segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Operando no Mar - Generalidades *187


Adaptação do Guia de Guerra Naval do site Sistemas de Armas

A guerra naval, tal qual a terrestre, é um jogo de fogo e movimento, onde as forças procuram surpreender suas oponentes, colocando os meios daquelas dentro do alcance de seu fogo, evitando assumir a mesma condição. É uma sequência de escaramuças baseadas em alta tecnologia e muita astúcia, onde o equipamento menos capaz quase sempre é sinônimo de fracasso, podendo em raras ocasiões ser compensado pela perspicácia dos comandantes mais astutos e bem treinados. 

As marinhas do mundo buscam constantemente equipar-se da melhor forma possível, porém o custo dos sistemas navais mais modernos reservam o domínio dos mares àquelas mais abastadas. Um exemplo clássico desta situação ocorreu um 1982, quando submarinos nucleares britânicos forçaram a pequena esquadra argentina a ficar imóvel e inútil em suas bases, mesmo não estando ainda presentes de fato, pois a simples suspeita de sua presença anunciada, obrigou os argentinos a reguardarem seus meios, incapazes de contrapor a ameaça representada pelos submersíveis. O disparo de uma arma no cenário naval é tão somente o coroamento de uma sequência de escaramuças, combinando movimento contínuo para obter o melhor posicionamento a uma atividade intensa de operações de esclarecimento, usando meios navais, aeronavais e de guerra eletrônica, incluindo o sensoriamento por satélites.

Em contraponto aos espaços restritos e repletos de recursos de ocultação dos teatros terrestres, as vastidões marítimas são o grande trunfo das forças navais para manterem-se incógnitas.  Monótono e desprovido de acidentes naturais, o mar exige a vigilância constante por aeronaves, submersíveis e sensores eletrônicos com detecção a grandes distâncias, sendo a ocultação permitida apenas pela curvatura do planeta e pela submersão dos meios capazes de tal manobra. Quando operando próximas à costa, as formações navais ainda conseguem alguma proteção dos acidentes do terreno, porém também podem ser surpreendidas por ameaças surgidas a partir deles. No teatro marítimo, meios eletrônicos modernos e sistemas no estado da arte são a diferença entre ganhar ou perder.



O primeiro recurso que uma força naval dos nossos tempos coloca em ação é o esclarecimento marítimo através da aviação de patrulha de longo alcance e do sensoriamento por satélites, se disponível. Pequenos navios patrulheiros e aeronaves, baseadas em terra ou mesmo em escoltas e navios porta-aeronaves, patrulham os mares a procura de forças que possam representar ameaça, pois o quanto antes se detectar o inimigo, mais tempo se terá para preparar-se para enfrentá-lo. 

Patrulheiros aéreos baseados em terra formam a primeira linha de defesa de uma nação contra incursões vindas do além-mar e são vitais na segurança de qualquer país com fronteiras marítimas. Estas aeronaves são vulneráveis ao assédio de caças inimigos, porém devido à imensidão marítima estes teriam que ter raios de ação improváveis ou contarem com o suporte de navios-aeródromos. Vigiar o mar com radares baseados em navios é perigoso e deve ser feito com critério, pois o radar diz ao atacante exatamente onde está. Mesmo denunciando sua posição, o radar é elemento vital na guerra naval e amplamente usado nestas operações, sendo àqueles aerotransportados (AEW) mais fugazes e difíceis de serem plotados, além de terem um horizonte maior. Aeronaves AEW operando em proveito de uma força naval são elementos valiosos. Na batalha de Midway, ao contrário dos porta-aviões norte-americanos, os japoneses não possuíam esclarecimento por radar, cabendo às aeronaves e aos olhos de seus pilotos este papel. Esta condição lhes custou caro, pois as forças dos EUA lograram surpreender a frota nipônica quando esta não mais podia reagir, afundando 3 naves em poucos minutos e revertendo em instantes o rumo da guerra no pacífico, na maior batalha naval da história.

