domingo, 27 de dezembro de 2015

Emprego das Armas da Infantaria #115



As armas de infantaria são empregadas de forma direta, sem a necessidade de recorrer a uma cadeia de emprego, nem autorização de escalões superiores. É o combatente individual que decide o que fazer com ela, seguindo as linhas gerais determinadas pelo seu comandante de grupo ou pelotão, pois o inimigo se encontra diretamente depois do aparelho de pontaria que cada soldado tem a sua disposição. Cada tipo de arma a disposição do infante tem um propósito específico e seu emprego, a cargo do comandante da fração empregada, dão a infantaria seu letal poder de fogo. Conhecer as possibilidades de cada uma, bem como das munições disponíveis, é de suma importância ao seu emprego eficaz.

Existem 5 tipos de armas usadas universalmente pelas pequenas frações de infantaria: Os fuzis de assalto e suas irmãs mais velhas e poderosas, as metralhadoras; as granadas de mão ou de fuzil, estas disparadas a partir de lançadores específicos, os lançadores de rojões e os morteiros. Contrariando o exposto no parágrafo anterior, os morteiros são o único tipo de arma de pequenas frações que requerem uma cadeia de emprego. Não são empregados no escalão grupo de combate e pelotão e não serão discutidos aqui.





A natureza de cada tipo de arma é que determina como o infante a empregará contra cada tipo de alvo. Todas ar armas a disposição da infantaria são de fogo direto, exceção se faz aos morteiros já mencionados. O poder de cada arma de fogo direto está na capacidade de resposta imediata, sem que seja necessário que alguém a acione.

Uma arma de infantaria nada mais é que um dispositivo destinado a colocar a munição onde ela pode fazer o seu trabalho, pois são as munições as verdadeiras armas.

São empregadas pela infantaria 3 tipos distintos de munição: As de penetração, as explosivas (HE) e as de finalidades especiais. O inimigo pode se apresentar de duas formas diferentes: aquele que está lá, em local conhecido e pode ser visto, adquirido e alvejado diretamente; ou aquele que pode estar lá ou não, suspeita-se de sua presença. A este, o granadeiro procurará alvejar com granadas de HE, que são armas de saturação de ambiente, capazes de atingir a todos que estiverem em seu raio de ação, e devem ser apenas lançadas neste local, sem necessidade de mira certeira. Quando o inimigo suspeitar que será alvejado pelas granadas e tentar mudar de posição, aí o fuzileiro o acertará com a munição penetrante, no momento em que se expor.






As munições explosivas tem duas características táticas importantes: Elas não precisam atingir diretamente seus alvos para fazer sentir seus efeitos, podendo atingir alvos que não estão claramente adquiridos; e são especialmente eficazes quando empregadas contra pontos fortificados e veículos. Elas são usadas para matar o inimigo, forçá-lo a permanecer dentro da proteção de sua fortificação, forçar um veículo a mudar de direção ou buscar um posição menos vantajosa, pois somente um impacto direto irá destruí-lo ou danificá-lo de forma significativa.

As munições de penetração dependem da eficiência da arma que a dispara. Sua eficácia pode facilmente ser medida pois seus efeitos são visualizados imediatamente após seu disparo. Existem 3 tipos de munição de penetração: as perfuradoras de alvos macios, as perfurantes de armaduras e as de alto explosivo anticarro (HEAT). As primeiras são aquelas que usam a velocidade, sua massa e ângulo de impacto para penetrar alvos fáceis, como o corpo dos soldados inimigos. São de pequeno calibre, entre 5,56 mm a 14,7 mm, e disparadas de fuzis, metralhadoras e pistolas. As perfurantes de armadura são construídas em materiais mais densos como o carbeto de tungstênio, capazes de perfurar alvos mais duros como chapas metálicas, e provocam uma dissipação de energia cinética intensa no ponto que atingem, rompendo-o, sendo disparadas das mesmas armas que as primeiras. As munições anticarro são dotadas de carga moldada e concentram sua energia explosiva em um pequeno ponto das armaduras, derretendo-as. Geralmente são disparadas dos lança-rojões e como ogivas de mísseis anticarro.


As munições de emprego especial são aquelas que não se enquadram no até agora descrito e provocam efeitos incendiários, fumígenos, iluminativos, químicos, etc...

A trajetória das armas também deve ser usada em proveito do esforço de combate. Envolver o inimigo com fogo combinado de armas de trajetória alta com os de trajetória tensa pode ser muito eficaz. Quando engajados em fogo de trajetória tensa o alvo inimigo tende a se abrigar junto ao solo ou atrás de proteções que encontrem no local. Neste momento o fogo de trajetória alta pode ser empregado já que o alvo tende a estar parado e pode ser atingido pelos ângulos “mortos”, que tendem a estar descobertos. Este tipo de fogo também pode obrigar o inimigo a abrigar-se ou mover-se para fora da área, o que limita sua eficácia. Cria-se um dilema ao inimigo: se mover-se o fuzileiro o engaja com o fogo de sua arma automática e se ficar abrigado o granadeiro o força a mover-se. Este efeito combinado produz efeitos superiores ao que seria alcançado se cada uma delas atuasse individualmente.


As armas da infantaria engajam seus alvos sob 2 aspectos: o ponto e a área. O ponto é um alvo específico: um soldado, um veículo, um equipamento; e a área é um conjunto de pontos como uma formação de soldados, uma trincheira, etc... Tanto as metralhadoras como as granadas são adequadas para ambos os aspectos, sendo o fuzil mais específico para o engajamento de alvos-ponto. A taxa de fogo de cada arma, ou número de tiros por minuto, deve ser determinada pelo comandante da fração. Esta taxa será definida pela necessidade de se alcançar a superioridade de fogo e pela disponibilidade de munição.

