FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sábado, 27 de julho de 2019

Operação Chromite - Desembarque em Incheon *173




GNP

GUERRA DA CORÉIA - 1950

Sempre que um exército subjuga um inimigo mais fraco, O comandante vitorioso vê-se tentado a aproveitar ao máximo essa situação vantajosa, avançando tão rapidamente quanto possível. Mas isso aumenta a distância a ser coberta, dificultando as comunicações e o reabastecimento das tropas em ação na linha de frente.

O avanço dos norte-coreanos para o sul em direção a Pusan, com a consequente dificuldade logística de suprir a vanguarda com armas, munições e alimento é exemplo típico dessa situação. Um dos principais problemas do exército invasor era a escassez de estradas de ferro e de rodagem na península coreana. As poucas vias de comunicação existentes, cortavam-na no sentido norte-sul, e devido às escarpadas montanhas do interior, passavam todas pela região da capital sulista, Seul.

Já em sua primeira estada na República da Coréia, após a invasão comunista, o General Douglas MacArthur havia percebido aquela possibilidade estratégica. Se as linhas de comunicação inimigas fossem cortadas, o ritmo de seu avanço diminuiria sensivelmente, aliviando a pressão enfrentada pelas forças do comando unificado da ONU e da Coréia do Sul, que lutava com extrema dificuldade para proteger sua posição.

A decisão de efetuar um desembarque anfíbio, foi tomada em 29 de junho de 1950 – apenas 4 dias depois que o Exército Popular da Coréia do Norte (EPCN) atravessou a linha do paralelo 38, iniciando a Guerra da Coréia. De volta a Tóquio, MacArthur iniciou no dia 4 de julho o planejamento da operação, que recebeu o codinome de “Bluehearts”. O general pretendia desembarcar a 1ª Divisão de Cavalaria americana (parte da guarnição do Japão) rapidamente, reforçada para participar dos combates.



Mas este primeiro momento o ímpeto de MacArthur esbarrou em 2 obstáculos. O primeiro e mais importante deles foi o rápido avanço do EPCN em direção a extremidade sul da península. As poucas unidades disponíveis no Japão (inclusive a 1ª Div Cav) tiveram de ser mobilizadas para a defesa da cabeça de praia em torno do porto de Pusan. Em segundo lugar, o desembarque só podia ser efetuado em 22 de julho, por causa das marés. Isso deixou os oficiais diante da tarefa, considerada impossível, de reunir muitos homens, navios, aviões e armas em apenas 18 dias.

A Operação Bluehearts foi cancelada em 10 de julho, mas MacArthur continuou fazendo repetidas requisições de homens e material bélico necessários a um desembarque em outra data. O Estado-Maior da Forças Armadas percebeu a necessidade de se iniciar uma mobilização de grande porte e prometeu colocar uma divisão de Marines a disposição de MacArthur. Até o dia 4 de agosto seriam convocados mais de 29.000 reservistas dos Fuzileiros Navais.

Diante disso, o HQ de MacArthur no Japão pôs-se em intensa atividade e começou a planejar e preparar a nova operação, agora cognominada “Chromite”.
No início, os problemas a serem enfrentados pareceram insuperáveis. O acesso ao porto dava-se através do canal do Peixe Voador, uma longa e estreita passagem, de curso extremamente recurvado. Seria impossível aos navios de maior porte aproximar-se do porto. Esse canal criava obstáculos de monta a uma frota invasora, prejudicando a ação de destroieres e cruzadores, encarregados do fogo de artilharia naval para dar cobertura ao desembarque. Acresce que o canal era pontilhado por rochedos, ilhas e recifes, muitos dos quais ainda nem sequer mapeados.



Também as marés eram de importância crítica. Incheon tem enormes variações de marés, com até 11 metros de diferença entre a maré baixa e a preamar. A frota invasora só conseguiria chegar ao porto de Incheon, pelo canal do Peixe Voador, na preamar. Mas quando a maré baixasse, qualquer navio atracado no porto ficaria atolado. A rapidez do fluxo e refluxo das marés obrigaria as embarcações a ficarem ancoradas durante o combate – o que faria delas alvos fáceis para a artilharia inimiga baseada na costa. De qualquer maneira, o canal era tão estreito que os navios não poderiam manobrar sem correr o risco de encalhar nos bancos de lodo adjacentes, constantemente deslocados pela maré. Receava-se também que o canal do Peixe Voador e os acessos imediatos ao porto estivesse minado.

Outro fator levado em consideração foi a estratégica ilha de Wolmi-do, logo ao lado de Incheon e ligada a terra por um passadiço. Dos morros dessa ilhota controlavam-se todo o acesso ao porto e o próprio porto, localizado na planície costeira. Wolmi-do era extremamente fortificada, de modo que precisaria ser neutralizada antes que ocorressem os desembarques principais.

Havia ainda dúvida a respeito da escolha das praias adequadas ao desembarque. Na verdade não existia nenhuma praia, no sentido convencional da palavra. O ataque principal teria que ser feito nas proximidades da cidade de Incheon, de encontro a paredões rochosos construídos contra a penetração do mar. Essas muralhas precisariam ser escaladas e imediatamente rompidas pelas primeiras tropas de assalto, de modo que possibilitasse o rápido desembarque de tanques, veículos e armas.



A necessidade de se manter segredo sobre o desembarque em Incheon inviabilizava um reconhecimento detalhado, marítimo ou aéreo, que facilitasse a solução da maioria desses problemas. A alternativa foi usar métodos mais discretos. Cerca de duzentos agentes coreanos infiltraram-se na área, com a missão de analisar desde o tamanho e a localização das tropas inimigas até pormenores relativos aos paredões.

Além disso, no dai 1º de setembro um tenente da US Navy desembarcou numa pequena ilha periférica ao porto. Usando-a como base de suas operações, ele conseguiu – ajudado por pescadores locais – inúmeros dados a respeito de posições inimigas, marés, bancos de lodo e paredões. Sua maior façanha, contudo, foi reativar um farol na ilha de Walmi-do, de modo que funcionasse na noite do desembarque, ajudando a guiar a frota americana.

Para distrair a atenção do norte-coreanos das inevitáveis atividades na área de Incheon, efetuaram-se bombardeios, buscas e reconhecimento (aéreos e marítimos) também nas costas leste e oeste da península coreana. Essa ideia teve êxito, pois nada foi feito pelos comunistas para reforçar as guarnições de Seul e Incheon.



O planejamento detalhado da Operação Chromite começou no dia 12 de agosto. A tarefa de planejá-la ficou a cargo do Grupo de Planos e Operações Estratégicas (GPOE) do HQ do Comando do Extremo Oriente. Um núcleo composto por oficiais do GPOE foi nomeado para formar o comando do 10º Corpo do Exército, ativado para efetuar o desembarque. Esse Corpo era comandado pelo Major-General Edward Almond , chefe do Estado-Maior de MacArthur, e compreendia a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais,  e a 7ª Divisão de Infantaria das forças de ocupação do Japão.

Decidiu-se que o desembarque ocorreria em Incheon mesmo, no dia 15 de setembro. Mas nos momentos finais do planejamento houve muita ansiedade e tensão. Os oficiais do GPOE , deparavam, em todas as fases, com obstáculos aparentemente insuperáveis. Além de as condições de desembarque serem tão arriscadas, haviam problemas relacionados com a reunião dos recursos necessários: homens, armas, veículos, navios e barcaças de desembarque. As exigências imperativas por parte da cabeça-de-praia de Pusan, devidas aos contínuos ataques norte-coreanos, causaram muitos problemas. Até mesmo nos últimos dias anteriores ao desembarque em Incheon, elementos da 7ª Divisão de Infantaria continuavam de prontidão, reforçando a defesa de Pusan. Apesar do empenho sobre-humano para reunir os Marines, o 7º Regimento só chegaria ao Japão em 17 de setembro (2 dias após o desembarque). Assim. Fuzileiros navais sul-coreanos foram mobilizados para formar, no início da operação, a força de reserva do desembarque.

