FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Condições Meteorológicas - Influência nas Operações Militares *055


Toda operação militar está sujeita a interferência de fatores climáticos que devem ser considerados em seu planejamento. O clima afeta as operações de forma incontestável, e conhecer antecipadamente o que irá transcorrer nesta área é de suma importância. Ter o conhecimento preciso da probabilidade de ocorrência de mudanças severas de temperatura e degelos repentinos, de precipitações volumosas, de ondas de calor mais intensas, de ventos fortes e outros; é muito importante no planejamento de uma campanha ou na organização de um único engajamento. Tropas corretamente selecionadas, disciplina apurada, um sistema de transporte bem organizado, roupas adequadas e tudo mais contribui para uma organização militar mais eficiente e é de suma importância. O clima também se apresenta como um dos fatores importantes com forte influência no controle de campanhas militares.

Estes fatores influenciam na visibilidade, na mobilidade terrestre e naval, nas operações aéreas, na segurança operacional, na trafegabilidade das ondas eletromagnéticas influenciando as comunicações rádio e operações de sensores como radares e eletro-óticos, entre outros. Operações que envolvam a utilização de satélites como os sensores GPS/Glosnass e a retransmissão de comunicações por estes meios satelitais são seriamente influenciados pelas massas atmosféricas mais densas. A mobilidade é outro fator crítico em uma operação militar, e condições meteorológicas adversas podem inviabilizar a transitabilidade em terrenos ruins, como aqueles excessivamente arenosos e moles, que facilmente se transformam em lodaçais, podendo paralisar todo um exército em marcha. 

O derretimento da neve prejudicou sobremaneira o avanço alemão na Rússia tornando suas precárias estradas intransitáveis, com a formação de lodaçais e impondo um fardo penoso às tropas. Nas mesmas condições, o deslocamento marítimo pode se tornar algo penoso, principalmente a tropas em travessia e não habituadas a vida embarcada. O desembarque do dia D em 1944 na Normandia, por exemplo, foi adiado para o dia 6 de junho devido ao mau tempo, e apesar das condições deste dia não serem as melhores, as tropas já estavam embarcadas a algum tempo e sofrendo de enjoos, e uma espera maior seria inviabilizada pelas condições de maré e da logística de desembarcar todo o contingente e seus meios de apoio para aguardar uma data mais adequada.


A Primeira Grande Guerra forneceu uma oportunidade incomum para estudar a influência do clima nas operações militares modernas. Cada zona de guerra teve seus próprios tipos climáticos especiais e apresentou seus próprios problemas peculiares. Na frente ocidental, a principal dificuldade foram as chuvas de outono e inverno, não tanto por serem extraordinariamente pesadas, mas por sua frequência. Na frente oriental, os invernos foram mais rigorosos do que no oeste. Houve mais sofrimento por causa do frio e por causa das tempestades de neve. A importância de longos períodos de tempo gelado, durante os quais somente os pântanos podem ser atravessados, foi claramente vista. Na frente austro-italiana, os combates ocorreram em meio a neves profundas, avalanches, frio extremo e tempestades violentas. O uso de aviões e zepelins e de gás asfixiante deu ênfase extraordinária à importância do fator clima na guerra. Os alemães tiveram, desde o início, um serviço militar de campo meteorológico muito eficiente, cujo quartel-general, para a frente ocidental, ficava na Bélgica. Seus observadores meteorológicos fizeram previsões das condições mais favoráveis para incursões de zeppelins e para ataques de gás. Muitas lições foram aprendidas, e uma delas foi a necessidade de ter meteorologistas treinados ligados aos exércitos e de dar a todos os oficiais alguma instrução nos princípios de meteorologia e previsão do tempo.

O Desembarque da Normandia, na Segunda Guerra Mundial, representou a maior operação militar combinada em toda a História-Militar e foi definida pelo Primeiro-Ministro Britânico Winston Churchill como “a mais difícil e complicada operação de todos os tempos”. O seu sucesso está diretamente relacionado a mais relevante contribuição da previsão de tempo no Processo do Planejamento Militar(PPM). A equipe de meteorologistas foi decisiva para a escolha da manhã do dia 6 de junho de 1944, como Dia-D da “Operação Overlord”, pelo Comandante da Força Expedicionária Aliada, mesmo que muitos membros do Estado-Maior, sugerissem pela escolha do dia 5 de junho como Dia-D. As análises meteorológicas feitas com modelos de Previsão Numérica do Tempo (PNT) mostraram posteriormente que o dia 6 de junho de 1944 foi provavelmente o único dia do mês que tal operação militar poderia ser realizada. A situação sinótica apresentada nos primeiros dias de junho de 1944 foi algo realmente peculiar. Nos dias 4 e 5 de junho foi observado um tempo extremamente severo no Canal da Mancha, devido a ação de um sistema frontal associado a uma família de três ciclones em deslocamento no Atlântico Norte. O Serviço Meteorológico Alemão sugeriu então o relaxamento da condição de prontidão na Frente Ocidental, não considerando melhora nas condições de tempo e esta possibilidade do inimigo. Porém, os meteorologistas aliados observaram no dia 4, que o ciclone mais a leste começava a ser alcançado pelo segundo ciclone da família, formando um único e possibilitando a desaceleração e a mudança da inclinação do sistema frontal e uma “janela” de tempo, de cerca de 36 horas, favorável para a realização do desembarque. É bem provável, que caso a sugestão não fosse aceita pelo Supremo Comando Aliado, a “Operação Overlord” teria sido um grande fracasso e, possivelmente, a Segunda Guerra Mundial não teria terminado em 1945.

Outra situação na Segunda Guerra Mundial em que a meteorologia teve um grande peso foi a Batalha de Stalingrado. Essa operação militar conduzida pelos alemães e seus aliados contra as forças russas pela posse da cidade de Stalingrado, às margens do rio Volga, na antiga União Soviética. A batalha foi o ponto de virada da guerra na frente oriental, marcando o limite da expansão alemã no território soviético, a partir de onde o Exército Vermelho empurraria as forças alemãs até Berlim, e é considerada a maior e mais sangrenta batalha de toda a História, causando a morte e ferimentos em cerca de 2 milhões de soldados e civis. Em 22 de junho de 1941, a Alemanha e os seus aliados do Eixo invadiram a União Soviética, na chamada Operação Barbarossa, avançando rapidamente para dentro de território soviético. Sofrendo derrota após derrota no verão e no inverno de 1941, as forças soviéticas contra-atacaram em larga escala próximo à capital do país, na chamada Batalha de Moscou, iniciada a 5 de dezembro de 1941. Os alemães, exaustos, com problemas de reposição logística (a maioria das divisões Panzer estava com a maior parte de seus carros de combate inoperantes) e ainda, com as tropas mal equipadas para a guerra no inverno e com linhas de suprimentos além do limite, acabaram sendo afastados das portas da cidade.

O Processo de Planejamento Militar (PPM) e os Fatores Climáticos

A primeira fase para o estudo das condições meteorológicas é dispor-se das bases de dados existentes de forma ostensiva, que darão as características climáticas de determinada região, associadas a época do ano em que se irá operar. Estes dados são lastreados no histórico do tempo ao longo dos anos e dão uma ideia geral das possíveis condições que se apresentarão. A partir daí busca-se informações mais pontuais nas previsões de curto, médio e longo prazo, permitindo que se determine com maior precisão as condições a se enfrentar. Planeja-se então com a elaboração de croquis e tabelas as condições de visibilidade, temperatura, precipitação, etc... o emprego de fulmígenos, trafegabilidade das estradas e fora delas, emprego de sensores e meios de comunicação, navegabilidade, possibilidades de alagamento, vadeabilidade de cursos d'agua, teto operacional para aeronaves e operações de aeródromos, viabilidade de reconhecimento aéreo, possibilidade de observação terrestre e utilização de elevações, entre outras ações.

Elementos ambientais tendem a influenciar de forma diferente unidades e operações com características diversificadas, porem muitos deles podem se apresentar como tendo efeitos semelhantes na maioria dos elementos e operações de combate. Muitos dos efeitos comuns podem ser derivados para fins de planejamento do clima do teatro de operações. Atenção especial deve ser dada aos elementos que podem limitar as operações ou impedi-las completamente. Por exemplo, as operações nos trópicos devem ser planejadas para considerar o ciclo recorrente dos períodos chuvosos, que em determinadas regiões podem ser muito intensos. Na Europa continental deve-se considerar os invernos rigorosos com os degelos anuais de outono e primavera afetando a trafegabilidade e o movimento.

Logo no início do processo de planejamento, deve-se relacionar os possíveis cursos de ação às expectativas meteorológicas derivadas dos estudos climatológicos. Deve haver uma probabilidade aceitável de que as condições climáticas necessárias para qualquer curso de ação proposto ocorram. É imperativo que uma operação seja viável meteorologicamente no nível operacional da guerra (níveis da guerra) e que o planejamento para mudanças climáticas sazonais seja considerado no início do processo de campanha.

Ao considerar os efeitos das condições ambientais, o impacto que o clima e o terreno têm um sobre o outro deve ser considerado. O clima e o terreno estão tão inter-relacionados que devem ser considerados juntos ao planejar as operações terrestres e aéreas. Os elementos climáticos podem alterar drasticamente as características do terreno e a trafegabilidade. Por outro lado, as características do terreno podem exercer uma influência considerável no clima local. A relação entre clima e terreno deve ser cuidadosamente correlacionada em estudos de terreno para produzir informações precisas sobre o terreno. Este planeamento é parte integrante do PPM.

Os elementos que mais influenciam as operações são: 

  • Crepúsculos: Tanto o matutino quanto o vespertino influem na luminosidade e visibilidade e horários de operação, 
  • Fases da Lua: influem na luminosidade noturna;
  • Precipitações: Afetam a visibilidade, trafegabilidade, bem estar da tropa e segurança.
  • Ventos: sua força, altitude e direção ditam as condições de mar, rotas aéreas, emprego de fumígenos e outros;
  • Nebulosidade: Afetam a visibilidade.
  • Temperatura e Umidade:  Afetam equipamento e pessoal.
  • Marés: influenciam em operações de desembarque a partir do mar

Esses elementos específicos variam de acordo com a área geográfica, o tempo e a estação. A descrição do clima de uma grande área considera as influências do terreno apenas em termos gerais; ao passo que uma descrição de uma pequena área, como um único vale, pode ser específica.

É importante que comandantes e respectivos estados-maiores entendam e considerem o clima em seu planejamento tático. Eles devem reconhecer a importância tática dos efeitos climáticos nas operações pretendidas e os riscos ou oportunidades que apresentam. Os efeitos do clima são integrados à análise do inimigo e do terreno.


Visibilidade:

A visibilidade é afetada por quase todos os fatores citados, a exceção das marés. A baixa visibilidade é benéfica para operações ofensivas e prejudicial para operações defensivas. No ataque, dissimula a concentração de manobra ou de forças amigas, potencializando assim o elemento surpresa. A baixa visibilidade dificulta a defesa, porque a coesão e o controle tornam-se difíceis de manter, o reconhecimento e a vigilância são impedidos e a aquisição de alvos é menos precisa. Essas desvantagens podem ser compensadas parcialmente pelo uso extensivo de dispositivos iluminativos, radar, detecção de som, termal e infravermelho (IR); no entanto, os dispositivos de IR são degradados em alcance por qualquer fonte de umidade, precipitação ou fumaça absorvente de umidade. Fumaça e aerossóis termais podem ser esperados em campos de batalha de intensidade média a alta e podem ser usados localmente para reduzir a visibilidade. Em todas as operações, os fatores obscurantistas limitam o uso de aeronaves e dispositivos de vigilância aérea ótica e IR.

O Crepúsculo:

Crepúsculo é a passagem do dia para a noite (crepúsculo vespertino) ou vice-versa (crepúsculo matutino). Existem 3 tipos:  O astronômico cuja visibilidade é muito reduzida e não tem utilidade prática para fins militares, o náutico que proporciona visibilidade suficiente aos movimentos terrestres com visibilidade limitadas a 400 m e uma certa proteção a observação inimiga, e o civil que proporciona luminosidade suficiente a todas as atividades diurnas. A duração dos crepúsculos depende da latitude e varia ao longo dos tempos. Enquanto que na ofensiva, a baixa luminosidade favorece a concentração de forças, a manobra e a obtenção da surpresa, na defensiva, prejudica a vigilância, impede o reconhecimento, dificulta a coordenação e controle e reduz a precisão da busca de alvos.