As principais missões navais são o controle de área marítima e a negação do uso do mar, que é o contraponto da primeira. A partir do mar também se lança o poder sobre terra, operação que deve partir de um espaço marítimo sob controle e dentro de uma esfera de segurança relativa. A mobilidade de uma força naval é fator chave para sua sobrevivência, pois uma força estática pode ser rapidamente localizada e virar alvo, de forma que ela deve estar sempre em movimento, salvo em áreas onde o domínio é total. Na Guerra das Falklands/Malvinas a esquadra britânica se manteve em segurança a leste das ilhas onde a aviação argentina não a alcançava, porém ao custo da autonomia de seus caças Harrier. Como neste caso, aeronaves baseadas a grandes distâncias de sua área de operações acabam por permanecerem pouco tempo engajadas em combate, devendo retornar para abastecer. Reabastecedores aéreos podem prolongar sua presença.

As esquadras operam como um único corpo, com seus diversos navios proporcionando segurança um ao outro. Quando um deles dispara, seja suas armas ou sua radiação eletromagnética, sua posição fica logo conhecida e a mudança de posição, bem como o movimento contínuo são inevitáveis. Pode-se operar em grupo em um dia, dispersar-se em seguida para evitar detecção e reagrupar-se novamente muito longe de onde se estava anteriormente. Distâncias muito longas (maiores que 40 km que é o horizonte-radar para naves de superfície) podem prejudicar os links de comunicação se a frota não contar com o enlace por satélites, neste caso sendo necessárias retransmissões por aeronaves.

Durante uma operação naval as diversas unidades que a compõem manobram e disparam sempre que se julgar oportuno, porém todas, invariavelmente, trabalham o tempo todo na coleta, processamento e disseminação de informações de combate, de forma que todas as unidades estejam continuamente cientes da situação tática, que pode ser bem dinâmica. Os tempos modernos trouxeram os sistemas informatizados e a NCW (guerra centrada em redes), que tornaram as atividades de C3I (comando, controle, comunicações e informações) mais rápidas e tempestivas. A inteligência é a essência das operações, e no mar esta afirmação é acentuada. 



Aeronaves de patrulha marítima, caças e bombardeiros, helicópteros antisubmarinos, navios de superfície e submersíveis operam seus sistemas de ESM (medidas de apoio eletrônico), radares e sonares, na coleta de toda informação que se possa obter sobre o inimigo e situação tática. Armas potentes e precisas, posicionadas com seus alvos teoricamente dentro de seus alcances, de nada valem se estes não puderem ser detectados, identificados, adquiridos e travados, bem como deve-se manter vigilância constante para que as unidades inimigas não se coloquem em posição favorável ao disparo das suas.

O grau de segurança que uma esquadra dispõem é aquele proporcionado por sua mobilidade, complementado por seus sistemas defensivos. Quem detecta primeiro, dispara primeiro e se evade da mesma forma, ficando fora de alcance e ganhando a batalha. Desde o planejamento até o regresso pós-missão o esclarecimento é a principal atividade desempenhada pela frota. Uma vez localizada, a ameaça oferecida por uma formação naval diminui muito, devido principalmente a perda do fator surpresa. Nesta situação o comandante pode empreender um ataque se seus meios forem suficientes e a ocasião conveniente, ou evadir-se em caso contrário. O esclarecimento deve sempre andar de mãos dadas com seu contraponto, que é a negação de informações ao inimigo, com a situação tática e as especificidades operacionais determinando este equilíbrio.

