FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Guerra Eletrônica - Generalidades *165




O combate moderno é muito mais que a troca mútua entre as partes antagônicas em operações, do efeito letal de seus sistemas de armas disponíveis, como acontecia nos tempos de outrora. Rotinas constantes de segurança do espaço de batalha a fim de preservar ao máximo as forças disponíveis; busca de informações em tempo real, seja para traçar planos ou para implementar medidas de segurança; tarefas administrativas de toda ordem e decisões de comando permeiam todos os cantos deste perigoso espaço, repleto de atividade incessante, onde cada erro cometido pode trazer conseqüências graves. O episódio do HMS Sheffield em 1982, que afundou em conseqüência do impacto de um míssil argentino, ilustra as conseqüências de um erro cometido.

Saber o que o inimigo está fazendo, a fim de prever suas intenções e frustrar sua atividade através de ações de natureza diversa, pontuais ou ostensivas, são tarefas rotineiras que todas as forças em campanha empreendem o tempo todo. Desde o princípio da existência humana as tarefas de esclarecimento e sabotagem sempre fizeram parte da arte militar, e a medida que a tecnologia permitiu no início do século XX, os militares passaram, com o domínio da ciência da eletrônica, a explorar o espectro eletromagnético, uma nova dimensão do combate, em proveito destas 2 práticas milenares.

As missões de esclarecimento envolvem a coleta de dados por todos os meios disponíveis para subsidiar a construção da ordem de batalha inimiga pelas diversas seções de inteligência militar, e seu uso no planejamento das operações. O plano de operações, fruto da informação fidedigna coletada em campo, ao ser posto em ação, acabará por sofrer um natural desgaste devido aos imponderáveis da guerra, e terá que ser constantemente corrigido e adaptado pelas seções de comando e controle (C2) a medida que a situação vai evoluindo, e novas configurações tático-operacionais vão se delineando.

Na guerra moderna, quem tem as melhores informações, age primeiro e força o inimigo a reagir, impedindo que siga seu próprio plano. Aquele que detém a iniciativa escolhe onde e quando lutar, ditando os rumos do combate. Dominar o campo de batalha eletrônico é o cerne das ações de esclarecimento e a chave da vitória nos embates travados no moderno ambiente “high tech” imposto pela sofisticação tecnológica das forças de combate da atualidade.

Toda e qualquer ação que envolve o uso do espectro eletromagnético para controlá-lo, aproveitando-se de suas propriedades ou negando seu uso, visando apoiar as operações, são classificadas como operações de Guerra Eletrônica (Eletronic Warfare – EW). O ambiente eletromagnético é o espaço virtual onde se travam as operações de EW, e a exploração deste espectro, seja para missões de esclarecimento ou ataque, ou ainda para dificultar sua utilização pelo inimigo, frustrando suas emissões, passou a cada vez mais ganhar importância no combate de alta tecnologia travado nos campos de batalha do nosso tempo.

A EW seja ela de natureza passiva ou ativa, visa permitir a eficiente exploração do espectro eletromagnético, a fim de viabilizar a captura de emissões hostis e determinar suas características, assegurar que as emissões eletromagnéticas próprias cumpram seus objetivos com o mínimo de interferência externa, sejam na exploração das comunicações militares ou na coleta de informações sobre o inimigo, e ao mesmo tempo impedir que este tire proveito destas emissões ou de suas próprias, através da degradação de suas comunicações e do bloqueio de seus meios de coleta de informações, bem como do emprego efetivo de suas armas.

Os sistemas de guerra eletrônica podem ser ofensivos ou defensivos, usados para proteger comunicações, monitorá-las ou degradá-las; captar toda a gama de emissões presentes, classificá-las e analisá-las; e usar emissões para interferir e degradar os sistemas inimigos e buscar informações. Faz parte ainda do universo da guerra eletrônica, porém fugindo ao espectro eletromagnético, a exploração eletrônica análoga de ondas sonoras na guerra submarina.




Este gráfico esquemático procura dar uma idéia da realidade de uma campo de batalha eletrônico. A força que está avançando tem seu posto de comando (1) e vários enlaces de rádio (2,3,4). Os enlaces incluem um posto de comando (1) e postos de comando móveis (3,4); o posto de comando das unidades de reconhecimento (4) às suas patrulhas (5); o observador avançados às suas baterias de artilharia (6). Sensores eletrônicos incluem radares de defesa aérea (7) e suas baterias antiaéreas para fazer face a aviação tática inimiga (16) e reconhecimento terrestre (8). Para a força de defesa ao fundo a prioridade é utilizar medidas de apoio eletrônico (ESM) para elaborar uma imagem da ordem de batalha inimiga (EOB). As ESM consistem de radar aerotransportado para detecção e análise de monitoração terrestre (9) e atividade de sigint (11). Uma vez que a EOB foi estabelecida, parte-se para elaborar a linha de ação a ser adotada. Existem ocasiões em que será mais vantajoso a monitoração de uma rede de rádio do que com sua interferência. No caso da segunda possibilidade, pode-se lançar mão de interferidores de campo (9, 10, 12, 13), dependendo do terreno, das localizações e das freqüências envolvidas. Alternativamente a informação obtida das ESM pode fornecer alvos para a artilharia (14) e outros meios de apoio de fogo. È vital que a batalha eletrônica seja controlada e coordenada (15).

A Batalha de Tsushima em 1905 durante a guerra russo-japonesa marcou os primeiros passos desta nova dimensão do combate, quando os russos interceptaram comunicações radiotelegráficas de seus adversários, com um cruzador japonês transmitindo para o seu QG a posição da frota do Kzar. Um comandante solicitou permissão para interromper o link japonês através da sobreposição de uma sinal de rádio mais intenso, o que lhe foi negado. A frota russa foi dizimada pela inépcia do seu almirante, que poderia ter evitado que a inteligência japonesa soubesse sua localização, devido à falta de cultura no campo da EW.

Na Primeira Guerra Mundial ocorreram interceptações, monitorações e interferências em radiofreqüência, ainda que em alguns episódios e não como uma prática sistêmica. A Segunda Guerra Mundial testemunhou o uso em larga escala da criptografia por meios mecânicos e eletro-eletrônicos, e a invenção do magnetron de cavidades ressonantes permitiu a instalação dos primeiros sítios de radar na costa britânica. Receptores dispostos em alturas e ângulos diferentes determinavam a posição dos atacantes por triangulação. A atividade neste campo foi intensa com bombardeiros alemães atacando à noite as ilhas britânicas fazendo uso de radar embarcado e direcionamento por feixe eletrônico, e os radares costeiros de sua majestade fazendo o alerta da incursão destes bombardeiros, direcionando os caças da RAF para interceptá-los. O uso do “chaff” foi uma das primeiras tentativas de interferir nestas operações.

O Sistema de Lorenz criado comercialmente pelos alemães para orientar o pouso noturno em aeroportos, foi usado para orientar os bombardeiros na Batalha da Inglaterra. Antenas dos dois lados da pista com pulsos diferenciados diziam a aeronave se estava muito à direita ou à esquerda, e se estivesse na posição correta a combinação dos dois sinais produzia um pulso contínuo, permitindo um pouso seguro. Antenas grandes e de azimute estreito cruzavam seus feixes sobre os alvos, e os pilotos se orientando por eles com um sinal de áudio, sabiam se estavam sobre o alvo e liberavam suas bombas com relativa precisão. Os ingleses logo descobriram este sistema a passaram a transmitir sinais de CW na mesma freqüência e grande potência, frustrando o sistema. Um método similar foi usado pelos ingleses em seus bombardeios, também sujeito à interferência.

Durante o conflito no Vietnam norte-americanos e norte-vietnamitas travaram um embate entre bombardeiros e SAMs com acentuada  disputa de meios eletrônicos. Sistemas especialmente desenvolvidos pelos norte-americanos, com caças-bombardeiros especializados denominados “Wild Weasel” fizeram largo uso de meios interferidores e de alerta-radar, bem como de mísseis guiados por radiação enfrentando os sítios de SA-2 russos cedidos aos vietnamitas. 

