FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 24 de novembro de 2019

Fortificações de Campanha - Doutrina Alemã de 1943 *185


Parte 1


DOUTRINA ALEMÃ DA FRENTE ESTABILIZADA PREPARADA 
PELO DEPARTAMENTO DE GUERRA WASHINGTON 25
15 DE AGOSTO DE 1943 

A política alemã preconiza o emprego de forças altamente móveis e os sucessos militares da Alemanha foram obtidos em guerras de manobra. Durante os últimos 25 anos, o Alto Comando Alemão tornou-se completamente convencido da solidez das teorias Schlieffen de movimento, envolvimento e aniquilação, especialmente pela localização central da Alemanha na Europa, que lhe dá a vantagem de linhas internas de comunicação, considerada estratégica decisiva em uma guerra de manobra. Doutrinados e treinados nas teorias de Schlieffen, as tropas alemãs foram bem sucedidos na Guerra Franco-Prussiana, na Primeira Guerra Mundial (até que se envolveram na guerra de trincheiras de atrito), e nas campanhas polonesas, norueguesas e europeias ocidentais da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, a posição central da Alemanha deixa de ser uma vantagem quando seus inimigos a envolvem em uma guerra de duas frentes. Sua logística disponível não é suficiente para assegurar uma vitória decisiva nos dois lados ao mesmo tempo. Para escapar a esta perspectiva, o Alto Comando Alemão chegou à conclusão de que pelo menos um dos lados deveria ser guarnecido com um grande sistema fortificado.

Uma doutrina de fortificações permanentes, de âmbito exaustivo, foi formulada sob o título "A Frente Estabilizada" (Die Standige Front). O conceito clássico de fortificações - cidades fortificadas isoladas em uma linha de pontos fortes contíguos foi abandonado como obsoleto. O Alto Comando alemão desenvolveu novos princípios à luz da guerra moderna, das armas da atualidade e do poder aéreo que exigia a construção de fortificações permanentes em sistemas de zonas, organizados em grande profundidade. Por "frente estabilizada" significavam não apenas posições fixas que os exércitos de campo poderiam ser obrigados a estabelecer durante uma campanha, mas também as "zonas profundas" de obras fortificadas que seriam construídas em tempo de paz.

A principal missão das fortificações no ocidente era servir no momento adequado como um trampolim para um contra-ataque; entretanto, até que a hora de seu emprego chegasse, eram proteger o flanco ocidental da Alemanha quando empreendeu a guerra ofensiva no leste. Assim, o Muro Oeste foi concebido como uma grande barreira contra a França e os Países Baixos. Mas é essencial perceber que a concepção do Muro Ocidental, longe de comprometer o alto comando alemão a uma atitude passivamente defensiva, deu maior alcance ao caráter ofensivo de sua doutrina. Todo o Exército alemão, incluindo as unidades atribuídas ao Muro Oeste, foi doutrinado com o espírito ofensivo e completamente treinado para uma guerra de movimento.

O papel das fortificações na estratégia alemã foi resumido na seguinte declaração do General von Brauchitsch, então comandante-em-chefe alemão, em setembro de 1939:

"A construção do Muro Ocidental, a mais forte barreira do mundo, nos permitiu destruir o exército polonês no menor tempo possível sem nos obrigar a dividir a massa de nossas forças em várias frentes, como foi o caso em 1914. Agora que não temos inimigo na retaguarda, podemos esperar calmamente o desenvolvimento futuro de eventos sem ter que enfrentar o perigo de uma guerra de duas frentes ".

Este estudo não se propõe a julgar a solidez do conceito alemão de fortificações. Contudo, pode-se ressaltar que, ao formular sua doutrina, o alto comando alemão não prevê que o muro ocidental e as grandes defesas costeiras nos países ocupados protegem as indústrias de guerra vitais contra-ataques maciços e destrutivos do ar. O objetivo deste estudo é fornecer uma síntese dos princípios alemães sobre fortificações modernas e as informações disponíveis sobre as diversas linhas de fortificações permanentes e de campo que a Alemanha construiu dentro e fora de suas fronteiras.





Doutrina Alemã para a Construção de Fortificações

Princípios Estratégicos 

Os alemães consideram a economia de forças como a regra fundamental a ser observada no planejamento de zonas de fortificações permanentes. Seu objetivo é conseguir uma defesa eficaz com um mínimo de mão-de-obra para que a maior parte dos exércitos de campo seja deixada móvel e livre para ação ofensiva em outro lugar. Em outras palavras, uma parcela muito pequena da força militar da nação ou de seu esforço de treinamento é alocada especificamente para as defesas permanentes e até mesmo as tropas que são atribuídas às fortificações, recebem o mesmo treinamento tático que as tropas dos exércitos de campo.

Uma zona permanentemente fortificada, tal como os alemães a concebem, deve servir a dois propósitos: sobretudo serve de base para operações ofensivas e, secundariamente, destina-se a proteger alguma área vital ou interesse do defensor.

O valor de uma tal zona defensiva depende do comprimento e da natureza geográfica das fronteiras nacionais, dos fundos disponíveis para a sua construção e da força potencial do inimigo. De acordo com a doutrina alemã, não há valor militar real em uma zona fortificada que possa ser estrategicamente desviada; Nem há qualquer razão para tais fortificações quando as forças opostas são muito mais fracas ou muito mais forte do que o defensor. Da mesma forma, o custo de um sistema de fortificações não deve ser tão grande a ponto de privar os exércitos de campo de meios adequados para treinamento e equipamento, mas o suficiente deve ser gasto para torná-lo tão forte quanto necessário. A doutrina alemã também pressupõe que o progresso natural da tecnologia produzirá armas que limitarão o valor de quaisquer defesas específicas a um período de anos. Portanto, os alemães constroem suas fortificações para resolver um problema estratégico definido e não para evitar os problemas futuros.

Para fins de ofensiva estratégica, os alemães colocam uma zona fortificada suficientemente perto da fronteira para servir como base de operações militares contra a nação vizinha. Para fins de defesa estratégica, eles o constroem suficientemente longe da fronteira para privar um ataque de força inimigo antes que ele possa alcançar as defesas principais. Em ambos os casos, a zona fortificada é geralmente localizada o suficiente dentro da fronteira para tornar impossível para o inimigo bombardeá-lo com baterias pesadas colocadas em seu próprio solo. No entanto, em casos excepcionais - onde, por exemplo, as indústrias pesadas devem ser protegidas - os alemães podem construir uma zona defensiva imediatamente adjacente à fronteira inimiga.

Neste sistema fortificado, os flancos são afastados tanto quanto possível, a menos que possam ser apoiados em obstáculos naturais inexpugnáveis ou nas fronteiras de países amigos que sejam capazes de manter a sua neutralidade.

Quando esta zona fortificada se encontra ao longo de uma margem de rio, o sistema inclui uma série de pontes, de modo que os defensores possam realizar contra-ataques. Como sempre, a doutrina defensiva alemã se vale do princípio de que a ação ofensiva é, em última análise, a melhor proteção.

Concebida para permitir o livre movimento lateral das tropas, e proporcionar espaço e meios para um contra-ataque eficaz, na ofensiva, os alemães sustentam que uma zona de fortificações artificiais tem vantagens definitivas sobre obstáculos naturais, como montanhas ou rios, porque permite que tropas desembarquem para contra-atacar em qualquer ponto desejado, e da mesma forma as forças em combate podem desengajar-se mais facilmente quando for conveniente.

Fortificações isoladas como uma cidade-fortaleza, mesmo aquelas providas de proteção total, são consideradas obsoletas, onde a população civil é um fardo para os defensores, e além disso, que tal cidade é vulnerável a bombardeios aéreos incendiários.




Princípios Táticos

A Função das Tropas

Espírito ofensivo

A doutrina alemã sustenta que a infantaria deve ser o fator decisivo no combate dentro de zonas fortificadas, bem como em uma guerra de movimento. A resistência tenaz da infantaria, mesmo sob o fogo mais pesado, e sua capacidade em fazer contra-ataques, são a medida da força da defesa. As ações decisivas são geralmente desencadeadas no terreno entre os "bunkers" pelo soldado de infantaria em combate corpo-a-corpo com seu rifle, baioneta e granada de mão. Não menos determinada deve ser a defesa de qualquer instalação permanente, onde a doutrina afirma que a principal posição fortificada deve ser mantida contra todos os ataques, e que cada elo em suas obras deve ser defendido até o último esforço. Dever-se envidar empenho para imbuir cada soldado com a vontade de destruir o atacante. Cada soldado também é ensinado a continuar a luta, mesmo que a maré da batalha flua ao longo e ao redor dele.

Fortificações permanentes, nunca devem ser entregues, mesmo quando todas as armas estiverem fora de ação por falta de munição ou redução da posição. A razão deste princípio é que a perseverança da guarnição, mesmo sem luta ativa, impede o avanço do inimigo e facilita o contra-ataque. Aqui reside uma diferença básica entre a visão alemã dos combates defensivos em frentes fortificadas permanentes e da defesa na guerra de movimento: neste último a perda de uma posição individual não é considerada crítica.

