FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A Luta pelas Colinas do Golan *200

 

Morashá
 
A monotonia do Yom Kippur foi quebrada por fortes explosões provenientes de um pesado bombardeio aéreo e de artilharia por volta das 14:00 horas do dia 06 de outubro de 1973, sobre posições israelenses ali estacionadas em guarnição ao longo da fronteira com a Síria. Começara as luta pelas Colinas do Golã. Não era possível imaginar a ferocidade dos combates que se seguiriam, e as condições nas quais foram travados, tampouco o desgaste físico e mental a que foram submetidos os soldados israelenses. Em apenas 18 dias de luta, 772 deles morreram e 2.453 ficaram feridos, muitos dos quais gravemente.
 
O Golã era, sem dúvida alguma, a frente mais preocupante naquela que seria a mais difícil guerra travada por Israel. Apesar de não ser tão forte quanto o egípcio, o exército sírio representava a maior ameaça. Enquanto que os egípcios teriam que atravessar quase 240 km de deserto antes de chegar a uma área pouco povoada no extremo sul do território israelense, os sírios estavam a apenas 32 km da Galileia.
 
O plano da Síria era tomar as estratégicas colinas que dividiam os 2 países num único dia, saturando a limitada defesa israelense ali presente. 2 divisões da infantaria síria atacariam simultaneamente toda a extensão dos 65 km da “Linha Roxa”, a linha de cessar-fogo após a Guerra de 1967. O plano previa tomar os postos de observação e os 10 pontos altamente fortificados que Israel mantinha ao longo da fronteira. Com a construção de um sistema de obstáculos e fortificações no extremo Leste do platô e uma trincheira antitanque ao longo de toda a extensão da “Linha Roxa”. Logo atrás desta trincheira, construíram postos de observação (POs) e bunkers de concreto para ter uma contínua observação de qualquer força que se aproximasse pelo Leste. Os pontos fortes e de observação localizados no Norte estavam a cargo da Brigada Golani, e os do Sul, do 50º Batalhão de Paraquedistas. As fortificações e defesas israelenses nas Colinas eram formidáveis, quando totalmente guarnecidas com o número adequado de infantaria e tanques – só que esse não foi o caso em outubro de 1973. Em cada ponto forte Israel tinha entre 10 a 20 soldados da infantaria, e a dotação de armamento ali existente, bem como de munição era insuficiente para fazer frente a um ataque mais pesado.
 
A estratégia síria contava com a assustadora disparidade que havia entre as forças israelenses e sírias até a chegada dos reservistas ao Golã: 200 soldados da infantaria israelense teriam que enfrentar 40 mil sírios e 177 tanques israelenses, 1.400 sírios. Não fosse pela chegada da 7ª Brigada de Blindados do General Ben-Gal, a proporção de tanques não teria sido de 8 para 1, mas de 18 para 1. A estimativa síria era que levaria ao menos 24 horas para que os reservistas israelenses chegassem à frente com o domínio da posição antes disso.


 
As Primeiras Horas do Dia 6 de Outubro
 
No Golã, ao contrário do ocorrido na Península do Sinai, onde uma mensagem interceptada de um posto de observação da ONU alertara as forças israelenses sobre o iminente ataque da artilharia egípcia, não houve aviso algum. O bombardeio iniciado às 14:00 horas, simultaneamente ao ataque ao Canal de Suez pelos egípcios, durou 50 minutos. Logo em seguida, uma densa coluna de tanques sírios e de VBTPs (veículos blindados para transporte de pessoal) começou a avançar. Os sírios acreditavam que, ao alvorecer, menos de 16 horas após o início das hostilidades, o Golã estaria em suas mãos.
 
Enquanto as primeiras explosões sacudiam a região, 4 helicópteros sírios decolaram em direção à posição israelense, no Monte Hermon. Seu topo, ocupado por Israel durante a Guerra dos 6 Dias, era um dos principais alvos sírios. Israel construíra no alto da montanha uma plataforma super-avançada de Inteligência. Às 14:45 horas os atacantes chegaram à plataforma. Dos 55 israelenses estacionados no Hermon, apenas 12, pertencentes à Brigada Golani, eram encarregados da defesa. Os demais eram elementos da Inteligência militar e técnicos. Em sua primeira tentativa de investir contra a posição em um ataque frontal, os sírios sofreram 50 baixas. Reagruparam-se e voltaram a atacar. Os israelenses, em inferioridade numérica, foram dominados: 13 israelenses morreram e 31 foram aprisionados, com 11 conseguindo fugir pelas encostas da montanha. A captura do Monte Hermon foi um revés potencialmente fatal para as IDF. Além de sua importância simbólica como “Os olhos de Israel”, os modernos equipamentos eletrônicos lá instalados monitoravam toda a atividade ao longo da fronteira e também em áreas tão distantes como a capital síria, a uns 25 quilômetros à Leste.
 
Nas primeiras e extremamente críticas horas da guerra, o General Yitzhak Hofi, Comandante Geral do Comando Norte, o segundo no comando e os comandantes de divisão estavam reunidos em Tel Aviv com o Estado Maior. Até o Gen Hofi retornar ao centro de comando em Nafach – por volta das 16:30h – o Tenente Coronel Uri Simhon tomou decisões estratégicas. Sua decisão de deslocar 3 batalhões de blindados para o Setor Norte e dois para o Sul, sem deixar nada na reserva, determinaram o rumo da batalha que viria a seguir, para o melhor ou para o pior. Sua decisão foi em parte tomada porque o Comando Norte acreditava que caso houvesse um ataque sírio, este ocorreria no Norte, pois caso conseguissem penetrar, os sírios poderiam rapidamente alcançar Nafach – a principal base de comando israelense no Golã – e a ponte de B’not Yaacov, que era a principal passagem entre o Golã e Israel, propriamente dito.  De volta a Nafach, Hofi dividiu a frente de batalha: a Sétima Brigada do Coronel Ben-Gal seria responsável pelo Norte do Golã e a 188a Brigada de Blindados e a Brigada Barak, do Cel. Yitzhak Ben-Shoham, pelo Sul.
 
Após cruzar a “Linha Roxa”, as forças sírias enfrentaram forte resistência israelense. Ao longo de toda a fronteira, as tropas de Israel lutaram uma batalha desesperada com coragem e determinação, sabendo o que estava em jogo. Atos de extraordinária bravura foram registrados. Nos pontos fortes, apesar de não estarem preparados para enfrentar um ataque mais pesado, os soldados da infantaria repeliram o inimigo. Apenas o Monte Hermon caíra. O profissionalismo das tripulações de blindados e suas táticas, sua pontaria apurada e seu curtíssimo tempo de reação, comparados com as equipagens sírias, contrabalançaram a disparidade das forças e o choque sofrido com a surpresa do ataque. Mas isso nem sempre bastou; em muitos casos, os israelenses foram vencidos pela mera superioridade numérica dos sírios.
 
Acima do campo de batalha, barreiras de mísseis SAM-6 impediam aos A-4 Skyhawks da Força Aérea de Israel realizar com êxito missões de suporte para deter o ataque sírio. Posteriormente, alguns observadores da ONU estacionados ao longo da “Linha Roxa” relataram que os primeiros aviões da IDF apareceram sobre o Golã poucos minutos após o irromper da guerra. 4 Skyhawks voaram baixo em torno do Hermon, mas antes de poderem atingir qualquer alvo sírio, dois deles explodiram nos céus atingidos pelos SAMs. Ao entardecer, parecia que a determinação israelense conseguira desacelerar a ofensiva síria. Um grande número de blindados inimigos havia sido destruído e, no Norte, a situação estava sob controle. As informações tranquilizadoras recebidas pelo Comando Central, no entanto, provaram ser temporárias.


 
Madrugada de 6 para 7 de Outubro – Maciça Infiltração Síria
 
Independente da resistência encontrada e das baixas sofridas, os sírios continuavam a pressionar. Antes do anoitecer, 2 de suas brigadas atacaram o Setor Norte e 4, o Sul, onde uma brigada israelense, com um pequeno número de tanques, teve que enfrentar 600 blindados sírios. Durante toda a noite de 6 para 7, tanques sírios começam a se infiltrar maciçamente entre os pontos fortes. Pelotões israelenses tiveram que enfrentar batalhões inteiros do exército sírio. E, assim que escureceu, os israelenses perceberam que teriam que lutar em grande desvantagem. Seus tanques Centurion não tinham visão noturna – como os tanques soviéticos equipados com faróis e projetores infravermelhos, que podiam iluminar os alvos sem que os israelenses sequer tivessem ideia de que estavam sendo iluminados. Os israelenses podiam contar apenas com um escasso número de artifícios de iluminação e alguns binóculos infravermelhos de uns poucos comandantes de tanques. Isto significava que, à noite, as forças de Israel estavam “cegas” para o que acontecia além de sua frente imediata. Lutaram, no entanto, com garra, contornando a falta de visão noturna com táticas criativas.
 
Ao perceber que a linha de defesa no Sul era mais “porosa” que no Norte, os sírios intensificaram o ataque no Sul, cabendo ao pequeno contingente de tanques israelenses que havia na área um enfrentamento bem maior de tanques sírios. A luta travada no Sul testemunharia a garra e coragem dos soldados e dos comandantes de campo israelenses. Enquanto o desânimo e a falta de coordenação havia tomado conta do Comando Geral, pequenos e isolados grupos de soldados guiados por sua perícia e motivação pessoal continuaram a combater.
 
A capacidade do exército israelense de rapidamente se reagrupar e formar novas unidades de combate, conforme a necessidade, e de seus homens se adaptarem a novas circunstâncias, foram essenciais na luta contra o inimigo. Após o fim da guerra, um líder de pelotão de tanques afirmou: “Logo na primeira hora de combate ficou claro que a batalha ficara nas mãos dos comandantes de companhia e de pelotão, e dos comandantes de blindados, individualmente (...). Para quem lutava, havia apenas duas opções: sucumbir ao choque ou se tornar um tigre feroz e continuar lutando”.
 
Pouco mais de 12 horas após o início da contenda, as forças sírias tinham-se infiltrado maciçamente entre os pontos fortes e já havia forças inimigas no interior do Golã, pelas estradas que levavam ao Lago Kineret (Mar da Galileia). Uma brigada síria chegara ao assentamento religioso de Ramat Magshimim menos de uma hora depois que os estudantes de uma Yeshivá tinham sido evacuados. Exceto por um pequeno contingente que estava a alguns quilômetros, não havia nada para impedi-los de chegar ao Vale do Jordão, ou de descer para as margens do Lago Kineret. Este, no entanto, não era o plano de Damasco, cujo principal objetivo era Nafach – onde estava o Comando Central do Norte, e a Ponte B’not Yaacov.


 
Não Haverá Retirada de Ramat HaGolan
 
Apesar da ferocidade do ataque sírio desde as primeiras horas do conflito, sua dimensão só ficou clara para o Gen Hofi depois da meia-noite. A situação no Sul era crítica. As forças engajadas na batalha poderiam contar com a chegada de um número significativo de reservistas somente à tarde e ele não sabia se seus homens aguentariam até lá.Preocupado, ele alertara o Estado Maior, o Gen Elazar e a Moshé Dayan que havia a possibilidade das tropas não conseguirem manter o controle sobre as Colinas. Logo na manhã do dia 7 de outubro, Dayan fora à sede do Comando do Norte para se reunir com Hofi para ver “se Israel perderia o Golã”. Deprimido com a situação de suas tropas, Hofi repetiu sua preocupação. A resposta de Dayan foi uma frase que ele iria repetir inúmeras vezes nos dias seguintes: “Não haverá retirada de Ramat HaGolan”.
 
