quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Condições Meteorológicas - Influência nas Operações Militares *055


Toda operação militar está sujeita a interferência de fatores climáticos que devem ser considerados em seu planejamento. O clima afeta as operações de forma incontestável, e conhecer antecipadamente o que irá transcorrer nesta área é de suma importância. Ter o conhecimento preciso da probabilidade de ocorrência de mudanças severas de temperatura e degelos repentinos, de precipitações volumosas, de ondas de calor mais intensas, de ventos fortes e outros; é muito importante no planejamento de uma campanha ou na organização de um único engajamento. Tropas corretamente selecionadas, disciplina apurada, um sistema de transporte bem organizado, roupas adequadas e tudo mais contribui para uma organização militar mais eficiente e é de suma importância. O clima também se apresenta como um dos fatores importantes com forte influência no controle de campanhas militares.

Estes fatores influenciam na visibilidade, na mobilidade terrestre e naval, nas operações aéreas, na segurança operacional, na trafegabilidade das ondas eletromagnéticas influenciando as comunicações rádio e operações de sensores como radares e eletro-óticos, entre outros. Operações que envolvam a utilização de satélites como os sensores GPS/Glosnass e a retransmissão de comunicações por estes meios satelitais são seriamente influenciados pelas massas atmosféricas mais densas. A mobilidade é outro fator crítico em uma operação militar, e condições meteorológicas adversas podem inviabilizar a transitabilidade em terrenos ruins, como aqueles excessivamente arenosos e moles, que facilmente se transformam em lodaçais, podendo paralisar todo um exército em marcha. 

O derretimento da neve prejudicou sobremaneira o avanço alemão na Rússia tornando suas precárias estradas intransitáveis, com a formação de lodaçais e impondo um fardo penoso às tropas. Nas mesmas condições, o deslocamento marítimo pode se tornar algo penoso, principalmente a tropas em travessia e não habituadas a vida embarcada. O desembarque do dia D em 1944 na Normandia, por exemplo, foi adiado para o dia 6 de junho devido ao mau tempo, e apesar das condições deste dia não serem as melhores, as tropas já estavam embarcadas a algum tempo e sofrendo de enjoos, e uma espera maior seria inviabilizada pelas condições de maré e da logística de desembarcar todo o contingente e seus meios de apoio para aguardar uma data mais adequada.


A Primeira Grande Guerra forneceu uma oportunidade incomum para estudar a influência do clima nas operações militares modernas. Cada zona de guerra teve seus próprios tipos climáticos especiais e apresentou seus próprios problemas peculiares. Na frente ocidental, a principal dificuldade foram as chuvas de outono e inverno, não tanto por serem extraordinariamente pesadas, mas por sua frequência. Na frente oriental, os invernos foram mais rigorosos do que no oeste. Houve mais sofrimento por causa do frio e por causa das tempestades de neve. A importância de longos períodos de tempo gelado, durante os quais somente os pântanos podem ser atravessados, foi claramente vista. Na frente austro-italiana, os combates ocorreram em meio a neves profundas, avalanches, frio extremo e tempestades violentas. O uso de aviões e zepelins e de gás asfixiante deu ênfase extraordinária à importância do fator clima na guerra. Os alemães tiveram, desde o início, um serviço militar de campo meteorológico muito eficiente, cujo quartel-general, para a frente ocidental, ficava na Bélgica. Seus observadores meteorológicos fizeram previsões das condições mais favoráveis para incursões de zeppelins e para ataques de gás. Muitas lições foram aprendidas, e uma delas foi a necessidade de ter meteorologistas treinados ligados aos exércitos e de dar a todos os oficiais alguma instrução nos princípios de meteorologia e previsão do tempo.

