FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 7 de setembro de 2014

Resgate em Entebbe - Operação Thunderball #094



" O resgate em Entebbe foi uma missão planejada detalhadamente, treinada tantas vezes quanto possível dentro do pouco tempo que tínhamos e cuja execução foi tão semelhante ao nosso plano que não exigiu nenhum ato heróico para superar os problemas surgidos. Todos cumpriram com o mesmo empenho o seu dever de soldados”

Há 36 anos, no dia 4 de julho de 1976, o exército e a força aérea de Israel completaram uma de suas mais ousadas e bem sucedidas missões: Numa extraordinária operação militar, Israel resgatou 256 tripulantes de um vôo da Air France, mantidos reféns por terroristas Palestinos no aeroporto de Entebbe, em Uganda. Os tripulantes, inclusive os pilotos franceses, foram mantidos em cativeiro durante oito dias. A operação foi liderada por Yonatan Netanyahu – irmão do ex-primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu – que foi o único soldado Israelense morto durante o resgate. Ironicamente, as Nações Unidas condenaram Israel por ter violado a soberania de Uganda! A fantástica missão de resgate dos reféns israelenses e de judeus de diferentes nacionalidades, em Uganda, surpreendeu o mundo e provou que até o impossível pode ser feito no combate ao terrorismo.

Kulam lishkvav! Todos no chão. Somos do exército Israelense”. Com estas palavras, o soldado Amos Goren anunciava às 103 pessoas mantidas como reféns por um grupo de terroristas, no Aeroporto Internacional de Entebbe, que a história de seu trágico sequestro, iniciado no dia 27 de junho de 1976, poderia ter um final feliz.

Inicialmente denominada “Operação Thunderball”, tornou-se internacionalmente conhecida como “Operação Yonathan” e foi tema de inúmeros filmes e livros. O nome da missão foi modificado em homenagem ao comandante da força-tarefa, o tenente coronel Yonathan Netanyahu (irmão do ex-Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu), único militar israelense morto durante a ação. Essa foi a missão mais famosa da unidade Sayeret Mat'kal.

O drama dos reféns começou com o seqüestro do Airbus A 300 da Air France durante o vôo AF 139, Tel Aviv-Paris, com escala em Atenas, na Grécia, com 258 pessoas a bordo. Oito minutos após a decolagem, a aeronave foi dominada por quatro terroristas, dois dos quais possuíam passaportes de países Árabes, um do Peru com o nome de A. Garcia e uma mulher do Equador de nome Ortega. Posteriormente, descobriu-se que os dois últimos eram membros da organização terrorista Alemã Baader-Meinhof (Wilfried Bõse "Garcia" e Gabriele Krõcher-Tiedemann "Ortega" ). O avião foi desviado para Entebbe após aterrissar em Bengazi, na Líbia, para reabastecimento e chegou a Uganda na madrugada do dia 28.



Os quatro terroristas haviam vindo do Kuwait pelo vôo 763 da Singapore Airlines e iam com destino a Bahrein. Entretanto, ao desembarcar em trânsito, os quatro dirigiram-se ao check-in do vôo AF 139 da Air France. Pilotado pelo comandante Michel Bacos, o avião francês decolou do aeroporto Ben-Gurion às 8h59, chegando em Atenas às 11h30. Desembarcaram 38 passageiros e embarcaram 58, entre os quais, os quatro sequestradores. O total a bordo era então de 246 pessoas, mais a tripulação.

12h20, a aeronave já cruza os céus novamente rumo ao seu destino final: Paris. Oito minutos após a decolagem, enquanto as aeromoças preparam-se para servir o almoço, os terroristas assumem o controle do avião. As autoridades aeroportuárias em Israel e a estação de controle da Air France percebem que perderam contato com o vôo AF 139, alguns minutos após a decolagem em Atenas. Os ministros de Transporte e da Defesa, que participam da reunião semanal do gabinete com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, são imediatamente informados. Apesar de não saber ainda o que acontecia a bordo, o setor de Operações das Forças de Defesa de Israel (FDI) prepara-se para um eventual pouso da aeronave em Lod.



14h00, o Airbus comunica-se com a torre de controle do aeroporto de Bengazi, Líbia, solicitando combustível suficiente para mais quatro horas de vôo, além de pedir que o representante local da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) seja encaminhado ao local. Descobriu-se então que a FPLP estava a frente do sequestro.

14h59, o aparelho desce em Bengazi e apenas uma mulher é libertada. Ela consegue convencer os terroristas e um médico líbio que está grávida e sob risco de aborto. Na verdade, está indo para o enterro de sua mãe em Manchester, Inglaterra. Após algumas horas, parte para seu destino.

Ao amanhecer, paira em Israel e no mundo um clima cheio de dúvidas. Uganda seria o destino final dos seqüestradores ou apenas uma escala para abastecimento? Como estaria reagindo o governo de Idi Amin Dada diante dos acontecimentos – seriam anfitriões hostis ou parceiros no seqüestro? Afinal, desde 1972, as relações entre Israel e Uganda não eram amigáveis, pois o governo israelense havia-se recusado a fornecer jatos Phantom ao país, sabendo que Uganda pretendia usá-los para bombardear o Quênia e a Tanzânia. Idi Amin havia, então, expulsado todos os israelenses do país.

Oficialmente, o ditador de Uganda adotou uma atitude neutra em relação aos sequestradores, mas na realidade eles eram bem-vindos. Líderes palestinos encontravam-se no aeroporto para receber o avião, bem como unidades do Exército de Uganda. Os reféns foram conduzidos para o prédio do antigo terminal do aeroporto.

Na terça-feira, dia 29, uma mensagem vinda de Paris, que primeiramente foi divulgada pela rádio de Uganda, revela os objetivos dos seqüestradores: a libertação até às 14h do dia 1 de julho de 53 terroristas – 13 detidos em prisões da França, Alemanha Ocidental, Suíça e Quênia, e 40 em Israel. Caso suas reivindicações não fossem atendidas explodiriam o avião com todos os passageiros.


Israel, a nação mais afetada, havia sempre deixado claro que nunca negociaria com o terrorismo e que estava preparado para derramar o sangue de seus cidadãos a fim de se ater a seus princípios. Em maio de 1974, por exemplo, terroristas tinham seqüestrado os alunos de uma escola de Maalot, na Galiléia; as Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram o edifício e fuzilaram os pistoleiros, mas à custa de 22 crianças mortas. Em Entebbe, entretanto, parecia impossível que Israel reagisse, pois apenas 105 reféns eram judeus - e o governo israelense seria criticado pela opinião pública mundial se pusesse em risco a vida dos outros.