As armas pesadas da infantaria e da artilharia são a espinha dorsal da defesa em uma posição permanente. Durante o bombardeio pesado e prolongado, as instalações permanentes, com suas fortificações de concreto e aço, protegem as armas e suas guarnições, e mantêm as tropas desengajadas da luta em condições de realizar um contra-ataque eventual. Somente neste sentido, os alemães consideram zonas fortificadas taticamente defensivas. "Bunkers" individuais podem ser tomados por um atacante determinado, mas, por causa de seu grande número e dispersão, uma resistência organizada pelos trabalhos restantes pode continuar até que forças móveis sejam trazidas para repelir o inimigo.



Contra-ataque

É indispensável manter pequenas reservas de infantaria em posições fortificadas. Estas reservas são protegidas por reforços que podem ser deslocados rapidamente por meio de túneis para a área onde são necessários para o contra-ataque. Assim que o atacante dominar qualquer parte da zona fortificada, essas reservas são enviadas para a ação antes que o inimigo possa organizar-se e aproveitar seu êxito. Para o contra-ataque, o defensor tem a vantagem de um sistema coordenado e completo de observação e comunicação. Além disso, o defensor deve dispor de reservas protegidas, descansadas e íntegras, sem as baixas que sofrem quando passam pelo assédio da artilharia, e sem a perda de tempo envolvido em traze-las da retaguarda.

Deve-se tentam impedir que as reservas locais cedam a um ataque organizando e reservas adicionais tenham que ser deslocadas a partir da retaguarda, seja por túneis ou por estradas pouco visadas. Todo o esforço é feito para dar a essas reservas apoio de artilharia e para familiarizá-las com o terreno. As reservas setoriais e as unidades da zona intermediária podem iniciar o contra-ataque sem ordens específicas. As unidades com missões de segurança não participam no contra-ataque.

O momento mais favorável para um ataque em larga escala é quando a artilharia inimiga e suas armas antitanque estarão trocando para novas posições. Desde que a situação o permita, a tarde é considerada preferível à manhã, porque após o objetivo ser alcançado, O terreno recuperado pode ser consolidado durante as horas de escuridão.

Como regra geral, as tropas mantidas em prontidão para um contra-ataque geral são empregadas como uma unidade. É vantajoso anexá-las a uma divisão em linha por causa da conduta uniforme da batalha. Se a situação demandar que partes de uma divisão sejam destacadas para o apoio de outras unidades, deve-se subordina-las ao comandante do setor de batalha correspondente.

Se o inimigo conseguir penetrar na posição fortificada principal em vários pontos, as outras posições atacadas devem continuar a batalha sem levar em conta a situação nos pontos de penetração. As rupturas inimigas serão  tratadas por pontos fortes na retaguarda, pontos de proteção de flanco, e as armas da infantaria pesada não empregadas de outra maneira, que dirigem seu fogo de encontro aos pontos da penetração e contrapõem o inimigo antes que consolide seu êxito. 

Satura-se constantemente com fogo de barragem de artilharia além dos pontos de penetração do inimigo, a fim de atrasá-lo e tornar difícil a chegada de reforços. Posições de contato isoladas, onde o inimigo está lutando em combate próximo, serão apoiadas por fogo controlado de armas de infantaria pesada e de artilharia leve. No entanto, as armas de infantaria pesada não serão empregadas quando as guarnições dentro dos “bunkers” possam vir a ser ameaçadas. Ao dirigir seu fogo contra os pontos de penetração, procura-se destruir o inimigo antes de consolidar seu êxito.

Suporte tático

Outra função essencial das reservas é regularmente substituir as tropas empregadas em uma zona fortificada para que sua força de combate possa ser mantida ou restaurada. Por causa das missões especiais das tropas permanentes, sua substituição pode ser completamente prevista, e é realizada sem interromper a continuidade da defesa. A amplitude da substituição depende da condição dos homens, bem como das forças disponíveis. O movimento é efetuado de modo que as unidades substitutas cheguem depois do anoitecer e, em qualquer setor que esteja sujeito à observação do solo, as unidades substituídas se movam antes do amanhecer. Os destacamentos avançados preparam a substituição; guias e destacamentos de orientação dirigem a manobra. A prontidão completa para a defesa é mantida.




Fortificações Permanentes e de Campo

Comparação de Trabalhos Permanentes e de Campo

Embora as fortificações permanentes se conservem ao longo do tempo, exigem muitos recursos e mão-de-obra antes das hostilidades. Fortificações de campo consomem muito menos em trabalho e recursos, mas exigem esforço para sua defesa. Tanto os blindados modernos quanto morteiros pesados são tão móveis que o atacante sempre pode trazê-los dentro do alcance de qualquer zona defensiva. O fogo destas armas, bem como o bombardeio aéreo, é eficaz contra fortificações de campo, mas nem tanto contra obras defensivas permanentes. A solução ideal do problema em um sistema defensivo moderno, é traçar fortificações permanentes e de campo para que se complementem e aproveitem plenamente o terreno.

Outro princípio é que o terreno mais vulnerável deve ser dotado das melhores obras defensivas permanentes, organizadas em grande profundidade, mas obedecendo a critérios rigorosos. A zona defendida é em toda parte transformada quanto os recursos disponíveis permitem, e nenhum terreno deve ser deixado sem a devida cobertura de fogo.

Características das Obras Individuais

Pontos dispersos são geralmente unidos por trincheiras de conexão para formar sistemas defensivos. As fortificações são construídas para a defesa total de áreas de defesa de pelotão ou companhia; Elas podem ser combinadas em áreas de defesa de batalhão estreitamente organizadas ou escalonadas em largura e profundidade. A força, tamanho, guarnição, armamento e equipamento de tais obras dependem da missão das fortificações. Devem ser localizadas de modo a permitir um sistema de defesas de zona. O fogo de tais posições é especialmente eficaz porque mesmo sob bombardeio inimigo, o objetivo e o controle de fogo pode ser mantido. As grandes fortificações permanentes isoladas e não apoiadas pelo fogo de outras fortificações são consideradas obsoletas.

Devido à relativa dispersão dos pontos fortes e à minuciosidade das defesas antiaéreas, o bombardeio aéreo não é eficaz em destruir um sistema de fortificação moderno. Portanto, emprega-se em maior proporção a defesa aérea no apoio geral, bem como no apoio local de grandes contra-ataques.

Onde a resistência decisiva deve ser mantida, emprega-se concreto e aço siderúrgico forte o suficiente para fornecer proteção moral e física contra o fogo indireto mais pesado do inimigo. Um estudo cuidadoso é feito da artilharia inimiga - seu poder, alcance e mobilidade - e um reforço especial é feito nas áreas que podem ser alcançadas por armas de longo alcance. A espessura da cobertura de concreto necessária para resistir ao fogo de artilharia é aproximadamente 10 vezes o calibre máximo que pode disparar sobre ele. Quando se decide que é necessária uma fortificação permanente, especifica-se que ela deve ser construída de acordo com esses requisitos básicos.

As armas de infantaria são geralmente colocadas em obras permanentes. Artilharia e outros meios de apoio são colocados principalmente em posições abertas, com a sua proteção de campo normal, a fim de manter a mobilidade. Em pontos críticos onde o fogo contínuo é essencial, alguma artilharia pode ser colocada de forma permanente.

Os "bunkers" de concreto são geralmente usados para flanquear o fogo em posições que são protegidas da observação direta pelo inimigo. As torres de aço são usadas em todas as obras que disparam frontalmente e que consequentemente são construídas com silhuetas baixas para um bom desenfiamento; Elas também são consideradas essenciais para flanquear fogo em terreno plano.

Fortificações de Campo

As obras permanentes são amplamente complementadas por fortificações de campo e locais de substituição de armas cujas missões de fogo incluem a proteção de portos, rotas de comunicação e áreas afins. As fortificações de campo também permitem que as guarnições continuem a luta quando suas posições permanentes foram neutralizadas e oferecem posições de tiro para reservas no contra-ataque.

De acordo com a doutrina alemã, fortificações de campo são construídas em tempos de tensão ou guerra para reforçar frentes estabilizadas. A construção destas obras é realizada de acordo com planos preparados em tempos de paz por unidades de construção ou por unidades de tropa atribuídas às fortificações. Equipamentos e ferramentas disponíveis e, em certa medida, materiais de construção preparados em tempo de paz são utilizados para este fim.

Com um conflito iminente ou já iniciado, a construção abrange as obras listadas abaixo, sendo o número e o escopo em cada setor dependentes da força das fortificações que foram concluídas em tempo de paz:

  1. Obstáculos na área de posto avançado,
  2. Reforço dos obstáculos na posição avançada e na posição de batalha principal,
  3. Espaldões abertos para armas de infantaria leve e pesada no terreno entre instalações permanentes, e na profundidade da posição de batalha principal,
  4. Calhas à prova d'água nas proximidades dos espaldões,
  5. Postos de observação, posições de artilharia e cobertura para as guarnições,
  6. Postos de comando e instalações de todos os tipos,
  7. Trincheiras de todos os tipos - trincheiras de comunicação rasas e normais, trincheiras de fogo, trincheiras de aproximação e trincheiras de fio telefônico,
  8. Instalações simuladas e camuflagem,
  9. Abrigos profundos no setor traseiro da posição de batalha principal, e também atrás da posição de batalha, se o terreno for adequado,
  10. Obstáculos flanqueadores e posições de retaguarda.

