FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 16 de setembro de 2018

Guerra na Montanha - Aspectos *154


Guerra na Paz

A partir de 1945, as conflagrações assumiram uma nova sofisticação; os avanços tecnológicos tornaram o treinamento e a preparação para a guerra muito diferentes do que eram nos anos 40. Mas ficaram ainda certos cenários sobre os quais a tecnologia teve menor impacto.

Um deste cenários mais críticos é a guerra em ambiente de montanha. Desde 1945, alguns dos conflitos mais amplos como a Guerra Civil Grega dos anos 40 e a Guerra no Afeganistão mais recente, foram essencialmente operações deste tipo, enquanto outros conflitos como a Guerra da Coréia e do Vietnam protagonizaram combates em larga escala em terreno montanhoso.

Analisando a experiência acumulada pelo British Army em mais de 40 anos em conflitos localizados envolvendo terrenos muito acidentados, chega-se a conclusão que estas operações são empreitadas foram campanhas mais contra a natureza do que contra exércitos hostis. Embora armas e equipamentos tenham passado por evolução significativa ao longo dos anos, as dificuldades e desafios de operar neste terreno, bem como seus princípios básicos tem se mantido inalterados ou com poucas variações.

No aspecto exclusivamente físico, as montanhas oferecem grandes obstáculos até mesmo para os bem equipados exércitos modernos. Na Guerra da Coréia a escalada da modesta colina 800 (500 m) em 1951, na linha defendida pela 2ª Divisão de infantaria dos EUA consumiu mais de 1 hora até o cume. Ao todo mais de 237 mil sacos de areia, 385 rolos de arame farpado e 6 mil estacas de aço além de outros ítens, foram levados ao topo para completar as defesas.



Durante a guerra fronteiriça entre Índia e China entre setembro e novembro de 1962, tropas indianas levaram 5 dias para ir dos contrafortes a posições defensivas, em altitudes superiores a 4.000 m na fronteira tibetana. Todo o equipamento foi carregado pelos próprios soldados, uma vez que mulas não podem ser utilizadas nestas altitudes; além disso os animais não poderiam cruzar as pontes de cordas finas, bambus ou madeira sobre os rápidos rios não vadeáveis da região.

Estas barreiras físicas são potencializadas pelas condições meteorológicas adversas associadas a grande altitude, especialmente no inverno. Em suas operações na região de Lárisa, na Grécia em abril de 1947, o Exército Nacional grego encontrou os corpos de 120 guerrilheiros, do chamado Exército Democrático (comunista) que não haviam resistido ao frio das montanhas. Também a maioria dos 1.300 soldados do Exército Democrático mortos nas imediações de Piería em março de 1948, pereceram de frio e não em combate.

A 1ª Divisão do Marines dos EUA em sua retirada através das montanhas, do reservatório de Chosin até o mar de Hungnam na Coréia em dezembro de 1950 levou 3 dias para vencer os primeiros 22 km. A evasão de Koto-ri em 6 de dezembro levou 38 horas para vencer 18 km sobre uma espessa geleira à temperaturas de -18º C com ulcerações representando um perigo maior que o próprio inimigo, sendo o número de feridos de 4.000 desta divisão pequeno se comparado aos mais de 7.000 que sucumbiram por outras causas, principalmente congelamento. Em 1962, quando tropas indianas operavam na fronteira tibetana, a falta de aclimatação às altas altitudes causou grande número de vítimas de edema pulmonar, doença quase sempre fatal, a menos que os enfermos sejam retirados para um local de menor altitude.

As montanhas são o terreno ideal para se desdobrar dispositivos defensivos, e por este motivo, desde 1945, tem sido comumente associadas à ações de guerrilha. As tropas do Exército Democrático Greco buscaram abrigo em mais de 100 aldeias montanhosas da Tessália e parte da Macedônia no inverno de 1947 e 1948, concentrando suas bases nas serras de Grammos e Vitsi (1.200 a 2.100 m), perto da Albânia e Iugoslávia. Os guerrilheiros de Fidel Castro refugiaram-se nos 6.500 km² de Sierra Maestra, e na ilha de Chipre os bandos do EOKA, comandados pelo coronel George Grivas, em luta pela união com a Grécia, abrigavam-se nas montanhas Troodos e Kyrenia, até 1.500 m de altitude.