A arma mais numerosa da infantaria é seu fuzil de assalto. O fuzileiro dispara munição penetrante, geralmente nos calibre entre o 5,56 mm ao 7,62 mm, e seu papel é alvejar o inimigo com fogo de precisão de curta distância; Não é importante o quão rápido o fuzileiro atira, mas o quão rápido ele pode adquirir o inimigo eficazmente em sua aparelho de pontaria e alvejá-lo. Um segundo papel do fuzileiro é a realização do fogo supressivo, forçando o inimigo a abrigar-se, correr, deitar, se proteger e no final das contas não poder atirar, proporcionando segurança aos metralhadores e granadeiros.


Apoiando o fogo dos fuzis, a metralhadora ligeira tem por missão proporcionar volume de fogo aos fuzileiros, proporcionando-lhes segurança mútua enquanto miram suas armas individuais. Ela satura a área do alvo com projéteis penetrantes, de trajetória tensa que pode ser ou não a mesma dos fuzis de assalto. Um pelotão de infantaria pode contar  com dois tipos de metralhadoras: uma menor e distribuída em maior número (metralhadora ligeira), disparando a mesma munição dos fuzis, na proporção de, por exemplo, 1 para cada 3 fuzis (1 por esquadra) e uma maior (metralhadora média) capaz de sustentar fogo por mais tempo e muitas vezes disparando munição mais potente (7,62 mm por exemplo) distribuídas a razão de 2 armas por pelotão (US Army). Estas são especialmente adequadas a engajar alvos como veículos, fortificações ou mesmo aeronaves. São capazes de sustentar fogo por longos períodos.

As munições explosivas (granadas) são o apoio de fogo imediato dos fuzileiros. Podem ser lançadas manualmente pelos próprios, ou pelo granadeiro, este especialmente equipado com um lançador especializado que pode ou não estar conjugado ao seu fuzil de assalto, disponibilizando uma arma de trajetória alta e tiro direto para atingir ângulos mortos.


Os lança-rojões são armas de tiro único, grande calibre e disparam granadas mais potentes. Podem ser descartáveis (AT-4) ou recarregáveis (Carl Gustav) na forma de foguetes estabilizados e de baixa velocidade, sendo pequenos canhões em recuo. São especialmente adequados a bater alvos difíceis que as armas já descritas não demonstram eficácia. Veículos levemente blindados e posições fortificadas são os alvos mais comuns. São disparados a distâncias de 100 a 1000 metros e podem engajar grupos de soldados inimigos, por exemplo em um cenário urbano, de um lado a outro da rua.

Cabe ao líder do grupo de infantaria coordenar a alocação de fogos de seus comandados e das armas de que dispõem. Ao combinar o fogo de armas de vários tipos procura-se obter um resultado superior a soma dos efeitos de cada arma se empregadas individualmente. Todo plano de fogo dos pequenos escalões de infantaria orbitam o binômio metralhador/granadeiro, e é em torno deles que os demais atuam. Cabe aos fuzileiros proporcionar segurança ao núcleo de fogo do grupo, observar o entorno fornecendo alarme e inteligência ao grupo, reforçar o fogo do metralhador e substituí-lo se necessário, além de engajar outros alvos  enquanto o metralhador e o granadeiro concluem seu engajamento. Ao líder do grupo cabe maximizar a sua eficácia através de comandos de fogo e medidas de controle, devendo assumir também a função de atirador sempre que necessário.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A Engenharia de Combate Blindada *114



DEFESANET

Eduardo Atem de Carvalho, PhD
Universidade Estadual do Norte Fluminense

Rogério Atem de Carvalho, DSc
Instituto Federal Fluminense


INTRODUÇÃO
           

Resumo
           
Engenhariade Combate Blindada, na guerra assimétrica, deixou de ser apenas elemento orgânico da Bda Bld para ser parte integrante, combatente, das eventuais Forças-Tarefa (FT) organizadas para o cumprimento de uma dada missão. A presença de meios adequados associados à tecnologia de ponta se tornam características desta arma, que pode atuar de forma tática, mantendo os tempo de deslocamento da FT e protagonizando missões, bem como ter uso estratégico, conquistando uma dada população com sua capacidade de prover uma região com infra-estrutura que apoie sua subsistência.

A Eng Bld tem à disposição uma vasta coleção de veículos especializados, tão grande quanto existam técnicas empregadas por esta arma.

Introdução
           
A Arma de Engenharia assumiu novas atribuições na guerra moderna, porém suas antigas atribuições permanecem, sendo que a cada conflito mais e mais se espera dela e tarefas inéditas vão sendo adicionadas ao seu leque e competências, sob o ponto de vista do comando de FTs blindadas.
           
Na chamada Guerra Assimétrica, a parte dita “fraca” vai empregar todos os meios para  negar à parte “forte” o uso da potência de fogo superior e da manobra. Como consequência disto, o Teatro de Operações (TO) passou a incluir áreas urbanas, além dos espaços abertos. Mesmo assim, a força “forte” se mostrou capaz de derrotar o adversário, mas o custo em vidas de não-combatentes, decorrentes disto, acabou por gerar dramas morais e uma reação mundial contra este tipo de operação. Um dos casos mais emblemáticos do custo da retomada de áreas urbanas por forças armadas é da Batalha de Manila, na Segunda Guerra Mundial, onde o Exército Americano desalojou, após um mês de combate, os defensores japoneses, ao custo da destruição da cidade e da morte de estimados 100.000 filipinos.
           