Quando se opera em um ambiente misto, ou seja próximo a costa ou lançando incursões aéreas e anfíbias terra adentro, a topografia dos terrenos adjacentes e de uso potencial adquirem importância tática. Aeronaves utilizam-se das elevações e dos espaços entre elas para traçar suas rotas de ingresso e retorno, rotas estas que também podem servir para que a aviação inimiga lance missões contra a frota. Nas operações anfíbias as praias adquirem relevância, bem como as posições de artilharia contra-desembarque, seja de tubo cujo alvo principal serão os fuzileiros e as embarcações, ou de mísseis antinavio baseados na costa.  As elevações e acidentes do terreno podem ainda abrigar forças de combate. Águas restritas podem servir para forças costeiras montarem emboscadas, lançarem minas navais ou ainda abrigarem os silenciosos e mortais submarinos diesel-elétricos. Barreiras físicas como recifes e bancos de areia também se fazem presentes em ambientes próximos a costa, e constituem obstáculos, bem como a profundidade relativa do local. 

A base naval de Pearl Harbour era considerada segura contra o ataque de torpedos lançados do ar devido a sua baixa profundidade, onde sequer haviam redes antitorpedos. Calculava-se que pela inércia da queda, se chocariam com o fundo. Porém não se considerou a engenhosidade japonesa que criou formas destes projéteis assim lançados evitarem este comportamento e atingirem a frota norte-americana la ancorada durante a Segunda Guerra Mundial.



Conhecer a ordem de batalha inimiga é fundamental ao comandante naval. Saber das capacidades de cada um dos meios à disposição dos comandantes adversários norteará as decisões a serem tomadas e os cuidados que devem ser observados, e o desconhecimento destas poderá resultar em surpresas desagradáveis. A capacidade do inimigo capitalizar as características dos ambientes restritos também dependerá da adequação de seus meios disponíveis a este cenário, porém estes são mais acessíveis e disponíveis a quase todos. Invariavelmente se faz necessário o reconhecimento prévio dos locais onde a frota ou suas unidades operarão, com varreduras aéreas e de superfície a fim de identificar e eliminar ameaças ali presentes, como o já citado submersível de tocaia, a presença de minas, artilharia de costa e lanchas torpedeiras ou com mísseis.

Um comandante competente possui planos de contingência para todas as situações, não importando o quanto elas possam ser remotas, e cumpre sua missão com agressividade e cautela, pois a timidez e a negligência quase sempre levam ao fracasso ou a inoperância. Operar nesta situação de agressividade necessária sem se expor não é tarefa fácil, e exige competência dos comandantes, conquistada pelo conhecimento e treinamento constante.

Manobrar significa posicionar-se para que se possa fazer fogo de forma eficiente, sem se expor, levando em consideração as distâncias a serem vencidas e o tempo disponível. A manobra requer a sincronização no tempo e no espaço dos vários meios navais e aéreos, com base na inteligência disponível e necessária, pesando os riscos envolvidos e o objetivo a ser atingido. 

O centro de gravidade tático deve ser buscado em cada operação e sua identificação é vital ao sucesso da manobra. Deve-se identificar as unidades que representam maior ameaça e os objetivos a serem alcançados para que a missão possa ser cumprida. A simples retirada da força inimiga pode significar o sucesso da missão, algumas vezes sem que um único disparo seja efetuado. Esta situação aconteceu no conflito do Atlântico Sul em 1982, onde o afundamento do cruzador ARA Gen Belgrano, em manobra de assédio às forças britânicas, por um SSN de sua majestade, fez com que toda a frota argentina se recolhessem à suas bases e lá permanecessem até o final do conflito, como dito anteriormente. Salientamos ainda que unidades de maior ameaça são aquelas capazes de interferir de forma significativa na manobra e devem ser priorizadas no quesito segurança, unidades que constituam os objetivos da missão são as mais importantes e devem ser buscadas no quesito finalidade, e unidades muito potentes que se encontrem próximas à área de operações, devem ser tratadas como objetivos secundários. O tempo disponível determinará o grau de flexibilidade que a missão poderá alcançar.