O Desembarque da Normandia, na Segunda Guerra Mundial, representou a maior operação militar combinada em toda a História-Militar e foi definida pelo Primeiro-Ministro Britânico Winston Churchill como “a mais difícil e complicada operação de todos os tempos”. O seu sucesso está diretamente relacionado a mais relevante contribuição da previsão de tempo no Processo do Planejamento Militar (PPM). A equipe de meteorologistas foi decisiva para a escolha da manhã do dia 6 de junho de 1944, como Dia-D da “Operação Overlord”, pelo Comandante da Força Expedicionária Aliada, mesmo que muitos membros do Estado-Maior, sugerissem pela escolha do dia 5 de junho como Dia-D. As análises meteorológicas feitas com modelos de Previsão Numérica do Tempo (PNT) mostraram posteriormente que o dia 6 de junho de 1944 foi provavelmente o único dia do mês que tal operação militar poderia ser realizada. A situação sinótica apresentada nos primeiros dias de junho de 1944 foi algo realmente peculiar. Nos dias 4 e 5 de junho foi observado um tempo extremamente severo no Canal da Mancha, devido a ação de um sistema frontal associado a uma família de três ciclones em deslocamento no Atlântico Norte. O Serviço Meteorológico Alemão sugeriu então o relaxamento da condição de prontidão na Frente Ocidental, não considerando melhora nas condições de tempo e esta possibilidade do inimigo. Porém, os meteorologistas aliados observaram no dia 4, que o ciclone mais a leste começava a ser alcançado pelo segundo ciclone da família, formando um único e possibilitando a desaceleração e a mudança da inclinação do sistema frontal e uma “janela” de tempo, de cerca de 36 horas, favorável para a realização do desembarque. É bem provável, que caso a sugestão não fosse aceita pelo Supremo Comando Aliado, a “Operação Overlord” teria sido um grande fracasso e, possivelmente, a Segunda Guerra Mundial não teria terminado em 1945.

Outra situação na Segunda Guerra Mundial em que a meteorologia teve um grande peso foi a Batalha de Stalingrado. Essa operação militar conduzida pelos alemães e seus aliados contra as forças russas pela posse da cidade de Stalingrado, às margens do rio Volga, na antiga União Soviética. A batalha foi o ponto de virada da guerra na frente oriental, marcando o limite da expansão alemã no território soviético, a partir de onde o Exército Vermelho empurraria as forças alemãs até Berlim, e é considerada a maior e mais sangrenta batalha de toda a História, causando a morte e ferimentos em cerca de 2 milhões de soldados e civis. Em 22 de junho de 1941, a Alemanha e os seus aliados do Eixo invadiram a União Soviética, na chamada Operação Barbarossa, avançando rapidamente para dentro de território soviético. Sofrendo derrota após derrota no verão e no inverno de 1941, as forças soviéticas contra-atacaram em larga escala próximo à capital do país, na chamada Batalha de Moscou, iniciada a 5 de dezembro de 1941. Os alemães, exaustos, com problemas de reposição logística (a maioria das divisões Panzer estava com a maior parte de seus carros de combate inoperantes) e ainda, com as tropas mal equipadas para a guerra no inverno e com linhas de suprimentos além do limite, acabaram sendo afastados das portas da cidade.

O Processo de Planejamento Militar (PPM) e os Fatores Climáticos

A primeira fase para o estudo das condições meteorológicas é dispor-se das bases de dados existentes de forma ostensiva, que darão as características climáticas de determinada região, associadas a época do ano em que se irá operar. Estes dados são lastreados no histórico do tempo ao longo dos anos e dão uma ideia geral das possíveis condições que se apresentarão. A partir daí busca-se informações mais pontuais nas previsões de curto, médio e longo prazo, permitindo que se determine com maior precisão as condições a se enfrentar. Planeja-se então com a elaboração de croquis e tabelas as condições de visibilidade, temperatura, precipitação, etc... o emprego de fulmígenos, trafegabilidade das estradas e fora delas, emprego de sensores e meios de comunicação, navegabilidade, possibilidades de alagamento, vadeabilidade de cursos d'agua, teto operacional para aeronaves e operações de aeródromos, viabilidade de reconhecimento aéreo, possibilidade de observação terrestre e utilização de elevações, entre outras ações.

Elementos ambientais tendem a influenciar de forma diferente unidades e operações com características diversificadas, porem muitos deles podem se apresentar como tendo efeitos semelhantes na maioria dos elementos e operações de combate. Muitos dos efeitos comuns podem ser derivados para fins de planejamento do clima do teatro de operações. Atenção especial deve ser dada aos elementos que podem limitar as operações ou impedi-las completamente. Por exemplo, as operações nos trópicos devem ser planejadas para considerar o ciclo recorrente dos períodos chuvosos, que em determinadas regiões podem ser muito intensos. Na Europa continental deve-se considerar os invernos rigorosos com os degelos anuais de outono e primavera afetando a trafegabilidade e o movimento.