A escassez de navios de desembarque de carros de combate constituiu outro pesadelo. O número necessário, segundo cálculos mais realistas, era 47, mas a US Navy só conseguiu mobilizar 17. Os 30 restantes foram fornecidos pelo Japão, ondem haviam sido usados como balsas de transporte entre ilhas. Esses navios vieram com sua própria tripulação; um deles era comandado por almirante e 2 outros por capitães – e os 3 haviam integrado a Marinha Imperial Japonesa, durante a guerra.



Em 23 de agosto, compareceram a uma reunião realizada em Tóquio MacArthur, seus oficiais, o chefe de Estado-Maior do Exército e o chefe de operações navais. Estes 2 representantes do Estado-Maior, em Washington, haviam viajado ao Japão especialmente para saber detalhes da Operação Chromite. Apesar dos justificados temores de seus oficiais e das sérias reservas do Estado-Maior, em Washington, sobre a viabilidade do ousado golpe estratégico, MacArthur conseguiu contagiar a todos com seu otimismo e autoconfiança.

O plano geral previa que um batalhão, o BTL3 do 5º Regimento de Fuzileiros Navais, desembarcaria na praia Verde da ilha de Wolmi-do, aproveitando a maré matinal de 15 de setembro. O restante do 5º Regimento chegaria a noroeste de Pusan, na praia Vermelha, ao passo que o 1º Regimento de Fuzileiros Navais desembarcaria na praia Azul, ao sul da cidade.

Os primeiros navios com destino a Incheon deixaram o Japão no dia 5 de setembro. O total da frota sob o comando do Almirante Arthur Struble somava 260 embracações. E, quando todas já se encontravam a caminho, um inesperado furacão, no mar Amarelo, pôs a operação em risco. Mas a frota desviou-se da tempestade e seguiu para enfrentar outros perigos.

A partir de 10 de setembro efetuaram-se ataques aéreos a Wolmi-do e Incheon. Nos 2 dias anteriores ao desembarque, a marinha fustigou a ilha de Wolmi-do e a área das praias Vermelha e Azul com fogo de artilharia naval, complementado por foguetes, bombas e napalm. Navegando próximo a seus alvos, alguns destroieres desferiram fogo cerrado sobre as trincheira e as plataformas dos canhões inimigos. Ao mesmo tempo, cruzadores auxiliados por observação aérea massacraram alvos mais distantes da costa.

Quando os navios que transportavam o BTL3 chegaram a Wolmi-do, na manhã de 15 de setembro, mal se podiam distinguir a ilha e a região a leste do porto, encobertas por espessa cortina de fumaça.

As barcaças de desembarque atingiram a praia Verde às 06:33 e quase não encontraram resistência. Às 06:55 a bandeira americana foi fincada no pico da principal da ilha – que, às 08:00, já tinha sido completamente dominada. Mas a essa altura a maré havia mudado. Os Marines estavam entregue a própria sorte, sem nenhuma chance de socorro até o fim da tarde, quando a maré alta traria as forças principais para as praias Vermelha e Azul. Os comunistas, porém, não fizeram nenhuma tentativa de contra-ataque, e às 14:30 o fogo de artilharia naval começou a preparar o desembarque noturno.



As tropas americanas chegaram à praia Vermelha às 17:31. Após escalarem os paredões rochosos, com escadas de assalto, marcharam rapidamente para a cidade, sem encontrar muita resistência pelo caminho. À meia-noite, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais já havia alcançado seus objetivos, as colinas do Observatório e do Cemitério. 8 embarcações de desembarque de carros de combate (LST) tinham encalhado e despejavam tanques, veículos e armas, destinados a ajudar na defesa das praias (caso o contra-ataque viesse pela manhã) ou respaldar o avanço das tropas para Seul, no dia seguinte.

Ao sul da cidade, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais chegou à praia Azul exatamente às 17:30, mas o desembarque não ocorreu tão facilmente quanto na praia Vermelha. Algumas barcaças de desembarque atolaram no lodo, a 450 m da costa, e parte do batalhão de reserva desembarcou no local errado, pois a nuvem de fumaça decorrente do bombardeio anterior ainda obscurecia tudo. Apesar desse começo infeliz, o 1º Regimento também conseguiu alcançar seu objetivo até a meia-noite.

Os desembarques se haviam processado com poucas baixas americanas: 20 mortos em combate, 1 morto em consequência de ferimentos, um desaparecido em combate e 174 feridos. No entanto, logo se descobriria que, embora apanhado desprevenido, o inimigo não iria permitir que se tomasse Seul com facilidade. Praticamente todo o desenrolar da guerra dependeria dessa batalha.

A capital sul-coreana foi guarnecida por cerca de 20 mil soldados do EPCN, que resistiram a sucessivos assédios da artilharia americana, até serem aniquilados. Os Marines chegaram à periferia de Seul em 20 de setembro e, mesmo com seu superior poder de fogo, levaram 7 dias para tomar completamente a cidade. Nesse tempo, a destruição e as baixas foram enormes. O desembarque em Incheon, que havia parecido quase impossível, acabou sendo um sucesso. Essa “vitória impossível” (como se tornou conhecida) foi a última de MacArthur.

A partir de então, a Guerra da Coréia entraria em nova fase, com as forças do comando unificado da ONU tomando a iniciativa do conflito. O presidente Harry Truman autorizou a invasão da Coréia do Norte e, em 6 de outubro, a ONU aprovou a resolução americana.



quinta-feira, 11 de julho de 2019

O Ataque à Saint Nazaire *172



Flint Whitlock

A Grã-Bretanha buscava a supremacia da batalha do Atlântico, via vital a manutenção de seu esforço de guerra, onde comboios vindos dos EUA a mantinham de pé. Em 21 de maio de 1941, o encouraçado alemão Bismarck e o cruzador pesado Prinz Eugen atacaram o cruzador de batalha HMS Hood, afundando-o e danificaram seriamente o HMS Prince of Wales, durante um embate no Estreito da Dinamarca. Embora o confronto naval tenha dado a vantagem aos alemães, deixou Bismarck seriamente avariado e fez com que o capitão Otto Ernst Lindemann, rumasse para a base de St. Nazaire, na França, e as docas de reparos lá.

O porto atlântico de St. Nazaire tinha antes da guerra as maiores docas secas e instalações de reparo do mundo. Na verdade, seu maior cais era conhecido como a doca do Normandia, porque era onde o maior navio de passageiros do mundo, o Normandia, ficava entre os seus cruzeiros.

Mas o Bismarck nunca chegou a St. Nazaire. Lançado em 14 de fevereiro de 1939, com o propósito de controlar os mares, o encouraçado de 50 mil toneladas foi atacado na manhã de 27 de maio de 1941, por aviões de guerra do porta-aviões britânico HMS Ark Royal . Torpedos aéreos bloquearam seu leme e o deixaram vulnerável a um ataque pela frota britânica, que incluía os navios de guerra HMS Rodney e o Rei George V , além de numerosos destróieres e cruzadores.

Prevenindo o próximo Bismarck

Às 10 da manhã, os canhões do Bismarck ficaram silenciaram e ele submergiu sob as águas a cerca de 300 milhas náuticas a oeste de Ushant, na França. Dos 2.200 tripulantes, um total de 1995 foram com ele. Preocupado que o maior e mais poderoso navio-irmão do Bismarck , o Tirpitz , que estava escondido em um fiorde norueguês, pudesse um dia chegar a St. Nazaire e usar esse porto como base para atacar o Atlântico, o Almirantado Britânico, decidiu que as instalações de St. Nazaire deviam ser desativadas. Se as instalações de reparos do porto pudessem ser destruídas ou seriamente danificadas, o Almirantado acreditava que o Tirpitz nunca se aventuraria a sair de seu fiorde protetor.

