FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sábado, 27 de julho de 2019

Operação Chromite - Desembarque em Incheon *173




GNP

GUERRA DA CORÉIA - 1950

Sempre que um exército subjuga um inimigo mais fraco, O comandante vitorioso vê-se tentado a aproveitar ao máximo essa situação vantajosa, avançando tão rapidamente quanto possível. Mas isso aumenta a distância a ser coberta, dificultando as comunicações e o reabastecimento das tropas em ação na linha de frente.

O avanço dos norte-coreanos para o sul em direção a Pusan, com a consequente dificuldade logística de suprir a vanguarda com armas, munições e alimento é exemplo típico dessa situação. Um dos principais problemas do exército invasor era a escassez de estradas de ferro e de rodagem na península coreana. As poucas vias de comunicação existentes, cortavam-na no sentido norte-sul, e devido às escarpadas montanhas do interior, passavam todas pela região da capital sulista, Seul.

Já em sua primeira estada na República da Coréia, após a invasão comunista, o General Douglas MacArthur havia percebido aquela possibilidade estratégica. Se as linhas de comunicação inimigas fossem cortadas, o ritmo de seu avanço diminuiria sensivelmente, aliviando a pressão enfrentada pelas forças do comando unificado da ONU e da Coréia do Sul, que lutava com extrema dificuldade para proteger sua posição.

A decisão de efetuar um desembarque anfíbio, foi tomada em 29 de junho de 1950 – apenas 4 dias depois que o Exército Popular da Coréia do Norte (EPCN) atravessou a linha do paralelo 38, iniciando a Guerra da Coréia. De volta a Tóquio, MacArthur iniciou no dia 4 de julho o planejamento da operação, que recebeu o codinome de “Bluehearts”. O general pretendia desembarcar a 1ª Divisão de Cavalaria americana (parte da guarnição do Japão) rapidamente, reforçada para participar dos combates.



Mas este primeiro momento o ímpeto de MacArthur esbarrou em 2 obstáculos. O primeiro e mais importante deles foi o rápido avanço do EPCN em direção a extremidade sul da península. As poucas unidades disponíveis no Japão (inclusive a 1ª Div Cav) tiveram de ser mobilizadas para a defesa da cabeça de praia em torno do porto de Pusan. Em segundo lugar, o desembarque só podia ser efetuado em 22 de julho, por causa das marés. Isso deixou os oficiais diante da tarefa, considerada impossível, de reunir muitos homens, navios, aviões e armas em apenas 18 dias.

A Operação Bluehearts foi cancelada em 10 de julho, mas MacArthur continuou fazendo repetidas requisições de homens e material bélico necessários a um desembarque em outra data. O Estado-Maior da Forças Armadas percebeu a necessidade de se iniciar uma mobilização de grande porte e prometeu colocar uma divisão de Marines a disposição de MacArthur. Até o dia 4 de agosto seriam convocados mais de 29.000 reservistas dos Fuzileiros Navais.

Diante disso, o HQ de MacArthur no Japão pôs-se em intensa atividade e começou a planejar e preparar a nova operação, agora cognominada “Chromite”.
No início, os problemas a serem enfrentados pareceram insuperáveis. O acesso ao porto dava-se através do canal do Peixe Voador, uma longa e estreita passagem, de curso extremamente recurvado. Seria impossível aos navios de maior porte aproximar-se do porto. Esse canal criava obstáculos de monta a uma frota invasora, prejudicando a ação de destroieres e cruzadores, encarregados do fogo de artilharia naval para dar cobertura ao desembarque. Acresce que o canal era pontilhado por rochedos, ilhas e recifes, muitos dos quais ainda nem sequer mapeados.



Também as marés eram de importância crítica. Incheon tem enormes variações de marés, com até 11 metros de diferença entre a maré baixa e a preamar. A frota invasora só conseguiria chegar ao porto de Incheon, pelo canal do Peixe Voador, na preamar. Mas quando a maré baixasse, qualquer navio atracado no porto ficaria atolado. A rapidez do fluxo e refluxo das marés obrigaria as embarcações a ficarem ancoradas durante o combate – o que faria delas alvos fáceis para a artilharia inimiga baseada na costa. De qualquer maneira, o canal era tão estreito que os navios não poderiam manobrar sem correr o risco de encalhar nos bancos de lodo adjacentes, constantemente deslocados pela maré. Receava-se também que o canal do Peixe Voador e os acessos imediatos ao porto estivesse minado.