Surgiram neste período os emissores com salto de freqüência, tornando mais difícil sua monitoração. A Guerra fria foi marcada por intensa atividade neste campo, com ambos os lados empreendendo ações de espionagem eletrônica, como demonstrou o episódio da derrubada do U2 em 1960. Constantemente aeronaves da NATO e do Pacto de Varsóvia faziam voos visando “acordar” os sistemas de defesa para testá-los e gravar dados de seus sensores.

A Guerra dos 6 Dias em 1967 e do Yom Kippur em 1973 apresentaram novidades como o radar pulso-doppler e os mísseis IR e seus engodos. No segundo dia da Guerra do Yom Kippur, 5 navios israelenses se aproximaram do porto sírio de Latakia, foram atacados por mísseis P-15 Termit (Styx) e empregaram com sucesso medidas de EW para bloquear os sistemas de orientação dos mísseis russos, retornando o fogo com mísseis Gabriel que afundaram 2 barcos sírios e danificaram um terceiro, no episódio que ficou conhecido como a Batalha de Latakia.

Devido as condições extremas, os recursos de EW não foram explorados com excelência no conflito de 1982 nas Falklands/Malvinas. As forças argentinas não dispunham de equipamento mais sofisticado e os britânicos não tiveram tempo de trazê-lo de tão longe. As aeronaves Nimrod AEW&C não foram utilizadas na sua plenitude devido a falta de bases próximas. A falta de presteza no uso dos recursos eletrônicos disponíveis resultou no impacto de um míssil antinavio Exocet contra o destroyer HMS Sheffield, que segundo um oficial britânico, tinha todos os meios para evitá-lo.

Em 1989 na invasão do Panamá fez-se uso pela primeira vez de bombardeiros de baixa detectabilidade (popularmente conhecidos como aviões invisíveis), com bombardeiros F-117 Nighthawk. A primeira Guerra do Golfo em 1991 estreou o GPS em combate, que se mostrou muito vulnerável a interferência. Neste conflito tivemos intenso uso de meios eletrônicos como os AWACS, JSTARS, eletro-óticos noturnos e outros.

A guerra moderna depende visceralmente de meios eletrônicos para coleta de inteligência, comunicações e direção de sistemas de armas, e frustrar o uso eficaz do espectro eletromagnético para estes fins é a finalidade da EW, que é de suma importância para se adquirir a superioridade militar, tática e estratégica. Esta breve introdução com um pequeno relato histórico procura ilustrar a importância deste ramo da atividade militar na guerra moderna, que caminha para realidades extremamente sofisticadas, com impressionantes tecnologias que estão surgindo nos centros de pesquisa e logo estarão disponíveis às operações.




Formas de Exploração da Guerra Eletrônica

Guerra eletrônica é a designação genérica que se dá ao conjunto de atividades distintas que envolvem a utilização do espectro magnéticos para atingirem seus objetivos. A exploração deste universo envolve 3 formas distintas de ações: as Medidas Eletrônicas de Apoio (MEA) (Eletronic Support Measures -   ESM), as Contramedidas Eletrônicas (CME) (Eletronic CounterMeasures -  ECM) e as Contra-Contramedidas Eletrônicas ou Medidas de Proteção Eletrônica (MPE) (Eletronic Counter-CounterMeasures -  ECCM).

As Medidas Eletrônicas de Apoio (MEA) (Eletronic Support Measures - ESM) são a primeira forma de exploração da EW e consistem na obtenção de inteligência militar a partir da detecção, interceptação, monitoração, localização, avaliação, identificação da fonte, gravação e registro de sinais eletromagnéticos emitidos pelo inimigo, usando o resultado como subsídio no planejamento e condução das operações. Emitir radiação, como por exemplo o uso do radar de uma aeronave de ataque pode alertar os sistemas de vigilância na metade do tempo em que o sistema emissor levará para obter a informação desejada.

Receptores ESM/MAGE sempre estarão em alerta a procura de emissões hostis, e quanto mais longa a distância da emissão, mais úteis ao inimigo, uma vez que o retorno sofre atenuações e podem nem retornar ao emissor, porém terão alertado as ESM de vigilância. Um periscópio de submarino saberá que um radar o “iluminou” antes que este mesmo saiba, e se recolherá às profundezas. 

Classificamos como ESM toda medida que vise a utilização de meios eletrônicos, ativos ou passivos, para coleta de inteligência militar sem a finalidade de interferir na operação de meios eletrônicos inimigos.

Emitir radiação no campo de batalha é uma prática que deve ser feita com critério, e nem sempre é vantajoso se valer deste recurso. Além do alerta antecipado, as ESM se prestam a formar bibliotecas de emissões para subsidiar o desenvolvimento das ECMs. Quando em atividade passiva, pode-se fazer uso ostensivo das ESMs, sem precisar valer-se de disciplina em relação ao inimigo.

As Contramedidas Eletrônicas (CME) (Eletronic CounterMeasures -  ECM) são uma segunda forma de exploração da EW e visam impedir ou reduzir o emprego eficiente do espectro eletromagnético pelo inimigo. As ECM podem ser implementadas de forma ativa e passiva, aplicando energia a fim de degradar seus sistemas de comunicações ou obtenção de informações e aquisição de alvos. Os alvos das ECM são os sensores eletrônicos em atividade ESM e as comunicações militares vitais ao desenrolar das operações, bem como os sistemas de direção de sistemas de armas. Um míssil prestes a atingir um navio, pode ter seu alvo aumentado com a emissão de lâminas “chaff”, não sabendo distinguir o que é navio e o que não é. Um sistema de guiagem recebendo dados de sua nave “mãe” pode ter sua freqüência saturada com emissões mais fortes, perdendo totalmente seu rumo.

ECMs ofensivas consistem em interferidores que lançam radiação eletrônica pesada saturando os sensores inimigos, como por exemplo uma aeronave de EW acompanhando uma força de ataque que lança sua interferência contra os radares antiaéreos de redes SAMs e canhões, cegando-os e permitindo que as aeronaves atacantes passem sem serem atingidas pelo fogo de terra, que mesmo que disparado, será a esmo, se a interferência for efetiva. Como ECM passivas temos os anteriormente citados “chaffs” que são partículas metalizadas que reflete os radares e criam falsos alvos, desorientando armas guiadas eletronicamente.

Contra-Contramedidas Eletrônicas ou Medidas de Proteção Eletrônica (MPE) (Eletronic Counter-CounterMeasures -  ECCM): Esta terceira forma de exploração da EW tem por objetivo assegurar a utilização eficiente do espectro eletromagnético provendo proteção aos sistemas eletrônicos próprios, visando a ineficiência dos sistemas de ESM e ECM do oponente. As ECCMs são implementadas pelo planejamento no emprego dos sistemas eletrônicos próprios e pela utilização de tecnologias incorporadas aos equipamentos

Essas formas de exploração da EW são apresentadas separadamente para uma melhor compreensão do assunto, no entanto quando se trata de uma abordagem mais operacional elas se apresentam intimamente relacionadas, pois interagem em um ciclo contínuo no transcorrer das operações. As ESM fornecem os alvos para a ECM, enquanto que as ECCM procuram reduzir a vulnerabilidade dos próprios sistemas a ação das ESM e ECM inimigas. Como exemplo de ECM temos as tecnologias de baixa visibilidade cada vez mais presentes nas aeronaves e navios de guerra modernos, baixas emissões de IR, formas defletoras e materiais absorventes de radiação (radar). Rádios com salto de freqüência e disciplina de emissões são exemplos de ECCMs.




