O Combate de infantaria é um empreitada dinâmica,
perigosa e violenta, e o combatente deve reagir a ele de forma a preservar a
integridade física sua e de seus companheiros, e ao mesmo tempo saber aplicar
sobre o inimigo a fração de poder militar que lhe compete em tempo real. O
poder militar é aplicado em combate através do fogo, que deve ser desencadeado
pelo indivíduo obedecendo a critérios internalizados na mente
do soldado através de seu treinamento, maximizando seus efeitos e evitando
colocar-se em situação de vulnerabilidade, através de regras pré-definidas, consagradas pela doutrina, porém sem tolher a iniciativa de cada um que deve
ser incentivada. O treinamento constante e adequado elucidará, na mente do
combatente, a diferença entre a desejável iniciativa e o excesso dela que pode resultar em imprudência.
Ao empregar seu poder de fogo, o infante deverá procurar
fazê-lo seguindo as diretrizes de seu comandante imediato, tendo consciência de
onde estão ou estarão seus companheiros e minimizando sua exposição,
maximizando a segurança de todos. A prioridade de fogo deverá visar a ameaça
mais imediata e perigosa, através do emprego da arma mais adequada à situação e
sem dispensar excesso de munição sobre um alvo inutilmente. O emprego combinado
de 2 ou mais armas sobre um mesmo alvo poderá ser o mais adequado em
determinadas situações, onde a massificação dos disparos trará efeitos
superiores e resultados mais satisfatórios. Deve-se ter ainda em mente a
disponibilidade de munição e um plano de contingência para o caso desta
escassear. Cabe a todos e especialmente ao líder zelar por estas práticas em
observação aos princípios da massa, proteção e economia de meios.
O líder controlará os fogos de seus subordinados,
seja através de diretrizes temporárias, que podem ser de ordem tática, técnica
ou legal, sempre dentro das Regras de Engajamento da situação. Algumas razões
para este controle são a quantidade limitada de munição, a disciplina de
segurança do local em questão e a disciplina de sigilo da operação, entre
outros.
Os fogos podem ser de efeito massificado ou de precisão,
e a situação tática ditará qual deles usar. A metralhadora e as granadas são os
responsáveis pelo maior volume dos fogos, a aos fuzis caberá a função de cobertura. Aos alvos mais “difíceis” reserva-se o fogo dos lança-rojões, e
quando assim o exigir a complexidade da situação ou pela insuficiência das
armas orgânicas, solicita-se o apoio dos morteiros, artilharia de campanha e
naval, carros de combate e aviação de apoio. Os fogos de precisão são
geralmente reservados aos atiradores com fuzis especiais e seus aparelhos de
pontaria mais apurados, e na ausência destes aos fuzileiros com fuzis padrão. Um grupamento qualquer, operando no terreno, tem um ganho significativo em sua segurança se cobertos pelo fogo de 1 ou 2 atiradores de precisão posicionados em um lugar elevado a retaguarda deles.
O combate requer superioridade de fogos, que é obtida
através da massificação deles em pontos críticos, através do emprego combinado
dos meios disponíveis, na busca de resultados decisivos. Ao entrar em combate,
deve-se fazê-lo com violência e objetivo, a fim de se alcançar resultados
decisivos em tempo mínimo, poupando meios e reduzindo os riscos. Os fogos devem
ser aplicados sempre em parceria com a manobra, atirando para poder manobrar e
manobrando para posicionar-se nos melhores locais para fazer fogo. Na busca da
superioridade de fogos os fuzileiros atiram em setores predefinidos para cada
um, com campos de tiro sobrepostos, apoiando-se mutuamente, combinando armas de
tiro tenso e curvo, sempre focando em pontos mais vulneráveis, com munição de
natureza variada de acordo com a situação tática. Alvos podem ser pontuais ou
de área, com cada um demandando a arma e munição mais adequadas.
Ao líder de infantaria caberá a avaliação dos fogos de
preparação, que devem ser requisitados sempre que disponíveis e adequados, de
forma a oferecer ao infante um alvo já debilitado. A artilharia de campanha, os
morteiros orgânicos, os carros de combate e a aviação tática estão ali para
isso, e devem ser usados. Seja no ataque ou na defesa, estes fogos de apoio
contribuem significativamente par reduzir os riscos e facilitar a sua manobra e
eficácia.
Os fogos de apoio devem ser inicialmente intensos,
prontamente ajustados e cronometrados para que cessem no tempo previsto. Seus
efeitos tendem a diminuir com o tempo pois o inimigo adapta-se a eles. Grandes
volumes entregues em tempo curto causam danos e choque máximos. Fogos longos
retardam o avanço e podem permitir ao inimigo reposicionar-se, recuperar-se e
reagir.
