" O resgate em Entebbe foi uma missão planejada
detalhadamente, treinada tantas vezes quanto possível dentro do pouco tempo que
tínhamos e cuja execução foi tão semelhante ao nosso plano que não exigiu
nenhum ato heróico para superar os problemas surgidos. Todos cumpriram com o
mesmo empenho o seu dever de soldados”
Há 36 anos, no dia 4 de julho de 1976, o exército e a
força aérea de Israel completaram uma de suas mais ousadas e bem sucedidas
missões: Numa extraordinária operação militar, Israel resgatou 256 tripulantes
de um vôo da Air France, mantidos reféns por terroristas Palestinos no
aeroporto de Entebbe, em Uganda. Os tripulantes, inclusive os pilotos
franceses, foram mantidos em cativeiro durante oito dias. A operação foi
liderada por Yonatan Netanyahu – irmão do ex-primeiro ministro de Israel,
Benjamin Netanyahu – que foi o único soldado Israelense morto durante o
resgate. Ironicamente, as Nações Unidas condenaram Israel por ter violado a
soberania de Uganda! A fantástica missão de resgate dos reféns israelenses e de
judeus de diferentes nacionalidades, em Uganda, surpreendeu o mundo e provou
que até o impossível pode ser feito no combate ao terrorismo.
Kulam lishkvav! Todos no chão. Somos do exército
Israelense”. Com estas palavras, o soldado Amos Goren anunciava às 103 pessoas
mantidas como reféns por um grupo de terroristas, no Aeroporto Internacional de
Entebbe, que a história de seu trágico sequestro, iniciado no dia 27 de junho
de 1976, poderia ter um final feliz.
Inicialmente denominada “Operação Thunderball”, tornou-se
internacionalmente conhecida como “Operação Yonathan” e foi tema de inúmeros
filmes e livros. O nome da missão foi modificado em homenagem ao comandante da
força-tarefa, o tenente coronel Yonathan Netanyahu (irmão do ex-Primeiro
Ministro Benjamin Netanyahu), único militar israelense morto durante a ação.
Essa foi a missão mais famosa da unidade Sayeret Mat'kal.
O drama dos reféns começou com o seqüestro do Airbus A
300 da Air France durante o vôo AF 139, Tel Aviv-Paris, com escala em Atenas,
na Grécia, com 258 pessoas a bordo. Oito minutos após a decolagem, a aeronave
foi dominada por quatro terroristas, dois dos quais possuíam passaportes de
países Árabes, um do Peru com o nome de A. Garcia e uma mulher do Equador de nome
Ortega. Posteriormente, descobriu-se que os dois últimos eram membros da
organização terrorista Alemã Baader-Meinhof (Wilfried Bõse "Garcia" e
Gabriele Krõcher-Tiedemann "Ortega" ). O avião foi desviado para
Entebbe após aterrissar em Bengazi, na Líbia, para reabastecimento e chegou a
Uganda na madrugada do dia 28.
Os quatro terroristas haviam vindo do Kuwait pelo vôo 763
da Singapore Airlines e iam com destino a Bahrein. Entretanto, ao desembarcar
em trânsito, os quatro dirigiram-se ao check-in do vôo AF 139 da Air France.
Pilotado pelo comandante Michel Bacos, o avião francês decolou do aeroporto
Ben-Gurion às 8h59, chegando em Atenas às 11h30. Desembarcaram 38 passageiros e
embarcaram 58, entre os quais, os quatro sequestradores. O total a bordo era
então de 246 pessoas, mais a tripulação.
12h20, a aeronave já cruza os céus novamente rumo ao seu
destino final: Paris. Oito minutos após a decolagem, enquanto as aeromoças
preparam-se para servir o almoço, os terroristas assumem o controle do avião. As
autoridades aeroportuárias em Israel e a estação de controle da Air France
percebem que perderam contato com o vôo AF 139, alguns minutos após a decolagem
em Atenas. Os ministros de Transporte e da Defesa, que participam da reunião
semanal do gabinete com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, são imediatamente
informados. Apesar de não saber ainda o que acontecia a bordo, o setor de
Operações das Forças de Defesa de Israel (FDI) prepara-se para um eventual
pouso da aeronave em Lod.
