Fase 3 – Linhas de Ação x Possibilidades do Inimigo
Cada Linha de Ação (LA) a ser adotada deve ser comparada com as Possibilidades
do Inimigo (PI) em relação a esta linha de ação. Nesta fase, o comandante já
dispõem das informações necessárias a respeito de sua missão. Ao final deste
estudo serão elencadas as LA Provisórias que tenham as melhores chances de alcançar os
objetivos definidos. É importante que sejam sugeridas propostas de LA sem
qualquer restrição prévia, dando-se “asas à imaginação”, desde que não se
desvie dos objetivos da missão. Ideias rejeitadas previamente podem conter
fragmentos úteis, que podem ser encaixados com sucesso em proposições mais
pragmáticas, tornando estas mais robustas. O planejamento é um processo cíclico,
onde as ideias são refinadas paulatinamente, e ideias pouco ortodoxas podem
contribuir para o refinamento daquelas mais factíveis.
Possibilidades do Inimigo (PI)
As PI são as linhas de ação que inimigo pode adotar para contrapor uma LA
planejada. Elas devem ser compatíveis com os meios que o inimigo tem sua
disposição e serem capazes de interferir no cumprimento da missão. A seção de
informações da unidade (S/2 ou outra conforme a força) é a principal fonte das informações a cerca das PI,
que são supostas ações amplas, que podem ser empreendidas dentro de determinas
condições aceitáveis ao inimigo.
Valendo-se das conclusões da análise prévia da fase I, o órgão de
informação (S/2) a disposição do comandante, listará todos os prováveis e
possíveis objetivos que o inimigo buscará para frustrar a missão ora em
planejamento, e em seguida identificará de que forma estas supostas ações
poderão influir. Dessa forma se definirão as ações adequadas a evitar esta
interferência. Deverão ainda ser tabuladas em ordem decrescente de
possibilidade de adoção, cada uma das ações inimigas prováveis. É importante
ressaltar que cada ação provável do
inimigo listada deverá ser considerada nos critérios de factibilidade de
execução e se afetará a missão de forma importante. Ações não factíveis devem
ser desconsideradas após análise, porém desfazer-se de ações relativamente
improváveis mas factíveis, pode resultar em surpresas desagradáveis, podendo o
inimigo adotá-las se levar em consideração que foram desprezadas.
Uma PI que deve sempre ser considerada é a de frustração da mobilidade
das forças que irão executar a missão. O inimigo pode ser capaz de realizar
simultaneamente múltiplas ações combinadas, que afetarão de modos particulares
o cumprimento da missão. As PI elencadas devem especificar claramente essas
múltiplas ações, sob pena de conclusões incorretas acerca da capacidade de
cumprimento da missão. A avaliação das PI não é um processo estático, devendo
prosseguir durante as 3 Etapas do Planejamento.
Em seguida se analisa, apenas com as PIs consideradas, a ordem de
probabilidade de sua adoção pelo inimigo. Prioriza-se as PIs que ofereçam
maiores vantagens ao inimigo, com menores riscos; após as que oferecem um
melhor aproveitamento das características da área de operações, associadas às
deficiências e vulnerabilidades das forças amigas e por último as ações atualmente
sendo executadas pelo inimigo (histórico recente). Ao comandante caberá a
palavra final desta análise.
Linhas de Ação (LA)
Uma Linha de Ação é um plano factível capaz de cumprir a missão. Ela
será construída como resultado nos dados e conclusões da fase 2. Deve exprimir
o que deve ser feito para o cumprimento da missão e de que forma (que ações
serão tomadas), impondo, se for o caso, os limites a serem observados (regras
de engajamento), sempre em linguagem simples e clara, evitando interpretações.
Como exemplo de LA corretamente redigidas podemos citar: “Destruir a
ponte sobre o Rio das Correntes usando explosivos plantados”, ou “Ocupar a
subestação do Bairro Formiga em Rio das Algas sem danificá-la severamente, e
estabelecer lá um ponto forte”. A ação poderá ser omitida quando seu enunciado
causar redundância. Num enunciado “Prover o bombardeio da Área Alfa em
preparação ao assalto pela infantaria em D+1 às 0500 pelo Grupo de Artilharia”,
pode ser omitido a unidade que irá realizar, pois a missão já é implícita,
considerando o grupo de artilharia orgânico da grande unidade que está
executando a missão. Se o bombardeio tivesse que ser executado pela aviação
tática, aí sim seria importante enunciar a unidade executora.
Após enunciar uma LA o comandante deve rever seu entendimento da
situação quantas vezes achar necessário, de forma a ter certeza que a LA
escolhida é a mais adequada. Devem pesar a capacidade da LA de cumprir com os
efeitos desejados e se as suas forças destacadas para esta missão tem a
capacidade de cumprir de forma eficaz com suas comissões. Múltiplas LA
preliminares podem ser elaboradas para se chegar a uma linha LA de ação definitiva,
pois quase sempre haverá mais de um modo de executar uma ação e com o emprego
de mais de um sistema de combate.
