FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Uso Militar de UAVs (Drones) *235


Introdução

O advento dos veículos aéreos não-tripulados (UAVs) aumentou a possibilidade de se conduzir operações militares de uma forma mais forma eficiente e menos arriscada do que no passado, puramente com aeronaves tradiconais. Embora já há algum tempo se venha adquirindo experiência na operação destes vetores, ainda não se explorou de forma abrangente as novas possibilidades que estão surgindo com esta tecnologia, e como ela vai influenciar a natureza e a condução das futuras operações militares. Como resultado de inúmeros desenvolvimentos tecnológicos, é possível que se construam sistemas militares, incluindo UAVs, que podem realizar operações sem intervenção humana. Esta perspectiva levanta questões significativas sobre a natureza das operações militares no futuro e como essas tecnologias influenciarão a estas operações.

Estudos apontaram que estas tecnologias UAV nas operações militares aumentarão a capacidade das forças de projetar poder militar. Concluiu-se que esses veículos poderão realizar tarefas críticas com dificuldades crescentes para aeronaves tripuladas, das quais podemos citar ações contra instalações de guerra química/biológica (NBCW) e a supressão de defesas antiaéreas inimigas, que são os exemplos mais importantes. UAVs são mais resilientes em ação do que as aeronaves tripuladas, e seu desenvolvimento tecnológico muito mais avançado nos últimos tempos vem apresentando profundas implicações operacionais para os militares que operarão no futuro próximo.

A perspectiva de construir veículos aéreos não tripulados não é nova. Durante a maior parte do século XX, estudou-se a viabilidade de sua adoção e seu valor potencial em operações militares. A principal razão para o interesse em UAVs foi, além de reduzir o risco para os humanos em combate, realizar missões de uma forma mais eficiente e menos onerosa do que se praticava até então. Um motivo elencado foi o de libertar as máquinas das limitações impostas pelos humanos, aumentando sua performance. Desde o início, esperava-se que veículos aéreos não tripulados seriam mais baratos para se desenvolver e fabricar, e que eles reduziriam a demanda logística de suporte nas bases e de mão de obra que as aeronaves modernas exigem. Como resultado de avanços tecnológicos em controle de voo, processamento de dados e sinais, sensores externos, links de comunicação e aviônicos integrados, os UAVs são agora uma opção séria. A esperança, ainda não confirmada, é que eles possam realizar as missões militares mais perigosas, incluindo ataques a instalações sensíveis, alvos fixos e móveis e outras aeronaves, e que representam uma revolução nas capacidades militares.

Há muito mais do que avanços tecnológicos que estão acelerando o desenvolvimento dos UAVs. Com o fim da Guerra Fria, os gastos em defesa das grandes potências foram sendo reduzidos, estando estas mais propensas a se envolver em operações de manutenção da paz e humanitárias do que em grandes operações de guerra, o que pode ser uma percepção falsa, pois estas possibilidades vem se mostrando reais nos últimos tempos. Dentro deste raciocínio, a implantação de forças móveis rápidas são cada vez mais prováveis para forças como as dos EUA, em vez de depender de grandes forças baseadas no exterior. Em todas essas operações, o clima político dá grande ênfase em minimizar baixas, especificamente quando os interesses vitais dos países destacados não estão em pauta. Onde se pode empregar tecnologia para minimizar a exposição do pessoal militar nas contingências menores que surgirão no futuro próximo, os formuladores de políticas terão muito mais flexibilidade para responder a crises e desafios.

Uma série de fatores tecnológicos sugerem que sistemas de armas não tripuladas serão importantes em futuras operações militares. Para entender como a tecnologia por trás do desenvolvimento de UAVs está mudando a natureza e condução das operações militares, este artigo examina o papel das 3 categorias de veículos aéreos em operações militares: aeronaves que dependem de pilotos tradicionais, veículos que são operados por pilotos em locais remotos, e veículos que operam de forma autônoma. Depois de considerar as vantagens e desvantagens dessas categorias de aeronaves, serão consideradas as implicações do uso de UAVs em operações militares.

Definindo Veículos Aéreos

Como existem diversos tipos de veículos aéreos, se faz necessário definir os termos que os designam com precisão: Um veículo aéreo não tripulado é um veículo aéreo motorizado que sem piloto humano embarcado, se vale de forças aerodinâmicas para se sustentar no ar e pode voar tanto autonomamente ou ser pilotado por meios remotos. Pode ainda ser descartável ou recuperável, e transportar uma carga útil letal ou não. Esta definição também inclui drones aerodinâmicos e veículos pilotados remotamente (RPVs), embora os RPVs sejam projetados para serem recuperáveis. No entanto, esta definição exclui veículos balísticos ou semibalísticos, artilharia e mísseis de cruzeiro, o último dos quais é visto como um sistema de entrega nuclear de acordo com vários tratados de controle de armas.

Usando esses termos, os UAVs podem ser remotamente pilotados ou operar de forma autônoma, e no caso de controle exercido por um piloto remoto, o controle pode ser contínuo ou não. Em alguns casos os veículos autônomos seguem cursos pré-programados e não podem ser redirecionados, enquanto em outros seguem igualmente cursos pré-programados e podem ter sua trajetória alterada. Em terminologia militar, os veículos são reutilizáveis, enquanto que as armas são descartáveis. Além disso, os UAVs têm vida útil mais curta do que as aeronaves tripuladas, podendo sofrer desgaste em operações militares, o que significa que eles sobreviverão por um número relativamente pequeno de missões até apresentarem falhas, sofrerem acidentes ou ações hostis que os destruam. A taxa de perda das aeronaves e UAVs é um conceito importante que influencia a comparação de custo-benefício destas aeronaves.

Categorizando Veículos Aéreos

Uma maneira de entender a natureza dos veículos não tripulados, como instrumento, é desenvolver uma estrutura que rastreie seu desenvolvimento, sejam tripulados ou não, avalie o estado da arte em aeronaves e tecnologias computacionais, e extrapola como esses desenvolvimentos podem influenciar seu uso em operações militares.

A abordagem mais simples é dividir as aeronaves em tripuladas e veículos não tripulados e, em seguida, subdividir os veículos não tripulados em aqueles que são operados remotamente e autônomos. Este quadro repousa explicitamente sobre o papel humano em perceber e influenciar eventos durante a operação de veículos aéreos. Se as aeronaves tripuladas usarem a presença humana direta para perceber diretamente eventos e condições ao redor do veículo, veículos remotamente operados mantêm a presença humana à distância. O fator crítico que distingue entre aeronaves e UAVs é a quantidade de informações que estão disponíveis para o humano pilotando um UAV. As comunidades tecnológicas e operacionais têm investido consideravelmente no uso de exibições visuais e de dados para fornecer informações ao humano sobre as condições dentro e ao redor do veículo. O problema é que essas tecnologias têm sido inadequadas porque o operador humano é privado de informações significativas sobre o desempenho do veículo, que inclui atitude, vibração e som, entre outros. Tecnologias mais recentes de realidade virtual tendem a minimizar estas deficiências. No caso de veículos que são operados apenas periodicamente por um ser humano, como o Global Hawk UAV, o operador deve tomar decisões com menos informações sobre o veículo do que um piloto de bordo.

O conceito é de que a informação que é fornecida a um operador remoto tem implicações para os UAVs, principalmente porque aumenta diretamente a eficácia, custo e complexidade desses veículos. Se nos voltarmos para o caso dos veículos autônomos, a presença humana existe à distância, limita-se a receber informações sobre o veículo, e não exerce controle direto sobre o veículo. Por sua natureza, humanos perdem o controle de veículos autônomos assim que são lançados, o que implica que os operadores humanos não são controladores destas operações, e que as informações disponíveis sobre o estado dos veículos são bastante limitadas. Uma vez que essas limitações são compreendidas, os veículos autônomos podem ser adequados para atacar alvos cuja localização é conhecida com precisão. O valor dessa suposição diminui, no entanto, em caso de busca de alvos móveis, dos quais mísseis SCUD e centros de C2 são exemplos proeminentes. Um motivo para o desenvolvimento desses veículos é alcançar a capacidade de destruir aqueles que são conhecidos como alvos críticos de tempo, especialmente quando esses veículos são mísseis que podem estar armados com armas nucleares, por exemplo.

Talvez a melhor maneira de situar os veículos aéreos por suas características seja considerar o papel da presença humana, que pode ser na forma de tripulante ou controlador remoto, e pode envolver grandes ou pequenas quantidades de informações sobre a operação do veículo. No entanto, as informações fornecidas ao piloto não são as mesmas para todos os tipos de aeronaves pilotadas, por exemplo, enquanto o MiG-23 e F-15 são ambos caças tripulados, os pilotos de F-15 têm maior capacidade de percepção visual do que os pilotos do MiG-23 como resultado de um canopí projetado para ter um maior campo de observação. Para citar outro exemplo, o piloto do F-15 tem muito mais informações táticas disponíveis do que o piloto do caça P-51 Mustang da Segunda Guerra Mundial, porque o radar do F-15 amplia em muito a capacidade do piloto de perceber o que está acontecendo em seu entorno.