Ao iniciar o deslocamento de uma esquadra ou flotilha, o comandante naval poderá optar por uma rota direta e previsível, ou por uma indireta que os mantenha incógnitos à vigilância inimiga. Poderá ainda realizar um deslocamento emassado ou disperso, todos sempre precedidos de meios precursores, tarefa desempenhada pela aviação, embarcada ou não, e pelos submarinos que tem na sua capacidade de permanecerem ocultos seu maior trunfo nesta vital tarefa de esclarecimento. Estas decisões serão tomadas de acordo com o nível de ameaça que a frota irá enfrentar, sua capacidade de reação, a presença ou não de armas nucleares, o tempo disponível, a presença de submarinos, as áreas patrulhadas pela aviação inimiga, entre outros. A disciplina de emissões eletromagnéticas deve sempre ser considerada, com momentos em que o "silêncio" é fundamental.



Outra decisão que o comandante naval levará em consideração, será de manter contato ou não com as forças inimigas antes dos momentos decisivos. Muitas vezes um contato que leve a provocar um desgaste, seja nos meios inimigos ou em seus estoques de munição e combustível ao custo de danos mínimos, pode ser mais proveitoso que um deslocamento totalmente isento de proximidade. Antecipar corretamente a presença do inimigo e fazê-lo disparar suas armas de modo calculado é uma arte que rende dividendos, porém perigosa se executada de forma inadequada.

Com os meios de combate selecionados e o itinerário definido, a frota se lança para atingir as posições iniciais de combate e completar sua missão. Sempre guarnecida pelo guarda-chuvas proporcionado por seus meios de vigilância de superfície, aéreos, antiaéreos e ASW, e suas armas dedicadas. Também se faz importante a análise da área de operações, suas características geográficas e a capacidade do inimigo em "capitalizar" estas áreas, inclusive o relevo submarino.

Uma vez iniciado o contato, o comandante deve seguir uma ordem de engajamento coerente, priorizando as unidades que oferecem maior ameaça a seus meios, seja enfrentando-as, visando sua neutralização ou as evitando, se o engajamento for muito perigoso, sem perder no entanto o foco no objetivo da missão. Por exemplo, para deter um desembarque anfíbio os alvos prioritários são os transportadores de tropas e meios de desembarque, porém o desembarque se dará coberto por escoltas que devem ser vencidas para se chegar aos objetivos principais, e que pode causar revezes significativos. Nenhum plano sobrevive aos primeiros engajamentos, e cada contato deve ser avaliado com o plano de batalha revisto para se adequar a nova situação.

Aquelas ameaças que poderão interferir de forma significativa no cumprimento da missão ou mesmo impedi-la são consideradas muito perigosas e devem ser controladas. As que não podem interferir de forma tão contundente, mas mesmo assim podem ameaçar a frota ou seus meios individualmente de forma mais séria, também devem tratadas da mesma forma. O comandante deve avaliar constantemente suas prioridades visando a integridade de seus meios sem negligenciar o cumprimento da missão, e alocar cada uma de suas unidades ou grupo delas de forma calculada contra cada fração inimiga, dentro de uma escala de prioridades que permitam atingir o objetivo final. Meios aéreos e submarinos são os mais eficazes em ações de assédio aos meios flutuantes do inimigo e se disponíveis devem ser priorizados, pois são alvos mais difíceis de engajar.



As ameaças a integridade da frota devem ser colocadas em um nível hierárquico e combatidas de acordo com sua periculosidade. Como exemplo podemos definir as ameaças em Poderosa e Prioritária (classe A) como mísseis cruise se aproximando,pois podem provocar danos imediatos aos meios da frota; Apenas Prioritária (classe B) como um SSK detectado pelas coberturas externas e que poderá ou não lançar um ataque; Apenas Poderosa (classe C) como um grupo de ação de superfície detectado a 500 km e está longe demais para uma ação mais decisiva; e Nem Poderosa e Nem Prioritária (classe D) como um FAC ancorado e que não representa ameaça a curto prazo.