Essas regiões oferecem à guerrilha inúmeras oportunidades de acossar tropas regulares inimigas com tiros de tocaia ou emboscadas, principalmente quando soldados com equipamento convencional se deslocam por desfiladeiros ou vales estreitos. Depois de atacarem os guerrilheiros podem escapar como os partisans de Josip Broz Tito fizeram na Iugoslávia durante a 2ª Guerra Mundial.

O coronel Grivas afirmava que sempre era possível encontrar brechas nas linhas inimigas. Certa vez (junho de 1956) ele escapou de um "cordão" inglês  nas montanhas Troodos, durante um incêndio florestal em que morreram 21 soldados ingleses; em outra ocasião (dezembro de 1956), ele escapou graças ao nevoeiro montês.

Os guerrilheiro gregos acumularam um experiência considerável combatendo as tropas alemãs de ocupação e registrando sucessos, como a destruição com auxílio dos ingleses, do importante viaduto ferroviário sobre a garganta de Gorgopotamos, em novembro de 1942. Esta experiência lhes deu base para as atividades do pós-guerra.

A sabotagem de estradas de ferro tornou-se uma prática constante, por este motivo as locomotivas passaram a ser precedidas por vagões que podiam ser destruídos. Além da colocação de minas no solo, as forças guerrilheiras gregas minavam arvores, soltavam nas encostas mulas conduzindo minas, rolavam feixes de explosivos montanha abaixo e provocavam desabamentos para obstruir caminhos. Os acessos aos seus baluartes nas montanhas Grammos e Vitsi eram bloqueados com toros de madeira e, em meados de 1949, com casamatas de concreto.

Ao mesmo tempo, no entanto, as operações comunistas demonstraram as dificuldades que a montanha pode oferecer a guerrilha. O despovoamento de aldeias montanhesas por decisão do governo e o temos de intimidação por parte dos guerrilheiros reduziram efetivamente o suprimento de alimentos e recrutas. As forças do governo dispunham dos mesmos recursos de outras tropas regulares em circunstâncias semelhantes, com uma linha normal de suprimentos que lhes garantia a provisão de alimentos e agasalhos para o frio. Os rebeldes, ao contrário, dependiam de transporte em lombos de mula, precários e vulneráveis a ataques aéreos.

A capacidade do Exército Nacional de prosseguir as operações no inverno foi um fator decisivo na derrota do Exército Democrático, bem como a exagerada confiança deste em sua capacidade de conservar os baluartes nas montanhas, tentando resistir às ofensivas. Considere ainda que embora florestas montanhosas escondam guerrilheiros, como no caso das montanhas anamitas no Vietnam, ou em Sierra Maestra e em Chipre, as encostas nuas da Grécia ou do Afeganistão fazem com que os guerrilheiros só se movimentem com segurança durante a noite.

Forças convencionais em ação nas montanhas devem observar, ainda hoje, antigos princípios básicos como a ocupação dos cumes, instalação de piquetes e pontos de controle a fim de previnir a incursão não autoriza pelos flancos e permitir melhor observação e domínio da área. Sem estes cuidados a situação pode se tornar muito perigosa. A 2ª Divisão de Infantaria dos EUA perdeu 3 mil homens, vítimas de morteiros e metralhadoras, ao serem surpreendidos no desfiladeiro de Kunuri, durante a retirada para Chongchon, na Coréia em 1950.

De igual modo, admite-se que o Exército de Libertação do Povo (chinês) perdeu muitos homens em imprudentes assaltos frontais nas gargantas do Vietnam do Norte em 1979. As tropas chinesas ignoravam a existência de outro cume na montanha Gao Bao Ling e vários picos vizinhos simplesmente não constavam em suas cartas.

Contudo armas e equipamentos modernos simplificaram muitos dos problemas na luta de montanha.Na Grécia os baluartes de Grammos e Vitsi foram conquistados com o auxílio de 2 esquadrilhas de Spitfire, e a maioria dos 3.128 mortos e 6 mil feridos do Exército Democrático nas operações de Grammos foi vítima de ataques aéreos (1948).

Depois que o restante do Exército Democrático retornou a Grammos no ano seguinte, a ofensiva do Exército Nacional foi liderada por 52 Curtiss Helldiver com artilharia aérea. Nas operações em Áden em 1950-60, o British Army usou carros blindados para disparar contra concentrações nacionalistas alojadas nas encostas fora da visão da infantaria, enquanto helicópteros estabeleciam o controle do alto das colinas.



