Para que uma
“cabeça de guerra” cumpra o papel para o que foi concebida, é necessário que
seja detonada no momento adequado, pois qualquer outra situação diferente desta, poderá resultar na perda da ogiva sem que produza seus efeitos no alvo, ocasionando perigo
mortal aos seus usuários e danos materiais indesejados aos equipamentos e
instalações próximos. Um dispositivo de iniciação (espoletas e detonadores) é
um subsistema que ativa o mecanismo de uma ogiva quando desejado, para produzir
seus efeitos no alvo escolhido, e também mantém esta ogiva em condições seguras
durante todas as fases anteriores da cadeia logística e operacional.
A espoleta é
essencialmente um mecanismo de estado binário. No contexto do hardware do
sistema de armas, uma espoleta e sua respetiva ogiva são uma coisa só, pois
espera-se que permaneçam juntas e inertes até que seu alvo seja encontrado e
depois funcionem conforme o esperado em uma fração de milissegundo. Os
sistemas de orientação podem se recuperar de avarias transitórias; os
radares de rastreamento de alvos podem experimentar vários alarmes falsos sem
comprometer significativamente sua utilidade; e as estruturas de mísseis
podem deformar-se e se recuperar, mas a ativação da ogiva é irreversível. A
qualidade exigida para um dispositivo de iniciação é especificada por dois
valores: confiabilidade de 0,95 a 0,99 para espoletas de mísseis complexos e
até 0,999 para espoletas de contato de bombas e projéteis em geral.
Um sistema de
iniciação de armas possui 5 funções básicas que podem ser executadas, sejam elas: Manter a arma
segura, armá-la, reconhecer ou
detectar o alvo, iniciar a
detonação da ogiva e determinar a
direção da detonação (apenas espoletas especiais).
Dispositivos de Trava
e Segurança
Sistemas de armas
tem um periculosidade intrínseca, e devem ter agregados ao seu projeto
garantias de que não serão ativados e/ou detonados até atinjam seus
alvos. Essa garantia é fornecida pelos dispositivos de trava e segurança
presentes nos mecanismos de iniciação. Os dispositivos de trava e segurança são um
componente que isolam o iniciador (mecanismo que ativará a sequência de detonação) da carga de iniciação (explosivo primário) da ogiva, durante todas
as fases da cadeia logística e operacional da arma, até que a arma seja lançada
intencionalmente e tenha se distanciado o suficiente de seu vetor de lançamento
para que este não seja afetado. Então, nesse ponto da trajetória quando
não mais oferece perigo a quem o está lançando, este mesmo dispositivo de trava
e segurança remove a barreira entre o mecanismo de iniciação e o trem
explosivo, permitindo que a ogiva possa ser detonada.
Alguns
dispositivos de trava e segurança funcionam medindo o tempo decorrido desde o
lançamento, outros determinam a distância percorrida a partir do ponto de
lançamento, registrando a aceleração experimentada pela arma. Alguns dispositivos
detectam a velocidade do ar ou a rotação do projétil (força centrífuga),
enquanto outros podem receber estímulos característicos da trajetória da arma,
como pressão e aceleração do jato de escape do motor. Para maximizar a
confiabilidade de uma espoleta, o dispositivo de trava e segurança deve ser
capaz de diferenciar as forças que registra como sendo exclusivas da arma
quando lançada, e não possam ser intencional ou acidentalmente duplicadas
durante operações de manuseio no solo ou de pré-lançamento.
A maioria dos
mísseis incorpora dispositivos de trava e segurança utilizando acelerômetros,
que mede a aceleração projétil quando lançado. Um impulso de lançamento
induz ao projétil uma pequena aceleração de até 10 g, enquanto que uma arma em
queda pode sofrer facilmente forças de choque de até 500 g. Portanto, um recurso deve ser usado para evitar que a espoleta se arme
prematuramente quando a arma é lançada. Essa característica faz com que os
sistemas de detecção de aceleração entrem em condição de retardo por um período determinado,
evitando que a espoleta se arme de imediato.