Apesar de suas palavras, Dayan sabia que a situação era crítica. Ele contata então o General Benjamin Peled, comandante da IAF, e, ao saber que estava sendo preparado para aquele dia um ataque aéreo para eliminar as plataformas de SAMs egípcias estacionadas no Canal de Suez, disse-lhe: “Esqueça, há apenas areia no Sinai e o Canal do Suez está a quase 240 quilômetros de Tel Aviv. O Terceiro Templo (metáfora que Dayan utilizava ao se referir ao Estado de Israel) está em extremo perigo. Os tanques sírios romperam as linhas das Colinas do Golã e estão avançando rumo ao Vale do Jordão. Precisam ser detidos. Se nossos aviões não atacarem até o meio-dia, os sírios poderão chegar ao Vale do Jordão”.
 
A decisão de cancelar o ataque aéreo no Sinai e transferir os aviões para o Golã iria afetar o curso da Guerra de Yom Kipur. A maioria do staff de Peled se opôs à decisão, argumentando que não fazia sentido suspender um ataque que havia sido cuidadosamente planejado e que poderia desestabilizar as forças egípcias. Ademais, não haveria tempo útil para preparar uma investida no Golã. Os helicópteros, com equipamentos eletrônicos que seriam utilizados para “despistar” os radares dos SAMS, estavam no Sinai, além do que era impossível realizar uma missão fotográfica para confirmar se as baterias SAM-6 ainda estavam onde haviam sido fotografadas na tarde anterior. No final da manhã do dia 7 de outubro, 60 Phantoms executaram voos rasantes sobre as Colinas do Golã, investindo contra a concentração de blindados sírios e as baterias SAM. A operação foi um fracasso.
 
Apesar dessa primeira investida não ter tido êxito, os pesados sacrifícios feitos pela IAF nos 2 primeiros dias da guerra tiveram um importante papel na luta pelo Golã. Os persistentes ataques da aviação israelense mantiveram as forças sírias ocupadas com a defesa de seu espaço aéreo. Os céus de Israel foram mantidos a salvo de aviões hostis, permitindo aos reservistas chegar às frentes de combate sem interferência inimiga. Estes sucessos, no entanto, não aliviavam a angústia das tropas engajadas na batalha que olhavam para o céu se perguntando: “Onde estava a força áerea?”. A IAF controlava os céus sobre toda a Síria e todo o Egito, exceto na estreita faixa sobre as zonas de batalha dominadas pelos SAMs. Mas era ali que a Guerra de Yom Kipur seria vencida ou perdida.


 
A Chegada dos Reservistas
 
No início do segundo dia de combate o alto comando sírio recebeu a informação de que os reservistas israelenses haviam chegado ao Golã, em um prazo bem menor do que o estimado. Se os israelenses estavam adiantados pelo cronograma dos sírios, estes estavam bem atrasados, pois não haviam conseguido pressionar e romper as linhas de defesa de Israel quando ainda estavam em posição de vantagem.
 
Diferentemente da Guerra dos 6 Dias, quando os reservistas israelenses haviam tido 3 semanas de treinamento, dessa vez estavam indo para a guerra sem nenhum preparo adicional. Ao subir em direção às Colinas, muitos eram ainda civis em uniforme; mas, quando chegaram ao topo, eram soldados prontos para a luta. Mesmo após a chegada dos reservistas, o Comando do Norte havia iniciado os preparativos para uma eventual evacuação, caso as defesas falhassem. Entre outras providências, os engenheiros estavam preparando uma barreira de minas antitanques à margem sul do Lago Kineret, e os bulldozers estavam prontos a interromper as estradas que desciam das Colinas.
 
Combates pesados continuaram ao longo do dia 7 com muitas perdas de ambos os lados. O Gen Elazar pediu a Hofi que formasse uma segunda linha. “É vital manter a presença no Golã até a chegada da Divisão de Reserva do General Moussa Peled”. Hofi respondeu que não tinha certeza se poderia fazê-lo.
Ao anoitecer, o General Dan Laner e o General Raful Eitan chegaram a um acordo para divisão de comando no Golã. A linha divisória foi estabelecida aproximadamente a um quilômetro ao Sul da estrada B’not Yaacov-Kuneitra. Eitan comandaria as forças israelenses ao Norte daquela linha inclusive, e Laner ao Sul.
 
Batalha do Vale das Lágrimas
 
Uma das mais sangrentas batalhas foi travada na área ao Norte de Kuneitra, entre o Monte Hermonit e uma cadeia de montanhas ao Sul, chamada de “Booster”, em Israel, ou Tel el Mekhafi, em árabe. No primeiro dia de guerra, uma Divisão síria atacou a Brigada Barak. Era o início de uma amarga batalha por território vital, ao qual os israelenses posteriormente chamariam de “Vale das Lágrimas”, em hebraico, Emek Ha-Beka’a, em virtude do grande número de tanques queimados e destroçados que foram abandonados no local.
 
Um dos heróis dessa batalha foi o Tenente-coronel Avigdor Kahalani. Na tarde do dia 6 ele deslocou sua unidade, sob forte fogo de artilharia e ataque aéreo, para posições de bloqueio no Booster e rapidamente entrou em ação. A disparidade entre as forças sírias e israelenses era enorme: cerca de 500 tanques sírios contra 40, sob o comando de Kahalani.
 
A luta no Vale do Beka’a durou vários dias e foi implacável. Os israelenses repeliram os ataques dos blindados sírios, um atrás do outro. Ainda que suas baixas fossem pesadas, os sírios continuavam determinados – se conseguissem se juntar à infantaria no setor El Rom, não haveria nada que se interpusesse entre eles e Kiryat Shmona, no Norte de Israel.
 
Os israelenses também tinham sofrido baixas do intenso fogo de artilharia inimiga. No quarto dia, Ben-Gal comunicou-se por rádio com o Gen Eitan, informando que não acreditava que a Sétima Brigada fosse aguentar muito mais. Eitan prometeu que logo receberiam reforços. Os sírios, percebendo a possibilidade de uma iminente vitória, estavam tentando penetrar para além da linha das rampas de blindados israelenses abandonados. Quando só restavam às forças israelenses apenas 12 tanques e praticamente nenhuma munição, uma nova unidade de reserva – a do Tenente-coronel Yossi Ben-Hanan, que voltara de sua lua-de-mel direto para os campos de batalha – juntou-se à luta.
 
De repente, os israelenses recebem de um ponto forte a informação de que as colunas de suprimentos sírias estavam batendo em retirada. A batalha pelo Booster estava terminada e Israel saíra vencedora. O General Eitan, que observava a batalha do alto de um espigão na montanha, fala pelo rádio com Ben-Gal e seus homens : “Vocês salvaram Israel”. Os sobreviventes da Sétima Brigada de Blindados estavam sem dormir há 80 horas e tinham lutado, sem parar, durante mais de 50 horas. Só tinham restado 12 de seus tanques; contudo, eles derrubaram 260 tanques sírios e 500 outros veículos.


 
Batalha de Nafach
 
Um dos principais alvos da ofensiva síria era Nafach. Caso conseguissem tomá-la, além de capturar o Centro de Comando do Golã, poderiam facilmente tomar a ponte B’not Yaacov no rio Jordão. Se Nafach caísse em mãos inimigas, Israel perderia o controle da Região Norte e Central do Golã. Na noite de sábado, 6 de outubro, o Tenente Zwi ‘Zwicka’ Greengold, com um único tanque, conseguira bloquear o avanço sírio pela Tapline1. Mas, no início da tarde seguinte havia blindados sírios às portas de Nafach. Apesar do Gen Hofi e outros oficiais já terem deixado o local para estabelecer o Comando Central numa localidade mais ao Norte, o Gen Eitan ainda permanecia no bunker do Comando. Através de uma enigmática mensagem – pois não podia deixar que o inimigo soubesse que o comandante de uma Divisão israelense estava preso em Nafach – o Gen Eitan alertou o Cel. Ori Orr, comandante do 679º Batalhão da Reserva. Ori, que estava a alguns quilômetros de distância, e equipes de blindados que haviam ouvido a mensagem de Eitan, dirigiram-se imediatamente para Nafach, atingindo o perímetro com os sírios já nos portões. Abriram fogo até que não houvesse mais em quem atirar.
 
O Gen ‘Raful’ Eitan não costumava bater em retirada perante o inimigo. Posteriormente Eitan confessaria que tinha resolvido por conta própria que, acontecesse o que acontecesse, ele não se retiraria do Golã. Mas, claramente, a base não era segura para servir de posto de Comando de Divisão e transferiu seu QG para o Norte. Brigadas de Blindados dos 2 países enfrentam-se numa dura batalha. Unidades de blindados israelenses que convergiam de direções distintas passaram a preencher o vazio pelo qual a Divisão Síria havia conseguido penetrar e, ao cair da noite, Orr tinha garantido o domínio sobre Nafach. O Comando Norte foi informado de que “não havia tanques sírios em funcionamento” nas proximidades imediatas da cidade. Em seu livro, Chaim Sabbato, que lutou como franco-atirador no Batalhão sob o comando de Orr, relata suas palavras aos jovens soldados prestes a lutar: “Perdemos muitos tanques... Mas venceremos. Não temos escolha”.
 
A luta por Nafach é um exemplo das características que permitiram às forças israelenses recuperar seu equilíbrio e vencer o inimigo. Pequenos grupos, operando de forma independente com guarnições reunidas aleatoriamente, não hesitavam em se arremeter contra um inimigo bem mais numeroso, com coragem, motivação e profissionalismo exemplares. Naquela mesma noite, Orr conseguiu estabelecer uma linha de defesa estreita, de 6 km de comprimento, em terreno elevado que corria paralelo à estrada Nafach–Kuneitra – a primeira no Golã Central desde o início da guerra.
 
Os israelenses sabiam que precisavam deter os sírios até que suas formações de reserva chegassem à frente, caso contrário a Galileia do Norte seria devastada pelos blindados sírios. Mas a situação das IDF era muito difícil; a escassez de munição estava tão premente que os jipes voavam de um destroço de tanque a outro para resgatar os cartuchos ainda intactos. Na tarde do dia 7 de outubro, enquanto as batalhas no Sul e no Norte estavam sendo travadas, o Alto Comando da Síria realizava uma fatídica reunião em Katana, seu QG de campo. O eixo Norte, pelo qual eles tinham contado com a tomada rápida da jugular do Golã – Nafach e a Ponte B’not Yaacov – estava bloqueado e a batalha ainda corria solta. Mas, no Setor Sul, apesar da forte resistência que retardou seu cronograma durante horas e destroçou vários batalhões, ainda assim os sírios tinham conseguido infiltrar centenas de tanques capazes de alcançar as pontes do Jordão praticamente sem oposição. Uma brigada síria estava a 1.200 m da El Al, e outra, na Yehudia Road, a menos de 10 km do Lago Kineret. Contudo, tinham sofrido pesadas baixas, particularmente quando se aventuraram para além de seu guarda-chuva de SAMs e dessa forma oferecendo alvos fáceis à IAF. A reunião chegou a uma decisão de importância crucial: as forças sírias no Sul do Golã teriam que suspender o combate às 17:00h. Quando os sírios decidiram retomar seu avanço, suas chances de alcançar o Rio Jordão “já eram”...
 
Apesar de os israelenses ainda estarem em situação muito difícil, nas batalhas os sírios já haviam mostrado falhas táticas e de comando, e suas forças, ao contrário das israelenses, não tinham grande flexibilidade tática no campo de batalha. Ao anoitecer de 7 de outubro, um novo ânimo desponta nas tropas de Israel, após a chegada ao Golã da Divisão de Reserva do General Moshe Peled (Moussa). As IDF decidem lançar um grande contra-ataque pouco mais de 36 horas após o início da ofensiva síria.