Possibilidades da Guerra Eletrônica


  • Identificação e exploração de alvos: Consiste em vigiar o espectro eletromagnético, interceptando e  identificando emissões hostis e desconhecidas, registrando suas características como frequência e intensidade do sinal, por exemplo, e explorando seu conteúdo a fim de obter informações úteis como o teor de mensagens inimigas e os parâmetros de operação de radares permitindo a construção de equipamentos interferidores.
  • Localização eletrônica: consiste na localização de equipamentos emissores de sinais eletromagnéticos por meio de radiogoniometria a fim de determinar sua posição no terreno.
  • Interferência: consiste na emissão de sinais eletromagnéticos a fim de degradar ou inviabilizar a operação de meios eletrônicos inimigos.
  • Dissimulação: consiste na emissão de sinais eletrônicos no sentido de iludir o inimigo, enviando sinais e mensagens falsas, fazendo-o acreditar naquilo que não existe.
  • Bloqueio: consiste em reduzir ou anular a recepção, pelo inimigo, de seus sinais eletrônicos, impedindo, por exemplo, que faça uso de suas comunicações eletrônicas.
  • Despistamento: consiste na irradiação intencional, reirradiação, alteração, absorção ou reflexão da energia eletromagnética, com o objetivo de induzir o inimigo a interpretar o sinal de modo equivocado.



Ações Operacionais Desempenhadas pelos Sistemas de GE

  • Explorar continuamente o espectro eletromagnético de forma a mapear todas as emissões existentes, procurando identificá-las em todos os seus aspectos relevantes, individualizando o tipo de transmissor, seus parâmetros operacionais e sua localização, criando e alimentando bancos de dados sobre os sistemas existentes.
  • Localizar fisicamente a posição de cada emissor, para que possam ser batidos pelo fogo, se assim for decidido.
  • Lançar interferência eletrônica ativa junto aos sistemas inimigos, a fim de debilitar sua eficiência operacional.
  • Privar o inimigo do uso de seus sistemas de comunicação, através de ações de interferência eletrônica.
  • Interceptar os sistemas de comunicações inimigos a fim monitorar suas mensagens e dessa forma, obter informações de combate relevantes.
  • Interferir de forma passiva e ativa em sistemas de controle de armas, como mísseis e bombas voadoras, radares de busca de alvos, radares de defesa antiaérea, sistemas eletro-óticos e outros.
  • Simular junto aos sistemas inimigos alvos falsos ou de valor alterado, a fim de faze-los acreditar em situações operacionais irreais.
  • Impedir que o inimigo faça uso eficiente de seus sistemas de GE, através de medidas passivas como o uso de tecnologias furtivas, criptografia e salto de frequência, emissões disciplinadas, dispositivos de redução de assinatura térmica e outros.
  • busca de informações de combate de toda ordem com o uso de radares de todos os tipos, sonares, equipamentos MAGE, sensores IR e eletro-óticos, radiogoniômetros, sistemas de alerta-radar (RWR) e outros.

domingo, 28 de abril de 2019

Explosivos - Noções Básicas *164



por Walter Dornberger

Explosivos são substâncias ou compostos que, por ação de uma causa externa (calor, choque, descarga elétrica, etc.) são capazes de gerar explosão, uma reação química caracterizada pela liberação, em breve espaço de tempo e de forma violenta, de calor, gás e energia mecânica. São usados como carga em bombas, granadas e minas; como propelentes para projéteis de armas leves e artilharia; e em engenharia, terraplanagem, mineração e demolição (militar ou comercial) de construções e outras estruturas.

Explosivos 

São classificados em 'baixo' e 'alto' poder explosivo.
  • Baixo-explosivos agem por 'deflagração', através de combustão, da queima do material, com a explosão se propagando a alta velocidade subsônica, da ordem de centímetros ou metros por segundo, exemplo: pólvora negra e todos os propelentes.

  • Alto-explosivos agem por 'detonação', através da quebra da estrutura molecular do material, com a explosão se propagando a velocidade supersônica, da ordem de 1.000 a 10.000 metros por segundo, exemplo: nitroglicerina e todos os explosivos modernos.

As propriedades características de um explosivo são: sensibilidade, estabilidade e potência.
  • Sensibilidade é a aptidão do explosivo de reagir a uma causa externa mais ou menos intensa; depende de sua natureza química e varia com o estado físico, conservação, estrutura, etc.
  • Estabilidade é a capacidade do explosivo de manter inalterada sua composição química no tempo, sob condições normais de conservação. As principais causas de instabilidade são a constituição do explosivo e os agentes externos: temperatura, umidade, exposição à luz, etc.
  • Potência é dada pelo conjunto de efeitos mecânicos que um explosivo é capaz de produzir; depende de vários fatores: volume de gases gerados, quantidade de calorias desenvolvidas, pressão máxima obtida e velocidade de propagação.

Além da potência total de energia liberada pela explosão, um explosivo pode ser caracterizado pelo efeito de sopro e choque da explosão, chamado de 'brisagem'.



A maioria dos alto-explosivos modernos é 'estável' e 'insensível', isto é, resistente à detonação acidental, necessitando de um detonador ou espoleta específicos para explodir. Certos explosivos necessitam de uma carga explosiva secundária, de maior sensibilidade e ativada pelo detonador, para funcionar.

Propelentes também necessitam de uma espoleta adequada e às vezes de uma 'carga de ignição' secundária para operarem.

Incendiários

São materiais utilizados para iniciar e propagar fogo em larga escala. O material mais conhecido é o 'napalm', gasolina gelatinizada.

Embora o termo 'pirotécnicos' possa ser aplicado a explosivos e incendiários, ele normalmente é utilizado para rotular uma miscelânea de materiais usados para gerar chama, luz, calor, ruído, fumaça ou gás. Dispositivos pirotécnicos incluem fósforos de cozinha, sinalizadores, granadas de fumaça, infladores de airbags, foguetes de iluminação, pastilhas combustíveis para fogareiros de camping, acionadores de assentos ejetores em aviões militares e separadores de estágio usados em foguetes espaciais.


PRINCÍPIOS BÁSICOS

Muitos pirotécnicos e baixo-explosivos operam pelo processo de combustão, no qual um combustível combinado com oxigênio libera calor, luz, fumaça ou gás. Nestes materiais, o componente combustível é misturado com um componente oxidante, que libera oxigênio quando aquecido: a taxa de combustão é limitada se o processo depende apenas do oxigênio atmosférico. Por exemplo, o combustível na pólvora negra é fornecido pelo carvão e pelo enxofre, com o oxidante sendo o salitre (nitrato de potássio, KNO3).

O acondicionamento da mistura pirotécnica afeta seu comportamento. Confinamento acelera a combustão, concentrando o calor e gás quente. De fato, pólvora negra irá queimar ao invés de explodir se não for embalada propriamente. A taxa de combustão também é acelerada pela homogeneidade da mistura: pólvora fina irá queimar mais rápido que pólvora de grãos maiores.

Explosivos líquidos são perigosos porque são extremamente homogêneos: a mistura ocorre a nível molecular, e são muito sensíveis a choque físico. Explosivos líquidos tendem a precipitar e separar seus componentes quando armazenados, mudando suas propriedades químicas, e geralmente não para melhor. Adicionar materiais abrasivos a um explosivo aumenta sua sensibilidade, adicionar lubrificante como ceras torna o explosivo mais estável.

Materiais que reduzem a sensibilidade dos explosivos são chamados de 'estabilizadores' ou 'moderadores'. A maioria dos explosivos opera pelo rompimento químico de suas estruturas moleculares, e não por combustão. Nitroglicerina, por exemplo, tem a fórmula molecular C3N3H5O9. Qualquer perturbação suficiente, como um choque físico, causa sua decomposição em dióxido de carbono (CO2), água (H2O), nitrogênio (N2), e um pequeno excesso de oxigênio (O2). O processo ainda envolve reações de oxidação, mas o oxigênio é parte da molécula. Durante a quebra da nitroglicerina, os laços atômicos oxigênio-nitrogênio são substituídos por laços mais estáveis carbono-oxigênio, hidrogênio-oxigênio e nitrogênio-nitrogênio, com esse  processo acompanhado de violenta liberação de energia.

