sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

O Emprego de Veículos no Combate de Infantaria *225


Veículos de Combate de Infantaria

A Segunda Guerra Mundial demonstrou a necessidade de embarcar a infantaria em veículos dedicados, seja para cobrir as distâncias necessárias dentro do teatro de operações, acompanhar os carros de combate sem sacrificar sua alta mobilidade ou combater a partir de uma base de fogo móvel. A combinação de infantaria com veículos armados resultou em efeitos complementares com vantagens significativas, potencializando o poder de combate de ambos. A combinação do veículo com a infantaria proporciona um incremento mútuo no poder de fogo, mobilidade, proteção, capacidade no trânsito de informações e maior presteza na operação em terrenos difíceis. Além de servir como base de fogo encouraçada e transportadores de tropas, os veículos também servem como plataformas de suprimento e de evacuação médica.

Podem operar com a infantaria uma variedade de veículos, cada qual com características distintas, porem todos operam sob os mesmos princípios. Os veículos mais comumente usados junto a tropa de infantaria são o carro de combate (MBT/CC); o veículo de combate de infantaria (IFV/VCIM), a viatura blindada de transporte de pessoal (APC/VBTP) e os veículos sobre rodas multiuso de alta mobilidade.


Princípios 

O binômio infantaria x veículo de combate obedece a 3 princípios de emprego básicos que norteiam sua atuação no campo de batalha. O primeiro é que o veículo deve potencializar o poder da infantaria servindo de base de fogo móvel à tropa desembarcada, apoiando sua ação com suas armas orgânicas e suas outras características de poder de combate. O segundo é que a infantaria apoiará a manobra do veículo quando este for protagonista da ação, principalmente pela supressão de armas anticarro; e o terceiro e último princípio reza que veículos nunca operam sozinhos, assim como os soldados, contando sempre com a proteção mútua de outro veículo. 

A primeira e mais óbvia vantagem que os veículos proporcionam a infantaria é o incremento em sua mobilidade. Eles transportam os infantes em distâncias maiores e os desembarcam para combater, rompendo obstáculos como “bunkers” e edificações. A potência de fogo do veículo, que pode contar com canhões e armas automáticas de vários calibres, aliada à sua mobilidade, resulta em um efeito de choque que ajuda os infantes a alcançarem o rápido desfecho de sua ação. O veículo pode atirar com fogo letal e preciso, mesmo em movimento se contar com armas estabilizadas, em apoio ao assalto. Pode ainda prover a supressão de atiradores identificados (snipers), destruir outros veículos e posições fortificadas, evacuar feridos, oferecer cobertura em locais abertos, auxiliar na aquisição de alvos se dispor de optrônicos e imageadores, prover neblina com seus fumígenos, entre outras possibilidades.

O infante também proporciona ao veículo sua parcela de proteção, atuando principalmente na supressão de armas anticarro, na designação de alvos, na remoção de obstáculos ao seu deslocamento, no fogo contra ameaças blindadas, na exploração de pontos cegos que podem esconder ameaças, entre outras.


Características dos Veículos

Os comandantes da infantaria devem ter uma compreensão clara das capacidades e limitações de seus equipamentos. O CC, o VCIM, o VBTP e o veículo de alta mobilidade sobre rodas possuem seus próprios recursos, limitações, características e requisitos logísticos. Mesmo que seu papel para a infantaria seja praticamente o mesmo, esses veículos fornecem suporte de maneiras diferentes.


Potência de Fogo

Armas e munições são projetadas para bater alvos específicos, embora muitas sejam de múltiplos propósitos. Um líder de infantaria que tenha uma compreensão básica dessas armas e dos tipos de munição, será capaz de empregar melhor suas unidades veiculares em proveito de sua ação.