Neste dispositivo, os iniciadores
e as cargas a serem iniciadas partem propositalmente desalinhados, e tem seu
alinhamento paulatinamente induzido pelos acelerômetros, à distância considerada
segura. Neste momento outro mecanismo retrai a trava de segurança eletricamente
por meio de um solenoide, comprimindo uma mola capaz de reverter o
destravamento caso algo dê errado. Mecanismos do tipo cruz de malta podem seu
usados para forçar o alinhamento, devido a sua confiabilidade. A cadeia
explosiva se forma quando iniciador, detonador e carga principal se alinham
perfeitamente e um outro dispositivo trava o alinhamento na posição armado,
tornando irreversível a detonação. Se o motor apresentar
defeito, no entanto, de modo que a aceleração seja insuficiente e o alvo não possa ser
atingido, uma mola retornará a trava de alinhamento, que será desfeito, e a
trava de lançamento será inserida novamente no mecanismo, retornando-o a
posição de segurança. Isso garante que a ogiva não seja detonada, em um
lançamento mal sucedido devido a falha do motor.
O integrador de
aceleração de movimento linear, que embora seja por projeto muito robusto, tem a desvantagem
funcional de que, durante a aceleração lateral do míssil que pode exceder 30
g, sofra uma força de atrito intensa entre o mecanismo de iniciação e o corpo da arma. Isso retarda seu movimento e pode aumentar a distância de
armação. Em um projeto mais eficiente, o movimento linear é convertido em
movimento rotativo, com um disco de metal montado excentricamente em um eixo
transversal que gira à medida que o míssil acelera, alinhando o trem explosivo.
Para obter a
confiabilidade de segurança desejada neste exemplo, existem vários componentes
redundantes. Se algum dos componentes falhar, por exemplo, se uma trava de
lançamento se romper e a arma for derrubada, outra ainda impediria o armamento da detonação inadvertida. Esse tipo de redundância é encontrado em todos os
dispositivos trava e segurança. Estes dispositivos são feitos de componentes de
altíssima qualidade e projetados para ter uma probabilidade de falha de
segurança não superior a 1%.
Outro dispositivo
adicional de trava e segurança necessário serve para neutralizar a ogiva se o
vetor não atingir, por qualquer motivo, seu alvo. Um exemplo seria um
projétil antiaéreo ou um SAM que poderia cair em território amigo se um alvo
aéreo não fosse atingido. Para impedir essa possibilidade, um dispositivo de
trava e segurança tipo temporizador neutralizaria a ogiva depois de um determinado
tempo do disparo. Isso permitiria a continuidade da trajetória até que o
tempo decorrido esperado entre o lançamento e a interceptação ao alvo seja
excedido, momento em que o dispositivo destruirá a ogiva.
A configuração do
temporizador seria baseada em um tempo maior que a interceptação normal, mas
seria detonada enquanto a arma ainda estivesse no ar com segurança. Esse detalhe
de projeto, para aumentar a confiabilidade da segurança é encontrado na maioria
dos projéteis antiaéreos.
Embora a espoleta
com seu dispositivo de trava e segurança seja o principal componente de
segurança da arma, deve-se perceber que a ogiva não é insensível a influências
além da iniciação da espoleta. Os altos explosivos químicos usados nas cabeças
de guerra convencionais, bem como os nucleares podem ser detonados se forem submetidos ao
calor e energia suficientes de fontes externas. Detonações ou incêndios
acidentais ou de combate podem fornecer a energia necessária, e sobre estes não
é possível tomar medidas preventivas.
Detecção e
reconhecimento de alvos
A detecção e o
reconhecimento do alvo devem ocorrer quando ele estiver da esfera de dano da
ogiva ou de modo que o espoleta de proximidade possa prever quando essa
condição ocorrerá. Esta função pode ser realizada por vários tipos de sensores
mecânicos ou elétricos. O dispositivo específico usado classifica o tipo
de sistema de difusão. Depois que o alvo for "detectado", este dispositivo
emite um sinal de “fogo” ao detonador. Existem quatro categorias básicas
desses dispositivos:
Dispositivo de Contato - Este dispositivo sensor inicia o
dispositivo de detonação ao travar contato com o alvo. Os mecanismos
típicos destes sensores podem incluir o deslocamento de uma massa inercial, a
tensão de um cristal piezoelétrico, o curto-circuito de uma linha de
transmissão coaxial, a interrupção de um circuito elétrico ou a combinação destes. As
espoletas de impacto são desse tipo. Também podem ser incorporados um
mecanismo de retardo que fornece um pequeno atraso na detonação após o contato, para permitir, por exemplo, a penetração da
arma no alvo a fim de maximizar o dano.
Dispositivo de Ambiente
- Embora não seja capaz de detectar a presença física do alvo, ele pode
detectar o ambiente único em que o alvo pode ser encontrado, como o ambiente subaquático. Esse tipo de detecção normalmente seria
encontrado em bombas de profundidade ou cargas de profundidade e seria
acionado pela pressão hidrostática.