Logo no início do processo de planejamento, deve-se relacionar os possíveis cursos de ação às expectativas meteorológicas derivadas dos estudos climatológicos. Deve haver uma probabilidade aceitável de que as condições climáticas necessárias para qualquer curso de ação proposto ocorram. É imperativo que uma operação seja viável meteorologicamente no nível operacional da guerra (níveis da guerra) e que o planejamento para mudanças climáticas sazonais seja considerado no início do processo de campanha.

Ao considerar os efeitos das condições ambientais, o impacto que o clima e o terreno têm um sobre o outro deve ser considerado. O clima e o terreno estão tão inter-relacionados que devem ser considerados juntos ao planejar as operações terrestres e aéreas. Os elementos climáticos podem alterar drasticamente as características do terreno e a trafegabilidade. Por outro lado, as características do terreno podem exercer uma influência considerável no clima local. A relação entre clima e terreno deve ser cuidadosamente correlacionada em estudos de terreno para produzir informações precisas sobre o terreno. Este planeamento é parte integrante do PPM.

Os elementos que mais influenciam as operações são: 

  • Crepúsculos: Tanto o matutino quanto o vespertino influem na luminosidade e visibilidade e horários de operação, 
  • Fases da Lua: influem na luminosidade noturna;
  • Precipitações: Afetam a visibilidade, trafegabilidade, bem estar da tropa e segurança.
  • Ventos: sua força, altitude e direção ditam as condições de mar, rotas aéreas, emprego de fumígenos e outros;
  • Nebulosidade: Afetam a visibilidade.
  • Temperatura e Umidade:  Afetam equipamento e pessoal.
  • Marés: influenciam em operações de desembarque a partir do mar

Esses elementos específicos variam de acordo com a área geográfica, o tempo e a estação. A descrição do clima de uma grande área considera as influências do terreno apenas em termos gerais; ao passo que uma descrição de uma pequena área, como um único vale, pode ser específica.

É importante que comandantes e respectivos estados-maiores entendam e considerem o clima em seu planejamento tático. Eles devem reconhecer a importância tática dos efeitos climáticos nas operações pretendidas e os riscos ou oportunidades que apresentam. Os efeitos do clima são integrados à análise do inimigo e do terreno.



Visibilidade:

A visibilidade é afetada por quase todos os fatores citados, a exceção das marés. A baixa visibilidade é benéfica para operações ofensivas e prejudicial para operações defensivas. No ataque, dissimula a concentração de manobra ou de forças amigas, potencializando assim o elemento surpresa. A baixa visibilidade dificulta a defesa, porque a coesão e o controle tornam-se difíceis de manter, o reconhecimento e a vigilância são impedidos e a aquisição de alvos é menos precisa. Essas desvantagens podem ser compensadas parcialmente pelo uso extensivo de dispositivos iluminativos, radar, detecção de som, termal e infravermelho (IR); no entanto, os dispositivos de IR são degradados em alcance por qualquer fonte de umidade, precipitação ou fumaça absorvente de umidade. Fumaça e aerossóis termais podem ser esperados em campos de batalha de intensidade média a alta e podem ser usados localmente para reduzir a visibilidade. Em todas as operações, os fatores obscurantistas limitam o uso de aeronaves e dispositivos de vigilância aérea ótica e IR.

O Crepúsculo:

Crepúsculo é a passagem do dia para a noite (crepúsculo vespertino) ou vice-versa (crepúsculo matutino). Existem 3 tipos:  O astronômico cuja visibilidade é muito reduzida e não tem utilidade prática para fins militares, o náutico que proporciona visibilidade suficiente aos movimentos terrestres com visibilidade limitadas a 400 m e uma certa proteção a observação inimiga, e o civil que proporciona luminosidade suficiente a todas as atividades diurnas. A duração dos crepúsculos depende da latitude e varia ao longo dos tempos. Enquanto que na ofensiva, a baixa luminosidade favorece a concentração de forças, a manobra e a obtenção da surpresa, na defensiva, prejudica a vigilância, impede o reconhecimento, dificulta a coordenação e controle e reduz a precisão da busca de alvos.