 
O contra-ataque de Israel
 
As IDF iniciaram o contra-ataque às 08:00h do dia 8. Por volta do meio-dia, após enfrentar uma pesada luta, o Gen Moussa Peled alcança Tel Faris. À noite, o Cel. Orr toma Tel Ramtania, um espigão altamente fortificado nos montes Khushniyah. A Divisão do Gen Laner conseguia, também, gradualmente, ir empurrando os sírios em direção ao Sul.Na terça-feira, 9 de outubro, e na quarta, em um esforço conjunto – coordenado, ao Norte, por Laner e, ao Sul, por Peled, os israelenses encurralaram as forças sírias em Khushniya. Após um feroz embate, 2 brigadas da Primeira Divisão Blindada síria haviam sido destruídas. Os remanescentes do Exército Sírio bateram em retirada, grandes contingentes atravessando a Linha de Cessar Fogo. À noite, não havia uma única unidade síria em território à Leste da “Linha Roxa”.
 
No platô do Golã, os sírios haviam deixado atrás de si quase 900 tanques, muitos dos quais T-62s, centenas de metralhadoras e de VBTPs, milhares de veículos e quantidades enormes de equipamentos. A ofensiva lançada em 6 de outubro terminara em uma esmagadora derrota e os sírios estavam de volta no ponto de partida, e Israel estava prestes a lançar forte contra-ataque em território sírio.
 
A eficiente reação da IAF foi de grande importância nessa fase da guerra. Em 8 de outubro, aviões israelenses bombardearam as bases aéreas sírias. Dentro de uma semana, praticamente todas estavam inoperantes. No dia 9, em resposta ao ataque sírio de uns 10 mísseis sobre alvos israelenses, a IAF lançou uma ofensiva estratégica contra a Síria, que incluiu um raid aéreo bem sucedido, com 8 Phantoms, que atingiram o QG da Força Aérea síria, em Damasco.Nos dias seguintes, a FAI passou a bombardear a Síria infligindo pesados danos táticos e estratégicos sobre sua infraestrutura, inclusive sobre o sistema gerador de força e a indústria de petróleo. Até o final da primeira semana de guerra, com o sistema de mísseis SAMs praticamente destruído, os aviões israelenses atingiam Damasco e outras cidades sírias, e portos do Mediterrâneo. Israel sabia que para reduzir sua vulnerabilidade, seus inimigos tinham que levar intensos golpes, cujas consequências econômicas seriam sentidas por muitos anos.
 
A Contraofensiva Israelense
 
Na noite de 10 de outubro, o gabinete israelense, orientado por seu Chefe do Estado Maior, Gen Elazar, tinha que decidir, se explorava seu sucesso contra a Síria ou concentrar-se-ia no Egito. As recomendações do Estado Maior, transmitidas por Moshé Dayan a Golda Meir, eram para que se avançasse através da “Linha Roxa” para penetrar 20 km. Desta forma, colocariam Damasco na mira da artilharia de longo alcance. Esperava-se, assim, infligir uma fragorosa derrota aos sírios, sem, no entanto, provocar a intervenção soviética. Golda Meir deu seu consentimento e o planejamento se desenrolou de imediato. A intenção de Hofi era não dar tempo aos sírios de se recuperarem, mas isso também significava atacar com forças que tinham pouco ou nenhum tempo para se reorganizar, após exaustivos combates. O plano israelense se baseava na economia de esforço no Centro e no Sul do país, de modo a concentrar as forças no Norte, ameaçando a capital síria. O eixo do avanço centrava-se na rota mais curta para Damasco.
 
A Hora H foi fixada para as 11:00 horas de 11 de outubro. O Exército sírio estava, então, perante um inimigo revigorado, pronto para entrar em seu território. Na noite anterior, Ben-Gal reunira seus comandantes e lhes dissera que sua entrada na Síria lhes permitiria vingar a morte de seus camaradas tombados na desesperada defesa de seu país. O grosso das tropas sírias estavam concentradas nos arredores de Damasco, ao passo que os aliados árabes que haviam se juntado à luta – marroquinos, sauditas, iraquianos e jordanianos – recebiam a tarefa de retardar a investida israelense.Na sexta-feira, dia 12, as forças israelenses já estavam dentro do território sírio rumo a Damasco, encontrando maciça resistência. À medida que a divisão comandada por Laner ampliava sua penetração, unidades iraquianas passam a lutar ao lado dos sírios. O ataque iraquiano foi facilmente repelido. Os israelenses continuaram a avançar, atingindo a região próxima a Kfars Shams. No dia seguinte, paraquedistas capturaram o estratégico monte de Tel Shams, com um saldo de apenas 4 feridos. No domingo, 14, as IDF suspenderam a ofensiva e consolidaram suas posições dentro da Síria com Damasco sob mira de sua artilharia. Forças árabes tentaram frear o contra-ataque israelense, mas as IDF já haviam estabelecido uma forte linha defensiva, difícil de ser rompida.
 
No dia seguinte, os israelenses transferem a prioridade dos suprimentos e do poder aéreo militar para o Deserto do Sinai, contra os egípcios. 2 dias depois, com as forças israelenses com suas posições já consolidadas dentro da Síria, a artilharia de longo alcance continua bombardeando os arredores de Damasco. Durante os 4 dias que seguem, as tropas sírias, iraquianas e jordanianas montam ataques descoordenados e ineficazes contra posições israelenses. O Monte Hermon foi reconquistado no dia 22 de outubro. Israel conseguiu encerrar a guerra recuperando o controle de seus estratégicos “Olhos sobre o Sinai”, que permitiam o domínio de todas as áreas de combate e colocavam a capital síria ao alcance de sua artilharia. Este era o cenário quando Damasco aceitou o cessar-fogo em 22 de outubro. Durante a luta, os sírios perderam mais de 3.500 homens.
 
A brilhante defesa travada pela Sétima Brigada e Brigada Barak nos primeiros dias da guerra continua sendo um dos feitos militares mais extraordinários do século 20, e entrou para a História como uma das grandes batalhas defensivas de todos os tempos, igual à batalha do Somme na 1ª Guerra Mundial ou a de Monte Cassino, na 2ª Guerra.
 
A natureza defensiva da batalha, no entanto, expôs as IDF à plena fúria da artilharia síria, que cobrou um preço punitivo e pesado principalmente sobre os comandantes dos tanques, que representaram quase 2 terços das vítimas israelenses no Golã.


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Falklands/Malvinas - Lições a Serem Consideradas *199



Entre abril e junho de 1982, argentinos e ingleses disputaram pelas "vias de fato", a posse do remoto arquipélago das Falklands, chamadas pelo sul-americanos de Ilhas Malvinas, localizadas no remoto Atlântico Sul ao largo da costa argentina,a cerca de 500 km da base aérea argentina mais próxima. Uma das últimas colônias britânicas, foi invadida pelas forças argentinas e recuperadas pelas forças de sua majestade, após um duro e rápido embate de forças aeronavais num episódio inédito, entre doutrinas ocidentais com equipamentos similares.

Foi a ação naval mais quente da Guerra Fria, e o episódio mais instrutivo sobre como as coisas poderiam ter sido se ela "esquentasse". Para os EUA, houveram 3 níveis de aprendizado distintos: O primeiro nível foi o nível político-estratégico, onde duas nações aliadas suas confrontaram-se usando armas ocidentais. Os conflitos até então davam-se entre aliados dos EUA ou ele próprio, contra aliados soviéticos com armas fornecidas por estes, como era o caso do Oriente Médio, com Israel em constante beligerância com seus vizinhos árabes. Não foi o que aconteceu nas Falklands/Malvinas, onde grande parte das armas eram inglesas, além de francesas e norte-americanas. O sistema SAM Sea Dart, por exemplo, teve a Argentina como único comprador. No nível político a Argentina apostou no contínuo e lento declínio do Império britânico, e que uma reação em local tão distante por um pedaço de terra aparentemente sem muita importância seria improvável. Os soviéticos também acreditavam, erroneamente, no declínio da hegemonia dos EUA, pensando que ainda tinham "gás" para sobreviver.

Porém não era assim que pensavam Ronald Reagan e Margareth Thatcher, que determinou a imediata formação de uma força-tarefa para a restauração do orgulho britânico. Mesmo em alto-mar, muitos a bordo não acreditavam que seriam autorizados e engajar-se na guerra. Foi um grande teste à popularidade da primeira-ministra, que viu muitos dos seus concidadãos a apoiarem e a fortalecerem politicamente. O soviéticos ficaram surpresos ao constatarem que o ocidente continuava sendo uma ameaça aos seus objetivos, e iniciativas como a "Star Wars" do governo dos EUA deviam ser levadas a sério. Muitos governos ligados a NATO também aceitaram a instalação de mísseis Pershing e Tomahawk em seus territórios, talvez encorajados pelo exemplo britânico.

O impacto sobre os rumos soviéticos também foi significativo. Eles estavam cientes de que tinham pela frente uma nova revolução na tecnologia militar com base nos microprocessadores, até então uma novidade. No conflito do sul do mundo, a frota britânica estava lançando mão de mais poder de computação, por exemplo, que os soviéticos tinham em todas as suas frotas. Sua economia era uma sucessão de erros não corrigidos por anos a fio, e não tinham como competir nos novos termos com o Ocidente, continuando a apostar, sem alternativa, nos tipos existentes de armas que já possuíam. Dentro de alguns anos, um novo líder soviético seria escolhido especificamente porque ele prometeu modernizar a URSS, Mikhail Gorbachev. Sua tentativa de resolver o problema econômico soviético acabou por destruí-los como instituição.

Outro nível afetado foi o tático. A Guerra das Falklands/Malvinas foi particularmente interessante porque era uma versão em miniatura da guerra que os estrategistas navais norte-americanos pensavam que poderiam ter que lutar. Com a suas aeronaves de ataque armadas com mísseis e seus submarinos, os argentinos eram uma espécie de versão em pequena escala da ameaça que os soviéticos apresentariam contra as forças de ataque navais da NATO no Mar da Noruega. A força-tarefa britânica era uma versão em pequena escala de uma força maior dos EUA e seus aliados tentando ir para o norte, para executar sua estratégia marítima. Os argentinos fizeram muito do que os soviéticos teriam que fazer: Eles tinham para detectar, rastrear e atacar uma força-tarefa britânica que se aproximava. Em última análise, os britânicos tiveram que desembarcar tropas em face a ameaça de poder aéreo e forças terrestres argentinos. 

Muitos fatos inesperados se caraterizaram com este conflito, mostrando que qualquer planejamento pode ser desafiado. Para os britânicos, a principal surpresa era a necessidade de combater em um cenário totalmente diversos daquele considerado em seu planejamento militar, que se concentrava completamente no "front" Central na NATO. A Grã-Bretanha constatou que ainda tinha responsabilidades globais. Isso não era exclusivamente pelo legado de seu império; alguns anos depois do episódio das Falklands/Malvinas, a Royal Navy encontrava-se operando em patrulhas de proteção ao tráfego petroleiro no Golfo Pérsico. Esta operação não se deu porque haviam colonias britânicas lá ou uma dependência estava com problemas, mas porque, como parte da aliança ocidental, a Grã-Bretanha tinha interesse na manutenção desta rota de transporte de petróleo. Posteriormente a US Navy passou a operar lá também.

Na véspera da guerra os britânicos estavam experimentando uma nova série dos intermináveis comentários do ministro da defesa visando reduzir os custos de defesa. O ministro John Nott considerava que navios de guerra de superfície eram inúteis em uma guerra da NATO, na teoria de que uma guerra na Europa seria longa e os reforços por via marítima chegariam. Ele também rejeitou o argumento da Royal Navy que a sua força de superfície deveria executar uma função dissuasiva essencial durante todo o período de preparação para a guerra. Portanto, Nott planejou, entre outros, vender os novos HMS Invincible e cancelar seus 2 navios irmãos. Ele também pretendia vender toda a frota anfíbia. Para ele, o único futuro aceitável estava na frota dos submarinos de ataque nuclear. Na véspera da guerra, o Invincible foi vendido para a Austrália. Isto deixou a Royal Navy com apenas o HMS Hermes.