Dispositivos
Temporizadores - Após um tempo decorrido predeterminado, um dispositivo contador
de tempo enviará um sinal de “fogo” ao detonador. A "detecção" do
alvo é predeterminada pelo usuário, quando após algum tempo decorrido
predefinido, baseado em cálculos de quando se espera que o alvo esteja dentro da
esfera de dano da ogiva. Projéteis de armas usam esse tipo de
espoleta. Granadas de artilharia, por exemplo, podem ter espoletas de
tempo variável que podem ser configuradas para disparar no ar, ou de segundos a horas
após atingir o solo.
Dispositivos de Proximidade
- Estes dispositivos não requerem contato com o alvo, pois detectam sua
presença à alguma distância. Eles enviam um sinal de “fogo” ao detonador
quando o alvo está dentro da esfera de danos da ogiva.
Iniciação da
ogiva
Uma ogiva
geralmente contém um alto explosivo poderoso, mas relativamente insensível, que
só pode ser iniciado pelo calor e energia de um explosivo primário. O
explosivo primário é um componente do subsistema de espoleta e normalmente é
carregado no detonador. Se o detonador for projetado corretamente, ele
poderá ser ativado apenas por um sinal de fogo exclusivo, recebido do
dispositivo de detecção de alvo. Um detonador pode ser projetado para
ativar quando recebe energia elétrica (alta tensão) ou energia mecânica (choque)..
Classificação do
Sistema de Espoletas
Várias convenções
de classificação do sistema de espoletas são empregadas atualmente. Como
os projetos de espoleta variam amplamente de acordo com as características e
missão de cada arma, uma convenção de classificação os agrupa por aplicação:
- Espoletas de projéteis de armas de fogo
- para munição rotativa
- para munição não rotativa
- Foguetes
- Espoletas de Bombas
- Espoletas de Minas
- Espoletas de Mísseis
- ar-ar
- ar-superfície
- superfície-ar
- superfície-superfície
- Espoletas de Torpedos
Também se utiliza um segundo sistema de
classificação que reflete a maneira de operação do espoleta:
- Espoletas de Proximidade (VT)
- ativas
- semi-ativas
- passivas
- Espoletas de Tempo
- Espoletas de Impacto
- Espoletas de Retardo
- Espoletas Remotamente Comandadas
De longe, a espoleta
mais complexa é a de proximidade. Este conceito teve origem na Inglaterra
no início da Segunda Guerra Mundial. Os analistas, ponderando sobre como
aumentar a eficácia de sua artilharia antiaérea, calcularam que um sensor de
proximidade no projétil poderia tornar um bombardeiro efetivamente 10 vezes
maior que seu tamanho físico, detonando o projétil próximo ao alvo e não depois
de um tempo programado de voo. Assim, aqueles projéteis que atingissem entrassem na esfera de danos em que o alvo pudesse ser atingido, seriam dez vezes mais efetivos
em danificar ou destruir o alvo em comparação com projéteis dotados de espoleta
de tempo. Hoje, a incidência de ataques diretos por mísseis guiados
é maior do que para projéteis não guiados, mas os princípios originais ainda se
mantêm verdadeiros.
Os espoletas de
proximidade cumprem seu objetivo através do "sensor de influência", ativando
a ogiva sem contato físico entre a o iniciador e o alvo. Estas espoletas
são acionadas por alguma característica do alvo, em vez do contato físico com
ele. A iniciação pode ser causada por um sinal de rádio refletido, um
campo magnético induzido, uma variação de pressão, um impulso acústico ou um
sinal infravermelho. Um espoleta de proximidade é classificada pelo seu
modo de operação, dos quais existem três: ativo, semi-ativo e passivo.
Espoletas de Proximidade Eletromagnéticas
É concebível que
todas as partes do espectro eletromagnético possam ser usadas para a detecção
de alvos. Praticamente, no entanto, considerações de propagação, atenuação
e outros parâmetros afetados pela radiação determinam a aplicabilidade. As
partes do espectro com maior utilidade são as frequências de rádio e microondas (HF, UHF, SHF,
EHF) e o infravermelho (IR). Uma espoleta eletromagnética, operando
particularmente na região de rádio e microondas, pode ser construída para
operar como um conjunto de radares em miniatura. Ela deve transmitir os pulsos eletromagnéticos,
receber seu eco de retorno e identifica-los. O sinal recebido apropriado
inicia o detonador. Um dispositivo de proximidade eletromagnética ativo
básico possui os seguintes componentes:
- Um transceptor composto por componentes eletrônicos de estado sólido, capazes de fornecer a energia necessária para a transmissão e suficientemente sensível para detectar o fraco retorno do sinal.