As Fases da Lua:

A lua influencia diretamente na visibilidade noturna. Na lua nova a visibilidade é mínima, aumenta na crescente e alcança o máximo na cheia, decrescendo na minguante. Assim, a luminosidade deve ser analisada em função do nascer e do pôr do sol e das fases da lua, que exercerão influência nas condições de observação, sigilo, emprego dos meios aéreos e de coordenação e controle das tropas. A visibilidade é influenciada também por outros elementos meteorológicos, tais como precipitações, nebulosidade, ventos, etc.



Precipitações:

O efeito mais importante das precipitações é seu efeito nos solos, visibilidade, eficácia do pessoal e o funcionamento dos sistemas de manobra terrestre, aviação e sistemas eletro-ópticos e IR. Podem trazer impedimentos ou risco ao voo, alagamentos de grandes dimensões, baixa visibilidade, impedir operações administrativas necessárias a céu aberto, desconforto à tropas desdobradas no terreno com o alagamento de abrigos e hipotermia aumentando a fadiga e causando outros problemas físicos e psicológicos, deterioração de estradas pavimentadas e com efeitos mais acentuados nas mau ou não pavimentadas e inviabilização de tráfego "off-road"; reduzir a eficácia dos campos minados e de equipamentos em geral. O granizo pode provocar a destruição de instalações e riscos a integridade humana e material. Descargas elétricas podem incendiar depósitos de munição e combustível, afetar linhas de transmissão e tráfego eletromagnético. Enxurradas podem destruir pontes e alagar áreas habitadas, além de interromper o trânsito em trechos de estradas. A chuva e a neve podem ainda reduzir bastante a eficácia do pessoal limitando a visibilidade, a persistência de agentes químicos ou criar pontos quentes NBC, a gama de lasers, dispositivos de visão noturna, miras térmicas e a eficácia das aeronaves. A precipitação também degrada negativamente a qualidade dos suprimentos armazenados. O acúmulo de neve maior que 1 polegada degrada a trafegabilidade e reduz o impacto de minas e os efeitos de explosão de munições pontuais. Geralmente, a precipitação acima de 0,10 polegadas por hora ou 2 polegadas em um período de 12 horas é considerada crítica para operações táticas. A queda de neve superior a 18 polegadas reduz a velocidade do veículo rastreado; o movimento a pé é muito difícil sem raquetes de neve ou esquis.


Ventos:

A velocidade e a direção do vento, tanto na superfície quanto no ar, geralmente favorecem a força contra o vento no uso de armas NBC e no emprego de fumígenos. Afetam também lançamentos de tropas aerotransportadas, a navegabilidade e a detecção de sons. Podem contribuir para a secagem do solo afetando positivamente a trafegabilidade. Ventos fortes podem derrubar antenas e afetar estacionamentos baseados em barracas e similares. Ventos de velocidade suficiente podem reduzir a eficácia de combate de uma força a favor do vento como resultado do sopro de poeira, fumaça, areia, chuva ou neve no pessoal e no equipamento. A força localizada contra o vento tem melhor visibilidade e pode, portanto, avançar e manobrar mais rapidamente. Os ventos fortes limitam as operações aéreas, de assalto aéreo e de aviação. Ventos e rajadas fortes na superfície podem ferir o pessoal, danificar materiais e estruturas, dar falsos retornos de radar e restringir a visibilidade devido ao vento de areia, poeira e outros materiais. Geralmente, ventos acima de 20 mph náuticos criam tais efeitos. As operações de fumaça geralmente são ineficazes em velocidades de vento superiores a 7 mph náuticas. À medida que a velocidade do vento na superfície aumenta, seja naturalmente ou aprimorada pelo movimento do veículo, a sensação térmica se torna um fator crítico. O fator de resfriamento do vento afeta adversamente o pessoal vestido inadequadamente e impede a atividade em áreas não protegidas. A velocidade do vento também afeta a distância que o som percorrerá.