14h00, o Airbus comunica-se com a torre de controle do
aeroporto de Bengazi, Líbia, solicitando combustível suficiente para mais
quatro horas de vôo, além de pedir que o representante local da Frente Popular
para a Libertação da Palestina (FPLP) seja encaminhado ao local. Descobriu-se
então que a FPLP estava a frente do sequestro.
14h59, o aparelho desce em Bengazi e apenas uma mulher é
libertada. Ela consegue convencer os terroristas e um médico líbio que está
grávida e sob risco de aborto. Na verdade, está indo para o enterro de sua mãe
em Manchester, Inglaterra. Após algumas horas, parte para seu destino.
Ao amanhecer, paira em Israel e no mundo um clima cheio
de dúvidas. Uganda seria o destino final dos seqüestradores ou apenas uma
escala para abastecimento? Como estaria reagindo o governo de Idi Amin Dada
diante dos acontecimentos – seriam anfitriões hostis ou parceiros no seqüestro?
Afinal, desde 1972, as relações entre Israel e Uganda não eram amigáveis, pois
o governo israelense havia-se recusado a fornecer jatos Phantom ao país,
sabendo que Uganda pretendia usá-los para bombardear o Quênia e a Tanzânia. Idi
Amin havia, então, expulsado todos os israelenses do país.
Oficialmente, o ditador de Uganda adotou uma atitude
neutra em relação aos sequestradores, mas na realidade eles eram bem-vindos.
Líderes palestinos encontravam-se no aeroporto para receber o avião, bem como
unidades do Exército de Uganda. Os reféns foram conduzidos para o prédio do
antigo terminal do aeroporto.
Na terça-feira, dia 29, uma mensagem vinda de Paris, que
primeiramente foi divulgada pela rádio de Uganda, revela os objetivos dos
seqüestradores: a libertação até às 14h do dia 1 de julho de 53 terroristas –
13 detidos em prisões da França, Alemanha Ocidental, Suíça e Quênia, e 40 em
Israel. Caso suas reivindicações não fossem atendidas explodiriam o avião com
todos os passageiros.
Israel, a nação mais afetada, havia sempre deixado claro
que nunca negociaria com o terrorismo e que estava preparado para derramar o
sangue de seus cidadãos a fim de se ater a seus princípios. Em maio de 1974,
por exemplo, terroristas tinham seqüestrado os alunos de uma escola de Maalot,
na Galiléia; as Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram o edifício e
fuzilaram os pistoleiros, mas à custa de 22 crianças mortas. Em Entebbe,
entretanto, parecia impossível que Israel reagisse, pois apenas 105 reféns eram
judeus - e o governo israelense seria criticado pela opinião pública mundial se
pusesse em risco a vida dos outros.
Na quarta-feira, 30, França e Alemanha afirmam que não
soltariam os terroristas, posição que se supunha seria a mesma de Israel. A
França, no entanto, revela uma certa flexibilidade ao anunciar que seguiria a
posição do governo israelense que, até então, mantinha-se em compasso de
espera, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.
Curiosamente, na mesma quarta-feira,foram os próprios
terroristas que desperdiçaram sua maior vantagem. Sem atinar para as
implicações de seu ato, separaram os reféns não-judeus e, aparentemente num
gesto de consideração para com os outros países, permitiram que 47 reféns, –
exceto israelenses ou judeus – retomassem sua viagem para a França. O capitão
Bacos e sua tripulação recusam-se a acompanhar o grupo, afirmando que não
abandonariam os demais passageiros. Uma freira francesa também insiste em
ficar, mas é impedida pelos terroristas e pelos soldados ugandenses.