- Um circuito de amplificação para ampliar o sinal de retorno, para que ele ative o iniciador e sensibilize o detonador. Os circuitos do receptor e do amplificador são projetados para selecionar apenas o sinal correto.
- Uma fonte de alimentação para gerar e fornecer energia elétrica para a espoleta.
Algumas armas
usadas contra alvos de superfície, unidades de bomba de fragmentação (CBU) e
armas termobáricas (FAE), empregam espoletas de proximidade para detonar sua carga a uma altura predeterminada. Armas antipessoal com
ogivas unitárias são mais eficazes quando detonadas acima da área-alvo do que ao
contato. As espoletas de proximidade para essas aplicações podem funcionar
com rádio-altímetros ou sensores eletro-ópticos, ou mesmo com sensores de alcance de inclinação
que medem a distância da superfície no ponto projetado de impacto da arma.
Um meio de
seleção de sinal faz uso do princípio do radar, no qual o tempo decorrido entre
um pulso transmitido e seu retorno, é uma função da distância entre o alvo e a ogiva,
que também está dotada de um portão de alcance máximo, que torna a espoleta
insensível a retornos que estão mais distantes. Um circuito complementar passará
o sinal para iniciar a ogiva quando o tempo decorrido se reduzir a um valor
predeterminado. O uso do princípio doppler permite a seleção, no qual a
frequência do sinal recebido varia em função da velocidade relativa entre a ogiva
e o alvo. Isso permite a classificação de alvos de acordo com suas
velocidades, o que é útil na seleção de um alvo específico dentro de um grupo
de sinais de retorno de uma variedade de fontes.
A frequência doppler também
pode ser usada para determinar quando detonar a ogiva. Se o encontro for
frontal, o doppler mostraria um incremento relativamente alto do sinal de
retorno, em comparação com os níveis predeterminados estabelecidos no circuito
de espoletas, e a detonação da ogiva precisaria ser imediata para garantir que
atingisse o alvo e não passasse por ele. Se o rastreamento for pela retaguarda,
como em uma situação de perseguição, o retorno do doppler seria relativamente
baixo e, portanto, um retardo na detonação pode ser desejado para garantir um
acerto.
Mísseis
antiaéreos
Nas aplicações contra
alvos aéreos, a principal função da espoleta de proximidade é compensar os
erros terminais na trajetória da arma, causados pela fugacidade dos alvos, detonando a ogiva em um ponto calculado
para infligir um nível máximo de dano. Por causa das relações
cinemáticas entre a arma e o alvo, o ponto preferido de detonação não é, em geral,
o ponto de abordagem mais nítido da arma para o alvo. Em vez disso, o
engenheiro de sistema busca um projeto de espoleta que a inicie de maneira
adaptativa a ogiva dentro de uma janela de máxima eficácia para cada trajetória
que a ogiva provavelmente experimentará em uso operacional futuro. O intervalo
de explosão letal é definido como o intervalo intermediário ao longo da
trajetória em que a ogiva pode ser iniciada para atingir o alvo em sua área mais
vulnerável. É claro que esse ponto ideal nunca é atingido na prática, e a
intenção deve ser adaptada à praticidade.
Como compromisso, o engenheiro adota
um design prático, acessível e que maximize o número de detonações letais em
uma amostra representativa de todos os encontros postulados. O ponto real
de detonação em um determinado encontro é o resultado de parâmetros de projeto
de espoleta, velocidade do vetor da arma, localização do mecanismo de telemetria
da arma, lógica de controle da explosão e uma grande variedade de outros
fatores de influência, como contramedidas ativas ou passivas e efeitos ambientais.
Como exemplo, temos as ogivas de mísseis táticos que não são tão poderosas a ponto de devastar o alvo se detonadas em qualquer lugar nas proximidades. Além
disso, muitas ogivas não podem ser muito grandes ou pesadas sem comprometer
seriamente a velocidade, altitude, alcance e manobrabilidade dos
mísseis. Portanto, os fragmentos liberados pela ogiva devem ser entregues
nas áreas do alvo mais vulneráveis a danos: a cabine, os estágios do compressor
do motor e o sistema de controle de voo. Isso requer espoletas sofisticadas,
com controle preciso do momento de detonação.