Churchill foi o arquiteto por trás de tal ação. Ele sabia que precisava de uma grande e espetacular vitória para elevar o moral de sua nação, e então decidiu montar um ataque audaz, contra um dos alvos mais difíceis de toda a Europa controlada pelos nazistas.

No início, pensou-se que um ataque aéreo da Royal Air Force (RAF) poderia tornar o porto inoperável, mas esse plano foi descartado. St. Nazaire não só era protegido por um formidável anel de armas antiaéreas, que tornara um punhado de ataques anteriores ineficazes, como também uma grande população civil vivia na cidade vizinha e os britânicos relutavam em arriscar suas vidas em um ataque que poderia vir a ser pouco preciso e politicamente desfavorável. Outro caminho teria que ser encontrado.

Um ataque de comandos pelo mar foi então considerado, mas também foi visto como uma operação de alto risco - desta vez para os atacantes. Como Ken Ford, autor de uma história da incursão de St. Nazaire, escreve, o porto “está localizado a cinco milhas acima do traiçoeiro estuário do rio Loire e só é acessível do mar por um único canal estreito, que, em 1942, foi coberto por várias baterias de armas de defesa costeira”.

Mas, em janeiro de 1942, Churchill deu ao Lord Louis Mountbatten, o chefe britânico de operações combinadas, a tarefa de elaborar um plano para destruir as instalações. O plano que Mountbatten e sua equipe conceberam foi brilhante, mas confiaria na coragem e nos nervos dos homens que seriam convidados a executá-lo.



“Cheio de Imponderáveis… Perigosos no Extremo”

Decidiu-se usar um antigo destróier britânico, modificá-lo para parecer um navio de guerra alemão e recheá-lo com comandos e explosivos dotados de espoleta de retardo, depois lança-lo contra as comportas da doca seca durante a calada da noite. Os comandos sairiam do navio e chegariam às docas para silenciar as sentinelas alemãs e explodir as instalações vitais do porto.

Isso seria cronometrado com um ataque da RAF para criar confusão e confundir os defensores. Antes que os alemães soubessem o que os atingiu, os comandos, após a missão cumprida, seriam recolhidos por lanchas. Mais tarde, quando os alemães estivessem revirando o navio e inspecionando os danos à eclusa, o detonador de tempo acionaria os explosivos, causando o máximo de impacto e baixas. Como autor Ford diz, "O plano estava cheio de imponderáveis ??e era perigoso ao extremo".

O plano foi inicialmente visto pelo Almirantado com ceticismo e negatividade, mas Mountbatten e seus homens não se intimidaram; eles reformularam os detalhes e reapresentaram o plano, apelidado de Operation Chariot. Em 3 de março, Chariot foi aprovada.

O obsoleto HMS Campbeltown foi selecionado para protagonizar a operação. O comandante Robert ED “Red” Ryder, foi encarregado do papel pela Marinha Real na operação. Ryder já tinha uma longa carreira naval com serviço em submarinos, uma exploração ártica e um período como comandante de uma fragata. Seria seu trabalho transportar o Campbeltown e acompanhar a frota de lanchas motorizadas, semelhantes em tamanho e aparência aos barcos americanos PT, por 450 milhas até St. Nazaire e retirar quaisquer comandos sobreviventes de volta à Grã-Bretanha, ao mesmo tempo lutando contra o esperado contra-ataque alemão.



Preparando-se para o Raid

Em 10 de março de 1942, o Campbeltown navegou para Devonport para ser superficialmente disfarçado como um navio de guerra inimigo. Duas de suas 4 chaminés foram removidas, e as duas restantes foram encurtadas e cortadas em um ângulo para se assemelhar a um destróier da classe alemã Möwe. Armadura extra e armamento foram adicionados. Para comandar o falso navio alemão designou-se um experiente oficial britânico, o capitão Stephen H. "Sam" Beattie.

Para fornecer potência suficiente para cumprir a missão, 24 cargas de profundidade Mark VII, cada uma contendo 400 libras de explosivos, foram carregadas em um tanque de aço instalado nos compartimentos dianteiros do navio, e depois lacrados atrás de uma parede de concreto. detonadores com um atraso de oito horas foram instalados e seriam preparados pelo tenente Nigel Tibbits pouco antes de o navio bater comporta. Uma vez ativado, o ácido nos acionadores dissolveria o fio de contenção de cobre, ativando o dispositivo.

Enquanto isso, um contingente de comandos britânicos passaria por intenso treinamento para a missão. No início de 1942, existia a Brigada de Serviço Especial, composta por uma dúzia de unidades de comando de 500 homens, todos voluntários. Deste grupo de cerca de 6.000 homens, mais de 200 dos mais duros foram escolhidos para a Operação Chariot.

O tenente-coronel Augustus Charles Newman, chefe do Comando Número 2, foi selecionado para comandar as forças terrestres. Newman era um empreiteiro por profissão e servira antes da guerra. Aos 38 anos, ele era consideravelmente mais velho que a maioria de seus subordinados, mas sua capacidade de liderança e a maneira como ele se relacionava com seus homens significavam que ele era popular e respeitado.

De primordial importância era o treinamento em procedimentos de demolição especificamente adaptados para a operação de St. Nazaire. Um especialista em demolição de estaleiros, Bill Pritchard, capitão dos Royal Engineers, foi recrutado como instrutor. A instrução foi realizada nas docas de Cardiff (País de Gales) e Southhampton, em equipamentos semelhantes aos que os comandos provavelmente encontrariam.

Embora as equipes não utilizassem demolições ou munições reais, o treinamento era altamente realista. Depois de aprender o máximo possível sobre o funcionamento técnico de espoletas, bombas, guindastes, equipamentos elétricos e estações de energia, eles foram obrigados a colocar corretamente suas cargas falsas no escuro e muitas vezes com apenas alguns de seus companheiros presentes - os outros sendo considerados baixas.

Enquanto metade da força estava sendo transformada em especialistas em explosivos, a outra metade passou por um treinamento vigoroso nas técnicas de combate noturno nas ruas; eles atuariam como  escalão de segurança para os homens do escalão de demolição e apoiariam a força que lutava para sair do porto.

Além de aperfeiçoar suas habilidades de combate e se tornarem especialistas em demolição, os comandos gastaram um tempo incalculável examinando um modelo detalhado do porto e ensaiando continuamente suas atribuições. Nenhum detalhe foi deixado ao acaso, pois o ataque dependia de um tempo de fração de segundo; se um elemento atrasasse ou falhasse, toda a missão seria colocada em risco.



O Plano de Ataque: Entrando no Porto

Eis como todo o cenário deveria se reunir: o Campbeltown , disfarçado de navio alemão, e uma flotilha de 18 lanchas cheias de comandos, seriam acompanhadas até St. Nazaire. por dois contratorpedeiros da Marinha Real, Tynedale e Atherstone. Por volta da meia-noite do Dia D, no final de março, a RAF, voando de bases britânicas, bombardearia o porto, desviando a atenção dos defensores e fazendo com que eles procurassem abrigo. Simultaneamente, o Campbeltown entraria na foz do Loire e rapidamente se deslocaria por 6 km em direção ao porto.

Para garantir que eles pudessem encontrar o Loire no escuro, um submarino britânico submerso, o Sturgeon , se posicionaria ali como um farol de navegação. Quando a flotilha alcançasse a entrada do rio, os dois destróieres a deixariam e a força adotaria a formação de combate, com a canhoneira MGB-314 e seu radar e sonda acústica na liderança, guiando a força através das águas lamacentas e rasas.