Nebulosidade:

A nebulosidade pode impedir a observação aérea e de elevações, a segurança do espaço aéreo, principalmente aquele usado pelos helicópteros em baixa altitude. Nuvens escuras podem significar chuva e podem limitar o visibilidade. O tipo e a quantidade de cobertura de nuvens, bem como a altura das bases e topos das nuvens, influenciam as operações de aviação aliadas e inimigas. A extensa cobertura de nuvens reduz a eficácia do apoio aéreo. Esse efeito se torna mais pronunciado à medida que a cobertura de nuvens aumenta, à medida que as bases das nuvens diminuem e as condições associadas às nuvens (como gelo, turbulência e pouca visibilidade no ar) aumentam. Em uma massa de ar relativamente instável, as nuvens estão associadas a fortes correntes verticais, turbulência e visibilidade restrita no ar. Geralmente, as missões CAS e as missões de reabastecimento aéreo requerem um teto de pelo menos 1.000 pés. As nuvens afetam as operações terrestres limitando a iluminação e o aquecimento solar de alvos para sistemas infravermelhos. As nuvens limitam o uso de artilharia guiada por infravermelho, diminuindo o envelope no qual ela pode buscar e travar em alvos designados por laser. Linha de visão livre de nuvens é necessária para a entrega de munições guiadas com precisão pelas aeronaves.



Temperatura e Umidade:

Estes fatores influenciam diretamente os vetores aéreos, como aeronaves, mísseis e granadas de artilharia. Afetam as pessoas e o desempenho do equipamento como motores e eletrônicos em seus extremos, afetam também as atividades a céu aberto como as de construção civil e outras de cunho administrativo como o manuseio de suprimentos nas áreas de apoio de retaguarda. Temperaturas baixas podem trazer neve e demandar o provimento de fardamento e proteções especiais, provocar hipotermia e desconforto, além de prejudicar a destreza dos soldados que ficam com extremidade geladas e são obrigados ao uso de luvas e outros acessórios. A temperatura é função da latitude e da altitude, entre outros fatores de menor importância.

A temperatura e a umidade afetam a densidade do ar. A densidade do ar diminui à medida que a temperatura ou a umidade aumentam; assim, a eficiência da propulsão da aeronave é reduzida em áreas de alta temperatura ou alta umidade. Embora a temperatura e a umidade possam não afetar diretamente uma operação tática específica, os extremos reduzirão as capacidades do equipamento e podem exigir uma redução das cargas úteis da aeronave (por exemplo, combustível, armas e pessoal).

Táticas eficazes em um clima podem ser ineficazes quando aplicadas em outro. As altas temperaturas e umidade nos trópicos são propícias ao crescimento de folhagem densa que afeta muito as operações táticas. Os climas desérticos podem variar de extremamente quentes durante o dia a muito frios à noite, exigindo medidas de proteção adicionais. Em climas árticos, nos períodos de clima frio, cria-se uma necessidade quase constante de abrigos aquecidos, causa dificuldade na construção de fortificações, aumenta a dependência de apoio logísticos e demanda roupas especiais, equipamentos e treinamento de sobrevivência.

Fatores de sensação térmica são produzidos por uma combinação de temperatura e velocidade do vento. Um fator de resfriamento de -26° F (-32° C) é considerado o valor crítico para equipamentos e pessoal operando em clima frio. O extremo oposto, 120° F (49° C), é o valor crítico para o pessoal que opera em clima quente. O valor crítico da temperatura para o pessoal que opera em clima quente é de 90° F. Restrições semelhantes ocorrem em terrenos desérticos, onde a diferença de temperatura do dia para a noite pode variar até 100° F (37 ° C).

As temperaturas de alvos e objetos no campo de batalha à noite são importantes para o uso de miras térmicas e dispositivos infravermelhos de visão frontal (FLIR). Uma diferença de temperatura ou contraste térmico é necessária para que esses dispositivos "vejam" um alvo. Normalmente, o aquecimento e o resfriamento ocorrem em taxas diferentes para o alvo e o plano de fundo. Duas vezes por dia, de manhã e à noite, os alvos sem aquecimento interno atingem relativamente a mesma temperatura do fundo. Neste ponto ocorre o cruzamento térmico e o dispositivo térmico não tem a capacidade de "ver" o alvo. O tempo de cruzamento térmico pode ser de apenas alguns segundos quando o sol da manhã atinge um alvo, ou vários minutos em dias nublados de clima adverso; isso depende do contraste da temperatura limite exigido pelo dispositivo térmico. Auxiliares de decisão tática podem ser usados para prever essas diferenças de temperatura para planejadores e estimar a duração dos períodos de transição térmica.



Marés:

Influenciam operações costeiras como desembarques anfíbios e operações em portos menos preparados. A maré é a subida e descida periódica da água causada principalmente pelo efeito gravitacional da lua e do sol na rotação da terra. Além da subida e descida em um plano vertical, há um movimento horizontal chamado corrente de maré. Quando a corrente de maré flui em direção à costa, é chamada de corrente de inundação; quando flui em direção ao mar, é uma corrente de vazante.