As ameaças classe A devem ser imediatamente combatidas e todos os meios disponíveis devem ser alocados para eliminá-la. As ameaças classe B igualmente requerem reação rápida mas não necessitam que a maioria dos meios se engajem na sua neutralização. As ameaças classe C são uma espécie de "zona de conforto" do combate e há tempo de se tomar medidas preventivas antes que atinjam posição de disparo, como adquirir formação para combate-la ou manobrar para evitá-la. As de classe D são alvos de oportunidade, pois sua neutralização evita que sejam usadas no futuro mas não contribuem para o sucesso imediato.

Qualquer plataforma, mesmo naves civis ou sem poder de fogo podem ser uma ameaça de primeira grandeza se puderem denunciar a posição ou acabar com o elemento surpresa, ou mesmo criar vulnerabilidade, como ilustrado no filme "Pearl Harbor", quando o Cel Doolittle ordenou a decolagem dos bombardeiros antes da hora pois o porta-aviões Hornet foi visto por uma pequena nave patrulha japonesa que foi afundada, mas que poderia ter transmitido a posição e alertado as defesas. Além do alerta como exemplificado, uma pequena plataforma, seja uma nave de superfície ou helicóptero, pode passar dados para que outra possa abrir fogo.



Na guerra naval a concentração de meios não é importante e unidades dispersas podem concentrar fogo sobre um mesmo alvo mesmo estando a grandes distâncias uma das outras. Mísseis de longo alcance e sistemas de NCW permitem a coordenação e sincronização destas ações. A concentração passa a ser uma função entre capacidade defensiva x capacidade ofensiva, e a situação estabelecerá esta disposição, além é claro, da natureza da missão. Quando se trata de capacidade defensiva a concentração de meios favorece o apoio mútuo com sobreposição de capacidades, salvo quando se lida com ameaça nuclear onde a concentração favorece o atacante. A dispersão permite que as frações possam ser engajadas separadamente.

Quando duas forças navais de capacidades diferentes se enfrentam, a força superior leva vantagem mantendo-se coesa, dificultando seu engajamento pela força inferior. Ao dispersar-se a força superior permite à inferior engajamentos à suas frações individualmente, porém se manter a coesão permite que a força inferior adquira seus alvos mais facilmente, correndo é lógico um risco maior. Por outro lado, seguindo os princípios da guerra de resistência, a força inferior tenderá a sempre dispersar seus meios para forçar a dispersão da força superior. Ao atacar um elemento da força inferior, a força superior terá de atacar também os outros simultaneamente com todas as dificuldades inerentes a tal empreitada, ou dar chance para que a força inferior manobre os seus para um ataque coordenado à força superior.

O comandante deve estimar de onde podem vir as ameaças à suas forças, e esta estimativa faz sentido para planejar a defesa de uma formação inteira, e não de unidades isoladas. Num primeiro momento faz sentido estimar que a ameaça virá da direção contrária ao deslocamento, porém o mais lógico é fracionar a ameaça em aérea, de superfície e submarina. Por exemplo é possível que as incursões aéreas possam vir somente da direção A, enquanto que as de superfície e submarina possam vir das direções A e B.

Na guerra das Falklands/Malvinas a ameaça aérea à frota britânica só poderia vir do oeste, devido à distância das bases aéreas, porém a ameaça submarina era imprevisível, materializada por um único submersível diesel-elétrico. Considerar que a ameaça pode vir de todas as direções é sempre o mais prudente, porém isto custará a alocação de mais meios defensivos, e se estes forem escassos uma direção terá que ser priorizada.




As naves de guerra modernas possuem capacidade multifuncional, porém isto só funciona em ambientes de baixa intensidade, pois as capacidades da cada elemento em particular sempre priorizam um tipo de ação, sendo as demais limitadas. Ambientes de alta intensidade requerem unidades dedicadas e ao compor uma força-tarefa o comandante deverá construir sua ordem de batalha de acordo com aquilo que espera enfrentar, sem no entanto esquecer que surpresas podem surgir. Manter uma capacidade suficiente de meios ASW e antiaéreos é sempre aconselhável. 