Na quarta-feira, 30, França e Alemanha afirmam que não soltariam os terroristas, posição que se supunha seria a mesma de Israel. A França, no entanto, revela uma certa flexibilidade ao anunciar que seguiria a posição do governo israelense que, até então, mantinha-se em compasso de espera, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.

Curiosamente, na mesma quarta-feira,foram os próprios terroristas que desperdiçaram sua maior vantagem. Sem atinar para as implicações de seu ato, separaram os reféns não-judeus e, aparentemente num gesto de consideração para com os outros países, permitiram que 47 reféns, – exceto israelenses ou judeus – retomassem sua viagem para a França. O capitão Bacos e sua tripulação recusam-se a acompanhar o grupo, afirmando que não abandonariam os demais passageiros. Uma freira francesa também insiste em ficar, mas é impedida pelos terroristas e pelos soldados ugandenses.



A libertação de alguns reféns e a evidência cada vez maior de que o principal alvo dos terroristas era pressionar Israel, aumentam a tensão em Israel e a pressão dos familiares para que o país atenda às exigências dos sequestradores. Nos círculos militares e altos escalões do governo, reuniões e mais reuniões são realizadas, além do levantamento de informações feito pela Inteligência em busca de dados que possam ser úteis a uma eventual ação de resgate. Novos nomes integram-se às reuniões entre as FDI e os ministros, entre os quais, o general brigadeiro Dan-Shomron, 48 anos, chefe dos pára-quedistas e oficial de infantaria; o general Benni Peled; e Ehud Barak, vice-diretor do Serviço de Inteligência das FDI.

Agentes secretos Israelenses do Mossad, interrogaram os reféns liberados a respeito dos sequestradores; número, nacionalidades, armamento, idioma, vestuário, rotina, e sobre as forças ugandenses no local e tudo que tivessem algum valor para uma possível missão de resgate em Entebbe. Uma fonte muito importante foi um passageiro Francês de origem judaica que havia sido erroneamente libertado com os reféns não judeus. O homem tinha treinamento militar e "uma memória fenomenal" segundo Muki Betzer, permitindo a coleta da inteligencia sobre o número de armas e dos sequestradores, entre outras informações úteis.

A confirmação dada pelos reféns soltos, meticulosamente entrevistados pelos serviços secretos da França e de Israel, de que o governo de Idi Amin estava apoiando os terroristas foi fundamental para as medidas que seriam tomadas por Israel a partir de 1 de julho, quinta-feira, quando, 90 minutos antes de expirar o prazo dado pelos sequestradores, o gabinete se reúne e aprova o início de negociações com os terroristas. Estes, por sua vez, afirmam não estar interessados em negociações e sim no atendimento de suas reivindicações, estendendo o prazo até às 14h do dia 4 de julho. Esta prorrogação de prazo iria se revelar crucial para permitir que as forças Israelenses tivessem tempo suficiente para chegar a Entebbe.



É nesse 1 de julho que o Serviço de Inteligência descobre que o aeroporto de Entebbe fora construído por uma empresa israelense – Solel Boneh, o que possibilita o acesso às plantas originais do local. Cada vez mais, após intensos encontros com oficiais do exército, Peres convence-se de que a opção militar é possível e que é apenas uma questão de tempo para que todas as peças do quebra-cabeça se encaixem. Tempo, no entanto, é algo que Israel não tem.
A opção militar desponta como caminho viável. A principio os israelenses trabalham com três opções:

1. Um lançamentos de pára-quedistas no Lago Victoria e um silencioso desembarque em Entebbe usando barcos de borracha;
2. Um cruzamento em grande escala do Lago Victoria, partindo da margem queniana - usando barcos que poderiam ser alugados, emprestados ou simplesmente roubados;
3. Um pouso direto em Entebbe, seguido de um assalto rápido e uma remoção imediata dos reféns por ar por forças especiais da unidade Sayeret Mat'kal.
Nos dois primeiros planos, após libertar os reféns, os israelenses iriam depender da ajudar de Idi Amin ou da intervenção da ONU para sair de Uganda. Porém nas próximas horas, as duas primeiras opções seriam descartadas por razões militares e porque os dados colhidos em Paris confirmavam que Idi Amin estavam apoiando os terroristas. Sendo assim o assalto direto a Entebbe seria a opção adotada.

O General-Brigadeiro Dan Shomron é nomeado comandante da missão em terra e Yoni Netanyahu, comandante da unidade Sayeret Mat'kal, comandante da força-tarefa que a executará. Uma réplica do antigo terminal de Entebbe é construída para simulação da operação, com base nas plantas obtidas junto à Solel Boneh e em fotografias aéreas, e os comandos começam a treinar. Enquanto isso, um grupo de 101 reféns – excluindo-se israelenses e judeus de outras nacionalidades – chega a Paris. Trazem duas informações essenciais para Israel: a primeira, de que haveria menos pessoas para resgatar; a segunda, de que apenas judeus estavam sendo mantidos como reféns, além da tripulação, o que, para o governo, significava que os seqüestradores possivelmente acabariam matando a todos, mesmo que suas exigências fossem atendidas.

12h do dia 2 de julho, sexta-feira, os chefes dos comandos da missão, então denominada “Thunderball”, apresentam os planos detalhadamente para Shomron. Duas horas depois, Yoni reúne-se com os oficiais para as ordens finais, antes de mais uma simulação na réplica do aeroporto, incluindo o pouso dos aviões nas pistas sem iluminação de Entebbe. O ensaio levou 55 minutos, do momento em que o avião aterrissou até a sua decolagem. A preocupação maior entre todos os envolvidos é obter o máximo do “elemento-supresa”.



O ponto fundamental do plano de Shomron era fazer aterrissar em Entebbe, no meio da noite, quatro aviões Hércules C-130 de transporte, que descarregariam tropas da unidade Sayeret Mat'kal e veículos. Para evitar que os aviões fossem detectados, o primeiro Hércules seguiria imediatamente atrás de um avião de carga inglês cujo vôo regular era esperado no aeroporto de Entebbe.

