domingo, 4 de novembro de 2012

Estratégia Militar # 053



baseado no MC C 124-1 Estratégia do EB

Introdução

A guerra é a forma de se resolver um conflito pelo uso da força, em momentos que a política e a diplomacia não podem mais produzir resultados satisfatórios. De importância vital, a guerra deve ser tratada com prioridade máxima, pois dela pode depender a sobrevivência tanto de uma população como do próprio estado. Suas consequências podem ser muito graves, pois dependendo de sua intensidade, a acompanham a fome, a doença, a ruína econômica, podendo chegar, em casos extremos, a destruição de um povo inteiro. Mais comumente resulta na deposição de governos indesejáveis e na mudança da ordem política regional, porém os efeitos nocivos junto a população sempre estão presentes, razão pela qual deve ser evitada a todo custo.  Uma vez envolvida em um conflito militar, uma nação deve envidar todos os esforços para decidi-lo a seu favor, no menor intervalo de tempo possível, e com o menor custo, seja econômico-financeiro ou político e humano.

Uma vez configurada uma condição de guerra, não há tempo suficiente para se preparar para ela partindo de bases incipientes, sendo necessário que uma estrutura militar, industrial e de qualificação humana e tecnológica seja mantida em caráter permanente em tempos de paz. Planos de mobilização industriais-militares, adestramento de efetivos e doutrinas estratégico-tático-operacionais devem ser criteriosamente planejados e praticados constantemente. Estudos acadêmicos de alto nível devem ser uma constante nas academias e institutos militares, atualizando a ciência militar a realidade sempre em mutação na geopolítica mundial. É importante que uma transição da condição de paz para a de conflito se dê da forma mais fluída e natural possível.



A Estratégia

Uma guerra sem estratégia é uma forma primitiva de se envolver em um conflito armado, e só praticada por povos primitivos e sem cultura de planejamento, onde esforços são duplicados e não coordenados, resultando em total falta de sinergia e uma receita ao desastre.

A estratégia envolve a composição e orientação das forças, suas disposição territorial e suas linhas de comunicação bem como seu adestramento, o planejamento tecnológico e industrial e os planos de mobilização, a doutrina de emprego, os meios nacionais e os planos de toda ordem, as alianças supra-nacionais e demais fatores que possam influir  na condição política dos conflitos, sempre tendo como pano de fundo a potenciais ameaças que o país poderá vir a enfrentar e seus objetivos nacionais.

A estratégia deverá considerar todo o espaço geográfico próximo ou mais distante que possa influir nos conflitos, as relações e alianças internacionais, as tecnologias próprias ou alheias existentes, como por exemplo a existência de armas nucleares e outras tecnologias sensíveis como a espacial, a capacidade de manter um conflito ao longo da linha do tempo, a disponibilidade de recursos naturais e outros fatores relevantes.

A estratégia militar moderna depende do poderio e importância de cada nação, sendo a do conflito direto e conquista do território inimigo e consequente destruição de suas forças ultrapassada e em desuso.




As nações mais poderosas buscam sempre a paralisia estratégica do inimigo, evitando-se o confronto direto sempre que possível. Estas nações lançam mão da guerra por procuração, armando grupos políticos antagônicos aos regime que desejam destruir. Se tiverem que entrar em ação, lançam mão do poder aéreo superior, do bombardeio estratégico a partir de bombardeiros de alta tecnologia e submarinos com mísseis de cruzeiro de alta precisão, do bloqueio ostensivo das áreas de interesse e da interdição em larga escala da capacidade logística do inimigo, seja por ações em campo ou por ações político-diplomáticas junto ao resto do mundo. 

Algumas possuem ainda a opção nuclear que tem um peso muito grande tanto nas decisões próprias quanto nas do inimigo, porém o seu emprego pode trazer sérios desdobramentos, sejam físicos ou políticos, e deve ser cuidadosamente avaliado.

As nações menos poderosas tendem a buscas a estratégia da resistência, procurando provocar ao inimigo a possibilidade de desgastes inaceitáveis  estes e desencorajando-os a se envolverem nos conflitos. Guerra de guerrilha com alto custo humano, conflitos de alta duração e custos político inaceitáveis fazem parte desta linha de ação.