No pós-guerra, com todos os grandes exércitos do mundo apoiando seu poder ofensivo em FT blindadas, as diversas doutrinas geralmente determinavam que as forças blindadas evitassem qualquer área urbana ao máximo, limitando-se ao desbordamento ou envolvimento destas. Mas um novo tipo de cenário surgiu, na Chechênia e no Oriente Médio, e pode ser entendido na sua plenitude no trabalho general inglês John Kiszely, onde o inimigo retraiu justamente para as áreas mais povoadas e com o passar do tempo dispersou suas forças em pequenos grupos alojados em hospitais, escolas, prédios residenciais e toda instalação contra qual o uso de armamento pesado pudesse ser classificado como crimes de guerra, em uma livre interpretação, típica da grande mídia, da Convenção de Genebra. Assim o lado dito mais “fraco” se defende e tenta anular a superioridade de potência de fogo, mobilidade e tecnologia, do lado mais “forte”.
           
Para vencer este impasse, causado pelo impedimento de usar livremente os fogos de artilharia e manobras do elemento blindado, uma nova doutrina de emprego vem surgindo, que leva em conta a necessidade de se dominar áreas urbanas, sem poder contar com emprego da Artilharia “estatística” (aquela que bate indiscriminadamente uma área, não um ponto) nem massa de blindados manobrando. Seu emprego se baseia no uso das frações da tropa, apoiadas por suas viaturas em conjunto com tropa especializada de Engenharia e apoio de fogo vindos de CCs. Sem a Eng Bld, o cenário se torna o de impasse, baixas excessivas e derrota estratégica.
           
O novo cenário apresentado para as forças convencionais, forçadas a lutar uma guerra assimétrica, tornaram imperativa a presença da Engenharia de Combate Blindada não mais como elemento orgânico da Bda Inf Bld ou Bda Cav Bld e sim como parte integrante da Força Tarefa, avançando dentro da formação da mesma, em proporção definida pela missão. Seus veículos especializados transportam o material necessário e combatentes.

Classes de Veículos Empregados pela Engenharia Blindada
           
Diversos veículos são empregados pela Engenharia de Combate, mas este trabalho só ira abordar, e superficialmente, aqueles que são geralmente encontrados nas unidades de Engenharia Blindada.



Veículos de Recuperação
           
São veículos empregados na recuperação de CC, CBTP e outras viaturas. Também são capazes de efetuar reparos em campo. Estas viaturas se encontram, geralmente, em poder das unidades particulares. Ou com a Arma de Material Bélico, no EB. Mas em outros países pode ser listado como de “Engenharia”, em geral. São projetados em comum com carros de combate aos quais prestarão assistências. A seguir alguns dos seus modelos mais comuns e entre parênteses os CC dos quais se originam: Bergepanzer (Leopards I e II), Leclerc DNG (Leclerc), BREM (T-80), M88 (M48 A2).



Lançadores de Pontes
           
Projetados para permitir o rápido lançamento de pontes metálicas, para cruzamento de vãos, fossos e obstáculos relativamente estreitos (pontes tem até 30 m de comprimento). Podem ser feitos a partir de cascos de CC ou não. Seus modelos mais comuns são: Biber e PSB-2 (Alemanha), Tagash (Israel), Titan (UK), M60 AVLB e M104 Wolverine (EUA).



Movedores de Solo e Obstáculos Naturais
          
Recentemente incorporados às FT, esses veículos podem ser adaptações de veículos civis ou cascos de CC, que receberam lâmina de “bulldozer”, retroescavadeira, etc... Existem diversos, e dentre eles: Caterpillar D9 (Israel), M-105 DEUCE e M9 ACE (EUA), Kodiak e Wiesent (Alemanha), IMR-2 (Russia), Terrier (UK).



Rompedores de Campos Minados
           
Veículos clássicos da Engenharia, os rompedores de campos minados tem entre os mais conhecidos: Patria HMBV (Finlandia), PUMA (Israel), ABV e SLUFAE (EUA).


Carro Blindado de Transporte de Engenharia
           
Aqui chamados de CBTE (Carro Blindado de Transporte de Engenharia), estes novos veículos tem sido desenvolvidos e enquanto seus conceitos não são incorporados na geração seguinte de veículos, se destacam pela natureza improvisada e adaptativa. Um exemplo pode ser o CBTP “Nagmachon” israelense, que ao centro recebeu uma torre fixa e alta, onde seteiras e sensores permitem tanto a imobilização de explosivos improvisados (IED) como a caça à franco atiradores inimigos – esta segunda função se torna importante visto que uma tática comum de tropas irregulares é fustigar, e mesmo impedir o trabalho, equipes de desarme de IED através de seus atiradores, atrasando o movimento – o que causa alto custo para o atacante, a um baixo custo para o defensor.


Engenharia Empregada para o Controle dos Tempos
           
Todo o esforço hoje empreendido em relação à Engenharia Blindada, no tocante à guerra assimétrica, visa dotá-la de meios que mantenham a FT em movimento e cumprindo suas missões, nos tempos previstos. Desta forma, ela recebe também viaturas blindadas, com capacidade de resistir ao ataque de qualquer armamento tático do adversário, as CBTE anteriormente listadas. Suas viaturas transportam combatentes de Engenharia, especializados nas missões descritas, até a proximidade dos alvos ou regiões de deslocamento que possam estar bloqueadas pelo inimigo. E oferecem o mesmo apoio dos CBTP, porém sem contar com torres automáticas de tiro, somente seus sensores e capacidade de transporte seguro.
           
Todo o exército moderno que pretenda ser capaz de obter vitórias estratégicas e não apenas táticas, deve contar com uma Engenharia Bld capaz de manter reduzido o tempo de deslocamento das FT. Da mesma forma, o inimigo vai empregar todos os meios à sua disposição para forçar as FT a aumentar este tempo, causando um número constante de baixas na força atacante, visando provocar o uso pesado e indiscriminado de artilharia e outros meios de destruição, quando a FT tenta forçar a volta do movimento.
           
Como dito, nota-se o emprego de recursos de baixo custo pelo defensor, como os IED, usados de maneira a causar danos de alto valor para o atacante, como a perda de vidas e o aumento dos tempos.