O valor das fortificações de campo reside, em seu pequeno tamanho, seu grande número e suas pequenas exigências de camuflagem. Elas obrigam o inimigo a dispersar seu fogo.

Posições temporárias para armas de infantaria pesada e artilharia são empregadas para atacar o inimigo que se aproxima nas posições avançadas sem trair a localização das instalações permanentes. Elas também podem ser usadas como posições alternativas. A construção, bem como a manutenção e reparação de fortificações de campo, é implementada pelas tropas durante o combate.

Profundidade

As zonas fortificadas devem ser colocadas suficientemente profundas para obrigar a artilharia atacante e o seu serviço de remuniciamento a mudar de posição durante o ataque. O objetivo é privar o atacante do efeito surpresa, e fazer com que ele perca tempo valioso, que pode ser usado pelo defensor na organização de um contra-ataque.

Se uma limitação de espaço não permitir a construção de uma zona de densidade uniforme que satisfaça a exigência de profundidade, constroem-se 2 corredores fortificados paralelos de força máxima, separados por essa distância que assegurará máxima desorganização e embaraço à artilharia atacante. O terreno intermediário entre estes corredores é dotado de obras permanentes, as quais, embora sem densidade, estão situadas de forma que tornem o progresso lento e difícil. Fortificações de campo também são construídas na área intermediária, e deles metralhadoras, canhões antitanque e outras armas de infantaria complementam e reforçam o fogo defensivo. Obstáculos de todos os tipos são empregados extensivamente em toda uma zona para atrasar e forçar o inimigo a avançar em uma área particular que é mais adequada para a defesa.

A área de posto avançado, que inclui fortificações de todos os tipos possíveis, também é calculada para dar profundidade a uma zona fortificada, e para ajudar a absorver qualquer ataque surpresa que é dirigido contra a posição principal. A missão das tropas nessa área é impedir que o inimigo utilize fogo de artilharia observada na posição de batalha principal, adiar sua aproximação e causar baixas.



Controle de Fogo

Fogo sem lacunas

A base para a defesa de uma posição principal em um sistema fortificado é um plano de fogo sem lacunas. O campo efetivo de fogo das armas de infantaria pesada de suas posições fixas é determinado pelos limites de suas lacunas. As armas de infantaria colocadas em fortificações de campo complementam este fogo. As armas de infantaria pesadas também participam de fogos assediados, destrutivos e de barragem de acordo com seu alcance efetivo, mas sua principal missão é a defesa contra ataques. Quando o inimigo começa a atacar as fortificações, das posições fixas faz-se um fogo defensivo com base em dados previamente preparados e incluídos no plano de fogo.

O plano de fogo regula a coordenação e a distribuição do fogo das armas instaladas nas fortificações permanentes e de campo para que todas as áreas em que um ataque possa ocorrer sejam batidas por uma ou mais armas e assim controladas. O fogo das fortificações permanentes é limitado nos flancos, de forma que se fornece suporte a estes setores, em especial com metralhadoras, dos trabalhos de campo.

A posição a partir da qual as armas inimigas podem abrir fogo contra brechas é estimada de antemão pelas tropas cobrindo cada lacuna. Minas também podem ser colocadas em pontos apropriados. O plano de fogo é confeccionado para garantir um cinturão contínuo de fogo, mesmo que as fortificações individuais sejam colocadas fora de ação. Os comandantes regimentais são responsáveis pela coordenação das cartas de fogo nos limites dos setores do batalhão.

Distribuição e Controle de Fogo

A decisão de abrir fogo é feita pelo comandante do batalhão, ou pelo comandante de uma fortificação ou grupo de fortificações. Os comandantes subordinados das obras podem abrir fogo de forma independente assim que tiverem recebido a ordem de "fogo à vontade" do batalhão ou do comandante da fortificação. Para parar o inimigo logo, prescreve-se que o fogo deve ser implementado no longo alcance de acordo com os dados no plano de fogo.

As armas de uma fortificação permanente tentam sempre atrasar a abordagem do atacante imediatamente, e especialmente para impedir que as armas inimigas individuais sejam posicionadas. As armas das obras concretas primeiro envolvem dos flancos os alvos mais perigosos que aparecem em seu setor de combate e, portanto, tais obras são fornecidas com proteção frontal por posições permanentes e de campo. Alvos nos setores de outras posições são engajados apenas por ordem de um comandante superior, mesmo que os alvos pareçam vale a pena.

Os setores de combate são subdivididos em setores de armas, porque, nas torres blindadas, as metralhadoras disparam, como regra, em alvos separados. Devido à possibilidade de falhas de cobertura, o fogo combinado de ambas as metralhadoras só pode ser empregado em casos excepcionais e, em seguida, apenas a intervalos médios e longos. O fogo é combinado se o alvo está no alcance de ambas as armas, e se um efeito decisivo pode ser alcançado.

Pela mudança freqüente e rápida dos alvos, pode-se fazer fogo em muitos alvos em um curto período de tempo, usando assim completamente o efeito do arco do fogo das armas. Se uma mudança de alvo necessita de uma mudança de cobertura, é realizada de forma escalonada pelas metralhadoras sucessivamente, para evitar a interrupção do efeito de fogo. Uma vez que os morteiros complementam o fogo defensivo das metralhadoras, especialmente em terreno acidentado, busca-se uma estreita cooperação com os canhões nos “bunkers”. Morteiros instalados no campo suportam o fogo das outras armas de infantaria pesada e a artilharia em lugares onde o efeito das duas últimas armas não é suficiente.

As armas de infantaria abrem fogo o mais rápido possível. Sua principal missão é engajar alvos problemáticos que não podem ser alcançados por outras armas. Ao empregar armas colocadas em “bunkers”, abre-se fogo assim que o inimigo se coloca dentro do alcance efetivo de suas armas flanqueadoras. Se uma posição é colocada fora de ação, as posições vizinhas assumem o seu setor de combate. Através do fogo flanqueador elas tentam impedir qualquer penetração inimiga através da lacuna resultante, na medida em que isso é permitido pelo alcance efetivo de suas armas e a necessidade de defender seu próprio setor frontal. As tropas devem saber que quando uma posição é perdida, o flanqueamento de fogo das posições vizinhas pode ser decisivo para repelir uma penetração do inimigo.

Controle de fogo das metralhadoras

As metralhadoras são a base de fogo da infantaria em posições de combate. Elas dirigem seu fogo de acordo com as ordens de combate e, em regra, ordenam a imposição direta na força de suas próprias observações.

Os alvos a serem engajados por metralhadoras em posições preparadas são designados pelos comandantes da fortificação de acordo com os dados fornecidos pelos observadores em torres de observação. Se os alvos designados não podem ser vistos de “bunkers”, ou se os alvos são designados por fumígenos, os observadores podem tomar para si o controle do fogo também.



Defesa Anticarro

Uma zona defensiva é protegida contra ataques de blindados por obstáculos naturais ou artificiais que são cobertos por armas anticarro adequadas de todos os tipos. Na área avançada, fortes unidades anticarro móveis são unidas às forças empregadas na área de posto avançado para lidar com as forças blindadas inimigas.

A missão principal dos canhões anticarro estáticos de todos os calibres e da artilharia especialmente designada em uma zona fortificada é destruir os blindados de apoio de infantaria, que poderiam atacar as lacunas de posicionamento em uma posição fortificada principal.

Se o inimigo conseguir penetrar na principal posição fortificada, os defensores solicitam que forças de reserva com poder anticarro apoiem a posição no ponto de penetração. Se as forças blindadas do inimigo tentarem uma penetração adicional da posição principal, as reservas móveis de unidades anticarro, os sapadores mantidos disponíveis e as reservas móveis de canhões antiaéreos são empregadas para engaja-los. Em casos de perigo imediato, direciona-se a artilharia antiaérea com prioridade à defesa anticarro, preterindo a ameaça aérea. Se for necessário o reforço das defesas anticarro fixas em uma zona fortificada, as companhias anticarro são empregadas para este fim em posições de campo entre as obras fortificadas. Em tal caso é subordinada ao comandante do setor, Como são as defesas fixas anticarro. No entanto, o uso destas unidades anticarro em apoio às defesas permanentes é considerado em caráter excepcional. A companhia anticarro fornece a profundidade necessária para a defesa anticarro do setor regimental. Somente em casos excepcionais, como em terreno absolutamente seguro contra ataque de blindados e bem protegido por obstáculos efetivos e com um número suficiente de canhões antitanque, é que as companhias anticarro devem ser usadas como uma reserva móvel. A sua disponibilidade depende da sua mobilidade e da sua capacidade de manobra em todo o setor.

As armas anticarro fixas são guarnecidas por unidades anticarro da fortificação. Unidades anticarro de infantaria engajam principalmente os blindados leves e médios. Os pesados são engajados por armas especiais, apoiadas por engenheiros e artilharia. As metralhadoras colocadas nas fortificações normalmente disparam contra a infantaria inimiga, e também disparam nas janelas de observação dos blindados.

Artilharia

A artilharia que apoia uma zona fortificada consiste em artilharia de posição, que é estacionária ou de mobilidade limitada, artilharia de divisão móvel e artilharia de exército, usada para reforço. A maior parte da artilharia de defesa é altamente móvel para que possa ser empregada concentrada nos pontos em que o inimigo tentar um ataque decisivo. As posições de artilharia são preparadas na área avançada de toda a zona fortificada, e à retaguarda desta zona para o número máximo de baterias de artilharia necessárias. Estas posições são dispostas tanto quanto possível perto de rotas de aproximação. As posições também incluem proteção para homens e munições, e têm comunicações subterrâneas para postos de observação previamente estabelecidos, que são usualmente localizados em torres blindadas. 