A libertação de alguns reféns e a evidência cada vez
maior de que o principal alvo dos terroristas era pressionar Israel, aumentam a
tensão em Israel e a pressão dos familiares para que o país atenda às
exigências dos sequestradores. Nos círculos militares e altos escalões do
governo, reuniões e mais reuniões são realizadas, além do levantamento de
informações feito pela Inteligência em busca de dados que possam ser úteis a
uma eventual ação de resgate. Novos nomes integram-se às reuniões entre as FDI
e os ministros, entre os quais, o general brigadeiro Dan-Shomron, 48 anos,
chefe dos pára-quedistas e oficial de infantaria; o general Benni Peled; e Ehud
Barak, vice-diretor do Serviço de Inteligência das FDI.
Agentes secretos Israelenses do Mossad, interrogaram os
reféns liberados a respeito dos sequestradores; número, nacionalidades,
armamento, idioma, vestuário, rotina, e sobre as forças ugandenses no local e
tudo que tivessem algum valor para uma possível missão de resgate em Entebbe.
Uma fonte muito importante foi um passageiro Francês de origem judaica que
havia sido erroneamente libertado com os reféns não judeus. O homem tinha
treinamento militar e "uma memória fenomenal" segundo Muki Betzer,
permitindo a coleta da inteligencia sobre o número de armas e dos
sequestradores, entre outras informações úteis.
A confirmação dada pelos reféns soltos, meticulosamente
entrevistados pelos serviços secretos da França e de Israel, de que o governo
de Idi Amin estava apoiando os terroristas foi fundamental para as medidas que
seriam tomadas por Israel a partir de 1 de julho, quinta-feira, quando, 90
minutos antes de expirar o prazo dado pelos sequestradores, o gabinete se reúne
e aprova o início de negociações com os terroristas. Estes, por sua vez,
afirmam não estar interessados em negociações e sim no atendimento de suas
reivindicações, estendendo o prazo até às 14h do dia 4 de julho. Esta
prorrogação de prazo iria se revelar crucial para permitir que as forças
Israelenses tivessem tempo suficiente para chegar a Entebbe.
É nesse 1 de julho que o Serviço de Inteligência descobre
que o aeroporto de Entebbe fora construído por uma empresa israelense – Solel
Boneh, o que possibilita o acesso às plantas originais do local. Cada vez mais,
após intensos encontros com oficiais do exército, Peres convence-se de que a
opção militar é possível e que é apenas uma questão de tempo para que todas as
peças do quebra-cabeça se encaixem. Tempo, no entanto, é algo que Israel não
tem.
A opção militar desponta como caminho viável. A principio
os israelenses trabalham com três opções:
1. Um lançamentos de pára-quedistas no Lago Victoria e um
silencioso desembarque em Entebbe usando barcos de borracha;
2. Um cruzamento em grande escala do Lago Victoria,
partindo da margem queniana - usando barcos que poderiam ser alugados,
emprestados ou simplesmente roubados;
3. Um pouso direto em Entebbe, seguido de um assalto
rápido e uma remoção imediata dos reféns por ar por forças especiais da unidade
Sayeret Mat'kal.
Nos dois primeiros planos, após libertar os reféns, os
israelenses iriam depender da ajudar de Idi Amin ou da intervenção da ONU para
sair de Uganda. Porém nas próximas horas, as duas primeiras opções seriam
descartadas por razões militares e porque os dados colhidos em Paris
confirmavam que Idi Amin estavam apoiando os terroristas. Sendo assim o assalto
direto a Entebbe seria a opção adotada.
O General-Brigadeiro Dan Shomron é nomeado comandante da
missão em terra e Yoni Netanyahu, comandante da unidade Sayeret Mat'kal,
comandante da força-tarefa que a executará. Uma réplica do antigo terminal de
Entebbe é construída para simulação da operação, com base nas plantas obtidas junto
à Solel Boneh e em fotografias aéreas, e os comandos começam a treinar.