Além disso, para
maximizar seu alcance letal, a ogiva é projetada de modo que os fragmentos
sejam confinados a uma zona estreita. Assim, uma densidade letal de
fragmentos é mantida em faixas muito maiores do que se os fragmentos fossem
dispersos isotropicamente. O espoleta de proximidade deve resolver esse
problema de convergência, agrupando em um padrão de fragmentos estreitos e às
regiões mais vulneráveis limitadas do alvo. Por exemplo um míssil se aproximando
do alvo por trás e passando acima ou abaixo do dele, portando sem um impacto
direto, deve procurar detonar quando a ogiva estiver o mais próxima de áreas ou
regiões mais vulneráveis, que devem ser atingidas para garantir um o abate. Ao
se aproximar, a espoleta de proximidade detecta a primeira extremidade do alvo
que penetra em seu padrão sensorial, iniciando uma série de eventos que
resultarão na detonação da ogiva no ponto mais apropriado. O retardo de tempo
que permite que o míssil atravesse deste ponto inicial ao ponto ideal varia em
função da velocidade relativa de enquadramento e variáveis das características
do alvo. Quando a ogiva for detonada no ponto supostamente ideal determinado pelo
mecanismo da espoleta, a soma vetorial da velocidade do míssil, da velocidade
de expansão da ogiva e da velocidade do alvo fará com que a componente de
fragmentos o atinja na região escolhida.
É evidente que a
situação do encontro terminal envolve a interação de muitos parâmetros que
dependem das características do alvo, características do míssil e relacionamentos
posicionais no momento do lançamento. O grau de variabilidade e incerteza
nesses parâmetros é aumentado pela capacidade de manobra e contramedidas do
alvo. Como a maioria dos mísseis é capaz de ataques de todos os quadrantes
(all aspect), e a velocidade do alvo pode variar em uma ampla faixa de valores,
a velocidade de enquadramento usada na equação de atraso de tempo pode variar em
10 vezes , por exemplo de 180 a 1.800 m/s.
O espectro de
alvos destinados ao míssil abrangerá alvos que podem ser pequenos, médios ou
grandes em tamanho físico, mas suas capacidades de velocidade variam a tal
ponto que um atraso de tempo selecionado pode ser bem-sucedido para um alvo e falho
para outro. Além disso, é possível que alvos muito longos em encontros de
alto ângulo de cruzamento apresentem apenas um metro quadrado ou menos de área
vulnerável à ogiva. Assim, as dimensões brutas do alvo não são muito úteis
como medidas de onde a ogiva deve ser melhor detonada.
Sendo
dispositivos sensores por natureza, os espoletas estão sujeitos a um amplo
espectro de influências perturbadoras no ambiente tático do mundo real. Um
dos principais pré-requisitos para um bom projeto de espoleta é, portanto,
conceber um sistema de sensor que discrimine o retorno real do alvo de todas as
influências indesejáveis possíveis, sejam elas sob a forma de contramedidas
eletrônicas ou ópticas, níveis intensos de radiação eletromagnética
característicos dos ambientes operacionais, fenômenos atmosféricos e confusão
de sinais de radar, como ocorre em voos com mísseis a baixa altitude.
Espoletas de Proximidade Magnetostáticas
Sensores
magnéticos, como detectores de anomalias magnética (MAD), medem mudanças no
campo magnético da Terra ou a presença de uma fonte de fluxo magnético. No
caso de sistemas de espoletas, um sensor magnético é projetado para reconhecer
uma anomalia e, finalmente, fazer com que o a o iniciador ative a carga
principal. Esse dispositivo de detecção de alvo pode ser projetado para
fechar um circuito de iniciação após uma perturbação do campo magnético da
Terra por um dos componentes magnéticos de um veículo ou embarcação. O alvo não
precisa necessariamente estar em movimento, embora possa ser empregado um
dispositivo de trava e segurança que exija uma certa taxa de movimento do
alvo. Minas que empregam esse princípio são comumente usadas. Outro
tipo de mecanismo empregado em minas é um circuito indutor. Este
dispositivo emprega o princípio de que um campo magnético induz um fluxo de
corrente elétrica em um condutor conforme o campo magnético muda em relação ao
condutor. A pequena tensão induzida na célula sensora é amplificada e, em
seguida, acionam o energizador do circuito de disparo, que por sua vez inicia o
detonador. A extrema simplicidade deste dispositivo o torna altamente
confiável e difícil de combater.