Durante as operações em Radfan (Iêmen, maio de 1964). por exemplo, homens do comando 45 foram lançado no alto do pico "Cap Badge" de onde puderam dominar as encostas, eliminando os franco-atiradores que detinham o avanço de baixo.

No Vietnam, os helicópteros foram o fator decisivo na solução de problemas logísticos. A Força-Tarefa Remagen, da 1ª Brigada da 5ª Divisão de Infantaria Mecanizada dos EUA, conseguiu manter-se na zona montanhosa desmilitarizada durante os 47 dias da Operação Montana Mauler (março e abril de 1969) graças a pesados helicópteros cargueiros Chinook, com dispositivo especial para deslizar a carga até o solo e assim dispensar a aterrissagem. O progresso em terra firme foi auxiliado por 2 veículos blindados que estendiam pontes (AVLBs) sobre rios onde elas não existiam ou haviam sido destruídas.

Equipamento avançado e potência aérea não oferecem necessariamente todas as soluções. Em 1962, os Fairchild Packet da Força Aérea Indiana não podiam voar lenta ou suficientemente baixo para atingir uma confinada zona na fronteira tibetana, nas poucas horas do dia em que a área não estava encoberta pelas nuvens. Helicópteros só podiam aterrizar um lugares razoavelmente planos e firmes, e mesmo para pairar sobre a superfície eles necessitavam de uma área desobstruída. O desempenho do helicóptero também é afetado pela altitude. A 900 m. um helicóptero requer um ângulo de 20º para se aproximar da área de arerrissagem; já em altitudes superiores a 1.500 m é necessário acesso quase completamente plano.

Helicópteros e aviões também são afetados pela turbulência e correntes de ar existentes em montanhas. Durante a operação Mare`s Nest em Chipre (encerrada em janeiro de 1959), a turbulência atmosférica impediu que helicópteros Sycamore e Whirlwind da RAF pairassem sobre os picos e os soldados não conseguiram descer usando cordas. Em consequência, apenas 2 postos de observação foram estabelecidos.

Também o poderio aéreo nem sempre tem o efeito militar desejado. Em Cuba, as florestas de Sierra Maestra eram de tal forma densas e úmidas, que as bombas, mesmo as de napalm, lançadas pela aviação do governo raramente produziam muitos efeitos além de 45 m do ponto de impacto. O bombardeio das encostas florestais de Aberdare, no Quênia, durante o surgimento dos Mau Mau nos anos 50, revelou-se de eficiência tão duvidosa que foi abandonado como uma medida contraproducente.

Durante a operação Lam Son 719, no Laos em fevereiro-abril de 1971, forças dos EUA e do Vietnam do Sul fizeram o uso extensivo de helicópteros, mas poucas áreas eram adequadas a aterrissagem na área montanhosa; e a chuva, a neblina e as constantes nuvens baixas durante as monções, obrigavam pilotos dos aviões de apoio terrestre a manter altitudes baixa. Em consequência, as baterias antiaéreas  do ENV puderam impedir. em muitos casos, um apoio aéreo eficiente. Os americanos e sul-vietnamitas perderam 108 helicópteros e 7 aviões.

Para os guerrilheiros Mujahidins do Afeganistão, era assustadora a aproximação do Mi-24 soviéticos com lança-foguetes, canhão giratório de 1.000 projéteis por minuto, mísseis e bombas. este helicóptero pode aniquilar uma aldeia inteira  em pouco tempo, mas até mesmo ele não é invulnerável ao fogo do solo, e acredita-se que os afegão conseguiram derrubar cerca de 4 aparelhos deste tipo, durante a incursão soviética no vale Panjshir em agosto-setembro de 1981. Nem mesmo a maciça superioridade soviética em equipamento e potência de fogo consegui derrotar os guerrilheiros, embora a URSS tenha tido, talvez, apenas o objetivo de controlar só as principais cidades e estardas afegãs.

