FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 29 de novembro de 2015

O Fuzil de Assalto #111



O fuzil de assalto surgiu na Segunda Guerra Mundial quando os alemães constataram que a maioria dos embates de infantaria aconteciam a menos de 400 metros, e desenvolveram o Sturmgewehr 44 (StG-44) que combinou o poder de fogo de uma metralhadora com a precisão e o alcance de um fuzil, calçando um novo calibre 7,92 x 33 mm no lugar do 7,92 x 57 mm (8 mm Mauser) usado desde 1905 e com potência muito superior a necessária para este alcance.

A doutrina alemã considerava o fuzil como uma arma secundária, sendo a metralhadora a principal arma da infantaria, carregando os soldados mais munição para esta que para seus próprios fuzis. As inovadoras táticas da blitzkrieg forçaram os soldados a usarem mais seu fuzis individuais que se mostraram inadequados a uma tropa em avanço, que enfrentaram defesas dotadas de metralhadoras fixas e mais eficazes. O StG-44 proporcionou a infantaria alemã um devastador poder de fogo, que depois de vencida a resistência de Hitler à sua fabricação e a troca de calibre dos de pistola inicialmente tentados, muito pouco potentes, fez enorme sucesso nas fases finais do conflito.



O moderno fuzil de assalto é uma arma de fogo seletivo com capacidade para disparos automáticos, e mundialmente usada pela infantaria de nossos dias, operada por recuo indireto dos gases em sua maioria, e permite grande controle de disparos mesmo em modo automático. A munição de tamanho menor permitiu ao soldado carregar mais unidades e depender menos das linhas de suprimento, visto que o volume de fogo alcançado é sensivelmente maior que o praticado pelos fuzis de geração anterior.

O combate moderno pode se dar em qualquer lugar, desde campo aberto, florestas ou áreas urbanas e confinadas, necessitando o soldado disparar sua arma muitas vezes de forma repentina e não contando com o apoio de metralhadoras de emprego coletivo. Para ambientes muito restritos como o interior de edificações a submetralhadora se mostra superior devido a ser curta e ter volume de fogo alto. Sua munição também não tem que atravessar grande distâncias nem o tiro requer pontaria apurada, sendo disparada na maioria das vezes na altura da cintura. O fuzil de assalto é uma arma intermediária entre esta e seu antecessor construído para fogo de longo alcance em campo aberto.



O fuzil de assalto moderno se caracteriza por ser uma arma de uso individual que tem capacidade de fogo seletivo; tiro a tiro ou automático ou ainda em rajadas curtas; calçar um calibre que permita potência de fogo de alcance superior ás pistolas e submetralhadoras, mas mais leves que os antigos calibres dos fuzis de geração anterior, volumosos e pesados e de desempenho desnecessário para o padrão dos combates modernos; possuir alimentação por carregadores de cofre metálico, mais práticos que as fitas das metralhadoras médias que podem prender-se a pequenos obstáculos e poder atirar com eficácia a distâncias médias de 300 metros.

A guerra no front russo foi a grande forja do conceito alemão do fuzil de assalto. Os soviéticos também perceberam a necessidade de uma nova arma e introduziram a PPSh-41, uma submetralhadora mais adequada a este tipo de combate de curta distância. O StG-44 impressionou os russos e depois da guerra desenvolveram o AK-47 baseado no fuzil alemão, calçando o calibre 7,62 x 39 mm e produzido em grande escala. É o fuzil de maior sucesso de todos os tempos e usado desde 1950 pelo exército vermelho até os dias de hoje por muitos no mundo inteiro.



Os norte-americanos, após a guerra realizaram estudos e chegaram às mesmas conclusões de alemães e russos, mas mantiveram uma linha conservadora em relação aos seus calibres .30 que se mostraram de baixa potência durante a guerra. Buscou-se um projétil potente e de alta velocidade baseado neste, que resultou naquele que se tornou padrão da NATO, o 7,62 x 51 mm, adotado nos Rifles M14, metralhadoras M60 e MAG belga, nos HK G3 alemães e FN FAL belga, e ainda a metralhadora Rheinmetall MG3 alemã.

A Guerra do Vietnam assistiu os primeiros embates entre o M14 e o AK-47. Enquanto os AK-47 mostraram-se eficientes e populares entre os seus usuários  o M14 não teve a mesma sorte, apresentando-se incontrolável em fogo contínuo e sua munição não podia ser transportada em número suficiente. Buscou-se então uma nova arma mais adequada as condições daquele cenário. Desenvolveu-se em 1957 uma versão 5,56 x 45 mm (.223) do fuzil Armalite AR-10 de 7,62 mm denominado AR-15 (M16 na designação do US Army), pesando 2,7 kg e com carregador de 20 tiros. Apesar da superioridade do AR-15 o US Army insistiu no M14 até 1963 quando foi adotado por ordem do secretário McNamara, sendo o AR-15 ainda imperfeito e melhorado ao longo dos anos e usado intensivamente no Vietnam. Em 1970 os EUA recomendaram a seus aliados (NATO) a adoção do novo calibre. Em 1980 os países europeus adotaram a versão belga deste cartucho, mais potente e com melhor poder de penetração.



