Operando no Mar - Generalidades
Guerra Naval é a disputa pela superioridade militar, em que forças antagônicas se atritam de forma violenta, buscando alcançar a hegemonia sobre um determinado espaço geográfico, que com frequência resulta no engajamento físico de suas diversas unidades. Ela compreende ações desenvolvidas na superfície dos mares e abaixo dela, no espaço aéreo respectivo e nas terras contíguas a estas águas, que de alguma forma influenciem ou sejam influenciadas por estes primeiros elementos.
Visam a consecução de objetivos tanto no espaço marítimo quanto terrestre, imediatos ou a longo prazo, e envolvem elementos pertencentes ou não ao poder militar. Diferentemente das operações de guerra terrestre ou aérea, onde os meios civis raramente participam de situações de caráter tático, no mar os meios de marinha mercante frequentemente são mobilizados para conduzir operações bem caracterizadas em apoio às forças militares, de acordo com suas possibilidades operativas.
A Importância Político-Estratégica do Mar
A importância do mar na vida dos povos é inquestionável e antiga. Observando a história podemos constatar que a maior parte da atividade humana ao longo dos tempos se desenvolveu ligada a ele. Ocupando 70% da superfície do planeta, continua a ser o cenário de manifestação de poder de um grande número de nações. As maiores cidades do mundo estão junto ao mar ou muito próximas a ele, assim como os países com atividade marítima mais intensa assumiram ao longo da história e mesmo hoje maior importância mundial.
A importância militar também é significativa, pois é através dele que os invasores chegam, e seu domínio constituí uma efetiva barreira para qualquer aventura deste tipo. Os ingleses só deixaram de ser invadidos depois que assumiram o controle do Canal da Mancha, ao passo que invadiram mais tarde todos os recantos do mundo. Nenhuma nação sobrevive apenas de estoques acumulados e o mar é porta de entrada contínua de todos os tipos de suprimento. Base industrial agregada a matéria prima é um dos componentes do poder nacional. Como o poder é sempre relativo, mesmo nações sem dependência direta do mar o consideram estrategicamente, pois muitos de seus aliados ou inimigos estão nesta dependência. A Suíça possui uma grande frota mercante e nenhum litoral, por exemplo.
Para a estratégia naval o mar apresenta-se com duas características importantíssimas quanto a sua utilização:
- é uma eficiente via de transporte disponível, podendo muitas vezes ser a única aos protagonistas de uma situação de conflito declarado ou potencial;
- é uma ampla e flexível base de projeção de poder sobre as bases do poder contrário.
O Domínio do Mar
Entendemos como o domínio do mar a efetiva utilização das superfícies oceânicas pelas forças navais e marinha mercante. Busca-se neste domínio a condição de mínima interferência possível de poderes antagônicos. Este domínio é o objetivo final da guerra naval e em torno dele suas estratégias são traçadas, sendo pré-requisito essencial a obtenção da iniciativa nas ações estratégicas, valendo lembrar que a iniciativa é um dos princípios da guerra. Durante a II grande guerra o domínio do Atlântico, mesmo que parcial, significou condição vital a manutenção das operações no continente europeu, pois de nada valia o enorme poder produtivo da indústria norte-americana, sem a capacidade de transportar este suprimento para a área de operações. Os comandantes aliados sabiam que não haveria a invasão da Europa sem comunicações marítimas seguras, por consequência sem vencer a Batalha do Atlântico. Os Alemães também sabiam disso e colocaram seus U-boats em operação intensa, além de dedicar esforços na construção de meios de superfície como o encouraçado Bismark.
O domínio do mar não pode ser considerado apenas como algo absoluto e em grandes áreas marítimas. Ele pode ater-se à áreas restritas, desde que o domínio destas satisfaçam os objetivos estratégicos. Seu domínio absoluto só existirá se houver total ausência de poderes antagônicos, situação improvável. Na prática considera-se estabelecido o domínio quando as operações militares e suprimentos econômicos podem fluir sem perdas inaceitáveis.
Um fator importante ao domínio do mar é a existência de bases aéreas e navais disponíveis, ou locais onde possam ser instaladas. Assim o domínio de ilhas em grandes extensões oceânicas como o Hawaii no Pacífico, e a ilha de Ascensão no Atlântico, por exemplo, são de vital importância a operação das forças que disputam a guerra neste ambiente. Como o poder é relativo e o domínio global uma condição raramente atingida, cabe à estratégia naval avaliar o grau de controle necessário de cada área e aplicar ali os meios requeridos. Podem haver áreas importantes para um dos lados e totalmente desnecessárias a outro, como foi o caso do Atlântico Norte na II Guerra. Quando esta situação se configura, o lado que não necessita da área marítima, tende a empregar esforços no sentido de negar seu uso ao outro lado. Neste contexto, se este lado não puder vencer a guerra, ainda pode provocar um impasse estratégico e forçar o outro a mesa de negociações.