Para o soldado soviético, no entanto, o padrão da guerra de montanha não é muito diferente da experiência do soldado inglês que esteve no Afeganistão, 1 século antes. Um soviético anotou em seu diário: " Houve um duro combate e podíamos ver os Mujahidins, a cavalo, atacando nossas posições de artilharia e disparando contra nossos aviões. Estávamos ficando desesperados ". Outro escreveu à família: " Que lugar horrível, quase sempre congelado ou então insuportavelmente quente, e ainda não sei quando sairemos daqui". estes papeis foram encontrados nos bolsos de 2 soldados mortos pelos guerrilheiros, após um a emboscada bem sucedida na província de Baglan, ao norte de Cabul em meados de 1981.

domingo, 2 de setembro de 2018

O Sistema Artilharia de Campanha #153



A artilharia de campanha é um sistema relativamente complexo, que ao contrário de um grupo de combate de infantaria (GC) ou um pelotão de carros de combate que pode combater de forma isolada, necessita de pelo menos 3 operadores sem os quais não tem como realizar o tiro.

São estes a linha de fogo (LF), o observador avançador (OA) e a central de tiro (C Tir). A artilharia age em proveito da arma-base e posiciona-se a retaguarda desta pronta para atender seus pedidos de fogo. Esta distância depende do alcance do material disponível, que não é empregado no seu limite quando do posicionamento das baterias, pois esta prática sacrificaria a flexibilidade do tiro que tem como uma de suas características a capacidade de ser transportado rapidamente de um ponto a outro sem que os obuses tenham que trocar de posição. Vale lembrar que sempre que existir o risco de fogo de contrabateria deve-se trocar de posição imediatamente após a missão de tiro ter sido concluída.



Uma bateria de artilharia posiciona-se alguns quilômetros à retaguarda da tropa apoiada, geralmente protegida por uma massa de cobertura (elevação) quando esta existir, e dispara seus projéteis em trajetória balística nos alvos que lhes forem designados, muitas vezes por cima das cabeças dos combatentes que estão em contato direto com o inimigo.

Devido a esta distância, é impraticável que as baterias possam visualizar seus alvos, cabendo esta função ao observador avançado. Este acompanha ou não os pelotões da tropa apoiada e em contato com seus comandantes, elabora os pedidos de tiro com base nas necessidades táticas destes. Estes pedidos são transmitidos à central de tiro, que os transforma em elementos de tiro (deriva e elevação), que por sua vez são alimentados nos aparelhos de pontaria das baterias para que as missões de tiro possam ser desencadeadas. Estes pedidos de tiro são transmitidos tradicionalmente via rádio ou telefone, e mais recentemente via link de dados, o que denota a importância de um eficiente sistema de comunicações que apoie o trabalho dos operadores do tiro. Podemos considerar estas ligações de direção de tiro (comunicações) como um quarto operador do sistema de artilharia de campanha.

Uma missão de tiro inicia-se com um pedido de tiro vindo do OA, de um componente da arma-base, da artilharia divisionária, do comando do escalão superior ou outro ator que necessite de apoio de fogo. São repassados neste pedido as coordenadas do alvo no caso de outros "clientes", e em se tratando do OA, cuja posição no terreno é conhecida pela C Tir, do ângulo do alvo em relação ao norte partindo da sua posição e a distância que o alvo encontra-se deste. Utilizando-se de meios modernos esta posição pode ser determinada automaticamente por dados de GPS transmitidos via data-link, e o pedido é inserido automaticamente no computador do coordenador de fogos, seja da artilharia divisionária ou de exército (central de tiro de alto escalão cuja função é administrar a distribuição às diversas linhas de fogo, os pedidos de tiro vindo de inúmeras fontes) ou do próprio grupo de artilharia, dependendo da vinculação operacional em que se esteja inserido.



De posse das coordenadas do alvo, informadas ou calculadas a partir da posição do OA, a C Tir mede a distância do alvo ao centro de bateria obtendo o alcance a ser utilizado, e consultando tabelas de tiro pré-calculadas para cada alcance obtém a alça (ângulo de tiro) a ser alimentando na peça de artilharia, assim como determina a carga necessária (quantidade de carga de projeção - pólvora a ser utilizada). Mede também o ângulo horizontal (deriva) em relação ao ponto de referência que está sendo utilizado para a pontaria da bateria. Calcula ainda o ângulo de sítio que é negativo se a bateria estiver em um plano mais alto que o alvo e positivo em caso contrário. Podemos visualizar o ângulo de sítio imaginando um triângulo-retângulo no plano vertical e cujas extremidades da hipotenusa sejas as posições do alvo e do centro de bateria. O ângulo formado pela hipotenusa e o plano horizontal é o ângulo de sítio. Este ângulo de sítio é somado a alça anteriormente calculada pela tabela de tiro, resultando na elevação a ser alimentada no aparelho de pontaria da bateria.