A espoleta de
ativação magnetostática também é usada para alvos submersos. Qualquer alteração
na magnitude do campo magnético ativa a espoleta. Uma espoleta de ativação
magnética oferece a possibilidade de danificar um alvo sem te-lo atingido
diretamente. Isso é importante, pois o potencial de dano é maior quando a
explosão da ogiva ocorre vários metros abaixo do casco, e não perto da
superfície da água. Os métodos mais avançados de iniciação de espoleta
operados pelo campo magnético de um navio empregam um sistema de detecção
eletromagnético. Esse sistema opera no que pode ser chamado de "princípio
gerador". Essencialmente, um gerador elétrico consiste em uma bobina
de fio girada em um campo magnético para produzir uma tensão. Da mesma
forma, uma pequena tensão é desenvolvida através de uma bobina de fio (a bobina
de busca) quando entra em contato com um campo magnético em movimento. No
entanto, um problema complexo pode ocorrer, devido ao fato de que o movimento
do próprio interceptador (torpedo) através da água cria sua própria mudança no
gradiente do campo e pode iniciar a espoleta mais cedo do que o
pretendido. Isso levou ao desenvolvimento do gradiômetro, um dispositivo
acoplado ao torpedo, que possui duas bobinas de busca com aproximadamente 30 cm
de distância e conectadas em séries opostas. À medida que o torpedo agora
equilibrado magneticamente se move no campo magnético da Terra, tensões iguais
e opostas são induzidas nas bobinas, e nenhuma tensão líquida resulta. Nas
proximidades de um casco de aço, a situação é diferente. Uma das duas
bobinas está um pouco mais próxima do navio que a outra, e, portanto, uma
voltagem ligeiramente diferente será induzida nela. Essa diferença é pequena,
mas, quando amplificada adequadamente, faz com que o dispositivo detonador inicie
a ogiva.
Espoletas de Proximidade Acústicas
Distúrbios acústicos,
como ruídos de hélices e máquinas ou vibrações no casco, sempre acompanham a
passagem de um navio pela água. A intensidade ou força da onda sonora
gerada depende de vários fatores, como tamanho, forma e tipo do
navio; número de hélices; tipo de maquinaria, etc. Portanto, o sinal
acústico de um navio é variável, e espoletas acústicas devem ser projetadas para
impedir que um sinal intenso acione a espoleta a distâncias muito além do raio
explosivo efetivo da carga útil. Este sistema emprega um hidrofone para
detectar a presença de um alvo. Um hidrofone típico funciona da mesma
forma que o ouvido humano. Um diafragma (correspondente a um tímpano) se
desprende pelo impacto das ondas sonoras subaquáticas. Essas vibrações são
transmitidas através de um meio de óleo para um cristal piezelétrico, que converte a energia
mecânica na energia elétrica necessária para iniciar o mecanismo de
disparo. A seletividade do mecanismo de disparo é tão crítica que apenas
os pulsos das características necessárias são enviados ao detonador. Ela é
necessária devido aos sons variados que são recebidos. Para distinguir
entre esses muitos sons, os mecanismos de disparo acústicos devem possuir um
tipo de recepção muito seletivo. Por exemplo, um grande cargueiro pode
ter um hélice grande girando lentamente, enquanto que um destroyer pode ter dois
hélices girando muito mais rápido. Um mecanismo de disparo acústico pode
distinguir entre o cargueiro e o destroyer e disparar no alvo
selecionado. Quando o mecanismo de disparo detecta um som com as
características necessárias (incluindo intensidade e taxa de mudança de
intensidade), inicia o circuito e dispara o detonador.
Mecanismos de
espoleta acústicos são usados em torpedos e em minas. Existem dois modos de
operação de torpedos acústicos, os tipos ativo e passivo. O tipo passivo
possui um dispositivo de retorno que guia o torpedo na direção do ruído alvo
mais forte. O tipo ativo emprega um conjunto de sonares que emite uma
série de sons que são refletidos de volta para um receptor. O princípio é
semelhante ao do radar. À medida que o torpedo se aproxima do alvo, é
necessário menos tempo para que um sinal chegue ao alvo e retorne. A uma
distância crítica predeterminada, inicia-se o circuito de disparo.