Algumas áreas marítimas são mais importantes que outras. Como as já citadas áreas que podem abrigar bases aéreas e navais, temos ainda pontos de passagem obrigatória como os canais de Suez e do Panamá, os estreitos como o Bósforo, o estreito de Ormuz, Gibraltar e Bering entre outros; os cabos Horn e da Boa Esperança. Águas interiores como o Mediterrâneo e o Mar Vermelho, Mar do Caribe e Báltico também assumem importância nas operações. A Rússia, a despeito de sua extensão territorial, tem limitadíssimas opções de acesso ao mar. Ao norte o mar congela ou tem que ser transposto o Báltico com seus estreitos e baixa profundidade; ao sul tem que passar pelo Bósforo para deixar o Mar Negro; e o leste fica distante e no quintal do império japonês. Em contraste, Brasil, Estados Unidos e Chile tem amplo acesso ao mar aberto.
O nível de domínio do ambiente marítimo pretendido por determinada nação deve estar definido em sua estratégia naval. Esta, define quais os objetivos a serem alcançados através das operações navais para que este domínio se consolide. O nível de domínio do mar se dá em 4 graus distintos:
- Não existe nenhum domínio do mar, e os atores do poder antagônico tem total liberdade sobre o ele, podendo inclusive negar seu uso a quem o desejar;
- O seu uso é negado aos atores do poder antagônico, porém não é possível utilizar o espaço marítimo pois aqueles detêm capacidade semelhante;
- O domínio do mar está em disputa e pode-se utilizá-lo, porém com risco proporcionado por capacidades reais do poder antagônico que as utilizará se conseguir transpor as barreiras de segurança adotadas;
- O domínio do mar está consolidado, podendo o espaço marítimo ser utilizado sem grande interferência do poder antagônico, que não pode utilizá-lo pois esta capacidade lhe é negada. É o oposto diametral da primeira situação.
O Poder Marítimo
O poder marítimo é capacidade de uma nação se fazer presente nos mares com maior ou menor expressão, capacidade esta resultante de uma série de fatores condicionantes. São eles:
- o poder naval constituído pela força aérea e marinha de guerra e suas bases de apoio e instalações estratégicas,
- sua geografia,
- a marinha mercante e suas agências de comércio marítimo,
- seus portos, estaleiros e bases de reparação, e toda base industrial,
- a qualificação de seu pessoal envolvido com a atividade marítima ou que a dê suporte
- a índole nacional e sua capacidade de organização
- além de suas alianças estratégicas que envolvam a atividade marítima.
O Poder Naval
Poder naval é a capacidade de uma nação impor sua estratégia marítima e naval através de meios de guerra naval e poder marítimo, empregando suas marinhas de guerra e mercante. O emprego do poder naval dá-se a partir do grau de domínio do mar que foi alcançado, e busca a efetivação de 5 objetivos básicos:
- Negar o uso do mar ao inimigo para deslocamento de sua força militar, impedindo sua aproximação de solo pátrio ou ultramarino de interesse, o que inviabiliza qualquer tipo de invasão;
- Pressionar militar e economicamente o poder antagônico, impedindo que receba pelo mar todo e qualquer recurso que facilite seu esforço de guerra, ou que despache pelo mar seu comércio, sufocando desta forma suas finanças e inviabilizando a compra de suprimentos de guerra, bem como pressionar as nações neutras que estejam dispostas a participar de tal comércio;
- Proteger do assédio do poder antagônico o tráfego marítimo amigo que realiza o apoio a atividade econômica que participa do esforço de guerra;
- Assegurar à força militar amiga o acesso às cabeças de praia no território do poder antagônico e sua projeção para o interior, bem como de suas linhas de suprimento;
- Apoiar a manutenção de territórios costeiros conquistados, permitindo o livre acesso às áreas do interior de todos os meios oriundos do mar, em apoio às forças terrestres que estejam em operação neste locais.
Estes objetivos devem ser buscados simultaneamente a fim de atingir o intento final que é solucionar o conflito na condição de superioridade, sendo que a intensidade aplicada a cada item será calibrada pela dimensão tático-estratégica de cada situação específica. As marinhas de guerra possuem diferentes capacidades para aplicação do poder naval, cada qual operando de acordo com suas capacidades proporcionadas pelos meios disponíveis.
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Operações de Guerra Naval
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