Nos anos 70 os soviéticos desenvolveram uma versão mais leve de seu AK-47 calçando o cartucho 5,45 x 39 mm denominado AK-74 com características semelhantes aos modelos ocidentais, seguido por Israel, Africa do Sul, Finlândia a Suécia com modelos todos baseados no rifle soviético, porém no calibre ocidental. Nos anos 90 os russos lançaram o AK-101, um desenvolvimento do AK-74 com calibre ocidental para exportação. Bulgária, Checoeslováquia, Hungria, Polônia e Iugoslávia produziram seus modelos localmente.



Em 1977 a Aústriaca Steyr produziu seu modelo bullpup com grande sucesso, adotados por mais de 20 países e validando este conceito. Seguiram-se com modelos bullpup  o FAMAS francês, o Tavor judeu, o QBZ-95 chinês,  o L85 britânico e outros

Em 2012 o Exército Brasileiro começou a substituição de seus cansados IMBEL FN FAL de 7,62 mm por modelos de configuração convencional IMBEL IA-2 em duas configurações de calibre: o 5,56 x 45 mm para as tropas convencionais e o 7,62 x 51 mm para as tropas de selva. O fuzil IA-2 é o resultado de anos de desenvolvimento da IMBEL que passou pelo modelo MD-97.



O fuzil de assalto segue como a principal arma dos exércitos modernos, seja nas configurações convencional ou bullpup, proporcionando aos infante alto poder de fogo individual a curtas e médias distâncias, fazendo-se um importante complemento ao fogo das metralhadoras e imprescindível no combate moderno.



Muitos outros modelos de sucesso estão no mercado como o FN SCAR, o HK G36, o Beretta ARX-160 e outros, sendo que quase todos podem incorporar uma série de acessórios modulares como miras óticas e eletrônicas, câmeras de TV, punhos especiais, lançadores de granadas, carregadores especiais e outros.



domingo, 15 de novembro de 2015

Munição HEAT - High Explosive Anti Tank - Ogiva #110



HEAT - High Explosive Anti Tank - Alto Explosivo Anti Tanque é uma ogiva de ação química destinada a perfurar a couraça de carros blindados, não sendo efetiva conta a blindagem dos modernos carros de combate principais (MBTs), que só são perfuradas pelas munições de energia cinética (APFSDS). É muito usada nas armas anticarro de infantaria devido e também por carros de combate para fogo contra blindagens de média resistência, como as do VBTPs.

Sua ação independe da velocidade de tiro e se dá pela ação de uma carga moldada (sharped charge) montada em uma ogiva dotada de um cone oco invertido (efeito Munroe-Newmann). A explosão exerce uma pressão junto ao cone a partir de seu vértice invertendo-o até derrete-lo e direcionando um jato de metal extremamente quente (estado de plasma segundo alguns, não há consenso) sobre uma área muito pequena na couraça derretendo-a. Esta ogiva também é conhecida como ogiva de carga oca (Hollow Charge) devido a este espaço vazio a frente da carga explosiva.




Esta ogiva tem poder efetivo contra armadura de 4 a 10 vezes o seu próprio diâmetro, dependendo das características do alvo, do material componente do cone e da quantidade de explosivo e suas características. Devem ser detonada a uma certa distância do alvo para maior eficiência, razão pela qual suas espoletas são inicializadas por dispositivos montados a frente a ogiva, de sorte que instantes antes da ogiva tocar o alvo o iniciador a o tocou iniciou a ação de deflagração da carga explosiva. O material do cone é muito importante pois é ele que vai formar o jato perfurante, sendo o cobre de uso mais comum, mas o alumínio, o tântalo, o molibdênio, e o urânio exaurido também podem ser usados.

Podem ser usadas, além da ação anticarro contra fortificações, em minas terrestres e torpedos, por exemplo. Como sua ação independe da velocidade podem compor cargas estáticas de demolição, como os alemães fizeram para abrir passagens no assalto a fortaleza de Ebem Emael durante a II Grande Guerra. Seu uso mais comum é na ogiva de lança-rojões como as RPGs russas e em mísseis anticarro. Devido a sua velocidade inferior a probabilidade de acerto a um veículo em movimento decai muito quanto maior for a distância de disparo, quando compondo granadas de tubo, perdendo muito em eficiência para as munições APFSDS que possuem velocidades muito maiores, a medida que a distância do alvo aumenta.