Espoletas de Proximidade Sísmicas
Um tipo similar aos
sensores de influência acústica usado em alguns tipos de minas é o mecanismo de
iniciação sísmico. Este sensor é essencialmente uma espoleta acústica, mas
recebe seu estímulo em uma largura de banda mais baixa através da vibração da armadura
da ogiva. Esses sensores podem ser extremamente sensíveis e se prestam à
aplicações em terra ou na água. Eles oferecem vantagens sobre os espoletas
acústicas puras, pois podem ser configurados em uma ampla variedade situações e
incorporar contramedidas. A maioria das novas minas usará uma espoleta
sísmica com outras espoletas de influência como um meio de garantir a ativação
da ogiva em um alvo válido, reduzindo a eficácia dos esforços de varredura.
Espoletas hidrostáticas (pressão)
A movimentação de
correntes nos oceanos e as suas ondas superficiais produzem variações de pressão
de magnitude considerável. As embarcações em movimento deslocam a água a
uma taxa constante. Esse fluxo contínuo de água é mensurável a distâncias
consideráveis da embarcação como variações de pressão que normalmente existem
na água. Vários mecanismos de medição de pressão podem ser usados em
espoletas para detectar essas variações. O diferencial de pressão se torna
mais pronunciado quando o navio está se movendo em águas confinadas, mas ainda
é considerável em mar aberto, mesmo a uma profundidade acentuada. Essa
variação de pressão, chamada de "assinatura de pressão" de uma
embarcação, é uma função da sua velocidade e deslocamento, e da profundidade no
ponto. Portanto, para evitar o disparo prematuro devido à ação das ondas,
os mecanismos de disparo por pressão são projetados de modo a não serem
afetados por flutuações rápidas. Os sensores de pressão são comumente
associados a minas de fundo e são extremamente difíceis de combater por meio de
técnicas normais de contramedidas de minas de influência. Os mecanismos de
disparo de pressão raramente são usados sozinhos, mas geralmente são combinados
com outros dispositivos de disparo de influência.
Iniciação por ação combinada
Os sistemas que
envolvem uma combinação de influências estão disponíveis na maioria dos
dispositivos de iniciação de minas. As combinações de sistemas magnéticos,
de pressão e acústicos/sísmicos são usadas para compensar as desvantagens de um
sistema com as vantagens de outro. A eficácia das contra-medidas da minas
pode ser bastante reduzida com o uso da difusão combinada. A teoria do
campo minado envolve uma análise detalhada e complexa, que está além do escopo
deste texto. Todo o campo minado deve ser considerado uma arma em um
cenário de lançamento e varredura, e vários alvos são programados contra ele
para determinar a eficácia geral. Por uma questão de simplicidade, nossa
discussão será restrita a uma única mina contra um único alvo. Os sensores
de influência descritos anteriormente podem ser considerados individualmente ou
em combinação. Independentemente da influência específica, existe um
nível limite que ativará a mina com base na configuração de sensibilidade da
arma. Obviamente, isso ocorrerá a alguma distância do alvo - a distância
sendo maior quanto mais sensível for o cenário da mina.
Deveria ser óbvio
que uma mina poderia ser configurada com tanta sensibilidade que poderia ser
detonada por uma influência do alvo, de modo que a explosão ocorresse fora de alcance. O alcance no qual uma mina
danifica um alvo é chamado de "esfera de dano". Do ponto de
vista do planejamento do campo minado, é importante otimizar a
configuração da mina para que a arma não detone até que o alvo esteja dentro da sua esfera de danos. Obviamente, o som da distância de atuação deve ser menor
ou igual à esfera de danos da mina. O problema se torna muito mais complexo
no planejamento real.
Cada classe-alvo tem sua própria assinatura
associada, bem como uma resistência relativa contra danos, e o encontro
entre navio e mina é grandemente influenciado por fatores como rumo e velocidade
do navio, estado ambiental e orientação da mina e do navio. É impossível
determinar todos esses fatores com exatidão; portanto, são feitas aproximações
em diferentes níveis de precisão. As probabilidades de atuação das minas e
as probabilidades de danos são calculadas com base em vários tipos de alvo e
minas, profundidades, velocidades, sensibilidades das minas, etc., e são publicadas
como informações classificadas para uso na metodologia de planejamento de
campos minados.
Confiabilidade
A confiabilidade
das funções básicas de detecção de alvo, engatilhamento e iniciação da ogiva é
obviamente antagônica à função de segurança de uma espoleta. Um iniciador que
detonará de maneira confiável a ogiva no momento do impacto, conceitualmente apresentará
uma falta de confiabilidade quanto a segurança se ela também detonar quando
cair durante o manuseio.
