camboja tenha tentado jogar com todos os lados uns contra os outros, a guerra só chegou ao Camboja anos mais tarde. O Laos, cujo líder era o Príncipe Souvanna Phouma, tentou desenvolver um governo de coalizão neutralista com apoiadores tanto pró-ocidentais quanto pró-comunistas. O meio-irmão do Príncipe Phouma, o Príncipe Souphanouvoing, liderava a facção comunista, chamada Pathet Lao. O Príncipe Boun Oum tinha o apoio do Exército Real Laosiano (ERL), com 25.000 homens; o ERL liderava a facção pró-ocidental, e o governo dos Estados Unidos o apoiava para conter a crescente presença comunista na Ásia.

Cada facção tentou ativamente obter vantagem no governo. As eleições de 1958 deram mais votos ao Pathet Lao, e os EUA pressionaram Souvanna Phouma a renunciar em favor de Phoui Sananikone, apoiado pelos americanos, que daria continuidade à política neutralista. Esse apoio dos Estados Unidos foi ofensivo para muitos. Um jovem capitão, Kong Le, que comandava o batalhão de paraquedistas do Exército de Libertação do Laos (RLA), tomou a capital do Laos, Vientiane, exigindo o retorno às políticas neutralistas.

A União Soviética começou a enviar armas, veículos e artilharia antiaérea para as forças de Kong Le, enquanto o Exército do Vietnã do Norte (NVA) enviou quadros para treinar as tropas do Pathet Lao.

Devido à posição sem saída para o mar do Laos, para obter qualquer vantagem, tropas americanas teriam que ser mobilizadas, e os problemas de abastecimento eram muito grandes. Os Estados Unidos abandonaram o Laos e direcionaram seu apoio em armas e ajuda militar, incluindo aeronaves e conselheiros das Forças Especiais, para o Vietnã do Sul.

No final da década de 1950, existiam poucas Forças de Operações Especiais. O Exército tinha os Boinas Verdes e a Marinha, suas Equipes de Demolição Subaquática (UDT). Essas unidades de elite eram treinadas para combater e operar atrás das linhas de uma guerra convencional, especificamente no caso de um avanço russo pela Europa.

A Marinha entrou no conflito do Vietnã em 1960, quando as UDTs transportaram pequenas embarcações rio acima pelo Mekong até o Laos. Em 1961, os conselheiros navais começaram a treinar as UDTs vietnamitas. Esses homens eram chamados de Lien Doc Nguoi Nhia (LDNN), que pode ser traduzido como "soldados que lutam sob o mar".

O presidente Kennedy, ciente da situação no Sudeste Asiático, reconheceu a necessidade de guerra não convencional e utilizou as Operações Especiais como medida contra a atividade guerrilheira. Em um discurso ao Congresso em maio de 1961, Kennedy expressou seu profundo respeito pelos Boinas Verdes. Ele anunciou o plano do governo de enviar um homem à Lua e, no mesmo discurso, destinou mais de cem milhões de dólares para o fortalecimento das Forças Especiais, a fim de ampliar a capacidade das forças convencionais americanas.

Percebendo a preferência da administração pelos Boinas Verdes do Exército, a Marinha precisava definir seu papel no âmbito das Forças Especiais. Em março de 1961, o Chefe de Operações Navais recomendou a criação de unidades de guerrilha e contraguerrilha. Essas unidades seriam capazes de operar no mar, no ar ou em terra. Esse foi o início oficial dos SEALs da Marinha. Muitos membros dos SEALs vieram das unidades UDT da Marinha, que já haviam adquirido experiência em guerra de comandos na Coreia; no entanto, as UDTs ainda eram necessárias para a força anfíbia da Marinha.

As 2 primeiras equipes ficavam em costas opostas: a Equipe 2 em Little Creek, Virgínia, e a Equipe 1 em Coronado, Califórnia. Os homens das recém-formadas equipes SEAL eram treinados em áreas não convencionais, como combate corpo a corpo, paraquedismo em grandes altitudes, arrombamento de cofres, demolições e idiomas. Entre as diversas ferramentas e armas exigidas pelas equipes estava o fuzil de assalto AR-15, um novo projeto que evoluiu para o atual M-16 e M-4. Os SEALs participavam do treinamento de substituição da UDT e passavam algum tempo aprimorando suas habilidades em uma equipe da UDT. Ao ingressarem em uma equipe SEAL, eles passavam por um curso de treinamento básico de doutrinação SEAL (SBI) de 3 meses no Campo Kerry, nas Montanhas Cuyamaca. Após o curso de treinamento SBI, eles entravam em um pelotão e treinavam táticas de pelotão (especialmente para o conflito no Vietnã).