As Fases da Lua:

A lua influencia diretamente na visibilidade noturna. Na lua nova a visibilidade é mínima, aumenta na crescente e alcança o máximo na cheia, decrescendo na minguante. Assim, a luminosidade deve ser analisada em função do nascer e do pôr do sol e das fases da lua, que exercerão influência nas condições de observação, sigilo, emprego dos meios aéreos e de coordenação e controle das tropas. A visibilidade é influenciada também por outros elementos meteorológicos, tais como precipitações, nebulosidade, ventos, etc.



Precipitações:

O efeito mais importante das precipitações é seu efeito nos solos, visibilidade, eficácia do pessoal e o funcionamento dos sistemas de manobra terrestre, aviação e sistemas eletro-ópticos e IR. Podem trazer impedimentos ou risco ao voo, alagamentos de grandes dimensões, baixa visibilidade, impedir operações administrativas necessárias a céu aberto, desconforto à tropas desdobradas no terreno com o alagamento de abrigos e hipotermia aumentando a fadiga e causando outros problemas físicos e psicológicos, deterioração de estradas pavimentadas e com efeitos mais acentuados nas mau ou não pavimentadas e inviabilização de tráfego "off-road"; reduzir a eficácia dos campos minados e de equipamentos em geral. O granizo pode provocar a destruição de instalações e riscos a integridade humana e material. Descargas elétricas podem incendiar depósitos de munição e combustível, afetar linhas de transmissão e tráfego eletromagnético. Enxurradas podem destruir pontes e alagar áreas habitadas, além de interromper o trânsito em trechos de estradas. A chuva e a neve podem ainda reduzir bastante a eficácia do pessoal limitando a visibilidade, a persistência de agentes químicos ou criar pontos quentes NBC, a gama de lasers, dispositivos de visão noturna, miras térmicas e a eficácia das aeronaves. A precipitação também degrada negativamente a qualidade dos suprimentos armazenados. O acúmulo de neve maior que 1 polegada degrada a trafegabilidade e reduz o impacto de minas e os efeitos de explosão de munições pontuais. Geralmente, a precipitação acima de 0,10 polegadas por hora ou 2 polegadas em um período de 12 horas é considerada crítica para operações táticas. A queda de neve superior a 18 polegadas reduz a velocidade do veículo rastreado; o movimento a pé é muito difícil sem raquetes de neve ou esquis.


Ventos:

A velocidade e a direção do vento, tanto na superfície quanto no ar, geralmente favorecem a força contra o vento no uso de armas NBC e no emprego de fumígenos. Afetam também lançamentos de tropas aerotransportadas, a navegabilidade e a detecção de sons. Podem contribuir para a secagem do solo afetando positivamente a trafegabilidade. Ventos fortes podem derrubar antenas e afetar estacionamentos baseados em barracas e similares. Ventos de velocidade suficiente podem reduzir a eficácia de combate de uma força a favor do vento como resultado do sopro de poeira, fumaça, areia, chuva ou neve no pessoal e no equipamento. A força localizada contra o vento tem melhor visibilidade e pode, portanto, avançar e manobrar mais rapidamente. Os ventos fortes limitam as operações aéreas, de assalto aéreo e de aviação. Ventos e rajadas fortes na superfície podem ferir o pessoal, danificar materiais e estruturas, dar falsos retornos de radar e restringir a visibilidade devido ao vento de areia, poeira e outros materiais. Geralmente, ventos acima de 20 mph náuticos criam tais efeitos. As operações de fumaça geralmente são ineficazes em velocidades de vento superiores a 7 mph náuticas. À medida que a velocidade do vento na superfície aumenta, seja naturalmente ou aprimorada pelo movimento do veículo, a sensação térmica se torna um fator crítico. O fator de resfriamento do vento afeta adversamente o pessoal vestido inadequadamente e impede a atividade em áreas não protegidas. A velocidade do vento também afeta a distância que o som percorrerá.



Nebulosidade:

A nebulosidade pode impedir a observação aérea e de elevações, a segurança do espaço aéreo, principalmente aquele usado pelos helicópteros em baixa altitude. Nuvens escuras podem significar chuva e podem limitar o visibilidade. O tipo e a quantidade de cobertura de nuvens, bem como a altura das bases e topos das nuvens, influenciam as operações de aviação aliadas e inimigas. A extensa cobertura de nuvens reduz a eficácia do apoio aéreo. Esse efeito se torna mais pronunciado à medida que a cobertura de nuvens aumenta, à medida que as bases das nuvens diminuem e as condições associadas às nuvens (como gelo, turbulência e pouca visibilidade no ar) aumentam. Em uma massa de ar relativamente instável, as nuvens estão associadas a fortes correntes verticais, turbulência e visibilidade restrita no ar. Geralmente, as missões CAS e as missões de reabastecimento aéreo requerem um teto de pelo menos 1.000 pés. As nuvens afetam as operações terrestres limitando a iluminação e o aquecimento solar de alvos para sistemas infravermelhos. As nuvens limitam o uso de artilharia guiada por infravermelho, diminuindo o envelope no qual ela pode buscar e travar em alvos designados por laser. Linha de visão livre de nuvens é necessária para a entrega de munições guiadas com precisão pelas aeronaves.



Temperatura e Umidade:

Estes fatores influenciam diretamente os vetores aéreos, como aeronaves, mísseis e granadas de artilharia. Afetam as pessoas e o desempenho do equipamento como motores e eletrônicos em seus extremos, afetam também as atividades a céu aberto como as de construção civil e outras de cunho administrativo como o manuseio de suprimentos nas áreas de apoio de retaguarda. Temperaturas baixas podem trazer neve e demandar o provimento de fardamento e proteções especiais, provocar hipotermia e desconforto, além de prejudicar a destreza dos soldados que ficam com extremidade geladas e são obrigados ao uso de luvas e outros acessórios. A temperatura é função da latitude e da altitude, entre outros fatores de menor importância.

A temperatura e a umidade afetam a densidade do ar. A densidade do ar diminui à medida que a temperatura ou a umidade aumentam; assim, a eficiência da propulsão da aeronave é reduzida em áreas de alta temperatura ou alta umidade. Embora a temperatura e a umidade possam não afetar diretamente uma operação tática específica, os extremos reduzirão as capacidades do equipamento e podem exigir uma redução das cargas úteis da aeronave (por exemplo, combustível, armas e pessoal).

Táticas eficazes em um clima podem ser ineficazes quando aplicadas em outro. As altas temperaturas e umidade nos trópicos são propícias ao crescimento de folhagem densa que afeta muito as operações táticas. Os climas desérticos podem variar de extremamente quentes durante o dia a muito frios à noite, exigindo medidas de proteção adicionais. Em climas árticos, nos períodos de clima frio, cria-se uma necessidade quase constante de abrigos aquecidos, causa dificuldade na construção de fortificações, aumenta a dependência de apoio logísticos e demanda roupas especiais, equipamentos e treinamento de sobrevivência.

Fatores de sensação térmica são produzidos por uma combinação de temperatura e velocidade do vento. Um fator de resfriamento de -26° F (-32° C) é considerado o valor crítico para equipamentos e pessoal operando em clima frio. O extremo oposto, 120° F (49° C), é o valor crítico para o pessoal que opera em clima quente. O valor crítico da temperatura para o pessoal que opera em clima quente é de 90° F. Restrições semelhantes ocorrem em terrenos desérticos, onde a diferença de temperatura do dia para a noite pode variar até 100° F (37 ° C).

As temperaturas de alvos e objetos no campo de batalha à noite são importantes para o uso de miras térmicas e dispositivos infravermelhos de visão frontal (FLIR). Uma diferença de temperatura ou contraste térmico é necessária para que esses dispositivos "vejam" um alvo. Normalmente, o aquecimento e o resfriamento ocorrem em taxas diferentes para o alvo e o plano de fundo. Duas vezes por dia, de manhã e à noite, os alvos sem aquecimento interno atingem relativamente a mesma temperatura do fundo. Neste ponto ocorre o cruzamento térmico e o dispositivo térmico não tem a capacidade de "ver" o alvo. O tempo de cruzamento térmico pode ser de apenas alguns segundos quando o sol da manhã atinge um alvo, ou vários minutos em dias nublados de clima adverso; isso depende do contraste da temperatura limite exigido pelo dispositivo térmico. Auxiliares de decisão tática podem ser usados para prever essas diferenças de temperatura para planejadores e estimar a duração dos períodos de transição térmica.



Marés:

Influenciam operações costeiras como desembarques anfíbios e operações em portos menos preparados. A maré é a subida e descida periódica da água causada principalmente pelo efeito gravitacional da lua e do sol na rotação da terra. Além da subida e descida em um plano vertical, há um movimento horizontal chamado corrente de maré. Quando a corrente de maré flui em direção à costa, é chamada de corrente de inundação; quando flui em direção ao mar, é uma corrente de vazante.

Maré alta é a altura máxima da maré. A maré baixa é a altura mínima da maré vazante. A diferença entre o nível da água nas marés alta e baixa é a amplitude da maré. O período da maré é o intervalo de tempo de uma maré baixa até a próxima maré baixa ou de uma maré alta até a próxima maré alta. Esses intervalos são em média de 12 horas e 25 minutos na maioria dos lugares. Aproximadamente a cada 2 semanas, durante a lua nova e a lua cheia, ocorrem as águas mais altas e as mais baixas. As influências atraentes combinadas do sol e da lua sobre a água nessas horas causam essa amplitude de maré incomumente grande. Essas marés são marés de primavera. Quando a lua está em seu primeiro e terceiro quartos, as influências atrativas do sol e da lua se opõem e a amplitude da maré é incomumente pequena. As marés durante esses períodos são marés mortas. As marés que ocorrem quando a lua está em seu declínio quinzenal máximo são chamadas de marés tropicais. Durante as marés tropicais, a amplitude diária aumenta.

O estágio da maré afeta a largura da praia e, consequentemente, o tipo de arrebentação, a profundidade da água sobre bancos de areia e recifes, a largura da praia exposta que deve ser atravessada e os requisitos de equipamentos especiais para facilitar o desembarque. As amplitudes extremas das marés podem restringir o descarregamento ao período de maré alta. Isso requer velocidade máxima de operação e um acúmulo rápido e pesado de suprimentos nos estágios iniciais de um desembarque.

Se houver uma variação de maré relativamente grande em uma praia levemente inclinada, a água pode subir ou descer na praia tão rapidamente que as embarcações ficam encalhadas em um fundo seco antes de poderem se retrair. Isso pode colocar um número crítico de embarcações fora de ação até a próxima subida da maré. Se, além de um gradiente plano, o fundo tiver muitas irregularidades, uma queda na maré pode encalhar as embarcações longe da praia propriamente dita. O pessoal terá que desembarcar e desembarcar nessas piscinas. Se as piscinas forem profundas, pode-se esperar uma perda considerável de equipamentos.

Em alguns casos, o efeito da maré pode exigir que as embarcações sejam mantidas na praia quando da maré baixa, descarregando sua carga enquanto descansam alto e seco na praia exposta. A embarcação então se retrai na maré seguinte.

A força de um vento extraordinariamente forte exercido sobre a maré na área de desembarque pode alterar muito a largura da praia disponível para as operações. Junto com a maré vazante, um forte vento offshore pode soprar toda a água para fora da praia e, em um gradiente suave, o nível da água pode baixar a uma distância extrema da praia propriamente dita. O pessoal e o material devem então passar por uma ampla praia exposta. Por outro lado, um forte vento onshore pode aumentar o avanço da preamar a tal ponto que as instalações e atividades de praia são ameaçadas ou inundadas.

Onde não existem obstáculos, um desembarque na maré cheia é geralmente preferido para que a embarcação possa ser encalhada e retraída prontamente. Normalmente, é desejável definir o horário de desembarque 2 ou 3 horas antes da maré alta.

Tempo Severo

O clima severo afeta a maioria das operações, apresentando uma ameaça de ferimentos ao pessoal, danificando equipamentos e estruturas, limitando a mobilidade terrestre e aérea e as operações aéreas e ameaçando o moral da tropa. Tempestades elétricas geralmente acompanham condições climáticas severas e aumentam o risco de raios em áreas de armazenamento de munições e pontos de abastecimento. Os raios também podem interromper as comunicações por telefone fixo e o uso de comunicação e não comunicação do espectro eletromagnético.