As blindagens do tipo ERA (reativas) tendem a dissipar o jato deste tipo de ogiva, sendo que sua montagem em tandem (duas cargas uma atrás da outra) se mostrou uma medida efetiva para preservar a validades deste tipo de ogiva. Uma primeira carga menor dispara a blindagem ERA e a segunda mais potente produz seus efeitos perfurantes com o caminho desobstruído. Outra medida que tem se mostrado eficaz é monta-la em um vetor que a direcione a parte de cima dos veículos, onde a blindagem é menos resistente, estratégia usada no ATGW TOW2B.



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Operações Ofensivas - Manobra Tática Ofensiva #109



Operações Ofensivas - Formas #


Manobra é a combinação harmônica de fogo e movimento, sincronizados no tempo e no espaço, de forma a posicionar as forças em condição de superioridade tática em relação ao inimigo, a fim de neutralizar seu poder de combate, seja pela sua fuga, destruição ou rendição. É através da manobra tática ofensiva que se trava o contato com as forças oponentes e deve ser executada com surpresa, choque, iniciativa e domínio do campo de batalha.

É através de movimentos bem planejados e executados, que se alcança o posicionamento para alocação de fogo eficazes, criamdo-se um volume de problemas progressivo ao inimigo, fazendo-o reagir a situações inesperadas e frustrando continuamente o seu planejamento. Enquanto o inimigo tiver problemas a resolver, dificilmente terá oportunidade de criar situações em seu favor.

O contato com o inimigo no campo de batalha, quando buscado de forma ofensiva, se dá através do choque frontal (ataque frontal) a suas posições defensivas, quando estas estiverem sabidamente débeis e incapazes de oferecerem resistência considerável. Alternativamente ao ataque frontal, que pode ser extremamente custoso ao atacante se as defesas estiverem fortalecidas, pode-se empreender uma manobra de envolvimento, fazendo-o combater em mais de uma frente através de uma manobra de cerco e assediando seus pontos mais vulneráveis, no flanco e a retaguarda. 

Outra forma de se enfrentar um defesa bem estruturada, geralmente quando os flancos estão inacessíveis, é concentrar um choque muito potente em uma pequena fração da frente inimiga, procurando um ponto menos defendido e provocando sua ruptura (penetração), por onde penetram forças altamente móveis e potentes e provocam seu alargamento de dentro para fora.

A infiltração de forças é um quarta forma de combate ofensivo, que visa pontos específicos e é implementada em campos de batalha com linhas de contato porosas ou mal definidas. Outra alternativa é o de evitar o contato direto com os pontos fortes da defesa inimiga, contornando-os e atacando pontos secundários que venham a enfraquecer os pontos defensivos principais (desbordamento).



  • Ataque Frontal
O ataque frontal é a forma mais óbvia de contato com o inimigo e consiste em cerrar poder de combate diretamente sobre as linhas defensivas. É empregado somente em situações onde o inimigo tem nítida condição de inferioridade, pois suas linhas frontais serão sempre as mais bem defendidas e difíceis de transpor. Emprega-se poder esmagador a fim de neutraliza-lo por destruição ou captura, e deve sempre ser evitado contra dispositivos defensivos bem organizados, pois o atrito subsequente tenderá e impor pesadas perdas aos atacantes. A doutrina ocidental recomenda a superioridade de 3 para 1 em uma manobra ofensiva, porém posições bem preparadas e eficazmente defendidas podem exigir efetivos muito superiores, com baixas previstas equivalentes. Esta situação deve sempre ser evitada.

Um ataque frontal é organizado em grupos de forças ocupando-se de objetivos secundários que contribuam para a conquista do objetivo principal. Estas forças serão dimensionadas de acordo com cada objetivo. O ataque principal será o objetivo mais vantajoso e receberá forças mais potentes, sendo os ataque secundários potencializadores do ataque principal, e contarão com forças necessárias e suficientes.

Parte da força deve ser mantida em reserva para atuação no momento decisivo e aproveitamento do êxito. Esta reserva será constituída de acordo com a situação tática: quando ela for clara e o inimigo tenha possibilidades limitadas pode ser de pequeno valor, enquanto que se a situação for obscura e duvidosa poderá ser constituída até pelo grosso da tropa atacante, pois esta deverá decidir a situação quando empregada. Deve-se tomar cuidado para não se constituir demasiadas reservas que enfraqueçam o ataque principal.

Os multiplicadores do poder de combate como artilharia, aviação de apoio, engenharia de combate e guerra eletrônica devem ser empregados na sua totalidade, não constituindo a reserva, pois seu emprego poupa as armas-base de um atrito mais intenso. A preparação de artilharia deverá levar em conta a perda da surpresa, e deve ser avaliada com cautela. O bombardeio de artilharia e aviação de apoio deverá ser o mais intenso possível, pois poupa as forças atacantes de baixas maiores.