Em princípio, todos os veículos não tripulados possuem algum grau de automação. Um problema interessante, porém, é que operações autônomas criam situações inesperadas, o que foi verificado durante os testes do UAV Global Hawk. Não surpreendentemente, o preço da automação aumenta significativamente o custo de motores, sistemas hidráulicos, elétricos e de aviônicos que se tornam mais onerosos devido a necessidade de automação, e que numa aeronave tripulada seriam controlados por humanos.


Categorizando Operações Militares

Os papéis dos UAVs podem variar amplamente com base na natureza da operação militar a ser realizada. As operações militares mais simples envolvem ataques contra alvos terrestres fixos, enquanto que as operações mais desafiadores envolvem ataques contra alvos terrestres móveis e outros veículos. Como seria de se esperar, missões de ataque contra alvos fixos são mais simples porque é relativamente fácil encontra-los, pois sua localização é conhecida e podem ser avaliadas com grande precisão. No entanto, um ataque contra alvos aéreos é mais complexo, porque sua mobilidade torna mais difícil encontra-lo e destruí-lo, e ainda mais porque a capacidade de manobra destes alvos os torna muito fugazes. Mesmo quando um alvo aéreo é localizado, a forma mais simples de ataca-lo é através de uma ação furtiva, onde o alvo não está ciente de que está sob ataque. Em contraste, um ataque contra um alvo manobrável que está ciente que está sendo atacado e com um piloto experiente é muito mais complicado.

Outro tipo de ataque são aqueles contra alvos inimigos que estão longe das linhas de contato, que são teoricamente mais simples do que ataques em alvos inimigos localizados relativamente próximos de forças amigas e melhor defendidos. A principal dificuldade de realizar este tipo de ataque é o alto nível de coordenação necessário para que os veículos evitem destruir algo não intencionado, que é conhecido como efeito colateral.

Uma regra básica das operações militares é que a dificuldade das situações de combate aumenta à medida que o número de ameaças inimigas aumenta, e esta regra tem implicações importantes nas operações ar-ar e ar-terra, quando alvos inimigos e operadores aliados estão presentes por todo o espaço de batalha. Idealmente, todas as aeronaves em uma área pertencem ao inimigo, enquanto as aeronaves em outra área pertencem às forças amigas, mas a realidade é que nas operações militares modernas o inimigo e as aeronaves amigas estão operando dentro da mesma área. O problema torna-se ainda mais complexo em operações de não-guerra quando operadores amigos, inimigos e neutros estão presentes pelo mesmo espaço de batalha.

Esses conceitos têm várias implicações importantes para os UAVs. Primeiro, pilotos humanos têm uma capacidade muito maior de entender e responder às condições em seu entorno de combate ao redor do veículo do que o humano que opera o veículo à distância. Em segundo lugar, o número e o tipo de ameaças, o grau de mobilidade de alvos, e o grau de classificação que é necessário para separar e classificar ameaças, influencia diretamente no sucesso com que os UAVs podem ser usados ??em operações militares. Terceiro, apesar dessas limitações, a tecnologia amadureceu a ponto de ser possível gradualmente mudar as funções de combate de veículos pilotados para veículos pilotados remotamente, e eventualmente para veículos autônomos em uma migração que pode transformar a natureza da guerra.

Automação

No entanto, o sucesso dessa mudança dependerá em grande parte da capacidade de desenvolver tecnologias que automatizarão muitas das funções que os humanos desempenham em operações militares, especialmente no campo da inteligência artifical. Em essência, diz-se que um veículo é autônomo quando pode realizar operações sem intervenção humana. Para citar um exemplo da atual geração de caças automatizados, o F-117 pode completar uma missão inteira, desde o recolhimento do trem de pouso até a operação inversa, sem intervenção do piloto, exceto no consentimento para liberação de armas. Os veículos que estão sendo concebidos pela indústria, agregam vários graus de controle, em que o operador remoto identifica o alvo e o UAV executa um ataque coordenado. Um veículo verdadeiramente autônomo não exigiria nenhuma forma de intervenção humana.

O valor militar dos UAVs dependerá da capacidade de automatizar muitas das funções que historicamente têm sido desempenhadas por humanos, que vai desde guiar um veículo até a entrega de munições contra alvos militares. A forma mais simples de automação é o aeromodelo, enquanto um exemplo de veículo aéreo autônomo mais complicado é o "Buzz Bomb" V-1 da Segunda Guerra Mundial, que executava tarefas em um seqüência - como faz um míssil de cruzeiro moderno que é guiado por GPS. O exemplo moderno mais complexo de automação é um UAV que se baseia em um sistema especialista para detectar, identificar e atacar alvos móveis. Fundamentalmente, a essência da automação é usar regras para orientar a tomada de decisão, mas este é um problema altamente complexo de se resolver na guerra. Esta complexidade é ilustrada pela campanha aérea durante a Guerra do Golfo Pérsico, que envolveu cerca de 2.600 aeronaves aliadas de pelo menos 41 tipos diferentes e 950 aeronaves inimigas oponentes de 17 tipos, dos quais pelo menos 6 tipos de aeronaves compartilhavam características comuns com aeronaves aliadas. Todas essas aeronaves poderiam ser atacadas por várias armas ar-ar, 16.000 mísseis em 10 tipos e 7.000 canhões antiaéreos. Para a automação ter sucesso em operações militares, um computador deve ser capaz de classificar grande número de escolhas e tomar boas decisões sobre o uso da força de forma confiável e oportuna. Atualmente, o problema é que a tomada de decisão baseada em regras não atingiu um nível suficiente de confiabilidade a ponto de permitir que veículos autônomos tomem os tipos de decisões que somente humanos de alta qualificação tomariam, especialmente quando o fracasso pode resultar na morte de centenas ou milhares de civis inocentes.

Avaliação de Veículos Aéreos

Até agora, concentramo-nos a entender as diferenças entre veículos pilotados, não tripulados, pilotados remotamente e autônomos. Esta discussão agora se volta para uma consideração das vantagens e desvantagens desses veículos no contexto de como os avanços da tecnologia estão alterando o papel dos veículos aéreos nas operações militares.


Características dos Veículos Pilotados

Embora existam muitas maneiras de caracterizar aeronaves pilotadas modernas; velocidade, alcance, altitude e carga útil estão entre as mais importantes quando examinando as diferenças entre veículos pilotados e não pilotados. Além de que, no entanto, a característica mais importante é que os veículos pilotados contam com a presença de humanos para detectar e responder a mudanças na operação do veículo. Embora os sensores humanos tenham suas próprias limitações e deficiências, ainda é verdade que o estado atual dos sensores não humanos e as capacidades de tomada de decisão dos sistemas eletrônicos não são suficientemente desenvolvidos para substitui-los. Aeronaves historicamente dependem de pilotos porque a tecnologia não tinha sido até agora capaz de viabilizar a operação da aeronave sem a presença humana. O humano pode lidar com a condições limite da aeronave, incluindo vibrações incomuns que podem indicar danos estruturais ou falha iminente do motor.

A capacidade humana de analisar informações de forma intuitiva ainda não foi substituída pela tecnologia, pois a mente humana é capaz de absorver e analisar volumes maiores de informações, mais diversas e ambíguas do que qualquer máquina. Uma característica relacionada é que aeronaves pilotadas são projetadas para uma vida útil mais longa do que suas contrapartes não pilotadas, principalmente porque a carga humana é considerada intrinsecamente valiosa.

Talvez a característica mais importante das aeronaves pilotadas seja sua habilidade para entregar armas que podem ser usadas para atacar uma ampla gama de alvos. Em termos de segmentação, as aeronaves táticas modernas podem transportar uma série de munições que podem produzir efeitos de área ampla, bem como efeitos precisos, e fazê-lo em distâncias de afastamento que variam em milhares de quilômetros. A tendência nos últimos anos tem sido aumentar a precisão das munições, o que permite aos projetistas reduzir o tamanho das ogivas.

Finalmente, enquanto as aeronaves convencionais requerem longas pistas e grande número de pessoal de apoio, instalações e suprimentos, a mudança para sistemas de armas que empregam algum grau de automação reduzirão esta dependência da infraestrutura.