O Comando do Pacífico reconheceu o Vietnã como um potencial ponto crítico para as forças convencionais. No início de 1962, a UDT iniciou levantamentos hidrográficos e o Comando de Assistência Militar do Vietnã (MACV) foi formado. Em março de 1962, os SEALs foram enviados ao Vietnã com o objetivo de treinar os comandos sul-vietnamitas utilizando os mesmos métodos de treinamento que eles próprios haviam recebido.

Em fevereiro de 1963, operando a partir do USS Weiss, uma unidade de reconhecimento hidrográfico naval da UDT 12 iniciou um levantamento ao sul de Da Nang. Desde o início, encontraram fogo de franco-atiradores e, em 25 de março, foram atacados. A unidade conseguiu escapar sem feridos, o levantamento foi considerado concluído e o Weiss retornou à Baía de Subic.

Em 1963, a LDNN vietnamita começou a obter sucesso em suas missões. Operando lanchas de patrulha rápida da classe "Nasty", fornecidas pelos Estados Unidos e fabricadas na Noruega, a partir de Da Nang, a LDNN conseguiu realizar diversos ataques contra alvos norte-vietnamitas. Em 31 de julho, as lanchas "Nasty" foram usadas em uma missão para destruir um transmissor de rádio na ilha de Hon Nieu. Usando morteiros de 88 mm na noite de 3 de agosto, bombardearam o radar no Cabo Vinh Son.

Devido ao imenso poder de fogo do canhão sem recuo de 88 mm, os norte-vietnamitas acreditaram que os canhões de grosso calibre de um navio da Marinha dos EUA os estavam bombardeando. Partindo dessa premissa, lanchas do Exército Popular do Vietnã (NVA) realizaram um ataque diurno ao USS Maddox, que navegava ao largo da costa norte-vietnamita, interceptando transmissões de rádio. Este ataque, juntamente com um segundo ataque ocorrido mais tarde no mesmo dia contra o USS Turner Joy, ficou conhecido como o Incidente do Golfo de Tonkin.

O incidente do Golfo de Tonkin deu aos Estados Unidos o poder legal e político para justificar um envolvimento mais forte no conflito do Vietnã. Um bombardeio a uma base aérea americana em 30 de outubro de 1964 matou 5 militares. Outro ataque na véspera de Natal atingiu um alojamento militar americano em Saigon, matando 2 militares. O presidente Lyndon Johnson ordenou uma retaliação "olho por olho": para cada ataque dos norte-vietnamitas, as tropas americanas responderiam da mesma maneira. O início da Operação "Flaming Dart", que incluiu o bombardeio americano de alvos no Vietnã do Norte, colocou os Estados Unidos no meio de uma guerra total.

A CIA iniciou as operações secretas dos SEALs no início de 1963. No começo da guerra, as operações consistiam em emboscar movimentações de suprimentos e localizar e capturar oficiais norte-vietnamitas. Devido à precariedade das informações de inteligência, essas operações não obtiveram muito sucesso. Quando os SEALs receberam os recursos necessários para desenvolver sua própria inteligência, as informações se tornaram muito mais oportunas e confiáveis. Os SEALs e as Forças de Operações Especiais em geral começaram a apresentar um enorme índice de sucesso, o que rendeu a seus membros um grande número de condecorações.


Entre 1965 e 1972, 46 SEALs morreram no Vietnã. Em 28 de outubro de 1965, o Comandante Robert J. Fay foi o primeiro SEAL morto no Vietnã por um disparo de morteiro. O primeiro SEAL morto em combate ativo foi o operador de radar de segunda classe Billy Machen, morto em um tiroteio em 16 de agosto de 1966. O corpo de Machen foi recuperado com o auxílio de fogo de 2 helicópteros, após a equipe ter sido emboscada durante uma patrulha diurna. A morte de Machen foi uma dura realidade para as equipes SEAL.