Explosivos, incendiários e pirotécnicos podem ser iniciados por chama, fricção, impacto, choque elétrico, altas temperaturas, e mesmo um feixe de laser.

Certos metais têm propriedades pirotécnicas: magnésio, alumínio, zircônio, e urânio, inflamam-se a altas temperaturas e queimam liberando muita energia. Alumínio em pó é muito usado como aditivo em explosivos e magnésio é usado em sinalizadores luminosos. Incidentalmente, alumínio sólido não queima bem: a combustão gera uma camada de óxido superficial que barra a queima.

BAIXO-EXPLOSIVOS: PÓLVORA NEGRA

O primeiro explosivo digno desse nome foi a pólvora negra, desenvolvida pelos chineses por volta do ano 1000 dC, e usada por eles em fogos de artifício e também em armas: lançadores de flechas, projéteis incendiários, bombas, minas, e canhões primitivos. A pólvora negra chegou ao Ocidente na Idade Média, possivelmente transmitida pelos árabes, sendo mencionada pelo monge inglês Roger Bacon em 1267: as primeiras fórmulas europeias seguiam fielmente as receitas chinesas, aperfeiçoadas por anos de experimentação, mas utilizando alguns ingredientes que não tem na verdade nenhuma utilidade. No século 14, novas armas usando a pólvora negra como explosivo ou propelente começaram a surgir: 'petardos' ou minas, para derrubar muralhas; bombas de arremesso manual; mosquetes disparando balas de chumbo; 'bombardas' disparando pedras. A pólvora negra evoluiria para dominar os campos de batalha, permanecendo como único explosivo e propelente até o século 19.



As primitivas fórmulas chinesas consistiam em pesos iguais de carvão, enxofre e salitre. A pólvora negra exige o uso de carvão vegetal. Carvão mineral não funciona, pois a estrutura celulósica da madeira, mantida no carvão vegetal, afeta o funcionamento da pólvora. Salitre é um material cristalino, branco brilhante, que pode ser encontrado nas paredes de cavernas de morcegos ou em pilhas de esterco envelhecido, produzido por bactérias que se alimentam de dejetos orgânicos. Quimicamente é constituído de nitrato de potássio (KNO3) e nitrato de cálcio (CaNO3).

Até meados do século XV, a pólvora usada era uma mistura simples dos ingredientes, farinhosa e negra, denominada de 'pólvora serpentina', por ser sibilante, ou seja, fazer mais ruído que efeito. Tinha uma dosagem de base chamada 'quadra-ás-ás', quatro partes de salitre por uma de carvão e uma de enxofre. Como explosivo deixava a desejar: era fraca, insegura, absorvia umidade, difícil de usar, perigosa de fabricar e difícil de transportar. Para garantir um mínimo de funcionamento seguro, seus componentes tinham de ser de boa qualidade, finamente moídos e misturados nas quantidades adequadas.

Carvão e enxofre são materiais abundantes, já o salitre era difícil de obter na Europa. No sul da China, de clima quente, alternadamente úmido e seco, o salitre se forma espontaneamente nas pilhas de esterco das fazendas. No norte da Europa, sempre frio e úmido, produzir salitre era difícil e desagradável. Esterco era armazenado em locais cobertos, periodicamente 'regado' com urina, e revirado constantemente. Depois de um ano ou mais desse processo, refinava-se o esterco para extrair o salitre: não era uma profissão muito atraente. Mas os artífices da pólvora e mestres-artilheiros medievais, meio alquimistas, eram tidos em grande consideração e existiram em quase todas as cidades do período. Alguns nomes chegaram até nós: os italianos Nicola Tartaglia, de Bréscia; Alessandro Capo Bianco, de Vincenza; e Pietro Sardi, de Veneza; os alemães Martin Mercz e Joseph Furttenbach. As investigações desses homens oscilavam entre a experimentação e a feitiçaria. Por exemplo, a busca do tipo de urina mais adequado à confecção de pólvora: seria melhor a urina de uma virgem, de um padre bebedor de cerveja ou de um bispo bebedor de vinho? A urina dos bebedores de vinho, bispos ou não, provou-se a melhor: sua acidez favorecia o crescimento das bactérias geradoras do salitre, o que foi constatado na prática muito antes que a ciência soubesse o porquê.

Os solavancos do transporte nos lentos comboios de carroças pelos ásperos caminhos da época provocavam a separação dos componentes da pólvora nos barris, fazendo com que o salitre e enxofre (densidade 1,6-2,1 gramas por centímetro cúbico) afundassem nos contentores, ficando na superfície o leve pó de carvão (densidade 0,2-0,4 gramas por centímetro cúbico). Para lidar com esse inconveniente, os ingredientes eram transportados em separado e misturados na hora do combate, ou seja, às presas sob fogo inimigo, com brasas e faíscas em redor. Os três ingredientes eram moídos juntos num pilão, um processo perigoso, que gerava poeira fina altamente inflamável. Nos dias de chuva, para alívio de inimigos (e amigos), sua utilização era impossível. Os atiradores tinham de ser muito cuidadosos na maneira de carregar a pólvora em suas armas. Se ela fosse muito compactada dentro do cano iria queimar na superfície, como num foguete, sem explodir. Para explodir, era necessário deixar espaço entre os grãos: não por causa do ar, já que o salitre fornece o oxigênio, mas para garantir a propagação da chama pela carga.

O mais relevante avanço na produção de pólvora negra ocorreu na Alemanha, por volta de 1410, sendo mencionado no 'Feuerbuch', Livro do Fogo, de Konrad Von Schongau, em 1429. O processo, usado ainda hoje, consistia na mistura dos componentes num líquido, na época vinho diluído com água ou (de novo) urina, durante a moagem para reduzir o risco de explosão. A pólvora umedecida podia ser comprimida em blocos ou 'bolos' que, depois de secos, podiam ser moídos. Essa pólvora 'granulada' podia ser carregada com muito menos cuidados, já que os grãos deixavam o espaço necessário para a propagação da chama. Nessa nova forma, era bastante estável, pois seus componentes já não se separavam, permitindo um rendimento balístico consistente. Podia ser transportada com maior segurança, era menos sensível à umidade, menos suja e mais potente, permitindo a fabricação das primeiras armas portáteis verdadeiramente eficientes.

A pólvora podia ser peneirada e separada em diferentes granulações de grossura homogênea.

Eventualmente se chegou à fórmula clássica da pólvora negra, ainda em uso: uma mistura de carvão, enxofre e salitre nas proporções 15:10:75 por peso, estabelecida numa série de testes efetuados em Bruxelas em 1568. Com efeito, depois das pólvoras militares com dosificação regulamentar e granulação média, apareceram outras, como as pólvoras finas para caça, com mais salitre e menos carvão; as pólvoras progressivas para artilharia, com grãos do tamanho de nozes; e as econômicas pólvoras de minas, com menos salitre, mais carvão e mais enxofre.

Engenheiros e mineradores foram lentos em adotar a pólvora negra. A menção mais antiga a seu uso civil data da metade do século 16 e não se disseminou durante um século. Essa lentidão deveu-se ao custo de fabricação, especialmente do refino do salitre, e à curva de aprendizagem demorada no uso de explosivos. Mineradores em especial foram compreensivelmente cautelosos em adotar explosivos em seus túneis subterrâneos, mas nos séculos 18 e 19 a pólvora negra se estabeleceria como ferramenta padrão na mineração e engenharia.