Ao assumir formação de combate, a esquadra ou flotilha assume um dispositivo defensivo em camadas, e este dispositivo depende dos meios disponíveis. A defesa naval geralmente dispõem-se em três camadas. A cobertura externa é composta de navios-piquete, patrulhas de combate aéreo (CAPs) e aeronaves de AEW. A função de piquete é melhor desempenhada pelos submersíveis, que tudo ouvem e são difíceis de serem detectados, que vão à frente, unidades de superfície e as CAPs, que apoiadas pelos AEW, constituem um formidável guarda-chuvas à formação. Marinhas menos abastadas geralmente não dispõem de navios-aeródromo e dependem de cobertura aérea vinda de terra, ficando vulneráveis operando em águas fora do alcance. Esta cobertura estende-se a mais de 300 km do núcleo da flotilha para detecção, e 20 a 40 km para ação. A segunda camada é composta pelas escoltas, geralmente balanceadas em capacidade ASW e mísseis SAM de médio alcance de defesa de área, e tem por missão combater o que os caças-interceptadores e submersíveis deixaram passar, sendo posicionada em contato visual com o núcleo da formação (cerca de 18 km), e por último o núcleo da formação com seus navios-aeródromo, logísticos e anfíbios, além de escoltas próximas, se disponíveis. Estes meios geralmente dispõem de mísseis e canhões de defesa de ponto a alguma capacidade ASW.

Os piquetes de superfície ocupam a posição mais perigosa da formação e devem ser naves de alta capacidade, pois tem que se garantir sozinhos. As coberturas externas devem também ter capacidades completas com ênfase na cobertura ASW, com conjuntos de detecção passiva e helicópteros dedicados. Devem detectar e engajar as ameaças que passaram pelos piquetes de uma forma mais intensa. Meios ASW trabalham melhor nas áreas externas devido à distância do corpo principal gerador de ruído, fator crítico. Os meios aéreos e AAAé da cobertura externa devem dar cobertura aos meios ASW e deter bombardeiros equipados com ASMs antes que atinjam o ponto de lançamento. Os SAMs de cobertura externa tem no alcance seu requisito principal. Aeronaves são mais lentas que os mísseis, e combate-las é mais fácil que a estes, assim deve-se engajar aeronaves hostis antes que liberem seus mísseis, permitindo-se mais engajamentos no mesmo espaço. Quanto mais engajamentos de sucesso, maiores as chances dos atacantes abortarem suas missões. Uma situação hipotética bem provável, ilustrada no filme "A soma de todos os medos", é o ataque a um grupo nucleado por navio-aeródromo com múltiplos bombardeiros disparando múltiplos mísseis de cruzeiro na função antinavio, saturando as defesas, situação muito difícil de contrapor.


Os operadores de ASW que atuam na cobertura interna devem contar com um competente sonar ativo para cobrir adjacências e parte inferior do núcleo da formação, detectando imediatamente qualquer vetor inimigo que tenha penetrado a cobertura externa. Devem levar helicópteros aos pares, pois um deles deverá estar constantemente em voo para ações decisivas e imediatas, não podendo estar ancorado no convês da escolta ou do navio-aeródromo.

Os meios AAé desta camada terão na razão de fogo seu requisito básico, pois tem que atirar muito e rápido a fim de saturar àqueles que penetrarem a cobertura externa em pouco tempo, não sendo tão importante seu alcance. Este intruso provavelmente será um míssil voando muito rápido, e muito provavelmente trará outros com ele. Quanto mais projéteis o inimigo disparar, mais sobrecarregados ficarão os sistemas defensivos, e neste ponto meios AAé de altíssima razão de fogo são importantes.

Operar no mar é um jogo perigoso e além da tecnologia, a competência dos comandantes e o treinamento das tripulações fará a diferença. 



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