Vantagens

A vantagem mais significativa dos veículos pilotados é sua capacidade de usar humanos para detectar ocorrências dentro e fora da aeronave, que é conhecido no jargão militar como “consciência situacional”. A vantagem da confiança na presença humana é que não há 2 pilotos que reagem da mesma forma a cada situação, que em operações militares envolve em identificar ameaças e alvos, tomar decisões de forma desconhecida e ambígua em situações singulares e o pensamento de forma analítica e criativa. Os pilotos humanos são capazes de se adaptar a novas e diferentes circunstâncias, tomar decisões com base em informações incompletas ou ambíguas e lidar com situações inesperadas, como danos ou defeitos imprevistos. Uma condição que distingue os veículos pilotados de seus homólogos automatizados é que estes últimos não possuem essas características. Enquanto os veículos pilotados usam dispositivos eletrônicos, como rádio, radar, RWR e ECMs, para complementar os sentidos do piloto, a característica mais fundamental dos veículos pilotados é que o humano pode tomar decisões críticas sobre o uso da força letal.

A principal vantagem dos veículos pilotados é que tripulantes podem resolver problemas que as máquinas não podem, e ainda podem tolerar maior confusão do que as máquinas e tomar decisões que não estão previstas nos softwares. Mesmo nas primeiras décadas do século XXI, ainda não se atingiu o momento em que os humanos estarão livres destas responsabilidades.

O conceito de controle humano sobre as funções críticas que são executadas durante as operações de combate, ainda é muito importante, pois eles têm habilidades únicas que ainda não foram replicadas em máquinas, e que representam uma vantagem decisiva em combate, pois podem pensar, sintetizar e compreender mais rápido do que as máquinas.

Embora os veículos não tripulados possam realizar operações militares com o mínimo de risco para os seres humanos, eles tem uma redução na capacidade de tomar decisões. Até que os UAVs possam realizar esta função, seu papel nas operações militares permanecerá bastante limitado.

Desvantagens

A principal desvantagem com aeronaves pilotadas é que a fisiologia humana impõe limites ao desempenho da aeronave. Ao mesmo tempo, a presença de humanos em aeronaves aumenta sua complexidade e custo, sendo os veículos pilotados mais vulneráveis devido ao seu maior tamanho do que a maioria dos UAVs e, portanto, mais suscetíveis ao ataque de UAVs menores. Uma outra desvantagem é que as aeronaves pilotadas são vulneráveis ??à exploração política. Existem vários casos recentes em que a perda de uma aeronave criou dificuldades políticas para seus governos, como o dos EUA, como a perda de aeronaves no ataque contra a Líbia em 1986 (Operação Eldorado Canyon), Bósnia em 1995, e a perda de um F-117 sobre a Sérvia em março de 1999.

Características dos Veículos Não Tripulados

Os UAVs se dividem em 2 grupos distintos, os pilotados remotamente e veículos autônomos. Um conceito útil para distinguir entre esses tipos de veículos é lembrar que veículos operados remotamente não tem piloto embarcado mas operando o veículo à distância, enquanto veículos autônomos não tem qualquer controle por operador humano.

Em virtude de seu alcance, resiliência e altitude operacional, os UAVs aumentam a capacidade de projetar poder militar, como demonstrado pelos UAVs Predator e Global Hawk da USAF, cuja resiliência é superior aos veículos tripulados. Por essas razões, os UAVs podem realizar tarefas que são cada vez mais difíceis para aeronaves tripuladas, como ataques a instalações de guerra biológica e química, e suprimir defesas aéreas não previstas que se apresentam como problemas críticos. Ao mesmo tempo, as tecnologias UAV buscam um nível de maturidade tecnológica que lhes permitem infligir danos devastadores em muitos alvos.

Em termos históricos, aumentar o alcance de uma arma ou distância entre o alvo e o operador de determinada arma sempre foram fatores significativos para o desenvolvimento de UAVs. O uso de VANTs começou com experiências alemãs com armas guiadas na Segunda Guerra Mundial, incluindo a V-1 alemã. Essa abordagem é paralela à tática moderna de usar aeronaves pilotadas em alta altitude ou mísseis de cruzeiro de baixa altitude para entregar munições junto a seus alvos.

O desenvolvimento de UAVs para reconhecimento fotográfico foi estimulado no início dos anos 1960 com a queda do avião U-2 na URSS que foi pilotado por Francis Gary Powers em maio de 1960, e a derrubada de um U-2 durante a crise de mísseis em Cuba. Além disso, os UAVs foram usados ??para fins fotográficos, comunicações e reconhecimento eletrônico, vigilância e combate eletrônico na Guerra do Vietnã, e por Israel para fotografia e reconhecimento eletrônico, bem como chamarizes durante a Guerra do Yom Kippur de 1973 e a operação no Líbano em 1982. Mais recentemente, o US Army, a US Navy, e os US Marines Corps usaram o UAV Pioneer para reconhecimento tático, vigilância e aquisição de alvos durante a Guerra do Golfo Pérsico.

Em termos operacionais, os UAVs podem operar em altitudes que excedem 23 mil metros e podem transportar sensores de todos os tipos. O desenvolvimento de novas ogivas, permitem que os UAVs portem armas compactas que podem infligir danos significativos contra alvos fixos e móveis. Enquanto essas tecnologias podem ser usadas em aeronaves tripuladas, os UAVs podem ser usados ??para localizar e destruir seus alvos, em particular devido aos recentes desenvolvimentos de softwares de reconhecimento automático de alvos.

Vantagens

A principal vantagem dos UAVs é sua capacidade de reduzir o risco para os seres humanos e, assim, apresentando boa relação custo-benefício. Opções que podem ser usadas quando as condições políticas ou ambientais proibirem o uso de sistemas tripulados. As outras vantagens dos UAVs são a capacidade acelerar a taxas superiores às suportadas por pilotos humanos, evitar a fadiga, pois o piloto pode ser trocado na frequência em que se desejar, e eliminar a miríade de sistemas que sustentam a vida humana no cockpit, que aumentam o peso, complexidade e custo de aeronaves pilotadas. Uma vez livre dessas limitações, Os UAVs podem ser mais manobráveis, passarem mais tempo no ar, e ser menos observáveis do que suas contrapartes pilotadas. Outra capacidade operacional dos UAVs é sua capacidade de voar perto de alvos bem defendidos, como lançadores de armas nucleares, biológicas e químicas (NBC), que criam um risco significativo para os pilotos.

Desvantagens

As principais desvantagens dos UAVs são sua necessidade por comunicações de grande largura de banda, vulnerabilidade à interferências e baixos índices de sobrevivência. Embora seja comumente assumido que os UAVs são relativamente baratos em comparação com as aeronaves tripuladas, a geração atual de UAVs vem se tornando relativamente cara para desenvolver e construir. No entanto, esta vantagem de custo pode ser exagerada se a expectativa operacional for satisfatória, como por exemplo no caso do Global Hawk que tem aproximadamente metade do custo operacional do U-2. Embora o Global Hawk não possa realizar todas as missões do U-2, são menos caros de operar. Por enquanto, os custos de produção de UAVs são relativamente altos porque esses sistemas normalmente envolvem pequenas produções, e os aviônicos e armas usados são bastante sofisticados e caros. Uma importante preocupação é que as perdas de UAVs podem ser proibitivamente caras se grandes números forem perdidos em situações operacionais.

Um segundo problema com UAVs é sua necessidade de largura de banda suficiente para permitir ao operador remoto manter uma ligação de dados adequada com o veículo, e a necessidade de grandes larguras de banda aumenta a vulnerabilidade à interferência e bloqueio.

Um terceiro problema é que os UAVs têm problemas únicos de sobrevivência. O mais notável é que não são tecnologicamente sofisticados suficientemente para avisar o operador que o veículo está sob ataque, não podem operar em condições meteorológicas adversas, e têm um baixo nível de confiabilidade, o que limita seu papel operacional.

Características dos Veículos Operados Remotamente

Como os RPVs possuem operadores remotos, esses veículos são menores, possuem maior resistência operacional, são mais baratos que os veículos pilotados com recursos comparáveis ??e contam com sensores e links de comunicação para informar o operador sobre o estado do veículo. O atual abordagem é usar RPVs para missões de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR), e existem intenções de se usar RPVs em missões de combate aéreo para proteger outras aeronaves de combate ou ativos de alto valor, como o Sistema de Alerta e Controle Aerotransportado (AEW). No entanto, a capacidade de RPVs para realizar essas missões exigirão que esses veículos tenham funções autônomas que normalmente aumentam seus custos de desenvolvimento e de aquisição.

Vantagens

A principal vantagem dos veículos operados remotamente é sua capacidade de usar o raciocínio humano, além do veículo ser mais barato do que o seu homólogo pilotado. Os RPVs podem ser menores, mais leves, ter maior resiliência do que veículos pilotados, podendo ser furtivos, dependendo do projeto e de seu sistema de comunicações. No entanto, enquanto os RPVs desfrutam de muitas das vantagens associadas à tomada de decisão, esses veículos são limitados pelo fato de que as aeronaves devem dependem dos sensores, e dos “delays” - atrasos de tempo - que existem quando a aeronave e o operador estão em locais diferentes.