Fatores de Planejamento do Clima

  • Efeitos do Clima nas Operações de Defesa Aérea

As operações de defesa aérea requerem informações ambientais tanto para implantação quanto para emprego. A implantação requer dados climatológicos, trafegabilidade e previsões meteorológicas severas. Os elementos ambientais que afetam o emprego variam de acordo com o tipo de sistema de armas usado. Quando sistemas de mísseis requerem vigilância por radar, elementos como índice de refração e precipitação devem ser conhecidos. Outros sistemas requerem aquisição de alvo visual.

  • Efeitos do Clima na Operações Anfíbias

Os efeitos do clima nas operações anfíbias podem ser benéficos e prejudiciais. Certas condições climáticas podem ajudar a ocultar as operações de pouso. Outras condições podem dificultar o encalhe e o desembarque, o movimento da força-tarefa e as operações essenciais de apoio aéreo.

  • Efeitos do Clima na Operações Mecanizadas e de Infantaria

As operações de blindados e infantaria são influenciadas principalmente pelos elementos climáticos que degradam a trafegabilidade e a visibilidade.

  • Efeitos do Clima na Operações de Artilharia

As operações da artilharia dependem fortemente do clima. A artilharia não só deve lidar com os efeitos climáticos comuns a todas as unidades, mas também deve compensar uma série de efeitos especiais pertinentes às suas operações.

  • Efeitos do Clima na Operações relativas à Aviação e Operações de Assalto Aéreo

A aviação está envolvida em operações multifacetadas em toda a extensão do campo de batalha. Essas operações incluem armas aéreas, reconhecimento e vigilância e apoio logístico de rotina. As missões são variadas e requerem a operação da aviação, tanto de asa fixa quanto de asa rotativa em diversos modos de voo e altitudes.

  • Efeitos do Clima na Operações de Comunicações Eletrônicas

As operações de Comunicações-Eletrônicas são afetadas por vários elementos climáticos. Praticamente todas as condições climáticas especiais que se aplicam às operações de comunicações eletrônicas afetam a propagação eletromagnética. 

  • Efeitos do Clima na Operações de Engenharia de Combate

As operações de engenharia de combate são influenciadas pelas condições ambientais atuais, condições previstas e climatologia.

  • Efeitos do Clima na Operações de Inteligência

Muitas operações de inteligência dependem do clima. A coleta e a disseminação podem ser dificultadas por certas condições climáticas. O processamento de todas as fontes requer a avaliação de todas as condições climáticas, atuais e previstas, pois elas afetam as operações inimigas e amigas. 

  • Efeitos do Clima na Operações Logísticas

As operações logísticas incluem abastecimento, manutenção e transporte necessários para apoiar a força de combate. Inúmeros fatores climáticos afetam o planejamento e as atividades necessárias para cada operação. Esses fatores climáticos que influenciam as operações logísticas afetam posteriormente a força de combate apoiada. Se as unidades logísticas forem impedidas de apoiar elementos avançados de combate, o sucesso da missão de combate pode ser comprometido.

  • Efeitos do Clima na Operações de Suporte Médico

O uso extensivo de ambulâncias aéreas requer o mesmo suporte meteorológico que outros elementos da aviação. Além das operações de aviação, as influências do clima são consideradas no estabelecimento de hospitais de campanha e na antecipação de pré-estocagem e cargas de trabalho. Os requisitos de suporte meteorológico para evacuação terrestre de vítimas são os mesmos do transporte terrestre, inclusive considerando o conforto do paciente em condições climáticas extremas. 

  • Efeitos do Clima na Operações de Policiamento

As polícias militares (Polícia do Exército, da Marinha e da Força Aérea) estão envolvidas em operações sensíveis ao clima, como reconhecimento de rotas e áreas, segurança, controle de tráfego e movimentação, proteção da área de retaguarda, controle de refugiados, controle de prisioneiro de guerra inimigo, operações de controle de distúrbios civis.

A propagação acústica pode afetar significativamente o uso de alto-falantes em operações de controle de distúrbios civis. A propagação acústica é uma função de atenuação e refração, que por sua vez é influenciada pelo gradiente de temperatura, densidade, vento e cobertura do céu. 

  • Efeitos do Clima na Operações NBC

As operações da NBC são extremamente sensíveis às condições ambientais que afetam o transporte e a difusão de precipitação química ou biológica (CB). Alguns dos elementos críticos a serem considerados ao planejar as operações da NBC são a umidade, temperatura do ar, temperatura do solo, velocidade e direção do vento, gradiente de temperatura de baixo nível, precipitação, cobertura de nuvens e luz solar.

  • Efeitos do Clima na Operações Psicológicas

As operações psicológicas táticas são influenciadas principalmente pelos elementos climáticos que degradam a audibilidade das transmissões de alto-falantes e afetam a distribuição de panfletos.


 

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A Ameaça Aérea *197

Com o advento do avião como instrumento bélico durante a Primeira Guerra Mundial, surgiu uma nova forma de entregar petardos potentes voltados à destruição e neutralização de objetivos em terra e no mar, antes exclusividade da arma de artilharia. Desde então uma variedade de vetores aéreos, desde tradicionais aeronaves até mísseis balísticos táticos e estratégicos, tem sido desenvolvidos.

Esses novos vetores vem trazendo consigo os avanços tecnológicos disponibilizados ao longo dos anos, dando tridimensionalidade à guerra e profundidade ao combate, antes nunca alcançados. Com o crescente poder destrutivo das ogivas aéreas, alcances cada vez mais estendidos e sofisticadas formas de guiamento e navegação, a ameaça aérea vem potencializando sua capacidade de destruir alvos táticos e estratégicos e de sobrepor-se aos meios de defesa aérea e antiaérea (AAé).

Em contrapartida, tornou-se de grande importância a modernização dos sistemas de defesa AAé das forças operativas na superfície, para que, em conjunto com os meios aéreos de defesa aérea (caças e interceptadores), realizem uma eficaz cobertura do espaço aéreo vulnerável à ampla exploração do poder aéreo pelo inimigo, marcada nos conflitos atuais pelas elevadas velocidades, altitudes e diversificação de meios.

Os avanços cientifico-tecnológicos observados no desenvolvimento das aeronaves militares, fizeram com que os combates modernos se caracterizassem por apresentar grande utilização desses meios para a realização de ataques de apoio aproximado (CAS), ataques a alvos navais e submarinos, bombardeios de interdição de campo de batalha e de cunho estratégico. O vetor aéreo adquiriu grande importância, pois se tornou decisivo para a conquista dos objetivos táticos e estratégicos de qualquer campanha moderna. A sua surpreendente velocidade de atuação, com o desencadeamento de ataques cada vez mais precisos, faz com que as forças de terra e mar, que não possuam sistemas de defesa antiaérea eficazes, tenham poucas chances de vitória. Esses fatores forçaram as forças de superfície, terrestres e navais, a buscarem meios de contrapor esta ameaça com sistemas SAMs e de AAAé cada vez mais capazes.

Já na Primeira Guerra Mundial, praticamente no mesmo período do surgimento do avião, a ameaça aérea passou a integrar a lista de preocupações dos militares. A Segunda Guerra Mundial marcou sua maturidade e testemunhou seu emprego maciço em todas as frentes como na campanha do pacífico, nos bombardeios aliados levados ao interior do território alemão, bem como nas outras frentes de combate. Neste conflito também tivemos a estreia dos primeiros mísseis de cruzeiro representados pelas bombas V-1 e os primeiros balísticos representados pelas V-2, ambas sobre Londres. Na Guerra da Coréia apareceram os primeiros helicópteros e aeronave a jato foram empregadas em maior número. A Guerra do Vietnam marcou o uso intensivo do helicóptero e tal qual a Segunda Guerra Mundial fez uso intensivo dos bombardeiros estratégicos. Também nesta grande guerra se deram os primeiros e únicos bombardeios nucleares até o momento, quando o Japão foi alvo de duas bombas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Nas guerras contra o Iraque se fez uso intensivo de mísseis de cruzeiro e balísticos, lançados de submarinos, naves de superfície e lançadores terrestres, bem como de aeronaves de bombardeio estratégico com características "stealth" (aeronaves de baixa detectabilidade). Neste período a tecnologia atingiu níveis consideráveis, permitindo precisão de lançamento nunca antes alcançada, tornando os vetores aéreos ainda mais letais e perigosos.

Devido ao perigo que representam, é muito importante que as características dos vetores aéreos presentes em um ambiente operacional sejam minuciosamente estudadas, bem como suas táticas de combate e técnicas de emprego, seu armamento, através de cuidadosas análises de inteligência para que a ameaça que representam seja devidamente prevista e enfrentada com a atenção necessária.

O espectro de atuação de cada meio aéreo potencialmente hostil deve ser bem conhecido por quem se propõem enfrentá-los. Cada vetor aéreo opera em uma faixa do espaço aéreo bem definida, e as armas que vão enfrentá-lo devem ser capazes de atuam com eficiência dentro deste envelope.

Tomamos como exemplo a invasão do Iraque pela coalizão liderada pelos EUA ocorrida no ano de 2003, que traz ensinamentos e mostra à luz de um conflito recente, as principais nuances concernentes à moderna guerra aeroterrestre, no que se refere ao emprego da ameaça aérea. Esta campanha se iniciou por um forte ataque aéreo as principais instalações de defesas antiaérea iraquianas, seus centros de C2 e estações de rastreio e monitoramento. Após a obtenção da superioridade aérea, a ofensiva terrestre iniciou seu avanço sem que seus meios de cobertura aérea e de interdição aérea precisassem se preocupar com o contraponto das defesas AAé iraquianas, já desgastadas previamente na primeira guerra do Golfo, ocorrida em 1991 que destruiu grande parte das defesas antiaéreas e da aviação iraquiana, o que permitiu a obtenção da superioridade aérea em tempo mínimo.

Foram empregados diversos sistemas e meios aéreos e antiaéreos como aeronaves de baixa detectabilidade (stealth), sistemas de defesa contra mísseis, aeronaves de EW, aeronaves com capacidade de ataques stand-off, mísseis de cruzeiro, misseis balísticos e UAVs.

O estudo das aeronaves empregadas em um conflito, permite prever algumas prováveis formas de emprego desses vetores o que deve ser sempre observado para se manter atualizado frente a um inimigo que possa realizar ataques no futuro. A utilização de UAVs nos conflitos mais modernos, apresenta uma nova concepção de guerra na qual o piloto estará a quilômetros de distância do inimigo e em segurança, aumentando a capacidade de observação e ataque de uma força sem o ônus do risco da perda de pilotos que levam tempo para serem treinados e custam caro, além é claro da preservação de vidas e, com um custo muito inferior por aeronave. Este conflito também demonstrou a necessidade de constante melhoria e aperfeiçoamento dos sistemas, principalmente os IFF, evidenciado pelos casos de fratricídio ocorridos.


A Ameaça Aérea

A ameaça aérea está presente em todos os teatros de operações modernos, é extremamente poderosa e representa na atualidade o maior perigo que todas as forças em operação tem que enfrentar, pois podem vetorar um variado acervo de cargas táticas e estratégicas de todos os tipos, desde armas de ação pontual até aquelas com capacidade nuclear, e atacar qualquer tipo de alvo, desde submarinos e forças terrestres até alvos estratégicos e outras aeronaves.

Podemos dizer que ameaça aérea é todo vetor aeroespacial, cuja finalidade é a destruição ou neutralização objetivos militares, sejam eles terrestres, marítimos de superfície e submarinos, e outros meios aéreos. Constituem também como componentes desta ameaça, os meios de reconhecimento e inteligência, sem os quais os bombardeiros e mísseis de teatro não são capazes de identificar seus alvos. Ela pode ser materializada por aeronaves de caça e ataque, de patrulha marítima, helicópteros militares, UAVs, mísseis de cruzeiro e balísticos, satélites e outros. Estes vetores podem atuar tanto ativamente através da liberação de suas ogivas explosivas, como passivamente na busca de alvos, avaliação de danos e informações afins.

Conceito de Suporte Aéreo

Um dos primeiros empenhos em uma campanha é o esforço para obter a superioridade aérea local. As unidades aerotáticas têm a dupla missão de fornecer defesa aérea e apoio próximo às suas forças terrestres. As unidades de ataque e bombardeio são usadas para engajar alvos além do alcance da artilharia e para reforçar seus fogos em alvos selecionados e de oportunidade. Ações combinadas por bombardeiros e aeronaves de ataque ao solo são sincronizadas com fogos preparatórios de artilharia. Durante qualquer operação convencional de manobra, seja terrestre ou naval, elementos aerotáticos e aeroestratégicos executam missões de apoio aos elementos na superfície.

As tarefas prioritárias destes elementos são a destruição/neutralização de meios de valor militar relevante como posições AAé, tropas, navios de guerra e submarinos, formações blindadas, meios de suporte logístico, lançadores de armas nucleares e outros alvos além do alcance da artilharia.

Os ataques aéreos são uma extensão da artilharia de campanha. Eles dão grande flexibilidade às operações terrestres, agindo como multiplicadores de combate. São empregados contra alvos pré-planejados para neutralizar e destruir meios operacionais e cunho logístico dentro da área operacional tática. Aeronaves de alto desempenho são usadas para fornecer bombardeios de interdição aprofundando o combate, enquanto que no apoio aéreo próximo ao longo da linha de contato, onde a artilharia pode ser empregada e além desta, são usadas aeronaves mais lentas. Helicópteros armados são a principal ameaça aérea ao longo destas linhas junto às próprias tropas.

O reconhecimento aerotático é uma das formas mais usadas de coleta de informações sobre o inimigo. Ele emprega dispositivos de coleta de inteligência aéreos que vão desde os olhos da tripulação até os dispositivos sensoriais mais avançados. São usadas na atualidade aeronaves de reconhecimento equipadas com sensores capazes de monitorar as operações à luz do dia ou à noite, sob quaisquer condições meteorológicas.

  • Operações Aéreas de Logística

Operações de transporte aerotático são críticas nas operações. Elas incluem operações logísticas como o transporte de suprimento, lançamentos aéreos e desembarques de assalto.


Possibilidades da Ameaça Aérea

A ameaça aérea dos tempos atuais caracteriza-se pela capacidade de empreender um leque muito grande de missões, utilizando-se de uma diversidade de meios que a possibilita, cada vez mais, a furtar-se aos meios de detecção das defesas em solo, dificultar ou impossibilitar seu correto funcionamento e até mesmo destruí-las utilizando-se de sua própria emissão de radiofrequência. Através da aviação pode-se atacar diversos alvos de forma simultânea, empregando um número variável de aeronaves e outros meios como satélites e mísseis; surpreendendo os alvos que terão um tempo de resposta extremamente curto. O prévio conhecimento dos alvos possibilitado pelas aeronaves de coleta de inteligência, permite planejar o ataque utilizando-se de táticas aprimoradas como a aproximação de múltiplas direções e a baixa altura, potencializados pelo emprego de técnicas de EW e maximizando a surpresa.

Amplamente utilizada nos conflitos atuais, as ações de ESM (EW ativa) visam interferir no correto funcionamento dos radares das defesas AAé através de interferidores potentes como equipamentos de dotação, e mísseis antirradiação, que são guiados pela emissão de radiofrequência do radar de defesa até atingi-lo; realizando assim, missões de SEAD. A moderna ameaça aérea possui recursos para contrapor-se a detecção pelos radares e procurar furtar-se a eles, como Chaffs e RWR. O uso de aviônicos avançados permite que as aeronaves, que possuem equipamentos sofisticados de navegação e ataque, realizem missões em quaisquer situações meteorológicas e condições de visibilidade, incluindo missões noturnas

Tecnologias mais recentes como a tecnologia “Stealth” acrescentaram significativas capacidades de dissimulação às aeronaves. Esta tecnologia reduz significativamente a seção reta radar das aeronaves, dificultando, e muitas vezes, impedindo a detecção da mesma pelos sensores de busca das defesas AAé. A evolução dos sensores como o radar e LASER de alto desempenho, e dos já existentes sensores passivos como LWR, RWR e FLIR, devem ser acompanhadas e suas contramedidas estudadas.

Faixas Operacionais

O espaço aéreo acima do teatro de operações apresenta característica operacionais diversificadas, e é compartimentado de acordo com a sua altitude. Aeronaves de voo baixo como helicópteros não são capazes de operar em altitudes mais elevadas, assim como aeronaves de alta velocidade tem seu desempenho otimizado pelas grandes altitudes. Quanto mais alto mais difícil de atingir, porém mais fácil de detectar. Elevações beneficiam voos mais próximos ao solo, mascarando a presença de quem se descola por entre elas, porém permitem que forças em terra adquiram seus alvos com maior precisão. Cada perfil de missão definirá qual aeronave empregar e sua altitude de operação. Operações exoatmosféricas também devem ser consideradas, pois é nesta faixa que se posicionam satélites e deslocam-se mísseis balísticos de grande alcance.

  • Altitudes Orbitais

A faixa mais alta do espaço aéreo é aquela geralmente utilizada pelos satélites que orbitam o planeta e cumprem várias aplicações militares importantes. Situa-se na altitude de 1.000 km ou mais, região onde a atmosfera praticamente inexiste e aqueles que lá orbitam sustentam-se por força centrífuga (orbital), não necessitando de asas ou configurações aerodinâmicas, descrevendo velocidades muito altas (27.000 km/h por exemplo para a estação espacial internacional), diminuindo a medida que a altitude aumenta. Esta região já é considerada trans-atmosférica ou espacial, e na atualidade estão sendo feitas pesquisas para a viabilização de veículos, principalmente transportes, que operem neste ambiente que permite um deslocamento muito rápido a qualquer parte do planeta em cerca de 2 horas de voo. Além dos satélites operam nesta faixa os mísseis balísticos, já na forma de suas ogivas tendo descartados os tanques de combustível de impulsão desde a superfície.

A interceptação nesta faixa do espaço aéreo é muito difícil, devido a grande altitude e velocidades desenvolvidas, e requer sistemas de armas na forma de mísseis hipersônicos de altíssimo nível tecnológico para ter alguma chance de sucesso. Como exemplo deste tipo de arma temos o míssil Thaad norte-americano que desenvolve velocidades de 10.000 km/h em seu impulso inicial, e de 24.000 km/h a 36.000 km/h em ambiente exoatmosférico, e alcança até  cerca de 250 km de altitude e destina-se a interceptação de mísseis balísticos por impacto cinético, sem o uso de explosivos, em altitudes relativamente baixas, sendo insuficiente para a interceptação de satélites.

Os satélites orbitam em faixas variadas, sendo os modelos destinados a comunicações aqueles que estão no limite superior das órbitas artificiais terrestres. Descrevem suas trajetórias a cerca de 36.000 km de altitude na chamada órbita geoestacionária, pois para um observador terrestre ele está parado no espaço. Sua órbita acompanha o movimento de rotação da terra, e permite as antenas na superfície estarem constantemente apontadas para ele, sem necessidade de movimentar-se. Destinam-se a retransmissão de telefonia, sinais de TV e todo o tipo de comunicação a grandes distâncias. São largamente difundidos para uso civil e militar.

Os satélites meteorológicos orbitam ou em órbita geoestacionária tal qual os de comunicações, ou em órbita polar, em altitudes muito mais baixas. Dados meteorológicos podem ser obtidos atualmente pelo simples acesso a internet, porém para informações de grande precisão ainda se fazem necessário aos militares o acesso a estes satélites, principalmente para o planejamento de operações aéreas.

Os satélites de sensoreamento são aqueles que representam a maior ameaça em tempos de conflito, pois são eles que realizam a coleta de informações sobre o inimigo através da fotografia, monitoramento de sinais de comunicação, mapeamento de terreno, detecção de radiação e outros. Utilizam-se de sensores óticos, infravermelhos, radares de diversos tipos e outros. Poucos países os possuem, porém existem modelos comerciais que vendem seus dados a quem os desejar. O Brasil possui em parceria com a China o programa CBERS.

Os satélites de navegação giram em órbita média, como os do sistema GPS a cerca de 20.000 km de altitude, e permitem orientação a navegação de todos os tipos de veículos, para uso civil e militar. Este sistema permite grande precisão na navegação, permitindo que vetores aeroespaciais desloquem-se a grandes distâncias com altíssimo grau de precisão, mesmo sob mau tempo.

  • Grande Altura

A faixa que vai desde os 15 km até os limites da atmosfera denomina-se de grande altura. Nesta faixa podem atuam aeronaves como os modelos U-2 e SR-71 norte americanos hoje suplantadas pelos satélites de sensoreamento, por exemplo, e mísseis balísticos de curto e médio alcance, muito difíceis de interceptar e que podem carregar ogivas nucleares, químicas e biológicas, além das convencionais. Pode ser utilizada para bombardeio, mas é no reconhecimento estratégico que tem sua grande utilização. Existem projetos para veículos não tripulados para atuação nesta faixa do espaço aéreo.

  • Média Altura

A faixa que vai desde 3 até 15 km denomina-se de média altura e é largamente utilizada pela maioria das aeronaves de asa fixa, salvo aquelas que voam baixo para se utilizar da proteção do terreno. Nesta faixa atuam as aeronaves de alerta antecipado (AEW) dotadas de potentes radares, que além de proverem alerta antecipado, atuam como centros de comando e controle (C2) e EW, vetorando aeronaves de ataque e interceptação e controlando o tráfego aéreo. Atuam ainda no acionamento de baterias antiaéreas informando a presença de aeronaves hostis. 

Tal qual as aeronaves AEW, atuam nesta faixa as aeronaves de alarme terrestre com radares de varredura lateral para busca de superfície, aeronaves de superioridade aérea, de bombardeio estratégico e interdição do campo de batalha. Para atuar nestas altitudes as aeronaves de ataque e bombardeio devem possuir sistemas de pontaria precisos e/ou armas de precisão, bem como um nível de segurança proporcionado por escoltas e meios orgânicos que proporcionem riscos mínimos, pois são altamente visíveis aos sistemas de alerta do inimigo. Aeronaves de transporte se utilizam desta faixa desde os 3 aos 10 km, dependendo dos modelos empregados, e podem infiltrar forças especiais em salto livre a grandes altitudes com suporte de respiração por aparelhos, normalmente a noite.

  • Baixa Altura

A faixa de baixa altura vai do solo até cerca de 3 km, e é onde se concentra a maior parte da ameaça aérea. Nesta faixa atuam os helicópteros em geral, as aeronaves de apoio aéreo aproximado, e os bombardeiros estratégicos que buscam a proteção do terreno em penetração a baixa altura com radares de seguimento do terreno. As missões de supressão de defesas antiaéreas também são realizadas nesta faixa, bem como o reconhecimento armado.

Helicópteros, tanto da aviação do exército como das outras forças são grandes usuários desta faixa. Saltos operacionais de forças aeroterrestres e de suprimento pelo ar são aqui realizados, muitas vezes por aeronaves lentas de silhueta ampla, muito vulneráveis. Aeronaves de guerra eletrônica realizam suas missões também neste espaço, especialmente contra sistemas AAé através de interferência eletrônica em radares e de comunicações. Veículos não tripulados (UAVs) estão cada vez mais presentes nos campos de batalha modernos e sua maioria atua a baixa altura. Eles transportam mísseis ar-terra e antitanque, coletam informações para artilharia e para o reconhecimento tático. São baratos, acessíveis, difíceis de ver e podem desempenhar múltiplas missões.

Outro vetor cada vez mais presente nos teatros de operações modernos são os mísseis de cruzeiro que voam rente ao terreno, tal qual uma aeronave de penetração, utilizando-se de sistemas de navegação de seguimento de terreno, inercial e GPS, e endereçado a alvos de coordenadas conhecidas, podendo ser disparados de qualquer tipo de plataforma. Podem ser abatidos por armas antiaéreas de tubo, porém são pequenos e difíceis de detectar. Sua taxa de sucesso na atualidade é de 85%. Como exemplo destes sistemas temos o Tomahawk norte-americano, e em desenvolvimento final no Brasil o AV/MT-300 para 300 km, ou mais.


Aeronaves mais comuns nos Teatros de Operações

As forças de ataque e bombardeio têm sido particularmente eficazes na integração de aeronaves com tecnologias de gerações mais antigas e mais recentes. Sejam caças-bombardeiros com dupla função ar-ar e ar-terra como os F-35, MiG-23 e F-16 e seus derivados com função exclusiva ar-terra como o MiG-27 e Mirage V; ou aeronaves especificamente desenvolvidas como o A-10 Thunderbolt II e Su-25 Frogfoot. Para complementar esta ameaça, aeronaves de ataque de penetração profunda como o Su-24 Fencer, F-111, Panavia Tornado IDS, B-1B Lancer entre outros, podem ser capazes de sobrevoar ou desbordar defesas antiaéreas ??enquanto empreendem penetrações na retaguarda do inimigo.

As forças aéreas podem e irão empregar uma ampla gama de aeronaves. Elas operam na área avançada e podem ser divididas em 6 categorias: bombardeiros estratégicos, aeronaves multifunção, aeronaves de ataque a superfície, aeronaves de reconhecimento, helicópteros e UAVs.

Aos bombardeiros estratégicos como o Tu-160, B2, B-52 e B-1B cabe efetuar missões a muito longa distância visando alvos de alto valor, embora os EUA já tenha empregado seus B-52 em missões CAS desde grande altitude, devido a precisão de seu bombardeio. São os transportadores das bombas nucleares, embora aeronaves de caça-bombardeio também o façam. As aeronaves de ataque a superfície, também conhecidos como caça-bombardeiros como o Su-24 Fencer e Sepecat Jaguar, são empregadas nas missões de interdição prioritariamente, complementando o trabalho dos bombardeiros estratégicos mas também fazendo bombardeios táticos contra comboios e depósitos de munição e combustível, missões CAS, entre outras. Os caças multifunção como o F-16 e Saab Gripen atuam em missões similares a estes últimos citados, porém com capacidade para o combate aéreo, podendo desempenhar primariamente esta missão de superioridade aérea.

As aeronaves de reconhecimento atuam na busca de inteligência (busca de alvos e informações de combate) e são importantíssimas para a missão das aeronaves de ataque. São equipadas com sensores fotográficos e eletrônicos variados. Estes equipamentos são capazes de coletar informações de dia ou à noite, sob quaisquer condições meteorológicas. Podem operar sozinhas, mas provavelmente operarão em conjunto com aeronaves de ataque ao solo detectando alvos de oportunidade para as aeronaves armadas. Versões de reconhecimento de aeronaves de caça-bombardeio podem realizam missões de penetração profunda acompanhando seus caças similares e também fornecem cobertura de reconhecimento mais próxima da linha de contato.  As missões de reconhecimento geralmente serão realizadas em altitudes relativamente baixas, dentro da capacidade de engajamento dos MANPADS.

Helicópteros são aeronaves mais lentas e de voo mais próximo ao solo, e portanto mais vocacionadas ao apoio direto às forças de superfície, seja com fogo ou transporte de tropas e suprimentos, entre outras. Forças de ataque e bombardeio das forças de terra, têm alguns dos helicópteros mais fortemente armados do mundo. Esses helicópteros fortemente armados como o Mi-35, AH-64 Apache e Mi-28 Havoc, podem ser empregados na linha de contato em apoio as forças terrestres e em ataques aéreos contra áreas de retaguarda. Os helicópteros têm vantagens sobre as aeronaves de asa fixa que permitem que sejam desdobrados em grande número em áreas avançadas. Eles não exigem grandes aeródromos ou pistas caras. São muito adequados para realizar o primeiro contato “frio” com as vanguardas inimigas. Altamente móveis, podem voar em condições meteorológicas que restrigem aeronaves de asa fixa, podendo ainda carregar uma grande variedade de armas, como canhões, metralhadoras, mísseis guiados antitanque (ATGM), foguetes de voo livre e lançadores de granadas. Essas características valiosas são compensadas pela vulnerabilidade dos helicópteros a armas de curto alcance. O helicóptero de ataque atinge a máxima utilidade em uma guerra de movimento quando empregado em uma ação de emboscada ou assalto. Usando velocidade, mobilidade, surpresa e uma impressionante variedade de armas, ele pode assediar, atrasar e destruir colunas que avançam, mesmo as blindadas, enquanto dá suporte ao ataque ao solo com fogo de apoio.

Os drones, em seus vários tipos, desempenham de missões reconhecimento principalmente, mas também de fogo contra alvos pontuais. São de vários tamanhos e tipos, e voam em várias faixas operacionais. Estão paulatinamente conquistando seu lugar nos campos de batalha.


Armamento Aéreo

Acompanhando o desenvolvimento das aeronaves com capacidades aprimoradas de ataque a superfície, desenvolveram-se tipos aprimorados de cargas militares para apoiar esta missão. Os atacantes tem uma série de munições adequadas para praticamente qualquer tipo de missão ou alvo.

Talvez a introdução de unidades eficazes de bombas de fragmentação (CBU - submunições) tenho sido o mais importante desenvolvimento. Uma CBU consiste em muitas pequenas bombas em um combo maior. Estes podem ser transportados em grande número em qualquer aeronave. As CBUs são lançadas em altas velocidades e baixas altitudes para cobrir uma ampla área.

Para melhorar os recursos em relação a alvos pontuais, como pontes, as forças de ataque e bombardeio desenvolveram novos mísseis ar-superfície (ASM) com sistemas de orientação amplamente aprimorados e muito precisos.

Bombas de queda livre guiadas também são adições ao inventário da aviação atacante. Equipada com essas munições, uma única aeronave pode agora destruir um alvo que apenas alguns anos atrás teria desafiado ataques de grandes formações.

Para alvos navais existem os mísseis antinavio, torpedos aerotransportados, sonobóias para localização e outros artefatos, lançados desde caça-bombardeiros, bombardeiros estratégicos, patrulheiros e helicópteros.

Além de empregar munições especializadas, as aeronaves estão equipadas com canhões para uso em alvos de oportunidade. Eles também podem empregar bombas e foguetes não guiados de vários tamanhos. Esses foguetes são carregados em uma cápsula que permite uma alta taxa de disparo.

Conclusão

Cada vez mais presente e letal, a ameaça aérea é sem dúvida nenhuma o maior perigo que uma força em combate enfrenta na atualidade, e sua ameaça deve ser prioridade no planejamento da defesa e segurança desta força. Em tempos de paz a ameaça aérea também está presente, como ficou evidente no atentado do 11 de setembro contra o Pentágono e Torres Gêmeas em Nova York, utilizando-se de voos comerciais e humilhando as defesas da nação mais poderosa do mundo, efetuando um ataque inusitado e peculiar. No Brasil a prevenção a ameaça aérea vem sendo negligenciada à anos e esforços neste sentido vem sendo implementados nos últimos tempos para corrigir importante deficiência, porém ainda em estágio de planejamento.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Uso Militar de UAVs (Drones) *235


Introdução

O advento dos veículos aéreos não-tripulados (UAVs) aumentou a possibilidade de se conduzir operações militares de uma forma mais forma eficiente e menos arriscada do que no passado, puramente com aeronaves tradiconais. Embora já há algum tempo se venha adquirindo experiência na operação destes vetores, ainda não se explorou de forma abrangente as novas possibilidades que estão surgindo com esta tecnologia, e como ela vai influenciar a natureza e a condução das futuras operações militares. Como resultado de inúmeros desenvolvimentos tecnológicos, é possível que se construam sistemas militares, incluindo UAVs, que podem realizar operações sem intervenção humana. Esta perspectiva levanta questões significativas sobre a natureza das operações militares no futuro e como essas tecnologias influenciarão a estas operações.

Estudos apontaram que estas tecnologias UAV nas operações militares aumentarão a capacidade das forças de projetar poder militar. Concluiu-se que esses veículos poderão realizar tarefas críticas com dificuldades crescentes para aeronaves tripuladas, das quais podemos citar ações contra instalações de guerra química/biológica (NBCW) e a supressão de defesas antiaéreas inimigas, que são os exemplos mais importantes. UAVs são mais resilientes em ação do que as aeronaves tripuladas, e seu desenvolvimento tecnológico muito mais avançado nos últimos tempos vem apresentando profundas implicações operacionais para os militares que operarão no futuro próximo.

A perspectiva de construir veículos aéreos não tripulados não é nova. Durante a maior parte do século XX, estudou-se a viabilidade de sua adoção e seu valor potencial em operações militares. A principal razão para o interesse em UAVs foi, além de reduzir o risco para os humanos em combate, realizar missões de uma forma mais eficiente e menos onerosa do que se praticava até então. Um motivo elencado foi o de libertar as máquinas das limitações impostas pelos humanos, aumentando sua performance. Desde o início, esperava-se que veículos aéreos não tripulados seriam mais baratos para se desenvolver e fabricar, e que eles reduziriam a demanda logística de suporte nas bases e de mão de obra que as aeronaves modernas exigem. Como resultado de avanços tecnológicos em controle de voo, processamento de dados e sinais, sensores externos, links de comunicação e aviônicos integrados, os UAVs são agora uma opção séria. A esperança, ainda não confirmada, é que eles possam realizar as missões militares mais perigosas, incluindo ataques a instalações sensíveis, alvos fixos e móveis e outras aeronaves, e que representam uma revolução nas capacidades militares.

Há muito mais do que avanços tecnológicos que estão acelerando o desenvolvimento dos UAVs. Com o fim da Guerra Fria, os gastos em defesa das grandes potências foram sendo reduzidos, estando estas mais propensas a se envolver em operações de manutenção da paz e humanitárias do que em grandes operações de guerra, o que pode ser uma percepção falsa, pois estas possibilidades vem se mostrando reais nos últimos tempos. Dentro deste raciocínio, a implantação de forças móveis rápidas são cada vez mais prováveis para forças como as dos EUA, em vez de depender de grandes forças baseadas no exterior. Em todas essas operações, o clima político dá grande ênfase em minimizar baixas, especificamente quando os interesses vitais dos países destacados não estão em pauta. Onde se pode empregar tecnologia para minimizar a exposição do pessoal militar nas contingências menores que surgirão no futuro próximo, os formuladores de políticas terão muito mais flexibilidade para responder a crises e desafios.

Uma série de fatores tecnológicos sugerem que sistemas de armas não tripuladas serão importantes em futuras operações militares. Para entender como a tecnologia por trás do desenvolvimento de UAVs está mudando a natureza e condução das operações militares, este artigo examina o papel das 3 categorias de veículos aéreos em operações militares: aeronaves que dependem de pilotos tradicionais, veículos que são operados por pilotos em locais remotos, e veículos que operam de forma autônoma. Depois de considerar as vantagens e desvantagens dessas categorias de aeronaves, serão consideradas as implicações do uso de UAVs em operações militares.

Definindo Veículos Aéreos

Como existem diversos tipos de veículos aéreos, se faz necessário definir os termos que os designam com precisão: Um veículo aéreo não tripulado é um veículo aéreo motorizado que sem piloto humano embarcado, se vale de forças aerodinâmicas para se sustentar no ar e pode voar tanto autonomamente ou ser pilotado por meios remotos. Pode ainda ser descartável ou recuperável, e transportar uma carga útil letal ou não. Esta definição também inclui drones aerodinâmicos e veículos pilotados remotamente (RPVs), embora os RPVs sejam projetados para serem recuperáveis. No entanto, esta definição exclui veículos balísticos ou semibalísticos, artilharia e mísseis de cruzeiro, o último dos quais é visto como um sistema de entrega nuclear de acordo com vários tratados de controle de armas.

Usando esses termos, os UAVs podem ser remotamente pilotados ou operar de forma autônoma, e no caso de controle exercido por um piloto remoto, o controle pode ser contínuo ou não. Em alguns casos os veículos autônomos seguem cursos pré-programados e não podem ser redirecionados, enquanto em outros seguem igualmente cursos pré-programados e podem ter sua trajetória alterada. Em terminologia militar, os veículos são reutilizáveis, enquanto que as armas são descartáveis. Além disso, os UAVs têm vida útil mais curta do que as aeronaves tripuladas, podendo sofrer desgaste em operações militares, o que significa que eles sobreviverão por um número relativamente pequeno de missões até apresentarem falhas, sofrerem acidentes ou ações hostis que os destruam. A taxa de perda das aeronaves e UAVs é um conceito importante que influencia a comparação de custo-benefício destas aeronaves.

Categorizando Veículos Aéreos

Uma maneira de entender a natureza dos veículos não tripulados, como instrumento, é desenvolver uma estrutura que rastreie seu desenvolvimento, sejam tripulados ou não, avalie o estado da arte em aeronaves e tecnologias computacionais, e extrapola como esses desenvolvimentos podem influenciar seu uso em operações militares.

A abordagem mais simples é dividir as aeronaves em tripuladas e veículos não tripulados e, em seguida, subdividir os veículos não tripulados em aqueles que são operados remotamente e autônomos. Este quadro repousa explicitamente sobre o papel humano em perceber e influenciar eventos durante a operação de veículos aéreos. Se as aeronaves tripuladas usarem a presença humana direta para perceber diretamente eventos e condições ao redor do veículo, veículos remotamente operados mantêm a presença humana à distância. O fator crítico que distingue entre aeronaves e UAVs é a quantidade de informações que estão disponíveis para o humano pilotando um UAV. As comunidades tecnológicas e operacionais têm investido consideravelmente no uso de exibições visuais e de dados para fornecer informações ao humano sobre as condições dentro e ao redor do veículo. O problema é que essas tecnologias têm sido inadequadas porque o operador humano é privado de informações significativas sobre o desempenho do veículo, que inclui atitude, vibração e som, entre outros. Tecnologias mais recentes de realidade virtual tendem a minimizar estas deficiências. No caso de veículos que são operados apenas periodicamente por um ser humano, como o Global Hawk UAV, o operador deve tomar decisões com menos informações sobre o veículo do que um piloto de bordo.

O conceito é de que a informação que é fornecida a um operador remoto tem implicações para os UAVs, principalmente porque aumenta diretamente a eficácia, custo e complexidade desses veículos. Se nos voltarmos para o caso dos veículos autônomos, a presença humana existe à distância, limita-se a receber informações sobre o veículo, e não exerce controle direto sobre o veículo. Por sua natureza, humanos perdem o controle de veículos autônomos assim que são lançados, o que implica que os operadores humanos não são controladores destas operações, e que as informações disponíveis sobre o estado dos veículos são bastante limitadas. Uma vez que essas limitações são compreendidas, os veículos autônomos podem ser adequados para atacar alvos cuja localização é conhecida com precisão. O valor dessa suposição diminui, no entanto, em caso de busca de alvos móveis, dos quais mísseis SCUD e centros de C2 são exemplos proeminentes. Um motivo para o desenvolvimento desses veículos é alcançar a capacidade de destruir aqueles que são conhecidos como alvos críticos de tempo, especialmente quando esses veículos são mísseis que podem estar armados com armas nucleares, por exemplo.

Talvez a melhor maneira de situar os veículos aéreos por suas características seja considerar o papel da presença humana, que pode ser na forma de tripulante ou controlador remoto, e pode envolver grandes ou pequenas quantidades de informações sobre a operação do veículo. No entanto, as informações fornecidas ao piloto não são as mesmas para todos os tipos de aeronaves pilotadas, por exemplo, enquanto o MiG-23 e F-15 são ambos caças tripulados, os pilotos de F-15 têm maior capacidade de percepção visual do que os pilotos do MiG-23 como resultado de um canopí projetado para ter um maior campo de observação. Para citar outro exemplo, o piloto do F-15 tem muito mais informações táticas disponíveis do que o piloto do caça P-51 Mustang da Segunda Guerra Mundial, porque o radar do F-15 amplia em muito a capacidade do piloto de perceber o que está acontecendo em seu entorno.

Em princípio, todos os veículos não tripulados possuem algum grau de automação. Um problema interessante, porém, é que operações autônomas criam situações inesperadas, o que foi verificado durante os testes do UAV Global Hawk. Não surpreendentemente, o preço da automação aumenta significativamente o custo de motores, sistemas hidráulicos, elétricos e de aviônicos que se tornam mais onerosos devido a necessidade de automação, e que numa aeronave tripulada seriam controlados por humanos.


Categorizando Operações Militares

Os papéis dos UAVs podem variar amplamente com base na natureza da operação militar a ser realizada. As operações militares mais simples envolvem ataques contra alvos terrestres fixos, enquanto que as operações mais desafiadores envolvem ataques contra alvos terrestres móveis e outros veículos. Como seria de se esperar, missões de ataque contra alvos fixos são mais simples porque é relativamente fácil encontra-los, pois sua localização é conhecida e podem ser avaliadas com grande precisão. No entanto, um ataque contra alvos aéreos é mais complexo, porque sua mobilidade torna mais difícil encontra-lo e destruí-lo, e ainda mais porque a capacidade de manobra destes alvos os torna muito fugazes. Mesmo quando um alvo aéreo é localizado, a forma mais simples de ataca-lo é através de uma ação furtiva, onde o alvo não está ciente de que está sob ataque. Em contraste, um ataque contra um alvo manobrável que está ciente que está sendo atacado e com um piloto experiente é muito mais complicado.

Outro tipo de ataque são aqueles contra alvos inimigos que estão longe das linhas de contato, que são teoricamente mais simples do que ataques em alvos inimigos localizados relativamente próximos de forças amigas e melhor defendidos. A principal dificuldade de realizar este tipo de ataque é o alto nível de coordenação necessário para que os veículos evitem destruir algo não intencionado, que é conhecido como efeito colateral.

Uma regra básica das operações militares é que a dificuldade das situações de combate aumenta à medida que o número de ameaças inimigas aumenta, e esta regra tem implicações importantes nas operações ar-ar e ar-terra, quando alvos inimigos e operadores aliados estão presentes por todo o espaço de batalha. Idealmente, todas as aeronaves em uma área pertencem ao inimigo, enquanto as aeronaves em outra área pertencem às forças amigas, mas a realidade é que nas operações militares modernas o inimigo e as aeronaves amigas estão operando dentro da mesma área. O problema torna-se ainda mais complexo em operações de não-guerra quando operadores amigos, inimigos e neutros estão presentes pelo mesmo espaço de batalha.

Esses conceitos têm várias implicações importantes para os UAVs. Primeiro, pilotos humanos têm uma capacidade muito maior de entender e responder às condições em seu entorno de combate ao redor do veículo do que o humano que opera o veículo à distância. Em segundo lugar, o número e o tipo de ameaças, o grau de mobilidade de alvos, e o grau de classificação que é necessário para separar e classificar ameaças, influencia diretamente no sucesso com que os UAVs podem ser usados ??em operações militares. Terceiro, apesar dessas limitações, a tecnologia amadureceu a ponto de ser possível gradualmente mudar as funções de combate de veículos pilotados para veículos pilotados remotamente, e eventualmente para veículos autônomos em uma migração que pode transformar a natureza da guerra.

Automação

No entanto, o sucesso dessa mudança dependerá em grande parte da capacidade de desenvolver tecnologias que automatizarão muitas das funções que os humanos desempenham em operações militares, especialmente no campo da inteligência artifical. Em essência, diz-se que um veículo é autônomo quando pode realizar operações sem intervenção humana. Para citar um exemplo da atual geração de caças automatizados, o F-117 pode completar uma missão inteira, desde o recolhimento do trem de pouso até a operação inversa, sem intervenção do piloto, exceto no consentimento para liberação de armas. Os veículos que estão sendo concebidos pela indústria, agregam vários graus de controle, em que o operador remoto identifica o alvo e o UAV executa um ataque coordenado. Um veículo verdadeiramente autônomo não exigiria nenhuma forma de intervenção humana.

O valor militar dos UAVs dependerá da capacidade de automatizar muitas das funções que historicamente têm sido desempenhadas por humanos, que vai desde guiar um veículo até a entrega de munições contra alvos militares. A forma mais simples de automação é o aeromodelo, enquanto um exemplo de veículo aéreo autônomo mais complicado é o "Buzz Bomb" V-1 da Segunda Guerra Mundial, que executava tarefas em um seqüência - como faz um míssil de cruzeiro moderno que é guiado por GPS. O exemplo moderno mais complexo de automação é um UAV que se baseia em um sistema especialista para detectar, identificar e atacar alvos móveis. Fundamentalmente, a essência da automação é usar regras para orientar a tomada de decisão, mas este é um problema altamente complexo de se resolver na guerra. Esta complexidade é ilustrada pela campanha aérea durante a Guerra do Golfo Pérsico, que envolveu cerca de 2.600 aeronaves aliadas de pelo menos 41 tipos diferentes e 950 aeronaves inimigas oponentes de 17 tipos, dos quais pelo menos 6 tipos de aeronaves compartilhavam características comuns com aeronaves aliadas. Todas essas aeronaves poderiam ser atacadas por várias armas ar-ar, 16.000 mísseis em 10 tipos e 7.000 canhões antiaéreos. Para a automação ter sucesso em operações militares, um computador deve ser capaz de classificar grande número de escolhas e tomar boas decisões sobre o uso da força de forma confiável e oportuna. Atualmente, o problema é que a tomada de decisão baseada em regras não atingiu um nível suficiente de confiabilidade a ponto de permitir que veículos autônomos tomem os tipos de decisões que somente humanos de alta qualificação tomariam, especialmente quando o fracasso pode resultar na morte de centenas ou milhares de civis inocentes.

Avaliação de Veículos Aéreos

Até agora, concentramo-nos a entender as diferenças entre veículos pilotados, não tripulados, pilotados remotamente e autônomos. Esta discussão agora se volta para uma consideração das vantagens e desvantagens desses veículos no contexto de como os avanços da tecnologia estão alterando o papel dos veículos aéreos nas operações militares.


Características dos Veículos Pilotados

Embora existam muitas maneiras de caracterizar aeronaves pilotadas modernas; velocidade, alcance, altitude e carga útil estão entre as mais importantes quando examinando as diferenças entre veículos pilotados e não pilotados. Além de que, no entanto, a característica mais importante é que os veículos pilotados contam com a presença de humanos para detectar e responder a mudanças na operação do veículo. Embora os sensores humanos tenham suas próprias limitações e deficiências, ainda é verdade que o estado atual dos sensores não humanos e as capacidades de tomada de decisão dos sistemas eletrônicos não são suficientemente desenvolvidos para substitui-los. Aeronaves historicamente dependem de pilotos porque a tecnologia não tinha sido até agora capaz de viabilizar a operação da aeronave sem a presença humana. O humano pode lidar com a condições limite da aeronave, incluindo vibrações incomuns que podem indicar danos estruturais ou falha iminente do motor.

A capacidade humana de analisar informações de forma intuitiva ainda não foi substituída pela tecnologia, pois a mente humana é capaz de absorver e analisar volumes maiores de informações, mais diversas e ambíguas do que qualquer máquina. Uma característica relacionada é que aeronaves pilotadas são projetadas para uma vida útil mais longa do que suas contrapartes não pilotadas, principalmente porque a carga humana é considerada intrinsecamente valiosa.

Talvez a característica mais importante das aeronaves pilotadas seja sua habilidade para entregar armas que podem ser usadas para atacar uma ampla gama de alvos. Em termos de segmentação, as aeronaves táticas modernas podem transportar uma série de munições que podem produzir efeitos de área ampla, bem como efeitos precisos, e fazê-lo em distâncias de afastamento que variam em milhares de quilômetros. A tendência nos últimos anos tem sido aumentar a precisão das munições, o que permite aos projetistas reduzir o tamanho das ogivas.

Finalmente, enquanto as aeronaves convencionais requerem longas pistas e grande número de pessoal de apoio, instalações e suprimentos, a mudança para sistemas de armas que empregam algum grau de automação reduzirão esta dependência da infraestrutura.

Vantagens

A vantagem mais significativa dos veículos pilotados é sua capacidade de usar humanos para detectar ocorrências dentro e fora da aeronave, que é conhecido no jargão militar como “consciência situacional”. A vantagem da confiança na presença humana é que não há 2 pilotos que reagem da mesma forma a cada situação, que em operações militares envolve em identificar ameaças e alvos, tomar decisões de forma desconhecida e ambígua em situações singulares e o pensamento de forma analítica e criativa. Os pilotos humanos são capazes de se adaptar a novas e diferentes circunstâncias, tomar decisões com base em informações incompletas ou ambíguas e lidar com situações inesperadas, como danos ou defeitos imprevistos. Uma condição que distingue os veículos pilotados de seus homólogos automatizados é que estes últimos não possuem essas características. Enquanto os veículos pilotados usam dispositivos eletrônicos, como rádio, radar, RWR e ECMs, para complementar os sentidos do piloto, a característica mais fundamental dos veículos pilotados é que o humano pode tomar decisões críticas sobre o uso da força letal.

A principal vantagem dos veículos pilotados é que tripulantes podem resolver problemas que as máquinas não podem, e ainda podem tolerar maior confusão do que as máquinas e tomar decisões que não estão previstas nos softwares. Mesmo nas primeiras décadas do século XXI, ainda não se atingiu o momento em que os humanos estarão livres destas responsabilidades.