Mantendo a Velocidade de Deslocamento da FT
           
Uma das características da guerra assimétrica contemporânea é a necessidade de superar obstáculos físicos durante todo o conflito. Não superados em velocidade condizente com as velocidades da Era da Informação, estes obstáculos físicos podem se transformar em alicerces para obstáculos político-estratégicos. Desta forma, as vias que poderiam ser empregadas para deslocamento da FT certamente estarão repletas de carcaças de veículos destruídos, blocos de concreto remanescentes de construções demolidas etc, entremeados com Dispositivos Explosivos Improvisados (IEDs) e minas terrestres. A remoção deste entulho e a desativação/destruição dos IEDs tem que ser feita por veículo especializado, capaz de atuar tanto como retroescavadeira, por exemplo, como também CBTP. Esse tipo de missão irá se repetir à exaustão, junto com as demais já hoje à cargo da Arma. A missão da Engenharia pode ser definida então como manter a velocidade de deslocamento da FT.



Mantendo a Velocidade de Deslocamento da Infantaria Desembarcada
           
Uma vez desembarcada e atuando em uma área densamente povoada ou nos arredores semi-destruídos de uma cidade, a Infantaria Blindada costuma ser detida pela presença de atiradores, observadores que disparam armadilhas e/ou IEDs e mesmo pela presença de bandos desorganizados do adversário.
           
Sendo esta a maior fonte de baixas do Exército da Israel, na chamada Guerra do Líbano, surgiu naquele país uma nova doutrina para emprego da Engenharia, e então as tropas passaram a contar com equipes que abrem furos em paredes de construções usando explosivos moldados para tal. Desta forma a tropa penetra em um quarteirão pela parede da primeira construção, limpa a área de combatentes inimigos e avança para destruir a parede na extremidade oposta da primeira construção, adentrando a segunda e repetindo o processo, permitindo deslocamento com segurança pelo grosso da tropa, que é composta de infantes desembarcados. Desta forma, o número de combatentes perdidos para franco-atiradores, explosivos etc, cai para um número mínimo. Este tipo de atuação, pela Eng Bld desembarcada, permite que toda a missão mantenha o cronograma, vital na guerra assimétrica.
           
O emprego desta tática porém deve ser balanceado, posto que, enquanto reduz as baixas amigas – melhorando a imagem “dentro de casa”, não será livre de questionamentos, dado que, ao passo e ao cabo de sua execução, destruirá um grande número de construções, geralmente moradias civis, no caminho até o último ponto de resistência adversária.
          
Tropas de Elite de Engenharia
           
O confronto do tipo assimétrico adquiriu tal proporção no Oriente Médio, que levou o Exército de Israel a criar uma unidade de Forças Especiais de Engenharia, o Sayeret Yahalom. Embora não exista literatura técnica suficiente disponível sobre a unidade, sabe-se que ao ser organizada na forma de um “Sayeret”, trata-se de uma unidade de elite. Diz-se que esta unidade se preparou por um longo tempo para enfrentar os cenários de um eventual confronto na Faixa de Gaza, mas obviamente, nada é confirmado. Porém, a lição que fica é que existe a necessidade de se ter uma tropa de Engenharia capaz de executar estas missões aqui descritas.



Novos Meios
           
Uma das grandes soluções tecnológicas criadas para a guerra assimétrica e posteriormente  incorporada aos exércitos regulares é o uso de VRC (Veículos Remotamente Controlados), que operados à distância permitem que atividades mais perigosas realizadas pela tropa sejam realizadas por robôs, com graus variados de sofisticação. Desde os mais simples, portáteis, que podem ser lançados manualmente por um combatente, até aqueles dotados de níveis de decisão próprios. A variedade destes equipamentos é grande, com novos fornecedores surgindo constantemente. No exército de Israel, parte do patrulhamento ao longo das cercas que separam o país da Síria e da Faixa de Gaza é realizado por pequenos robôs. Outro meio já testado na Operação “Protective Edge” foi o uso de radares portáteis, que permitem “ver” através das paredes. Em 2014 este equipamento só estava disponível para unidades de elite atuando naquela região, hoje já se discute distribui-lo para a tropa regular de Engenharia.

Engenharia Empregada Estrategicamente
           
Assim como o papel tático preponderante no campo de batalha moderno e assimétrico, as possibilidades de prestação de serviços à comunidade, através de provimento de estruturas e ações de saneamento básico, construção de moradias, abertura de estradas e ferrovias etc, se tornam um vetor estratégico da Engenharia na guerra assimétrica. Isto é materializado por um velho ditado português que diz que “a revolta começa onde acaba a estrada”. Assim sendo, a mesma Engenharia que destrói no nível tático, constrói no estratégico, colaborando para conquistar “corações e mentes”, sendo esta segunda missão incumbência da Engenharia de Construção e não à de Combate.

Seleção de Equipamentos
           
A solução clássica adotada por Israel para dotar seu Exército de blindados de Engenharia capazes de fazer parte de uma FT e ao mesmo tempo cumprir as missões da arma, tem sido a de transformar antigos CC em novos blindados de Engenharia. No Brasil, a opção recai sobre a compra de blindados alemães de Engenharia, da família Leopard, equipados com os equipamentos necessários ao cumprimento da missão. Pelo que se observa nas campanhas russas (Chechênia), norte-americanas (Iraque e Afeganistão) e israelenses (Faixa de Gaza e Líbano), operar com proteção blindada menor que a de um CC típico tornará inócua a tentativa da Engenharia Blindada de executar suas missões, e a mesma sofrerá baixas incapacitantes durante as tentativas.