Pára-quedista israelense da unidade de reconhecimento de elite Sayeret Tzanhanim. Ele está usando um uniforme padrão das FDI, com o novo modelo de capacete, que teve sua estréia em Entebbe. Ele está armado com o novo fuzil-automático Galil de 5,56mm introduzido recentemente nas FDI. Ele carrega granadas de rifle HE do Galil nas costas e luzes de emergencia para serem usadas na pista de pouso.

As tropas que realizariam a ação em terra estavam divididas em cinco grupos de assalto:

* Grupo de Assalto 1: se encarregaria da segurança da pista e dos aviões (era formado por 33 médicos que também eram soldados);
* Grupo de Assalto 2: tomar o edifício do antigo terminal e libertar os reféns;
* Grupo de Assalto 3: tomar o edifício do novo terminal;
* Grupo de Assalto 4: impedir a ação das unidades blindadas de Idi Amin (estacionadas em Kampala, a 30 km de distância) e destruir os aviões de combate ugandenses Mig 17 e Mig 21 estacionados no aeroporto, para impedir uma possível perseguição. Este grupo também iria cobrir a estrada de acesso ao aeroporto, pois sabia-se que o Exército ugandense tinha tanques T-54 soviéticos e carros blindados OT-64 tchecos para transporte de tropas a aproximadamente 32 km da Capital Kampala;
* Grupo de Assalto 5: evacuar os reféns, conduzindo-os para o Hércules que estaria à espera e seria reabastecido no local ou em Nairóbi, no vizinho Quênia - um dos poucos países africanos amigos de Israel.
Levando em conta que haveria inúmeras baixas, um Boeing 707, transformado em avião-hospital, voaria diretamente para Nairóbi durante o ataque. Ao mesmo tempo, outro 707 sobrevoaria Entebbe transmitindo informações ao quartel-general em Israel.

Na medida do possível, tudo foi feito para eliminar os riscos. Sabia-se, por exemplo, que Amin uma vez chegara a Entebbe num Mercedes preto escoltado por um Land Rover, e veículos como esses foram embarcados no Hércules que iria à frente, com o objetivo de confundir os ugandenses nos vitais primeiros minutos.



1h da madrugada do dia 3 de julho, sábado, Motta Gur telefona para Peres e o informa que os homens estão preparados e que a operação pode ser executada.

13h20 do dia 3 de julho de 1976, sábado, o tenente coronel Joshua Shani inicia a decolagem do primeiro dos quatro aviões Hércules C-130, do Aeroporto Internacional Ben-Gurion, em Lod, com destino a Entebbe. Poucos segundos depois, cada um dos outros aparelhos também parte, porém em direções diferentes. Afinal, a passagem de quatro Hippos (“hipopótamos”), como são descontraidamente chamados por suas tripulações, em horários semelhantes, não passaria desapercebida sobre os ensolarados céus de Tel Aviv, durante um verão que prometia ser tão quente quanto os anteriores. E o que menos se pretendia, naquele dia, era chamar a atenção e provocar especulações.

A bordo dos Hippos, a força-tarefa especial comandada por Shomron e Yoni tinha um objetivo bem definido: libertar os reféns em Entebbe. Apesar de a missão de resgate não haver sido, ainda, aprovada pelo gabinete israelense, a partida dos aviões fora autorizada pessoalmente por Rabin, senão não haveria tempo hábil para sua execução. A permissão fora dada a Motta Gur.

Enquanto os ministros se reúnem para analisar as possíveis alternativas para a situação, incluindo a possibilidade de o país atender às exigências dos terroristas, os aviões aterrissam em Sharm el-Sheik, na região do deserto do Sinai, para abastecer e partem novamente rumo a Uganda, voando a baixa altitude sobre o Mar Vermelho para não serem detectados por sistemas de radares.

O ponto fundamental no plano de Shomron consistia em fazer aterrissar o primeiro Hércules imediatamente atrás do avião de carga inglês que estava sendo esperado em terra, pois este não apenas absorveria a atenção dos operadores de radar ugandenses como também encobriria o ruído feito pêlos aviões israelenses. A precisão tinha de ser absoluta - e foi. Sete horas depois da decolagem, a força israelense aproximava-se de Entebbe, num céu carregado de chuva, sempre na escuta do comandante inglês, que recebia as instruções da torre de controle. O C-130 de Shomron colocou-se exatamente atrás do cargueiro.



Eram 23h e o tenente coronel Shani desce silenciosamente o seu Hippo em Entebbe depois de sete horas e meia de vôo e a distância de quatro mil quilômetros desde a decolagem em Israel. A lendária capacidade de precisão de aterrissagem do Hércules foi bem explorada. O pessoal que deveria cuidar da segurança da pista desceu rapidamente. Os operadores de radar não perceberam o intruso e nenhum alarme foi dado. Por esse erro, seriam logo depois mortos pelo enraivecido e humilhado Idi Amin.

O Hércules seguiu para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, o Mercedes e dois Land Rover desceram a rampa, transportando o grupo que iria assaltar o velho terminal. O Hércules seguiu para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, dez membros da brigada de infantaria Golani saltam do avião e espalham sinais para orientar a aterrissagem das outras três aeronaves, que se aproximam rapidamente. A rampa de carga é aberta e por esta desliza um Mercedes preto, artifício considerado fundamental para a missão, dois Land Rover e 35 membros da força-tarefa, entre eles Netanyahu. Os militares que iam no Mercedes estavam vestidos com uniformes ugandenses.

Mas os ugandenses logo perceberam a farsa e a 100 m do terminal duas sentinelas, com metralhadoras apontadas, ordenaram ao carro que parasse. Netanyahu e outro oficial abriram fogo com pistolas dotadas de silenciador, atingindo um dos homens, e o grupo seguiu em frente até uns 50 m do edifício, A partir daí, os israelenses foram a pé. Os reféns estavam todos deitados no salão principal e muitos dormiam. Quatro terroristas haviam sido deixados montando guarda, um à direita, dois à esquerda e um no fundo do salão. Todos estavam de pé e puderam ser identificados .por causa das armas que portavam. Apanhados de surpresa, foram mortos imediatamente, e o grupo de assalto subiu pelas escadas. Os reféns advertiram que havia mais terroristas e soldados ugandenses no andar de cima. As ordens eram para tratar os ugandenses como inimigo armado, se abrissem fogo; caso contrário, seriam poupados. Mas para os terroristas não haveria misericórdia. Diversos deles foram eliminados à queima-roupa enquanto dormiam. Ao todo, morreram 35 ugandenses e treze terroristas - entre os quais Bõse e Krôcher-Tiedemann. Cerca de sessenta soldados ugandenses fugiram do edifício. A ação no terminal antigo durou três minutos.