Flanqueando a MGB-314 acompanhariam as torpedeiras ML-160 e ML-270, prontas para disparar seus torpedos em qualquer embarcação que ameaçasse a força. Depois disso, vinha o Campbeltown , seguido por duas colunas de lanchas de ambos os lados e atrás. As lanchas desembarcariam seus comandos em um píer de pedra, coroado pelo farol, chamado Old Mole, onde um conjunto de degraus de pedra levava à água; a flotilha de boreste se dirigiria para a entrada velha nas proximidades.

Mais três torpedeiras, a MTB-74, ML-446 e ML-298, cobririam a parte traseira da coluna. A MTB-74 também manteria posição na retaguarda e, se designada, torpedearia a pequena eclusa da entrada velha que levava às docas de submarinos. Dois pontos de fogo localizados perto da Mole Velho seriam atacadas por equipes de comandos desembarcados por seis barcos: ML-192, ML-306, ML-307, ML-443, ML-447 e ML-457. O restante das lanchas patrulharia o Loire para atacar alvos de ocasião na costa e proteger os comandos.

Enquanto os comandos chegavam à terra para causar estragos e confusão, o ato principal  do ataque aconteceria. O Campbeltown aproaria à toda velocidade em direção ao portão sul da doca do Normandia e abalroaria a estrutura de aço. O detonador de tempo seria acionado para detonar horas depois.

Os comandos do coronel Newman foram organizados em 3 grupos com 3 missões distintas. O primeiro grupo de 6 equipes desembarcaria de suas lanchas no lado norte do molhe e do farol de Old Mole, depois se estenderia para o sul ao longo do East Jetty e nas docas, onde atacaria a usina e destruiria as posições de armas dos portões da eclusa, pontes giratórias e pontes de elevação que levavam às docas submarinas.

O segundo grupo de 5 equipes desembarcaria na entrada velha, indo para o norte e para o sul, destruindo pontes oscilantes, torres de defesa e posições de armas enquanto avançavam.

O terceiro grupo, composto de 7 equipes de assalto de comando e 2 esquadrões de proteção de Campbeltown , sob o comando de Newman em segundo lugar, Major Bill Copland, se espalharia pela parte nordeste do estaleiro e destruiria a casa de bombeamento, tanto do norte quanto do sul, galpões e as ensecadeiras do norte e do sul.

Uma das 7 equipes do Campbeltown , sob o comando do capitão Donald W. Roy, iria para o oeste e garantiria o local de encontro na Old Entrance / Old Mole, onde o coronel Newman, levado à costa pelo MGB-314, montaria seu posto de comando temporário. Os homens de Roy iriam tomar uma ponte junto à entrada velha e mantê-la aberta para o resto dos operadores, enquanto voltavam para o local de extração, depois a explodiriam para que os alemães não pudessem segui-los.

Outra das equipes do Campbeltown , liderada pelo tenente Christopher Smalley, destruiria o galpão que controlava o mecanismo que abria e fechava os portões do sul, enquanto o tenente Stuart Chant e sua equipe entravam na casa de bombeamento e explodiam as bombas dos impulsores. Tal ação tornaria impossível drenar a água da doca seca.

Três outras equipes, sob o comando dos tenentes Corran Purdon, Robert JG Burtinshaw e Gerard Brett, também vindos do Campbeltown , tinham uma distância maior  para se deslocar. Depois de sair do navio, eles se moveriam ao longo do cais para as ensecadeiras e o docas do norte, onde eles os destruiriam e, assim, tornariam inoperáveis ??as comportas daquele quadrante.

Outra equipe, sob o comando do tenente John Roderick, foi designada para neutralizar 3 posições de fogo entre a doca do Normandia e o rio, depois incendiaram os tanques subterrâneos de armazenamento de combustível. Uma vez que todas as operações tivessem sido realizadas, todas as equipes deveriam se reunir na Old Entrance / Old Mole para evacuação.

Proteger os comandos do Campbeltown com fogo supressivo dos canhões contra alvos em terra seria a missão das 3 torpedeiras, ML-160, ML-270 e MGB-314. Os lanchas, então, recuariam e esperariam no rio até que as tarefas de demolição tivessem sido concluídas, antes de se moverem para a costa para extrair os comandos e a tripulação de Campbeltown . O fato de todas essas ações serem realizadas no meio de uma bem armada guarnição alemã tornou a Operação Chariot não apenas perigosa e ousada ao extremo, mas também suicida.

Todo esse planejamento cuidadoso e treinamento, baseavam-se em várias suposições amplamente otimistas: que a oposição inimiga seria leve ou inexistente; que os objetivos seriam idênticos ou semelhantes às instalações nas quais os comandos estavam praticando; e que, uma vez iniciada a missão, todo o planejado seria executado.

Com o treinamento concluído, a força de Operação de três destróieres e 18 lanchas deixou o porto de Falmouth, perto da ponta sudoeste da Inglaterra, às 2 da tarde de 26 de março de 1942, para a viagem por mar aberto de mais de 400 milhas.

A flotilha fez um curso diversionário para fazer qualquer navio ou aeronave inimiga acreditar que o grupo poderia estar indo para Gibraltar ou talvez La Rochelle, mais ao sul de St. Nazaire. Um U-boat, o U-593 , localizou o grupo às 7 da manhã de 27 de março e transmitiu por rádio sua posição para a sede, mas não fez nenhum esforço para interceptá-lo. A flotilha, no entanto, disparou contra o submarino e fez com que ele submergisse, depois disparou cargas de profundidade.

Pouco tempo depois, um grupo de barcos de pesca franceses foi avistado. O Comandante Ryder enviou o Atherstone e o Tynedale para investigar, pois sabia-se que os alemães por vezes colocavam observadores em navios de pesca franceses para espionar os navios aliados. Não foram encontrados observadores alemães, mas as tripulações de dois dos barcos foram levadas para bordo dos destróieres, e depois os afundaram.

Às 10 horas da noite, a flotilha avistou a luz do submarino Sturgeon , e Ryder e Newman sabiam que estavam exatamente no lugar certo. Todos as embarcações cortaram seus motores e esperaram a ordem de execução.

Por volta da meia-noite, os alemães em St. Nazaire ouviram os ruídos cada vez mais intensos de uma grande formação de bombardeiros. O alarme do ataque aéreo soou. Logo veio o assobio das bombas caindo, e a noite se iluminou com os flashes de explosões.

Embaixo do convés a bordo do Campbeltown , com sua bandeira da Marinha alemã esvoaçando na popa, o tenente Tibbitts ativou o detonador de retardo que estava ligado às 9.600 libras de explosivos, e a flotilha começou a avançar cautelosamente para o Loire. A tensão estava aumentando. O destróier e as torpedeiras passaram lentamente pela estação de radar em Le Croisic sem causar nenhuma reação.

Eram 30 minutos após a meia-noite de 28 de maio, e a sorte estava favorecendo os atacantes. A flotilha passou tranquilamente pelo naufrágio semi-submerso do transatlântico britânico Cunard RMS Lancastria , afundado pela Luftwaffe em 17 de junho de 1940. Mais de 1.730 pessoas, britânicos e tropas francesas, duas semanas após a evacuação de Dunkirk, perderam suas vidas em Lancastria , tornando-se o pior desastre marítimo da Grã-Bretanha de todos os tempos.

Seguindo, a força de assalto foi penetrando a foz do rio, até que estavam a apenas 3 km de seu destino. Enquanto isso, os canhões antiaéreos alemães tinham parado de disparar contra os aviões e os holofotes haviam sido desligados depois que Karl-Conrad Mecke, o comandante da 22ª Brigada Naval Flak, desconfiara do estranho padrão de bombardeio da RAF. Em vez de simplesmente deixar cair suas bombas e ir para casa, os aviões estavam circulando o porto e soltando uma bomba de cada vez. Pensando que talvez o bombardeio tenha sinalizado o início de um ataque de paraquedas, ele ordenou que as tripulações de armas ficassem em alerta para um ataque aéreo.

