domingo, 11 de outubro de 2015

Aeronaves Militares - Características Operacionais Básicas #107




Introdução

Pouco tempo após a aparecimento da aeronave mais pesada que o ar, em novembro de 1911, o jovem tenente italiano Giulio Gavotti, sobrevoou na cabine de seu primitivo engenho voador de madeira e lona o acantonamento do exército turco em Ain Zara na Líbia, e lançou sobre eles, que assistiram incrédulos ao primeiro bombardeio aéreo da história, uma granada de mão de uma altura de 180 metros e a 100 km/h.

Desde então, nos cerca de 100 anos seguintes, a aviação de combate evoluiu vertiginosamente, acompanhando a evolução tecnológica e partindo daqueles engenhos primitivos às sofisticadíssimas, caras e mortais máquinas modernas, dotadas de tecnologia furtiva e munição inteligente altamente precisa.

A Primeira Guerra Mundial popularizou o uso da aeronave em combate, e apesar de ainda serem modelos frágeis e de baixa tecnologia, eternizou ases como o lendário Barão Vermelho. Alguns anos depois a Segunda Guerra Mundial trouxe a maturidade da arma aérea com robustas e confiáveis aeronaves construídas em metal e dotadas de motores potentes, saídas de linhas de produção em série de alta cadência capaz de suprir as pesadas perdas em ação. Ainda durante a Segunda Guerra tivemos aeronaves operando a noite com a ajuda dos primeiros radares aerotransportados e os primeiros modelos com propulsão a jato, além é claro, da primeira missão de bombardeio nuclear.

Findo o último grande conflito iniciou-se a Guerra Fria e com ela experimentou-se grandes avanços na aviação de combate como os mísseis ar-ar e ar-superfície, as bombas inteligentes e a miniaturização da eletrônica que proporcionou uma verdadeira revolução na efetividade dos sistemas de busca de informações de combate, aquisição de alvos e precisão de disparos, consciência situacional, comando e controle.  Nos últimos anos houveram significativos avanços nas características furtivas das aeronaves, guerra centrada em redes e o adventos de sistemas capazes de operar com pilotagem remota, prenúncio de um futuro próximo com menos pilotos nos ares e maior número de sistemas automatizados e pré-programados.

Tendo a sua disposição um portfólio tecnológico verdadeiramente impressionante, a moderna aviação de combate e militar, mortífera e precisa, representa um peso-pesado nos teatros de operações modernos, sendo componente imprescindível de qualquer força em operação, assim como apresenta cada vez maiores custos de aquisição e operação, que forçam seus operadores a redução gradual do número de aeronaves em suas fileiras.






O Uso Militar da Aeronave


O uso militar de uma aeronave justifica-se por três características únicas e incontestáveis: 

  • A capacidade de chegar a qualquer lugar dentro de seu raio de alcance, pois independe de estradas para seu deslocamento, podendo alcançar lugares inacessíveis a outros veículos, transpondo mares, selvas e montanhas, áreas inimigas e outros locais desprovidos de redes rodoviárias. Seja transportando sua carga de armas, sensores, suprimentos ou tropas, pode atingir qualquer local que seu alcance permita. Aeronaves capazes de receber combustível em voo tem alcance teoricamente ilimitado e dependem de apoio da aviação de reabastecimento. Caso disponham de aeródromos de reabastecimento próximos ao objetivo, seu alcance se amplia substancialmente. O voo até o objetivo, totalmente carregado e esquivando-se a detecção consome mais combustível que o voo de retorno, que pode ser feito em altitude e com sua carga já lançada.
  • As velocidades alcançadas as permitem alcançar seus objetivos em tempo mínimo, viabilizando ações que prescindam de respostas rápidas como o apoio a tropas em terra em dificuldades e a interceptação de aeronaves de ataque da alto desempenho ou do elemento surpresa. Permitem ainda rapidez nas ações de resgate de sobreviventes, o abandono de locais perigosos em tempo mínimo, entre outras.
  • Capacidade de atingir grandes alturas, o que lhes permitem grandes campos de tiro e observação, impossíveis a quem está na superfície, facilitando ações de bombardeio, busca de inteligência, além de em determinadas situações passarem desapercebidas ou incógnitas.
A combinação destas 3 características torna o avião uma ferramenta de combate única, capaz de executar funções impossíveis para outros tipos de veículos e/ou equipamentos, tornando-o um eficaz multiplicador do poder de combate. Sendo seu valor militar altíssimo e sua obtenção onerosa e restrita a poucas fábricas e fornecedores, devido a alta tecnologia agregada, é um alvo muito visado em combate e sua operação requer envelopes operacionais que lhe proporcionem altas capacidades de sobrevivência, com voos criteriosamente calculados; evitando entrarem no alcance das redes antiaéreas, voando abaixo da varredura dos radares de busca e utilizando espaços aéreos onde a supremacia aérea não está assegurada somente contando com medidas extras de segurança em combate.

CH-47 Chinook medium transport helicopter



Características

As aeronaves militares são concebidas em grande número de modelos, formas, tamanhos e configurações, cada qual visando um grupo de missões específicas, e obedecendo a seguintes características:



  • Velocidade: Esta é uma característica de toda aeronave, ou seja uma velocidade consideravelmente maior que qualquer congênere de superfície. Aeronaves propulsadas a hélice atingem velocidade mais modestas como por exemplo o caça leve Super-Tucano da Embraer que chega aos 590 km/h, os cargueiros C-130 Hércules com seus 620 km/h e o A400M com 780 km/h. Os helicópteros voam de 200 a 400 km/h devido a características específicas de suas asas rotativas. Esta forma de propulsão é usada em modelos que não exijam grandes velocidades como cargueiros, patrulheiros, caças leves, treinadores e aeronaves de salvamento. A propulsão a jato eleva as velocidades a níveis mais altos como os cargueiros C-17 que atinge 830 km/h, o caça-bombardeiro AMX com 1.020 km/h e bombardeiro pesado B-52 com 1.047 km/h. Esta propulsão é usada em cargueiros e patrulheiros de alto desempenho, treinadores e bombardeiros. Aeronaves de superioridade aérea como o caça F-16 com seus Mach 2 ou o recordista SR-71 (aeronave de reconhecimento) que atinge Mach 3,5, são construídas para velocidades supersônicas podendo ou não terem motores equipados com pós-combustores, além de serem capazes de suportar altíssimos esforços estruturais em seus voos em condições-limite.
  • Capacidade de Carga: Este quesito define o tamanho da aeronave, nunca o tipo. Temos aeronaves que transportam poucas centenas de quilogramas como o Cessna 172 com 400 kg de carga útil até cargueiros capazes de transportar MBT pesados, como o C-5 da USAF com 381 toneladas de peso máximo de decolagem. Caças-bombardeiros como o Eurofhigter Typhoon transportam 7,5 toneladas de cargas externas e o russo Mig-21 com cerca de 2 toneladas. A carga pode ser interna ou externa, pode ter a capacidade de transportar pessoal ou não, pode ainda possuir guinchos externos como os helicópteros de resgate e salvamento. Quanto mais pesada a carga menor o alcance da missão.
  • Furtividade: Esta característica é relativamente recente no projeto de aeronaves, e visa diminuir a sua detectabilidade pelos sistemas de alerta, diminuindo retorno de sinais de radar, assinatura térmica e emissões eletromagnéticas em geral, e é usada principalmente em aeronaves de ataque e bombardeio de vanguarda. Seus exemplos mais conhecidos são o F-117, o F-22, o F-35, o B-2 e o PAK-FA russo. Todos os projetos modernos incorporam em maior ou menor nível características de baixa detectabilidade. Uma vez alcançada a superioridade aérea esta característica torna-se secundária.
  • Agilidade: A agilidade de uma aeronave é função de alguns fatores como o seu tamanho, a potência de seus motores e as características de seu projeto. Aeronaves grandes tendem a ser menos ágeis que aeronaves pequenas. A velocidade também influi na agilidade e quanto mais rápido uma aeronaves está, menos ágil ela será (menor capacidade de manobra - incapacidade de fazer curvas fechadas), pois submeterá sua estrutura a esforços muito grandes (forças G muito intensas), bem como a seu piloto, cuja capacidade de suportar tais curvas é limitada. Aeronaves de caça e bombardeio prescindem mais de características de agilidade que outros tipos de aeronaves.

  • Alcance: O alcance de uma aeronave militar é proporcional ao seu tamanho, pois quanto maior este for, mais combustível esta aeronave tenderá a transportar. Deve-se levar em consideração, além do combustível transportado, o consumo de seus motores. Projetos mais modernos viabilizam motores mais econômicos e alcances maiores. A carga útil é inversamente proporcional ao alcance, quanto mais pesada a aeronave, mais combustível consumirá. Dependendo de suas atribuições as aeronaves poderão ter alcances de centenas ou milhares de quilômetros, e esta característica dependerá de seus requisitos operacionais. Quanto mais alto se voa, menos combustível se consome pela menor resistência do ar.
  • Forma de decolagem e aterrizagem: Aeronaves precisam de pistas para atingirem a velocidade mínima de voo ou para reduzi-la após o pouso. Pistas são alvos tradicionais  e sua inviabilização pode impedir as aeronaves de operarem. Existem aeronaves capazes de decolar ou pousar em espaços reduzidíssimos (STOL), aerovanes capazes de faze-lo na vertical (VTOL), ou de decolarem em espaço curtos e pouso na vertical (VSTOL). Aeronaves baseadas em navios porta aeronaves decolam com auxílio de catapultas baseadas nestes ou rampas de auxílio a decolagem. De uma forma geral elas dependem de pistas longas para sua operação. Helicópteros são especialmente úteis em operações que exijam pouso e decolagem na vertical ou capacidade de permanecer parado em voo, mas tem velocidade limitada pelas características peculiares de seus rotores.
  • Custo: O custo determina a quantidade de aeronaves que uma força poderá adquirir. Aeronaves da alto desempenho tendem a ter custos maiores, bem como seus sensores, sistemas e armas embarcados determinarão seu valor final.
  • Operação: Os requisitos operacionais determinarão o tipo de aeronave de desempenhará cada missão. Helicópteros desempenham funções anticarro, escolta armada, apoio aproximado, guerra antissubmarino e antinavio, resgate de pilotos, ressuprimento de tropas, transporte tático de tropas, entre outras, missões onde não se necessita de velocidades muito altas. Missões de caça e bombardeio são desempenhadas por aeronaves de alto desempenho e missões de transporte por aeronaves de maior porte. Patrulheiros marítimos necessitam de grande autonomia e consequentemente seu porte definirá sua permanência em missão. Aeronaves embarcadas requerem trens de pouso reforçados e tratamento reforçado a corrosão. As missões são muitas e os requisitos os mais variados, sendo que cada força armada tem seus requisitos próprios. Cada missão em particular em cada força armada, define as características das aeronaves que operam.


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