Enquanto isso, um grupo de 101 reféns – excluindo-se israelenses e judeus de
outras nacionalidades – chega a Paris. Trazem duas informações essenciais para
Israel: a primeira, de que haveria menos pessoas para resgatar; a segunda, de
que apenas judeus estavam sendo mantidos como reféns, além da tripulação, o
que, para o governo, significava que os seqüestradores possivelmente acabariam
matando a todos, mesmo que suas exigências fossem atendidas.
12h do dia 2 de julho, sexta-feira, os chefes dos
comandos da missão, então denominada “Thunderball”, apresentam os planos
detalhadamente para Shomron. Duas horas depois, Yoni reúne-se com os oficiais
para as ordens finais, antes de mais uma simulação na réplica do aeroporto,
incluindo o pouso dos aviões nas pistas sem iluminação de Entebbe. O ensaio
levou 55 minutos, do momento em que o avião aterrissou até a sua decolagem. A
preocupação maior entre todos os envolvidos é obter o máximo do
“elemento-supresa”.
O ponto fundamental do plano de Shomron era fazer
aterrissar em Entebbe, no meio da noite, quatro aviões Hércules C-130 de
transporte, que descarregariam tropas da unidade Sayeret Mat'kal e veículos.
Para evitar que os aviões fossem detectados, o primeiro Hércules seguiria
imediatamente atrás de um avião de carga inglês cujo vôo regular era esperado
no aeroporto de Entebbe.
Pára-quedista israelense da unidade de reconhecimento de
elite Sayeret Tzanhanim. Ele está usando um uniforme padrão das FDI, com o novo
modelo de capacete, que teve sua estréia em Entebbe. Ele está armado com o novo
fuzil-automático Galil de 5,56mm introduzido recentemente nas FDI. Ele carrega
granadas de rifle HE do Galil nas costas e luzes de emergencia para serem
usadas na pista de pouso.
As tropas que realizariam a ação em terra estavam
divididas em cinco grupos de assalto:
* Grupo de Assalto 1: se encarregaria da segurança
da pista e dos aviões (era formado por 33 médicos que também eram soldados);
* Grupo de Assalto 2: tomar o edifício do antigo
terminal e libertar os reféns;
* Grupo de Assalto 3: tomar o edifício do novo
terminal;
* Grupo de Assalto 4: impedir a ação das unidades
blindadas de Idi Amin (estacionadas em Kampala, a 30 km de distância) e
destruir os aviões de combate ugandenses Mig 17 e Mig 21 estacionados no
aeroporto, para impedir uma possível perseguição. Este grupo também iria cobrir
a estrada de acesso ao aeroporto, pois sabia-se que o Exército ugandense tinha
tanques T-54 soviéticos e carros blindados OT-64 tchecos para transporte de
tropas a aproximadamente 32 km da Capital Kampala;
* Grupo de Assalto 5: evacuar os reféns,
conduzindo-os para o Hércules que estaria à espera e seria reabastecido no
local ou em Nairóbi, no vizinho Quênia - um dos poucos países africanos amigos
de Israel.
Levando em conta que haveria inúmeras baixas, um Boeing
707, transformado em avião-hospital, voaria diretamente para Nairóbi durante o
ataque. Ao mesmo tempo, outro 707 sobrevoaria Entebbe transmitindo informações
ao quartel-general em Israel.
Na medida do possível, tudo foi feito para eliminar os
riscos. Sabia-se, por exemplo, que Amin uma vez chegara a Entebbe num Mercedes
preto escoltado por um Land Rover, e veículos como esses foram embarcados no
Hércules que iria à frente, com o objetivo de confundir os ugandenses nos
vitais primeiros minutos.
1h da madrugada do dia 3 de julho, sábado, Motta Gur
telefona para Peres e o informa que os homens estão preparados e que a operação
pode ser executada.
13h20 do dia 3 de julho de 1976, sábado, o tenente
coronel Joshua Shani inicia a decolagem do primeiro dos quatro aviões Hércules
C-130, do Aeroporto Internacional Ben-Gurion, em Lod, com destino a Entebbe.