Maré alta é a altura máxima da maré. A maré baixa é a altura mínima da maré vazante. A diferença entre o nível da água nas marés alta e baixa é a amplitude da maré. O período da maré é o intervalo de tempo de uma maré baixa até a próxima maré baixa ou de uma maré alta até a próxima maré alta. Esses intervalos são em média de 12 horas e 25 minutos na maioria dos lugares. Aproximadamente a cada 2 semanas, durante a lua nova e a lua cheia, ocorrem as águas mais altas e as mais baixas. As influências atraentes combinadas do sol e da lua sobre a água nessas horas causam essa amplitude de maré incomumente grande. Essas marés são marés de primavera. Quando a lua está em seu primeiro e terceiro quartos, as influências atrativas do sol e da lua se opõem e a amplitude da maré é incomumente pequena. As marés durante esses períodos são marés mortas. As marés que ocorrem quando a lua está em seu declínio quinzenal máximo são chamadas de marés tropicais. Durante as marés tropicais, a amplitude diária aumenta.

O estágio da maré afeta a largura da praia e, consequentemente, o tipo de arrebentação, a profundidade da água sobre bancos de areia e recifes, a largura da praia exposta que deve ser atravessada e os requisitos de equipamentos especiais para facilitar o desembarque. As amplitudes extremas das marés podem restringir o descarregamento ao período de maré alta. Isso requer velocidade máxima de operação e um acúmulo rápido e pesado de suprimentos nos estágios iniciais de um desembarque.

Se houver uma variação de maré relativamente grande em uma praia levemente inclinada, a água pode subir ou descer na praia tão rapidamente que as embarcações ficam encalhadas em um fundo seco antes de poderem se retrair. Isso pode colocar um número crítico de embarcações fora de ação até a próxima subida da maré. Se, além de um gradiente plano, o fundo tiver muitas irregularidades, uma queda na maré pode encalhar as embarcações longe da praia propriamente dita. O pessoal terá que desembarcar e desembarcar nessas piscinas. Se as piscinas forem profundas, pode-se esperar uma perda considerável de equipamentos.

Em alguns casos, o efeito da maré pode exigir que as embarcações sejam mantidas na praia quando da maré baixa, descarregando sua carga enquanto descansam alto e seco na praia exposta. A embarcação então se retrai na maré seguinte.

A força de um vento extraordinariamente forte exercido sobre a maré na área de desembarque pode alterar muito a largura da praia disponível para as operações. Junto com a maré vazante, um forte vento offshore pode soprar toda a água para fora da praia e, em um gradiente suave, o nível da água pode baixar a uma distância extrema da praia propriamente dita. O pessoal e o material devem então passar por uma ampla praia exposta. Por outro lado, um forte vento onshore pode aumentar o avanço da preamar a tal ponto que as instalações e atividades de praia são ameaçadas ou inundadas.

Onde não existem obstáculos, um desembarque na maré cheia é geralmente preferido para que a embarcação possa ser encalhada e retraída prontamente. Normalmente, é desejável definir o horário de desembarque 2 ou 3 horas antes da maré alta.

Tempo Severo

O clima severo afeta a maioria das operações, apresentando uma ameaça de ferimentos ao pessoal, danificando equipamentos e estruturas, limitando a mobilidade terrestre e aérea e as operações aéreas e ameaçando o moral da tropa. Tempestades elétricas geralmente acompanham condições climáticas severas e aumentam o risco de raios em áreas de armazenamento de munições e pontos de abastecimento. Os raios também podem interromper as comunicações por telefone fixo e o uso de comunicação e não comunicação do espectro eletromagnético.


Fatores de Planejamento do Clima

  • Efeitos do Clima nas Operações de Defesa Aérea

As operações de defesa aérea requerem informações ambientais tanto para implantação quanto para emprego. A implantação requer dados climatológicos, trafegabilidade e previsões meteorológicas severas. Os elementos ambientais que afetam o emprego variam de acordo com o tipo de sistema de armas usado. Quando sistemas de mísseis requerem vigilância por radar, elementos como índice de refração e precipitação devem ser conhecidos. Outros sistemas requerem aquisição de alvo visual.