Sete minutos depois que o primeiro Hércules aterrissou, o segundo pousava, seguido pelo terceiro e pelo quarto. Logo que as rampas eram baixadas, jipes e veículos de transporte saíam em disparada, atravessando a pista. O grupo comandado pelo coronel Matan Vilnai assaltou o edifício do novo terminal, que havia sido apressadamente abandonado pêlos ugandenses. As tropas de Amin pareciam totalmente confusas e incapazes de esboçar uma reação coerente. A única resistência determinada vinha da torre de controle, de onde partiu a rajada que feriu mortalmente Netanyahu, postado do lado de fora do velho terminal. Mas a unidade de Vilnai eliminou esse núcleo de oposição graças ao fogo concentrado de metralhadoras e lança-granadas.



O grupo do coronel Uri Orr encarregou-se do embarque dos reféns no avião que os aguardava. A equipe que tinha ordens de eliminar os Migs 21 e 17 ugandenses levou poucos minutos para transformar onze deles em bolas de fogo com rajadas de metralhadoras. O último dos quatro Hippos, com Shomron a bordo, parte de Entebbe às 00h30 do dia 4 de julho – 90 minutos depois de o primeiro ter aterrissado.

Após uma breve escala em Nairobi, para reabastecimento e a transferência dos feridos para um Boeing com um hospital a bordo. Apesar de todos os esforços dos médicos – então chefiados pelo coronel Ephraim Sneh, Yoni não resiste aos ferimentos e falece. O saldo total de mortos da Operação Yonatan: 4 –Yoni e três reféns – dois mortos no fogo cruzado com os terroristas e uma senhora de idade, Dora Bloch, que havia sido transferida para um hospital de Uganda e que posteriormente foi assassinada por ordem de Idi Amin. Depois de reabastecer, os israelenses tomaram o caminho de volta, às 4h08.

Nas primeiras horas da manhã do dia 4 de julho, o Hippo pilotado por Shani sobrevoa Eilat e desce em uma base da Força Aérea de Israel (FAI) na região central do país. Enquanto os reféns são atendidos pelas equipes de terra, as unidades de combate descarregam seus equipamentos. Em seguida, retornam às suas bases e retomam suas funções de rotina, afastados da euforia que tomava conta de Israel e da admiração e respeito que haviam conquistado em todo o mundo pelo que haviam feito naquela noite. Para eles, mais uma missão fora cumprida... Era o seu dever, para o qual são treinados.

Ainda no dia 4, aproximadamente ao meio-dia, um Hércules da FAI aterrissa no Aeroporto Internacional Ben-Gurion. De suas portas traseiras, 102 pessoas - homens, mulheres e crianças - correm em segurança para se reunir a seus familiares e amigos. A Operação Entebbe permanecerá para sempre como um feito extraordinário na história da aviação, embora a sorte tenha sido um fator essencial. Mas esse resgate nem mesmo seria cogitado se, para executá-lo, não existissem homens motivados e treinados em um nível verdadeiramente fantástico.



Nota: Segundo algumas informações, o Coronel Ulrich Wegener comandante da unidade antiterrorista alemã GSG 9, estava entre os comandos israelenses durante a operação, possivelmente devido à presença dos dois terroristas alemães. Em 1977, esta unidade realizaria uma grande operação de resgate também na África em Mogadíscio na Somália, quando Boeing 737 da Lufthansa foi sequestrado.

Em 2001, Dan-Shomron, relembrou os fatos do resgate em Entebbe com naturalidade e não gostou muito de mencionar a palavra heroísmo quando falava da missão. Em uma entrevista publicada pela revista do The Jerusalem Post, no mês de junho de 2001, Shomron – que foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de 1987 a 1991 – afirma que vários fatores contribuíram para o êxito da missão.

O resgate foi planejado nos seus mínimos detalhes, considerando-se o tempo necessário para todas as etapas, incluindo as baixas que poderiam ocorrer. Segundo o ex-chefe das Forças Armadas, Entebbe não foi uma missão suicida. Além dos dados precisos, o grupo era formado por cerca de 200 soldados escolhidos entre os melhores do país, dos mais altos escalões em cada unidade das FDI.

Shomron relembra que os estrategistas já sabiam que o aeroporto de Entebbe fora construído por uma empresa israelense – o que permitiu o acesso às plantas do local; informações importantes também foram obtidas junto a diplomatas e empresários israelenses que, até 1972, viajavam freqüentemente a Uganda, além da própria FAI, que, em função das boas relações diplomáticas entre Israel e Uganda no passado, conhecia bem as instalações. Reféns soltos pelos terroristas antes do dia 3 de julho também forneceram detalhes essenciais sobre o número de seqüestradores e sobre o local no qual haviam sido mantidos presos, Um dos reféns libertados posteriormente foi o rabino Raphael Shamah, na época estudante de uma Yeshivá em Israel.



“Nós sabíamos que havia grandes probabilidades de o aeroporto ter passado por algumas modificações desde a sua construção. Mas estes dados também poderiam ser obtidos de alguma maneira. O elemento mais importante com o qual contávamos, no entanto, era a surpresa. Ninguém poderia imaginar que Israel tentaria realizar uma missão de resgate a quatro mil quilômetros de distância de suas fronteiras, sobrevoando o espaço aéreo de países hostis. Este elemento não poderia ser desperdiçado. Nós sabíamos que, se conseguíssemos chegar ao local sem ser descobertos, qualquer ação após o pouso em Entebbe teria que ser muito rápida e deveria ser efetuada antes que os terroristas ou os soldados ugandenses que os apoiavam pudessem perceber o que estava acontecendo”, relembra Shomron. E acrescenta:
“O fato de não ser plausível era um ponto essencial para o sucesso”. Mais um fator contribuiu para o êxito da missão. Dos 13 terroristas envolvidos no sequestro, apenas oito estavam no local. Segundo Shomron, aparentemente os demais estavam fora do aeroporto. Os soldados Ugandenses também foram rapidamente dominados pelos comandos Israelenses.