Para projetar uma
espoleta para ser confiável, um projetista pode comprometer a confiabilidade do processo de
armar ou detonar quando desejado. Um mecanismo de espoleta projetado para
não detonar por manuseio grosseiro, também pode ser tão insensível que a espoleta de contato não funcionará no impacto com o alvo. Um dispositivo
de trava e segurança de pressão projetado para detectar uma velocidade do ar
muito alta, pode não armar a tempo quando implantado contra alvos de curto
alcance. Existem vários métodos disponíveis utilizados pelo projetista
para aumentar a confiabilidade de armar e iniciar a detonação, mas também
aumentar garantir a segurança, sem comprometer a cada uma dessas funções paradoxais.
Confiabilidade
funcional
Embora o design
da espoleta deva enfatizar a segurança, o objetivo principal da ogiva é detonar
no momento apropriado. Portanto, a sequência de trava e segurança e os
dispositivos de detecção de alvo devem ter uma alta probabilidade de funcionar
corretamente quando receberem seu comando intencional de engatilhamento. Como em
qualquer dispositivo fabricado pelo homem, os componentes da espoleta devem se
basear em um design que vise a simplicidade, deixando de lado construções
excessivamente complexas. Antes que os critérios de confiabilidade possam
ser garantidos, todos os novos dispositivos de trava e segurança devem ser
extensivamente testados. Armas sofisticadas tem dispositivos de trava e
segurança que se armam com uma confiabilidade tão alta que menos de uma em cada
mil repetições acabam por falhar funcionalmente. Observe que uma falha
funcional não é a mesma coisa que uma falha de segurança.
A confiabilidade
funcional de todo o sistema de espoleta pode ser aumentada com a colocação de
mais de um tipo de sensor de alvo em paralelo e mais de um detonador no
dispositivo de trava e segurança. A maioria dos sistemas de espoleta de
mísseis possui um ou mais sensores de contato de reserva, além do sensor de
proximidade. Assim, a probabilidade de funcionamento da ogiva é
aumentada. Isso leva a outro princípio básico no design da espoleta, que diz
que um aumento redundante do número de componentes similares colocados em
paralelo no caminho de disparo aumentará a confiabilidade do armamento e do disparo.
Confiabilidade de
segurança
Como apontado
anteriormente na discussão sobre segurança, a confiabilidade da
segurança depende da operação sequencial bem-sucedida de componentes
redundantes. A falha de qualquer componente da série resulta na falha
geral de alcançar um status "armado". Assim, um
princípio fundamental semelhante no design de espoletas pode ser declarado como
um aumento redundante no número e tipos de dispositivos colocado em série no
caminho de iniciação aumenta a segurança e a confiabilidade de uma espoleta.
Segurança e falha
Uma falha de segurança é diferente de uma falha
funcional. Uma falha de segurança ocorre quando os componentes, por algum
motivo, deixam de manter a espoleta em uma condição segura quando desejado, e
ocorre um armamento prematuro. Assim, é dito que ocorreu uma falha de
segurança se a arma se tornar armada, a não ser que através de sua sequência normal
de detonação. A partir dessa definição, pode-se observar que, se uma falha
de segurança ocorrer, os componentes da série de um dispositivo de segurança e engatilhamento
devem funcionar simultaneamente de maneira que a arma esteja armada. Como
a probabilidade de um componente de um dispositivo de trava e segurança ter uma
falha de segurança é normalmente muito pequena, a probabilidade de três ou
quatro componentes terem uma falha de segurança simultaneamente é muito menor. Assim,
novamente, a redundância em série leva à confiabilidade do dispositivo.
A espoleta é o
subsistema funcional do sistema de munições que aciona a ogiva nas proximidades
do alvo e mantém a arma em condições seguras durante todas as fases anteriores
de manuseio e lançamento. Todos os sistemas de espoleta executam quatro
funções básicas: segurança, engatilhamento, reconhecimento ou detecção do alvo
e iniciação da ogiva. Todas as espoletas contêm algum tipo de dispositivo
de detecção de alvo, com todos os mísseis tendo um dispositivo de detecção de
proximidade eletromagnética. Estes dispositivos de detecção são
classificados de acordo com seu modo de operação: ativo, semi-ativo ou
passivo. Todas as espoletas contêm dispositivos de trava e segurança que
mantêm a arma segura através de uma série de componentes redundantes até que a
arma esteja distante o suficiente do ponto de lançamento. Nesse ponto, o
dispositivo de trava e segurança remove as barreiras do trem explosivo, armando
a arma.
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