Conclusões
           
A possibilidade de enfrentamento na forma de uma guerra assimétrica se tornou presente para todas as Forças Armadas do mundo, com o aumento no número dos ditos Estados Falidos, movimentos separatistas ou de afirmação nacional, grupos terroristas e associações em rede de diferentes tipos de entidades. Nesta forma de conflito observa-se que:
          
  • O lado “fraco” irá usar de todos os meios para paralisar o movimento da tropa “forte”, enquanto tenta causar baixas politicamente injustificáveis, tanto no lado “forte” quanto no seu próprio lado, de forma a causar derrota no plano estratégico, ao apresentar ao mundo a força atacante como criminosa de guerra.
  • A Engenharia Blindada assume papel primordial, ao passar a ser elemento orgânico das FT, responsável pela manutenção da indispensável velocidade de manobra e consequentemente dos tempos reduzidos, que por sua vez irão colaborar para reduzir possíveis danos político-estratégicos.
  • Existem veículos que podem ser adaptados para as novas missões requeridas da Arma de Engenharia e na falta destes, CCs não mais em uso podem servir de base para veículos especiais de Engenharia.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Guerra Mecanizada - O Grupo de Combate de Infantaria Blindado *113



DEFESANET

Prof. Eduardo Atem de Carvalho, Ph.D
Universidade Estadual do Norte Fluminense

Prof. Rogério Atem de Carvalho, D.Sc
Instituto Federal Fluminense


Resumo
           
O campo de batalha contemporâneo apresenta características de guerra assimétrica, onde o tempo é o fator crucial. E recai sobre uma das unidade básicas blindadas do Exército a responsabilidade de dominá-lo.

Para tal é condição fundamental o emprego de um Veículo de Combate de Infantaria (IFV) que apresente características de proteção similar a um Carro de Combate (CC) e ainda ofereça apoio de fogo, ressuprimento, informes sobre posicionamento do inimigo e possibilidade de retração sob fogo. Sem esta capacidade um exército perde o controle do tempo e por fim sofre uma derrota no nível estratégico, ainda que tenha sido capaz de vencer em nível tático.

O preço pago pela adoção destes IFVs pode ser a perda da capacidade expedicionária em um primeiro momento, das Brigadas de Infantaria Blindada (Bda de Inf Bld), até que toda a linha de transporte e suprimento possa ser adequada aos novos meios.

Breve Histórico
           
A imagem romântica e obsoleta que se tem da Infantaria Blindada (Inf Bld) vem da Segunda Guerra Mundial: os infantes progredindo ao lado ou em cima dos Carros de Combate (CC) em território inimigo. Romântica porque escondia o perigo imenso de se estar próximo a um objeto que seria alvo prioritário do inimigo e obsoleta porque aferra o infante à percepção do combate exposto, desembarcado, conquistando o terreno e sofrendo pesadas baixas no processo.
           
O surgimento das armas Anti-Carro (AC) e o emprego de minas magnéticas para a destruição dos veículos, ainda naquele conflito, deram origem a todos os dispositivos AC hoje existentes. Tentativas de sobreviver a estes também. Foguetes com ogivas (ou cargas) ocas derivam do Panzerfaust alemão, as blindagens compostas apareceram com o uso de concreto corrugado, usado para impedir que soldados russos fixassem minas AC magnéticas nos CC alemães e por fim as munições de alta velocidade com os canhões AC.
          
Naquele conflito a Infantaria dispunha de pouco mais do que veículos tipo meia-lagarta protegidos por chapas de aço simples nas laterais e abertos em cima. Sua função era meramente transportar os combatentes no mesmo ritmo e pelo mesmo terreno que os CC, protegidos contra estilhaços de obuses e fogo de armas portáteis. Em caso de confronto entre CCs, a Infantaria permanecia na retaguarda.

Em caso de fogo de armas AC - na forma de lança-rojões, ou passagem por regiões habitadas, com ruínas ou concentrações urbanas, não era raro que os combatentes passassem para o topo dos CCs e lá ficassem protegendo a coluna até a mudança de cenário. Nas operações onde a primazia do esforço cabia à Infantaria, a exposição ao armamento inimigo era mais intensa ainda. A proporção típica de uma divisão Panzer alemã era 3:1 entre efetivos equivalentes a Btls de Inf Bld e RCCs (usando a nomenclatura brasileira). Essa proporção se revelaria vitoriosa ao longo do conflito, ao contrário da Britânica, era quase que exclusivamente composta de CCs.

Cenário Contemporâneo
           
No Pós-Guerra, os conflitos no Oriente Médio têm servido de laboratório em larga escala para estudos de emprego de formações blindadas. Outros conflitos, onde o emprego de blindados foi em menor escala, como a Guerra Indo-Paquistanesa e no Vietnam, e mais recentemente a Chechênia, tem referendado os novos conceitos surgidos dos conflitos Árabes-Israelenses.

Evoluiram em paralelo os mísseis e foguetes AC equipados com ogivas ocas. Os projetistas e estrategistas começaram uma corrida CC x Ogiva, com o aumento da espessura e adição de camadas de materiais compósitos às blindagens dos CCs a cada aumento de potência e capacidade de penetração das novas ogivas. Enquanto isto, os veículos destinados à Infantaria continuavam presos aos velhos paradigmas da Segunda Guerra. O exemplo mais comum no ocidente é o M-113, de fabricação americana, leve, barato, fácil de operar, feito de alumínio, expedicionário e pouco útil no campo de batalha contemporâneo e híbrido.
      
Na atualidade, os exércitos são forçados a se preparar para conflitos de natureza convencional que podem criar conflitos assimétricos, ou vice-versa. De novo, o Oriente Médio é o melhor laboratório de estudos e suas conclusões não podem ser ignoradas, sob pena de se conseguir custosas vitórias táticas nos campos de batalha ao mesmo tempo que se sofre fragorosa derrota estratégica.