Quando perguntado como via a missão 25 anos depois, respondeu: “Combater o terrorismo exige, antes de mais nada, vontade política. Não há dúvidas de que o resgate provocou um impacto muito grande em Israel e no mundo, pois mostrou que é possível enfrentar o terror onde quer que este se manifeste. Desde então, vários países criaram unidades de combate ao terrorismo e aumentou o intercâmbio entre os vários Serviços de Inteligência”. Mas ele faz uma ressalva:

O resgaste de Entebbe 36 anos de um feito épico“O êxito criou a ilusão de que Israel sabe tudo e pode fazer tudo, em qualquer circunstância, o que não é verdade. Há situações em que se sabe muito e pode-se planejar quase tudo com exatidão. Em outras, não se sabe nada e, portanto, não se pode fazer nada. Por isso, quando me perguntaram qual dos participantes da ação poderia ser condecorado por heroísmo, respondi “nenhum”. Pois o resgate em Entebbe foi uma missão planejada detalhadamente, treinada tantas vezes quanto possível dentro do pouco tempo que tínhamos e cuja execução foi tão semelhante ao nosso plano que não exigiu nenhum ato heróico para superar os problemas surgidos. Todos cumpriram com o mesmo empenho o seu dever de soldados”.



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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Comando e Controle (C2) - Parte 1 #093



O combate é uma atividade complexa e perigosa, onde decisões erradas e inoportunas podem significar o fracasso de uma operação e a vida daqueles que dela participam. É obrigação de todo comandante militar buscar o sucesso das missões que lhes são confiadas, zelando no maior nível possível pela integridade de seus comandados e seguindo a premissa básica da guerra que é a economia de meios, que poderão fazer falta mais adiante.

Um comandante precisa manter-se informado de todos os detalhes variáveis ou não da área de operações onde atua, bem como daqueles que ali estão, sejam amigos, inimigos ou neutros. Precisa ainda tomar decisões, transmitir ordens, assegurar-se que elas serão cumpridas e readequar seus planos de acordo com a evolução da situação tática.

Os meios modernos de combate impõem uma dinâmica nunca antes experimentada aos campos de batalha, com aeronaves e mísseis deslocando-se a grandes velocidades, sensores captando toda e qualquer atividade pondo em xeque as intenções de se desenvolver ações sigilosas, carros de combate proporcionando alta flexibilidade ás ações terrestres, mísseis balísticos praticamente impossíveis de interceptar sendo lançados de submarinos que surgem do “nada” ou de plataformas terrestres altamente móveis, forças leves dotadas de grande mobilidade proporcionada pelos flexíveis vetores de asas rotativas que podem colocá-las em praticamente qualquer lugar, além de outros meios de combate que tornam a necessidade de se tomar decisões rápidas e precisas cada vez mais freqüente.



Meios de comunicações, eletrônicos e de informática, dotados de “softwares” adequados são fundamentais para que estas decisões possam ser transformadas em ordens efetivamente postas em ação, necessitando de sistemas de comando e controle (C2) e comunicações (C3) bem estruturados e dotados de tecnologia de ponta, além de serem altamente resistentes a interferência por parte do inimigo. Estes sistemas podem ainda ser designados pelo acréscimo do componente informações (C3I) que é a base para a tomada de toda e qualquer decisão.

O Comando é o exercício da autoridade sobre as forças subordinadas e o controle é o conjunto de ações que visa fazer valer as intenções do comando, sendo que este deve sempre atuar em proveito daquele e nunca o contrário. Cabe ao comandante o exercício do comando e aos seus estados-maiores o exercício do controle.

Assim uma força de incursão aérea deve poder deslocar-se por um corredor previamente definido sem correr o risco da artilharia antiaérea amiga confundi-la com forças inimigas, um submarino de ataque deve ter certeza que seu alvo não faz parte de suas próprias forças, uma tropa de infantaria deve saber o momento de efetuar uma retração para poder liberar uma área alvo para sua artilharia de apoio, um desembarque anfíbio deve se dar em uma praia segura e na ordem correta, de forma que o combate que ali se desenrolar possa contar com os meios previstos, bem como o constate fluxo de meios provindos do mar não provoque um engarrafamento monumental nas cabeças de praia.

Uma ordem de operações começa quando uma informação importante chega ao posto do comando, é avaliada e processada, e depois exposta ao comandante, já refinada e contextualizada. Este a avalia, toma sua decisão e espera que suas ordens sejam prontamente transmitidas as unidades que as executarão, sempre em tempo hábil, sob o risco de todo o processo ter sido em vão e as conseqüências graves. Devido ao estado da tecnologia atual, grande parte das ordens são totalmente automatizadas, liberando os comandos para voltarem sua atenção a análises mais importantes e específicas.




Os meios eletrônicos modernos, baseados em computadores podem filtrar uma única informação e fazê-la chegar a diferentes escalões de forma distintas, fazendo com que cada um receba apenas a parte que lhes interessas. Assim por exemplo, ao alimentar-se uma ordem de ataque aéreo no sistema, os pilotos a recebem e podem planejar sua missão, os mecânicos também a recebem e podem começar a preparar as aeronaves antes mesmo de qualquer contato com os pilotos ou destes emitirem suas orientações, o pessoal dos suprimentos podem começar a abastecer as aeronaves designadas com o combustível necessário e as armas de que fará uso, que em última instância serão designadas pelo pilotos, o controle de tráfego aéreo poderá liberar os corredores para a incursão, alertando a antiaérea e a aviação de caça amiga seja para evitar fratricídio, seja para proporcionar escolta as forças atacantes.



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Busca de alvos na artilharia de campanha do Exército Brasileiro: um começo 092



 
Cezar Augusto Rodrigues Lima Junior
Capitão de artilharia
1. INTRODUÇÃO
           
A história da busca de alvos remonta a própria origem dos conflitos armados, quando eram levantados pontos sensíveis que deveriam ser neutralizados para facilitar o sucesso nas empreitadas belicosas. A maneira como se atacava esses “alvos” sofreu considerável evolução com o advento da neurobalística e posteriormente da pirobalística. Passou-se a lançar engenhos cada vez mais destruidores e precisos e os fogos também passaram a ser mais profundos.

Grande salto tecnológico foi dado com o aprimoramento do tiro indireto, visto que os fogos passaram a ser feitos de locais protegidos das vistas do inimigo, bem atrás da linha de frente. A própria evolução da artilharia de campanha levou a um consequente aprimoramento da busca por alvos. Passando pelos informes da inteligência, olhos do observador, emprego de observadores aéreos e posterior utilização de radares e veículos aéreos não tripulados, a maneira como são levantados objetivos para artilharia deu impressionante salto no século XX.