Poucos segundos depois, cada um dos outros aparelhos também parte, porém em
direções diferentes. Afinal, a passagem de quatro Hippos (“hipopótamos”), como
são descontraidamente chamados por suas tripulações, em horários semelhantes,
não passaria desapercebida sobre os ensolarados céus de Tel Aviv, durante um
verão que prometia ser tão quente quanto os anteriores. E o que menos se
pretendia, naquele dia, era chamar a atenção e provocar especulações.
A bordo dos Hippos, a força-tarefa especial comandada por
Shomron e Yoni tinha um objetivo bem definido: libertar os reféns em Entebbe.
Apesar de a missão de resgate não haver sido, ainda, aprovada pelo gabinete
israelense, a partida dos aviões fora autorizada pessoalmente por Rabin, senão
não haveria tempo hábil para sua execução. A permissão fora dada a Motta Gur.
Enquanto os ministros se reúnem para analisar as
possíveis alternativas para a situação, incluindo a possibilidade de o país
atender às exigências dos terroristas, os aviões aterrissam em Sharm el-Sheik,
na região do deserto do Sinai, para abastecer e partem novamente rumo a Uganda,
voando a baixa altitude sobre o Mar Vermelho para não serem detectados por
sistemas de radares.
O ponto fundamental no plano de Shomron consistia em
fazer aterrissar o primeiro Hércules imediatamente atrás do avião de carga
inglês que estava sendo esperado em terra, pois este não apenas absorveria a
atenção dos operadores de radar ugandenses como também encobriria o ruído feito
pêlos aviões israelenses. A precisão tinha de ser absoluta - e foi. Sete horas
depois da decolagem, a força israelense aproximava-se de Entebbe, num céu
carregado de chuva, sempre na escuta do comandante inglês, que recebia as
instruções da torre de controle. O C-130 de Shomron colocou-se exatamente atrás
do cargueiro.
Eram 23h e o tenente coronel Shani desce silenciosamente
o seu Hippo em Entebbe depois de sete horas e meia de vôo e a distância de
quatro mil quilômetros desde a decolagem em Israel. A lendária capacidade de
precisão de aterrissagem do Hércules foi bem explorada. O pessoal que deveria
cuidar da segurança da pista desceu rapidamente. Os operadores de radar não
perceberam o intruso e nenhum alarme foi dado. Por esse erro, seriam logo
depois mortos pelo enraivecido e humilhado Idi Amin.
O Hércules seguiu para uma área mais escura da pista e,
enquanto o cargueiro inglês taxiava, o Mercedes e dois Land Rover desceram a
rampa, transportando o grupo que iria assaltar o velho terminal. O Hércules
seguiu para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava,
dez membros da brigada de infantaria Golani saltam do avião e espalham sinais
para orientar a aterrissagem das outras três aeronaves, que se aproximam
rapidamente. A rampa de carga é aberta e por esta desliza um Mercedes preto,
artifício considerado fundamental para a missão, dois Land Rover e 35 membros
da força-tarefa, entre eles Netanyahu. Os militares que iam no Mercedes estavam
vestidos com uniformes ugandenses.
Mas os ugandenses logo perceberam a farsa e a 100 m do
terminal duas sentinelas, com metralhadoras apontadas, ordenaram ao carro que
parasse. Netanyahu e outro oficial abriram fogo com pistolas dotadas de
silenciador, atingindo um dos homens, e o grupo seguiu em frente até uns 50 m
do edifício, A partir daí, os israelenses foram a pé. Os reféns estavam todos
deitados no salão principal e muitos dormiam. Quatro terroristas haviam sido
deixados montando guarda, um à direita, dois à esquerda e um no fundo do salão.
Todos estavam de pé e puderam ser identificados .por causa das armas que portavam.