Quando irrompeu a guerra, a venda foi cancelada. O Invincible tinha sido concebido como um navio-aeródromo limitado, com funções anti-submarino, com a teoria de que em uma guerra, forças navais da NATO poderiam ser protegidas por aeronaves em terra. Embora isso não tenha funcionado durante os exercícios, a teoria foi mantida, provavelmente porque ao admitir que a defesa aérea proporcionada pelo navio-aeródromo  implicaria em manter a despesa com defesa em níveis elevados. Esta teoria de ficção claramente não poderia aplicar-se a uma frota enviada a milhares de milhas das Ilhas Britânicas. Felizmente a aeronave suportada por estes navios, o Harrier, tinha capacidade ar-ar, embora seu desempenho fosse uma incógnita, principalmente pela ausência de mísseis BVR. Infelizmente, esta teoria "furada" tinha impedido qualquer tentativa de se desenvolver uma capacidade de alerta antecipado aerotransportado (AEW) para guarnecer os navios, dando-lhe a capacidade de detectar e rastrear alvos aéreos abaixo do horizonte radar da frota (cerca de 49 km). Descobriu-se que, mesmo sem cobertura de radar aéreo, o Sea Harriers foram o elemento mais útil na defesa aérea da esquadra da Royal Navy durante a guerra.



Antes da força-tarefa chegar na área de operações, um Boeing 707 argentino de uso civil, a avistou. A força-tarefa se mostrou incapaz de derrubá-lo, sendo que, no dia seguinte ela foi atacada sem ser atingida. O incidente foi interessante na medida em que os argentinos foram capazes de enviar o 707 para interceptar a força-tarefa sem a realização de um grande esforço de inteligência, pois eles sabiam mais ou menos onde ela estava. Descobriu-se que uma universidade argentina havia percebido que os navios que utilizam comunicações via satélite podem ser monitorados de forma passiva (esta mesma técnica foi redescoberta várias vezes).

Até 1982, acreditava-se que os satélites resolveriam um problema fundamental: como se comunicar livremente a longa distância, sem ser rastreado. A ideia era era que o feixe do navio não poderia ser facilmente detectado. Os únicos meios alternativos de comunicação de rádio de longa distância, eram a alta frequência (HF), que facilmente poderia poderia ser rastreada. Na verdade, há tempos que a US Navy tinha que disciplinar sua comunicação HF de longo alcance especificamente para frustrar o rastreamento soviético. Ficara claro que a mudança para satélites não era suficiente; a ligação de um sistema de satélite e navio transmitindo muita informação (sob a forma de Doppler) não era tão discreta assim. Demorou cerca de uma década para resolver o problema com novos satélites (Em 1991 os soviéticos aparentemente usaram a técnica argentina para acompanhar os movimentos no Golfo, mas que podem ter sido exploração de comunicações de navios mercantes via satélite).

A ironia da localização por satélite era de que a Royal Navy, muito mais do que outros países da NATO, enfatizou o silêncio de rádio. Durante as duas guerras mundiais, a Royal Navy se beneficiou consideravelmente a partir da interceptação de sinais de rádio inimigo. Embora tenham sido aprovados links de dados digitais com as outras marinhas da aliança, a Royal Navy preferiu não usá-los, e parece que os seus operadores não estavam familiarizados com seus benefícios.

A visão britânica de silêncio de rádio foi demonstrada quando, o capitão do HMS Hermes ordenou que suas emissões do TACAN (navegação aérea táctica) fosse orientada abaixo do mastro. A função do TACAN é assegurar que as aeronaves de um navio-aeródromo possam encontrá-lo. Sem o TACAN, os pilotos podem ficar "cegos" em relação ao seu navio base em más condições meteorológicas. O HMS Hermes perdeu 2 de seus Harriers para o mar pelo mau tempo na rota para as Ilhas, e parece que a ausência do farol TACAN foi a culpada.
 
A perda do HMS Sheffield pode ser imputada a falta de familiaridade com os links de dados. Um link de dados fornece a todos os navios de uma força uma imagem tática consolidada, com dados coletados por todas as unidades. Se o radar de um navio não vê um alvo qualquer, o link irá mostrá-lo se qualquer outro navio o detectou. O USS Stark (FFG 31) demonstrou a importância deste recurso (NCW - Guerra Centrada em Redes). As condições de radar no Golfo eram notoriamente ruins, e o próprio alcance do radar do Stark era muito limitado. No entanto, um avião AWACS da Arábia Saudita detectou um caça do Iraque se aproximando do navio norte-americano, que recebeu os dados através de um link padrão. Aconteceu que a informação não foi considerada como devia, mas eles estavam conscientes de que um avião estava em aproximação antes de ser atingido.

O HMS Sheffield não teve a mesma sorte. No dia em que foi atingido, estava como piquete próximo ao Hermes. Dada a sensibilidade que a Royal Navy tem sobre emissões eletrônicas, o Sheffield no lugar do Hermes, foi encarregado pela comunicação por satélite com Londres. Como todos os outros navios, seu link de satélite funcionava na faixa de frequência de seu equipamento radar. Para evitar falsos alarmes, ele desligou seu equipamento de ECM e seus radares de busca, que poderiam interferir com o link. O oficial tático do navio considerou desnecessário permanecer no seu posto de comando sem estes sensores operando, pois seu navio estava efetivamente cego, situação esdrúxula para um navio operando como piquete . Ele fez uma pausa para o café, sem saber que um voo armado com o míssil antinavio Exocet pelos Super Étendard argentinos estavam a caminho. Na verdade, outros navios da força-tarefa haviam detectado e estavam monitorado os radares, tanto do ataque Super Étendard como do avião de patrulha marítima Neptune que apoiava o ataque francês. Esta informação foi compartilhada no datalink da frota, e o Sheffield deveria a ter recebido, mas a Royal Navy não tinha o costume habitual de utilizar os dados do mesmo modo como a US Navy o faz.



Os atacantes disparam seus 2 mísseis Exocet, um dos quais atingiu o Sheffield. Ele não explodiu, mas começou um incêndio que logo alcançou o combustível do navio. A fumaça resultante levou a tripulação a abandona-lo. O fogo não parou os motores do navio, que deslocou-se para fora da área de operações, apenas para afundar no dia seguinte durante uma tempestade. O incidente fez a Royal Navy alterar sua rotina-padrão no uso de dados, e começou a usar os links de dados com muito mais atenção. Após a guerra, foram aprovadas práticas em relação ao data-link mais semelhantes às da US Navy, e também adotados equipamentos mais capazes. Como sempre, espera-se o ladrão entrar para trancar as janelas.

Por seu lado, a US Navy parece ter assumido que qualquer um que esteja atacando um navio armado com mísseis antiaéreos eficazes, iria adotar práticas muito semelhantes as dos argentinos. Em vez de simplesmente procurar o alvo, o atacante iria voar abaixo do radar, apoiado por um meio dotado de radar que lhe forneça a posição do alvo. Quando ao largo da baia de Subic em rota para o Golfo, 6 anos mais tarde, o Capt. Rogers do USS Vincennes (CG 49) foi informado sobre aeronaves com comportamentos idênticos, no caso um P-3 iraniano voando um padrão aparentemente sem rumo, Rogers muito naturalmente assumiu que tinha um alvo e um atacante não detectado. Essa percepção, por sua vez precipitou a ação que destruiu um Airbus iraniano. Nem todas as lições de uma guerra podem resultar em avaliações corretas em situações futuras.

A maioria dos ataques aéreos argentinos foram realizados durante o desembarque britânico sem saber exatamente onde estavam as escoltas. Por outro lado, os britânicos sabiam que as aeronaves dos argentinos iriam operar, e posicionaram seus valiosos navios-aeródromo o mais a leste possível, com a distância definida pela capacidade de seus Harriers intervir no combate. Uma vez que as tropas britânicas ficaram o pé em terra firme, as baterias de defesa antiaéreas dos navios foram reforçadas por SAMs Rapier terrestres.

Isso não deveria ter sido uma situação completamente nova para a Royal Navy. Neste mesmo ano, uma das suas principais missões exercitadas para tempos de guerra, foi apoiar as forças norueguesas lutando contra um ataque soviético em seu território. Por exemplo, o Sea Harrier tinha capacidade nuclear especificamente para que pudesse destruir grandes unidades do Exército Soviético. Lutando em ou perto de um fiorde norueguês, os navios britânicos ao largo certamente teriam se colocado dentro do alcance de baterias SAMs terrestres, e certamente teriam enfrentado ataques aéreos soviéticos. Além disso, quaisquer Sea Harriers certamente teriam tido solicitados para apoiar navios e tropas como nesse caso. A experiência nas Falklands/Malvinas sugere que este tipo de operação não tinha sido pensada. Foi certamente um dos grandes interesses para a US Navy e US Marine Corps na época.

Os navios britânicos tinham 3 tipos de mísseis de defesa aérea. O Sea Dart, globalmente equivalente ao Standard SM-1 dos EUA, de médio alcance, e com com radar semi-ativo. Alguns deles tinham o Sea Wolf, um míssil altamente automatizado para defesa de ponto. Os mais antigos tinham Sea Cat, um míssil de defesa de ponto guiado por comando. O mais próximo que a US Navy tinha do Sea Wolf era o Sea Sparrow. Os argentinos tinham os 2, o Sea Dart que tinham comprado a bordo de 2 destróieres com mísseis, e o Sea Cat, mas não com Sea Wolf. O Sea Dart havia sido concebido com a missão de operar em mar aberto a serviço da NATO. Embora, que em teoria, poderia lidar com alvos em altitudes até cerca de 17 metros (porque era semi-ativamente guiado), mas não poderia lidar com ataques de saturação, pois tinha de dedicar um canal de orientação para cada alvo, desde a detecção à destruição. Os destróieres Type 42 estavam armados com ele e também com canhões individuais de 4,5 polegadas. A solução britânica para as limitações do Sea Dart foi agregar a estes navios uma escolta de navios com mísseis Sea Wolf. Ele não era apenas automatizado, mas tinha ainda capacidade antimíssil. Quanto ao Sea Cat, que tinha sido desenvolvido para substituir armas de 40 mm, não era nem automático e nem supersônico. Embora houvesse relatos iniciais de que derrubaram várias aeronaves argentinas durante a guerra, apenas um abate de Skyhawk foi confirmado.

Os radares britânicos não tinham qualquer capacidade de indicação de alvo em movimento (MTI). Os argentinos, sem dúvida sabiam, uma vez que tinha comprado 2 destróieres Type 42 (equipados com os mesmos radares utilizados pela Royal Navy), que atacar aeronaves com o Sea Dart eram impraticável próximo às ilhas, tendo para isto que deixar o terreno circundante.



O conhecimento argentino sobre o Sea Dart parece ter tido uma consequência interessante. Os argentinos sabiam que podiam evitá-lo, voando baixo, mas que carregavam consigo seu próprio perigo. Um avião voando baixo pode ser destruído pela explosão de sua própria bomba, portanto os argentinos espoletaram suas bombas com retardos relativamente longos. Em vários casos, as bombas passaram por toda extensão dos navios e através destes antes de explodir. Em outros a espoleta falhou, e as bombas ficavam alojadas nos navios. A HMS Antelope sobreviveu ao impacto, para ser destruída quando da tentativa de desativar a bomba.

Em teoria, a defesa aérea sobre o teatro Falklands/Malvinas teve 4 componentes principais distintos: Caças Sea Harriers, SAMs Rapiers em terra, e SAMs Sea Dart e Sea Wolf nos navios. Na verdade, esses elementos não foram suficientemente bem coordenados. Por exemplo, nunca houve qualquer ligação entre os mísseis em terra e da frota. Os Sea Harriers foram controlados pelos navios, e não tinham ligação direta com as baterias em terra. Este arranjo fazia sentido no mar do Norte ou no Atlântico Norte, quando o navio-aeródromo seria apoiado diretamente pelos navios com Sea Dart a distância, mas isso não era a realidade nas ilhas. Os britânicos resolveram este o problema por regras simples de engajamento, que proibiam quaisquer engajamentos enquanto os Sea Harriers estivesse dentro de alcance. Isso fazia sentido na medida em que os Sea Harriers eram muito mais eficazes do que os mísseis contra as aeronaves argentinas.