Hoje os países mais avançados militarmente já trabalham com conceitos que abrangem não mais apenas a artilharia de campanha, mas integram diversas atividades permitindo ao comando possuir uma visão sistêmica do combate na área de busca de alvos. Um desses conceitos é o ISTAR (Intelligence Surveillance Target Acquisiton and Reconnaissance), que é o processo que integra a inteligência, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento de uma maneira que permite ao comandante possuir uma consciência situacional do campo de batalha para poder tomar melhores decisões.


A figura 1 exemplifica a complexidade do controle que o comando deve ter sobre os aspectos relativos ao sistema operacional apoio de fogo no campo de batalha.


 Figura 1 - Consciência situacional no sistema apoio de fogo (Fonte: Cel Emílio Monteiro e Cap Cezar)

Dentro desse contexto, o papel da artilharia de campanha é definido com o conceito STA “Surveillance and Target Acquisition”(Vigilância e Aquisição de Alvos). Essa tarefa é cumprida por unidades que empregam na sua generalidade radares de tiro e de vigilância terrestre, bem como sensores acústicos e aeronaves remotamente pilotadas.

O Exército Brasileiro aprovou em portaria de 28 de novembro de 1978 o Manual de Campanha C 6-121 – A BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA, contudo até hoje pouco foi feito relativo a esse tema. As nossas artilharias divisionárias não possuem suas baterias de busca de alvos previstas na doutrina e, por conseguinte, ficam dificultadas de realizar suas principais missões que são realizar fogos de contrabateria e aprofundar o combate.

O presente artigo tem por objetivo apresentar uma solução para o preenchimento dessa lacuna. Foram utilizadas como fontes de consulta manuais de campanha brasileiros e estrangeiros e artigos da internet. Serão apresentados alguns materiais utilizados mundialmente na busca de alvos, as organizações de unidades STA de alguns países, uma proposta para organização da especialidade na artilharia de campanha e, por fim, uma breve conclusão.


2. BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA ESTRANGEIRA
            Diversos países empregam tecnologias modernas na atividade de busca de alvos além de organizarem suas unidades de maneira similar, fato comum entre os países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O Reino Unido possui duas unidades de artilharia nível regimento responsáveis pelo levantamento de objetivos. O 5th Regiment Royal Artillery tem por tarefa operar radares de tiro e sensores acústicos, bem como fornecer equipes de “observadores especiais” para as tropas da manobra designadas no campo de batalha. Devido às características especiais dos seus meios e apesar de possuir uma organização de regimento, suas baterias são empregadas de forma descentralizada, visando atender às necessidades específicas da manobra e possuindo para isso uma organização flexível e modular.

32nd Regiment Royal Artillery é a unidade responsável por operar aeronaves remotamente pilotadas sendo equipado com o SANT (Sistema Aéreo Não Tripulado) Hermes 450 e Watchkeeper 450 possuindo para a execução dessa tarefa 8 baterias espalhadas pelos territórios britânicos.

Ambas as unidades foram regimentos de artilharia mobiliados com obuseiros no passado que, com a modernização do exército britânico, foram transformadas em unidades STA.

O exército australiano possui o 20th Surveillance and Target Acquisition Regiment (Royal Australian Artillery) que ,diferentemente do modelo britânico, emprega uma organização mista de baterias. Possui uma fração de comando, uma bateria similar a nossa bateria de comando, e duas baterias de busca de alvos, uma que emprega radares de tiro, de vigilância do campo de batalha e sensores acústicos, e outra que emprega aeronaves remotamente pilotadas.

De uma maneira geral os exércitos dividem a busca de alvos na artilharia de campanha em frações de radares e sensores acústicos e frações de aeronaves remotamente pilotadas, como também fazem os exércitos italiano e alemão.

Um caso a ser estudado separadamente é o dos Estados Unidos. A capacidade tecnológica que este país possui é tamanha que todos os seus sistemas de combate atuam de forma perfeitamente integrada enviando dados para o escalão decisório e, por conseguinte, permitindo que o comando tenha um real conhecimento de tudo que acontece no campo de batalha.

Parte desse sucesso pode ser creditada a uma excelente capacidade de comando e controle, material humano altamente especializado e equipamentos militares de última geração que, aliados à presença permanente de suas tropas em combate, permitem que os Estados Unidos sejam polo difusor de conhecimentos e doutrina militar. 

No capítulo seguinte abordaremos, de maneira resumida, algumas características que tornam o país norte-americano referência no assunto busca de alvos.


3. A BUSCA DE ALVOS NO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS
3.1 TARGET ACQUISITION BATTERY
 

            O FM 6-121 (US Army, 1990) (Field Manual 6-121 - Tactics, Techniques, and Procedures for Field Artillery Target Acquisition), em seu primeiro capítulo, define a importância da aquisição de alvos pela artilharia de campanha: “Field Artillery target acquisition plays a key role in the targeting process. Without accurate targeting data, indirect fire weapons (such as mortars, cannons, rockets, and naval guns) are of limited value”.

            Para cumprir esse “papel chave”, o exército dos Estados Unidos emprega baterias de aquisição de alvos nas suas grandes unidades em apoio às divisões, mas também nos grupos que integram os times de combate das diversas brigadas. A localização de alvos nessas organizações militares é feita empregando dois tipos de radares: os Weapons-locating Radars (Radares de localização de armas) e os Moving-target-locating Radars(Radares de localização de alvos-móveis).

            Os radares de localização de armas, também conhecidos como radares de contrabateria/morteiro, detectam e localizam trajetórias de morteiros, artilharias e foguetes inimigos rápido o suficiente para o imediato engajamento da contrabateria amiga. Também podem ser utilizados para realizar correções de tiros da artilharia amiga.

Figura 2 - AN-TPQ 37 Radar de localização de armas (Fonte: Wikipédia)

Os radares de localização de alvos-móveis, também denominados radares de vigilância terrestre, detectam, identificam, localizam e rastreiam objetivos terrestres. Eles permitem que a aquisição de alvos móveis em território inimigo. Além de veículos e tropas a pé, também é capaz de detectar helicópteros e aeronaves de asa fixa que estejam voando a velocidades e altitudes baixas.