A arma principal de um carro de combate moderno (MBT/CC) é extremamente precisa e letal, com alcances 2 a 4 mil metros, com calibres de 90 a 125 mm, mais comuns. Os modelos mais recentes e sofisticados contam com canhões principais estabilizados que podem disparar efetivamente mesmo quando se deslocam em alta velocidade. O carro de combate continua a ser a melhor arma anticarro da atualidade e suas várias metralhadoras fornecem um grande volume de fogos de apoio para a infantaria. As capacidades de aquisição de alvos dos carro de combate excedem em capacidade todos os sistemas disponíveis para a  infantaria. Os sistemas de visão térmica fornecem uma capacidade significativa para observação e reconhecimento, e podem ser usados inclusive durante o dia para identificar radiação IR mesmo através de vegetação. O telêmetro laser proporciona capacidade superior para medição de distâncias e estabelecimento de procedimentos de controle de fogo. Sua munição básica são os perfuradores APDS com núcleos duros. Essa munição não é eficaz contra veículos leves blindados ou com rodas, “bunkers”, linhas de trincheiras, edificações ou pessoal. Eles também apresentam um problema de segurança quando disparam sobre as cabeças dos infantes, devido às partes descartáveis liberadas em cada disparo. A munição HE proporciona melhores efeitos destrutivos sobre os alvos mencionados, exceto contra pessoal, onde as metralhadoras são mais eficazes. O reabastecimento é difícil e requer apoio logístico sofisticado. Alguns canhões podem ter problemas de elevação, seja positiva ou negativa em terrenos restritos, como áreas urbanas.

A arma principal do VCIM normalmente consiste de um canhão de tiro rápido de 20, 25 ou 30 mm, que dispara granadas incendiárias altamente explosivas, dotadas ou não de dispositivo traçante. Estas armas são extremamente precisas e letais contra veículos levemente blindados, bunkers, linhas de trincheiras e pessoal em distancias de até 2 mil metros. Se estabilizadas, permitem fogos precisos mesmo quando se deslocam. As ATGW permitem destruir os carros de combate inimigos ou outros alvos pontuais em alcances de 3 a 4 mil metros. Metralhadoras coaxiais fornecem um alto volume de fogo supressivos para defesa pessoal e apoio à infantaria em alcances superiores a 500 metros. A combinação de armas estabilizadas, visão térmica, alto volume de fogo e os efeitos reforçadores de armas e munições, fazem do VCIM um excelente recurso de apoio para assaltos de infantaria. Tal qual os  carro de combate, podem contar com avançados sistemas de visualização e aquisição de alvos como imageadores térmicos e telêmetros laser. O reabastecimento de munição é difícil e requer apoio logístico externo. Os VBTPs geralmente são armados com mísseis anticarro (ATGW) ou metralhadoras 12,7 ou 7,62 mm, ou ambos, e podem apoiar a infantaria contra alvos “macios”, não sendo efetivos contra carro de combate ou VCIMs, a não ser que  estejam armados com as ATGWs. Os veículos de alta mobilidade sobre rodas são mais leves e geralmente embarcam apenas 1 sistema de armas, semelhantes aos usados nos VBTP.


Mobilidade

Os carros de combate combinam sua massa elevada e potência de motor para romper pequenos obstáculos como árvores e pequenas obstruções, permitindo-lhe mover-se em alta velocidade na estrada ou fora dela, atravessar rios rasos e trincheiras, e com preparação rios mais profundos. Consomem grandes quantidades de combustível e o uso constante de eletrônicos com o carro desligado consome rapidamente as baterias, exigindo que sejam ligados periodicamente, principalmente em climas muito frios, cuja baixa temperatura produz efeitos indesejáveis no motor. Produzem muito ruído, fumaça e poeira, e dependendo do terreno, o que dificulta o acompanhamento dos infantes. O M1 Abrams norteamericano produz gases de escape muito quentes (motor a turbina), o que inviabiliza que os infantes se aproximem dele, não se adequando a doutrina de exércitos, como o brasileiro, onde os infantes acompanham de perto o carro de combate. O canhão pode restringir o giro da torre em terreno restrito. Uma perda de tensão nas lagartas pode levar a um “descarrilamento”, cujo reparo pode ser demorado. Veículos muito pesados podem não ser suportados por pontes menos resistentes ou terrenos muito fofos (neste caso veículos com alta pressão sobre o solo), exigindo suporte da engenharia. Os VCIMs montados sobre lagartas partilham destas mesmas características, porém podem acomodar a infantaria em seu interior. São mais leves, e exceção daqueles baseados em chassis de MBTs, como o VCIM israelense Namer. Os VCIMs sobre rodas e VBTTs são rápidos e tem maior mobilidade estratégica, podendo rodar grandes distâncias em estradas, prescindindo de pranchas de transporte. Ambos fornecem proteção aos soldados desembarcados e podem colocá-los rapidamente em posições chaves do campo de batalha. Os pneus podem ser inflados ou esvaziados conforme o terreno, seja lama ou terreno duro. Areia, lama ou neve são melhor enfrentadas por lagartas, e pneus vazios por mais que 8 km pode incendiar o pneu. Os veículos de alta mobilidade sobre rodas tem as mesmas características de mobilidade que os VBTTs e VCIM s/ rodas.