A vantagem operacional dos RPVs é sua capacidade de manobrar com mais agilidade do que os veículos pilotados. Além disso, a regra é que os RPVs são menos detectáveis porque seu tamanho menor os torna menos observáveis. As funções do operador remoto são semelhantes à capacidade dos pilotos, que é tomar decisões na presença de falhas não programadas, lidar com circunstâncias inesperadas e tomar medidas de proteção do veículo. Para ter sucesso, no entanto, o operador deve ter acesso a informações oportunas sobre ameaças ao veículo, ser capaz de identificar que um ataque está em curso ou seja iminente, e tomar medidas de proteção adequadas. O problema é que a geração atual de RPVs, como exemplificado pelo Predator UAV, não tem a sofisticação tecnológica para realizar essas ações.

Desvantagens

A principal desvantagem é que o operador sempre está fundamentalmente inconsciente da situação tática ao redor do veículo, que se traduz em uma maior probabilidade de que a missão falhe ou o veículo seja perdido. Atualmente, os RPVs são suscetíveis à perda de comunicação com o operador humano, o que tem implicações catastróficas como a falha da missão ou a perda do veículo. Uma regra geral é que sistemas militares que dependem de sensores distribuídos são bastante vulneráveis ??a falhas dos links de comunicação. Outra desvantagem importante com RPVs, que tende a ser ignorado ou diminuído, é que a distância entre o veículo e o operador causa um atraso (delay) de tempo, o que torna RPVS menos responsivo em combate. Finalmente, o operador do RPV não têm o mesmo grau de consciência situacional que os pilotos embarcados.

Características dos Veículos Autônomos

Como observado anteriormente, os veículos autônomos podem desempenhar suas funções sem o operador humano e, como resultado, tendem a ser menores e menos onerosos que os veículos pilotados. O fato de os veículos autônomos serem menores do que veículos operados remotamente reflete a ausência de sistemas de comunicações mais capazes e seus sistemas de orientação relativamente simples, que dá e estes veículos resiliência operacional significativamente maior. Enquanto a atual geração de veículos autônomos limita-se a realizar missões de inteligência e vigilância (ISR) e atacar alvos fixos, a expectativa é que os avanços tecnológicos cheguem ao ponto em que poderão se ocupar de alvos móveis, como lançadores de mísseis ou veículos de comando e controle (C2).

Vantagens

A principal vantagem dos veículos autônomos é sua capacidade de trabalhar com mais rapidez, precisão e confiabilidade do que os operados remotamente. Enquanto que o custo dos veículos autônomos aumenta com a complexidade da tarefa, seu desempenho depende fundamentalmente da inteligência artificial, capacidade esta que vem se aprimorando com o passar do tempo, com computadores cada vez mais capazes para tomar decisões corretas de direcionamento em operações militares.

O custo dos veículos autônomos está diretamente relacionado às suas capacidades. Veículos autônomos com sistemas de orientação mais simples não tem poder de se adaptar à mudanças de condições no campo de batalha enquanto voa em direção ao alvo. Veículos relativamente baratos e equipados com sensores capazes, podem interagir com outros sistemas e são capazes de reagir a situações que mudam rapidamente.

Os veículos autônomos têm uma vantagem em termos de resistência ou quando estão operando na presença de substâncias nucleares, químicas ou armas biológicas. Outra grande vantagem dos veículos autônomos é o fato destes veículos não precisarem de longas pistas ou grandes suprimentos de combustível e, portanto, podem ser dispersos em um grande número de pequenos aeródromos. Por fim, estes veículos por serem suficientemente pequenos, são difíceis de observar e destruir.

Desvantagens

A principal desvantagem dos veículos autônomos é que os controladores humanos têm muito pouca informação sobre como a missão está evoluindo ou como o veículo está se comportando. Enquanto estes veículos podem ser usados ??para fornecer avaliação de danos de bombardeios da mesma forma que as armas que são guiadas com sensores eletro-ópticos, o estado da tecnologia empregada e a complexidade e configuração do veículo ditarão como estas informações serão disponibilizadas.

Uma desvantagem significativa dos veículos autônomos é que o sistema pode ser suscetível a ambiguidades ou erros de programação simples, que o podem fazer atacar forças amigas e causar danos colaterais em áreas que existam civis não-combatentes, embora a tecnologia atual possa reduzir significativamente este risco. A desvantagem mais ampla com sistemas puramente autônomos é que os computadores não podem tomar decisões sem humanos para supervisionar seu comportamento. Em termos de custo, veículos autônomos que possuem inteligência artificial sofisticada ou sistemas especialistas serão caros, complexos e propensos a se comportar de maneiras que um adversário poderia reconhecer e explorar. Em geral, essas máquinas não podem se adaptar ou explorar os fatores que são essenciais para o sucesso em combate.

Uma suposição razoável é que os veículos autônomos não são capazes de analisar os acontecimentos ou exibir a liberdade de ação que é essencial para sucesso nas operações militares. Veículos autônomos não podem replicar de forma abrangente a capacidade humana de compreender as nuances que fazem a diferença entre sucesso e fracasso na guerra. Eles não podem demonstrar iniciativa, mas devem contar com os sistemas especialistas ou inteligência artificial que em si é um produto com listas de regras e contingências explícitas. Esses sistemas não terão a capacidade humana de se adaptar e se comportar de forma imprevisível, o que aumenta sua vulnerabilidade às ações inimigas. Uma razão para esta limitação é que os sistemas especialistas não reagem bem às informações que operam no limite de seu “conhecimento”, conhecido como “fragilidade”, o que aumenta sua vulnerabilidade a inimigos que podem usar engodos ou ambiguidades para confundi-lo. Dado o grande número de objetos que sistemas altamente automatizados podem encontrar e número de decisões que devem ser tomadas de forma correta e rápida, o problema é a relativa facilidade com que um adversário poderia explorar estas deficiências.


Funções militares para veículos aéreos não tripulados

As aeronaves tripuladas dominaram o século XX, mas avanços tecnológicos estão levando ao desenvolvimento de UAVs que poder realizar missões militares que antes eram reservadas para aeronaves tripuladas. Há uma série de funções que um UAV pode desempenhar no cenário das operações militares.

Transporte: Embora até o momento atual não tenhamos UAVs transportando passageiros, eles já podem transportar cargas, especialmente nas quantidades relativamente pequenas que se aplicariam em situações táticas. O estado atual da tecnologia pode ser suficiente para criar helicópteros remotamente pilotados ou autônomos que são capazes de entregar suprimentos e munições às tropas em campo, desde que instruções e restrições específicas guiem esses UAVs.

Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR). Uma forma mais prática é usar UAVs para missões de inteligência, reconhecimento e vigilância, e que tiraria vantagem do fato de que os UAVs têm tempos de voo significativamente mais longos, e podem ser posicionados de forma flexível perto de alvos potenciais, sendo pequenos e relativamente difíceis de detectar. A longa resiliência dos UAVs é particularmente importante para a vigilância quando essas operações necessitam ser realizadas ao longo de dias. Nesse sentido, os UAVs poderiam aliviar as plataformas tripuladas da necessidade de manter o alto ritmo operacional para os períodos que são a norma nas contingências militares modernas.

Os EUA em missões de vigilância usam vários UAVs. O Global Hawk da USAF e o RQ-6 Outarider do US Army e da US Navy são exemplos. Estão em serviço UAVs que podem voar de forma autônoma e transmitir informações em tempo real, para uso em reconhecimento, interferência, detecção química ou biológica, e colocar sensores remotos no campo de batalha. Para ataque à alvos usam-se modelos com capacidade de lançar armas contra locais de defesa antiaérea, como em 1972, quando um drone Ryan Lightning Bug lançou com sucesso um míssil AGM-65 Maverick contra uma van de controle de radar. É possível que UAVs possam atuar na vigilância se estados rebeldes (na visão dos EUA), que estão envolvidos em fabricar ou armazenar armas de destruição em massa e atacar aquelas instalações. O Conselho Consultivo Científico da USAF sugeriu que para atacar essas instalações, os EUA deveriam desenvolver UAVs com sensores e armas multiespectrais. Este UAV de vigilância voaria em conjunto com UAVs armados com armas de precisão, armas penetrantes ou armas que empregam mecanismos de matar que evitam a disseminação desses materiais.

Os UAVs podem ser usados ??para atacar alvos terrestres fixos de alto valor em operações militares. Uma vez que sejam informados a localização, o tipo de alvo e efeitos de armas desejados ao UAV, este determinaria a maneira correta de atacar os alvos com um operador remoto ou alguma forma de automação.

Ataque à Alvos Móveis. O conceito de atacar alvos móveis com UAVs são bastante populares e envolvem o uso de sensores em UAVs de alta altitude e longa duração em conjunto com aeronaves. O problema fundamental com o uso de UAVs é a dificuldade de detectar e identificar alvos em operações de combate modernas. Se equipado com sensores de vigilância e reconhecimento e munições afins, UAVs pouco observáveis ??que operar em grandes altitudes por longos períodos poderiam ser usados para detectar mísseis de teatro, balísticos e de cruzeiro. A resiliência em ação relativamente longa desses veículos, e a capacidade de detectar e identificar alvos, poderiam fazer dos UAVs operados remotamente uma opção viável para esta missão.