Apanhados de surpresa, foram mortos imediatamente, e o grupo de assalto subiu
pelas escadas. Os reféns advertiram que havia mais terroristas e soldados
ugandenses no andar de cima. As ordens eram para tratar os ugandenses como
inimigo armado, se abrissem fogo; caso contrário, seriam poupados. Mas para os
terroristas não haveria misericórdia. Diversos deles foram eliminados à
queima-roupa enquanto dormiam. Ao todo, morreram 35 ugandenses e treze
terroristas - entre os quais Bõse e Krôcher-Tiedemann. Cerca de sessenta
soldados ugandenses fugiram do edifício. A ação no terminal antigo durou três
minutos.
Sete minutos depois que o primeiro Hércules aterrissou, o
segundo pousava, seguido pelo terceiro e pelo quarto. Logo que as rampas eram
baixadas, jipes e veículos de transporte saíam em disparada, atravessando a
pista. O grupo comandado pelo coronel Matan Vilnai assaltou o edifício do novo
terminal, que havia sido apressadamente abandonado pêlos ugandenses. As tropas
de Amin pareciam totalmente confusas e incapazes de esboçar uma reação
coerente. A única resistência determinada vinha da torre de controle, de onde
partiu a rajada que feriu mortalmente Netanyahu, postado do lado de fora do
velho terminal. Mas a unidade de Vilnai eliminou esse núcleo de oposição graças
ao fogo concentrado de metralhadoras e lança-granadas.
O grupo do coronel Uri Orr encarregou-se do embarque dos
reféns no avião que os aguardava. A equipe que tinha ordens de eliminar os Migs
21 e 17 ugandenses levou poucos minutos para transformar onze deles em bolas de
fogo com rajadas de metralhadoras. O último dos quatro Hippos, com Shomron a
bordo, parte de Entebbe às 00h30 do dia 4 de julho – 90 minutos depois de o
primeiro ter aterrissado.
Após uma breve escala em Nairobi, para reabastecimento e
a transferência dos feridos para um Boeing com um hospital a bordo. Apesar de
todos os esforços dos médicos – então chefiados pelo coronel Ephraim Sneh, Yoni
não resiste aos ferimentos e falece. O saldo total de mortos da Operação
Yonatan: 4 –Yoni e três reféns – dois mortos no fogo cruzado com os terroristas
e uma senhora de idade, Dora Bloch, que havia sido transferida para um hospital
de Uganda e que posteriormente foi assassinada por ordem de Idi Amin. Depois de
reabastecer, os israelenses tomaram o caminho de volta, às 4h08.
Nas primeiras horas da manhã do dia 4 de julho, o Hippo
pilotado por Shani sobrevoa Eilat e desce em uma base da Força Aérea de Israel
(FAI) na região central do país. Enquanto os reféns são atendidos pelas equipes
de terra, as unidades de combate descarregam seus equipamentos. Em seguida,
retornam às suas bases e retomam suas funções de rotina, afastados da euforia
que tomava conta de Israel e da admiração e respeito que haviam conquistado em
todo o mundo pelo que haviam feito naquela noite. Para eles, mais uma missão
fora cumprida... Era o seu dever, para o qual são treinados.
Ainda no dia 4, aproximadamente ao meio-dia, um Hércules
da FAI aterrissa no Aeroporto Internacional Ben-Gurion. De suas portas
traseiras, 102 pessoas - homens, mulheres e crianças - correm em segurança para
se reunir a seus familiares e amigos. A Operação Entebbe permanecerá para
sempre como um feito extraordinário na história da aviação, embora a sorte
tenha sido um fator essencial. Mas esse resgate nem mesmo seria cogitado se,
para executá-lo, não existissem homens motivados e treinados em um nível
verdadeiramente fantástico.
Nota: Segundo algumas informações, o Coronel Ulrich
Wegener comandante da unidade antiterrorista alemã GSG 9, estava entre os
comandos israelenses durante a operação, possivelmente devido à presença dos
dois terroristas alemães. Em 1977, esta unidade realizaria uma grande operação
de resgate também na África em Mogadíscio na Somália, quando Boeing 737 da
Lufthansa foi sequestrado.