Outro fator levado em consideração foi a estratégica ilha de Wolmi-do, logo ao lado de Incheon e ligada a terra por um passadiço. Dos morros dessa ilhota controlavam-se todo o acesso ao porto e o próprio porto, localizado na planície costeira. Wolmi-do era extremamente fortificada, de modo que precisaria ser neutralizada antes que ocorressem os desembarques principais.

Havia ainda dúvida a respeito da escolha das praias adequadas ao desembarque. Na verdade não existia nenhuma praia, no sentido convencional da palavra. O ataque principal teria que ser feito nas proximidades da cidade de Incheon, de encontro a paredões rochosos construídos contra a penetração do mar. Essas muralhas precisariam ser escaladas e imediatamente rompidas pelas primeiras tropas de assalto, de modo que possibilitasse o rápido desembarque de tanques, veículos e armas.



A necessidade de se manter segredo sobre o desembarque em Incheon inviabilizava um reconhecimento detalhado, marítimo ou aéreo, que facilitasse a solução da maioria desses problemas. A alternativa foi usar métodos mais discretos. Cerca de duzentos agentes coreanos infiltraram-se na área, com a missão de analisar desde o tamanho e a localização das tropas inimigas até pormenores relativos aos paredões.

Além disso, no dai 1º de setembro um tenente da US Navy desembarcou numa pequena ilha periférica ao porto. Usando-a como base de suas operações, ele conseguiu – ajudado por pescadores locais – inúmeros dados a respeito de posições inimigas, marés, bancos de lodo e paredões. Sua maior façanha, contudo, foi reativar um farol na ilha de Walmi-do, de modo que funcionasse na noite do desembarque, ajudando a guiar a frota americana.

Para distrair a atenção do norte-coreanos das inevitáveis atividades na área de Incheon, efetuaram-se bombardeios, buscas e reconhecimento (aéreos e marítimos) também nas costas leste e oeste da península coreana. Essa ideia teve êxito, pois nada foi feito pelos comunistas para reforçar as guarnições de Seul e Incheon.



O planejamento detalhado da Operação Chromite começou no dia 12 de agosto. A tarefa de planejá-la ficou a cargo do Grupo de Planos e Operações Estratégicas (GPOE) do HQ do Comando do Extremo Oriente. Um núcleo composto por oficiais do GPOE foi nomeado para formar o comando do 10º Corpo do Exército, ativado para efetuar o desembarque. Esse Corpo era comandado pelo Major-General Edward Almond , chefe do Estado-Maior de MacArthur, e compreendia a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais,  e a 7ª Divisão de Infantaria das forças de ocupação do Japão.

Decidiu-se que o desembarque ocorreria em Incheon mesmo, no dia 15 de setembro. Mas nos momentos finais do planejamento houve muita ansiedade e tensão. Os oficiais do GPOE , deparavam, em todas as fases, com obstáculos aparentemente insuperáveis. Além de as condições de desembarque serem tão arriscadas, haviam problemas relacionados com a reunião dos recursos necessários: homens, armas, veículos, navios e barcaças de desembarque. As exigências imperativas por parte da cabeça-de-praia de Pusan, devidas aos contínuos ataques norte-coreanos, causaram muitos problemas. Até mesmo nos últimos dias anteriores ao desembarque em Incheon, elementos da 7ª Divisão de Infantaria continuavam de prontidão, reforçando a defesa de Pusan. Apesar do empenho sobre-humano para reunir os Marines, o 7º Regimento só chegaria ao Japão em 17 de setembro (2 dias após o desembarque). Assim. Fuzileiros navais sul-coreanos foram mobilizados para formar, no início da operação, a força de reserva do desembarque.

A escassez de navios de desembarque de carros de combate constituiu outro pesadelo. O número necessário, segundo cálculos mais realistas, era 47, mas a US Navy só conseguiu mobilizar 17. Os 30 restantes foram fornecidos pelo Japão, ondem haviam sido usados como balsas de transporte entre ilhas. Esses navios vieram com sua própria tripulação; um deles era comandado por almirante e 2 outros por capitães – e os 3 haviam integrado a Marinha Imperial Japonesa, durante a guerra.



Em 23 de agosto, compareceram a uma reunião realizada em Tóquio MacArthur, seus oficiais, o chefe de Estado-Maior do Exército e o chefe de operações navais. Estes 2 representantes do Estado-Maior, em Washington, haviam viajado ao Japão especialmente para saber detalhes da Operação Chromite. Apesar dos justificados temores de seus oficiais e das sérias reservas do Estado-Maior, em Washington, sobre a viabilidade do ousado golpe estratégico, MacArthur conseguiu contagiar a todos com seu otimismo e autoconfiança.