Os Sea Harriers tiveram que operar em áreas onde faziam sombra aos mísseis. Isto poderia ter consequências, como por exemplo num dia em que o destroier com mísseis Sea Dart HMS Coventry estava em Falkland Sound, acompanhado da fragata HMS Broodsword com mísseis Sea Wolf. 3 aeronaves argentinas apareceram ao longo da costa nas proximidades, com o objetivo de saturar a capacidade de defesa aérea do Coventry. Os arcos de lança-mísseis da Broadsword eram por vezes sombreados pelo Coventry, e outras vezes pela presença de Sea Harriers, que tinham pouca capacidade de se comunicar com o navio. As aeronaves argentinas conseguiram passar e lançar 2 bombas que penetraram no navio. Uma delas explodiu.

Os Sea Harrier tinham resiliência limitada, e não havia nenhuma possibilidade de manter uma CAP (patrulha aérea de combate) contínua sobre Falkland Sound. Em vez disso, os britânicos posicionaram submarinos de ataque ao largo da costa da Argentina (piquetes), o que poderia alertar os ataques argentinos quando eles aparecessem sobre o mar, avisando à frota.

Por outro lado, os argentinos estavam bem conscientes dos limites do desempenho dos Sea Harrier. Eles sabiam que os 2 navios-aeródromo  britânicos eram insubstituíveis e posicionaram-nos tão a leste quanto possível, e os limites dos Sea Harrier se mostraram claros com isso. O único submarino argentino eficaz não teve dificuldade em encontrar os navios. Em exercícios da NATO, submarinos a diesel encontrando navios-aeródromos aconteciam apenas quando eles eram obrigados a ficar estáticos em um lugar, uma restrição artificial usada para garantir que os comandantes de submarinos diesel teriam a oportunidade de fazer ataques. Nesta campanha, os navios-aeródromos britânicos estavam exatamente nesta situação, e o submarino argentino Tipo 209 San Luis atacou o HMS Hermes.
Este ataque, potencialmente fatal, foi frustrado por um lance de sorte dos britânicos, quando os marinheiros argentinos montaram o dispositivo de iniciação do torpedo de forma equivocada, impedindo sua detonação. O alcance dos sonares britânicos era limitado, e a área protegida em torno do navio muito pequena. Provavelmente se o comandante argentino tivesse disparado de uma distância mais curta (e mais vulnerável), ele teria logrado sucesso. A lição mais interessante da guerra anti-submarina (ASW) foi uma já velha conhecida: A qualquer momento, um submarino poderá estar presente, mesmo não estando lá, pois não se pode detectá-lo com precisão absoluta e sempre haverão falsos alarmes. Uma vez que os britânicos consideravam que um submarino argentino estava no mar, eles claramente ficavam desconfortáveis. Antes da guerra, houve muitas tentativas para reduzir as despesas com armas. Torpedos mostravam-se caros, e as estimativas eram de mais e mais reduções, com curtos ciclos de produção e capacidades menores por navio.

Outra lição excelente da ASW foi que essas estimativas eram fantasiosas. Diante da ameaça de submarinos diesel-elétricos, os britânicos tinham que recorrer ao sonar ativo, devido a estes submersíveis apresentarem assinatura acústica ínfima. Uma consequência foi que não se conseguia distinguir as baleias dos submarinos. Não só uma corrida de baleia está próxima a velocidade do submarino, como ela vai voltar-se para escapar a um ruído alto em grande parte da forma como um submarino ao tentar evadir-se.

O submarino argentino podia posicionar-se no leito oceânico. Os britânicos (e outros no âmbito da NATO, incluindo os EUA) não tinham nenhuma arma capaz de detectar e atacar um submarino estático no fundo do mar. A NATO dependia quase inteiramente de torpedos que distinguem os seus objetivos pelo efeito doppler, devido ao movimento do submersível. Não se sabe se este problema foi resolvido logo.
 
A guerra também demonstrou o impacto psicológico do ataque de torpedo sobre os argentinos. Os britânicos decretaram uma zona de exclusão marítima em torno das ilhas quando sua força-tarefa se aproximou. O submarino de ataque nuclear, HMS Conqueror, aplicou a determinação de Londres afundando o cruzador argentino ARA Gen Belgrano quando cruzava através desta zona (ou próximo dela). Este ataque, logo no início da contenda, mostrou o quão determinados os britânicos eram. Os argentinos não engajaram-se em mais nenhuma operação de superfície neste perímetro. A lição maior foi de que uma postura ofensiva sempre mostra sua eficácia, o que pode ter encorajado os EUA a ver que as operações submarinas nas áreas capitais soviéticas poderiam fazer as forças navais vermelhas hesitar, tendo como resultado o reforço naval da NATO no Atlântico. Este pensamento dos EUA já havia sido formulado muito antes da guerra.

No geral, a Marinha dos EUA foi atingida mais fortemente pela rapidez dos ataques aéreos. Como os britânicos, que tinham como padrão a operação em mar aberto, donde os navios teriam tempo de alerta considerável da aproximação de um ataque aéreo. Durante a Guerra do Vietnã, a US Navy vinha procurando um equipamento mais automatizado de defesa, mas em 1982, o único que existia era o sistema Phalanx. A reação imediata à experiência deste conflito foi o de incrementar o programa Phalanx e fornecer aos navios cargas muito maiores de chamarizes. Os trabalhos de armas defensivas, tais como o RAM, também foram acelerados.

A US Navy já tinha lidado com problemas de vulnerabilidade à ameaça aérea. Ela já tinha radares capazes de detectar alvos voando por terra, e já enfatizava o uso de links de dados, e estava trabalhando duro para superar as limitações das ligações existentes.

A questão maior levantada por esta guerra era se as frotas de superfície ainda eram válidas em face a ameaça dos mísseis, como o Exocet que afundou o HMS Sheffield. O míssil antinavio era considerado bem antes desta guerra o epítome do poder naval moderno. A principal lição parece ter sido a de que vários navios britânicos foram neutralizados porque suas superestruturas de alumínio sucumbiu ao fogo. O resultado foi que a nova Classe Arleigh Burke dos EUA, concebido depois da guerra, tinha suas superestruturas de aço. Os Burkes são realmente navios altamente capacitados no ítem sobrevivência, como a experiência do USS Cole depois mostrou, mas que foi devido a muito mais do que a construção apenas da superestrutura de aço - o que em si não teria sido suficiente.

Se a guerra realmente simulou uma frota em miniatura dos EUA contra uma força soviética também em miniatura, o sucesso dos britânicos mostraram que uma frota de ataque operando em grande escala tinha uma excelente oportunidade de levar a cabo a sua missão, uma chance muito melhor do que os críticos da evolução da estratégia de poder naval dos EUA haviam imaginado. Esta estratégia marítima custou muito aos soviéticos, pois teriam que dispender muito mais recursos para se preparar para uma guerra, num momento em que eles estavam mal embasados. A necessidade de um incremento, não apenas naval, mas para outros fins militares, obrigou os soviéticos a tomar medidas para mudar sua economia e seu sistema político. Descobriu-se que o sistema não tinha muito fôlego e que logo entrou em colapso. A Guerra no Atlântico Sul teve sua importância geoestratégica, porque em alguns aspectos importantes foi o começo do fim da Guerra Fria.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Submarinos de Propulsão Nuclear *198


O submarino tem como sua principal característica a capacidade de operar incógnito, ou seja, é muito difícil saber se ele está ali ou não. Quanto menos ele aparecer, mais presente se fará nos cenários onde sua presença for provável, pois esta simples possibilidade pode fazer frotas inteiras ficarem restritas a suas bases, mesmo não estando fisicamente presente e deixando a dúvida ao adversário. O conflito das Falklands/Malvinas confirmou este pressuposto, mesmo eles tendo se mostrado presentes com o afundamento do ARA Gen Belgrano, concluindo-se que as operações britânicas teriam sido mais difíceis sem a sua contribuição para o controle de área. O controle de área marítima pressupõe superioridade e, para assegurá-la, a contribuição do submarino é complementar à dos navios, aviões e helicópteros (voando de terra ou embarcados). Ela se manifesta através do emprego do submarino contra navios de superfície e na proteção contra outros submarinos que tentem burlar este controle. Sob certas circunstâncias, o papel do submarino no controle de área pode crescer, sem prescindir dos navios e das aeronaves, principalmente se o adversário dispuser de aviação (contra a qual o submarino é útil apenas para detecção e alarme). No conflito de 1982 no Atlântico Sul, os submarinos ingleses induziram a esquadra argentina a ficar em suas bases (após o afundamento do Cruzador Belgrano, episódio de disputa pelo controle); entretanto, a supremacia naval assim obtida não teria bastado: o que permitiu a retomada das ilhas foi a capacidade da força de superfície e aeronaval inglesa de operar na área, a despeito do tenaz e contundente esforço aéreo argentino.

Deixando de lado o lançamento de mísseis nucleares, que é a capacidade submarina mais comumente divulgada, o submarino é útil para a projeção sobre terra como vetor de pequenas incursões, facilitadas por sua discrição, e como instrumento auxiliar ou complementar para o controle da área onde deve ocorrer a projeção. Na tarefa de negar ao inimigo o uso de área marítima, a discrição do submarino o faz uma ferramenta de primeira grandeza, juntamente com a aviação baseada em terra, esta apenas podendo operar quando a área de operações está ao alcance de suas bases aéreas. Essa capacidade do submarino constitui um problema às maiores potências navais, que o sentem como ameaça real quando operando contra potências menores. Já no início do século passado, um primeiro-ministro inglês advertia que a Inglaterra não devia contribuir para o desenvolvimento do submarino, que poderia vir a pôr em risco a predominância inglesa nos mares - como pôs nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Neste entender, aos países de menor expressão caberia apenas uma estratégia naval defensiva e costeira e, como os submarinos são úteis para finalidades mais amplas, poderiam até comprometer o tranquilo predomínio naval dos poderosos (no caso o Reino Unido), de forma que é natural que se sentissem contrariados por vê-los prestigiados nos programas navais das nações menos poderosas. Voltando ao exemplo do conflito das Falklands/Malvinas: a Inglaterra teria enfrentado graves dificuldades se a Argentina dispusesse de uns poucos submarinos modernos que, com a aviação voando do continente, haveriam de criar severa ameaça para os navios-aeródromo e transportes de tropa no teatro próximo às ilhas. A preponderância inglesa talvez acabasse por prevalecer, pois a Argentina não poderia disputar o controle da área em virtude da ameaça dos submarinos ingleses, mas o patamar de risco e o custo do sucesso teriam sido mais altos.



De propulsão convencional ou nuclear, o acima exposto é verdadeiro à medida que ambos contam com a característica de operar incógnitos, embora em níveis distintos. Um submarino convencional é muito discreto quando operando apenas com seus motores elétricos usando a energia de suas baterias, mas essa discrição é comprometida quando ele navega na superfície ou próximo dela para que seu snorquel possa aspirar ar atmosférico e recarregar estas baterias com o giro de motores diesel, poupando sua energia armazenada para as situações táticas de interação com o adversário. Assim, embora o submarino convencional possa ser muito mais discreto que o nuclear por curtos períodos, este é mais discreto no cômputo geral, porque independe da atmosfera. A superioridade do submarino de propulsão nuclear se mostra quando se analisa a autonomia e velocidade máxima, onde se mostra capaz de alcançar áreas distantes com rapidez e nela executar patrulha extensa, graças à alta velocidade que pode manter por longos períodos. Essa vantagem também existe no cenário tático, pois o nuclear assume posição de ataque e se evade da reação com maior rapidez do que o convencional, que está sujeito à limitação das baterias. Foi a mobilidade dos submarinos nucleares que permitiu aos ingleses a rápida implementação e a eficiente manutenção da zona de exclusão no teatro das Falklands/Malvinas, com poucos submarinos (4 supostamente). Outro fator a considerar é que o submarino nuclear pode operar por longo tempo, já que o combustível é inesgotável, sob a perspectiva prática operacional. Sua autonomia é limitada apenas pela resistência das tripulações e pela capacidade de transportar gêneros e pelo consumo de armas, enquanto que a do convencional é limitada pela capacidade e pelo consumo de combustível. Deduz-se, pois, que embora o submarino convencional continue útil para negar o uso do mar, é evidente que o submarino nuclear é vocacionado para ir mais longe, patrulhar áreas maiores e por mais tempo. O submarino convencional supera o nuclear apenas na discrição, enquanto propulsado por suas baterias, mas isso só é possível por tempo relativamente curto, tão mais curto quanto maior tiver que ser a velocidade usada. É de se esperar que o aperfeiçoamento das máquinas do submarino nuclear venha a reduzir até mesmo esta vantagem do convencional.