Na fase inicial do combate, a maior parte da artilharia de defesa leve e média é mantida nas posições avançadas para missões de contrabateria e contrapreparação. Se a artilharia de defesa é forçada a deslocar-se para cobrir um ataque que atinge a zona fortificada, deve-se concentrar fogo máximo sobre a infantaria inimiga, a fim de efetivamente preparar um contra-ataque. Para este propósito, um certo número de baterias na zona fortificada são colocadas atrás da proteção que pode suportar o fogo de artilharia inimiga mais pesado. Essas baterias são colocadas permanentemente.

No caso de o contra-ataque falhar e a artilharia divisória em defesa for forçada a abandonar sua posição nas áreas avançadas da zona fortificada, esta artilharia deverá concentrar todo o seu fogo na infantaria inimiga.

A doutrina estabelece de que a ligação mais estreita deve ser entre artilharia e infantaria e a interação da artilharia com todos os outros ramos do serviço em campanha são fatores decisivos na condução do combate de artilharia e no desfecho da defesa. Ela prescreve que esta cooperação deve ser estabelecida e mantida em todos os sentidos. Unidades de coordenação divisionárias de artilharia desempenham este papel. A artilharia é treinada para implementar constantemente as seguintes escaramuças:

  1. Mudanças repetidas de posições entre as missões de tiro,
  2. Atividade restrita na posição de tiro escolhida para a batalha decisiva,
  3. As missões individuais e os fogos de assédio são realizados principalmente através da rotatividade entre as baterias,
  4. Algumas baterias em repouso são mantidas na reserva de modo a estar disponível para missões especiais durante o ataque inimigo.




Observação, Reconhecimento e Relatórios

A constante observação do terreno é feita de todas as fortificações, antes da aproximação do inimigo e durante o ataque, e é considerada como de extrema importância. A observação é prejudicada durante as pausas no combate, particularmente durante a escuridão ou com neblina. Nos trabalhos que não têm instrumentos ópticos de campo, a observação é mantida através de lacunas. Em “bunkers”, torres blindadas e postos de observação, os instrumentos ópticos fixos padrão são usados para esta finalidade. Instrumentos suficientes devem ser dotação para permitir a observação extensiva, sem brechas de todo o terreno em combate.

Todas as observações úteis devem ser relatadas constantemente para o quartel-general e transmitidas aos comandantes de outras fortificações. Além disso, quando solicitados pelos escalão superior, os comandantes da fortificação fazem relatórios diários breves, incluindo:
  1. Conclusões extraídas das observações do inimigo,
  2. Engajamentos,
  3. Força em combate e perdas, 
  4. Condição das fortificações, armas e instrumentos, 
  5. Requisições para substituições e suprimentos. 

A missão principal da aviação de reconhecimento anexada às guarnições do corpo é assegurar a informação avançada sobre preparações inimigas para o ataque. Nos combates em larga escala, usam-se aviões de reconhecimento para esclarecer sua própria situação também. Durante as pausas, essas aeronaves supervisionam a camuflagem de instalações de combate concluídas, bem como aquelas em construção.



Comunicação e Controle

Todos os comandantes em uma zona fortificada são mantidos plenamente informados em todos os momentos da situação real dentro de sua área de comando. Em um esforço para assegurar um fluxo contínuo de informações, tenta-se manter um sistema de comunicação funcionando sem falhas sob o maior tempo possível sob fogo do inimigo. Normalmente, um sistema de cabo duplo, enterrado fora do alcance das bombas aéreas pesadas e dos impactos da artilharia. 


Com a finalidade de manter um comando e controle (C2) eficiente, os “bunkers” vizinhos ou as torres, são unidos em um grupo ou fortaleza por túneis. Desta forma, o exército tenta assegurar não só um maior controle tático, mas também uma maior força tática. Cada fortaleza forma uma área de defesa de batalhão na qual os fortes individuais são capazes de apoio mútuo. Os “bunkers” com máxima capacidade de observação e potência de fogo são os pontos focais do novo sistema, e são fornecidos com fogo de flanqueamento completo de fortificações dentro do grupo ou de “bunkers” adicionais construídos para este fim. Os obstáculos de arame cobertos por este fogo flanqueador são camuflados o mais cuidadosamente possível, a fim de não denunciar ao atacante as posições dos “bunkers” flanqueadores e as áreas de defesa do batalhão.



Parte 2 (breve)

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Falklands/Malvinas - Aspectos Logísticos *184




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O conflito entre argentinos e britânicos pela posse das Ilhas Falklands/Malvinas foi, em alguns aspectos, um confronto entre duas gerações de Forças Armadas. Por um lado, havia uma confiança na quantidade; do outro, na qualidade. Conscritos, mal preparados e equipados, lutando contra profissionais altamente treinados, dotados de equipamentos entre os mais modernos então disponíveis. A total falta de preparação logística contra a eficácia no apoio.

Certas guerras representaram um estopim para mudanças em outros exércitos nelas não envolvidos, pela coleta de ensinamentos e um estudo aprofundado posterior. A Guerra de Secessão influenciou a conduta de Caxias durante a Guerra da Tríplice Aliança; a guerra árabe-israelense de 1973 (Yon Kipur) fez nascer nos EUA os conceitos do que mais tarde seria conhecido como doutrina da batalha ar-terra (Air-land battle), empregada com sucesso contra o Iraque em 1991.



A guerra das  Falklands/Malvinas, até pela proximidade física, representou para o Exército Brasileiro a oportunidade de renovação doutrinária. Sem dúvida, os ensinamentos ali colhidos provocaram modificações importantes na estrutura organizacional  e nas doutrinas de emprego do EB.

A análise do papel representado pela logística para ambos os contendores, com resultados diametralmente opostos, ainda hoje é fonte de ensinamentos e experiência. 

Caracterização da Área

As Ilhas  Falklands/Malvinas ficam no Atlântico Sul, logo abaixo do paralelo 50ºS, a cerca de 740 km a leste da Argentina. As Ilhas Geórgias do Sul ficam  a cerca de 1.400 km da leste das Malvinas e as Ilhas Sandwich do Sul, a cerca de 700 km a leste das Geórgias.

As  Falklands/Malvinas compreendem 2 ilhas principais e, aproximadamente, 200 ilhas menores, com uma área total de 8.704 km2 . As duas ilhas maiores, as Falkland Leste (Ilha Soledad) e Oeste (Gran Malvina), são separadas pelo estreito das Falklands ou San Carlos que, na sua parte mais estreita, tem 4,4 km. Stanley, a capital, rebatizada pelos argentinos como Puerto Argentino, fica situada na costa leste da Malvina Leste e tinha, à época,  1.200 "kelpers", dos 1.800 que habitavam as ilhas.

A costa das Malvinas é irregular, com inúmeras pequenas e restritas praias. A parte mais elevada é a metade norte das ilhas, variando entre 400 e 700 m acima do nível do mar. A região interiorana á muito acidentada e difícil de ser atravessada, a pé ou por veículo. Havia, na época, somente 45 km de estradas pavimentadas nas ilhas. As poucas árvores existentes foram plantadas pelo homem.



O meio de transporte mais usado nas ilhas é o aéreo, havendo mais de 30 pistas de pouso espalhadas por elas, sendo que as 5 melhores permitem o pouso de aeronaves C-130 Hércules. O maior aeroporto é o da capital, com uma pista de asfalto de 1.250 m. Seguem-se em importância os de Pebble Island e o de Goose Green.

Nas ilhas predominam ventos fortes e temperaturas baixas. A temperatura média, no inverno, no período diurno, varia entre -7ºC e 0ºC. Em média, a precipitação pluviométrica é da ordem de 686 mm, espaçados uniformemente durante o ano, com queda de neve em cerca de 50 dias por ano. Os ventos sopram com 36 km/h, em qualquer época do ano, com mares bravios em torno das ilhas.

Rápida cronologia dos eventos

Em 02Abr82, as forças argentinas desembarcam nas Ilhas Malvinas. A operação aconteceu sem baixas entre os britânicos e kelpers, mas com uma baixa entre os atacantes, um Capitão de Corveta fuzileiro naval, atingido por fogo inimigo. Neste dia, a Grã-Bretanha alertou sua Frota e o Conselho de Segurança da ONU decide tratar da questão.

No dia seguinte, os argentinos informam oficialmente que as Ilhas Malvinas, Geórgias e Sandwich do Sul estão sob sua soberania. Londres adverte que aplicará sanções econômicas e resolve empregar uma Força Tarefa em ação punitiva no Atlântico Sul. Embarcada junto com a FT, segue para a região de operações a 3ª Brigada de Comandos de Fuzileiros Navais, reforçada por 2 batalhões de fuzileiros. O Conselho de Segurança aprova a resolução 502, que exige a retirada argentina das ilhas e o início de negociações.

A Grã-Bretanha anuncia o bloqueio naval  de 200 milhas em torno das Ilhas, enquanto a Comunidade Econômica Européia apóia as sanções britânicas. Mesmo com a intervenção diplomática norte-americana e do Papa, não se chega a  uma solução negociada para o conflito.