Inicialmente, os SEALs foram destacados em Da Nang e arredores, treinando o Sul em mergulho de combate, demolições e táticas de guerrilha/antiguerrilha. Com o desenrolar da guerra, os SEALs foram posicionados na Zona Especial de Rung Sat, onde deveriam interromper o suprimento e o movimento de tropas inimigas, e no Delta do Mecong para realizar operações fluviais (combate em vias navegáveis ​​interiores).

As águas barrentas do Delta forneceram a base para o desenvolvimento das operações fluviais dos SEALs. Os SEALs se adaptaram rapidamente e com resultados mortais. Os braços de rio, enseadas e estuários se interligavam, criando uma vasta área para operações tanto do Norte quanto do Sul. Os SEALs e as tripulações dos barcos da Marinha que operavam em águas rasas tinham como missão vencer essa parte da guerra, impedindo ao máximo o movimento de tropas e suprimentos vindos do Norte.

As equipes SEAL vivenciaram essa guerra como nenhuma outra. O combate com o Viet Cong era extremamente próximo e pessoal. Ao contrário dos métodos convencionais de guerra, como disparar artilharia contra uma localização específica ou lançar bombas a 9.000 metros de altitude, os SEALs operavam a centímetros de seus alvos. Os SEALs tinham que matar a curta distância e responder sem hesitar, ou seriam mortos. No final da década de 1960, os SEALs fizeram grandes progressos com esse novo estilo de guerra. Suas ações foram as mais eficazes contra guerrilhas e contra guerrilhas em toda a guerra.

Contudo, nos Estados Unidos, a política de guerra estava se voltando contra o governo. Os protestos contra a guerra se intensificaram consideravelmente no final da década de 1960. O público americano começou a questionar essa guerra que ceifava tantas vidas de jovens. A ansiedade e a raiva causadas pela guerra começaram a cobrar seu preço, e a violência eclodiu no país. Unidades da Guarda Nacional foram enviadas aos campus universitários para dispersar os manifestantes. O agora infame incidente em Kent State, que resultou em 4 mortes, foi um dos muitos confrontos entre manifestantes e o governo.

Os SEALs continuaram a fazer incursões no Vietnã do Norte e no Laos, e extraoficialmente no Camboja, controlado pelo Grupo de Estudos e Observações. Os SEALs da Equipe 2 iniciaram um destacamento singular, com membros da equipe SEAL trabalhando sozinhos com comandos sul-vietnamitas. Em 1967, uma unidade SEAL chamada Destacamento Bravo (Det Bravo) foi formada para operar essas unidades mistas EUA/ARVN, denominadas Unidades Provinciais de Reconhecimento (PRU) do Vietnã do Sul.

No início de 1968, os norte-vietnamitas e o Viet Cong orquestraram uma grande ofensiva contra o Vietnã do Sul. Praticamente todas as grandes cidades sentiram os efeitos da "Ofensiva do Tet". O Norte esperava que ela se tornasse o Dien Bien Phu americano. Eles queriam quebrar o desejo do público americano de continuar a guerra. Como propaganda, a Ofensiva do Tet foi bem-sucedida: os Estados Unidos estavam cansados ​​de uma guerra que não podia ser vencida, por princípios sobre os quais ninguém tinha certeza. No entanto, o Vietnã do Norte sofreu enormes baixas e, de um ponto de vista puramente militar, a Ofensiva do Tet foi um grande desastre para os comunistas.

Em 1970, os EUA decidiram retirar-se do conflito. Nixon iniciou um Plano de Vietnamização, que devolveria a responsabilidade pela defesa ao Vietnã do Sul. As forças convencionais estavam sendo retiradas, porém, as operações dos SEALs continuaram. Os SEALs desenvolveram uma nova base na ponta da Península de Ca Mau e criaram uma base de apoio flutuante, agora conhecida como Seafloat, soldando 14 barcaças. Acessível pelo mar, ela também servia como área de pouso para helicópteros.

Em 6 de junho de 1972, o Tenente Melvin S. Dry morreu ao cair na água após saltar de um helicóptero a pelo menos 10 metros de altura. Parte de uma operação abortada de resgate de prisioneiros de guerra realizada por veículos de apoio logístico (SDV), o Tenente Dry foi o último SEAL da Marinha a morrer no conflito do Vietnã. O último pelotão SEAL deixou o Vietnã em 7 de dezembro de 1971. O último conselheiro SEAL deixou o Vietnã em março de 1973.