Os primeiros fogos devem ser concentrados de forma a
permitir o movimento, e para tal são definidos setores de fogo e corredores de
manobra, sempre procurando o centro de gravidade tático do momento. Neste
momento procura-se alcançar posições ocultas e cobertas, maximizando a proteção
da tropa, e ao mesmo tempo permitindo a instalação de boas bases de fogo. A
avaliação feita a partir daí definem as capacidades e intenções inimigas, a
partir da observação própria e de elementos de vigilância e reconhecimento. Por
fim, empenha-se junto ao inimigo o esforço decisivo com ações sincronizadas
entre os meios orgânicos e de apoio para aplicar o poder de combate necessário
a um desfecho favorável, rápido e procurando manter a integridade da tropa. Uma unidade que sofreu pouco atrito estará pronta para o próximo embate antes de outra mais "cansada".
Toda manobra, seja qual for seu porte contará com um
plano de fogo que levará em conta a situação tática e a natureza dos alvos, a
munição e os meios disponíveis, a necessidade de fogos não orgânicos e sua
duração, o uso de fumígenos e munição especial e os meios de comunicação.
Prioriza-se os alvos que representem maior ameaça e os mais próximos, levando
em conta o alcance útil de cada uma das armas disponíveis. Fogos excessivos
desperdiçam munição que pode fazer falta mais tarde. O uso de marcadores de
alvo (eletrônicos, IR, traçantes) é útil em situações de visibilidade limitada.
Os líderes e os operadores devem conhecer as
possibilidades e efeitos de cada tipo de arma e munição, de forma a melhor
avaliar seus efeitos sobre o alvo. Por exemplo: um ATGW com ogiva HEAT não pode
perfurar a blindagem frontal de um MBT moderno, mas pode sim danificar seu trem
de rolamento e imobilizar o veículo; metralhadoras médias são efetivas contras
veículos não blindados até 1000 m e lança-rojões até 450 m. O fogo deve ser
desencadeado o mais cedo possível, com as armas de maior alcance disparando
primeiro e forçando o inimigo a reagir o quanto antes, desembarcando e
impedindo que sigam seus planos. Deve-se usar cada sistema de armas dentro de
seu alcance efetivo, escalonando a profundidade do fogo, debilitando o inimigo
a medida que se aproxima, evitando que o combate aproximado seja contra um oponente organizado.
Ao fazer fogo os combatentes devem procurar manter o
mínimo de exposição, e quando o fizerem procurar os momentos em que o fogo de
cobertura estiver ativo, sempre fazendo com fogo efetivo, sem hesitações.
Dobras do terreno, sejam naturais ou preparadas, oferecem abrigo natural; e
engajamento pelos flancos e retaguarda, disparo de múltiplas posições e
disparos curtos e inesperados reduzem a exposição.
Saber onde está seu companheiro, sua tropa amiga, evita o
fogo amigo, bem como conhecer os planos de ataque e manter comunicações
constantes. Aos líderes cabe esta tarefa de coordenar seus comandados a fim de
evitar acidentes, orientando-os e sabendo onde estão cada uma de suas
subunidades. O campo de batalha moderno é multidimensional e muitas vezes não
existe “front” definido, exigindo uma coordenação espacial mais apurada de cada
elemento.
Durante progressões sob condições de visibilidade limitada pode-se
usar marcações térmicas ou por IR para sinalizar o progresso de cada fração,
evitando que frações adjacentes disparem umas contra as outras. Luzes químicas
podem ser ligadas em seqüência para marcar um corredor já percorrido, porém
deve-se assegurar que estas marcações não possam ser vistas pelo inimigo, por
exemplo, se ele dispuser de capacidade de visão noturna infravermelha.
Nevoeiro denso, chuva, tempestades de areia e o uso de
fumígenos pelo inimigo podem reduzir significativamente a capacidade do líder
de controlar os fogos diretos dos seus. Nesta condições deve-se fazer o
uso máximo do equipamento disponível como miras térmicas e sistemas de visão
noturna que permitem aos esquadrões manterem o contato com o inimigo como se o
engajamento fosse em dia claro.
Nada se faz sem um plano, e nele se considera todos os
ativos disponíveis, sempre com medidas alternativas para o caso de equipamento
ou pessoal ter sido colocado fora de combate. Capacidades redundantes e
ocorrências mais prováveis devem ser a diretriz principal, como por exemplo,
setores de fogo alternativos para o caso de elementos ficarem incapacitados.
O combate se vence pelo fogo bem administrado e efetivo, quebrando o poder de combate do inimigo e preservando a integridade dos meios a disposição e do pessoal que integra a tropa própria e aliada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário