FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 24 de maio de 2015

Operação Ópera/Babilônia #101



O Ataque a Usina Nuclear de Saddam

Original: http://aeromagazine.uol.com.br/artigo/ataque-cirurgico-a-usina-nuclear-de-saddam_854.html#ixzz3b4el0b8Q

Eu estava nadando na piscina quando ouvi explosões e vi fumaça subindo do outro lado do rio. E o inferno explodiu, com cada canhão da cidade atirando. Mas era tarde demais”, relembrou o britânico Duncan Kirby, em 2006, à BBC News. Era 7 de junho de 1981 e Kirby, aos 21 anos, foi um dos trabalhadores ocidentais que testemunharam o ataque aéreo israelense que arrasou a usina nuclear de Osirak, em Bagdá. Ali se encerrava a possibilidade do regime de Saddam Hussein produzir uma bomba atômica. Quase na mesma hora em que o jovem percebia que algo de excepcional estava acontecendo, a tensão se dissipava entre os pilotos que sobrevoavam o leito do rio Tigre com pós-combustores acionados. 

Ao ouvir a chamada hesitante: “Eshkol Quatro... Quatro, tudo em ordem”, o comandante da esquadrilha Ze’ev Raz, a bordo de seu F-16A Fighting Falcon, informou aliviado ao comando: “Charlie completo”. Em código, era a melhor notícia possível: “Missão cumprida sem baixas”. O resultado final, os oito pilotos só saberiam depois de pousar na base de Etzion, no deserto do Sinai, então ocupado por Israel.

Maioria dos pilotos reunidos em Etzion, logo após o pouso do ataque ao reator planejado em minúcias e executado com precisão quase absoluta, o ataque entrou para a história da aviação pela ousadia, marcando a primeira grande operação do caça General Dynamics F-16 Fighting Falcon – a estreia ocorrera dois meses antes, também com Israel, no abate a tiros de canhão de um helicóptero Mil Mi-8 sírio, no Vale do Bekaa. 

Duramente criticado pelas Nações Unidas, o bombardeio cirúrgico surpreendeu o mundo. Conhecido como Operação Ópera ou Operação Babilônia, a ação volta à memória três décadas depois, enquanto crescem as tensões no Oriente Médio em meio a informações, ainda desencontradas, de que Israel teria promovido um ataque aéreo em território sírio, além da desconfiança de que o programa atômico do Irã esconde o desenvolvimento de ogivas nucleares a serem lançadas por mísseis capazes de atingir Tel-Aviv.



ESCOLHAS

Os obstáculos para a operação eram imensos: a distância (mais de 2.000 km entre ida e volta), a necessidade de sobrevoar território hostil (Jordânia ou Arábia Saudita) e um alvo bem defendido. Além dos MiG-23 iraquianos, o reator era defendido por baterias antiaéreas quádruplas (ZSU-23-4 Shilka) de 23 mm, duplas de 57 mm (ZSU-57-2 Obyekt500) e cinco baterias com 60 mísseis terra-ar SA-6, capazes de abater um avião entre 30 e 12.000 m de altitude.

Antes da definição pelo F-16A Netz (Falcão, em hebraico), a Hel Ha-Avir, a Força Aérea de Israel, examinou com cuidado as aeronaves de seu inventário, o tipo mais adequado de armamento e os parâmetros da missão. Os caça- -bombardeiros mais numerosos eram o pequeno e leve McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, veterano do Vietnã, e o IAF Kfir, uma evolução local do Mirage III. Ambos não possuíam alcance suficiente e seus radares e visores estavam ultrapassados. Os candidatos naturais eram o McDonnell Douglas F-15 Eagle e o McDonnell Douglas F-4E Phanton II. O F-15 Eagle era então o caça mais moderno do mundo. Além de possuir capacidade ar-solo, seu radar doppler não sofria interferência do solo em voos ultrabaixos.

Porém, os EUA não haviam fornecido tanques suplementares de combustível e a confiança em seus dois motores em uma missão de longa duração não empolgava. O Phantom parecia ser o eleito. Modernizado e capaz de lançar bombas guiadas, à seu desfavor tinha o alto consumo de combustível e os dois tripulantes, o que dificultaria ainda mais uma eventual operação de resgate. Havia restado o F-16, recém-incorporado, nunca testado em combate intenso e com apenas um motor, uma desvantagem em caso de avaria por fogo inimigo. A seu favor, tinha o pequeno tamanho, grande agilidade e aviônica avançada.

Ao final, a escolha se deu mais em função do tipo de armamento: bombas de queda livre Mk.84 de 2.039 lb (925 kg). Ainda que a Hel Ha-Avir possuísse em seu arsenal bombas guiadas laser, naquele tempo a confiança nelas não era grande. A opção por bombas “burras” se deu por mera precaução. Os pilotos estavam acostumados com elas e a suíte eletrônica avançada do F-16 se “encarregaria” de indicar o melhor momento para o lançamento – se os parâmetros (velocidade, altitude e ângulo de ataque) inseridos no computador fossem seguidos. As estimativas indicavam que apenas oito bombas dariam conta do recado. Por precaução, o comando optou por oito caças carregando duas bombas cada um. Seis F-15 Eagle fariam a escolta.



FALCÃO HEBREU

O F-16 havia caído do céu para Israel. Encomendados pelo Irã no final do regime do xá Reza Pahlevi, deixaram de ser entregues quando os aiatolás assumiram o poder, em 1979. Encalhados, os 75 caças pintados no padrão camuflagem de deserto acabaram oferecidos pelos americanos ao brigadeiro David Ivri, então comandante da Hel Ha-Avir, durante uma visita à base americana de Edwards. Impressionados com o desempenho do F-16A nos dogfights simulados, os novos caças chegaram à base de Ramat Davi, perto da fronteira com a Síria, em julho de 1980, onde formaram três esquadrões.

Menos de um mês depois, as equipagens foram transferidas para ensaios no deserto do Negev. Em outubro, quando o ataque foi decidido, o perfil da missão já estava delineado. Até uma réplica em escala reduzida do reator foi construída, a fim de adestrar pilotos. Uma série de teste indicou que, apesar da chegada em voo rasante, as bombas deveriam ser lançadas de ângulos entre 30 e 40 graus para que pudessem penetrar a espessa cúpula de concreto do reator. As espoletas foram preparadas para detonar após a passagem do último avião, o que possibilitaria a filmagem do alvo e evitaria que os últimos a passar fossem atingidos por destroços.



Os pilotos escolhidos foram o coronel Ze’ev Raz (no comando da esquadrilha), Amir Nachumi (comandante de outro dos esquadrões de F-16), Amós Yadlin, Dubi Yoffe, Hagay Katz, Israel Shapir, Iftach Spector (o piloto mais velho, de 41 anos) e Ilan Ramon (tenente, o único com posto abaixo de major, seguindo o critério israelense de sempre levar um novato. Em 2003, como coronel, Ramon foi o primeiro astronauta do país, morrendo no acidente com o ônibus espacial Columbia).

Cercados de sigilo, os F-16 decolaram de Etzion às 15h55 (12h55 pelo horário de Greenwich) excedendo em mais de 1.100 quilos o peso máximo de decolagem (16.100 quilos) recomendado. Nem em testes do fabricante o F-16 voou tão pesado. Cada avião carregava, além do par de bombas sob as asas, dois mísseis Sidewinder nas pontas das asas, dois tanques subalares de combustível de 370 galões, um tanque ventral de 300 galões e lançadores de chaff e flare na fuselagem.


Após a ignição das turbinas e o acerto nos sistemas de navegação, houve um novo abastecimento com motores ligados para complementar os cerca de 140 litros de combustível gastos em solo. Em condições normais, os F-16A tiravam as rodas do chão após uma corrida de meros 600 metros. De tão pesados, os caças tiveram que usar os 1.700 metros de extensão da pista de Etzion. A esquadrilha se dividiu em dois grupos distantes 4.000 metros entre si, com espaçamento lateral de 600 metros. Dois F-15 acompanhavam a formação, cobrindo a retaguarda, enquanto duas duplas de F-15 cobriam os flancos, prontos para intervir contra os MiG-23 iraquianos ou até os F-15 da Arábia Saudita. 

Um sétimo F-15 biplace sobrevoava a Arábia servindo como piquete de rádio. No ar também estavam um avião-radar Northrop Grumman Hawkeye E-2C, um Boeing 707 monitorando as comunicações na região, um Lockheed Hércules KC-130 de reabastecimento e helicópteros Sikorsky CH-53 de resgate. Os CH-53 decolaram uma hora antes para que pudessem estar próximos de Bagdá no momento do ataque. O tempo estava claro, mas acima de 30.000 pés (9.000 metros) esteiras de condensação denunciariam a esquadrilha. Entre os pilotos, a expectativa era de duas baixas entre os F-16.



OS BASTIDORES DO ATAQUE

Acordo de cooperação nuclear assinado com a França desencadeou a ação. Em 1981, o Iraque estava formalmente em guerra com Israel há 33 anos, ou seja, desde 1948, quando o estado judeu foi criado. Porém, com a Guerra dos Seis Dias, em 1967, as atenções da Hel Ha-Avir ficam centradas nos adversários fronteiriços: Egito, Síria, Líbano e Jordânia. Distante mais de 1.000 km, a capital Bagdá só voltou a ser um alvo potencial a partir de 1976, quando um acordo de cooperação nuclear assinado com a França incluiu a construção de um reator nuclear classe Osiris – para supostos fins pacíficos – e a venda de urânio enriquecido. O reator foi batizado de Osirak pelos franceses (da junção das palavras Osiris e Irak) e de Tammuz 1 pelos iraquianos – havia um reator menor, o Tammuz 2.

Com ajuda dos Estados Unidos, o governo de Israel ainda tentou convencer a França de que o cancelamento do programa de cooperação nuclear seria a melhor opção. Um ataque ao reator começou a ser cogitado em 1979. O alto comando israelense acreditava que a ação deveria ocorrer antes da entrada em operação do reator. Caso contrário, haveria o risco de uma contaminação radiativa colocar em risco milhares de vidas civis.



O Mossad informou ao primeiro-ministro Menachem Begin que o reator deveria entrar em operação entre julho e setembro de 1981. Em junho de 1980, o físico egípcio Yehia El-Mashad, responsável pelo programa iraquiano, foi encontrado morto a pauladas em Paris. Explosões danificaram as instalações de empresas italianas e francesas suspeitas de participação no programa. Em seguida, cartas com ameaças foram enviadas para técnicos e fornecedores. Mesmo assim, as obras prosseguiram.

A esperança estava nas eleições francesas, caso o governo que sucedesse Valéry Giscard d’Estaing mudasse de ideia e cancelasse o acordo. Ao assumir a presidência, em 1981, François Mitterrand desapontou os israelenses ao anunciar que novas transferências de tecnologia nuclear deixariam de ocorrer, mas que os contratos vigentes seriam respeitados. Era o sinal para o ataque.

Como se os obstáculos não fossem enormes, em setembro de 1980, o regime de Saddam Hussein cancelou os acordos que delimitavam a fronteira com o Irã, na região do Shat-El-Arab, provocando a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Se houvesse um ataque israelense, ocorreria diante de barreiras antiaéreas e interceptadores.



Em 30 de setembro, dois McDonnell Douglas F-4E Phanton II iranianos carregando bombas e foguetes praticam o primeiro ataque aéreo da história a um reator nuclear. Apesar do pânico, só prédios próximos foram atingidos. Logo as defesas foram melhoradas e as paredes das instalações, reforçadas. Para Israel, não havia tempo a perder. O primeiro carregamento de 12,5 kg de urânio enriquecido já estava estocado no Iraque.

Fotos de satélite obtidas dos americanos indicavam que o reator deveria começar a funcionar em junho de 1981 (mais tarde franceses afirmaram que Osirak só entraria em funcionamento no final daquele ano). Após sucessivos adiamentos e hesitações – havia opositores ao ataque na cúpula do governo –, a data escolhida foi 7 de junho de 1981, um domingo, quando os trabalhadores franceses e italianos estariam de folga, o que se revelou um engano. No Iraque, trabalhadores ocidentais folgavam às sextas-feiras, de acordo com a tradição muçulmana. Dez soldados iraquianos morreram no ataque, junto com o técnico francês Damien Chaussepied, de 25 anos.

ATAQUES CONTRA TUNÍSIA E SÍRIA

Menos famosas, outras operações cirúrgicas da Hel Ha-Avir serviram para mostrar que Israel não tolera provocações dos inimigos. Em 1º de outubro de 1985, o quartel-general da Organização para Libertação da Palestina (OLP), nas proximidades de Túnis, capital da Tunísia, foi atacado com bombas guiadas. Foi uma resposta a um atentado da OLP no Chipre, seis dias antes, que resultou em três turistas israelenses executados.

Batizada de Operação Perna de Pau, a ação foi conduzida por oito F-15 Eagle que voaram baixo sobre o Mediterrâneo por mais de 4.600 quilômetros, entre ida e volta. Um 707 reabasteceu os caças sobre o mar. Como resultado, 56 militantes palestinos e 15 civis tunisianos foram mortos. O líder da OLP, Yasser Arafat escapou por pouco. Ele estava em sua caminhada matinal. O ataque durou seis minutos e arrasou as instalações palestinas, situadas em um conjunto de prédios próximos da praia.

Bem mais ousada e complexa, a Operação Pomar (Orchard) ainda está repleta de lacunas. No amanhecer de 6 de setembro de 2007, oito F-15I Ra’am (Trovão) guiados por GPS e sistemas Lantirn (Low Altitude Navigation and Targeting Infrared for Night) despejaram mísseis Maverick e bombas guiadas Paveway, de 500 libras, contra instalações na região síria de Deir ez-Zor, no noroeste do país. Aprimoramento local do F-15E Strike Eagle, os F-15I desta vez foram escoltados por F-16, sobrevoando o Mediterrâneo até a costa da Turquia, onde viraram para leste ao longo da fronteira, voltando para o sul em direção ao alvo. Uma aeronave de contramedidas eletrônicas embaralhou as comunicações das defesas aéreas para evitar uma reação, enquanto um radar sírio era destruído preliminarmente. Um helicóptero CH-53 foi acionado para cuidar de eventuais resgates.

Dias depois, autoridades turcas encontraram tanques subalares sem identificação alijados sobre as províncias de Hatay e Gazeantep. As bombas Paveway teriam sido orientadas do solo por uma unidade de reconhecimento (Sayeret Shaldag) do exército israelense equipada com designadores laser. Os soldados estavam infiltrados no interior da Síria há dias. As instalações bombardeadas estariam estocando material nuclear ou mísseis de longo alcance, porém até hoje os detalhes e as razões não foram oficialmente revelados.

LONGO RASANTE

A partir de Etzion, a rota foi traçada para aproveitar as elevações do terreno, a fim de evitar radares jordanianos e árabes. Em caso de falha de motor, os 14 pilotos deveriam fazer uma subida brusca até 150 metros para a ejeção. Caso fosse captado pelo radar antes de cair, o caça apareceria só uma vez nas telas árabes e passaria apenas como um eco. O silêncio de rádio era total. Curva lenta ao sul, a esquadrilha se agrupa e segue a 90 metros do solo até o Golfo de Ácaba. Ali, com a proteção dos morros circundantes, evitam os radares. Sobre o mar, reza a lenda que sobrevoaram o iate do rei Hussein, da Jordânia, antes de entrar no espaço aéreo saudita. O trajeto incluía passar por 40 quilômetros de desfiladeiros, em um zigue-zague arriscado de sete minutos até o deserto. Naquele trecho, o perigo estava em uma interceptação por caças sauditas da base aérea de Tabuk.

A velocidade de 360 nós (667 km/h) tinha de ser mantida por economia. Com o combustível baixando, após a passagem pela rodovia entre Tabuk e a Jordânia, os tanques das asas (110 quilos cada) foram descartados ao longo dos 60 quilômetros seguintes. Ainda nos testes, os pilotos descobriram que nem os americanos descartavam os tanques em voo enquanto carregavam bombas. Havia o temor, logo descartado, de que o esforço comprometesse a estrutura das asas.



DOIS MINUTOS EM BAGDÁ

Ao cruzar a fronteira iraquiana, o coronel Ze’ev Raz lança o código: “Zebra”. A 10 minutos do alvo, a chamada “Duna Amarela” indicava o sobrevoo do lago salgado Bahr al-Milh, próximo do rio Eufrates. Chuvas recentes haviam inundado uma ilhota que serviria de ponto de referência, o que criou algum nervosismo. A velocidade aumenta para 390 nós (722 km/h) e os radares são acionados. Os F-16 se agrupam em quatro elementos. A velocidade sobe para 480 nós (889 km/h). Os F-15 acionam os pós-combustores, sobem para 6.600 metros em três patrulhas de combate. Uma dupla passa a vigiar as decolagens nas bases de Al-Taqaddum e Habbaniya, ao norte, outra fica com Ubaydah Bin Al Jarrah, a beira do rio Tigre, e a última fica acima dos F-16, de olho nas bases de Rasheed, Muthenna e no aeroporto internacional de Bagdá, mais próximas do reator.

A investida começa a cerca de 20 quilômetros do alvo, às 18h35, no rumo sul-norte, quando o domo de concreto já pode ser avistado no horizonte. Os pilotos acionam os pós-combustores, sobem vertiginosamente a 2.100 metros. “Eu olhava à direita e via Bagdá, à esquerda, o reator”, contou à BBC, em 2006, o então coronel da reserva Ze’ev Raz. A seguir, Raz reduziu o manete de potência e, girando em torno do eixo, mergulhou em ângulo de 35 graus a cerca de 1.100 quilômetros por hora, com o Osirak na mira. Entre 1.300 e 1.100 metros de altitude os F-16 lançam sua Mk 84 com intervalos de cinco segundos cada. As câmeras e a fonia captam o esforço físico dos pilotos na recuperação do mergulho para o voo nivelado. Tiros esparsos de antiaérea surgem na frente do último elemento, mas não há uma reação organizada, muito menos SA-6 e MiGs. A IFF (Identificação Amigo-Inimigo) é ligada para não confundir os F-15. A ação inteira dura cerca de dois minutos.

Das dezesseis bombas, oito abrem rombos na cúpula do reator, outras atingem o pátio e instalações próximas. Duas erram o alvo, sendo que uma não explode. Veterano da esquadrilha e cauda da formação, Iftach Spector revelou em sua autobiografia que sofreu um blecaute provocado pela força G durante a subida brusca, “despertando” tarde demais: “Vi Tammuz à minha frente, mas fora de alcance, e joguei as bombas em cima do que podia, no pátio do reator atômico”. Mais tarde foi descoberto que, meia hora antes, os soldados da guarnição antiaérea do reator haviam desligado o radar e abandonado os postos para um lanche no final do dia. Alguns relatos afirmam que o Mossad, o serviço secreto israelense, instalou uma baliza de navegação nas proximidades para auxiliar os jatos.

A volta é uma corrida cuidadosa com pouco combustível. Ainda no Iraque a esquadrilha abre a formação e sobe a 40.000 pés (12.000 metros), onde enfrenta vento de proa. Com combustível suficiente, os F-15 sobem a 41.000 pés para garantir a cobertura. Para evitar o vento, os F-16 arriscam descer a 38.000 pés (11.500 metros), onde deixam esteiras de condensação. Com todos inteiros, o pouso em Etzion é uma celebração. Cada F-16 contava com apenas 1.000 libras (450 quilos) de combustível. “Ninguém pensou que todos iriam retornar”, afirmou Ze’ev Raz. “Estávamos maravilhados por todos termos pousado sem um arranhão sequer”. Qualquer possibilidade de uma bomba nuclear iraquiana havia se transformado em escombros.

AS AERONAVES DA OPERAÇÃO ÓPERA



F-16A “NETZ”
  • Aeronave Air Force F-16A Netz ‘243’ pilotada pelo coronel Ilan Ramon durante a Operação Ópera
  • Fabricante: General Dynamics (hoje, Lockheed Martin)
  • Tipo: multifunção (caça e caça-bombardeiro)
  • Primeiro voo: 20 de janeiro de 1974 (protótipo YF-16)
  • Entrada em serviço operacional (F-16A): em 22 de janeiro de 1979, na 388ª Ala de Caças Táticos (388th TFW), na base aérea de Hill, em Utah
  • Dimensões: envergadura: 10,01 m, com mísseis nas pontas das asas; comprimento: 14,52 m; altura: 5,01 m; área alar, 27,87 m²
  • Pesos: 6.733 kg, vazio; 14.969 kg, total
  • Propulsão: um Pratt & Whitney F100-PW-200 com 10.885 kg de empuxo
  • Desempenho: 1.445 km/h (Mach 1,2) ao nível do mar; razão inicial de subida, 18.288 m/min.; teto operacional 18.300 m
  • Alcance: 3.890 km, alcance máximo em missão interceptação, com combustível externo; 1.200 km, alcance máximo em missão interceptação só sem combustível interno; 546 km, com seis bombas Mk 82 de 500 libras (227 kg)
  • Radar: Westinghouse AN/APG-66 de pulso doppler, com cerca de 150 km de alcance
  • Armamento: um canhão de seis canos M61 Vulcan de 20 mm, com 511 projéteis, no lado esquerdo da fuselagem, próximo da raiz da asa, e nove cabides para até 6.895 kg de bombas, mísseis (Sidewinder), tanques combustível e casulos de interferência eletrônica



GENERAL DYNAMICS F-16A FIGHTING FALCON

  • Função: voar baixo sobre o deserto, a partir de uma base no Sinai, atravessando a Arábia Saudita, evitando os radares jordanianos e sauditas
  • Armamento empregado: mísseis guiados por calor Sidewinder de curto alcance nas pontas das asas, para autodefesa, e duas bombas 2.000 libras (907 quilos)


MCDONNELL DOUGLAS F-15 EAGLE

  • Função: escoltar a esquadrilha de F-16 durante o trajeto. A maior preocupação eram os caças soviéticos MiG-23 do Iraque
  • Armamento: mísseis Shafrir guiados por calor e Sparrow, por radar semiativo


SIKORSKY CH-53

  • Função: resgatar no solo qualquer piloto que fosse abatido ou tivesse que ejetar devido a problemas técnicos. Com grande alcance e capazes de transportar equipagens numerosas, supõe-se que levava equipes de combate e médicos militares
  • Armamento: metralhadoras leves instaladas nas portas e janelas


BOEING 707

  • Função: monitorar as comunicações entre os caças, os eventuais interceptadores inimigos e o tráfego aéreo



LOCKHEED HERCULES KC-130

  • Função: avião de reabastecimento que ficou no ar de prontidão, caso faltasse combustível, o que não ocorreu



NORTHROP GRUMMAN HAWKEYE E-2C

  • Função: oferecer cobertura de radar durante a volta de Bagdá, alertando os F-15 sobre inimigos, fossem eles iraquianos, sauditas ou jordanianos
  • Um Sikorsky CH-53 israelense. Aeronave voou infiltrada até próximo de Bagdá, onde entraria em ação para resgatar pilotos abatidos


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Blindagens Militares #100



Define-se blindagem militar como sendo a proteção física contra o impacto de objetos de alta energia, tal qual os projéteis de armas de fogo e fragmentos decorrentes de explosões. Referimo-nos aqui como blindagem militar pois o termo também é usado em outros ramos de atividade como a eletrônica, política, etc...



A blindagem surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, quando para superar a impasse da guerra de trincheiras travada até então, que só fazia vítimas sem que a situação tática se alterasse de forma a buscar definições, os ingleses lançaram contra seus inimigos o primeiro carro de combate da história moderna. Na forma de um veículo motorizado denominado Mark I, armado com canhões e metralhadoras, e protegido por uma couraça de metal capaz de deter o fogo da infantaria daquele momento. Este veículo, para desespero das fileiras alemãs, podia avançar sobre trincheiras, arame farpado e outros obstáculos impunemente, de forma a dar fluidez e solução aos estáticos embates entre os ocupantes trincheiras daquele conflito. Construído para avançar sob o fogo das armas da infantaria da época, este primeiro carro de combate introduziu o uso da blindagem militar moderna nos campos de batalha.




Desde então iniciou-se uma disputa de engenharia para vencer o novo desafio. Armas anticarro começaram a ser desenvolvidas, blindagens foram vencidas por estas armas, assim como novas blindagens resistentes a estas armas foram desenvolvidas e assim por diante. 




Os blindados Mark I, construído com chapas de aço de 6 a 12 mm era invulnerável às armas da infantaria daquela tempo, feitas para perfurar com seus projéteis o corpo humano ou algo um pouco mais duro, e portanto munidas de baixa energia. Como era inevitável, devido a sua baixa velocidade e pioneirismo de seu projeto, logo alguns exemplares foram capturados pelos alemães, quando soldados podiam subir neles e atirar pelas frestas existentes. Logo armas para parar estes veículos foram desenvolvidas e novas versões resistentes a estas armas e corrigindo as deficiências das primeiras versões. Desde a introdução desta blindagem de primeira geração, outras tecnologias foram sendo desenvolvidas e acrescentadas, sem no entanto fazer com que esta deixe de ser usada. A primeira blindagem era constituída por chapas de aço, e as mais modernas blindagens também são constituídas por chapas de aço, de melhor qualidade e com o acréscimo de inovações como veremos a seguir.




As blindagens de primeira geração eram chapas de aço unidas por rebites, que quando impactados, quebravam e eram projetados para dentro, matando ou ferindo os tripulantes. No final da década de trinta ocorreu a primeira grande evolução neste design, quando os russo passaram a soldar as chapas e as montarem com um ângulo de inclinação em relação a trajetória dos projéteis. 

Um impacto que não se dá a noventa graus (ângulo reto) do alvo não tem a mesma eficiência, e portanto pode não perfurar a blindagem. Se penetrar terá que percorrer a chapa blindada em sua diagonal, ou seja, terá que percorrer um caminho maior e consequentemente dissipará mais energia. O simples ato de inclinar a chapa blindada aumenta a sua espessura sem aumentar o peso. Quanto menor for este ângulo, menor a energia dissipada pelo projétil que tenderá a ricochetear e buscar uma nova trajetória. Uma chapa de 50 mm, impactada a 45 graus equivale a uma chapa de 140 mm. O T-34 foi o primeiro carro de combate a usar este tipo de blindagem, que com chapas soldadas de 27,6 mm, tinha o desempenho de uma blindagem de 70 mm graças a sua angulação.




Este padrão de blindagem homogênea predominou durante a segunda grande guerra até a década de cincoenta, sendo que veículos melhor protegidos apenas tinham chapas de aço mais grossas, com consequente ônus no peso do veículo. Porém era necessário melhorar esta proteção que não mais faziam frente as armas anticarro, como as panzerfaust alemãs. Surgiram as homogêneas de segunda geração, blindagens com chapas bimetálicas soldadas e fundidas em forma de sanduíche; sendo a externa de face endurecida por processos térmicos e a outra mais mole e deformável para absorver a onda de choque. esta blindagem passo a equipar os carros de combate desde então como os Leopard I e M60. 




Porém veio a década de sessenta e as blindagens bimetálicas começaram a perder espaço para as ogivas HEAT de carga oca, sendo a popular RPG soviética sua grande representante. Estas munições injetam um jato de alta velocidade de cobra derretido em um pequeno ponto da blindagem derretendo-o. Em face a esta ameaça os construtores de blindagens introduziram a blindagem espaçada, que nada mais é do que uma segunda blindagem afastada alguns centímetros da blindagem principal. Esta pré-barreira tinha por intenção detonar as ogivas que a impactavam fazendo que detonassem precocemente, dissipando sua energia em seu rompimento e fazendo com que chegasse a blindagem principal, além de mais tênue com ângulo menor que os eficientes noventa graus. Esta blindagem equipa os Leopard IA5 do Exército Brasileiro.



 A década de setenta viu a introdução das cargas em tandem onde a primeira carga perfurava a pré-blindagem e a carga principal perfurava a blindagem principal. Estas blindagem permaneceram nos veículos mais leves, sendo os carros de combate, além de incluí-las, passaram a contar com couraças de aço cada vez mais grossas, sendo os carros cada vez mais pesados, onde os explosivos passaram a se mostrar ineficientes. Passou-se a utilizar então da força bruta, com as munições de energia cinética (APDSFS). Este tipo de munição sem explosivo, viaja a grande velocidade (1.400 m/s) e ao impactar seus alvos produziam grande temperatura (cerca de 1.800 graus Celsius) e violenta onda de choque, atravessando todas as camadas de blindagem, e podendo dependendo do alvo, sair do outro lado a atingir outro carro que esteja atrás do primeiro. Estes projéteis são feitos de materiais muito duros como o carbeto de tungstênio e o urânio exaurido, e tem que ser disparada por canhões de alta pressão que lhe imprimem grande velocidade, necessária a sua eficiência.


Fez-se necessários novos desenvolvimento, pois as blindagens não mais faziam frente aos projéteis de nova geração. Engenheiros ingleses deram o primeiro passo na terceira geração de blindagens, inovando com o uso pela primeira vez de materiais não metálicos. Conhecida como blindagem Chobhan, nome da cidade em que foi desenvolvida, estas nova blindagem eram inovadora pois acrescentou aos modelos ja existentes novas tecnologias. Consiste de um sanduíche de placas de cerâmica (óxido de alumínio), kevlar, titânio, blindagens espaçadas com placas de borracha em forma de colmeias, e outros materiais, muitos ainda sob um véu de sigilo. Embora os russo com seu T-64 tenham usado cerâmicas, estas só se tornaram eficientes com o arranjo inglês da década de setenta. esta blindagem mostrou-se eficiente contra os poderosos projéteis tipo flecha (APDSFS), além é claro dos projéteis explosivos (químicos), mais fracos.


Os componentes de cerâmica possuem ponto de fusão entre 2500 e 3000 graus. O Impacto da um projétil tipo APFSDS pode gerar uma onda de choque de 3000 graus se parar instantaneamente. A cerâmica, que é 70% mais leve que o aço e tem uma resistência balística (dureza) cinco vezes maior, é montada na parte externa das viaturas a fim de quebrar a ponta dos projéteis, diminuindo dessa forma a pressão que exercerá sobre as placas metálicas e consequente diminuição da temperatura que irá atingir, muitas vezes insuficiente para derrete-las. Não havendo derretimento não haverá perfuração. Porém se passar, camadas de kevlar com suas propriedades tentarão segurá-lo, e se ainda assim continuar penetrando as blindagens espaçadas preenchidas com colmeias de borracha absorverão a onda de choque e dissiparão o calor, evitando a detonação de munição estocada, fatal para a tripulação. Esta borracha age ainda no primeiro impacto atuando como amortecedor daquele primeiro conjunto, provocando uma desaceleração gradual e absorvendo parte da energia. Após ter sua energia diminuída, o projétil encontrará um segundo conjunto de blindagem e o processo recomeçará, desta vez com a energia já muito diminuída, certamente deformado e sem ponta,  não conseguindo atravessar mais este obstáculo.


As blindagens de quarta geração são feita de materiais "high tech" e podem ser aparafusadas nas blindagens ja existentes ou incorporadas aos novos projetos. A blindagem do Leclerc por exemplo é feita de um material que se expande ao impacto, aumentando sua espessura, do qual se sabe muito pouco. As blindagens aparafusadas podem ser facilmente substituída em caso de avarias.


Existem ainda outros tipos de blindagem como a blindagem tipo gaiola, que consiste em uma grade de barras espaçadas e se destina na evitar a detonação de projéteis disparados por armas tipo RPG. Ao penetrar na grade os dispositivos de detonação não batem em nada, e o corpo mais largo do projétil fica preso na grade sem detonar. Este tipo de blindagem foi está sendo muito usado nas guerras do Iraque a Afeganistão.

As blindagens reativas (ERA) são blindagens espaçadas dotada de explosivos que detonam ao impacto, criando uma onda de choque em sentido oposto a trajetória do projétil, contapondo o jato da explosão espalhando-o, impedindo de chegar a blindagem principal.