Em 2001, Dan-Shomron, relembrou os fatos do resgate em
Entebbe com naturalidade e não gostou muito de mencionar a palavra heroísmo
quando falava da missão. Em uma entrevista publicada pela revista do The
Jerusalem Post, no mês de junho de 2001, Shomron – que foi chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas de 1987 a 1991 – afirma que vários fatores
contribuíram para o êxito da missão.
O resgate foi planejado nos seus mínimos detalhes,
considerando-se o tempo necessário para todas as etapas, incluindo as baixas
que poderiam ocorrer. Segundo o ex-chefe das Forças Armadas, Entebbe não foi
uma missão suicida. Além dos dados precisos, o grupo era formado por cerca de
200 soldados escolhidos entre os melhores do país, dos mais altos escalões em cada
unidade das FDI.
Shomron relembra que os estrategistas já sabiam que o
aeroporto de Entebbe fora construído por uma empresa israelense – o que
permitiu o acesso às plantas do local; informações importantes também foram
obtidas junto a diplomatas e empresários israelenses que, até 1972, viajavam
freqüentemente a Uganda, além da própria FAI, que, em função das boas relações
diplomáticas entre Israel e Uganda no passado, conhecia bem as instalações.
Reféns soltos pelos terroristas antes do dia 3 de julho também forneceram
detalhes essenciais sobre o número de seqüestradores e sobre o local no qual
haviam sido mantidos presos, Um dos reféns libertados posteriormente foi o
rabino Raphael Shamah, na época estudante de uma Yeshivá em Israel.
“Nós sabíamos que havia grandes probabilidades de o
aeroporto ter passado por algumas modificações desde a sua construção. Mas
estes dados também poderiam ser obtidos de alguma maneira. O elemento mais
importante com o qual contávamos, no entanto, era a surpresa. Ninguém poderia
imaginar que Israel tentaria realizar uma missão de resgate a quatro mil
quilômetros de distância de suas fronteiras, sobrevoando o espaço aéreo de
países hostis. Este elemento não poderia ser desperdiçado. Nós sabíamos que, se
conseguíssemos chegar ao local sem ser descobertos, qualquer ação após o pouso
em Entebbe teria que ser muito rápida e deveria ser efetuada antes que os
terroristas ou os soldados ugandenses que os apoiavam pudessem perceber o que
estava acontecendo”, relembra Shomron. E acrescenta:
“O fato de não ser plausível era um ponto essencial para
o sucesso”. Mais um fator contribuiu para o êxito da missão. Dos 13 terroristas
envolvidos no sequestro, apenas oito estavam no local. Segundo Shomron,
aparentemente os demais estavam fora do aeroporto. Os soldados Ugandenses
também foram rapidamente dominados pelos comandos Israelenses.
Quando perguntado como via a missão 25 anos depois,
respondeu: “Combater o terrorismo exige, antes de mais nada, vontade política.
Não há dúvidas de que o resgate provocou um impacto muito grande em Israel e no
mundo, pois mostrou que é possível enfrentar o terror onde quer que este se
manifeste. Desde então, vários países criaram unidades de combate ao terrorismo
e aumentou o intercâmbio entre os vários Serviços de Inteligência”. Mas ele faz
uma ressalva:
O resgaste de Entebbe 36 anos de um feito épico“O êxito
criou a ilusão de que Israel sabe tudo e pode fazer tudo, em qualquer
circunstância, o que não é verdade. Há situações em que se sabe muito e pode-se
planejar quase tudo com exatidão. Em outras, não se sabe nada e, portanto, não
se pode fazer nada. Por isso, quando me perguntaram qual dos participantes da
ação poderia ser condecorado por heroísmo, respondi “nenhum”. Pois o resgate em
Entebbe foi uma missão planejada detalhadamente, treinada tantas vezes quanto
possível dentro do pouco tempo que tínhamos e cuja execução foi tão semelhante
ao nosso plano que não exigiu nenhum ato heróico para superar os problemas
surgidos. Todos cumpriram com o mesmo empenho o seu dever de soldados”.
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