O conceito de controle humano sobre as funções críticas que são executadas durante as operações de combate, ainda é muito importante, pois eles têm habilidades únicas que ainda não foram replicadas em máquinas, e que representam uma vantagem decisiva em combate, pois podem pensar, sintetizar e compreender mais rápido do que as máquinas.

Embora os veículos não tripulados possam realizar operações militares com o mínimo de risco para os seres humanos, eles tem uma redução na capacidade de tomar decisões. Até que os UAVs possam realizar esta função, seu papel nas operações militares permanecerá bastante limitado.

Desvantagens

A principal desvantagem com aeronaves pilotadas é que a fisiologia humana impõe limites ao desempenho da aeronave. Ao mesmo tempo, a presença de humanos em aeronaves aumenta sua complexidade e custo, sendo os veículos pilotados mais vulneráveis devido ao seu maior tamanho do que a maioria dos UAVs e, portanto, mais suscetíveis ao ataque de UAVs menores. Uma outra desvantagem é que as aeronaves pilotadas são vulneráveis ??à exploração política. Existem vários casos recentes em que a perda de uma aeronave criou dificuldades políticas para seus governos, como o dos EUA, como a perda de aeronaves no ataque contra a Líbia em 1986 (Operação Eldorado Canyon), Bósnia em 1995, e a perda de um F-117 sobre a Sérvia em março de 1999.

Características dos Veículos Não Tripulados

Os UAVs se dividem em 2 grupos distintos, os pilotados remotamente e veículos autônomos. Um conceito útil para distinguir entre esses tipos de veículos é lembrar que veículos operados remotamente não tem piloto embarcado mas operando o veículo à distância, enquanto veículos autônomos não tem qualquer controle por operador humano.

Em virtude de seu alcance, resiliência e altitude operacional, os UAVs aumentam a capacidade de projetar poder militar, como demonstrado pelos UAVs Predator e Global Hawk da USAF, cuja resiliência é superior aos veículos tripulados. Por essas razões, os UAVs podem realizar tarefas que são cada vez mais difíceis para aeronaves tripuladas, como ataques a instalações de guerra biológica e química, e suprimir defesas aéreas não previstas que se apresentam como problemas críticos. Ao mesmo tempo, as tecnologias UAV buscam um nível de maturidade tecnológica que lhes permitem infligir danos devastadores em muitos alvos.

Em termos históricos, aumentar o alcance de uma arma ou distância entre o alvo e o operador de determinada arma sempre foram fatores significativos para o desenvolvimento de UAVs. O uso de VANTs começou com experiências alemãs com armas guiadas na Segunda Guerra Mundial, incluindo a V-1 alemã. Essa abordagem é paralela à tática moderna de usar aeronaves pilotadas em alta altitude ou mísseis de cruzeiro de baixa altitude para entregar munições junto a seus alvos.

O desenvolvimento de UAVs para reconhecimento fotográfico foi estimulado no início dos anos 1960 com a queda do avião U-2 na URSS que foi pilotado por Francis Gary Powers em maio de 1960, e a derrubada de um U-2 durante a crise de mísseis em Cuba. Além disso, os UAVs foram usados ??para fins fotográficos, comunicações e reconhecimento eletrônico, vigilância e combate eletrônico na Guerra do Vietnã, e por Israel para fotografia e reconhecimento eletrônico, bem como chamarizes durante a Guerra do Yom Kippur de 1973 e a operação no Líbano em 1982. Mais recentemente, o US Army, a US Navy, e os US Marines Corps usaram o UAV Pioneer para reconhecimento tático, vigilância e aquisição de alvos durante a Guerra do Golfo Pérsico.

Em termos operacionais, os UAVs podem operar em altitudes que excedem 23 mil metros e podem transportar sensores de todos os tipos. O desenvolvimento de novas ogivas, permitem que os UAVs portem armas compactas que podem infligir danos significativos contra alvos fixos e móveis. Enquanto essas tecnologias podem ser usadas em aeronaves tripuladas, os UAVs podem ser usados ??para localizar e destruir seus alvos, em particular devido aos recentes desenvolvimentos de softwares de reconhecimento automático de alvos.

Vantagens

A principal vantagem dos UAVs é sua capacidade de reduzir o risco para os seres humanos e, assim, apresentando boa relação custo-benefício. Opções que podem ser usadas quando as condições políticas ou ambientais proibirem o uso de sistemas tripulados. As outras vantagens dos UAVs são a capacidade acelerar a taxas superiores às suportadas por pilotos humanos, evitar a fadiga, pois o piloto pode ser trocado na frequência em que se desejar, e eliminar a miríade de sistemas que sustentam a vida humana no cockpit, que aumentam o peso, complexidade e custo de aeronaves pilotadas. Uma vez livre dessas limitações, Os UAVs podem ser mais manobráveis, passarem mais tempo no ar, e ser menos observáveis do que suas contrapartes pilotadas. Outra capacidade operacional dos UAVs é sua capacidade de voar perto de alvos bem defendidos, como lançadores de armas nucleares, biológicas e químicas (NBC), que criam um risco significativo para os pilotos.

Desvantagens

As principais desvantagens dos UAVs são sua necessidade por comunicações de grande largura de banda, vulnerabilidade à interferências e baixos índices de sobrevivência. Embora seja comumente assumido que os UAVs são relativamente baratos em comparação com as aeronaves tripuladas, a geração atual de UAVs vem se tornando relativamente cara para desenvolver e construir. No entanto, esta vantagem de custo pode ser exagerada se a expectativa operacional for satisfatória, como por exemplo no caso do Global Hawk que tem aproximadamente metade do custo operacional do U-2. Embora o Global Hawk não possa realizar todas as missões do U-2, são menos caros de operar. Por enquanto, os custos de produção de UAVs são relativamente altos porque esses sistemas normalmente envolvem pequenas produções, e os aviônicos e armas usados são bastante sofisticados e caros. Uma importante preocupação é que as perdas de UAVs podem ser proibitivamente caras se grandes números forem perdidos em situações operacionais.

Um segundo problema com UAVs é sua necessidade de largura de banda suficiente para permitir ao operador remoto manter uma ligação de dados adequada com o veículo, e a necessidade de grandes larguras de banda aumenta a vulnerabilidade à interferência e bloqueio.

Um terceiro problema é que os UAVs têm problemas únicos de sobrevivência. O mais notável é que não são tecnologicamente sofisticados suficientemente para avisar o operador que o veículo está sob ataque, não podem operar em condições meteorológicas adversas, e têm um baixo nível de confiabilidade, o que limita seu papel operacional.

Características dos Veículos Operados Remotamente

Como os RPVs possuem operadores remotos, esses veículos são menores, possuem maior resistência operacional, são mais baratos que os veículos pilotados com recursos comparáveis ??e contam com sensores e links de comunicação para informar o operador sobre o estado do veículo. O atual abordagem é usar RPVs para missões de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR), e existem intenções de se usar RPVs em missões de combate aéreo para proteger outras aeronaves de combate ou ativos de alto valor, como o Sistema de Alerta e Controle Aerotransportado (AEW). No entanto, a capacidade de RPVs para realizar essas missões exigirão que esses veículos tenham funções autônomas que normalmente aumentam seus custos de desenvolvimento e de aquisição.

Vantagens

A principal vantagem dos veículos operados remotamente é sua capacidade de usar o raciocínio humano, além do veículo ser mais barato do que o seu homólogo pilotado. Os RPVs podem ser menores, mais leves, ter maior resiliência do que veículos pilotados, podendo ser furtivos, dependendo do projeto e de seu sistema de comunicações. No entanto, enquanto os RPVs desfrutam de muitas das vantagens associadas à tomada de decisão, esses veículos são limitados pelo fato de que as aeronaves devem dependem dos sensores, e dos “delays” - atrasos de tempo - que existem quando a aeronave e o operador estão em locais diferentes.

A vantagem operacional dos RPVs é sua capacidade de manobrar com mais agilidade do que os veículos pilotados. Além disso, a regra é que os RPVs são menos detectáveis porque seu tamanho menor os torna menos observáveis. As funções do operador remoto são semelhantes à capacidade dos pilotos, que é tomar decisões na presença de falhas não programadas, lidar com circunstâncias inesperadas e tomar medidas de proteção do veículo. Para ter sucesso, no entanto, o operador deve ter acesso a informações oportunas sobre ameaças ao veículo, ser capaz de identificar que um ataque está em curso ou seja iminente, e tomar medidas de proteção adequadas. O problema é que a geração atual de RPVs, como exemplificado pelo Predator UAV, não tem a sofisticação tecnológica para realizar essas ações.

Desvantagens

A principal desvantagem é que o operador sempre está fundamentalmente inconsciente da situação tática ao redor do veículo, que se traduz em uma maior probabilidade de que a missão falhe ou o veículo seja perdido. Atualmente, os RPVs são suscetíveis à perda de comunicação com o operador humano, o que tem implicações catastróficas como a falha da missão ou a perda do veículo. Uma regra geral é que sistemas militares que dependem de sensores distribuídos são bastante vulneráveis ??a falhas dos links de comunicação. Outra desvantagem importante com RPVs, que tende a ser ignorado ou diminuído, é que a distância entre o veículo e o operador causa um atraso (delay) de tempo, o que torna RPVS menos responsivo em combate. Finalmente, o operador do RPV não têm o mesmo grau de consciência situacional que os pilotos embarcados.

Características dos Veículos Autônomos

Como observado anteriormente, os veículos autônomos podem desempenhar suas funções sem o operador humano e, como resultado, tendem a ser menores e menos onerosos que os veículos pilotados. O fato de os veículos autônomos serem menores do que veículos operados remotamente reflete a ausência de sistemas de comunicações mais capazes e seus sistemas de orientação relativamente simples, que dá e estes veículos resiliência operacional significativamente maior. Enquanto a atual geração de veículos autônomos limita-se a realizar missões de inteligência e vigilância (ISR) e atacar alvos fixos, a expectativa é que os avanços tecnológicos cheguem ao ponto em que poderão se ocupar de alvos móveis, como lançadores de mísseis ou veículos de comando e controle (C2).

Vantagens

A principal vantagem dos veículos autônomos é sua capacidade de trabalhar com mais rapidez, precisão e confiabilidade do que os operados remotamente. Enquanto que o custo dos veículos autônomos aumenta com a complexidade da tarefa, seu desempenho depende fundamentalmente da inteligência artificial, capacidade esta que vem se aprimorando com o passar do tempo, com computadores cada vez mais capazes para tomar decisões corretas de direcionamento em operações militares.

O custo dos veículos autônomos está diretamente relacionado às suas capacidades. Veículos autônomos com sistemas de orientação mais simples não tem poder de se adaptar à mudanças de condições no campo de batalha enquanto voa em direção ao alvo. Veículos relativamente baratos e equipados com sensores capazes, podem interagir com outros sistemas e são capazes de reagir a situações que mudam rapidamente.

Os veículos autônomos têm uma vantagem em termos de resistência ou quando estão operando na presença de substâncias nucleares, químicas ou armas biológicas. Outra grande vantagem dos veículos autônomos é o fato destes veículos não precisarem de longas pistas ou grandes suprimentos de combustível e, portanto, podem ser dispersos em um grande número de pequenos aeródromos. Por fim, estes veículos por serem suficientemente pequenos, são difíceis de observar e destruir.

Desvantagens

A principal desvantagem dos veículos autônomos é que os controladores humanos têm muito pouca informação sobre como a missão está evoluindo ou como o veículo está se comportando. Enquanto estes veículos podem ser usados ??para fornecer avaliação de danos de bombardeios da mesma forma que as armas que são guiadas com sensores eletro-ópticos, o estado da tecnologia empregada e a complexidade e configuração do veículo ditarão como estas informações serão disponibilizadas.

Uma desvantagem significativa dos veículos autônomos é que o sistema pode ser suscetível a ambiguidades ou erros de programação simples, que o podem fazer atacar forças amigas e causar danos colaterais em áreas que existam civis não-combatentes, embora a tecnologia atual possa reduzir significativamente este risco. A desvantagem mais ampla com sistemas puramente autônomos é que os computadores não podem tomar decisões sem humanos para supervisionar seu comportamento. Em termos de custo, veículos autônomos que possuem inteligência artificial sofisticada ou sistemas especialistas serão caros, complexos e propensos a se comportar de maneiras que um adversário poderia reconhecer e explorar. Em geral, essas máquinas não podem se adaptar ou explorar os fatores que são essenciais para o sucesso em combate.