O plano geral previa que um batalhão, o BTL3 do 5º Regimento de Fuzileiros Navais, desembarcaria na praia Verde da ilha de Wolmi-do, aproveitando a maré matinal de 15 de setembro. O restante do 5º Regimento chegaria a noroeste de Pusan, na praia Vermelha, ao passo que o 1º Regimento de Fuzileiros Navais desembarcaria na praia Azul, ao sul da cidade.

Os primeiros navios com destino a Incheon deixaram o Japão no dia 5 de setembro. O total da frota sob o comando do Almirante Arthur Struble somava 260 embracações. E, quando todas já se encontravam a caminho, um inesperado furacão, no mar Amarelo, pôs a operação em risco. Mas a frota desviou-se da tempestade e seguiu para enfrentar outros perigos.

A partir de 10 de setembro efetuaram-se ataques aéreos a Wolmi-do e Incheon. Nos 2 dias anteriores ao desembarque, a marinha fustigou a ilha de Wolmi-do e a área das praias Vermelha e Azul com fogo de artilharia naval, complementado por foguetes, bombas e napalm. Navegando próximo a seus alvos, alguns destroieres desferiram fogo cerrado sobre as trincheira e as plataformas dos canhões inimigos. Ao mesmo tempo, cruzadores auxiliados por observação aérea massacraram alvos mais distantes da costa.

Quando os navios que transportavam o BTL3 chegaram a Wolmi-do, na manhã de 15 de setembro, mal se podiam distinguir a ilha e a região a leste do porto, encobertas por espessa cortina de fumaça.

As barcaças de desembarque atingiram a praia Verde às 06:33 e quase não encontraram resistência. Às 06:55 a bandeira americana foi fincada no pico da principal da ilha – que, às 08:00, já tinha sido completamente dominada. Mas a essa altura a maré havia mudado. Os Marines estavam entregue a própria sorte, sem nenhuma chance de socorro até o fim da tarde, quando a maré alta traria as forças principais para as praias Vermelha e Azul. Os comunistas, porém, não fizeram nenhuma tentativa de contra-ataque, e às 14:30 o fogo de artilharia naval começou a preparar o desembarque noturno.



As tropas americanas chegaram à praia Vermelha às 17:31. Após escalarem os paredões rochosos, com escadas de assalto, marcharam rapidamente para a cidade, sem encontrar muita resistência pelo caminho. À meia-noite, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais já havia alcançado seus objetivos, as colinas do Observatório e do Cemitério. 8 embarcações de desembarque de carros de combate (LST) tinham encalhado e despejavam tanques, veículos e armas, destinados a ajudar na defesa das praias (caso o contra-ataque viesse pela manhã) ou respaldar o avanço das tropas para Seul, no dia seguinte.

Ao sul da cidade, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais chegou à praia Azul exatamente às 17:30, mas o desembarque não ocorreu tão facilmente quanto na praia Vermelha. Algumas barcaças de desembarque atolaram no lodo, a 450 m da costa, e parte do batalhão de reserva desembarcou no local errado, pois a nuvem de fumaça decorrente do bombardeio anterior ainda obscurecia tudo. Apesar desse começo infeliz, o 1º Regimento também conseguiu alcançar seu objetivo até a meia-noite.

Os desembarques se haviam processado com poucas baixas americanas: 20 mortos em combate, 1 morto em consequência de ferimentos, um desaparecido em combate e 174 feridos. No entanto, logo se descobriria que, embora apanhado desprevenido, o inimigo não iria permitir que se tomasse Seul com facilidade. Praticamente todo o desenrolar da guerra dependeria dessa batalha.

A capital sul-coreana foi guarnecida por cerca de 20 mil soldados do EPCN, que resistiram a sucessivos assédios da artilharia americana, até serem aniquilados. Os Marines chegaram à periferia de Seul em 20 de setembro e, mesmo com seu superior poder de fogo, levaram 7 dias para tomar completamente a cidade. Nesse tempo, a destruição e as baixas foram enormes. O desembarque em Incheon, que havia parecido quase impossível, acabou sendo um sucesso. Essa “vitória impossível” (como se tornou conhecida) foi a última de MacArthur.

A partir de então, a Guerra da Coréia entraria em nova fase, com as forças do comando unificado da ONU tomando a iniciativa do conflito. O presidente Harry Truman autorizou a invasão da Coréia do Norte e, em 6 de outubro, a ONU aprovou a resolução americana.



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