Para impedir que navios adversários se aproximem do litoral e águas costeiras (defesa da fronteira marítima), a melhor solução seria o controle da área por navios, aviões voando de terra e, complementarmente, por uns poucos submarinos convencionais. Entretanto, se for conveniente aprofundar a defesa para maiores distâncias do litoral, o submarino nuclear se torna mais interessante. Ele será tanto melhor do que o convencional para esse propósito, quanto mais distante (e mais extensa) for a área onde se deseja estabelecer esta influência por submarinos. Para dificultar a navegação adversária em águas distantes (negar o uso do mar), os submarinos nucleares, cuja excelente mobilidade lhe permite implementar patrulha distante e extensa, são mais adequados, com um número de submarinos menor do que seria necessário para implementá-la com os convencionais. Note-se que em ambos os casos o submarino nuclear apresenta uma vantagem adicional provida por sua mobilidade privilegiada: sua movimentação para a área de patrulha e seus movimentos podem ser mantidos mais facilmente em sigilo, já que a propulsão nuclear lhe permite independer da atmosfera e manter total anonimato. Retornando ao exemplo relativo às Falklands/Malvinas: como foi dito acima, com uns poucos bons submarinos convencionais, a Argentina poderia ter produzido graves dificuldades em torno das ilhas (área razoavelmente restrita e próxima). Entretanto, se a Argentina tivesse contado com 2 ou 3 unidades nucleares, o problema inglês seria maior porque a ameaça argentina se estenderia das proximidades da base de Ascensão até as ilhas em disputa (principalmente se a Argentina dispusesse de esclarecimento aéreo para orientar os submarinos). Esse exemplo elucida o valor do submarino nuclear como instrumento de defesa distante, num quadro de confronto com potências melhor preparadas.

Considerando o aspecto mais estratégico e a operação de esquadras de primeira linha como a US Navy, os submarinos de ataque propulsados por energia nuclear (SSN) são excelentes vetores de projeção de força. Eles exercem o controle do mar em apoio a grupos de ataque de superfície, escoltam submarinos de mísseis balísticos e negam acesso a grupos de batalha inimigos em zonas de interesse. Um SSN normalmente precisa apenas atracar para suprir provisões e armas, realizar reparos e manutenção e mudar a tripulação. Além da resistência prolongada, a energia nuclear fornece ao SSN uma velocidade submersa sustentada de mais de 30 nós. Isso se traduz em mobilidade oculta e de longo alcance, que supera as unidades de superfície no inventário de qualquer marinha que não os possui. Os SSKs (submarinos não nucleares) não têm velocidade estratégica, mas o tamanho de um SSN limita implantações efetivas nos litorais e estuários, e seu tamanho o torna menos furtivo, aumentando a probabilidade de detecção. Portanto, existem missões operacionais para as quais os SSNs não são adequados. O deslocamento de mais de 7.000 toneladas da classe Virginia da US Navy e da classe Astute do Royal Navy provavelmente os torna muito longos e muito altos da quilha ao periscópio para operar efetivamente em águas rasas. Embora a classe Barracuda francesa seja menor, estas unidades ainda não são particularmente adequados para operações em zonas litorâneas, em comparação com SSKs menores e de baixa assinatura. Por outro lado, devido à falta de mobilidade, os SSKs não são adequados para apoiar forças de superfície em movimento rápido. Uma velocidade sustentável de menos de 10 nós, torna um SSK vulnerável à detecção enquanto respira para recarregar suas baterias.



Mesmos com os avanços na tecnologia de sonar, a detecção e direcionamento de submarinos em águas confinadas e rasas, onde salinidade variável e zonas térmicas estão presentes, permanece extremamente difícil. Nessas águas litorâneas, os submarinos convencionais são encarregados de coleta de informações, vigilância e reconhecimento (ISR). Eles realizam a proteção de rotas, pontos de estrangulamento e portos. Também são adequados para operações precursoras - isto é, para "preparar um espaço de batalha antes das operações principais ". Sua primeira tarefa é "pesquisar a área, identificar ameaçasm, explorar e avaliar o meio ambiente". Embora perfeitamente adequado para um papel de ISR em águas costeiras, uma vez que as operações hostis iniciam, o submarino convencional moderno pode facilmente se tornar uma plataforma letal de armas, seja como caçador-assassino ou em apoio a um grupo de batalha. Operar um submarino a menos de 2 nós, apenas à metros acima do fundo do mar irregular ou com um fundo não detectado por um período prolongado, são as tarefas mais adequadas para um SSK. Não obstante os avanços feitos em ladrilhos anecóicos e os benefícios do ruído ambiente presentes em águas rasas, a assinatura acústica do reator nuclear de um SSN e suas aparências associadas raramente serão ocultadas. A assinatura infravermelha de um reator nuclear é detectável em quase todos os estados de mar devido à estrutura térmica dos padrões de ondas. Perto do fundo do oceano, a entrada de água de resfriamento nos SSNs está propensa à injestão de contaminantes. Por outro lado, os submarinos convencionais atuais são extremamente silenciosos, com assinaturas magnéticas e infravermelha muito baixas. Quando alimentados por baterias de íon de lítio e propulsão AIP, esses submarinos podem operar em estado de silêncio de patrulha ou permanecer no fundo do mar por várias semanas sem vir a superfície para ligar seus motores diesel e renovar o ar.



A Propulsão Nuclear

Um navio ou submarino movido a energia nuclear usa um reator nuclear para gerar calor. O calor provém da fissão do combustível nuclear contido no reator. Como este processo também produz radiação, é necessário que o reator esteja envolto em uma armadura capaz de bloqueá-la e proteger a tripulação. Os componentes de um reator (usina) são feitos de aço de alta resistência, trocadores de calor (gerador de vapor) e tubulações, bombas e válvulas associadas. Cada reator contém mais de 100 toneladas de blindagem de chumbo, parte da qual se torna radioativa por contato com material radioativo ou pela ativação de nêutrons de impurezas no chumbo. Todo este peso também requer que o reator seja montado no centro do navio, por questões de equilíbrio.

A maioria das plantas de propulsão nuclear usa um projeto de reator de água pressurizada (PWR) que possui 2 sistemas básicos - um sistema primário e um secundário. O sistema primário circula água comum e consiste no reator, nas tubulações, nas bombas e nos geradores de vapor. O calor produzido no reator é transferido para a água sob alta pressão, para que não ferva. Essa água é bombeada através dos geradores de vapor e volta ao reator para reaquecimento. Nos geradores de vapor, o calor da água no sistema primário é transferido para o sistema secundário para criar vapor. O sistema secundário é isolado do sistema primário para que a água nos dois sistemas não se misture, reduzindo a contaminação. No sistema secundário, o vapor flui dos geradores para acionar as turbinas a vapor, que podem acionar geradores que alimentam motores elétricos ou diretamente os eixo propulsores do navio, além de gerar toda a eletricidade que o navio necessita. Depois de passar pelas turbinas, o vapor é condensado e devolvido na forma de água aos geradores de vapor pelas bombas de alimentação. Assim, os sistemas primário e secundário são sistemas fechados onde a água é recirculada e renovada. Como este ciclo não requer oxigênio, a nave pode operar completamente independente da atmosfera terrestre por longos períodos de tempo.


Os reatores navais sofrem repetidas variações durante as manobras do navio, ao contrário dos reatores civis que operam em estado estacionário. Os requisitos de segurança nuclear, radiação, choque, silêncio e desempenho operacional, além da operação próxima à tripulação, ditam padrões excepcionalmente altos para fabricação de componentes e garantia de qualidade. As partes internas de um reator naval permanecem inacessíveis para inspeção ou substituição ao longo de uma longa vida útil - diferentemente de um reator nuclear comercial típico, aberto para reabastecimento aproximadamente a cada dezoito meses.

Ao contrário das usinas nucleares comerciais, os reatores navais devem ser robustos e resistentes o suficiente para suportar décadas de operações rigorosas no mar, sujeitos às exigências de lançamentos, rolagens e demandas rápidas de energia do navio, possivelmente em condições de batalha. Essas condições - combinadas com o ambiente hostil dentro de uma planta de reator, que sujeita componentes e materiais aos efeitos a longo prazo de irradiação, corrosão, alta temperatura e pressão - requerem um esforço de tecnologia ativo, completo e perspicaz para operar o reator e aprimoram a confiabilidade das plantas operacionais, além de garantir que a tecnologia de propulsão nuclear naval ofereça as melhores opções para necessidades futuras. Não há demanda civil por sistemas de propulsão nuclear silenciosos, compactos e resistentes a choques, que manteriam atualizados os projetistas e os trabalhadores da produção. O resultado é uma concorrência reduzida e custos mais altos. Os requisitos para os componentes da usina de propulsão nuclear naval são muito mais rigorosos do que o necessário para produtos civis. 

Os componentes nucleares dessas usinas estão alojados em uma seção do navio chamada compartimento do reator. Todos os compartimentos do reator têm o mesmo objetivo, mas podem ter formas diferentes, dependendo do tipo de navio. Para submarinos, o compartimento do reator é um cilindro horizontal formado por uma seção do casco de pressão do navio, com anteparas blindadas em cada extremidade.

As usinas de propulsão de navios movidos a energia nuclear continuam sendo uma fonte de radiação mesmo depois que os navios são desligados e o combustível nuclear é removido. O reabastecimento remove todos os componentes da fissão, pois o combustível é projetado, construído e testado para garantir que contenha os sub-produtos gerados. Mais de 99,9% do material radioativo restante é parte integrante das ligas estruturais que formam os componentes da planta. A radioatividade foi criada pela irradiação de nêutrons dos elementos de ferro e liga nos componentes metálicos durante a operação da planta. Os 0,1% restantes vem da corrosão radioativa e produtos de desgaste que foram circuncidados pelo líquido de arrefecimento do reator, tornando-se radioativos pela exposição a nêutrons no núcleo do reator e depois depositados nas partes internas do sistema de tubulação.

O combustível em um reator contém átomos de urânio selados no revestimento de metal. O urânio é um dos poucos materiais capazes de produzir calor em uma reação em cadeia auto-sustentável. Quando um nêutron causa a fissão de um átomo de urânio, o núcleo de urânio é dividido em partes que produzem átomos de produtos de fissão com menor número atômico. Quando formados, os produtos de fissão inicialmente se separam em velocidades muito altas, mas não viajam muito longe, alguns milésimos de polegada, antes de serem parados no revestimento do combustível. A maior parte do calor produzido no processo de fissão vem da interrupção desses produtos de fissão no combustível e da conversão de energia cinética em calor.

A radioatividade é criada durante a fissão, porque alguns desses sub-produtos são altamente radioativos quando formados, e onde reside a maior parte da radioatividade produzida. O combustível de urânio nos núcleos dos reatores de propulsão nuclear naval utiliza combustível e revestimentos altamente resistentes à corrosão e à radiação. Como resultado, o combustível é muito estável e possui uma integridade muito alta. O combustível é projetado, construído e testado para garantir que cada célula contenha e mantenha os sub-produtos resultantes, de forma que não haja liberação do sub-produto de fissão do combustível em operação normal.