A indústria Bofors, estabelecida na Suécia em 1646 e ainda em operação, foi pioneira na fabricação comercial de pólvora negra. Os elementos de um moinho de pólvora eram separados entre si em construções de paredes triplas espessas com uma quarta parede e um teto fino para desviar uma eventual explosão dos outros prédios. A pólvora era moída sob pesadas rodas de pedra, nós, e umedecida com água destilada para evitar explosões. O produto final era prensado em blocos, duros como pedra, que eram partidos em grãos. Passando por uma série de peneiras, os grãos eram separados por tamanho, e então polidos por atrito em tambores giratórios, ganhando um acabamento de grafite, que os impedia de aglomerar quando estocados. A produção de carvão vegetal foi aperfeiçoada e a indústria química desenvolveu métodos científicos de produção de salitre. De início, não havia como separar o nitrato de potássio do nitrato de cálcio. Ambos funcionam igualmente como oxidantes, mas o nitrato de cálcio é altamente 'higroscópico', ou seja, absorve muito mais a água da atmosfera: a pólvora negra feita com ele se inutiliza pela umidade muito mais facilmente. Por tentativa e erro, acabou-se descobrindo meios de separar os dois tipos de salitre.

Um tipo especial de pólvora industrial foi inventado usando nitrato de cálcio, muito mais barato que o nitrato de potássio, com os grãos intensamente polidos para prevenir a absorção de água. Até o início do século 19, sua produção tinha se tornado um eficiente processo industrial.

A pólvora negra é um excelente explosivo em muitos aspectos. Suas matérias-primas são abundantes, não-tóxicas e ambientalmente seguras. Ela é estável, resistente ao choque e pode ser armazenada indefinidamente se mantida seca.



Ela pode ser facilmente acionada por uma faísca ou chama, o que nem sempre é uma vantagem. A pólvora negra também tem sérias limitações: ela tem de ser mantida seca e protegida da umidade do ar, o que pode ser difícil á bordo de navios ou em tempo chuvoso. Sua potência explosiva é limitada. Grande quantidade dela tem de ser usada para conseguir qualquer efeito sério, e sua baixa brisagem deixa muito a desejar para o uso em mineração e terraplanagem.  Suas propriedades explosivas são por vezes imprevisíveis: às vezes ela se incendeia rapidamente, por vezes não, aumentando os riscos de sua utilização. Sua queima é 'suja', 'entupindo' as armas com resíduos após uns poucos tiros. Os campos de batalha nos dias da pólvora negra eram cobertos por nuvens de fumaça e fuligem. Embora as primeiras armas de repetição datem dessa época, a sujeira rapidamente acumulada nos canos e mecanismos limitava severamente sua eficiência. Os resíduos de combustão também aderiam aos projéteis, contaminando as feridas e elevando muito a já alta taxa de infecções entre os feridos das batalhas da época. Ferimentos à bala nos membros eram tratados com amputação sumária: tiros no ventre, peito ou cabeça eram quase sempre fatais.

Melhores explosivos começaram a aparecer por volta da metade do século 19. A pólvora negra acabaria restrita, pelo seu baixo custo, ao uso em fogos de artifício.

ALTO-EXPLOSIVOS COMERCIAIS: NITROGLICERINA, DINAMITE E ANFO

Em 1846, um químico italiano chamado Ascanio Sobrero adicionou glicerina a uma mistura de ácidos nítrico e sulfúrico, resultando numa explosão que quase o matou. Ele batizou o líquido amarelo e oleoso de nitroglicerina, o primeiro alto-explosivo, e abandonou suas pesquisas.

Um industrial sueco chamado Immanuel Nobel iniciou a produção de nitroglicerina para mineração em 1863. O processo envolvia a mistura de glicerina com ácidos em várias etapas, usando gelo e água como refrigeração. Nitroglicerina não pode ser detonada por uma simples mecha: um fósforo lançado em um frasco de nitroglicerina irá se apagar; mas é muito sensível ao choque, exatamente o oposto da pólvora negra. Em 1865, o filho de Immanuel, Alfred Nobel, desenvolveu o primeiro detonador, uma cápsula explosiva contendo uma pequena carga de fulminato de mercúrio (a ser visto adiante) com um pavio. O detonador Nobel foi um significativo passo adiante no desenvolvimento dos explosivos modernos.

Nitroglicerina é um explosivo líquido perigosamente sensível. De fato, ele é tão inseguro que é difícil entender o porquê dele ter entrado em uso. Um dos irmãos Nobel, Emile, morreu num acidente com ela. Muitas vezes ela era transportada como carga normal, sem avisos de alerta para indicar cautela no manuseio, e acidentes graves aconteceram, levando à proibição da nitroglicerina em muitos países. No fim da década de 1860, descobriu-se que a nitroglicerina não detonava quando congelada, e ela começou a ser despachada para transporte nesse estado. Mas isso era apenas uma solução provisória.

Alfred Nobel descobriu que a nitroglicerina era muito menos sensível quando absorvida por 'farinha fóssil' proveniente das jazidas alemãs de Kieselguhr. A farinha fóssil, também chamada 'terra diatomácea' ou 'diatomita', é um mineral formado por esqueletos de algas diatomáceas, microorganismos marinhos; é uma rocha siliciosa, porosa, leve e absorvente. Este material podia ser embalado em tubos de cartolina, sendo fácil de transportar, manusear e detonar. Mais seguro do que a nitroglicerina, e até mesmo do que a pólvora negra, Nobel a batizou 'dinamite' e ela se tornaria o explosivo industrial padrão.

Dinamite oferecia muito do poder da nitroglicerina com grande segurança. Mas não era perfeita. A dinamite em armazenagem tende a 'transpirar' nitroglicerina, formando bolhas na superfície dos bastões. Em baixas temperaturas cristais de nitroglicerina, bastante sensíveis, se formam dentro dos bastões. Outro problema é que a nitroglicerina causa dilatação dos vasos sanguíneos, e pode ser absorvida pela pele: pessoas que manuseiam dinamite são sujeitas a fortes dores de cabeça. Por essa propriedade a nitroglicerina é usada em pequenas doses como remédio para cardíacos.



A tendência da dinamite a se tornar sensível em armazenamento torna sua estocagem perigosa, e os militares nunca aderiram ao seu uso. Em 1875, Nobel misturou nitroglicerina e nitrocelulose produzindo 'gelatina explosiva' ou 'gelinite', mais estável e capaz de detonar sob a água. A gelinite é classificada como dinamite de base ativa, onde a nitroglicerina é absorvida por uma substância que reforça suas propriedades explosivas, ao contrário da dinamite de base inerte, baseada em diatomita ou outro material que não participe da reação explosiva. Outra forma de dinamite de base ativa usa o 'nitrato de amônia'.

Apesar de suas limitações, a dinamite permaneceu o explosivo comercial predominante até a década de 1950, quando o nitrato de amônia começou a predominar. Nitrato de amônia (AN, com fórmula química NH4NO3) é útil como explosivo quando misturado com outros combustíveis ou explosivos, tendo sido usado por Alfred Nobel como aditivo da dinamite a partir de 1867. Uma mistura de nitrato de amônia e óleo diesel, conhecida como ANFO (ammonium nitrate fuel oil) é hoje comumente usado como explosivo industrial, e também é a base da maioria das receitas 'caseiras' de explosivos. O óleo no ANFO fornece energia, e o nitrato de amônia  provê oxigênio para a combustão do óleo. A ruptura da molécula do nitrato de amônia também produz energia, dando ao ANFO potência adicional. Ele é muito mais barato e menos sensível que dinamite.

A princípio, ANFO pode ser feito em casa misturando diesel e fertilizante AN até obter a consistência de pasta de dente. Na prática, não é tão fácil. Fertilizante comercial não tem a pureza necessária e nitrato de amônia de alta pureza é um material estritamente controlado: uma mistura diesel-fertilizante irá queimar sem explodir. Sulfato de potássio (K2SO4) pode ser usado como aditivo, mas as proporções da mistura são críticas: pouco não explode, em excesso torna-se imprevisível. Sintetizar ANFO é uma brincadeira perigosa. Em 1947 três navios carregados de nitrato de amônia explodiram em portos franceses e americanos, causando cerca de mil mortes e gerando mudanças nas normas de segurança e transporte do produto.