Uma hora depois, um holofote escaneou a água perto da flotilha, mas depois, com a mesma rapidez, foi extinto. Nenhum tiro foi disparado contra os invasores. Mas Mecke estava em alerta. Às 1h20 da madrugada, depois de receber relatos de um grupo misterioso de navios que se aproximavam e que outros comandos consideraram improváveis, ele enviou uma mensagem a todas as unidades na área de St. Nazaire para estar à procura de um grupo de desembarque.

Agora, uma dúzia ou mais de holofotes que se alinhavam nas margens do rio foram ligados e jogados na água. Alguns disparos foram disparados através da proa de Campbeltown , e uma luz de sinalização na costa soltou um desafio. Pronto para isso, o sinaleiro a bordo do navio piscou em alemão, "Espere", então deu o sinal de chamada de um verdadeiro destróier alemão. Isto foi seguido por uma falsa mensagem dizendo que o navio foi danificado e pediu permissão para prosseguir "sem demora". Os alemães, evidentemente mordendo a isca, pararam de disparar e deixaram o navio passar.

Um tenente da Marinha Britânica chamado Frank Arkle, a bordo do ML-177, lembrou: “Nesta fase, o [ Campbeltown ] estava ostentando o estandarte alemão e recebemos uma ordem firme de não abrirmos fogo até o estandarte ser removido”.

Mas apenas alguns minutos se passaram antes que os alemães, percebendo que haviam sido enganados, começaram fazer fogo pesado contra a flotilha. O sinaleiro de Campbeltown brilhou: "Você está atirando em navios amigos", e as armas ficaram em silêncio novamente, mas apenas brevemente.

Mais uma vez, a artilharia de defesa costeira, junto com metralhadoras e rifles, começou a resplandecer, com os traçantes riscando o céu noturno e altos picos de água jorrando no ar pelo impacto dos projéteis.

Agora os comandos e o pessoal naval começaram a disparar, os alferes britânicos apareceram e o capitão de Campbeltown ordenou velocidade total à frente. Morto à sua frente, a algumas centenas de metros de distância, ficava o portão de segurança da doca seca.

Na entrada do porto exterior, uma lancha-patrulha alemã começou a fazer fogo contra a flotilha que passava, quando o MTB-314, com Ryder e Newman a bordo, disparou suas Oerlikon a curta distância. O navio alemão ficou em silêncio, exceto pelos sons de gemidos de seus membros da tripulação feridos e moribundos.

O tenente-comandante John Roderick, a bordo do Campbeltown , lembrou: “O corre-corre foi desesperadoramente excitante - as discussões sobre quem ou o que éramos, o silêncio e o fogo de todas as armas. Ficamos consternados pelas tripulações que sofreram baixas severas. Deitados atrás deles, não estávamos totalmente inativos, pois nossas armas Bren estavam preparadas, com muitas munição que disparamos contra tantos alvos possíveis quanto pudemos.”

O tenente Arkle no ML-177 acrescentou: “Havia traçantes em todas as direções, uma visão muito colorida porque os projéteis britânicos eram todos de cor laranja e os alemães eram todos de um verde azulado. Muito bonito! As granadas não eram tão bonitas assim! De qualquer maneira, isso continuou por algum tempo e o destróier avançou a toda velocidade, mirando nos portões da doca, mas a linha de torpedeiras ao local de desembarque que era principalmente a Old Mole no cais, e elas começaram a enfrentar fogo pesado, e os petardos log fizeram sentir seus efeitos em várias delas, infelizmente.”

“Estávamos na linha de estibordo e quando o destroyer bateu nos portões da doca, o que aconteceu com muita precisão, passamos por eles a estibordo, fizemos um grande círculo e passamos por baixo da popa. Era nosso dever entrar na velha entrada da doca, onde desembarcamos nossos comandos.”

O Campbeltown tornou-se o foco de quase todas as armas alemãs, e seu casco, convés e superestrutura foram atingidos pesadamente por armas diversas. Ainda assim, ele não diminuiu a velocidade nem vacilou quando seu capitão, o tenente-comandante Sam Beattie, com tripulantes mortos e feridos ao redor dele, prosseguiu para a frente a 20 nós, sem se importar com o perigo. À sua frente, o MTB-314 ainda estava atirando contra as guarnições alemãs até que, no último momento, desviou para a direita, liberando um corredor até os portões da eclusa.

Como escreve o autor Ford, “De repente, o Campbeltown atingiu a rede antitorpedo que protegia a eclusa, mas o ímpeto de mais de mil toneladas do navio de guerra rasgou a malha de aço e o destróier avançou insofreável. Segundos depois, com um ruído discreto, o navio atingiu o centro do enorme caixão de aço e o estremeceu até parar. Eram 01:34 horas; o Campbeltown havia alcançado seu alvo apenas 4 minutos atrasado.



Os Comandos Desembarcam

O destroyer se chocou contra o portão de aço com tal força que 35 pés do arco de proa do Campbeltown estavam amassados e o navio inteiro estava preso a uma inclinação acima de 15 graus. Os comandos que estavam no navio começaram a correr por entre a fumaça da que deixava a nave em chamas e saltar para o cais, disparando com suas armas Sten em qualquer coisa que se movesse.

O tenente Roderick recordou: “Após o choque da proa que provocaram surpreendentemente com pouco estardalhaço, fui rapidamente à frente para procurar a saída de deixar o navio; Era uma grande confusão com muitos feridos deitados no convés. A arma de proa do navio parecia um pouco torta e eu não conseguia ver sinais de alguém vivo ao redor. Era importante sairmos rapidamente do Campbeltown”.

“Nossas escadas de bambu foram danificadas por tiros antes de descermos; O cabo Donaldson ficou encarregado delas, porém foi morto. Eu consegui achar um cabo comprido que nos ajudou a subir no portão da doca”.

“Houve fogo intenso que foi difícil identificar de onde estava vindo. Não lembro de ver tiros vindo da primeira posição de armas. Fui para a frente com o Cabo Howarth e um projétil de algum tipo passou pela minha cabeça e feriu-o na perna. Terminamos com a tripulação e seguimos em frente com o Tenente John Stutchbury e sua seção.

“Em seguida, tivemos que limpar o terreno que levava aos tanques de armazenamento de óleo. Havia uma série de construções onde lançamos granadas, e em outro prédio de concreto, matamos mais inimigos. Havia, creio eu, uma arma leve de algum tipo no topo, mas não subi para ver; A essa altura, estávamos avançando pelo lado do mar dos tanques de óleo. John Stutchbury estava recebendo fogo de cobertura enquanto avançava para atacar um terceiro grupo. Tínhamos uma área bastante grande para cobrir e, com nossos números reduzidos, era um trabalho em tempo integral, mantendo nossos olhos abertos para todos à nossa volta.”



A Ação das Torpedeiras

Enquanto o Campbeltown ainda estava funcionando, com motores acelerados para a comporta sul, as torpedeiras ML-156, ML-177, ML-192, ML-262, ML-267 e ML-268, haviam deixado a formação e estavam indo a toda velocidade em direção à velha entrada para desembarcar seus comandos. Confusão, caos e desastre logo envolveriam os grupos de desembarque.

Como o primeiro barco, o ML-192, comandado pelo tenente comandante. William L. Stephens, manobrou perto do cais da Entrada velha, um grande petardo o atingiu. A explosão desativou a sala de máquinas, fazendo com que a nave perdesse o controle e eventualmente parasse contra o cais de leste com várias baixas a bordo.

O capitão Michael Burn, encarregado dos 13 outros comandos do ML-192, conseguiu desembarcar seus homens e conduzi-los ao seu objetivo, duas torres antiaéreas próximas, mas as encontrou desguarnecidas.