Proteção

Geralmente, a blindagem de um carro de combate oferece excelente proteção para a tripulação. Através de um arco frontal de 60 graus, é impenetrável a todas as armas, exceto as ATGW mais potentes ou às armas principais de outros carros de combate. Ao operar com as escotilhas fechadas, a tripulação está protegida dos disparos de armas menos potentes, estilhaços de artilharia e minas AP; porém a capacidade de adquirir e engajar alvos, principalmente de infantaria próximos, fica reduzida. Os lançadores de fumígenos a bordo proporcionam uma ocultação rápida, exceto a observação térmica. As partes superior, laterais e traseira do carro de combate são vulneráveis a ATGWs mais leves. A parte superior é vulnerável a projéteis de artilharia guiados (de precisão). Minas AC podem imobilizar o veículo. Os VCIM geralmente contam com proteção contra projéteis leves como estilhaços e armas leves, além de minas AP. Os VBTT e veículos de alta mobilidade contam com proteção semelhante, porém são alvos menores e mais difíceis de engajar. Dependendo do modelo pode ser penetrado por projéteis de 12,7 mm se não contar com proteção adicional.


Informação

Nem todos os veículos são equipados com sistemas digitalmente aprimorados. Além disso, a consciência situacional e a situação do inimigo podem não ser facilmente compartilhadas com unidades de infantaria no solo. Os veículos geralmente contam com sistema táticos de situação e consciência situacional, acoplados a sistemas GPS ou similares e INS (sistema de navegação inercial), permitindo atingir locais designados com rapidez e precisão. Sistemas rádio digitais com datalink integram as diversas unidades compartilhando dados em tempo real, além de agilizarem o recebimento de ordens. Sistemas óticos integrados possibilitam a aquisição de alvos e seu compartilhamento com outras unidades. Dispõem ainda de sistemas IR para obtenção de alvos. O pessoal dentro do veículo pode ter dificuldades de visualizar a infantaria próxima e deve ser informado de sua posição, sendo desejável que sejam acompanhados, quando em velocidade reduzida, pela infantaria amiga a pé.


Tamanho e peso

Deve-se considerar sempre o tamanho e o peso dos veículos de combate que estão operando antes de empreender qualquer operação. O terreno que suporta o movimento de infantaria pode ou não suportar o movimento de veículos de combate. Estruturas como pontes, viadutos e bueiros devem ser avaliados com atenção, já que falhas estruturais podem ser mortais para os soldados nas proximidades. Muitas pontes são marcadas com sinais que indicam as capacidades de carga da estrutura, outras não, e outras podem ter marcação incorreta feita pelo inimigo. Em outras áreas, os soldados de infantaria devem confiar nas sobreposições de reconhecimento de rotas que mostram as capacidades de transporte das rotas que estão sendo usadas, porém deve-se sempre usar de cautela e evitar infraestruturas suspeitas.

Conclusão

Os veículos de combate de infantaria se prestam ao apoio do combatente de infantaria multiplicando seu poder de combate, e a acompanhar os carros de combate principais, proporcionando a estes proteção contra a infantaria inimiga. Serve ao mesmo tempo como "táxi" de combate e unidade de apoio, garantindo que os infantes tenham velocidade quando necessitam acompanhar os blindados principais e poder de fogo superior em embates contra infantaria inimiga. 




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