           
Compreendendo a Distância Crítica
           
Dentro do conceito observado nos conflitos recentes ocorridos no Oriente Médio e Asia, surge a Força Tarefa (FT) Infantaria/Carro de Combate/Engenharia de Combate e nesta, cabe basicamente a Infantaria a destruição das armas AC e de qualquer indivíduo cujas ações possam representar ameaça à integridade da Força Tarefa. À Engenharia cumpre-se remover qualquer obstáculo que atrase ou paralise o movimento da FT. E por fim aos CC, cabe romper a linha adversária, isolando e destruindo qualquer meio móvel ou fixo do adversário, seja na guerra simétrica ou assimétrica.

Nos campos de batalha da Segunda Guerra, o infante combatia a poucos metros do CC, fazendo uso do telefone ou mesmo gritos para informar à guarnição da viatura sobre ameaças e possíveis alvos. Com o passar das décadas, os mísseis foram afastando a Infantaria Blindada cada vez mais dos CC, de centenas de metros para diversos quilômetros. Operados por 2 ou 3 combatentes, uma posição de mísseis pode receber o apoio de arma automática e fazer uso do terreno, em uma combinação onde um número reduzido de homens pode ser capaz de imobilizar uma força tarefa atacante, levando sua progressão a um impasse e causando grande atraso até a destruição da arma AC.

Um conjunto desta posições, infiltradas em uma área densamente urbana, é o pesadelo do comandante de força blindada moderna, com repercussões estratégicas e políticas incontroláveis e em constante aceleração, fora do campo de batalha. O processo de impedir que isto ocorra se apoia em diversos fatores, todos decisivos, no pequeno escalão:
  • características do IFV;
  • efetivo, armamento e comunicações do GC; e,
  • apoio de fogo local.          

No campo de batalha contemporâneo não há mais lugar para uma Infantaria que se retire do mesmo diante da presença de CCs, pontos de resistência considerados “duros”, ou mesmo áreas com presença de armas automáticas, mas para tanto, é preciso empregar os novos IFVs descritos anteriormente.


           
Características das Armas AC
           
Os IFVs sofrem ameaças ao seus deslocamentos e integridade de diversas fontes, e devido à natureza da guerra contemporânea qualquer forma de atraso ao movimento das colunas blindadas implica em tempo maior de duração do conflito, aumento de baixas e crescente oposição interna e externa às forças amigas. Portanto meros fossos AC podem se tornar armas estratégicas em uma luta onde o campo de batalha físico é apenas uma parte dela, na guerra assimétrica ou não convencional. Assim sendo, temos as seguintes categorias de armas AC:
  • Foguetes  - projéteis relativamente simples, providos de ogiva em formato de carga oca revestida por cobre, tem sua capacidade de perfuração associada com o diâmetro da ogiva, principalmente. Tem baixo custo e não são guiados após o disparo. Os mais simples são os antigos RPG-7 russos e os mais modernos os Panzerfaust 3 alemães. Um mero RPG-7, equipado com granada tipo PG-7V pode perfurar 260 mm de aço balístico plano rolado. No outro extremo, o mesmo lançador, usando uma moderna granada em tandem tipo PG-7VR, pode penetrar até 750 mm de aço, segundo seu fabricante. Estes dados parecem ser corroborados por fontes ocidentais. Já os avantajados Panzerfausts 3 podem chegar a penetrar 900 mm de aço, destruir bunkers e devastar regiões próximas ao alvo. O alcance de ambos é de cerca de 200 m, embora as granadas-foguetes atinjam 900 m.
  • Mísseis – nascidos na Segunda Guerra Mundial, com o Ruhrstahl X-7 “Chapeuzinho Vermelho”, os mísseis anti-carro evoluíram continuamente após esta. Neste campo, das armas AC, diversas gerações de mísseis filo-dirigidos (guiados por fios) foram introduzidos. Sendo os mais famosos: SS-10 francês, Malkara britânico-australiano, Milan franco-italiano etc. Em princípio o alcance não ia muito além de cerca de 1000 m e a maior parte dos mísseis atingia o solo ao invés do casco dos CCs. Mas as gerações passaram e hoje os nomes conhecidos são Spyke, Javelin, Kornet E etc. Este último, de fabricação russa, tem posto em cheque a noção de que CCs ocidentais de última geração resistem a impactos de mísseis AC no arco frontal. Seu alcance máximo é de 8 km.
  • Explosivos Improvisados (IED) – Armadilhas nos campos de batalha não representam novidade, mas o acesso à arsenais de governos e o apoio de países simpatizantes faz com que pequenos grupos em luta tenham acesso a explosivos de grande potência e em grande quantidade. Na invasão do Iraque os americanos lidaram com granadas de artilharia e obuses em profusão, obtidos dos paióis dos antigo exército iraquiano, e que eram escondidos nas margens de rodovias e passagens movimentadas do país, causando explosões tão fortes, que eram capazes de despedaçar as viaturas Humvee, caminhões, IFVs Bradley e mesmo imobilizar alguns CC Abrams M1. Toda viatura que se coloque hoje como sendo capaz de operar em cenários de guerra assimétrica ou convencional, terá que ser preparado desde a concepção do projeto para lidar com isto.
  • Obstáculos – Tão antigos quanto as guerras, continuam sendo usados com sucesso. E mais ainda agora, onde cada segundo a mais de duração do conflito conta contra a força regular. Ressalta dramaticamente o fato de que a Engenharia de Combate Blindada, agora parte da FT moderna é absolutamente necessária para que a velocidade da coluna e os tempos de execução não sejam alterados.