Combate Ar-Ar. Num futuro previsível, a tecnologia permitirá UAVs para realizar operações de combate ofensivas e defensivas contra aeronaves, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos. Se os comandantes militares puderem usar UAVs avançados para interceptar aeronaves, eles disponibilizariam suas aeronaves tripuladas para outras missões de combate. Se olharmos para o longo prazo, pode ser tecnologicamente viável desenvolver UAVs que possam substituir a atual geração de aeronaves de combate com veículos cujo desempenho e a capacidade de sobrevivência excede a dos veículos pilotados. Além disso, os UAVs poderiam ser usados para atacar instalações, bem como atacar alvos fixos e móveis críticos. Veículos pilotados remotamente podem ser valiosos em combate aéreo, e muitos conceitos que dependem de níveis mais avançados de automação, caminham para se tornar realidade.

Missões de Apoio ao Combate. A ideia é usar UAVs para a operações de suporte eletrônico que são realizadas por aeronaves de ataque e bombardeiros, em conjunto com aeronaves para atingir e congestionar radares de controle de fogo. Esta categoria de UAV pode funcionar como um chamariz duplicando as assinaturas de radar, infravermelho e rádio da força atacante para aumentar a capacidade de sobrevivência das aeronaves tripuladas, detectando a localização das defesas aéreas inimigas e transmitindo esses dados para aeronaves de ataque tripuladas, sendo que estas e outros UAVs poderiam vetorar armas para a supressão destas defesas, como dito anteriormente.

É inevitável que os desenvolvimentos tecnológicos permitam UAVs para assumir muitos papéis militares. Por esse motivo, é fundamental investir em tecnologia UAV para aumentar a custo-benefício dos sistemas de armas, reduzindo o risco para os seres humanos em combate. No entanto, a opção mais prudente é manter capacidades significativas em aeronaves tripuladas até que computadores e sensores chegarem ao ponto em que serão capazes de tomar as decisões de combate que historicamente seriam tomadas por humanos, de forma confiável e sem titubear nas situações limite.

Conclusões

Os militares tem a sua frente vários conceitos sobre como os UAVs devem ser usados ??em operações militares, mas o fato é que muitos desses conceitos são ainda especulações sobre como as tecnologias UAV podem funcionar, embora venham se tornando realidade dia a dia. Existem ainda limitações na capacidade de usar veículos não tripulados, especialmente aqueles que dependem de automação para tomar decisões em combate, além dos problemas de infraestrutura como no caso dos veículos que necessitam de links satelitais para os países que não os possuem. Pela maioria dos padrões, a automação é o ponto crítico da tecnologia que determinará se os UAVs poderão funcionar efetivamente em operações militares. Não basta dizer que porque a atual geração de mísseis de cruzeiro utiliza sistemas de navegação inercial, comparação automatizada de terrenos ou Sistema de Posicionamento Global (GPS), que os UAVs podem assumir um papel dominante.

A realidade é que o desenvolvimento de UAVs foi retardado pelos problemas associados a construir máquinas autônomas que possam desempenhar funções humanas, de que tomar decisões em combate sobre o uso de força letal são provavelmente o mais difícil. Não há dúvida de que os avanços tecnológicos recentes aumentaram o valor militar dos UAVs. Por exemplo, os sistemas de controle foram aperfeiçoados ao ponto em que o operador precisa de muito menos experiência com veículos operacionais, e pode se concentrar em entregar armas. Também não está claro que os UAVs serão menos caros para operar do que seus homólogos tripulados. Enquanto um estudo sugeriu que o Global Hawk UAV pode ser menos dispendioso de operar do que a aeronave U-2, existem incertezas sobre quanto custará operar UAVs. Por exemplo, a USAF descobriu durante a campanha de 1999 nos Balcãs que era mais caro operar o UAV Predator do que havia previsto. Finalmente, os militares devem entender que sempre haverá casos em que os veículos não tripulados não podem cumprir as missões desempenhadas por aeronaves tripuladas. O problema tecnológico fundamental com UAVs é sua capacidade limitada de lidar com a ambiguidade. Durante as operações de imposição da paz ou de guerra aberta, comandantes militares cometem erros rotineiramente ao identificar forças amigas e inimigas como bem como civis. Um exemplo notável foi o fracasso em perceber que civis atravessavam uma ponte no Kosovo ao mesmo tempo que forças militares, quando foram atacadas por aeronaves da OTAN. O problema é que os bunkers que podem abrigar civis, centros de C2 ou sistemas de mísseis podem estar localizados em áreas urbanas, que se atacadas por erro matará civis inocentes. Para saber o limite onde os UAVs podem ser usados extensivamente em operações militares, os UAVs devem demonstrar um nível de automação capaz de lidar com essa ambiguidade, mas esse padrão ainda excede as capacidades tecnológicas. Até UAVs operados remotamente terem os sensores e computadores que podem resolver as ambiguidades que existem em combate, os militares não poderão contar com sistemas totalmente automatizados. Isso não quer dizer que a tecnologia nunca criará sistemas altamente automatizados que pode guiar UAVs em missões militares. Mas o volume de informação cresce continuamente, o que aumenta a pressão para tomar decisões mais rapidamente, e os operadores humanos podem ficar tão sobrecarregados e voluntariamente abdicarem do controle para sistemas automatizados. Uma questão relacionada é se o desenvolvimento de UAVs levará a obsolescência tecnológica ou extinção de aeronaves pilotadas e, portanto, das forças aéreas tal qual são. O contra-argumento, no entanto, é que se as forças aéreas não conseguirem se adaptar às rápidas mudanças tecnológicas, seu papel diminuirá em qualquer caso. No entanto, é concebível que a dependência de máquinas poderia acelerar o fim de uma era em que os humanos desempenham um papel decisivo no uso do poder aéreo.

Esses desenvolvimentos tecnológicos não devem obscurecer o fato de que veículos aeroespaciais pilotados, pilotados remotamente e autônomos podem fazer contribuições significativas para as operações militares, e que os militares as organizações devem considerar como essas tecnologias vão mudar os fundamentos doutrinários do poder militar. Os militares devem se adaptar às mudanças tecnológicas se quiserem preservar sua capacidade de prevalecer em operações. E isso, mais do que a presença de operadores humanos, é o derradeiro teste militar e tecnológico de sucesso.

À medida que os avanços tecnológicos aumentam a letalidade das armas no campo de batalha moderno, é inevitável que os UAVs reduzam os riscos para humanos em combate. É ilusório, no entanto, acreditar que o progresso da tecnologia apagará completamente a necessidade de colocar os humanos em perigo. Se há uma restrição fundamental ao desenvolvimento de UAVs, é que a tecnologia promete encontrar soluções puramente não tripuladas para combater, mas não pode cumprir essa promessa. As autoridades políticas e militares devem abordar com cautela a perspectiva de um mundo em que os sistemas automatizados possam selecionar alvos militares e empregar munições letais. Vamos imaginar os perigos de uma situação em que um veículo autônomo armado com mísseis ataca por engano um ônibus escolar, que está cheio de crianças porque o software de reconhecimento automático de alvos concluiu que o "alvo" era um lançador/eretor/transportador que carregava um míssil SCUD. Este problema pode ser agravado se considerarmos que o sistema automático de reconhecimento de alvos pode falhar em "perceber" que o míssil móvel está estacionado no pátio da escola.

Embora a automação possa ajudar os humanos, ainda não chegamos ao ponto onde a tecnologia permitirá que sistemas automatizados tomem decisões sobre o uso de força militar letal. Se o objetivo por trás do desenvolvimento de UAVs é encontrar soluções tecnológicas para salvar vidas humanas em combate, não deve desviar a comunidade tecnológica de encontrar melhores maneiras de integrar humanos e máquinas em um sistema mais eficaz para tomar as melhores decisões possíveis nos cenários operacionais.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Artilharia de Tubo em Áreas Urbanas *234


A artilharia de tubo é um dos multiplicadores de combate mais poderosos em um teatro de operações. Em todo o espectro de operações ofensivas, defensivas e de estabilização, ela serve como um meio de apoio de fogo orgânico, oportuno, disponível o tempo todo, sob quaisquer condições climáticas. Embora a artilharia de tubo seja um dos muitos sistemas de armas capazes de utilizar munições de precisão, sua qualidade única vem da capacidade de pronta resposta com um alto volume de fogo, com várias combinações de projéteis e espoletas.