George Davidson, um tripulante a bordo do barco de Stephens, lembrou, “o ML-192 foi o primeiro navio a ser atingido. Estávamos prestes a passar pelo Old Mole quando o motor parou - o barco ainda estava em movimento. A sala de máquinas estava em chamas e, em abandonamos o barco pulando no Mole.

“No Mole, havia um farol, e depois uma torre com holofotes e mais perto da costa, outra torre antiaérea. Pulamos bem perto da torre antiaérea. O barco emborcou para estibordo, e desceu seu mastro por sobre o Mole e eu visualizei a perspectiva de chegar à terra por ali. Seria difícil, mas achei que poderia subir no mastro e pular no Mole. Então, subi até um ponto em que vi duas cabeças espiando pela torre antiaérea e achei que era hora de dar um passo. Eu acho que eles estavam tão assustados quanto eu, porque eles nao atiraram em mim. Eles não estavam esperando que alguém escalasse o mastro!

“Quando desci novamente, o navio estava em chamas e o capitão nos ordenou a abandona-lo. Dei-lhe uma mão para lançar um bote e para os dos não-nadadores, fui até a proa e pulei nadando paralelamente ao Mole e me levantei na praia.”

Enquanto o drama acontecia, o terceiro basco, ML-262, comandado pelo tenente Edward "Ted" A. Burt, aproximou-se, levando a palamenta de demolição do tenente Mark Woodcock, cuja missão era destruir a ponte sobre a entrada velha e duas entradas adjacentes. Mas Burt estava desorientado pelos holofotes ofuscantes e ultrapassou seu objetivo em várias centenas de metros. Atrás dele, o tenente Eric H. Beart, comandante do ML-267, sofreu um problema parecido, quando as duas naves se aperceberam e prepararam-se para voltar.

O quarto basco, ML-268, do tenente Bill Tillie, viu Burt e Beart ultrapassarem seus pontos de desembarque, mas não repetiu o erro. Ao aproximar-se dos degraus da Velha Entrada, o barco de Tillie foi alvejado por bombas inimigas e explodiu em chamas em poucos minutos. Apenas Tillie e metade de sua tripulação, junto com dois dos 18 comandos a bordo, conseguiram chegar à terra.

O quinto barco era o ML-156 do Tenente Leslie Fenton, mas não se saiu melhor que os anteriores. Fenton foi ferido, junto com o capitão Richard H. Hooper, comandante dos 13 comandos a bordo. O barco passou também do ponto e retornou, estando todo o tempo exposto ao preciso fogo alemão. Com os motores e a direção danificados e as baixas aumentando, Fenton não teve outra escolha a não ser retirar a ML-156 da zona de desembarque e voltar para o Loire. O barco avariado seria mais tarde afundado.

O sexto e último barco a tentar o desembarque, ML-177, sob o comando do sub-tenente Rodier, de alguma forma sobreviveu à tempestade de fogo inimigo e deixou seu grupo de 13 comandos, liderados pelo sargento-mor George W. Haines, no lado sul da entrada velha. Haines tinha ordens de se unir ao grupo do Capitão Hooper e derrubar as posições das armas inimigas entre a entrada velha e o Old Mole, mas o sargento não sabia que Hooper e a ML-156 haviam falhado ao desembarcar. No entanto, Haines levou seus homens através do labirinto escuro de ruas, galpões e edifícios, participando de tiroteios intensos, com as surpresas tropas alemãs que estavam fazendo o seu melhor para deter o ataque.



Os Explosivos

Desafiando o fogo, o barco de comando de Robert Ryder, o MGB-314, conseguiu então desembarcar o tenente-coronel Newman e sua equipe no quartel-general da entrada, onde projéteis de armas leves e granadas ainda passavam intensos e rapidamente. William Savage, um hábil marinheiro a bordo do 314, estava disparando uma arma de convés com grande precisão. Embora ele não tivesse proteção de arma e estivesse em uma posição exposta, ele continuou atirando até que ele foi morto. Suas ações lhe renderiam uma “Victoria Cross” póstuma.

O tenente da marinha Frank Arkle, a bordo do ML-177, lembrou: “Nesta fase, o Comandante Ryder paralelamente a nós em seu MGB e nos deu instruções para deixar nossas linhas e ir ao lado do Campbeltown e pegar tantos tripulantes quanto nós poderíamos levá-los devolta para a Inglaterra. Enquanto isso, os comandos que haviam saltado de Cambeltown ainda estavam no meio da luta nas docas. O tenente Brett (que foi baleado nas duas pernas antes de iniciar sua tarefa) e seus homens estavam atacando a eclusa sul do dique seco, tentando desativá-la. Em seu esforço para alcançar o portão norte da eclusa a 300 metros de distância, os homens do tenente Burtinshaw enfrentaram uma barreira de fogo inimigo concentrado apenas para descobrir que seu desenho era diferente daquele em que haviam praticado na Inglaterra.

Incapazes de entender o funcionamento interno do portão, os homens de Burtinshaw amarravam os explosivos da melhor forma que podiam, mesmo enquanto metralhadoras e atiradores de elite alemães atiravam cerradamente nos comandos. O próprio Burtinshaw caiu mortalmente ferido. Um sargento chamado Carr assumiu o comando de seu líder caído e detonou os explosivos, causando sérios danos ao portão do norte. O tenente Chant, que havia sido atingido antes mesmo de desembarcar do Campbeltown , prosseguiu e, com seu grupo, colocou suas cargas a 40 pés abaixo do solo, embaixo da casa de bombeamento, destruindo-a. O tenente Bill Etches, no comando geral dos tenentes Smalley e Purdon, providenciou para que essas equipes destruíssem as duas casas.

Mas os alemães aumentaram a intensidade e precisão de seu fogo. Os corpos de Burtinshaw e seis outros comandos tiveram que ser deixados onde caíram, pois todo o grupo enfrentaria a aniquilação se não se retirasse imediatamente e corresse para o ponto de evacuação na entrada velha, a mais de 300 metros de distância. As duas lanchas que antes haviam ultrapassado sua marca - ML-262 de Burt e ML-267 - de Beart - retornaram à entrada velha e mais uma vez tentaram fazer um desembarque, apesar do fogo intenso que estava sendo despejado nesta área restrita. Burt corajosamente desembarcou a equipe de demolição de Woodcock junto com o esquadrão de proteção do tenente RF Morgan no cais do norte antes de ser forçado a se desfazer.

O esquadrão de Morgan tinha adentrado o estaleiro alguns metros quando voltou correndo para o cais, pedindo permissão para embarcar na lancha; um dos homens tinha visto um sinalizador alemão cruzar pelo ar e, confundindo-o com o sinal de recuo, achou que era um sinal para a equipe de desembarque recuar. A lancha de Burt, ainda sendo alvejada pelo fogo inimigo, demorou o suficiente para que os homens de Morgan embarcarem de volta.

A retirada

Mais ou menos no mesmo instante, a equipe do tenente Smalley voltou, depois de cumprir sua missão na eclusa norte. Smalley e seus homens, em vez de seguirem para o Old Mole como planejado, viram a lancha de Burt e correram até ela; Burt voltou atrás e deixou-os embarcar. Deixando uma nuvem de fumaça e exaustão, o ML-262 aproou em direção a águas abertas, mas novamente se tornou alvo de todas as armas alemãs dentro do alcance e Smalley foi morto. O ML-262 escapou por pouco.

Durante a confusão, o ML-267 de Beart se aproximou da entrada velha para desembarcar seus comandos, as reservas de Newman, mas assim que alguns desembarcaram nos degraus do sul, a intensidade do fogo obrigou Beart a recuar. O barco explodiu e aqueles a bordo abandonaram-no; muitos foram atingidos pelo fogo da metralhadora enquanto estavam na água. O tenente Beart, juntamente com 10 de sua tripulação e 8 comandos, foram mortos.