Devem ser designados objetivos principal e secundários, ponto de partida e hora do ataque, eixos e direção de progressão e pontos de controle. Deve ser dada liberdade de ação aos comandantes subalternos sem perder o controle da operação. A sincronização e simultaneidade dos assaltos, fogos de apoio, interferência eletrônica e fogos de contrabateria, assaltos aeromóveis e ações de comandos, entre outras, resultarão em uma maior probabilidade de colapso do dispositivo inimigo em prazo mais curto do que se as ações fossem sucessivas.

Todo ataque deve ser contínuo e obedecer a uma velocidade compatível. Ataques que se mostrarem lentos devem ter sua direção alterada a fim de se buscar maior fluidez no avanço. O alinhamento de forças deve ser preterido a velocidade de avanço, sempre tomando o cuidado para que forças de vanguarda não se distanciem e sejam isoladas. a Impulsão deve ser priorizada com a ultrapassagem de pontos de resistência e alocação de fogos de apoio onde forem necessários, com ação da engenharia de combate para superar obstáculos mais complicados.

O ataque deverá ter cobertura de flanco e retaguarda, porém existem um certo grau de risco e a impulsão não deve ser prejudicada por este. Focos de resistência ultrapassados devem ser fixados e mantidos sob vigilância, para posterior neutralização. O ataque deve ser contínuo, dia e noite, e unidades cansadas devem ser substituídas por outras. A não exploração de vantagens conquistadas podem permitir ao inimigo reorganizar-se com maior presteza. Cada unidade deve ter prevista hora e local de interromper seu avanço quando sera substituída por outra. Os congestionamentos devem ser previstos e evitados, através de planos de deslocamento bem elaborados.




  • Envolvimento
O envolvimento é uma manobra onde se contorna a força defensora por terra ou ar, e a cerca atacando seus dispositivos de retaguarda. Esta tem que abandonar seu dispositivo a combater em local de escolha do atacante. As forças envolventes normalmente se afastam de outras forças de apoio e devem ter capacidade para operarem independentemente, sendo as tropas aeroterrestres e aeromóveis vocacionadas para este tipo de operação. Esta manobra pode deixar os atacantes vulneráveis, e uma ligação com o grosso da tropa em pouco tempo pode ser necessária. Mobilidade superior ao inimigo, sigilo e dissimulação são essenciais neste tipo de manobra.





  • Penetração
A penetração é uma manobra realizada quando os flancos estão inacessíveis e/ou o inimigo tem largas frentes. Necessitam de pesado apoio de fogo e consistem ruptura de uma pequena frente e a abertura de um corredor em um ponto do dispositivo inimigo por onde forças superiores (muito potentes) dividem as forças inimigas em duas ou mais partes desmassificando-as, como no caso de penetrações múltiplas. Após o rompimento as forças procuram alargar a brecha e destruir os focos de resistência, buscando alcançar os pontos capitais previstos e oportunos, desorganizando seu dispositivo e fixando seus pontos fortes para posterior neutralização.




  • Infiltração
A infiltração é uma manobra do campo de batalha não linearizado, onde forças de pequeno efetivo ocupam pontos capitais de forma dissimulada a retaguarda do dispositivo inimigo, utilizando-se tanto de meios aéreos ou terrestres, ou mesmo a pé. Infantaria motorizada ou leve, assim como paraquedistas, são as tropas mais vocacionadas a este tipo de manobra. Esta manobra visa objetivos específicos como pontos de estrangulamento de trânsito, centro de comando e controle e áreas logísticas e deve contribuir para o esforço principal. Áreas com observação e vigilância restritas e de difícil trafegabilidade são as mais adequadas a este tipo de manobra como florestas e pântanos. Medidas de controle especiais devem ser implementadas para a tropas infiltrantes atuarem juntas evitando o fogo amigo, com códigos especiais, pontos de controle e zonas de reunião. Deve-se tomar o maior cuidado para que o inimigo não identifique o objetivo da infiltração. É de difícil execução, exige sincronização apurada e dificilmente pode ser modificada uma vez iniciada.




  • Desbordamento
O desbordamento é uma manobra que visa o contorno de posições principais para ataque a posições secundárias. É executado sobre flancos vulneráveis e depende de surpresa e mobilidade. É adequado as capacidades de forças aeromóveis e visa forçar o inimigo a combater em mais de uma direção. Um duplo desbordamento em ambos os flancos resulta num cerco. É uma manobra de difícil execução e muito boa para fixar dispositivos inimigos restringindo seu espaço para manobrar. Se não for possível ocupar toda a linha de cerco deve-se ocupar as principais rotas de fuga.