As operações em terreno urbanos, devido às suas peculiaridades, vem demonstrando a preferência dos comandantes de substituir o poder de fogo representados por sistemas complexos, por homens com capacidades de atuação mais pontual e específicas, e o emprego da artilharia de tubo se faz adequado e necessário. Iniciativas de modernização melhoram continuamente o equipamento em uso, adequando-o às novas demandas, e o combate urbano atual exige engenhosidade no uso dos equipamentos disponíveis para preencher lacunas de capacidade, com a incorporação paulatina de novos e mais adequados equipamentos. O sucesso em combates urbanos requer aplicação criativa e conhecimento do básico. Isso inclui “competência transferível”, ou a capacidade de aplicar competências a novos ambientes e situações. A iniciativa dos comandantes de baixo escalão e a rápida adaptação ao campo de batalha são fundamentais para o sucesso neste cenário cada vez mais presente.

O Ambiente Operacional

Emprego da Artilharia de Tubo no Ambiente Urbano

É necessário analisar o emprego neste ambiente sob os seguintes aspectos: Escolha e Ocupação das Posições de Bateria, Dispersão e Técnicas de Emprego; Comunicações e Operações Degradadas; Segurança da Bateria; Fogo Direto e Logística.

Escolha e Ocupação das Posições de Bateria

Com os requisitos da missão e considerações de apoio necessárias, as operações urbanas de artilharia de tubo são inevitáveis. Os comandantes podem considerar operar das periferias, mas muitas áreas urbanas são grandes demais para a execução de fogos destas distâncias, assim como os fogos defensivos a partir de seu interior que também se farão necessários. 

Sejam quais forem as características do terreno, a escolha e ocupação das posições de bateria serão determinadas pelos requisitos da missão. Os critérios padrão não diferem no terreno urbano, mas há um aumento inerente na complexidade de operação nestes locais. As exigências de comunicações, segurança, trafegabilidade e manobrabilidade assumem um papel de apoio, mas são vitais neste esforço. A velocidade de progressão da tropa apoiada é particularmente vital nestas análises: o ritmo da manobra tende a ser lento e deliberado em algumas situações, com combates quarteirão a quarteirão, ou pode ser rápido, no contorno de áreas urbanas, com movimentos diretamente para objetivos selecionados. 

Os ambientes urbanos apresentam grandes massas de cobertura e problemas de mascaramento imediatos. No uso de munições convencionais de saturação de área, o espaço morto é tipicamente 5 vezes a altura dos edifícios para tiro mergulhante e metade desta altura para tiros verticais. Isso causa uma maior propensão para os fogos em tiro vertical de forma a aumentar a eficácia no ataque às áreas desenfiadas entre os edifícios. Para munições convencionais de saturação de área, isso cria uma diminuição na precisão e no alcance. Missões de tiro vertical também exigem mais tempo de trajetória. Essas complexidades adicionais tornam difíceis os engajamentos de alvos de oportunidade e possivelmente até de alvos previstos. Se houverem considerações mais rígidas das regras de engajamento (ROE), as considerações de danos colaterais também podem limitar a capacidade destes fogos de saturação, embora essas considerações possam ser limitadas e minimizadas dependendo da situação. 

Uma análise criteriosa das áreas urbanas é necessária para facilitar os fogos oportunos e maximizar as comunicações, bem como as considerações de segurança. Cada tipo de área urbana apresenta desafios e oportunidades únicos.

As regiões centrais das áreas urbanas apresentam problemas significativos para a artilharia, pois geralmente são muito pequenas e compactas para fornecer áreas de posicionamento. Se a missão exigir ocupação dentro de áreas centrais, os comandantes devem considerar o posicionamento dos obuseiros nas ruas ao longo das linhas de tiro até o alvo, principalmente se a área urbana seguir um padrão radial ou de grade. Como as áreas centrais normalmente restringem o movimento, os comandantes também devem considerar a quantidade de escombros na área de posição e na seleção do local. Estruturas revestidas pesadas são mais propensas a entulho e existem com maior frequência nas regiões mais antigas das áreas centrais, bem como estruturas mais leves são menos propensas a entulho e estão nas regiões mais novas das cidades, especialmente na periferia central. As áreas centrais também podem ter problemas significativos no que se refere à campos de observação. Finalmente, a natureza densa e multidimensional destas áreas tende a dificultar a segurança das baterias.

As áreas de arranha-céus periféricas são semelhantes às áreas centrais, apresentando problemas significativos de comunicações. A diferença está nas grandes áreas abertas, como estacionamentos e parques que separam áreas periféricas de arranha-céus. Essas áreas podem ser grandes o suficiente para ocupações por pelotões e baterias, mas também são propensas ao assédio do inimigo. Os comandantes devem considerar os vários sistemas de transporte coletivo que caracterizam as áreas periféricas de arranha-céus. Estes podem representar vias de aproximação de alta velocidade para as forças inimigas que operam na área.

As áreas militares existentes nos locais podem fornecer espaços de posicionamento adequados para baterias de tiro, pois a defesa será facilitada pelas fortificações permanentes e instalações subterrâneas existentes. Os aeródromos também podem fornecer excelentes áreas de posicionamento e/ou podem funcionar como zonas de pouso de helicópteros ou zonas de coleta. A infraestrutura de comunicações interna ali existentes, podem fornecer um meio de comunicação adicional e redundante. Quanto aos riscos apresentados nas áreas militares, estas podem possuir armas de destruição em massa, gerando risco à força e preocupações com danos colaterais. Além disso, como as áreas militares podem ser um centro de gravidade para as forças inimigas, a chance de ataques complexos e de assédio pode aumentar.

As áreas comerciais podem permitir que a artilharia de tubo seja desdobrada nos corredores, utilizando as vias que cruzam as diferentes áreas urbanas. Em áreas comerciais, os estacionamentos podem ser as posições mais adequadas, mas o espaço de ocupação para obuses rebocados sofrerá restrições. Obuses rebocados terão que plantar suas pás de conteira contra o asfalto ou concreto, entulho ou paredes de construção, ou, alternativamente, encontrar uma área gramada onde se desdobrar. Finalmente, civis podem estar transitando nas proximidades, e áreas residenciais próximas podem existir, aumentando o risco do inimigo usar a população civil como cobertura e ocultação.

A áreas Industriais podem fornecer áreas de posição ideais, com espaços abertos grandes o suficiente para ocupações de pelotões e baterias. As áreas industriais também costumam fornecer ocultação adequada em grandes fábricas e armazéns de teto plano. Essas fábricas e armazéns também podem oferecer excelentes posições de cobertura e ocultação ou, se orientadas na linha de fogo, posições de tiro. Semelhante às áreas periféricas de arranha-céus, os comandantes devem considerar as vias de acesso de alta velocidade facilitadas por vários sistemas de transporte coletivo dentro e ao redor das áreas industriais. Esses centros de transporte comercial geralmente são de natureza multimodal, incluindo aeródromos e as principais rotas marítimas, fluviais, ferroviárias e rodoviárias. As forças militares que operam dentro ou ao redor destas áreas devem tomar cuidado especial com a presença de produtos químicos industriais tóxicos por ali armazenados.

As áreas residenciais estão dispersas pelas áreas urbanas e podem ser difíceis de evitar. Essas áreas podem fornecer áreas de posição ideal para a artilharia, mas exigem uma compreensão e respeito da(s) cultura(s) da área. Finalmente, como as favelas geralmente não contêm vias públicas ou serviços públicos, geralmente apresentam problemas de manobrabilidade/trafegabilidade, particularmente durante e após a ocupação, devendo ser evitadas devida a seus traçados altamente irregulares e não planejados.


Técnicas de Dispersão e Emprego

O combate urbano tem considerações únicas para técnicas de dispersão e emprego, exigindo uma análise cuidadosa do ambiente operacional. O terreno urbano ditará as técnicas de dispersão e poderá limitar o emprego aos escalões abaixo do pelotão, tornando a iniciativa do líder subalterno cada vez mais importante. A adaptação rápida para maximizar a capacidade de sobrevivência e dos fogos eficazes, como o uso de esconderijos e ataques, também podem ser táticas inevitáveis em combates neste ambiente. O espaço físico, as massas de cobertura próximas e as considerações de mascaramento podem ditar a necessidade de emprego em escalões abaixo do pelotão. Operar de forma tão capilarizada aumenta a capacidade de resposta, mas diminui o espaço disponível para fogos de saturação mais emassados. As operações nestes escalões são especialmente adequadas para o uso dos modernos sistemas digitais de direção de tiro dos obuses, mas os fogos emassados em operações degradadas – uma potencial inevitabilidade em combates urbanos – ficam mais difíceis de executar.