Finalmente, o MTB-74, uma das duas lanchas sob o comando do tenente Mickey Wynn, entrou na briga. Wynn torpedeou os portões que fechavam a entrada da velha doca de submarinos (as espoletas de tempo nos torpedos disparariam dois dias depois), depois se dirigiram para ajudar Ryder (MTB-314) e Rodier (ML-177) na evacuação dos homens do Campbelltown avariado. Pego pelo fogo inimigo e incapaz de detonar os tanques subterrâneos de armazenamento de combustível, o tenente Roderick e sua equipe abriram caminho em direção ao ponto de reunião, o posto de comando temporário de Newman perto da entrada velha.

"Nossos movimentos estavam obviamente sendo vigiados, já que precisávamos nos mover entre o fogo", relatou Roderick. “Foi enquanto corria para me esconder, carregando uma metralhadora Bren, que fui atingido pela minha coxa esquerda. Eu só estava ciente de ter que derrubar de ponta-cabeça e o Bren deixando minhas mãos. Eu me movi rapidamente para trás de um poste e finalmente fiz meu caminho em direção ao ponto de comando do Coronel Newman, onde o resto do meu grupo tinha se reunido”.

Desembarcar mais comandos na entrada velha era impossível, de modo que o seguinte esquadrão de 6 lanchas decidiu desembarcar ao lado do Old Mole, mas sem sucesso algum. O ML-447 do tenente TDL Platt deixou os 14 homens do capitão David Birney, mas eles foram recebidos por um fogo intenso. O desembarque foi possível e os canhões Oerlikon e suas guarnições foram eliminadas. Mancando perto da entrada velha, Platt tentou se aproximar dos degraus de pedra, mas a embarcação foi atingida por uma granada de grande calibre. Apenas um punhado de homens conseguiu chegar aos degraus; os outros foram mortos imediatamente pela explosão ou lançados nas águas escuras do porto onde se afogaram.

Por sorte, o tenente Thomas Collier, comandante da ML-457, conseguiu subir os degraus e desembarcar suas 3 equipes de comandos. O primeiro foi um grupo de controle liderado pelo instrutor de demolição do estaleiro, o capitão Bill Pritchard, o segundo foi o tenente Walton e sua equipe de demolição de 4 homens, e o terceiro foi um grupo de proteção de quatro homens do tenente William H. "Tiger" Watson.

Logo atrás do barco de Collier estava o ML-307 do tenente Norman Wallis, carregando o capitão EW Bradley e 6 comandos. Mas Wallis atingiu um obstáculo submerso e ficou imobilizado; O fogo inimigo agora se concentrava no barco encalhado. Wallis habilmente conseguiu tirar o ML-307 de seu problema e, na direção de Bradley, começou a engajar as armas alemãs e holofotes ao longo dos cais e molhes que ameaçavam o ataque.

Atrás da ML-307 veio a ML-306 sob o tenente Ian Henderson, seguida da ML-443, comandado pelo tenente K. Horlock, e a ML-446 com o tenente Dick Falconar no comando. Mas as águas ao redor da entrada velha estavam cheias de escombros das lanchas queimadas e inoperantes, homens feridos e fogo inimigo, e os barcos não podiam se aproximar. Os três capitães tomaram a decisão de retirar-se na esperança de encontrar outro lugar, menos mortal, onde pudessem desembarcar suas equipes de comando. Estavam errados.

Comandos Capturados

A bordo da ML-177 de Rodier, que se aproximava para resgatar os sobreviventes do Campbeltown , Frank Arkle recordou: “A fim de derrubar os portões da doca, o Campbeltown teve que passar por algumas redes anti-submarinos para chegar lá, e muitas dessas redes ainda estavam lá enquanto tentávamos nos aproximar; tínhamos que ter muito cuidado para não envolvê-las em nossas próprias hélices. No entanto, conseguimos transpor e tiramos a tripulação, incluindo o capitão [Sam Beattie] e vários de seus oficiais, incluindo o oficial médico, muitos dos feridos e alguns comandos.”

Afastando-se da popa do contratorpedeiro, Rodier dirigiu-se para o mar em busca de segurança, mas foi uma viagem curta. Arkle disse: “Corremos o mais rápido que pudemos, a 18 nós, em direção ao mar aberto. Nós nos encontrávamos cada vez mais sob o fogo de baterias baseadas em terra, então pensamos lançar nossos fumígenos. Estávamos apenas trabalhando nisso quando, infelizmente, a primeira granada nos atingiu, na sala de máquinas. Ele aparentemente jogou um dos nossos motores por cima do outro e ambos ficaram fora de ação.

“Eu estava na popa e Mark Rodier estava na ponte com o Comandante Beattie. Beattie desceu e nós estávamos de pé, na popa, quando outra granada nos atingiu. Em meu benefício, o pobre Mark estava em pé exatamente entre mim e a granada, e ele absorveu o impacto da explosão que teria me atingido se ele não estivesse lá. Eu fui atingido por todo o meu lado esquerdo e meu rosto.

“Senti meu olho direito em minha bochecha, e senti que havia apenas uma coisa a fazer sobre isso, então eu o peguei e joguei no mar. Eu então desci para a sala de guarda, embora estivéssemos em chamas e na metade do caminho, peguei algo para colocar em volta da minha cabeça como uma espécie de atadura por cima do meu olho ferido, meu pé esquerdo também estava ferido me fazendo mancar.

ML-177 estava queimando intensamente. Rodier estava morto, assim como o tenente Tibbitts, o homem que havia acertado o tempo do Campbeltown. Ambos Beattie e Arkle concordaram que nada mais poderia ser feito para salvar a lancha, então a ordem foi dada para abandonar o navio. Arkle e um par de comandos agarraram-se a um pedaço de destroços flutuantes.

“Decidimos nadar para o ponto mais próximo”, ele disse, “mas logo percebi que estávamos perdendo completamente nossa energia porque estávamos dando voltas em círculos. Então eu decidi tentar pegar um frasco de uísque do meu bolso, um pequeno frasco de estanho. Descobri, no final, que minhas mãos estavam tão frias que não consegui abrir o botão no bolso do meu quadril para tirar o frasco, então tive que desistir, e acho que depois de uma hora ou duas na água, mesmo nos movendo para tentar manter nossa circulação, estávamos começando a ser seriamente afetados pelo frio”.

Uma traineira alemã armada, encontrou os sobreviventes flutuantes e nos colocou a bordo. De alguma forma, Arkle conseguiu subir a bordo também. “A essa altura, acho que perdi bastante sangue de um grande buraco que tinha no quadril esquerdo. Disseram-nos para deitar no convés. Havia sentinelas alemãs com fuzis de olho em nós e, eventualmente, um deles veio com xícaras de café ersatz. Também foi feito prisioneiro o comandante Beattie.

Cenas de sobrevivência também ainda estavam acontecendo perto do Old Mole. Depois de abandonar a ML-192, George Davidson lembrou que os alemães capturaram a tripulação e “nos levaram em direção ao sul. No caminho, houve muitos tiros. Estávamos nos esquivando, e vi alguns rolos de rede de arame, e então deslizei entre eles. Isso foi antes das 2 horas da manhã e eu ainda estava lá à luz do dia. Eu sabia que tinha que fazer uma pausa, mas encontrei um monte de alemães e imediatamente fui feito prisioneiro.

“Eu estava muito preocupado porque havia alguns gatilhos nervoso entre eles, mas felizmente o oficial que estava no comando parecia ser estável e ordenou que eu andasse e ficasse de costas para o parapeito. ”Por sorte, Davidson só foi preso e não fuzilado.

"Só vamos ter que ir para casa"

Enquanto isso, equipe após equipe de comandos recuaram em direção à entrada velha e, às 2h30 da manhã, eles se reuniram no PC de Newman, prontos para serem evacuados. Mas não havia mais barcos. O pequeno porto já era uma cena de devastação. As lanchas que tinham sido perdidas com suas tripulações no caminho, balançavam impotentes e queimavam. Os destroços fumegantes, entremeados de imensas piscinas de combustível e os corpos flutuantes de marinheiros e comandos mortos, estavam ressaltados pelos holofotes.