A fissão de urânio também produz nêutrons enquanto a usina nuclear está em operação. A maioria dos nêutrons produzidos é absorvida pelos átomos no combustível e continua a reação em cadeia. No entanto, alguns dos nêutrons viajam para longe do combustível, e são absorvidos na estrutura metálica que sustenta o combustível ou nas paredes do vaso de pressão do reator. Quantidades vestigiais de produtos de corrosão e desgaste são transportadas pelo fluido de arrefecimento do reator das superfícies metálicas da planta do reator.

O líquido de arrefecimento do reator transporta alguns desses produtos radioativos pelos sistemas de tubulação, onde uma parte da radioatividade é removida por um sistema de purificação. A maioria dos radionuclídeos restantes são transportados do depósito do núcleo do reator aos sistemas de tubulação. Esses nêutrons, quando absorvidos no núcleo de um átomo não-radioativo como o ferro, podem produzir um átomo radioativo. Por exemplo, o ferro-54 contém um total de 54 partículas. A adição de um nêutron adicional produz um átomo contendo 55 partículas, chamadas ferro-55. Este átomo é radioativo. Em algum momento posterior, ele se transforma em um átomo de manganês não-radioativo-55, liberando energia na forma de radiação. Isso é chamado de deterioração radioativa. Devido à necessidade de os tripulantes viverem nos navios durante a operação, os compartimentos do reator são projetados para atenuar os níveis de radiação fora do compartimento do reator para níveis extremamente baixos. 

A energia nuclear é particularmente adequada para embarcações que precisam permanecer no mar por longos períodos sem reabastecimento ou para propulsão submarina de alto desempenho. Mais de 160 navios são movidos por mais de 200 pequenos reatores nucleares na atualidade, sendo a maioria submarinos, mas temos também quebra-gelos, cruzadores e porta-aviões. No futuro, as restrições ao uso de combustíveis fósseis no transporte, podem levar a propulsão nuclear marinha a um uso mais difundido. No momento, temores exagerados sobre segurança causam restrições políticas no acesso aos portos.

O trabalho de propulsão marítima nuclear teve início na década de 1940 e o primeiro reator de teste foi iniciado nos EUA em 1953. O primeiro submarino movido a energia nuclear, USS Nautilus , foi lançado ao mar em 1955. Isso marcou a transição de submarinos de embarcações subaquáticas lentas para navios de guerra capazes de sustentar 20 a 25 nós submersos por semanas a fio. O Nautilus levou ao desenvolvimento paralelo de outros submarinos (da classe Skate), alimentados por reatores únicos de água pressurizada, e um porta-aviões, o USS Enterprise , alimentado por 8 unidades de reatores Westinghouse em 1960, e um cruzador, o USS Long Beach em 1961.

Em 1962, a Marinha dos EUA tinha 26 submarinos nucleares operacionais e 30 em construção. A energia nuclear revolucionou a Marinha. A tecnologia foi compartilhada com a Grã-Bretanha, enquanto os desenvolvimentos franceses, russos e chineses prosseguiram separadamente. Após os navios da classe Skate, o desenvolvimento do reator prosseguiu e, nos EUA, uma única série de projetos padronizados foi construída pela Westinghouse e pela GE. A Rolls Royce construiu unidades semelhantes para os submarinos da Marinha Real e depois desenvolveu o projeto para o PWR-2. A Rússia desenvolveu projetos de reatores refrigerados por PWR (reator nuclear de água pressurizada) e chumbo-bismuto, este último não persistindo. Eventualmente, 4 gerações de PWRs submarinos foram utilizadas, o último entrando em serviço em 1995 com a classe Severodvinsk. Os maiores submarinos já construídos são a classe Russian Typhoon de 26.500 toneladas (34.000 t submersa) , alimentada por reatores PWR duplos de 190 MWt, embora tenham sido substituídos pela classe Oscar-II de 24.000 t (por exemplo, o Kursk ) com o mesmo conjunto de força.

O registro de segurança da marinha nuclear dos EUA é excelente, sendo atribuído a um alto nível de padronização nas unidades de força e sua manutenção, e à alta qualidade do programa de treinamento da Marinha. No entanto, os primeiros esforços soviéticos resultaram em vários acidentes graves - cinco nos quais o reator foi danificado irreparavelmente, com os demais resultando em vazamentos de radiação, com mais de 20 mortes por radiação. No entanto, na terceira geração de PWRs navais da Rússia no final da década de 1970, a segurança e a confiabilidade se tornaram uma alta prioridade. (Além dos acidentes com reatores, incêndios e acidentes resultaram na perda de 2 submarinos soviéticos e dos Estados Unidos, outros 4 deles tiveram incêndios, resultando em perda de vidas).

A Rússia construiu 248 submarinos nucleares e 5 navios de superfície (mais 9 quebra-gelos) movidos por 468 reatores entre 1950 e 2003, quando operava cerca de 60 navios nucleares. No final da Guerra Fria, em 1989, havia mais de 400 submarinos movidos à energia nuclear em operação ou em construção. Pelo menos 300 desses submarinos já foram desativados e alguns foram cancelados devido a programas de redução de armas. A Rússia e os EUA tinham mais de 100 em serviço, com o Reino Unido e a França com menos de 20 e a China com 6. O total hoje é de cerca de 150, incluindo novos encomendados. A maioria é alimentada por urânio altamente enriquecido (HEU). A Índia lançou seu primeiro submarino nuclear em 2009, o Arihant SSBN, de 6000 dwt, com um único PWR de 85 MW potenciando uma turbina a vapor de 70 MW. É relatado que custou US $ 2,9 bilhões e foi comissionado em 2016. O segundo e um pouco maior SSBN da classe Arihant, o INS Aridamanestá está sendo construído no Ship Building Center em Visakhapatnam e deve ser comissionado em 2022. Ele terá um reator mais poderoso. Estão planejadas outras 3 embarcações da classe Arihant lançadas em 2023 e, em seguida, 6 SSBN 2 vezes o tamanho dos Arihant. Os SSNs terão um tamanho semelhante ao SSBN da classe Arihant e alimentado por um novo reator sendo desenvolvido pela BARC. A Índia também arrendou um submarino de ataque nuclear da classe Akula-II russo de 7900 dwt (12.770 toneladas submersas) quase novo por 10 anos a partir de 2010, a um custo de US$ 650 milhões: o INS Chakra , anteriormente Nerpa. Ele possui um único PWR de 190 MWt VM-5 / OK-659B (ou OK-650B), acionando uma turbina a vapor de 32 MW e dois turbogeradores de 2 MWe.

Os EUA têm a principal marinha com porta-aviões e todos movidos a energia nuclear, enquanto juntamente com a Rússia, possui cruzadores com a mesma planta propulsora (EUA: 9; Rússia: 4). Os EUA construíram 219 navios deste tipo até meados de 2010. Todos os porta-aviões e submarinos dos EUA são movidos a energia nuclear. (Os novos grandes porta-aviões do Reino Unido são alimentados por duas turbinas a gás de 36 MW acionando motores elétricos.) A Marinha dos EUA acumulou mais de 6200 anos de experiência em reatores sem acidentes, envolvendo 526 núcleos de reatores nucleares ao longo de 240 milhões de quilômetros, sem um único incidente radiológico, durante um período de mais de 50 anos. Operava 81 navios (11 porta-aviões, 70 submarinos - 18 SSBN / SSGN, 52 SSN) com 92 reatores em 2017. Existem 10 porta- aviões Classe Nimitz em serviço (CVN 68-77), cada um projetado para 50 anos de vida útil com um reabastecimento de meia-idade e revisão complexa de seus 2 reatores A4W Westinghouse. A classe Gerald Ford (CVN 78 em diante) tem um casco semelhante e cerca de 800 tripulantes a menos, e 2 reatores mais poderosos Bechtel A1B, acionando 4 eixos, bem como o sistema eletromagnético de lançamento de aeronaves.

A Marinha Russa construiu mais de 6500 reatores náuticos até 2015. Estima-se que tem 8 submarinos estratégicos (SSBN / SSGN) em operação e 13 submarinos de ataque (SSN), além de alguns submarinos a diesel. A Rússia anunciou que construiria 8 novos submarinos SSBN em seu plano para 2015. Seu único projeto de navio-aeródromo nuclear foi cancelado em 1992. Possui um cruzador movido a energia nuclear em operação e outros 3 estão sendo revisados. Em 2012, anunciou que seus submarinos estratégicos de terceira geração teriam uma vida útil prolongada, de 25 para 35 anos. Em 2012, foi anunciada a construção de um submersível de alto mar movido a energia nuclear. Baseado no submarino classe Oscar, aparentemente foi projetado para missões de pesquisa e resgate.

A China tem cerca de 12 submarinos movidos a energia nuclear (6-8 SSN tipo 93 da classe Shang e tipo 95, 4-5 SSBN tipo 94 da classe Jin e tipo 96) e estava construindo mais 21. Em fevereiro de 2013, a China Shipbuilding Industry Corp (CSIC) recebeu aprovação e financiamento do estado para iniciar pesquisas sobre tecnologias essenciais e segurança para navios movidos a energia nuclear, com navios polares sendo mencionados, mas porta-aviões sendo considerado um objetivo mais provável para o novo empreendimento. Seu primeiro submarino movido a energia nuclear foi desativado em 2013, após quase 40 anos de serviço. Em junho de 2018, a China National Nuclear Corporation (CNNC) solicitou propostas de construtores de navios para o primeiro quebra-gelo nuclear do país. (Seu primeiro porta-aviões de construção doméstica, Shandong, é convencionalmente movido a óleo). A França possui um porta-aviões movido a energia nuclear e 10 submarinos nucleares (4 SSBN, 6 SSN da classe Rubis), com seis SSN da classe Barracuda entrando em operação em 2020, sendo o Suffren o primeiro. O Reino Unido possui 12 submarinos, todos movidos a energia nuclear (4 SSBN, 8 SSN).

As doses de radiação ocupacional para tripulação de navios nucleares são muito pequenas. A exposição ocupacional média anual dos reatores navais dos EUA foi de 0,06 mSv por pessoa em 2013, e nenhum pessoal excedeu 20 mSv em nenhum ano nos 34 anos seguintes. A exposição ocupacional média de cada pessoa monitorada nas instalações dos reatores navais dos EUA desde 1958 é de 1,03 mSv por ano.

Os reatores navais (com exceção da classe Alfa russa descrita abaixo) são do tipo de água pressurizada (PWR), que diferem dos reatores comerciais que produzem eletricidade: Eles fornecem muita energia a partir de um volume muito pequeno e, portanto, a maioria opera com urânio altamente enriquecido (> 20% de U-235, originalmente c 97%, mas aparentemente agora 93% nos últimos submarinos dos EUA, c 20-25% em alguns países ocidentais), 20% nos reatores russos de primeira e segunda geração (1957-81) e 21% a 45% nas unidades russas de terceira geração (40% na Arihant da Índia) .Reatores franceses mais novos funcionam com combustível pouco enriquecido. Eles têm uma vida útil longa, de modo que o reabastecimento é necessário somente após 10 anos ou mais, e novos núcleos são projetados para durar 50 anos em navios-aeródromo e 30-40 anos na maioria dos submarinos, embora com fatores de capacidade muito mais baixos do que uma usina nuclear (<30%). O design permite um vaso de pressão compacto com proteção interna contra radiação. O vaso de pressão Sevmorput para um reator marítimo relativamente grande tem 4,6 m de altura e 1,8 m de diâmetro, incluindo um núcleo de 1 m de altura e 1,2 m de diâmetro. A eficiência térmica é menor do que nas usinas nucleares civis devido à necessidade de produção flexível de energia e restrições de espaço para o sistema de vapor.