  • Efeitos do Clima na Operações Anfíbias

Os efeitos do clima nas operações anfíbias podem ser benéficos e prejudiciais. Certas condições climáticas podem ajudar a ocultar as operações de pouso. Outras condições podem dificultar o encalhe e o desembarque, o movimento da força-tarefa e as operações essenciais de apoio aéreo.

  • Efeitos do Clima na Operações Mecanizadas e de Infantaria

As operações de blindados e infantaria são influenciadas principalmente pelos elementos climáticos que degradam a trafegabilidade e a visibilidade.

  • Efeitos do Clima na Operações de Artilharia

As operações da artilharia dependem fortemente do clima. A artilharia não só deve lidar com os efeitos climáticos comuns a todas as unidades, mas também deve compensar uma série de efeitos especiais pertinentes às suas operações.

  • Efeitos do Clima na Operações relativas à Aviação e Operações de Assalto Aéreo

A aviação está envolvida em operações multifacetadas em toda a extensão do campo de batalha. Essas operações incluem armas aéreas, reconhecimento e vigilância e apoio logístico de rotina. As missões são variadas e requerem a operação da aviação, tanto de asa fixa quanto de asa rotativa em diversos modos de voo e altitudes.

  • Efeitos do Clima na Operações de Comunicações Eletrônicas

As operações de Comunicações-Eletrônicas são afetadas por vários elementos climáticos. Praticamente todas as condições climáticas especiais que se aplicam às operações de comunicações eletrônicas afetam a propagação eletromagnética. 

  • Efeitos do Clima na Operações de Engenharia de Combate

As operações de engenharia de combate são influenciadas pelas condições ambientais atuais, condições previstas e climatologia.

  • Efeitos do Clima na Operações de Inteligência

Muitas operações de inteligência dependem do clima. A coleta e a disseminação podem ser dificultadas por certas condições climáticas. O processamento de todas as fontes requer a avaliação de todas as condições climáticas, atuais e previstas, pois elas afetam as operações inimigas e amigas. 

  • Efeitos do Clima na Operações Logísticas

As operações logísticas incluem abastecimento, manutenção e transporte necessários para apoiar a força de combate. Inúmeros fatores climáticos afetam o planejamento e as atividades necessárias para cada operação. Esses fatores climáticos que influenciam as operações logísticas afetam posteriormente a força de combate apoiada. Se as unidades logísticas forem impedidas de apoiar elementos avançados de combate, o sucesso da missão de combate pode ser comprometido.

  • Efeitos do Clima na Operações de Suporte Médico

O uso extensivo de ambulâncias aéreas requer o mesmo suporte meteorológico que outros elementos da aviação. Além das operações de aviação, as influências do clima são consideradas no estabelecimento de hospitais de campanha e na antecipação de pré-estocagem e cargas de trabalho. Os requisitos de suporte meteorológico para evacuação terrestre de vítimas são os mesmos do transporte terrestre, inclusive considerando o conforto do paciente em condições climáticas extremas. 

  • Efeitos do Clima na Operações de Policiamento

As polícias militares (Polícia do Exército, da Marinha e da Força Aérea) estão envolvidas em operações sensíveis ao clima, como reconhecimento de rotas e áreas, segurança, controle de tráfego e movimentação, proteção da área de retaguarda, controle de refugiados, controle de prisioneiro de guerra inimigo, operações de controle de distúrbios civis.

A propagação acústica pode afetar significativamente o uso de alto-falantes em operações de controle de distúrbios civis. A propagação acústica é uma função de atenuação e refração, que por sua vez é influenciada pelo gradiente de temperatura, densidade, vento e cobertura do céu. 

  • Efeitos do Clima na Operações NBC

As operações da NBC são extremamente sensíveis às condições ambientais que afetam o transporte e a difusão de precipitação química ou biológica (CB). Alguns dos elementos críticos a serem considerados ao planejar as operações da NBC são a umidade, temperatura do ar, temperatura do solo, velocidade e direção do vento, gradiente de temperatura de baixo nível, precipitação, cobertura de nuvens e luz solar.

  • Efeitos do Clima na Operações Psicológicas

As operações psicológicas táticas são influenciadas principalmente pelos elementos climáticos que degradam a audibilidade das transmissões de alto-falantes e afetam a distribuição de panfletos.


 

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