Em 25Abr, já com o bloqueio naval operando, a Força Tarefa britânica reconquista as Ilhas Geórgias, com fraca resistência da guarnição argentina, que se rende.

O primeiro ataque aéreo britânico a Puerto Argentino ocorre em 01Mai. No dia seguinte, os argentinos sofrem uma pesada baixa: o Cruzador Gen Belgrano é afundado pelo submarino nuclear Conqueror, com um saldo de 323 vítimas. A partir daí, a esquadra argentina praticamente retira-se do conflito, recolhendo-se aos seus portos.

No dia 04 de maio, em meio a novas incursões aéreas inglesas contra Puerto Argentino e Darwin, aeronaves da Aviação Naval Argentina, equipadas com mísseis Exocet, atacam o destróier inglês HMS Sheffield, afundando-o.

Em 12Mai, partem da Grã-Bretanha, a bordo do transatlântico Queen Elisabeth, 3.000 soldados da 5ª Brigada de Infantaria com destino ao Teatro de Operações.

O desembarque britânico dá-se em 21Mai, quando é estabelecida uma cabeça de praia em San Carlos Waters. As tropas britânicas da 3ª Brigada de Comandos Fuzileiros Navais, reforçadas pelos 2º e 3º Batalhões do Regimento de Paraquedistas desembarcaram em 4 praias, antes do alvorecer, utilizando embarcações de desembarque e helicópteros. Fez-se largo uso de equipamentos de visão noturna, permitindo a rapidez da operação.

Um dos primeiros itens a serem desembarcados foram os mísseis antiaéreos Rapier,  transportados por helicópteros Sea King para posições elevadas que dominavam a cabeça de praia.

Os combates aeronavais foram bastante intensos, com fortes perdas de ambos os lados, destacando-se o afundamento da fragata inglesa Ardent. Estes combates prosseguiram nos dias subseqüentes, com o afundamento de outro destróier e de um transporte de tropas ingleses, o Atlantic Conveyor.

A oposição em terra foi fraca devido à total surpresa tática alcançada. Após a consolidação da cabeça de praia, os ingleses iniciam o deslocamento para a conquista do objetivo final: Puerto Argentino, em um movimento de pinça. O braço mais ao norte dirigia-se diretamente contra a capital, enquanto ao sul investem sobre as localidades de Darwin e Goose Green, com a finalidade de proteger o flanco sul britânico frente às guarnições argentinas nestas localidades e conquistar as pistas de pouso ali existentes, de onde operavam aeronaves Pucará.

Uma acentuada vantagem que os britânicos dispunham neste conflito era a utilização de equipamentos de visão noturna, que equipavam, inclusive, alguns de seus helicópteros. Tal fato fez com que optassem pela realização de ataques noturnos durante as operações, já que os argentinos não dispunham destes meios.

O ataque contra Darwin foi desfechado às 0200 horas do dia 28, contando com eficiente apoio de fogo naval. Dez horas mais tarde, a posição argentina caía, prosseguindo os britânicos contra a forte posição de Goose Green. O ataque foi apoiado por potente fogo de morteiros e mísseis Milan, enquanto os argentinos utilizavam seus canhões antiaéreos de Oerlikon 35 mm contra a tropa atacante. No dia 29, os cerca de 1.400 argentinos que guarneciam a posição renderam-se ao batalhão inglês de cerca de 600 homens.

O braço do norte prosseguia em terreno de muito difícil trânsito, enfrentando pequena resistência, chegando a conquistar Teal Inlet, de onde as tropas poderiam passar a ser supridas por mar. Em 04 Jun, era conquistada a posição de Monte Kent, de onde poderia ser desfechado o ataque final contra Puerto Argentino.

Aparentemente, os argentinos concentravam sua defesa na capital das Ilhas, onde poderiam oferecer uma última e desesperada resistência aos britânicos. Estes logo descobriram que a estratégica região de Bluff Cove e Fitzroy havia sido abandonada. Cientes da importância desta região, os britânicos enviam uma pequena força para ocupá-la, por helicópteros, tentando reforçá-los com um batalhão da 5ª Brigada,  enviado por mar. Posteriormente, seguem outros navios com reforços e suprimento, especialmente munição.



Em 08Jun, uma súbita melhora no tempo permite aos argentinos que realizem uma incursão aérea contra os navios que apoiavam este desembarque, afundando uma fragata e os transportes de tropas Sir Galahad e Sir Tristan, causando severas baixas. Os argentinos, no entanto, não exploraram a desorganização ali existente entre as forças britânicas, empenhadas no salvamento às vítimas do afundamento dos navios de transporte, deixando de aproveitar uma excelente oportunidade.

Em 12Jun, enquanto as tropas britânicas avançam rumo a Puerto Argentino, faz-se a última vítima dos mísseis Exocet: o HMS Glamorgan.

O plano para o ataque final contra Puerto Argentino era relativamente simples: uma sucessão de ataques noturnos, levados a cabo ora pela 3ª Brigada, ora pela 5ª Brigada cercariam o inimigo, levando-o ao colapso final.

Em 13Jun, os ingleses penetram nas últimas defesas argentinas, em Puerto Argentino. No dia seguinte é assinado o cessar fogo e a rendição argentina.

As forças terrestres envolvidas

1) Argentina
  • Brigada de Infantaria III 
    • Comando e Companhia de Comando e Serviço 
    • Regimento de Infantaria 4 (RI 4) 
    • Regimento de Infantaria 5 
    • 2  Seções da  Companhia de Engenharia de Combate 3 
    • Regimento de Infantaria 12 
    • Grupo de Artilharia 3, reforçado com canhões 155 mm 
    • Companhia de Comando 3 
    • Companhia de Saúde do Batalhão Logístico 3 (40 homens) 
    • Elementos da Companhia de Material Bélico do Batalhão Logístico 3 (20 homens)
  • Brigada de Infantaria Mecanizada IX 
    • Regimento de Infantaria 8 (+) 
    • Regimento de Infantaria 25 
    • Companhia de Engenharia 9 
    • Elementos do Batalhão Logístico 9
  • Brigada de Infantaria Mecanizada X 
    • Comando e Companhia de Comando e Serviços 
    • Regimento de Infantaria  Mecanizado 3 
    • Regimento de Infantaria Mecanizado 6 
    • Regimento de Infantaria Mecanizado 7 
    • Companhia A do regimento de Infantaria I (188 homens) 
    • Esquadrão de Exploração de Cavalaria Blindada 10 ( com 12 viaturas Panhard) 
    • Companhia de Engenharia Mecanizada 10 
    • Companhia de Comunicações Mecanizada 10 
    • Elementos do Batalhão Logístico 10
  • Companhia de Comandos  601
  • Companhia de Comandos  602
  • Grupo de Artilharia de Defesa Aérea 601
  • Grupo de Artilharia Aerotransportada 4
  • Bateria do Grupo de Artilharia de Defesa Aérea 101
  • Companhia de Engenharia de Combate 601
  • Elementos do Batalhão de Comunicações 181 (44 homens)
  • Batalhão de Aviação do Exército 601 (19 helicópteros)
  • Elementos da Companhia de Abastecimento e Manutenção de Aeronaves 601 
  • Hospital Militar "Comodoro Rivadavia"
  • Hospital Militar "Malvinas"
  • Seção de Inteligência "Malvinas"
  • Centro de Operações Logísticas
  • Elementos da Companhia de Polícia Militar 181 (60 homens)
A constituição do que se chamou Guarnição Militar das Malvinas (GMM) chegou a contar com cerca de 10.000 homens, distribuídos em 4 guarnições: Puerto Argentino, com cerca 7.100 homens, Goose Green-Darwin, Howard e Baía Fox, cada uma destas com cerca de  930 homens.

Os primeiros  elementos a chegarem às Ilhas pertenciam à Brigada de Infantaria IX e ao Regimento de Infantaria de Marinha 2, que foi substituído após a ocupação pelo RI 25. A partir de 12 de abril, a Brigada de Infantaria X foi enviada em reforço à guarnição. Posteriormente, o Comando do Exército decidiu enviar a Brigada de Infantaria III para compor seus meios nas Malvinas 