Operar com pequenos escalões também aumenta a vulnerabilidade ao assédio de forças terrestres inimigas. As técnicas de dispersão variam de acordo com a ameaça e o terreno. No terreno urbano, as áreas funcionais urbanas e os padrões de ruas surgem como 2 dos pontos vitais de discussão. Diferentes técnicas de dispersão são mais adequadas para áreas urbanas e padrões de ruas com base no espaço disponível, massa de cobertura, mascaramento, segurança e trafegabilidade. Por exemplo, as formações em linha das baterias ou as formações escalonadas em W fornecem controle máximo, mas devido a considerações de espaço, elas podem ser limitadas em áreas periféricas de arranha-céus e áreas centrais. Por outro lado, os comandantes podem considerar o uso das formações em cunha ou estrela em áreas centrais e de arranha-céus porque os edifícios circundantes fornecem cobertura artificial e ocultação de ameaças aéreas e contrabateria. Os espaldões são semelhantes às técnicas, táticas e procedimentos usados em áreas abertas, com seções de armas escalonadas, e em seguida, movendo-se da mesma forma para um posições de troca. Armazéns, pátios ferroviários, celeiros ou oficinas de automóveis podem ser ótimos abrigos. Se posicionadas dentro do alcance operacional da bateria, essas áreas também são excelentes posições de linha de fogo. Quando possível, os comandantes devem considerar abrigos fora das áreas urbanas para evitar a detecção. Abrigos propensos ao emprego de munições termobáricas devem ser evitados.

A proeminência do ataque de artilharia de tubo no combate urbano também pode se tornar uma tática inevitável. Há duas razões principais para esta proposição. Em primeiro lugar, com os problemas de localização até as massas de cobertura e de mascaramento inerentes às áreas urbanas, as formações de artilharia podem ter que trocar de posição rapidamente para apoiar as forças de manobra. A segunda é a natureza letal da ameaça. A realidade é que os sistemas de armas e sensores inimigos sejam tão capazes de encontrar e atacar unidades amigas que se é forçado a empreender missões de tiro deliberadas e/ou apressadas. A sobrevivência pode depender da capacidade de ocupar rapidamente uma posição, executar a missão de tiro necessária, e em seguida retornar rapidamente para trás da linha avançada para outra área de posição ou desenfiamento.

Comunicações e Operações Degradadas

A discussão sobre comunicações e operações degradadas no combate urbano são elencadas em 4 tópicos. Primeiro, planos de comunicação eficazes são essenciais. Em segundo lugar, pode ser necessária flexibilidade para o uso de plataformas e meios de comunicação mais antigos em conexão com meios mais tecnológicos para preencher as lacunas de capacidade criadas por novas tecnologias e demandas. Terceiro, pode haver a necessidade de minimizar as assinaturas eletrônicas. Quarto, as formações de artilharia de tubo devem ser proficientes em operar em modos degradados e analógicos. Pois não importa o ambiente e os meios disponíveis, as missões de tiro tem que ser executadas.

As capacidades inimigas e o terreno urbano podem degradar as comunicações em futuros combates urbanos. Arranha-céus, linhas de energia, transformadores ou outras estruturas urbanas podem interromper os sinais eletromagnéticos necessários para as comunicações. Outros sinais, como telefones celulares, serviços de emergência e outras redes táticas, também podem degradar as comunicações. O espectro eletromagnético Inimigo e os recursos cibernéticos também estão avançando rapidamente, cada um com a capacidade potencial de interromper, degradar ou negar sistemas de comunicação amigos. Planos eficazes maximizam o uso simultâneo dos sistemas de comunicação disponíveis, modernos e tradicionais, monitorando e nivelando-os conforme necessário. Os planos de comunicações bem elaborados minimizam as interrupções nas comunicações, maximizando assim os disparos eficazes e facilitando os mecanismos inter-relacionados de C2.

Os planos de comunicações podem não eliminar todos os gargalos inerentes às comunicações. Consequentemente, são vitais a flexibilidade dos meios C2 que devem permitir a execução descentralizada das missões de tiro. As unidades de artilharia devem ter a capacidade de empregar o maior número de meios simultâneos de comunicações do nível do grupo para o nível da bateria dentro de uma arquitetura flexível. Esses tipos de sistemas disponíveis são o rádio ar-terra-ar, o rádio de alta frequência (HF) e o rádio com link de satélite. A integração bem-sucedida desses 3 sistemas pode determinar a eficácia do apoio de fogo entre os usuários. A capacidade das unidades em executar fogos precisos e oportunos exige o uso eficaz de todos esses 3 sistemas. O rádio tático é o sistema mais abundante nas unidades. Com o uso de um amplificador de potência, estes sistemas são capazes de comunicações de voz até 40 km e dados até 20 KM. O terreno urbano, no entanto, pode restringir severamente o emprego nestes alcances. Equipes de retransmissão podem flexibilizar estes meios sobre ou ao redor de obstáculos para permitir disparos efetivos. Estas equipes devem estar equipadas com o maior número possível de sistemas afins para operar em emprego prolongado, e devem garantir que os locais de retransmissão possam entrar em contato com todos os nós necessários. Como cada sistema requer uma antena para cada rádio na configuração, a situação eletromagnética e operacional destas equipes pode ficar insustentável em algumas situações. Por esse motivo, é vital que elas entendam a missão, e tenham capacidade de uso de locais alternativos e suplementares.

Os comandantes também devem fornecer anexos de segurança às equipes de retransmissão devido às considerações de segurança inerentes ao terreno urbano. O uso de Sistemas Aéreos Não Tripulados para fornecer uma capacidade de retransmissão pode reduzir o risco. Como alternativa a uma equipe de retransmissão, as unidades podem usar outras unidades amigas para retransmitir mensagens quando a comunicação direta não for possível. Os rádios HF fornecem voz à unidade e comunicações digitais que transmitem sobre obstáculos e longas distâncias. Infelizmente, os rádios HF são limitados, mas podem ser necessários para facilitar fogos de longo alcance atendendo às necessidades do terreno urbano. Os rádios satelitais transmitem comunicações de voz e dados em distâncias muito longas. Os grupos de artilharia devem considerar o uso sempre que possível de rádios satelitais para suas baterias, de forma a aumentar a redundância nas comunicações.

No entanto, essa transferência requer treinamento sobre o uso desses sistemas. O combate urbano pode exigir engenhosidade usando plataformas e acessórios de comunicação “desatualizados” e/ou existentes para preencher as lacunas de capacidade criadas pelas novas tecnologias. Por exemplo, sistemas de telefonia celular ou fixos civis podem ser usados em caso de emergência, e sistemas fio podem ser desdobrados através de esgotos e edifícios. Com relação às antenas de campo, os comandantes são limitados apenas pela imaginação. As antenas de campo podem ser colocadas em árvores, amarradas a balões de ar ou colocadas em andares superiores de edifícios para aumentar o alcance. As antenas, no entanto, podem revelar as posições das unidades, de modo que os comandantes devem evitar posições de silhueta.

Por outro lado, o combate urbano pode ditar a necessidade de minimizar as assinaturas eletrônicas. Nesse caso, os comandantes podem considerar períodos de silêncio de rádio para evitar assinatura eletrônica. O silêncio de rádio é um status em que todos os rádios em uma área são solicitados a parar de transmitir, dependendo de uma necessidade imperiosa. Da mesma forma, as equipes de retransmissão permitem que as unidades reduzam a saída de radiofrequência para reduzir as assinaturas eletrônicas em suas posições. Reduzir ou eliminar brevemente as assinaturas eletrônicas reduz o risco de detecção de posições de soldados e unidades. No recente conflito na Ucrânia, a Rússia realizou ataques de artilharia contra o exército ucraniano, visando seus sinais eletrônicos. Os militares dos EUA não tiveram que lidar com essa capacidade durante as guerras no Iraque e no Afeganistão.

As capacidades eletromagnéticas inimigas podem interromper, degradar ou negar os Sinais GPS necessários para sistemas digitais, forçando a artilharia de tubo a operar em modos degradados. Operar em ambientes urbanos requer uma consideração adicional: em modos degradados, os instrumentos magnéticos serão prejudicados e sua precisão degradada em áreas construídas. Essa degradação aumentará nas áreas periféricas de arranha-céus e núcleos, onde existem muitos edifícios altos com estrutura de aço. A precisão é especialmente mais necessária no combate urbano não apenas por causa de considerações de danos colaterais, mas também porque o combate urbano geralmente apresenta alcances de combate direto de fogo inferiores a 100 metros. O ciberespaço e as capacidades eletromagnéticas também podem interromper o comando de missão e o processo de direcionamento de unidades de artilharia amigas, forçando métodos analógicos na eliminação de fogos e gerenciamento do espaço aéreo. Como as redes degradadas reduzem a consciência situacional, os ensaios antes e mesmo durante as operações são vitais – principalmente quando se opera como parte de uma coalizão multinacional.

A Segurança das Baterias

A segurança das baterias em terreno urbano tem uma natureza dupla de desafios e oportunidades: o terreno urbano oferece um ambiente multidimensional para projetar a defesa, porém esta mesma sua natureza multidimensional o torna inerentemente difícil de defender. É necessária uma abordagem holística para reduzir os desafios e maximizar as oportunidades. As iniciativas de modernização para criar uma força mais móvel e ágil aumentarão a capacidade de sobrevivência.