Figura 3 – MSTAR – Man-portable Surveillance and Target Acquisition Radar (Reino Unido) (Fonte: Wikipédia)

O papel das baterias de aquisição de alvos é detectar, identificar e localizar forças inimigas na área de operações da divisão ou na área de interesse com suficiente precisão para a execução do ataque por unidades amigas. Para cumprir essa missão, sua organização é composta pelos seguintes elementos: comando, pelotão de vigilância, seção de processamento de alvos e um pelotão de radares.


3.2 SISTEMAS DE AERONAVES NÃO TRIPULADAS
            Os UAS Unmanned Aircraft Systems são componentes do conceito ISTAR no Exército dos Estados Unidos. Podem ser definidos em português como Sistemas de Aeronaves Não Tripuladas. 

A figura 5, tirada doU.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035, expõe quais são os elementos que compõe esse sistema:


 Figura 5 - Elementos componentes de um UAS (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

            Os UAS são utilizados por todos os ramos do exército estadunidense e em diversos tipos de missões. Dentro desse conceito, os sistemas são divididos em cinco níveis ou grupos:
- Grupo I: de pequeno porte, normalmente lançados pelas mãos do operador, são utilizados em proveito de pequenas frações e na segurança de instalações. Operam a um teto de 1200 pés e possuem limitado controle e autonomia. Transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos.

Figura 6 - RAVEN UAS – Grupo I (Fonte: Wikipédia)

- Grupo II: de tamanho médio, normalmente lançados por catapulta, apoiam o nível brigada e atendem aos requisitos ISTAR nesse nível, podendo apoiar escalões superiores de maneira limitada. Operam a até 3500 pés e possuem uma capacidade de carga maior que os sistemas do Grupo I, transportando telêmetros e designadores laser. 

Também transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos. Exigem uma capacidade logística maior em relação ao Grupo I.

Figura 7 - Shadow 200 UAS - Grupo II (Fonte: Wikipédia)

- Grupo III: são sistemas maiores que os do grupo I e II. Operam a altitudes médias e possuem de médio a longo alcance. Seu “payload” (carga-útil) inclui um indicador de alvos móveis, detector de explosivos, detector de agentes QBN, telêmetro e designador laser etc. Também transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos. Alguns podem carregar armas. Podem decolar de pistas não pavimentadas.

- Grupo IV: sistemas grandes que operam de grandes altitudes, tendo alcance e duração de voos maiores que os grupos anteriores. Seus “payloads” incluem sensores eletro-óticos e infravermelhos, radares, “lasers”, relay de comunicações, SIGINT (signals intelligence), Sistema de Identificação Automatizada (SAI) e armas. Podem carregar mais armas que o Grupo III sem sacrificar a sua autonomia. Necessitam pistas pavimentadas para decolagem e pouso e possuem logística similar a de aeronaves pilotadas.

- Grupo V: sistemas que operam em ambiente de altas altitudes e possuem maiores autonomia, alcance e velocidade. São tipicamente utilizados para vigilância de vastas áreas e para realização de ataques especializados. Sua carga-útil é similar a do Grupo IV acrescentando a capacidade de levar suprimentos. Normalmente operam sem a necessidade de visada direta para o voo (BLOS – Beyond line-of-sight), mas a perda de sinal de satélite pode fazer com que seja necessária a operação com visada direta (LOS).

Figura 8 - MQ-1C ERMP (Multi Propósito Alcance Estendido) (Fonte: Wikipédia)

Os UAS são empregados em todos os escalões, contudo os sistemas de maior alcance, já a partir do Grupo II, são empregados em sua maioria nas unidades de aviação e batalhões de inteligência. A visão de futuro deles é que os SUAS (Small Unmanned Aircraft Systems), sistemas de Grupo I, forneçam capacidade de reconhecimento ao restante das unidades de combate.


 Figura 9 - SUAS nas HBCT (Heavy Brigade Combat Team) (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

            Um exemplo do pessoal necessário para operar um sistema Grupo II, como o Shadow 200 está exposto na figura 10.


 Figura 10 - Pessoal necessário para operação do SANT Grupo II Shadow 200 (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Pode-se constatar que todas as unidades que compõe a brigada pesada exposta possuem SUAS na sua organização. Já as unidades de aviação, por operarem UAS de categorias superiores a II inclusive, necessitam uma organização mais dedicada à missão, sendo que para isso incluem seções de operações, de lançamento, de controle de solo, de manutenção e reparos etc. O organograma das subunidades que operam o MQ-1C “Grey Eagle” demonstra a complexidade da operação deste tipo de aeronave e quantidade de homens empregada (128 especialistas).


 Figura 11 - MQ-1C ERMP – Subunidade de Aviação (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Já a companhia de reconhecimento aéreo que opera os SANT Hunter possui uma organização menor, devido também a menor capacidade do sistema (47homens).


 Figura 12 - Hunter Aerial Reconaissance Company (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

No futuro serão empregados NANO UAS que permitirão às pequenas frações e tropas especiais possuírem a capacidade de reconhecimento “over the Hill” e “around the corner”, de modo que antes da entrada em uma edificação, por exemplo, uma equipe tática poderá enviar esses NANO UAS e ter um real conhecimento do que se passa por trás das paredes antes que os soldados adentrem essas estruturas.


Figura 13 - Operação de um NANO UAS (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)


4. PROPOSTA PARA ORGANIZAÇÃO DA BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

            Observando todas as informações expostas nos itens anteriores, é possível propor, de maneira simples, uma organização para iniciarmos o subsistema busca de alvos na artilharia de campanha do Exército Brasileiro.

Cabe ressaltar que vivemos uma realidade diferente da estadunidense, pois este país possui Forças Armadas extremamente superiores e com recursos financeiros muito maiores que o Brasil. Por conta disso, devemos buscar uma solução mais afeta à nossa realidade.

4.1 A BUSCA DE ALVOS NO BRASIL: UMA PROPOSTA

            A doutrina brasileira prevê a bateria de busca de alvos como orgânica das artilharias divisionárias. O Exército Brasileiro passa por um processo de transformação no qual alguns tipos de organizações serão criadas e outras suprimidas. Por conseguinte, a bateria de busca de alvos não deve então se restringir a uma organização existente hoje, mas sim na maneira como podem ser mais bem cumpridas as missões.

            Foi visto que os equipamentos básicos para dotarmos o nosso subsistema busca de alvos são os radares de localização de alvos, radares e sistemas de vigilância do campo de batalha e os sistemas de aeronaves não tripuladas. 