Este elementos de tiro (elevação e deriva) são informados ao comandante de linha de fogo (CLF) que os utiliza para efetuar a pontaria das peças. Utilizando-se de meios modernos todo este processo pode ser automático, visto que as peças, o alvo e o OA tem suas posições determinadas por GPS e são de conhecimento do computador balístico. Este pode apontar a peça ou auxiliar na sua pontaria. O OA informa ainda as características do alvo para que a C Tir determine a modalidade de tiro e o tipo de munição a ser usada, bem como a especificação da espoleta para aquela missão, e o número de disparos a ser desencadeado por cada peça.





O CLF após apontar sua bateria e comandar que as peças sejam carregadas autoriza o disparo de acordo com a modalidade de tiro. O tiro, após cumprir sua trajetória balística e ser informado ao OA seu desencadeamento, impacta na área do alvo, é observado pelo OA que comanda a C Tir sua correção, para a esquerda ou direita, mais longo ou mais curto até que satisfaça as especificações de letalidade e precisão, quando é desencadeado na sua forma final de eficácia.

Todo este processo pode se dar por comandos manuais ou de forma altamente automatizada, dependendo da tecnologia disponível. Modernamente utiliza-se localizadores GPS, binóculos com telêmetros eletrônicos para a determinação de distâncias, computadores de coordenação de fogos e balísticos que calculam de forma rápida e precisa os elementos de tiro, tudo interligado por enlaces de dados (NCW). Os alvos são alimentados a partir de uma infinidade de fontes nos computadores de coordenação de fogos, selecionados e priorizados em centrais especialmente dedicadas como as centrais das artilharias divisionárias e de exército, e autorizados conforme sua prioridade.

Uma vez que a linha de fogo está sob a comando do CLF, cabe ao comandante da bateria a tarefa de reconhecimento de rotas e posições de troca, de forma que a bateria conta com um plano de emprego constantemente atualizado. Neste reconhecimento o oficial comandante leva em consideração as facilidades de acesso e espaço para desdobramento, resistência do terreno e sua capacidade de suportar o desdobramento da bateria, cobertura e ocultação, contaminação, distâncias e tempo para as percorrer, obstáculos e forças inimigas. Uma equipe, que pode contar com o CLF, pode chegar a nova posição e apontar a bateria, mesmo ela não estando lá ainda.

Um sistema completo de artilharia de campanha envolve ainda elementos de busca de alvos mais sofisticados que podem incluir meios aéreos como drones, operadores de topografia e meteorologia, componentes logísticos e de comando e controle tático. Se houver tempo de realizar um trabalho de topografia, as baterias contarão com elementos de tiro bem mais precisos. Esta descrição procura apenas explicitar de forma simplificada o funcionamento do sistema de observação e fogo, que são o mínimo para que o tiro se realize.



sábado, 18 de agosto de 2018

Controle do fogo de infantaria *152




O Combate de infantaria é um empreitada dinâmica, perigosa e violenta, e o combatente deve reagir a ele de forma a preservar a integridade física sua e de seus companheiros, e ao mesmo tempo saber aplicar sobre o inimigo a fração de poder militar que lhe compete em tempo real. O poder militar é aplicado em combate através do fogo, que deve ser desencadeado pelo indivíduo obedecendo a critérios internalizados na mente do soldado através de seu treinamento, maximizando seus efeitos e evitando colocar-se em situação de vulnerabilidade, através de regras pré-definidas, consagradas pela doutrina, porém sem tolher a iniciativa de cada um que deve ser incentivada. O treinamento constante e adequado elucidará, na mente do combatente, a diferença entre a desejável iniciativa e o excesso dela que pode resultar em imprudência.