Nitrato de amônia é usado como base no explosivo gelatinoso chamado GSX (gelled slurry explosives), usado em mineração. Uma formulação típica é AN mais alumínio em pó, misturado com óleo leve e com poliestireno como espessante. Isso forma uma mistura gelatinosa que pode ser bombeada em buracos perfurados em rocha dura, possuindo alta brisagem.

Minas de carvão, um ambiente cheio de poeira altamente inflamável, são vetadas ao uso de qualquer tipo de explosivos. Como substituto, usa-se uma 'carga detonante' consistindo de um cilindro cheio de dióxido de carbono líquido e contendo um elemento aquecedor. O CO2 expande rapidamente quando o elemento aquecedor é ativado, gerando uma explosão sem chamas.

ALTO-EXPLOSIVOS MILITARES

Nitroglicerina, dinamite e ANFO não são convenientes para uso em combate, embora todos eles tenham tido algum uso militar. Explosivos específicos de uso militar foram desenvolvidos e adotados e, embora tenham algum uso civíl, são relativamente caros para aplicação comercial. O explosivo militar ideal combina potência, facilidade de manejo, capacidade  de estocagem prolongada em qualquer clima, e dificuldade em detonar exceto em condições precisamente específicas. Ele também tem de ser carregado em granadas, bombas e similares; ser fundível ou plástico, para permitir o carregamento; e insensível o bastante para ser armazenado carregado em munições. Os explosivos militares atuais são o produto de mais de um século de evolução.

O primeiro alto-explosivo militar a ser posto em serviço foi "trinitrofenol" ou "ácido pícrico", uma substância cristalina amarela, nitroderivado da série aromática, de fórmula C6H3O7N3. O ácido pícrico foi descoberto em 1788 pelo químico alemão Haussman e usado como corante e medicamento: suas propriedades explosivas foram demonstradas em 1871. Foi adotado na França em 1885 sob o nome de 'melinite'. Os ingleses o adotaram sob o nome de 'lidite'. Possui elevada potência e velocidade de detonação superior a 8.000 metros por segundo. No entanto, seu alto ponto de fusão dificulta o preenchimento de munições; reage com metais formando compostos tóxicos; é corrosivo; e também se torna sensível com o tempo.

Os alemães desenvolveram a 'nitroguanidina', fórmula CH4N4O2, usada durante as duas Grandes Guerras em granadas e munições, normalmente misturada com outros explosivos.



Outro alto-explosivo militar, "trinitrofenilmetilnitramina" ou"tetril" foi introduzido na mesma época. Potente, mas não muito estável, era mais usado em detonadores e como aditivo. Todos esses três explosivos são agora obsoletos.

O primeiro explosivo militar moderno foi o "trinitrotolueno", também chamado de TNT ou tritol. Com a fórmula C7H5N3O6, é obtido pela nitrificação do tolueno, um óleo leve destilado à partir do alcatrão de carvão mineral. O TNT foi descoberto em 1863 e adotado pelo exército alemão em 1902, tendo sido amplamente usado pela maioria dos combatentes na Primeira Grande Guerra. É um explosivo de boa potência, com velocidade de detonação na faixa de 7.500 metros por segundo. Apresenta ótima estabilidade e baixa sensibilidade, e pode ser derretido a baixas temperaturas permitindo o preenchimento de bombas e granadas. Sua explosão libera gases tóxicos.

Os ingleses usaram o TNT durante a Primeira Grande Guerra, mas logo depois adotaram um composto mais potente chamado "Research Department Explosive (RDX)". RDX, mais precisamente "ciclotrimetilenetrinitramina" e também chamado de "ciclonite", T4 ou "hexógeno", foi originalmente formulado em 1899. Tem a fórmula C3H6N6O6. Apresenta a insensibilidade do TNT com maior potência explosiva, e utilização segura em todas as condições climáticas. Misturado com parafina, vaselina, cera, etc., permite a produção de uma série de explosivos plásticos.

TNT e RDX são ainda importantes explosivos militares. Outro explosivo militar é o 'picrato de amônia' ou 'Explosivo D', que tem potência menor que o TNT mas é o explosivo militar menos sensível. É usado em granadas de alta velocidade, antiaéreas ou perfurantes de blindagem, por sua resistência a choque e aceleração.

'Tetranitrato pentaeritritol', 'pentrite' ou 'PETN', consegue-se tratando pentaeritrite com ácido nítrico e sulfúrico; a pentaeritrite é um álcool sintético composto por acetaldeídeos e formaldeídeos. Com a fórmula C5H8N4O12, PETN é um explosivo medianamente sensível, que pode ser moderado com a adição de parafina. É mais potente que o TNT e a sua explosão gera temperaturas da ordem de 4.000 graus Celsius. Durante o embargo da Liga das Nações à Itália em 1935, em represália à invasão da Abissínia, os italianos produziram uma variedade de PETN sob o nome de 'antisancionite', para driblar a falta de carvão mineral, de cuja destilação se obtém o tolueno necessário à produção do TNT. Uma aplicação particular do PETN é em 'cordões detonantes (detcord)', um tipo de cordão explosivo usado como detonador e para demolição em pequena escala. Detcord é usado, por exemplo, para derrubar árvores rapidamente e abrir zonas de pouso para helicópteros. Também é usado para romper o canopi de aviões antes do disparo dos assentos ejetores.

'HMX' ou 'Octógeno' tem cerca de 75% a mais de potência que o TNT. Foi desenvolvido durante a Segunda Guerra, entrando em serviço após o fim do conflito. Na prática, muitos explosivos militares são misturas desses explosivos e outros materiais. Por exemplo, embora ANFO não seja no geral próprio para usos militares, por ser problemático de armazenar e sensível à umidade, a mistura de AN e TNT chamada de 'amatol'  foi usada em ambas as Guerras Mundiais como meio de esticar os estoques de explosivos. A proporção de AN na mistura varia de 50% a 80%.

Uma mistura de ANFO, TNT, e alumínio em pó, chamada "Minol" é usada ainda hoje. RDX e TNT são misturados com cera para produzir o "Composto B", também chamado "ciclotol". RDX, TNT, e alumínio em pó são combinados nos "High Brissance Explosives (HBX)" como o "HBX-1", "HBX-3", e "HBX-6", formulações mais potentes que o TNT. HBX-3 tem uma alta proporção de alumínio em pó como aditivo para aumentar a onda de choque, sendo usado em munições subaquáticas como cargas de profundidade. HBX-3 é também chamado de  "Torpex", de 'torpedo explosive'.

Outras misturas explosivas incluem  "Pentolite" ou "Pentrolit", que é metade PETN e metade TNT; "Picritol", que é uma mistura meio-a-meio de ácido pícrico e TNT; "Tetritol", 70% tetril e 30% TNT; e "Octol", 75% HMX e 25% TNT. RDX é a base de muitos 'explosivos plásticos', incluindo o 'Composto A', o 'Composto C', e o 'Sempex' tcheco.

O Composto A é produzido em muitas formulações diferentes, de "A-1" até "A-5", e o Composto C também tem variações de "C-1" a "C-4". C-4 é o favorito do Exército norte-americano para demolição e como carga de granadas e minas terrestres.

No início dos anos 1950 a noção de explosivos plásticos foi extendida com a introdução dos PBX, "polymer bonded explosives", em que cristais de material explosivo são adicionados a uma matriz de polímeros. Uma variedade de tipos de PBX foi fabricada, usando explosivos como HMX, PETN, e RDX ligados a polímeros como nylon, poliuretano, e teflon. As pesquisas mais recentes focam o desenvolvimento de polímeros que tenham em sí propriedades explosivas, como "polyAMMO" e "polyBAMO".