Dentro desses materiais, nota-se uma grande diferença de emprego dos radares e sistemas de vigilância dos SANT. Isso é evidenciado na organização das diversas unidades STA ao redor do mundo. Os SANT e os radares geralmente são empregados em frações diferentes.

A ideia então é possuirmos uma bateria de busca de alvos mobiliada com radares realizando a vigilância do campo de batalha e rastreando trajetórias de armas inimigas e outra bateria contando apenas com sistemas de aeronaves não tripuladas. 

Ao exemplo do exército australiano, poderíamos possuir um grupo de busca de alvos com uma bateria de radares e outra de SANT ou poderíamos possuir duas unidades distintas, um grupo somente com SANT e um grupo somente com radares, como é o caso do exército britânico.

            O mais importante é que essas subunidades tenham mobilidade, flexibilidade de emprego e principalmente independência para poderem atuar isoladamente no campo de batalha, caso sejam cedidas em apoio a algum escalão da Força Terrestre Componente.


 Figura 14 - Exemplo de organograma de um GBA (Fonte: Cap Cezar)

             Seguindo a visão de um grupo com baterias mistas, raciocinando que cada subunidade deve ser capaz de atuar de forma independente do grupo e utilizando como exemplo as subunidades estadunidenses, a organização de cada subunidade poderia ser feita da seguinte maneira:
- Bateria de Comando: contando com uma seção de comando, seção de administração, seção de reconhecimento e segurança, seção de inteligência, seção de comando e controle e guerra eletrônica e uma seção de manutenção.
- Bateria de Aquisição de Alvos: seção de comando (comando e controle, manutenção e trens da subunidade), seção de processamento de alvos, seção de vigilância, seção de radares, seção de manutenção de eletrônicos.

- Bateria SANT: seção de comando (comando e controle, manutenção e trens da subunidade), seção de controle de solo e operações, seção de lançamento e recuperação de aeronaves, seção de processamento de alvos e seção de manutenção SANT.

            No caso da Bateria SANT é importante ressaltar que os sistemas que a mobiliariam seriam os de Grupo II, de acordo com a classificação estadunidense aqui exposta, e ela se assemelharia a duas Companhias de Reconhecimento Aéreo Hunter somadas. O motivo de basearmos essa estrutura nos sistemas de Grupo II é que este se adéqua mais as missões STA da artilharia de campanha, mas próximas ao nível tático.

            As missões ISTAR e demais missões que empregassem sistemas de Grupo III em diante seriam mais bem cumpridas caso fossem criadas unidades de aviação a semelhança das unidades ERMP do exército dos Estados Unidos. Elas pertenceriam à Aviação do Exército e seu foco seria no âmbito estratégico/estratégico-operacional.


 4.2 O EMPREGO DA BUSCA DE ALVOS EM OPERAÇÕES DE NÃO GUERRA
            Os meios de busca de alvos como radares de vigilância terrestre e sistemas de aeronaves não tripuladas possuem características que lhes permitem ser empregados não só no combate, mas também na vigilância das fronteiras, operações de resgate em calamidades, proteção de instalações, segurança pública etc.


Figura 15- SANT orientando a chegada do resgate em uma calamidade (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

O Brasil possui milhares de quilômetros de fronteiras terrestres que atravessam florestas, montanhas, rios e campos, sendo praticamente inviável a vigilância de toda essa extensão com a presença humana. Os criminosos transnacionais utilizam o país como rota e destino de drogas e armas, bem como de pirataria de produtos industrializados, animais e plantas.

O Exército, pela Lei Complementar Nº 136 de 25/08/2010, no seu Art. 16-A, é responsável por ações preventivas e repressivas na faixa de fronteira terrestre do território nacional, realizando com frequência inúmeras operações para conter diversos tipos de delito nessas regiões. Uma maneira eficiente de vigiar essas fronteiras é empregando sistemas aéreos não tripulados com sensores de monitoramento e rastreamento, bem como radares de vigilância terrestre espalhados em pontos críticos do território, como nas fronteiras secas.

Se possuíssemos unidades de busca de alvos, essas organizações poderiam muito bem empregar os seus meios nessas missões, aumentando o controle e a eficiência das operações. O uso das aeronaves e sensores também seria muito útil para realização da vigilância de instalações estratégicas para a nação, como de usinas nucleares, parques industriais e prédios públicos importantes.

Um exemplo do uso de SANT na vigilância das fronteiras seria o deslocamento desses sistemas para os Pelotões Especiais de Fronteira e aproveitando-se das suas pistas de pouso, realizar o reconhecimento de fronteira à distância, ou simplesmente apoiar as operações desse tipo de missão com “olhos no céu”. Isso aumentaria a eficiência e a segurança das tarefas executadas nessas unidades.


 
Figura 16 - Campo de pouso e decolagem de SANT nos EUA (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Além disso, com a aproximação de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e a responsabilidade de coordenação e segurança recém-assumida pelas Forças Armadas através da Portaria nº 221 do Ministério da Defesa, publicada no DOU de 21/08/2012, a Força Terrestre necessita estar preparada para enfrentar as ameaças que podem advir desse tipo de empreitada, principalmente as terroristas. Dessa forma, a capacidade de vigilância aproximada que os SANT e sensores permitem, também seria de vital importância para o sucesso da missão.

            Podemos ressaltar que as operações de resgate em calamidades que costumeiramente contam com a participação das Forças Armadas, seriam mais bem coordenadas com a utilização de SANT, pois permitiriam ao comando ter uma real situação dos danos infligidos, bem como iniciar a busca por vítimas sem ter que enviar homens para áreas onde não há feridos, podendo assim concentrar melhor os esforços e poupar as aeronaves de asas rotativas para que façam apenas transporte de feridos e evitar a exposição de meios humanos de resgate a situações perigosas.

            Dois importantes projetos do Exército poderiam utilizar essa capacidade de busca de alvos. O SISFRON, que visa à vigilância das fronteiras brasileiras, e o PROTEGER, que tem por objetivo a segurança de instalações estratégicas para o país. De fato, as discussões do sistema apoio de fogo no Fórum de Doutrina Militar Terrestre do Departamento de Educação e Cultura do Exército, já haviam levantado a possibilidade de uma unidade de busca de alvos da artilharia de campanha integrar esses projetos.

            Por fim, se possuirmos unidades de busca de alvos, como o grupo de busca de alvos, poderemos empregá-las nessas atividades supracitadas tendo assim maior êxito nesse tipo de operações de não guerra.