Uma suposição razoável é que os veículos autônomos não são capazes de analisar os acontecimentos ou exibir a liberdade de ação que é essencial para sucesso nas operações militares. Veículos autônomos não podem replicar de forma abrangente a capacidade humana de compreender as nuances que fazem a diferença entre sucesso e fracasso na guerra. Eles não podem demonstrar iniciativa, mas devem contar com os sistemas especialistas ou inteligência artificial que em si é um produto com listas de regras e contingências explícitas. Esses sistemas não terão a capacidade humana de se adaptar e se comportar de forma imprevisível, o que aumenta sua vulnerabilidade às ações inimigas. Uma razão para esta limitação é que os sistemas especialistas não reagem bem às informações que operam no limite de seu “conhecimento”, conhecido como “fragilidade”, o que aumenta sua vulnerabilidade a inimigos que podem usar engodos ou ambiguidades para confundi-lo. Dado o grande número de objetos que sistemas altamente automatizados podem encontrar e número de decisões que devem ser tomadas de forma correta e rápida, o problema é a relativa facilidade com que um adversário poderia explorar estas deficiências.


Funções militares para veículos aéreos não tripulados

As aeronaves tripuladas dominaram o século XX, mas avanços tecnológicos estão levando ao desenvolvimento de UAVs que poder realizar missões militares que antes eram reservadas para aeronaves tripuladas. Há uma série de funções que um UAV pode desempenhar no cenário das operações militares.

Transporte: Embora até o momento atual não tenhamos UAVs transportando passageiros, eles já podem transportar cargas, especialmente nas quantidades relativamente pequenas que se aplicariam em situações táticas. O estado atual da tecnologia pode ser suficiente para criar helicópteros remotamente pilotados ou autônomos que são capazes de entregar suprimentos e munições às tropas em campo, desde que instruções e restrições específicas guiem esses UAVs.

Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR). Uma forma mais prática é usar UAVs para missões de inteligência, reconhecimento e vigilância, e que tiraria vantagem do fato de que os UAVs têm tempos de voo significativamente mais longos, e podem ser posicionados de forma flexível perto de alvos potenciais, sendo pequenos e relativamente difíceis de detectar. A longa resiliência dos UAVs é particularmente importante para a vigilância quando essas operações necessitam ser realizadas ao longo de dias. Nesse sentido, os UAVs poderiam aliviar as plataformas tripuladas da necessidade de manter o alto ritmo operacional para os períodos que são a norma nas contingências militares modernas.

Os EUA em missões de vigilância usam vários UAVs. O Global Hawk da USAF e o RQ-6 Outarider do US Army e da US Navy são exemplos. Estão em serviço UAVs que podem voar de forma autônoma e transmitir informações em tempo real, para uso em reconhecimento, interferência, detecção química ou biológica, e colocar sensores remotos no campo de batalha. Para ataque à alvos usam-se modelos com capacidade de lançar armas contra locais de defesa antiaérea, como em 1972, quando um drone Ryan Lightning Bug lançou com sucesso um míssil AGM-65 Maverick contra uma van de controle de radar. É possível que UAVs possam atuar na vigilância se estados rebeldes (na visão dos EUA), que estão envolvidos em fabricar ou armazenar armas de destruição em massa e atacar aquelas instalações. O Conselho Consultivo Científico da USAF sugeriu que para atacar essas instalações, os EUA deveriam desenvolver UAVs com sensores e armas multiespectrais. Este UAV de vigilância voaria em conjunto com UAVs armados com armas de precisão, armas penetrantes ou armas que empregam mecanismos de matar que evitam a disseminação desses materiais.

Os UAVs podem ser usados ??para atacar alvos terrestres fixos de alto valor em operações militares. Uma vez que sejam informados a localização, o tipo de alvo e efeitos de armas desejados ao UAV, este determinaria a maneira correta de atacar os alvos com um operador remoto ou alguma forma de automação.

Ataque à Alvos Móveis. O conceito de atacar alvos móveis com UAVs são bastante populares e envolvem o uso de sensores em UAVs de alta altitude e longa duração em conjunto com aeronaves. O problema fundamental com o uso de UAVs é a dificuldade de detectar e identificar alvos em operações de combate modernas. Se equipado com sensores de vigilância e reconhecimento e munições afins, UAVs pouco observáveis ??que operar em grandes altitudes por longos períodos poderiam ser usados para detectar mísseis de teatro, balísticos e de cruzeiro. A resiliência em ação relativamente longa desses veículos, e a capacidade de detectar e identificar alvos, poderiam fazer dos UAVs operados remotamente uma opção viável para esta missão.

Combate Ar-Ar. Num futuro previsível, a tecnologia permitirá UAVs para realizar operações de combate ofensivas e defensivas contra aeronaves, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos. Se os comandantes militares puderem usar UAVs avançados para interceptar aeronaves, eles disponibilizariam suas aeronaves tripuladas para outras missões de combate. Se olharmos para o longo prazo, pode ser tecnologicamente viável desenvolver UAVs que possam substituir a atual geração de aeronaves de combate com veículos cujo desempenho e a capacidade de sobrevivência excede a dos veículos pilotados. Além disso, os UAVs poderiam ser usados para atacar instalações, bem como atacar alvos fixos e móveis críticos. Veículos pilotados remotamente podem ser valiosos em combate aéreo, e muitos conceitos que dependem de níveis mais avançados de automação, caminham para se tornar realidade.

Missões de Apoio ao Combate. A ideia é usar UAVs para a operações de suporte eletrônico que são realizadas por aeronaves de ataque e bombardeiros, em conjunto com aeronaves para atingir e congestionar radares de controle de fogo. Esta categoria de UAV pode funcionar como um chamariz duplicando as assinaturas de radar, infravermelho e rádio da força atacante para aumentar a capacidade de sobrevivência das aeronaves tripuladas, detectando a localização das defesas aéreas inimigas e transmitindo esses dados para aeronaves de ataque tripuladas, sendo que estas e outros UAVs poderiam vetorar armas para a supressão destas defesas, como dito anteriormente.

É inevitável que os desenvolvimentos tecnológicos permitam UAVs para assumir muitos papéis militares. Por esse motivo, é fundamental investir em tecnologia UAV para aumentar a custo-benefício dos sistemas de armas, reduzindo o risco para os seres humanos em combate. No entanto, a opção mais prudente é manter capacidades significativas em aeronaves tripuladas até que computadores e sensores chegarem ao ponto em que serão capazes de tomar as decisões de combate que historicamente seriam tomadas por humanos, de forma confiável e sem titubear nas situações limite.

Conclusões

Os militares tem a sua frente vários conceitos sobre como os UAVs devem ser usados ??em operações militares, mas o fato é que muitos desses conceitos são ainda especulações sobre como as tecnologias UAV podem funcionar, embora venham se tornando realidade dia a dia. Existem ainda limitações na capacidade de usar veículos não tripulados, especialmente aqueles que dependem de automação para tomar decisões em combate, além dos problemas de infraestrutura como no caso dos veículos que necessitam de links satelitais para os países que não os possuem. Pela maioria dos padrões, a automação é o ponto crítico da tecnologia que determinará se os UAVs poderão funcionar efetivamente em operações militares. Não basta dizer que porque a atual geração de mísseis de cruzeiro utiliza sistemas de navegação inercial, comparação automatizada de terrenos ou Sistema de Posicionamento Global (GPS), que os UAVs podem assumir um papel dominante.

A realidade é que o desenvolvimento de UAVs foi retardado pelos problemas associados a construir máquinas autônomas que possam desempenhar funções humanas, de que tomar decisões em combate sobre o uso de força letal são provavelmente o mais difícil. Não há dúvida de que os avanços tecnológicos recentes aumentaram o valor militar dos UAVs. Por exemplo, os sistemas de controle foram aperfeiçoados ao ponto em que o operador precisa de muito menos experiência com veículos operacionais, e pode se concentrar em entregar armas. Também não está claro que os UAVs serão menos caros para operar do que seus homólogos tripulados. Enquanto um estudo sugeriu que o Global Hawk UAV pode ser menos dispendioso de operar do que a aeronave U-2, existem incertezas sobre quanto custará operar UAVs. Por exemplo, a USAF descobriu durante a campanha de 1999 nos Balcãs que era mais caro operar o UAV Predator do que havia previsto. Finalmente, os militares devem entender que sempre haverá casos em que os veículos não tripulados não podem cumprir as missões desempenhadas por aeronaves tripuladas. O problema tecnológico fundamental com UAVs é sua capacidade limitada de lidar com a ambiguidade. Durante as operações de imposição da paz ou de guerra aberta, comandantes militares cometem erros rotineiramente ao identificar forças amigas e inimigas como bem como civis. Um exemplo notável foi o fracasso em perceber que civis atravessavam uma ponte no Kosovo ao mesmo tempo que forças militares, quando foram atacadas por aeronaves da OTAN. O problema é que os bunkers que podem abrigar civis, centros de C2 ou sistemas de mísseis podem estar localizados em áreas urbanas, que se atacadas por erro matará civis inocentes. Para saber o limite onde os UAVs podem ser usados extensivamente em operações militares, os UAVs devem demonstrar um nível de automação capaz de lidar com essa ambiguidade, mas esse padrão ainda excede as capacidades tecnológicas. Até UAVs operados remotamente terem os sensores e computadores que podem resolver as ambiguidades que existem em combate, os militares não poderão contar com sistemas totalmente automatizados. Isso não quer dizer que a tecnologia nunca criará sistemas altamente automatizados que pode guiar UAVs em missões militares. Mas o volume de informação cresce continuamente, o que aumenta a pressão para tomar decisões mais rapidamente, e os operadores humanos podem ficar tão sobrecarregados e voluntariamente abdicarem do controle para sistemas automatizados. Uma questão relacionada é se o desenvolvimento de UAVs levará a obsolescência tecnológica ou extinção de aeronaves pilotadas e, portanto, das forças aéreas tal qual são. O contra-argumento, no entanto, é que se as forças aéreas não conseguirem se adaptar às rápidas mudanças tecnológicas, seu papel diminuirá em qualquer caso. No entanto, é concebível que a dependência de máquinas poderia acelerar o fim de uma era em que os humanos desempenham um papel decisivo no uso do poder aéreo.

Esses desenvolvimentos tecnológicos não devem obscurecer o fato de que veículos aeroespaciais pilotados, pilotados remotamente e autônomos podem fazer contribuições significativas para as operações militares, e que os militares as organizações devem considerar como essas tecnologias vão mudar os fundamentos doutrinários do poder militar. Os militares devem se adaptar às mudanças tecnológicas se quiserem preservar sua capacidade de prevalecer em operações. E isso, mais do que a presença de operadores humanos, é o derradeiro teste militar e tecnológico de sucesso.

À medida que os avanços tecnológicos aumentam a letalidade das armas no campo de batalha moderno, é inevitável que os UAVs reduzam os riscos para humanos em combate. É ilusório, no entanto, acreditar que o progresso da tecnologia apagará completamente a necessidade de colocar os humanos em perigo. Se há uma restrição fundamental ao desenvolvimento de UAVs, é que a tecnologia promete encontrar soluções puramente não tripuladas para combater, mas não pode cumprir essa promessa. As autoridades políticas e militares devem abordar com cautela a perspectiva de um mundo em que os sistemas automatizados possam selecionar alvos militares e empregar munições letais. Vamos imaginar os perigos de uma situação em que um veículo autônomo armado com mísseis ataca por engano um ônibus escolar, que está cheio de crianças porque o software de reconhecimento automático de alvos concluiu que o "alvo" era um lançador/eretor/transportador que carregava um míssil SCUD. Este problema pode ser agravado se considerarmos que o sistema automático de reconhecimento de alvos pode falhar em "perceber" que o míssil móvel está estacionado no pátio da escola.

Embora a automação possa ajudar os humanos, ainda não chegamos ao ponto onde a tecnologia permitirá que sistemas automatizados tomem decisões sobre o uso de força militar letal. Se o objetivo por trás do desenvolvimento de UAVs é encontrar soluções tecnológicas para salvar vidas humanas em combate, não deve desviar a comunidade tecnológica de encontrar melhores maneiras de integrar humanos e máquinas em um sistema mais eficaz para tomar as melhores decisões possíveis nos cenários operacionais.