2) Grã-Bretanha
  • 3ª Brigada de Comandos (Fuzileiros Navais) 
    • Comando 
    • 40º, 42º e 45º Batalhões de Comandos 
    • 3º Batalhão de Pára-quedistas (Exército) 
    • 29º Regimento de Artilharia 
    • 59ª Companhia de Engenharia 
    • 49ª Companhia de Explosivos e Destruições (Exército) 
    • Regimento Logístico 
    • 148ª Bateria de Observação Avançada de Artilharia  Naval 
    • Bateria T do 12º Regimento de Defesa Aérea (Exército), com 12 lançadores de mísseis Superfície-ar Rapier 
    • Pelotão de Reconhecimento Médio (Exército), com 7 viaturas blindadas: 2 Scorpion,4 Scimitar e um Samson 
    • Companhia de Quartel-General e Comunicações 
    • Esquadrão Aéreo (helicópteros Gazelle e Scout) 
    • 845º e 846º Esquadrões Aeronavais (helicópteros Sea King) 
    • Turma de Observação Avançada do 4º Regimento de Artilharia de Campanha (Exército) 
    • Destacamento de Ligação de Retaguarda do 30º Regimento de Comunicações (Exército) 
    • 2ª, 4ª e 6ª Seções SBS - Special Boat Service (Forças Especiais da Marinha) 
    • Equipe de Guerra na Montanha e no Ártico (FN) 
    • Destacamento Logístico de Barcaças de Desembarque e Meios Flutuantes 
    • Pelotão Y de Comunicações 
    • Equipe de Apoio Cirúrgico (Marinha) 
    • Seção do 19º Batalhão de Saúde (Exército) 
    • Banda de Música (FN), também com missão de padioleiros
  • 5ª Brigada de Infantaria (Exército) 
    • Comando 
    • 1º Batalhão do regimento de Guardas Galeses 
    • 2º Batalhão do Regimento de Guardas Escoceses 
    • 2º Batalhão de Pára-quedistas 
    • 1º Batalhão do 7º Regimento de Fuzileiros Gurkhas 
    • 4º Regimento de Artilharia de Campanha 
    • Duas Seções do 32º Regimento de Artilharia de Foguetes Dirigidos 
    • Turmas de Observação Avançada do 49º Regimento de Artilharia 
    • 36º Regimento de Engenharia 
    • 9ª Companhia de Engenharia Pára-quedista 
    • Destacamento do 2º Regimento de Controle de Portos 
    • 56º Esquadrão do Corpo de Aviação do Exército (helicópteros Gazelle e Scout) 
    • 407º Batalhão de Transporte 
    • Elementos do 17º Regimento de Portos 
    • 16º Batalhão de Saúde 
    • 81ª Companhia de Intendência 
    • Destacamento de Lavanderia e Padaria do 9º Batalhão de Intendência 
    • Elementos da 421ª Companhia de Explosivos e Destruições 
    • 10ª Companhia de Manutenção Avançada 
    • 160ª Companhia de Polícia do Exército 
    • 66ª Pagadoria de Campanha 
    • Destacamento de Relações  Públicas 
  • Força de Apoio 
    • 12º Regimento de Defesa Aérea 
    • 21ª Bateria de Artilharia Antiaérea 
    • Destacamentos de Engenharia, Intendência, Comunicações, Correios, Controle de Movimento 
    • Elementos de SAS - Special Air Service (Forças Especiais do Exército)


A logística britânica

Um dos aspectos mais relevantes do conflito foi o extraordinário esforço logístico desenvolvido para apoiar as operações pelos britânicos. A Força Tarefa foi capaz de operar, com elevado grau de eficiência, a cerca de 15.000 km de suas bases principais. A base mais próxima, Gibraltar, dista mais de 11.000 km. Mesmo sua base mais avançada, na ilha de Ascensão, encontram-se a, aproximadamente, 7.400 km das Malvinas.

A 3ª Brigada de Comandos Fuzileiros Navais, embora constituísse uma força de intervenção rápida britânica, foi pega despreparada para a missão de retomar as ilhas invadidas pelos argentinos.

Discussões políticas adiaram a emissão de uma ordem de alerta para a GU. Seu comando e EM participavam de um  exercício da OTAN na Dinamarca no final de março, quando os primeiros informes sobre a provável invasão argentina chegaram a Londres. A ordem de partida somente chegou quando as Ilhas já tinha sido tomadas.

Não havia planos de operação que atendessem à nova situação. Para uma brigada de FN isto pode vir a constituir-se em grande óbice, já que o carregamento nos navios de transporte deve atender a necessidades táticas, ou seja, o carregamento deverá ser feito por frações constituídas. Homens, equipamentos e suprimentos devem viajar juntos,  possibilitando que estejam prontos para o combate ao desembarcarem. Assim, a Brigada teve de adotar um  plano existente, destinado a operações no norte da Noruega,  para orientar seu embarque e carregamento.



Além disso, a Brigada teve de competir com a própria Royal Navy e elementos da RAF embarcados, por espaço para transportar o suprimento necessário para o distante TO. Este constituía-se na Reserva de Manutenção de Guerra, equivalente a 30 dias de suprimento de todos as classes, além de uma dotação orgânica de 2 dias de munição e 5 dias de ração.

Dois outros problemas surgiram durante o embarque: a necessidade de rapidez e as novas unidades que foram adidas à Brigada de Comandos, oriundas do Royal Army. Com isto, o carregamento não seguiu a ordem ideal. Como solução, decidiu-se que as cargas seriam reconfiguradas em uma rápida parada da frota na Ilha de Ascensão, a meio caminho das Malvinas.

Um dos grandes feitos da Royal Navy foi a mobilização e posterior conversão para a guerra de navios mercantes. Estes representaram um importante acréscimo à capacidade de transporte de carga e pessoal e à prestação de apoio logístico, como navios-oficinas e navios-hospitais. No total, foram empregados 26 navios de guerra e 54 mercantes modificados, com 25.000 homens a bordo.

Todos os itens de suprimento previstos de serem empregados tinham de ser enviados por uma linha de suprimento de 8.000 milhas de comprimento. Somente para atender às demandas da Marinha, foram embarcados 900.000 tipos de itens de suprimento. A estes, tinham de ser adicionados os itens destinados às tropas em terra.



A passagem da frota pela  Ilha de Ascensão  foi aproveitada para o remanejamento da carga entre os navios, procurando-se a melhor configuração para o combate. Nesta ocasião, os planos operacionais já estavam bastante adiantados, com algumas conclusões: 

  • seria procurada a superioridade aeronaval antes do desembarque, o que daria algum tempo a mais para a tropa se preparar em Ascensão;
  • o desembarque seria realizado na Ilha Soledad (Falkland Leste), em local a ser definido após reconhecimentos;
  • a Brigada de Comandos deveria ser reforçada com  novos meios, chegando a um efetivo de 5.500 homens (para tal, recebeu mais um batalhão paraquedista do Royal Army);
  • com as forças argentinas nas Ilhas chegando a  um total de 10.000 homens, dos quais se acreditava que cerca de 7.500 estavam na região de Stanley (porto Argentino), no mínimo outra brigada seria necessária para que os britânicos diminuíssem sua desvantagem numérica. Esta segunda brigada seria a 5ª Brigada de Infantaria, estacionada no Reino Unido. 
O conceito logístico da operação baseava-se na manutenção dos suprimentos a bordo dos navios logísticos na área da cabeça-de-praia, de modo a economizar tempo na descarga e evitar a existência de um grande depósito em terra firme. O espaço em terreno firme era bastante disputado; desta forma, foi decidido que as instalações logísticas não teriam prioridade no desembarque, utilizando ao máximo o "flanco marítimo", ou seja, o suprimento pelo mar. Isto, de certa forma, impedia grandes movimentos de tropas longe do litoral.

Como parte da reconfiguração, o Regimento Logístico carregou os navios de desembarque logísticos Sir Galahad e Sir Percival com dois dias de suprimento para toda a brigada de munição, combustível, rações e outros itens de alto consumo (um dia de suprimento para a brigada equivalia a 95 ton). Outros dois navios armazenavam mais 20 dias de suprimento, sendo que um deles seria deixado mais distante da Zona de Combate, garantindo um relativo escalonamento em profundidade e segurança.

O SS Canberra foi designado como  Posto de Triagem principal para a Brigada; as baixas seriam evacuadas para ele por helicóptero e, se necessário, seriam dali evacuadas para o navio-hospital SS Uganda. No entanto, um posto de triagem avançado seria desdobrado em terra firme, capaz de reter baixas por até 6 horas.

No início de maio, o comboio com a tropa da 3ª Brigada embarcada seguiu rumo às Ilhas. A 5ª Brigada zarparia  da Inglaterra poucos dias depois.

O comando da brigada, após decidir-se pelo local de desembarque, no estreito de San Carlos, designou a Baía Ajax para a sua área de apoio logístico, basicamente por imposição do terreno, já que ali era o local que melhor permitiria o desdobramento das suas instalações logísticas pela existência de espaço com solo firme e construções abandonadas que poderiam ser empregadas.

Em 19Mai, foi confirmado que o desembarque seria realizado às 0230 h de 21Mai.

Os desembarques ocorreram sem problemas, somente com alguns atrasos. Não houve oposição argentina em terra e todos os objetivos estavam seguros no meio da manhã. Contudo, o crescente número de ataques aéreos levou os britânicos à decisão de enviar todos os navios considerados não essenciais para fora do Estreito de San Carlos Waters, rumando bem para oeste.




Assim, a decisão inicial de manter o máximo possível do suprimento embarcado teve de ser modificada, desembarcando-se uma razoável quantidade na Área de Apoio Logístico. Da mesma forma, o Canberra teve de ser afastado, não podendo funcionar como Posto de Triagem para a Brigada. De qualquer forma, os ataques argentinos concentraram-se nos navios de guerra; nenhum dos mercantes foi atingido. Caso o fossem, poderia ter havido uma séria dificuldade para a prestação do Apoio Logístico.

A partir desta data, os navios logísticos somente eram autorizados a aproximarem-se à noite para desembarcarem suas cargas. Helicópteros não eram autorizados a operarem nestes navios à noite, o que fez com que o movimento navio-terra somente fosse realizado por intermédio de pequenas embarcações, o que consumia bastante tempo. Além disso, nem sempre era fácil localizar um item específico nos navios, o que tornava a tarefa de reabastecimento lenta e frustrante para os operadores logísticos.