As UDTs voltaram a entrar em combate no Vietnã, apoiando os Grupos Anfíbios de Prontidão. Quando integradas aos grupos fluviais, as UDTs realizavam operações com lanchas de patrulha fluvial e, em muitos casos, patrulhavam o interior, bem como as margens dos rios e praias, a fim de destruir obstáculos e bunkers. Além disso, o pessoal das UDTs atuava como conselheiro.

Em 1º de maio de 1983, todas as UDTs foram redesignadas como SEAL Teams ou Swimmer Delivery Vehicle Teams (SDVT). Posteriormente, as SDVTs foram redesignadas como SEAL Delivery Vehicle Teams.

Unidades Especiais de Barcos

A história da SBU também remonta à Segunda Guerra Mundial. As lanchas torpedeiras costeiras e as lanchas torpedeiras são as ancestrais das atuais PC e MKV. O Esquadrão de Lanchas Torpedeiras nº 3 resgatou o General MacArthur (e posteriormente o Presidente das Filipinas) das Filipinas após a invasão japonesa e, em seguida, participou de ações de guerrilha até o fim da resistência americana. As lanchas torpedeiras participaram, então, da maioria das campanhas no Pacífico Sudoeste, conduzindo e apoiando missões conjuntas/combinadas de reconhecimento, bloqueio, sabotagem e incursões, bem como atacando instalações costeiras, navios e combatentes japoneses. As lanchas torpedeiras foram usadas no Teatro de Operações Europeu a partir de abril de 1944 para apoiar o OSS na inserção de espiões e membros da Resistência Francesa, além de realizar manobras de desinformação em desembarques anfíbios. Embora não haja uma ligação direta entre as organizações, a adesão da NSW se baseia na similaridade das embarcações e das missões.

O desenvolvimento de uma sólida capacidade de guerra fluvial durante a Guerra do Vietnã produziu o precursor do moderno tripulante de embarcação de combate de Guerra Especial. As Equipes de Apoio Móvel forneciam apoio de embarcações de combate para as operações dos SEALs, assim como os marinheiros das Lanchas de Patrulha Fluvial (PBR) e das Lanchas Rápidas (Swift Boat). Em fevereiro de 1964, a Unidade de Apoio de Embarcações UM foi estabelecida sob o Grupo de Apoio às Operações Navais do Pacífico para operar o programa recém-reinstaurado de Lanchas de Patrulha Torpedeira Rápida (PTF) e para operar embarcações de alta velocidade em apoio às forças da Guerra Naval Especial. No final de 1964, as primeiras PTFs chegaram a Da Nang, no Vietnã. Em 1965, o Esquadrão de Apoio de Embarcações UM começou a treinar tripulações de Lanchas de Patrulha Rápida para operações de patrulha costeira e interdição no Vietnã. À medida que a missão no Vietnã se expandia para o ambiente fluvial, embarcações, táticas e treinamentos adicionais evoluíram para a patrulha fluvial e o apoio aos SEALs.

Equipes de Veículos de Entrega SEAL

As equipes SDV têm suas raízes históricas nos feitos dos mergulhadores de combate italianos e britânicos e dos submersíveis de mergulho durante a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Naval Especial (NSW) entrou no campo dos submersíveis na década de 1960, quando o Centro de Sistemas Costeiros desenvolveu o Mark 7, um SDV de inundação livre do tipo usado atualmente, e o primeiro SDV a ser usado na frota. Os Mark 8 e 9 vieram em seguida, no final da década de 1970. O Mark 8 Mod 1 atual e o Sistema Avançado de Entrega SEAL (ASDS), um submersível de mergulho seco, fornecem à NSW uma capacidade sem precedentes que combina os atributos da mobilidade subaquática clandestina e do mergulhador de combate.

As operações pós-Guerra do Vietnã nas quais as forças da NSW participaram incluem URGENT FURY (Granada, 1983); EARNEST WILL (Golfo Pérsico, 1987-1990); JUST CAUSE (Panamá, 1989-1990); e DESERT SHIELD/DESERT STORM na Somália, Bósnia, Haiti, Libéria, Enduring Freedom e Iraqi Freedom, além de diversas missões secretas ao redor do mundo. Consulte a seção Operações para obter informações sobre algumas dessas operações mais interessantes. Consulte a seção “Aceite o Desafio” para obter informações sobre como se tornar um desses guerreiros de elite.