A Ação Militar

Qualquer que seja o objetivo da um conflito armado, este limita as ações a serem tomadas, dependendo do custo político que cada ação pode acarretar, porém não invalida nenhuma ação que vise debilitar a capacidade combativa do oponente, mesmo que esta não venha a ser empregada por este ou aquele motivo.

Os objetivos de um conflito armado podem ser: a rendição incondicional, A conquista de uma faixa de território, a substituição de um regime ou governo, a conquista de recursos diversos, a destruição de determinados objetivos de importância estratégica, a destruição de ameaças, o apoio a aliados, a implantação de ideologias, a defesa territorial, a conquista da independência, entre outros.

A estratégia específica de um determinado conflito deverá buscar o centro de gravidade do poder do oponente, e em torno dele deverá ser construída. O centro de gravidade é o objetivo que, se conquistado, fará o inimigo perder totalmente o controle de suas ações. Cabe aos planejadores militares a identificação deste.

Ao comandante militar das operações deverá ser dado um objetivo, deixando-se bem claro a este seus limites, de forma a evitar que qualquer ônus político, econômico, psicossocial ou militar excessivamente nocivo se configure e traga consequências indesejáveis ou inadimissíveis. A política nacional poderá impor restrições quanto a intensidade e extensão da violência, o ritmo das operações, a privação do uso de espaços geográficos restritos, o emprego de armas estratégicas, os bloqueios navais e outros.

Estando claros os objetivos do conflito que se configura e as restrições impostas pela política nacional, os planejadores militares passam a delinear a ação militar propriamente dita, através da concepção de um esboço do plano de operações. A fim de atingir o objetivo político da operação, estes devem estabelecer:
  1. Definição dos objetivos estratégicos essenciais para se chegar no objetivo político;
  2. Consideração dos dificultadores para se chegar a estes objetivos estratégicos;
  3. Definição das ações estratégicas a serem implementadas
  4. Definição e disponibilização dos meios militares a serem utilizados na operação.
Objetivos estratégicos são aqueles sem os quais o objetivo político da operação não poderá ser atingido. Uma operação se dá buscando um objetivo principal (objetivo político) e para atingi-lo um pequeno número de objetivos estratégicos terão de ser cumpridos. Como exemplo podemos citar a ação israelense contra as bases egípcias na guerra do seis dias, quando em menos de 2 horas toda a aviação de combate do país africano foi neutralizada




Para cumprir os objetivos estratégicos os planejadores devem prever as dificuldades a serem contornadas e tomar as medidas necessárias a sua implementação. Usando o exemplo anterior a principal dificuldade era a manutenção do sigilo, sendo portando necessário determinar o momento em que toda a aviação estava em terra, a implementação de ações visando a neutralização da rede de alerta antecipado (radares), o treinamento das equipe de terra a fim de que fizessem as aeronaves retornar ao combate no menor tempo possível, e outras.

Definidos os objetivos estratégicos e elencadas os dificultadores para atingi-los, passa-se para a fase da definição das ações estratégicas. Cada operação demandará um conjunto de ações estratégicas diferentes, porém podemos listar algumas mais comumente utilizadas em todos os conflitos:

  • A primeira ação estratégica de qualquer conflito é a busca de inteligência. Os planejadores devem lançar mão de todos os meios que tiverem a disposição na busca de informações relevantes. Satélites e aeronaves de reconhecimento, uso intensivo de sistemas de ESM, infiltração de forças especiais e uso de tropas de outros meios já desdobrados no terreno, espiões e informantes, informações de arquivo e disponíveis em meios ostensivos, desertores e prisioneiros, analistas e peritos. Toda a informação que possa ser reunida embasará o plano de ação, e este será mais realista a medida que os subsídios colhidos forem os mais sólidos e concretos possíveis. Durante a operação deverá ser mantida vigilância constante de todo teatro de operações, fluxo constante de informações de campo para os centros de inteligência e realinhamento de plano frente às novas realidades.
  • O isolamento do teatro de operações de todas as formas possíveis impedirá a chegada de novos recursos ao adversário. O bloqueio de suas fontes de suprimento através de medidas militares ou diplomáticas, a interdição do espaço aéreo adjacente às áreas de interesse, bloqueios navais e terrestres, interferência eletrônica nas comunicações e meios de vigilância e controle, ocupação militar de áreas importantes e outros.
  • Ações de bombardeio estratégico visando neutralizar:
    • Sistemas de alerta antecipado (radares), 
    • Sistemas de defesa antiaérea, 
    • Sistemas de ameaça direta como os mísseis balísticos táticos e seus sistemas de suporte, sistemas de artilharia e MLRS, bombardeiros estratégicos e mísseis de cruzeiro.
    • Grandes fontes de suporte logístico como refinarias e depósitos de combustível, usinas e subestações de força,
    • Entroncamento rodo e ferroviários, portos e aeródromos,
    • Centros de poder e decisão, comando e controle, procurando impedir qualquer tipo de comando e coordenação, frustrando a coordenação de esforços e semeando a confusão e o caos entre as forças inimigas,
    • Sistemas de comunicações que servem ao comando e controle de forças, estações civis de rádio e TV, torres e antenas de retransmissão de todos os tipos,
    • Pontes, túneis, viadutos e outros pontos de estrangulamento de tráfego que se mostrem importantes,
    • Bases militares de todos os tipos, aéreas, navais e submarinas; bases de forças terrestres e de apoio logístico.
    • Áreas industriais e de pesquisa militar, usinas siderurgicas e metalúrgicas, industria eletrônica de defesa, industria naval e nuclear, outras indústrias importantes.
    • Outros alvos que se revelem importantes.
  • Ocupação militar de áreas de fronteira, áreas de concentração estratégica, bases militares de todos os tipos em território nacional ou além-fronteiras, áreas de desdobramento logístico, sitios de transmissão e retransmissão de comunicações, espaços aéreos e marítimos importantes, usinas e represas, industrias, canais, pontes, túneis, viadutos, elevações, fontes de água e combustível, e outras áreas adjacentes que se façam importantes.

  • Desgaste do inimigo através de constante assédio a suas forças, procurando desorganizá-las, impedi-las de se deslocarem, cansa-las, impor-lhes a fadiga, baixar o seu moral, impedi-las de receberem ressuprimento de comida/combustível/munição/água/pessoal e outros, cortar suas rotas de fuga, impedi-las de se comunicarem e obterem informações.
  • Promover intensa guerra psicológica junto as tropas inimigas através de transmissões e panfletos disseminados por todos os meios disponíveis; junto a população local procurando conquistar sua simpatia através de propaganda e ações de assistência, procurando sua dissociação do governo local
  • Manobrar no sentido de confundir a compreensão do inimigo em relação as intenções do atacante. Ao realizar manobras diversionárias o inimigo se obriga a dividir suas forças, desorganizar seu dispositivo e sobrecarregar seus meios de suporte logístico, pois não tem como saber a intenção do atacante e não pode negligenciar uma manobra que pode ser real. Na Operação Overlord (a invasão da Normandia) o descontrole (involuntário) por motivos diversos nos lançamentos das divisões aeroterrestres aliadas confundiu completamente a reação dos alemães e deu tempo aos americanos e britânicos para realizar as manobras de desembarque.
  • Uma vez conseguida a condição de superioridade estratégica através de ações como as aqui citadas parte-se para o combate direto procurando a neutralização, destruição ou captura das forças inimigas, momento em que elas se encontram debilitadas física e moralmente. A todos estes esforços denominamos de multiplicadores do poder de combate.


Uma vez esboçado o plano geral de ação, parte-se para a fase de ajuste, quando se confronta o que se pretende fazer com os meios disponíveis, condicionantes políticas e situação geográfica, suprimindo ações de difícil execução e/ou criando outras que venham o tona durante esta fase. Nesta fase avalia-se a viabilidade da operação, podendo-se chegar a conclusão que a missão não poderá ser realizada ou que necessite de ajustes ou outras linhas de ação.

Objetivos Militares


Os objetivos militares devem ser escolhidos de forma coerente e dentro da realidade da situação. Estes jamais poderão ser maiores que o objetivo político da guerra. O número de restrições políticas ao estabelecimentos dos objetivos militares geográficos ou não diminui a medida que a importância dos objetivos da guerra aumenta.

6 comentários:

  1. valeu Diego.Seu reconhecimento é muito importante.

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  2. Excelente artigo, Johnnie. Parabéns pelo artigo e por todo o seu blog.

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    1. obrigado pelo seu comentário. Estes incentivos são importantes para continuarmos com este projeto.

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  3. muito bom o conteúdo, por acaso vc ja serviu? as informações são de quem realmente entende do assunto

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