A distribuição de combustível foi um problema nos primeiros dias após o desembarque. O equipamento destinado a receber o combustível a granel dos navios e distribuí-lo aos usuários não pôde ser desembarcado, exigindo uma série de improvisações. Tanques flexíveis foram amplamente utilizados, assim como camburões. Além dos  helicópteros, que consumiam 50.000 galões de combustível de aviação por dia, os geradores dos Rapier e as viaturas "mulas mecânicas" consumiam grande quantidade de diesel diariamente.

A falta de meios de transporte para o suprimento era outro grave problema. As hipóteses de emprego da brigada previam a existência de uma rede rodoviária capaz de permitir a distribuição de suprimentos por caminhões; helicópteros seriam utilizados em casos muito especiais. Agora, eles eram o único meio de transporte capaz de distribuir o suprimento. E não estavam sob o controle do Regimento Logístico, podendo ou não ser empregados nesta missão. Para complicar ainda mais, o Regimento não fazia parte da rede de controle de voo, de maneira que tornou-se bastante difícil coordenar as missões com as aeronaves.

O suprimento de munição, especialmente para canhões, tornou-se a maior prioridade, superando as rações, combustível ou outros equipamentos. Muitas unidades viram-se com falta de rações, sacos de dormir ou uniformes de muda ante a impossibilidade de mover-se estes itens à frente por via aérea.

Estas limitações iniciais impediram um avanço imediato em direção a Puerto Argentino, até que a situação do suprimento se normalizasse na cabeça-de-praia e mais helicópteros chegassem. Um ataque a posições mais fortemente defendidas dependeria de grande quantidade de munição, o que não estava ainda disponível.



Neste sentido, o afundamento do Atlantic Conveyor em 25Mai representou uma enorme perda. O navio transportava 4 helicópteros de transporte Chinook e cinco Wessex. Além disso, o navio levava material de acampamento para toda a tropa desembarcada.  Isto, se por um lado dificultava a aceleração do ritmo das operações, por outro lado tornava imperativo a antecipação do fim do conflito, já que o tempo estava piorando com a chegada do inverno e a tropa estava desabrigada.

O apoio logístico ao ataque contra Darwin-Goose Green foi parcialmente interrompido por um ataque aéreo argentino à área de apoio logístico, que não dispunha de adequada proteção antiaérea, matando 7 homens e ferindo outros 32. Em termos logísticos, a maior perda foi de munição: 200 tiros de morteiro 81 mm e 300 tiros de 105 mm que aguardavam o transporte para a frente. Além disso, aviões Pucará argentinos atacavam as linhas de suprimento durante todo o dia. A conseqüência foi a falta destas munições em momentos cruciais da batalha, a primeira de grande vulto travada nas ilhas.

A batalha de Goose Green demonstrou que as taxas de consumo de munição nas quais o planejamento da Brigada tinha se baseado tinham sido  irrealisticamente baixas.  O consumo das armas de pequeno calibre tinha sido quatro vezes superior ao previsto, enquanto o das munições 105 mm e 81 mm, cinco vezes. Este consumo equivalia a cerca de 25% do previsto para conflitos de grande intensidade (como os contra as forças do Pacto de Varsóvia). Por sorte, os operadores logísticos previram esta possibilidade, aumentando deliberadamente os estoques transportados para a Zona de Combate.




Com o avanço das operações e a conquista de Teal Inlet, os britânicos tiveram a oportunidade de cerrar o apoio logístico, desdobrando uma área de apoio logístico avançada naquela localidade.

A situação logística da 5ª Brigada de Infantaria, que chegou em 02 Jun, era  menos satisfatória. Seus estoques estavam baixos e as organizações de apoio resumiam-se a duas companhias de manutenção. A brigada não levara meios para a distribuição de suprimentos.

Seus problemas logísticos nasceram da incerteza sobre sua ida para o Teatro de Operações. A hipótese de emprego para a qual a brigada era preparada referia-se "Missões de Intervenção", um eufemismo que se referia às ações limitadas em tempo e espaço destinadas a salvaguardar os interesses de nacionais britânicos em países em crise. Uma missão de resgate e proteção, que não envolvia grande necessidade de duração na ação. Assim, seus meios logísticos eram naturalmente limitados.

Outra limitação nasceu das normas britânicas para o transporte em navios mercantes (a brigada foi transportada no Queen Elizabeth II), que impedia o transporte de munição e combustível na quantidade e na conformação desejáveis para sua configuração para o combate. Finalmente, houve uma indefinição de sua missão, na ocasião do embarque. As projeções eram de que a brigada não chegaria a envolver-se no combate, mas cumpriria papel de ocupação militar da Ilha, após o conflito.

A conseqüência desta limitação  foi um novo e muito maior encargo de apoio para o Regimento Logístico dos Comandos.



Seguindo as ordens para a 5ª Brigada de mover-se pelo eixo ao sul em direção à capital e em função da necessidade de emprego do "flanco marítimo" e por sua própria limitada capacidade de prestação do apoio logístico, foi decidido o estabelecimento de outra área de apoio logístico avançada em Fitzroy, a SW de seu objetivo. 

Suprimento foram enviados por mar para o estabelecimento desta área em dois navios logísticos. Estes navios foram observados por tropas argentinas que dominavam as alturas próximas, que informaram o comando argentino. Os navios foram bombardeados pela aviação vinda do continente, com a perda de 43 mortos e 200 feridos, além de preciosos suprimentos e equipamentos. 
  
O fato dos argentinos não terem aproveitado a confusão reinante em Fitzroy para contra-atacarem, permitiu que os britânicos consolidassem aquela posição próxima ao seu objetivo estratégico, enquanto a 3ª Brigada aproximava-se pelo norte. O ataque final seria faseado: a 3ª Brigada atacaria primeiro mais ao norte, seguida da 5ª Brigada ao sul na próxima noite.

O alto consumo de munição e a sua dificuldade de distribuição acabaram forçando uma adiamento do ataque da 5ª Brigada, previsto para a noite de 12/13 Jun, ante a impossibilidade de pré-posicionamento de tiros 105 junto às peças. O ataque foi, finalmente, realizado na noite seguinte. Na manhã de 14, o comando da guarnição argentina aceitou o cessar-fogo.



A logística argentina

Ao iniciar as hostilidades enfrentando uma hipótese de guerra inédita, o Ejército Argentino não se achava devidamente adestrado e capacitado para sustentar um conflito da magnitude e características como as que enfrentou contra um inimigo com experiência e poder militar superiores.

O Exército funcionava no sistema de conscrição. Na ocasião, os soldados da classe de 1962 estavam dando baixa, enquanto os da classe de 1963 ainda não tinham completado sua instrução básica. Muitas das unidades enviadas para as Ilhas provinham de áreas de clima mais  ameno, no litoral ou no norte da Argentina, o que resultou em graves problemas de adaptação às inóspitas condições em que iriam lutar.



O bloqueio naval britânico impediu o apoio logístico às Ilhas por via marítima. Já o menor controle do espaço aéreo permitiu que a Fuerza Aérea Argentina realizasse missões de reabastecimento, com aviões C-130 e Electra pousando nos aeroportos de Puerto Argentino e Goose Green até, praticamente, o final do conflito. 

No período de 02 a 30 de abril, foram transportados para as Ilhas cerca de 1.500 homens e 500 toneladas de suprimento por via aérea; de 1 de maio a 14 de junho, 304 homens e 70 toneladas. Um total de 514 pessoas e 264 feridos foram evacuados de Porto Argentino, por ar, durante a campanha.

Durante os meses de abril e maio, por determinação do Alto Comando, as forças nas Ilhas foram reforçadas com o envio das Brigadas de Infantaria X e III, sem que a estrutura logística existente fosse reforçada substancialmente, aumentando as dificuldades para a prestação do apoio. Do quadro de composição dos meios, é possível verificar-se a exigüidade dos meios de apoio presentes nas Malvinas.

Um problema adicional ao comando da GMM era o abastecimento da população local, que passaria a ser executado pelos militares. Uma das maiores preocupações dos argentinos era a de evitar privações entre os "kelpers", o que limitava o aproveitamento de recursos locais, já normalmente escassos. 
  
Em meados do mês de maio, um relatório do comando da GMM antevia sérias limitações no tocante ao apoio logístico. A tropa desdobrada fora de Puerto Argentino não possuía abrigos adequados, expondo os soldados a um frio intenso; em função das chuvas, os abrigos individuais se inundavam, causando sérios problemas de saúde. Os níveis de estoque, inicialmente estabelecidos como equivalentes a 30 dias de suprimento, estavam se deteriorando, ante a incapacidade da ponte aérea de repor os itens consumidos, em especial rações, combustível, uniforme e peças de reposição, que totalizavam necessidades de cerca de 15 a 17 toneladas diárias. Começavam a aparecer casos de desnutrição entre os soldados.

Alguns recursos locais foram aproveitados para atender às tropas acantonadas em Puerto Argentino, como uma pequena padaria e instalações de banho, que assegurava um banho a cada semana. Tentou-se, sem sucesso, implementar-se um programa de pesca. Uma outra deficiência que afetava significativamente o moral era a ausência de correspondências vindas do continente; como paliativo, foi instalado um programa de ligações telefônicas controladas. Um centro de repouso foi constituído junto às instalações do Hospital Militar.