À medida que mais e mais grupos se acumulavam no PC, ficou claro para o coronel Newman que os comandos estavam em uma posição insustentável. A maioria daqueles que chegaram estavam feridos, alguns mal e incapazes de serem movidos. Com o volume de fogo lá fora, também ficou claro que a fuga de volta para a entrada velha ou para o Old Mole estava fora de questão; A rota de fuga de Newman estava sendo varrida por metralhadoras e armas de grosso calibre. A única opção, então, era sair do prédio, atravessar a ponte rumo à cidade de St. Nazaire, dispersar-se e fugir e esperar desaparecer no campo. Talvez alguns grupos clandestinos franceses ajudassem os comandos a voltar para a Grã-Bretanha.

Newman reuniu os seus homens e disse-lhes com a típica gentileza britânica: “Bem, senhores, perdemos o barco. Só teremos que voltar para casa. Às 3 da manhã de 28 de março, os comandos, cada um apoiando um companheiro ferido, saíram pela porta e, em uma exibição final de heroísmo altruísta, abriram caminho pelos armazéns em frente à baía submarina. e sobre a ponte para a cidade.

O tenente Roderick recordou a tentativa de fuga. Ele e seus homens correram para a ponte, com o capitão Roy, os tenentes Len Hoppy e Bill Watson, o sargento Alf Pearson e outros atuando como seção avançada. “Esta etapa foi particularmente emocionante e repleta de surpresas”, disse Roderick, “como todas as lutas de casas e ruas devem ser. Foi durante numa dessas lutas que Tiger Watson foi baleado através do úmero; Eu dei a ele uma injeção de morfina.

“Ao deixar Tiger o mais confortável possível, Hoppy Hopwood, Alf Pearson e um ou dois outros cujos nomes me falham estavam procurando abrigo em alguns armazéns, já que tentativas de atravessar a ponte aquela hora eram suicidas. Nesse momento fui ferido na cabeça por uma granada.

“Decidimos encontrar um lugar adequado para se esconder, fazendo um abrigo de sacos de cimento cheios do chão. Alf Pearson tinha sido gravemente ferido no ombro esquerdo e estava fora de combate e nós estávamos, a esta altura, muito visados. Fizemos, no entanto, um ótimo esconderijo e nas próximas horas, grupos de soldados alemães, que nessa hora estavam na área em reforço, passaram por nós com suas equipes de busca.”

No início da manhã, os bloqueios nas estradas eram um problema e os comandos, com pouca munição, tinham ficado sem opções. Roderick disse: “Foi apenas por volta das 10:30 da manhã que um alemão que procurava no alto de um armazém do outro lado da estrada viu uma cabeça ou um membro enfaixado com algum dano de bomba na parede do armazém e deu o alarme. Nos rendemos, pois a oposição teria sido simplesmente inútil. Nossos captores não ficaram particularmente satisfeitos e nos empurraram contra uma parede e nos revistaram.

Retorno de 5 barcos

Depois que as lanchas se retiraram para o mar, o destróier alemão Jaguar rumou para interceptar a flotilha, a cerca de 72 quilômetros de St. Nazaire. Disparando no ML-306 e ordenando que parasse, o comandante do Jaguar ficou surpreso com a resposta britânica: uma explosão de fogo de retorno de uma arma de Lewis sendo operada pelo comandante de 23 anos, o sargento Thomas F. Durrant.

Em uma ação de resistência, Durrant manteve o navio alemão à distância até que, após um embate, o sargento foi morto. Sua coragem lhe valeu a Victoria Cross, postumamente. Durrant é um dos poucos homens que recebeu seu CV por recomendação de um oficial inimigo, o capitão do contratorpedeiro.
Dos 18 barcos de assalto originais, apenas 5 embarcações foram capazes de se encontrar com os dois destróieres britânicos: ML-306, ML-307, ML-443, ML-446 e MGB 314.

O Último Episódio do Raid

Como haviam ainda comandos em terra e não haviam sido evacuados, lutaram contra escaramuças de última hora, iludiram o inimigo ou foram feitos prisioneiros pelos alemães, o último e mais espetacular ato da operação aconteceu.

No meio da manhã do dia 28 de março, o moribundo Cambeltown, ainda encalhado em seu ângulo ascendente sobre os portões da doca, atraiu uma multidão de espectadores. Alguns até subiram a bordo para se maravilhar com a inteligente obra dos ingleses, enquanto outros estavam sob o convés inspecionando a grossa parede de concreto e sem dúvida imaginando que o concreto estava lá simplesmente para dar força extra à proa do navio que tinha sido usada como um aríete. Ninguém percebeu que, do outro lado da laje de concreto, o ácido no detonador estava prestes a corroer o último pedaço de fio de cobre.

Enquanto o objeto de atenção de todos estava atraindo olhares curiosos, de repente ele explodiu arremessando pedaços de aço e corpos humanos ??por toda parte. Os portões se abriram, liberando uma onda de água do mar na câmara seca e fazendo com que dois navios-tanque alemães no interior emborcassem.

O tenente Roderick lembrou que ele e alguns poucos amigos estavam sendo mantidos presos em um pequeno barco no rio quando o Campbeltown explodiu. “Ficamos com nossos guardas, mas todos os outros correram para ver o que era tudo aquilo. Pouco depois, fomos colocados em um caminhão e levados para a cidade onde fomos colocados em uma casa particular antes de sermos transferidos para o hospital em Le Baule.”

O dano foi enorme. Nas construções ao redor, janelas e estruturas fracas foram derrubadas. Alguns edifícios pegaram fogo. Dos defensores alemães, dezenas foram mortos ou feridos. A doca da Normandia estava em frangalhos e foi inutilizada até 1947. Não havia chance do Tirpitz ou qualquer outro navio alemão usá-la.

“A maior invasão de todas”

A Operação Chariot havia sido um ataque bem-sucedido, embora terrivelmente caro. Todos os que participaram do ataque a St. Nazaire, considerado pelos britânicos como "o maior ataque de todos", cobriram-se de glória, mesmo ao custo de suas vidas. 5 medalhas “Victoria Cross”, o maior prêmio de valor da Grã-Bretanha, foram conquistadas na noite fatídica (por Beatty, Newman, Ryder, Savage e Durrant). Além disso, mais de 70 outras medalhas militares de vários tipos foram concedidas pela a ação em St Nazaire.

Mas as baixas foram pesadas. A maioria das pequenas embarcações foi afundada ou danificada. Dos 611 soldados e marinheiros que participaram, 168 foram mortos e 200 foram feitos prisioneiros. Esse sucesso e o ataque do comando na ilha de Sark, nas Ilhas do Canal, em 3 e 4 de outubro de 1942, levaram Hitler contrariado a publicar sua infame “Comando Order”. Decretou: “De agora em diante, todos os homens que operarem contra as tropas alemãs nos assim chamados ataques de Comando na Europa ou na África serão aniquilados até o último homem”. As proteções da Convenção de Genebra não seriam observadas.

Até hoje os britânicos ainda consideram o ataque a St. Nazaire um dos mais heróicos e bem sucedidos da guerra; placas e monumentos em memória dos invasores foram erguidos no porto. Um terço dos soldados e marinheiros britânicos mortos durante o ataque foi enterrado no Cemitério de Guerra de Escoublac-la-Baule, 11 milhas a oeste de St. Nazaire.

Talvez Lorde Lovat, que lideraria os comandos britânicos em terra na Praia da Espada no Dia D, em 6 de junho de 1944, resumiu melhor quando escreveu: “Nazaire foi, sem dúvida, a mais espetacular incursão marítima realizada na Segunda Guerra Mundial ”.