Muitas ações devem ser executadas para a consecução de uma LA, e a estas
denominamos requisitos, que podem ser classificados quanto a sua importância em
imprescindíveis (se não for cumprido a LA não será exitosa), importantes
(aumentam em muito a possibilidade de sucesso da LA) e desejáveis (se possíveis, facilitam a tarefa a ser executada). Também podemos dividir os requisitos
quanto a sua natureza em ofensivos (finalidade de LA), defensivos (garantem a
execução), logísticos (suportam a execução), de inteligência (orientam a
execução), de movimento (mobilidade da execução), de adestramento (preparo da
execução) e de apoio (ações multiplicadoras de força e facilitadoras). A ênfase
em cada requisito dependerá da natureza de cada LA. Outros tipos de requisitos
poderão se fazer presentes em situações particulares, e cada um destes poderá ser desdobrado em 2 ou mais. Os requisitos devem ser
compostos pelo "o
que", "como" e "onde", quais as forças
envolvidas e por quanto tempo cada ação deve perdurar.
Adequabilidade, Exequibilidade e Aceitabilidade de
uma LA Provisória
Uma LA é adequada se puder, por si própria, cumprir a missão. Seus
efeitos devem ser compatíveis com a essência e magnitude da missão e capaz de
ser executada dentro do tempo máximo suportável para a situação. Se uma LA
parecer apenas parcialmente adequada, deve-se agregar a ela as ações necessárias
a satisfazer a condição desejada, ou então ser abandonada. Também não poderá ser mais
ou menos adequada do que outra, uma vez que, ou ela cumpre ou não cumpre a missão,
o que a faz objetiva e absoluta.
Uma LA é exequível se puder ser implementada com as
forças e tecnologia disponíveis e dentro do tempo máximo suportado para a
situação, e ainda capaz de suportar a pressão que o inimigo envidará para
frustá-la. Avaliar se uma LA é exequível ou inexequível, em face da oposição do
inimigo, é subjetivo. Isso significa que pode haver diferentes opiniões quanto
ao julgamento da possibilidade de êxito. Uma vez definida a possibilidade de
êxito, a LA não poderá ser mais ou menos exequível que outra, uma vez que ela é
possível ou não de ser implementada, o que a faz subjetiva e absoluta.
Uma LA é aceitável se os resultados compensarem os custos
decorrentes. Perdas prováveis, determinadas pela prova de exequibilidade, servirão
de base para esta análise, devendo ser considerados os quesitos pessoal, material,
tempo e posição. Deve-se evitar inclinar-se a um otimismo exagerado e o
comandante deve aceitar a inevitabilidade de perdas na sua força, desde que
esta perda obedeça a certos limites. Os ganhos numa interação com o inimigo devem ser confrontados com a capacidade da própria força continuar operacionalmente
significativa. Podem haver opiniões divergentes quanto à
aceitabilidade de uma LA, dependendo de quem a esteja avaliando. Além disso, ela
poderá ser mais ou menos aceitável do que outra. Isso significa que, para cada
LA provisória formulada, poderá haver uma "probabilidade de êxito"
diferente, o que a faz subjetiva e relativa.
Todas as LA Provisórias devem ser testadas nestes
critérios o quanto antes e se não os cumprirem, imediatamente abandonadas ou
alteradas.
O julgamento da exequibilidade
e da aceitabilidade de uma LA Provisória requer uma análise extensa, e
no que se refere à adequabilidade, essa análise é mais simples e pode ser feita
antes das demais. A prova preliminar de adequabilidade e e de exequibilidade
são inicialmente aplicadas após a formulação e,
posteriormente a qualquer momento sempre que o conceito da operação sofra
modificações ou mudem as forças à disposição. A prova final será aplicada na
Fase 4 desta Etapa, após o levantamento das Vantagens e Desvantagens das LA.
Pode ser conveniente combinar 2 ou mais LA Provisórias
para formar outras mais refinadas, caso as primeiras se tenham mostrado
parcialmente válidas. Nesta situação deve-se retornar aos
subitens anteriores, onde as novas LA serão relacionadas, formulados os seus conceitos
sumários, e submetidas à prova, para que sejam verificadas as suas validades.
Assim, mais uma vez, a natureza cíclica do processo possibilita o
aperfeiçoamento do planejamento. Cabe ressaltar que uma LA se distingue de
outra, basicamente, por meio de diferenças em pelo menos um dos seus seguintes
aspectos de efeitos desejados, operações e/ou meios empregados.