As dificuldades de movimentação por terra nas Ilhas representou um sério óbice para a distribuição de suprimentos às tropas. O uso de helicópteros para este fim minorava ligeiramente o problema, especialmente depois que os britânicos obtiveram a superioridade aérea local, abatendo diversos helicópteros. Além disto, um mau uso destes, transportando tropas para suas posições, que poderiam ter sido alcançadas a pé, diminuiu o número de horas de voo disponíveis para outra missões.

Em abril, o Hospital Militar de Comodoro Rivadavia recebera ordens de transladar-se para Porto Argentino. Lá, ocupou as instalações de um hotel, ainda não habitado. O hospital chegou a contar com 45 médicos, além de farmacêuticos, enfermeiros e bioquímicos, com uma capacidade de 70 leitos. As evacuações dos feridos da frente de combate eram complicadas, ante a dificuldade de deslocamento de viaturas através do campo e pela pouca disponibilidade de aeronaves para a realização de Evacuação Aeromédica. Mais de 80% dos atendimentos se referiam a perdas fora de combate, devido a problemas como pé-de-trincheira, congelamento de dedos, infecções na pele e desnutrição. Dos  feridos em combate, 70% foram causados por projetis de baixa velocidade (estilhaços de granadas e bombas). Dentre os atendidos, 75% eram conscritos. 

Estas limitações do apoio logístico, nascidas basicamente da falta de planejamento, ocasionaram a falta de itens críticos para as forças em combate, especialmente rações, com o óbvio efeito negativo sobre o moral da tropa.

Uma semana antes da rendição, a situação logística argentina tornara-se crítica. Os estoques estavam no fim. Víveres, uniformes, peças de reposição, combustível e munições (em especial 155 mm) constituíam os principais problemas. O gado local (especialmente ovelhas) começou a ser empregado como fonte de alimentação para a tropa.



O maior fracasso logístico argentino, no entanto, deveu-se à sua dependência de fontes externas para a obtenção de importantes peças de reposição, necessárias à manutenção de equipamentos e sistemas em condições operacionais. Fontes britânicas afiançam, por exemplo, que os mísseis antiaéreos Roland da Argentina foram se tornando inoperantes ao longo do conflito por falta de peças de reposição simples, impedidas de serem obtidas pelo embargo econômico imposto aos argentinos.

Há notícias, não confirmadas, de que os argentinos teriam adquirido secretamente algum material de emprego militar, em especial mísseis antiaéreos na Líbia. Este fato não é confirmado, embora haja informações de 5 vôos extraordinários de aeronaves das Aerolineas Argentinas para Trípoli no mês de maio de 1982.

Conclusões

Após a capitulação argentina, uma comissão da alto nível das Forças Armadas Argentinas realizou uma avaliação das causas da derrota no conflito. O resultado deste trabalho, conhecido como "Relatório Rattenbach", representou um estudo profundo e minucioso. São transcritas, abaixo, algumas de suas conclusões.

 "(...) a concepção estratégica inicial,  baseada no emprego decisivo do poder naval, transformou-se na resistência possível e com limitados apoios do elemento terrestre.

 (...) O poder de combate utilizado utilizado pelo inimigo em sua reocupação das ilhas foi significativamente maior no que se refere a : 

1) Capacidade profissional 
2) Capacidade técnica 
3) Experiência de combate 
4) Apoios de todos os tipos


Um aspecto sumamente importante relacionado com o exercício de comando (...) é o que se refere à carência absoluta de adequados apoios que permitissem aos elementos do Exército destacados um melhor desenvolvimento de suas capacidades e, por conseguinte, a obtenção de melhores resultados. Assim, por exemplo, as Forças Terrestres tiveram de lutar contra o inimigo e as condições de meio ambiente, COM UMA LOGÍSTICA ABSOLUTAMENTE DEFICIENTE, COM SÉRIAS LIMITAÇÕES DE APOIO DE FOGO, COM ABSOLUTAS LIMITAÇÕES PARA O TRANSPORTE DE EFETIVOS DEVIDO À ESCASSEZ DE HELICÓPTEROS DE TRANSPORTE E COM INSUFICIENTE APOIO AÉREO DIRETO E APOIO NAVAL." [o grifo é do relatório]

Obviamente, a derrota argentina não se explica somente pela deficiência do apoio logístico. Outros fatores, de ordem tática, podem ser alinhados entre as causas do resultado:
  • Emprego de tropas inadequadas e mal preparadas. Embora possuísse tropas profissionais e melhor ambientadas às condições inóspitas do extremo sul, o Alto Comando argentino decidiu mantê-las em reserva no continente, fazendo face a outras possíveis ameaças, como o Chile ou um ataque britânico. As forças empregadas não eram adestradas, sendo constituídas, em sua maioria, por conscritos prestando serviço militar inicial. Além disso, provinham de áreas de clima sub-tropical, não tendo tempo para ambientar-se.
  • Falta de coordenação entre as Forças Armadas, em especial Exército e Força Aérea, dificultando o apoio aéreo aproximado à operações.
  • Deficiência de informações estratégicas e de combate.
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  • Postura defensiva adotada, com pouca flexibilidade e agressividade, entregando toda a iniciativa ao oponente. Em pelo menos duas ocasiões, os argentinos deixaram de aproveitar oportunidades de impedir ou, pelo menos dificultar, o avanço britânico: logo após o desembarque, antes de consolidarem a cabeça-de-praia, e após o afundamento dos navios de transporte em Fitzroy.
  • Desdobramento prematuro das forças, sem condições de sobrevivência adequada. As tropas ficaram por muito tempo em posições desabrigadas, sem contarem com as condições de abrigo adequadas. Este tempo foi pouco aproveitado na preparação do dispositivo defensivo e somente serviu para depreciar a capacidade combativa das tropas. As tropas desdobradas na Ilha Gran Malvina ficaram isoladas durante todo o conflito, não tendo qualquer participação significativa no seu desenrolar.
Do ponto de vista britânico, o apoio logístico foi um sucesso. Apesar da grande distância que separava as forças de suas bases, não foram sentidos grandes faltas de equipamentos essenciais, exceto aqueles perdidos no próprio combate, como a carga do Atlantic Conveyor. Nos poucos casos em que o material não estava disponível, a improvisação e o engenho conseguiram substitutos razoáveis.

A Força Tarefa aprestou-se em um prazo bastante curto, demonstrando o elevado grau de prontidão e adestramento.

O conflito das  Falklands/Malvinas  traz uma série de ensinamentos do ponto de vista logístico. Entre elas, destacam-se:
  • A importância da mobilização dos recursos civis para a logística militar. A Grã-Bretanha empregou diversos navios civis mobilizados durante o conflito. Sem eles, não teria capacidade de transporte e apoio logístico à Força Tarefa. Aeronaves civis transportaram grandes quantidades de suprimento para a Ilha de Ascensão, que se constituía em uma Base Logística avançada. Diversos técnicos civis participaram do aprestamento da Força. Esta capacidade de rápida mobilização dos recursos civis é cada vez mais importante para a logística, ante a incapacidade econômica dos países em manter meios militares capazes de atender a todas as suas necessidades.
  • A importância de uma estimativa logística bem conduzida. Um  dos grandes problemas britânicos foi a alta taxa de consumo de munição,  bastante acima do previsto. Embora não tivesse impedido o sucesso da operação, os estoques de munição foram aquém do ideal. Tal fato demonstra a necessidade de informações gerenciais corretas e precisas no que se refere ao planejamento do apoio logístico.
  • O valor do helicóptero no transporte de suprimentos. Este conflito demonstrou, mais uma vez, a importância do helicóptero de carga na distribuição de suprimentos e na movimentação de tropas, especialmente em terrenos pouco favoráveis ao trânsito de viaturas.
  • A vulnerabilidade da logística nacional ante equipamentos importados. Contratos existentes entre a Argentina e países fornecedores de materiais de emprego militar, como no caso da França, tiveram suas entregas atrasadas deliberadamente, diante do embargo econômico da Comunidade Européia. Há fontes que afirmam que segredos militares sobre o desempenho de equipamentos, como os mísseis Exocet e as aeronaves "Super Etendard" forma passados aos britânicos durante o conflito, permitindo-lhes que melhorassem suas medidas defensivas.
  • Necessidade da integração entre os planejadores táticos e logísticos. Esta talvez tenha sido uma das maiores lições do conflito, para ambos os lados. Das deficiências logísticas argentinas, muito já foi dito. Basicamente, nasceram da falta do elemento logístico junto ao tático. Providências importantíssimas, como o pré-posicionamento de suprimentos, melhoria das condições das pistas de pouso, construção de abrigos para as tropas, fornecimento de uniformes mais adaptados para as condições climáticas, etc., poderiam ter possibilitado melhores resultados para os combates. 

  • Do lado britânico, esta necessidade de integração também ficou patente. As dificuldades surgidas após o desembarque para o prosseguimento rumo a Puerto Argentino, a falta de proteção antiaérea da área de apoio logístico na Baía Ajax e, posteriormente, em Fitzroy, a chegada da 5ª Brigada de Infantaria sem os adequados meios para a prestação do apoio logístico foram exemplos típicos desta dificuldade de trabalho conjunto.