Um explosivo recente interessante é o "octaninitrocubano". Este material experimental é derivado do "cubano", um hidrocarboneto composto ao redor de um arranjo cúbico de átomos de carbono, sintetizado nos anos 1960. O núcleo cúbico da molécula de cubano dá a esse hidrocarboneto o dobro da densidade energética da gasolina. No início da década de 1980, o Exército norte-americano percebeu que um explosivo derivado do cubano combinaria alta energia em volume compacto e alta velocidade de detonação. Octaninitrocubano consiste de um núcleo cúbico de oito átomos de carbono, com um grupo N2O ligado em cada quina do cubo. As pesquisas indicam que o octaninitrocubano pode fornecer o dobro da potência do TNT, com grande estabilidade, tendo como sub-produtos da explosão compostos não-tóxicos de carbono e nitrogênio. 

DETONADORES E FULMINANTES

Detonadores eram feitos tradicionalmente de 'fulminato de mercúrio', fórmula Hg(CNO)2, um sal do 'ácido fulmínico', um explosivo líquido instável e perigoso de fórmula HCNO. Existem uma série de fulminatos metálicos, como o fulminato de prata, muito potentes, porém instáveis demais para utilização segura.



Fulminato de mercúrio foi primeiramente sintetizado no século 17, sob a forma de finas agulhas cristalinas, mas seu manuseio difícil impediu sua disseminação até o início do século 19. Ele é altamente instável, sensível à umidade, venenoso e mercúrio é um material caro, além de ser um metal pesado tóxico. Ele nunca foi adaptável ao uso geral como explosivo e achou seu lugar como material de detonadores, particularmente em armas de fogo de percussão. Devido a suas desvantagens, ele é agora obsoleto. Em tempos modernos, 'azido de chumbo', fórmula Pb(N3)2, é o material preferido para detonadores, sendo mais estável e menos sensível à umidade, embora menos potente. Ele é um sal do 'ácido hidrazóico', HN3. Existem outros azidos estáveis, com o azido de sódio, NaN3, em uso generalizado como inflador de airbags automotivos.

NITROCELULOSE E PROPELENTES

Todos os propelentes são chamados genericamente de 'pólvora', embora as formulações atuais nada tenham a ver com a pólvora negra. As pólvoras modernas são chamadas pólvoras 'sem fumaça', embora não sejam totalmente sem fumaça: apenas queimam muito mais limpo que a pólvora negra, deixando poucos resíduos sólidos. 

Todas essas pólvoras 'sem fumaça' são baseadas na nitrocelulose. Celulose é um polímero natural de cadeia longa, presente em fibras vegetais. Tratado com ácido nítrico, os grupos hidroxila (OH) na cadeia são substituídos por nitratos (NO3). Quanto maior a percentagem de substituição hidroxila-nitrato mais potente e sensível o resultado final. As nitroceluloses de nível inferior (até 10% de nitrificação), chamadas de piróxilas, são a base industrial da produção de celulóide, fibras e vernizes sintéticos. Embora altamente inflamáveis, não são explosivas. Nitrocelulose de nível médio é chamada de colódio ou binitrocelulose, sendo usada como base para a nitroglicerina na fabricação de dinamite de base ativa e pólvoras. Acima de 13% de nitrificação, a chamada trinitrocelulose é também denominada 'fumialgodão' ou 'algodão-pólvora', e é um explosivo de altíssima velocidade de combustão, normalmente usado combinado com moderadores como a cânfora. 

Propelentes modernos são classificados como de 'base simples', 'base dupla', e 'base múltipla' ou 'composta'. Pólvoras de base simples, como a cordite, são feitas quase exclusivamente de nitrocelulose. Queimam a temperatura moderada com poucos resíduos. Pólvoras de base dupla são misturas de nitroglicerina e nitrocelulose, como a balistite, e queimam a temperatura elevada sem deixar resíduos sólidos.



Pólvoras compostas são formulações modernas que não contém nitroglicerina nem nitrocelulose: elas queimam a temperatura moderada e com grande potência.

A pólvora negra era o único propelente disponível até o meio do século 19, quando vários químicos começaram a investigar o tratamento de papel, polpa de madeira, e particularmente algodão com ácido nítrico, HNO3. Essas experiências resultaram em algodão-pólvora, que prometia ser um propelente ideal, de queima rápida e produzindo grande volume de gás. No entanto, as primitivas fórmulas de algodão-pólvora eram inseguras de produzir e manusear. Também  queimavam rápido demais, podendo causar a explosão das armas de fogo. Em 1865, o químico inglês Sir Frederick Abel, trabalhando no  problema da fabricação de algodão-pólvora para o governo britânico, desenvolveu o processo de maceração, fervura e lavagem da celulose, produzindo 'nitrocelulose' de alta qualidade, eficiente e segura.

A primeira pólvora sem fumaça a ser aceita em serviço foi a 'Poudre B', pólvora B, sintetizada em 1884 pelo químico francês Paul Vielle. Em 1888, Alfred Nobel desenvolveu a 'balistite', baseada na sua fórmula de gelatina explosiva. Dela derivou outra pólvora, baseada na mistura de algodão-pólvora, nitroglicerina gelatinizada e vaselina, desenvolvida por Frederick Abel e James Dewar em 1889. O material podia ser moldado em cordões, sendo nomeado 'cordite', e foi adotado em larga escala pelo exército britânico, sendo o principal propelente durante a Primeira Guerra.

Armas de fogo hoje usam pólvora de base simples ou composta. Pólvoras de base dupla ainda são usadas em pequenos foguetes de combustível sólido, mas foram quase totalmente substituídas por combustíveis sólidos mais modernos, discutidos mais adiante.



Criar uma pólvora sem fumaça confiável requer a manipulação da percentagem de nitrificação e adição de moderadores e outros elementos. O resultado é um explosivo de aspecto sólido e estrutura coloidal, compacta e homogênea, permitindo elevada constância do rendimento balístico; facilmente moldável em fios, escamas e grãos; caracterizado por uma combustão controlada, lenta e regular. A taxa de queima das pólvoras sem fumaça, como a de outros explosivos, pode ser controlada pela variação no tamanho dos grãos: quanto maior a granulação mais lenta a queima. Os grãos também podem ser perfurados, aumentando a área de queima.

INCENDIÁRIOS

Junto com explosivos, os militares também usam intensamente material incendiário. Armas incendiárias têm sido usadas em combate há muito tempo, por exemplo, as flechas de fogo usadas pelos Apaches para atacar as caravanas nos filmes de cowboy. No século VII, alquimistas bizantinos descobriram uma mistura de piche, nafta, enxofre e petróleo capaz de queimar violentamente. O chamado 'fogo grego' tornou-se a arma secreta do Império de Constantinopla contra os sarracenos. Mais tarde, nos combates navais da era da vela, balas de canhões eram aquecidas a rubro antes do disparo na esperança de incendiar os vasos inimigos. Munições militares modernas incendiárias consistem em 'napalm', 'explosivos ar-combustível (FAE)', e compostos metálicos.



Napalm é simplesmente gasolina a qual um espessante foi adicionado para fazê-la viscosa. A fórmula original da Segunda Guerra usava 'palmitrato de sódio' (natrium palmitrate) como espessante, levando ao nome 'napalm'. Napalm moderno usa plástico poliestireno como espessante. Napalm improvisado usa sabão em pó ou isopor como espessante.

FAEs, explosivos ar-combustível, pulverizam uma nuvem de aerosol de hidrocarboneto líquido, e então o inflamam para criar uma explosão deflagrante sobre uma extensa área.

Alumínio é o metal incendiário mais difundido. Outros metais incendiários incluem zircônio, magnésio, titânio, e urânio exaurido. Todos eles queimam a altas temperaturas. Um composto metálico incendiário particularmente útil é a 'termite', uma mistura de óxido de ferro (Fe2O3, ferrugem) e alumínio. A reação da termite é:

   Fe2O3 + 2Al -> Al2O3 + 2Fe

A reação queima a alta temperatura e libera uma tremenda quantidade de energia. Termite é muito usado em cargas de demolição para inutilizar material militar abandonado ao inimigo.