Um Cenário Hipotético de Emprego
           
Um cenário simples, hipotético, mas baseado em relatos sobre confrontos recentes, seria como à seguir. Em uma região densamente povoada o inimigo irregular se oculta em casas, hospitais, escolas, igrejas etc. Espalhadas por esta região se encontram um número restrito de combatentes inimigos, porém existe uma arma automática, diversos fuzis AK-47, RPG-7 e uma unidade de mísseis AC, com alcance útil de 3 km. Fosse um conflito tradicional, o poder devastador da Artilharia entraria em ação e a coluna Bld continuaria seu avanço até o rompimento da linha adversária, mas neste caso, o emprego da artilharia é proibido por razões políticas, sendo o apoio de fogo máximo disponível o de morteiros 120 mm embarcados em viaturas tipo M-113. Mas apenas com autorização do escalão superior. A tropa de Inf Bld portanto estaria imobilizada, sujeita a pesadas baixas no nível de fração e subunidade. E o tempo escoando sem uma vitória decisiva, contribuindo para derrota estratégica, mesmo que diante de uma vitória tática posterior.

As soluções que hoje se apresentam vem de Israel e Rússia e convergem para o uso de IFVs com características já descritas. A solução fica da forma: o IFV deve ser capaz de resistir a impactos diretos por mísseis e foguetes AC, permitir o desembarque seguro da tropa, avançar até a distância de emprego de suas próprias armas, que sendo de tiro direto e menor poder de destruição, tendem a ocasionar menos danos colaterais. Então deve engajar o inimigo, fornecendo ao infante agora desmontado apoio de fogo decisivo, além da possibilidade de retração rápida sob fogo, ressuprimento de munição e víveres, rede rádio extendida e inteligência, através do uso de seus sensores montados na torre automatizada.

As torres ELBIT UT-30BR e REMAX são exemplos disponíveis no Brasil destas torres automatizadas. É questão de tempo até que os Exércitos regulares sejam capazes de reproduzir cenários semelhantes em guerras convencionais, onde o emprego tático da Artilharia será bastante limitado, porém de alta precisão.



O GC e os Meios Necessários Para Cumprimento da Missão
           
Desta forma, recai sobre o menor elemento individual da Inf Bld, o Grupo de Combate (GC), a responsabilidade de vencer o conflito, da mesma forma que nas guerras assimétricas “clássicas”, ou de quarta geração.
           
Quais são as missões que podem ser determinadas para um GC de um pelotão de Inf Bld? A partir da missão básica da Infantaria, no contexto de uma Força-Tarefa (FT) blindada, pode-se argumentar que uma das missões básicas será a de proteger os CC dos ataques da Infantaria inimiga. Na Ofensiva, a missão da Infantaria é a de imobilizar/destruir as armas AC do inimigo, sejam elas posições de mísseis, foguetes não guiados e elementos operando/implantando Dispositivos Explosivos Improvisados (IED). Na Defensiva, o oposto ocorre, devendo se evitar o engajamento da força blindada decisivamente e de forma prematura, cabendo a Infantaria garantir a mobilidade da coluna ante armas AC.
           
Na sua fração Grupo de Combate, diversos autores e instituições apresentam suas posições quanto ao tamanho ideal desta fração, obviamente determinado pelo tipo de missão a ser cumprida. A Inf Bld pode usar a mesma formação da Inf Mec. Os IFVs atuais levam um grupo único de 6 a 7 combatentes. Este número foi determinado para o cenário de guerra simétrica. Os israelenses consideram insuficiente para a nova realidade da guerra assimétrica e o Namer transporta 9 combatentes.

O novo gigante russo Armata T-15 IFV (não confundir com o CC da mesma família, T-14) vai pelo mesmo caminho. Partindo do principio básico de que a força blindada será contida por outra força blindada do inimigo, ou será empregada em uma região densamente defendida e armadilhada por um inimigo não-regular, a presença de um GC de 9 homens, divididos em duas esquadras, parece ser mais efetivo do que os GC compostos de uma esquadra só. Uma das esquadras porta a arma automática do GC, sua munição extra e explosivos para “atravessar” paredes; a outra porta uma arma AC de emprego geral tipo AT-4, para remoção de pontos “duros” sem a destruição excessiva causada pelo apoio de fogo de artilharia clássico.

Haverá também um Cb com curso básico de caçador, operando um fuzil (fz) tipo M-24. Essa combinação permite que uma esquadra cubra o avanço da outra nos ambientes de guerra regular ou irregular. Na viatura permanecem, o comandante da viatura, o operador da arma automática pesada remota (metralhadora .50 ou canhão 30 mm) e seus sensores e o motorista, que a mantém em segurança, com as usuais técnicas de posicionamento.
           
A falta de blindagem nas viaturas americanas disponíveis, devido à prematura declaração de vitória e remoção do efetivo blindado da região, na Segunda Guerra do Golfo (ou Invasão do Iraque), levou a um número elevado de baixas, o que só foi contido com a entrada em serviço dos chamados MRAP (Mine-Resistant Ambush Protected) Vehicles, ou seja, em livre tradução: Veículos Protegidos Contra Emboscadas e Resistentes à Minas. E mesmo assim estes tiveram que receber a chamada blindagem “gaiola” para sobreviver aos ataques dos modestos RPG-7.
           
No auge da insurgência no mesmo conflito, o Exército Britânico patrulhava as áreas vermelhas com CC Challenger 2, que sofriam desgaste e não eram adequados à missão, mas sobreviviam aos ataques de todos os tipos.


           
           
Os debates sobre a atuação de Ariel Sharon no contra-ataque sobre Suez ainda geram intensa polêmica em Israel, dada a colossal perda material e humana ocorrida decorrente daquela vitória. Mas o que teria de fato ocorrido se as vtr M-113 da Inf Bld tivessem chegado a tempo naqueles dias? A pista pode ser achada a partir da chamada Guerra do Líbano, onde os israelenses passaram a chamar o M-113 de “Mobile Crematorium”, dado ao fato de que um simples disparo de foguete tipo RPG-7 podia causar a morte de diversos ocupantes do veículos e sua inutilização.