Confronto LA x PI
Neste tópico se confronta as LA Provisórias com cada PI. É uma análise dinâmica, na qual cada ação é
considerada como uma variável independente interagindo com outras, simultânea
ou sucessivamente. Dessa forma se elenca as várias ações que as forças
destacadas terão que empreender para executar a LA, revendo e ampliando os
conceitos, através da inclusão de alguns detalhes, e de maneira semelhante,
considera as ações detalhadas de cada PI, inclusive como seriam implementadas.
Em cada confronto analisado, conclui-se
quanto às capacidades do inimigo em se opor a cada LA, às perdas prováveis, à
necessidade de subdividir as forças, às ações alternativas convenientes, o grau
de eficiência estimado da LA na medida em que ela cumpre a missão, os aspectos
relacionados com o tempo, etc. É um jogo de guerra mental.
Cada LA é confrontada com cada
PI, observando-se os seguintes subitens:
As ações que o Inimigo pode
executar para realizar a PI. Descreve-se como seriam implementadas as ações pelo
inimigo, que possam interferir com a LA a ser confrontada. São
especificados como, quando e onde o inimigo pode atuar,
para obter o efeito desejado da PI considerada.
As ações que
devem ser executadas para realizar a LA, em face da oposição dessa PI, que devem
ser expandidas e detalhadas em face da PI a ser confrontada. Assim, da mesma
forma que no item anterior, especifica-se como, quando e onde pode
ser disposta a força destacada.
Fase 4 - Comparação e Escolha das
Linhas de Ação
Após as LA
terem passado pela prova AEA (adequabilidade, exequibilidade e aceitabilidade)
elas devem ser comparadas para que uma seja a escolhida.
Em primeiro
lugar deve-se confrontá-las, comparando suas vantagens e desvantagens, de forma
a escolher a melhor delas. Um pequeno roteiro facilita esta comparação utilizando
os quesitos: mais ofensiva ou defensiva, maior liberdade de ação, maior concentração
de forças, melhor unidade de comando, maior surpresa, maior simplicidade, menos
necessidade de informações, menos dependência da área de operações, maior favorecimento
de operações futuras e maior economia de meios.
Estes conceitos dependem de julgamento pessoal e,
portanto, 2 ou mais comandantes poderiam chegar a conclusões divergentes.
Assim, uma determinada LA pode parecer perfeitamente exeqüível para um comandante
ousado e agressivo, mas inexeqüível para outro mais cauteloso. Além disso,
geralmente há um certo grau de aceitabilidade associada a cada LA,
estabelecendo, desta forma, o que se pode denominar de uma aceitabilidade
relativa. Para determinar a aceitabilidade relativa, são importantes os
resultados esperados pela execução com sucesso da LA.
Antes de selecionar uma das LA para a decisão, deve-se
submeter todas elas à uma prova final, na qual a riqueza de detalhes dependerá
das provas já realizadas e dos resultados de análises posteriores complementares,
efetuadas nas fases anteriores. Ao considerar a aceitabilidade da LA, deve-se
enfrentar realisticamente a possibilidade de insucesso. Se for considerada que
uma LA é aceitável sem levar em consideração uma margem de segurança, qualquer imprevisto
poderá facilmente invalidar esta LA na prática e comprometer a operação.
Após a análise final, pode-se concluir que nenhuma
das LA em pauta atende as condições que se busca. Nesse caso, deve-se novamente
buscar a combinação das LA existentes, reiniciando o processo. Caso mesmo assim
as conclusões sejam insatisfatórias, os resultados devem ser encaminhados ao
escalão superior para decisão final, onde se assume o ônus de sua adoção ou se
busca alternativas. O escalão superior pode ter uma visão diferente das
análises feitas e decidir pela sua adoção ou não. Somente quando há condições
impostas pelas autoridades superiores, o comandante pode ser parcialmente
relevado da responsabilidade quanto à sua decisão, sempre no mesmo nível do que
for condicionado. Uma matriz de decisão com os critérios já citados (logística,
operações futuras, maior surpresa, etc...) pode auxiliar nesta comparação.
Fase 5 - Decisão sobre a LA escolhida
Após a decisão tomada, esta deve ser expressada
como um “Plano de Ação”, trazendo informações do que fazer e como fazer,
podendo ainda dizer como e onde. Pode ainda trazer as restrições que forem
necessárias. Se a LA for pré-determinada, a própria tarefa será a decisão elencada. A
decisão deverá ser clara, objetiva e concisa, prezando pela simplicidade; de
forma que todos a compreendam de forma inequívoca. Ao “Staff” da unidade
designada, caberá o detalhamento da operação, seja uma divisão ou um grupo de
combate, salvo se for decidido de outra forma.
2ª Etapa - O Plano de Ação e Emissão de Diretiva