A aplicação criativa do terreno urbano fornece alerta precoce, defesa em profundidade e dispersão. Posições fortificadas podem ser instaladas em edificações abandonadas, e prédios de vários andares podem fornecer ótimos pontos de observação e de rádio-operação, e os principais sistemas de armas podem ser posicionados de forma criativa para fornecer fogos diretos eficazes. A natureza canalizadora e compartimentada do terreno também pode oferecer aos comandantes áreas de engajamento ideais. Finalmente, em terrenos urbanos, os comandantes podem usar a cobertura fornecida por estruturas de vários andares ou podem dispersar suas seções. Em terreno aberto, os comandantes podem optar por dispersar suas pelas em intervalos de 100 metros ou mais, e ainda mais para o comando de linha de fogo (CLF). Em áreas urbanas densas, seja nos centros ou em áreas periféricas de arranha-céus, os edifícios altos podem fornecer cobertura mascarando os sistemas de fogo indireto do inimigo, permitindo uma ocupação mais compacta. Consequentemente, a ocupação em áreas urbanas densas frequentemente exige a execução de fogos verticais (acima de 45 graus).

Além de estabelecer uma defesa padrão, os encarregados da segurança também devem varrer as edificações para cima e para baixo em seus setores para cobrir edifícios de vários andares e outras estruturas altas. Devido a essas complexidades inerentes, uma força de reação rápida designada é vital para a sobrevivência no caso de uma violação do perímetro. Os comandantes também devem coordenar com as unidades adjacentes para aumentar seus planos de segurança, e solicitar anexos de segurança adicionais. Dependendo do tempo disponível, as peças podem individualmente preparar posições suplementares para cobertura de fogo direto em rotas críticas para a posição da bateria

Os sensores dos adversários e os sistemas de armas de fogo indireto também tornam os critérios de movimento de sobrevivência e a capacidade de deslocamento rápido absolutamente críticos. Apesar da agilidade da artilharia rebocada em ataques aéreos e operações aerotransportadas, elas possuem limitações inerentes nos tempos de deslocamento e proteção das guarnições. De certa forma, isso limita sua viabilidade em campos de batalha urbanos.

Há um argumento crível de que sistemas de obuseiros leves e móveis são necessários devido à necessidade premente de ocupações e deslocamentos mais rápidos. Mesmo se operado dentro dos padrões de tempo. Os atuais sistemas de armas rebocadas se deslocam taticamente em um ritmo muito lento para sobreviver no campo de batalha urbano cada vez mais exigente. Além disso, a fadiga da tripulação nos atuais sistemas de armas rebocadas é uma preocupação.

Da mesma forma, as capacidades inimigas e o denso terreno urbano exigem postos de comando (PC) mais móveis e menores. As limitações de comunicação do terreno urbano exigem PCs ágeis e móveis para manter fogos eficazes e C2 eficientes. Preocupações com a sobrevivência, especialmente aquelas relativas aos fogos de contrabateria, também ditam a necessidade de movimentos frequentes e rápidos. Com as exigentes configurações de pessoal e equipamento inerentes aos grupos, deve haver um maior equilíbrio entre eficácia e capacidade de sobrevivência.

A defesa da bateria no terreno urbano também deve seguir uma abordagem holística. Pontos vitais adicionais de discussão incluem, mas não estão limitados à técnicas de emprego e seleção de área de posição. A robótica usada na defesa e reconhecimento de baterias também pode eventualmente ser um tópico de discussão; no entanto, há uma maior necessidade dessas formações de manobra e os custos associados de projeto e desenvolvimento são altos.

Fogo Direto

Embora não seja sua missão principal, a artilharia de tubo pode fornecer uma capacidade de fogo direto de grande calibre que é eficaz na guerra urbana. Durante a Primeira Batalha de Grozny, de dezembro de 1993 a março de 1994, as forças russas utilizaram tiros de canhão indiretos para moldar e suprimir os arredores da cidade. Depois que as forças de manobra conquistaram seus objetivos iniciais, os russos utilizaram parte de sua artilharia autopropulsada em um papel de fogo direto, fornecendo um fogo de longo alcance contra bunkers, fortificações pesadas ou posições inimigas reforçadas em edifícios de concreto. Isso se mostrou eficaz, com o benefício adicional de que o fogo direto produzia menos escombros nas ruas do que o fogo indireto, permitindo maior liberdade de manobra às forças russas que avançavam.

Obuses em uma função de fogo direto trazem capacidades significativas para aumentar os sistemas de armas orgânicas de fogo direto. Muitos MBTs em função de apoio são incapazes de se elevar para engajar alvos nos andares superiores dos edifícios, e os sistemas de armas de artilharia, por sua própria natureza, podem engajar em qualquer elevação. Projéteis de 155 mm podem penetrar até 38 polegadas de tijolo e concreto não armado e até 28 polegadas de concreto armado com danos consideráveis além da parede. Projéteis de 105 mm causarão danos significativos a edifícios construídos com material leve e podem penetrar em paredes de pedra e tijolo de camada única ou concreto armado leve. Essa capacidade é especialmente significativa nas tropas de Infantaria leve e paraquedistas, porque essas formações carecem de sistemas orgânicos de armas de fogo direto de grande calibre.

Considerações adicionais para obuses empregarem fogo direto incluem capacidade de sobrevivência, tempo de ocupação de posição e deslocamento, precisão e mobilidade. Os obuseiros autopropulsados (SPGs) são sem dúvida a melhor opção, mas não oferecem a mesma proteção que um MBT a suas tripulações. As peças de artilharia rebocadas são relativamente vulneráveis, pois não fornecem proteção às suas tripulações e são mais lentas nas movimentações. Sistemas de obuseiros móveis em vez de sistemas rebocados atuais podem reduzir essa lacuna de capacidade.

Os comandantes só devem optar por empregar artilharia de tubo em uma função de fogo direto após uma análise cuidadosa da adequação, viabilidade e aceitabilidade do uso de artilharia para completar o fogo dos MBT ou outras armas de fogo direto. Quando os obuses são retirados de seu papel tradicional, a capacidade de apoiar forças de manobra e moldar objetivos futuros é degradada. Os comandantes devem pesar o esforço principal e realizar uma análise de custo-benefício dos riscos associados à utilização de obuses em uma função de fogo direto.

Logística

Devido à natureza híbrida e letal das ameaças, as dificuldades logísticas das brigadas serão ampliadas em terreno urbano. Como visto na batalha de Aachen durante a Segunda Guerra Mundial, o desafio logístico resultante para igualar este aumento acentuado de munições é significativo. Operações engenhosas e planejamento eficaz são necessários para manter fogos oportunos e eficazes. As futuras iniciativas de modernização auxiliarão no atendimento da demanda logística.

Manter o ritmo com linhas de abastecimento difíceis em grandes terrenos urbanos podem exigir que as baterias operem com uma logística limitada. Durante a invasão do Iraque em 2003, os Marines operaram sem leitos, sem sacos de dormir e, às vezes, com apenas uma refeição pronta para comer por dia. Estes regimentos também foram equipados com kits de teste de combustível para capturar e utilizar combustível inimigo, e veículos e equipamentos foram mantidos escrupulosamente.

A capacidade da artilharia de tubo de fornecer apoio de fogo eficaz depende de sua capacidade de prever efetivamente seu consumo de munição. Áreas urbanas podem ditar uma maior necessidade de certas munições, e certos conjuntos de missões requerem diferentes combinações de espoletas, por exemplo, espoletas de retardo para penetrar no concreto, granadas fumígenas usadas em operações de abertura e passagem de brechas, minas espalhadas para isolar formações inimigas de suas linhas logísticas fora da cidade, munições de precisão para alvos de alta prioridade, etc. Garantir a quantidade e o tipo corretos de munição no lugar e na hora certos é fundamental. O S3 (oficial de operações) e os comandantes de linha de fogo (CLFs) devem identificar esses requisitos no início do processo de planejamento (análise da missão) para garantir tempo suficiente para encomendar e entregar munição.

Mas apesar dos riscos à força e missão causados pelas dificuldades logísticas inerentes ao combate urbano futuro, 3 tendências tecnológicas emergentes merecem destaque. A primeira é o uso de técnicas de manufatura adaptativa, como a impressão 3D, para reduzir custos e aprimorar significativamente o trem logístico, fornecendo ressuprimento antecipado de peças e outros materiais. A segunda é usar inteligência artificial (IA) ou plataformas não tripuladas operadas por humanos para complementar os atuais trens logísticos, reduzindo o risco de força e missão em movimentos logísticos. O terceiro são os avanços tecnológicos na geração e armazenamento de energia para diminuir a dependência dos serviços logísticos em relação ao combustível. Uma dependência reduzida de combustível reduzirá significativamente os requisitos de transporte e comboios logísticos.