A longa vida útil do núcleo é possibilitada pelo enriquecimento relativamente alto do urânio e pela incorporação de um moderador como o gadolínio - que é progressivamente esgotado à medida que os produtos de fissão e os actinídeos se acumulam, e o material físsil é usado. Esses moderadores acumulados e redução de material físsil normalmente causariam menor eficiência de combustível, mas os dois efeitos se anulam. No entanto, o nível de enriquecimento do combustível naval francês mais recente caiu para 7,5% de U-235, sendo o combustível conhecido como 'Caramel', originalmente desenvolvido para reatores de pesquisa e oferecendo a possibilidade de maior densidade de combustível, ajudando a minimizar o tamanho aumentado. Ele precisa ser trocado a cada dez anos, mais ou menos, mas evita a necessidade de uma linha de enriquecimento militar específica, e alguns reatores serão versões menores dos instalados no Charles de Gaulle . Em 2006, o Ministério da Defesa anunciou que os submarinos da classe Barracuda usariam combustível com "enriquecimento civil, idêntico ao das usinas de energia da EdF", cerca de 5% enriquecido, e certamente marca uma grande mudança lá.

A integridade a longo prazo do vaso de pressão do reator compacto é mantida, fornecendo uma blindagem interna de nêutrons. (Isso contrasta com os primeiros projetos civis de PWR soviéticos, onde a fragilização ocorre devido ao bombardeio de nêutrons de um vaso de pressão muito estreito). As marinhas russa, americana e britânica dependem da propulsão da turbina a vapor, os franceses e chineses nos submarinos usam a turbina para gerar eletricidade para propulsão. Os submarinos de mísseis balísticos russos, bem como todos os navios de superfície são movidos por dois reatores. Outros submarinos (exceto alguns submarinos russos) são alimentados por um. Os primeiros submarinos russos eram alimentados por PWRs VM-A usando 20 a 21% de combustível de urânio enriquecido e produzindo 70 MWt. Estes tinham vida útil total de 1440 horas. Os reatores VM-2 e VM-4, que também usam 20% de combustível enriquecido, produzem 90 MWt, o seguiram nos submarinos russos de segunda geração, com unidades gêmeas em navios maiores. Os PWRs VM-5 gêmeos, cada um com 190 MWt e fornecendo 37 MW de eixo, alimentaram os navios SSBN de terceira geração, com uma única unidade nos SSNs. O pequeno submarino de Losharik (Projeto 210, AS-12) é um navio especializado capaz de atingir grandes profundidades e possui um reator E-17 PWR. Os submarinos russos da classe Alfa tinham um único reator rápido de nêutrons VM-40, refrigerado a metal líquido, de 155 MWt e usando urânio muito altamente enriquecido - 90% de combustível U-Be enriquecido. O gerador de vapor OK-550 gira eixos de 30 MW. Esses vasos com cascos de titânio eram muito rápidos, mas tinham problemas operacionais para garantir que o refrigerante de chumbo-bismuto não congelasse quando o reator era desligado. Os reatores precisavam ser mantidos funcionando, mesmo no porto, pois o fornecimento de aquecimento externo não funcionava. O projeto não teve êxito e foi utilizado em apenas 8 navios afetados por problemas, que foram desativados prematuramente. O K-27 da Rússia foi um antecessor experimental da classe Alfa com reatores gêmeos VT-1 ou RM-1 resfriados a chumbo-bismuto. Depois de alguns anos de serviço, sofreu um acidente com um reator multifatorial em 1968, foi instalado na Baía de Gremikha e depois afundado em 1979. Agora, ele precisa ser resgatado e desmontado lá. Os cruzadores russos usam reatores gêmeos KN-3 de 300 MWt.



O Nautilus da Marinha dos EUA em 1955 tinha um S2W PWR com 93% de combustível enriquecido, vida útil do núcleo de 900 horas na potência máxima, fornecendo 10 MW de potência no eixo. Seu segundo submarino nuclear, o USS Seawolf, SSN-575, tinha um reator S2G resfriado a sódio e operou por quase 2 anos (1957-58) com isso. O reator de espectro intermediário elevou a temperatura de entrada do líquido refrigerante em 10 vezes mais que no Nautilus, com planta refrigerada a água, fornecendo vapor superaquecido, e ofereceu uma temperatura de saída de 454 °C, em comparação com os 305 °C do Nautilus. Era altamente eficiente, mas compensando isso, a planta apresentava sérias desvantagens operacionais. Aquecedores elétricos grandes eram necessários para manter a planta quente quando o reator estava inoperante, para evitar o congelamento de sódio. O maior problema era que o sódio se tornava altamente radioativo, com meia-vida de 15 horas, de modo que todo o sistema do reator tinha que ser mais fortemente blindado do que uma usina resfriada a água, e o compartimento do reator não podia ser adentrado por muitos dias após o desligamento. O reator foi substituído por um tipo PWR (S2Wa) semelhante ao Nautilus. Por muitos anos, os submarinos da classe Los Angeles, construídos em 1972-96, formaram a espinha dorsal da frota do SSN (ataque) dos EUA e 62 foram construídos. São 6900 dwt submersos e têm um reator GE S6G de 165 MW acionando 2 turbinas a vapor de 26 MW. O intervalo de reabastecimento é de 30 anos. O submarino SSN da classe Virginia dos EUA possui um reator S9G de cerca de 150 MW acionando um sistema de propulsão a jato de bomba de 30 MW construído pela BAE Systems (originalmente para a Marinha Real). O reator não precisa de reabastecimento por 33 anos. São cerca de 7900 dwt, e 12 estavam em operação em meados de 2015, com mais 16 em ordem e um total eventual de 48. Os 14 SSBNs da classe US Ohio (e 4 convertidos em SSGNs para mísseis guiados) têm um único reator nuclear S8G de 220 MWt, fornecendo 45 MW de potência no eixo. Estes requerem reabastecimento de meia-idade em cerca de 25 anos.

Diferentemente dos PWRs, os reatores de água fervente (BWRs) circulam água que é radioativa fora do compartimento do reator e também são considerados muito barulhentos para uso submarino.

A potência de um reator varia de 10 MWt (em um protótipo) a 200 MWt nos submarinos maiores e 300 MWt em navios de superfície, como os cruzadores de batalha da classe Kirov. A Classe Nimitz possui 2 unidades A4W e estes fornecem 104 MW a cada eixo (USS Enterprise tinha 8 unidades A2W de 26 MW em cada eixo e foi reabastecido 3 vezes). Os Novos Gerald Ford têm reatores A1B mais poderosos e mais simples, pelo menos 25% mais potentes que o A4W, portanto, cerca de 700 MWt, mas operando um navio que, além da propulsão da turbina a vapor, é totalmente elétrico, incluindo uma lançadeira eletromagnética. Consequentemente, o navio tem cerca de 3 vezes a capacidade elétrica da Classe Nimitz . A classe Ford foi projetada para ser reabastecida em uma vida operacional média de 50 anos.

Os menores submarinos nucleares são os submarinos franceses de ataque da classe Rubis (2600 dwt) em serviço desde 1983, e utilizam um reator CAS48, um reator PWR integral de 48 MW da Technicatome com 7% de combustível enriquecido que requer reabastecimento a cada 7 a 10 anos. O porta-aviões francês Charles de Gaulle (38.000 dwt), comissionado em 2000, possui 2 unidades PWR integrais K15, dimensionadas a partir do projeto CAS48, dirigindo turbinas Alstom de 61 MW e o sistema pode fornecer 5 anos a 25 nós antes do reabastecimento. A classe Le Triomphant de submarinos de mísseis balísticos (14.335 dwt submersos - o último lançado em 2008) usa esses PWRs navais K15 de 150 MWt e 32 eixos MW com propulsão a jato. Os Classe Barracuda de ataque (5200 dwt), terão propulsão híbrida: elétrica para uso normal e a jato para velocidades mais altas. A Areva TA (anteriormente Technicatome) fornecerá 6 reatores aparentemente de apenas 50 MWt e com base no K15 para os submarinos Barracuda, o primeiro deve ser comissionado em 2017. O intervalo de reabastecimento é de cerca de 10 anos. Como observado acima, eles usarão combustível pouco enriquecido - cerca de 5%.

Os submarinos de mísseis balísticos da classe Vanguard britânica (SSBN) de 15.900 dwt submersos, têm um único reator PWR2 com 2 turbinas a vapor acionando um único jato de bomba de 20,5 MW. Novas versões com o "Core H" não exigirão reabastecimento durante a vida útil do navio. Os submarinos de ataque da classe Astute do Reino Unido de 7400 dwt submersos têm um reator PWR2 modificado (menor) que aciona duas turbinas a vapor e um único jato de bomba relatado como 11,5 MW, e estão sendo comissionados a partir de 2010. Em março de 2011, uma avaliação de segurança do projeto PWR2 foi lançada, mostrando a necessidade de melhoria da segurança, embora eles tenham capacidade de resfriamento passivo para efetuar a remoção de calor por decaimento. O PWR3 para a substituição do Vanguard será em grande parte um design dos EUA.

O principal reator russo é o VM-5 PWR com uma unidade geradora de vapor OK-650 de 190 MWt, usando 20-45% de combustível enriquecido. Essa instalação é geralmente conhecida simplesmente como sistema de energia nuclear OK-650. Os grandes submarinos de mísseis balísticos (SSBN) e submarinos de mísseis de cruzeiro têm 2 deles com turbinas a vapor que fornecem 74 MW juntos, e seus submarinos de ataque de terceira geração (SSN) possuem uma única unidade VM-5 mais OK-650, alimentando uma turbina a vapor de 32 MW. A quarta geração SSBN da classe Borei com uma única usina OK-650 de 195 MWt é o primeiro projeto russo a usar propulsão a jato. É relatado que um reator naval de quinta geração é do tipo supercrítico (SCWR) com circuito de vapor único e espera-se que funcione 30 anos sem reabastecimento. Um protótipo em grande escala estava sendo testado no início de 2013.O porta-aviões Shtorm da Rússia (Projeto 23000) será equipado com reatores RITM-200. A China desenvolveu sua primeira usina nuclear submarina na década de 1970, com alguma ajuda russa. Diz-se que o reator 300 MWe Qinshan de 2 circuitos encomendado em 1994 se baseia nos primeiros reatores submarinos. Pouco se sabe sobre as usinas nos submarinos nucleares chineses de hoje, mas as do tipo 93 e 94 são mais barulhentas devido às bombas de refrigeração, e isso está sendo corrigido nos SSNs do tipo 95 e no tipo 96 SSBNs, possivelmente com engenharia reversa a partir de equipamentos civis dos EUA. Pelo menos em reatores anteriores, acredita-se que a China use combustível de urânio com baixo enriquecimento. O Arihant da Índia (6000 dwt) possui um PWR de 85 MWe usando urânio enriquecido em 40%, acionando uma ou duas turbinas a vapor de 35 MW. Ele possui 13 conjuntos de combustível, cada um com 348 barras de combustível, e foi construído de maneira autônoma. O reator foi crítico em agosto de 2013. Uma unidade de protótipo de 20 MW operou por vários anos a partir de 2003.A Marinha do Brasil estava propondo a construção de um reator protótipo de 11 MW até 2014 para operar por cerca de 8 anos, com vista a uma versão em tamanho real usando urânio com baixo enriquecimento em seu submarino SNBR de 6000 toneladas e 100 m de comprimento a ser lançado em 2025. O Centro Atômico de Bariloche, na Argentina, está considerando planos semelhantes para um submarino TR-1700 com energia nuclear.

O desmantelamento de submarinos nucleares descomissionados tornou-se uma tarefa importante para as marinhas dos EUA e da Rússia. Após o desmonte, a prática normal é cortar a seção do reator da embarcação para descarte em aterros rasos como lixo de baixo nível (o restante sendo reciclado normalmente). Na Rússia, os navios inteiros, ou as seções seladas do reator, às vezes permanecem armazenados à tona indefinidamente, embora os programas financiados pelo ocidente estejam tratando disso e todos os submarinos descomissionados devam ser desmantelados. Em 2015, 195 dos 201 submarinos russos descomissionados haviam sido desmantelados, e o restante, bem como 14 navios de apoio, devem ser desmontados até 2020.