Um novo esquema usa uma 'folha combustível' feita de metais pirotécnicos para efetuar soldagens de emergência. A 'folha' contém finas camadas alternadas de níquel e alumínio, pode ser acesa por um fósforo ou por uma bateria, e incendeia em toda a superfície instantaneamente, queimando no vácuo ou sob a água. É usada por soldados para reparos de campo, como detonadores e para aquecimento.

PIROTÉCNICOS

Fósforo branco já foi usado como incendiário militar. O elemento fósforo aparece na natureza em duas formas: a vermelha, amorfa, e a branca, cristalina, de quatro átomos em arranjo tetraedral. Fósforo vermelho é relativamente seguro de manusear, mas fósforo branco sofre ignição espontânea à temperatura ambiente. Fósforo branco é hoje usado principalmente para gerar fumaça.

Combustíveis a base de cálcio em mistura com óxido de ferro podem gerar moderado calor sem produzir chama ou gás. Durante a Segunda Guerra Mundial, dispositivos desse tipo foram usados para aquecer latas de rações de campanha.

Fusos pirotécnicos são feitos de enxofre, silicone, tungstênio, ou boro. Eles podem ser dispostos em colunas, queimando num intervalo específico e desencadeando uma reação maior. Estes fusos são usados para controlar a sequência de tempo em vários dispositivos aeroespaciais, incluindo os ferrolhos explosivos que liberam as saídas de emergência em aviões e a separação de estágios em foguetes, além de seu uso mais comum como temporizadores em granadas de mão.

Existem muitos tipos de sinalizadores para uso militar e comercial. Sinalizadores comerciais de estrada, de cor vermelha, são feitos com estrôncio mais um oxidante.

Sinalizadores militares, de iluminação noturna, são feitos de partículas de magnésio, misturadas com oxidantes e aglutinantes.



Aeronaves militares carregam às vezes chamarizes térmicos para desviar mísseis seguidores de calor. No início, sinalizadores comuns eram usados como chamarizes ou flares, mas os mísseis se sofisticaram e ficaram capazes de ignorar as iscas, e chamarizes mais sofisticados apareceram. Flares modernos consistem de plástico teflon misturados com compostos de flúor como oxidante, e podem conter dois estágios queimando a diferentes temperaturas em tempos diferentes. Os mais recentes chamarizes 'pirofóricos' são feitos de tiras metálicas que se oxidam rapidamente ao invés de queimar, para simular as temperaturas moderadas dos escapes de turbinas. 

Os mísseis modernos se tornaram tão espertos que os aviões estão agora adotando sistemas de laser para confundi-los. Além de ineficientes, os flares são difíceis de armazenar e manusear, e uma vez que um avião tenha usado seu estoque, estará indefeso.

Pólvora fotográfica é feita com alumínio ou magnésio em pó misturado com um oxidante, sendo usada para gerar um clarão de luz e som estrondoso. É usada em granadas de atordoamento e como fonte de luz para fotografia noturna.

Granadas de fumaça militares são feitas com fósforo, ou com açúcar como combustível em mistura com um oxidante como o clorato de potássio, junto com corantes orgânicos para gerar fumaça colorida. O açúcar queima a baixa temperatura, não degradando os corantes. Tanques e outros blindados normalmente carregam lançadores de granadas para lançar cortinas de fumaça como camuflagem. Granadas e ogivas fumígenas são usadas para marcação de alvos e sinalização de zonas de pouso de helicópteros.

Airbags de segurança automobilísticos têm de ter atuação instântanea, requerendo um pirotécnico que gere rapidamente uma grande quantidade de gás, sem gerar chama ou choque desnecessário. Nos anos 1970 foi desenvolvido um dispositivo inflador barato e compacto, baseado na reação do azido de sódio (NaN3) com um oxidante, produzindo  nitrogênio suficiente para inflar um airbag em cerca de 50 milissegundos. Azido de sódio consiste de estruturas conectadas de sódio e azido, um grupo de três átomos de nitrogênio ligados. Um choque desagrega a estrutura, o sódio combinando com o oxigênio do oxidante, enquanto os átomos de nitrogênio se reagrupam em pares, formando uma grande quantidade de nitrogênio gasoso.

Dispositivos similares são usados para inflar botes e coletes salva-vidas.

Muitos dos pequenos foguetes usados na Segunda Guerra usavam pólvora de base dupla como propelente, mas durante a guerra o JPL, Jet Propulsion Laboratory, nos EUA, desenvolveu um combustível sólido de queima lenta baseado no asfalto, em mistura com perclorato de amônia (NH4ClO4) ou perclorato de potássio (KClO4) como oxidante mais pó de alumínio. O único problema era que o asfalto tendia a fluir, especialmente nos dias quentes, exigindo que os foguetes ficassem armazenados com o nariz para baixo. 

Depois da guerra, esse esquema evoluiu para os modernos combustíveis baseados em borracha sintética, misturada com perclorato de amônia como oxidante e altas dosagens de pó de alumínio. A borracha sintética age como combustível e como aglutinante, podendo ser moldada num maciço bloco sólido, sem fissuras ou bolhas que causem combustão irregular, e permitindo estocagem segura e prolongada sem deterioração. 

Melhorias posteriores adicionaram óxido de ferro em pó à mistura, causando uma reação de termite. Combustíveis sólidos de alta energia incorporam uma dose de alto-explosivos, como nitroglicerina, nitrocelulose ou HMX, mas essas fórmulas são compreensivelmente perigosas de manusear e são usadas apenas em pequenos estágios superiores.

Uma interessante aplicação dos modernos combustíveis sólidos de foguetes é na desativação de minas. Cargas preenchidas com combustíveis sólidos de foguete são colocadas sobre uma mina, apoiadas em pernas retráteis. O escapamento queima através da carapaça da mina e destrói a carga explosiva.

RASTREAMENTO DE EXPLOSIVOS

Uma área interessante da tecnologia de explosivos são os sistemas de rastreamento que permitem a identificação de um explosivo que, por exemplo, tenha sido usado num ataque terrorista. Embora a análise da composição química dos resíduos da explosão possa ajudar a identificar o tipo de explosivo, a possibilidade de traçar a origem da produção do explosivo é muito mais útil. 

Uma das tecnologias de rastreamento está disponível há várias décadas. Microtrace Incorporated de Blaine, Minnesota, comercializa o sistema "MicroTag", inventado nos anos de 1970 por um químico da Corporação 3M, chamado Richard Livesay. A 3M desenvolveu e comercializou o sistema MicroTag, baseado em  pequenas partículas, do tamanho aproximado de um grão de pimenta, construídas de cerca de 10 camadas coloridas. Um lote de marcadores com um código de cores particular é misturado com um lote de explosivo para permitir sua identificação. Um teste feito pelo governo norte-americano entre 1977 e 1979, adicionando marcadores a 1% de todos os explosivos produzidos não demonstrou problemas: de fato, um atentado a bomba foi solucionado pelo sistema. 

Na Suíça, a primeira nação a adotar a tecnologia, centenas de crimes foram solucionados com seu uso. No entanto, um acidente desastroso em 1979 em uma fábrica de explosivos foi atribuído ao uso do sistema, levando a uma ação legal contra a 3M. Embora a companhia tenha ganho o caso desistiu do negócio, vendendo-o ao seu inventor, Livesay, que fundou a Microtrace. Muitos dos clientes da Microtrace usam o sistema Micro Tags para proteger bens como cosméticos e bebidas alcóolicas de falsificação. 

Um esquema mais tradicional e sutil baseia-se na criação de marcadores na forma de moléculas seletivamente modificadas com isótopos atômicos relativamente raros. Por exemplo, moléculas podem ser sintetizadas usando átomos de deutério, hidrogênio pesado, no lugar de hidrogênio comum, em diferentes padrões. Este esquema é usado na identificação de lotes de petróleo em oleodutos e na marcação de lotes de nitrato de amônia.