Pode-se imaginar, então, o efeito devastador de um míssil AC. E quão ameaçador é um RPG-7 no cenário sul-americano? Basta lembrar que o tubo lançador custa cerca de US$ 200 e cada granada (no mercado negro do Afeganistão, por exemplo) a modestíssima quantia de US$ 120. O preço oficial fica obviamente bem abaixo. Qualquer governo ou grupo criminoso/revolucionário pode adquirir lotes desta arma, se for ao contato certo.
           
A partir desta amarga realidade e sem verbas para adquirir ou fabricar novos veículos que pudessem sobreviver nos campos de batalha, os israelenses tentaram transformar seus M-113 em viaturas capazes, mas foi em vão. A natureza do M-113, feito de duralumínio, impede que as modificações requerida fossem feitas e estas acabariam por eliminar o próprio M-113 no processo, gerando uma nova viatura, caso todas as necessidade básicas fossem atendidas.

A solução encontrada foi aproveitar os cascos dos CC retirados da linha de frente ou capturados nas diversas guerras e escaramuças anteriores: Centurion britânicos, M-48 americanos e T54/55 russos. Todo o esforço foi feito para se manter a relação peso/potência na faixa dos 22 HP/ton, valor considerado como operacional para os terrenos da região - valores menores se revelaram ineficientes. Para pressão sobre o solo, algumas fontes apresentam este valor como sendo da ordem de 1.0 kgf/cm2.
           
As modificações básicas consistiram em remover a torre e cobrir o orifício deixado, reposicionar o motor e a transmissão de forma que houvesse um espaço para saída pela traseira, reforçar a blindagem no arco dianteiro, substituir o motor por um mais potente. Nascia assim os “Achzarit”. O fabricante alega que no arco frontal a viatura é capaz de resistir a disparos de munição cinética (APDSFS) até no calibre de 125 mm russo. Seu peso oscila em torno de 44 toneladas. As limitações e vantagens deste tipo de solução podem ser encontradas em publicações disponíveis ao público.

O colossal Namer. O IFV israelense pesa 60 ton e usa o casco do Merkava, basicamente à prova de todas as armas AC atualmente existentes, podendo porém ser imobilizado e confrontado pelo Kornet E russo.
  
Os Achzarit estão sendo substituidos nas linhas de frente pelos “Namer”, que são fabricados à partir do casco do CC Merkava, pesam cerca de 60 ton e incorporam todas as modificações e modernizações de seus sucessores, mais um sistema autonômo (ativado por inteligência artificial) de proteção contra misseis e foguetes AC.

Os russos chegaram às mesmas conclusões após a sangrenta batalha por Grosny, em 1995. A partir deste ponto, se iniciou um esforço para introdução de IFVs pesadamente blindados, capazes de suportar os mesmos impactos que os CC, dando origem ao T-15, já mencionado. O mesmo também pode ser dito das forças envolvidas na invasão do Iraque, na posterior “pacificação” daquele país. Com diversos estudos em andamento, porém sem resultados palpáveis.
           
No Brasil, o CC atualmente disponível é o Leopard 1A5, que apresenta relação peso/potência de 19.8 HP/ton e exerce uma pressão sobre o solo de 0.88 kgf/cm2. O CC Leopard 2, por exemplo, bem mais pesado, tem a relação peso/potência de 27 HP/ton e exerce pressão sobre o solo de 0.83 kgf/cm2, menor que a do Leopard 1A5. Estes valores parecem ser adequados aos terrenos encontrados nas Hipóteses de Emprego (HE) existentes. Então podem ser tomados como base para um futuro projeto de IFV brasileiro.



Peso x Expedicionaridade
           
A contrapartida da opção por um IFV que seja capaz de cumprir as missões da Infa Bld no cenário descrito pode ser um comprometimento na capacidade conhecida pelo Exército Brasileiro como “Expedicionaridade”, ou seja, peso compatível com a capacidade dos meios de transporte aeronavais, manutenção modular e simplificada, munição de calibre comum com os aliados etc. Para minimizar este efeito, algumas soluções já despontam no horizonte. A principal parece ser o desenvolvimento de sistemas automáticos de interceptação de projéteis de baixa velocidade, já em operação inicial em Israel ou protótipo na Alemanha (Puma) e Rússia (T-15).

Com isso, a necessidade da blindagem composta, de gaiola ou similar, seriam eliminadas, reduzindo em muito o peso total do IFV.  Outras opções exploradas simplesmente abrem mão da blindagem extra, empregam torres automatizadas, reduziram tamanho ao mínimo e aceitam baixas decorrentes da opção, como Inglaterra (Warrior) e Alemanha (Wiesel). Para o Brasil talvez a opção seja a especialização, reservando a missão descrita neste trabalho para as Bda de Inf Bld, deixando às Bda Inf Mec, o ônus do pronto emprego, até que as Bda Inf Bld possa ser deslocadas para apoiá-las.
           
Conclusões

As conclusões que se pode chegar, do ponto de vista de um observador distante, são as que se seguem:
           
  • Os campos de batalha modernos exigem viaturas de transporte que suportem impactos diretos de CC inimigos, foguetes, mísseis, explosivos improvisados, minas terrestres, armadilhas etc.
  • Para atender atender às exigências do campo de batalha contemporâneo, o IFV deverá compartilhar com o CC o casco e a blindagem do mesmo, com todas vantagens e desvantagens que isto acarreta.
  • A busca de IFV expedicionário, mas sem as características descritas neste trabalho, implicará em uma viatura de emprego limitado, como ressaltado em conflitos recentes.
  • A relação peso potência necessária se encontra na faixa de 20 HP/ton e a pressão sobre o solo não deve exceder 0.8 kgf/cm2.
  • O IFV deve ser visto como um posto de comando e apoio móvel, atuando bem à frente, junto ao GC, oferecendo apoio de fogo, informes de posicionamento do inimigo através de seus sensores, proteção imediata em caso de recuo ou avanço inesperados, ressuprimento e comunicações com escalão superior em caso de perda de comunicação local.