Ao empregar seu poder de fogo, o infante deverá procurar fazê-lo seguindo as diretrizes de seu comandante imediato, tendo consciência de onde estão ou estarão seus companheiros e minimizando sua exposição, maximizando a segurança de todos. A prioridade de fogo deverá visar a ameaça mais imediata e perigosa, através do emprego da arma mais adequada à situação e sem dispensar excesso de munição sobre um alvo inutilmente. O emprego combinado de 2 ou mais armas sobre um mesmo alvo poderá ser o mais adequado em determinadas situações, onde a massificação dos disparos trará efeitos superiores e resultados mais satisfatórios. Deve-se ter ainda em mente a disponibilidade de munição e um plano de contingência para o caso desta escassear. Cabe a todos e especialmente ao líder zelar por estas práticas em observação aos princípios da massa, proteção e economia de meios. 

O líder controlará os fogos de seus subordinados, seja através de diretrizes temporárias, que podem ser de ordem tática, técnica ou legal, sempre dentro das Regras de Engajamento da situação. Algumas razões para este controle são a quantidade limitada de munição, a disciplina de segurança do local em questão e a disciplina de sigilo da operação, entre outros.

Os fogos podem ser de efeito massificado ou de precisão, e a situação tática ditará qual deles usar. A metralhadora e as granadas são os responsáveis pelo maior volume dos fogos, a aos fuzis caberá a função de cobertura. Aos alvos mais “difíceis” reserva-se o fogo dos lança-rojões, e quando assim o exigir a complexidade da situação ou pela insuficiência das armas orgânicas, solicita-se o apoio dos morteiros, artilharia de campanha e naval, carros de combate e aviação de apoio. Os fogos de precisão são geralmente reservados aos atiradores com fuzis especiais e seus aparelhos de pontaria mais apurados, e na ausência destes aos fuzileiros com fuzis padrão. Um grupamento qualquer, operando no terreno, tem um ganho significativo em sua segurança se cobertos pelo fogo de 1 ou 2 atiradores de precisão posicionados em um lugar elevado a retaguarda deles.

O combate requer superioridade de fogos, que é obtida através da massificação deles em pontos críticos, através do emprego combinado dos meios disponíveis, na busca de resultados decisivos. Ao entrar em combate, deve-se fazê-lo com violência e objetivo, a fim de se alcançar resultados decisivos em tempo mínimo, poupando meios e reduzindo os riscos. Os fogos devem ser aplicados sempre em parceria com a manobra, atirando para poder manobrar e manobrando para posicionar-se nos melhores locais para fazer fogo. Na busca da superioridade de fogos os fuzileiros atiram em setores predefinidos para cada um, com campos de tiro sobrepostos, apoiando-se mutuamente, combinando armas de tiro tenso e curvo, sempre focando em pontos mais vulneráveis, com munição de natureza variada de acordo com a situação tática. Alvos podem ser pontuais ou de área, com cada um demandando a arma e munição mais adequadas.


Ao líder de infantaria caberá a avaliação dos fogos de preparação, que devem ser requisitados sempre que disponíveis e adequados, de forma a oferecer ao infante um alvo já debilitado. A artilharia de campanha, os morteiros orgânicos, os carros de combate e a aviação tática estão ali para isso, e devem ser usados. Seja no ataque ou na defesa, estes fogos de apoio contribuem significativamente par reduzir os riscos e facilitar a sua manobra e eficácia.

Os fogos de apoio devem ser inicialmente intensos, prontamente ajustados e cronometrados para que cessem no tempo previsto. Seus efeitos tendem a diminuir com o tempo pois o inimigo adapta-se a eles. Grandes volumes entregues em tempo curto causam danos e choque máximos. Fogos longos retardam o avanço e podem permitir ao inimigo reposicionar-se, recuperar-se e reagir.

Os primeiros fogos devem ser concentrados de forma a permitir o movimento, e para tal são definidos setores de fogo e corredores de manobra, sempre procurando o centro de gravidade tático do momento. Neste momento procura-se alcançar posições ocultas e cobertas, maximizando a proteção da tropa, e ao mesmo tempo permitindo a instalação de boas bases de fogo. A avaliação feita a partir daí definem as capacidades e intenções inimigas, a partir da observação própria e de elementos de vigilância e reconhecimento. Por fim, empenha-se junto ao inimigo o esforço decisivo com ações sincronizadas entre os meios orgânicos e de apoio para aplicar o poder de combate necessário a um desfecho favorável, rápido e procurando manter a integridade da tropa. Uma unidade que sofreu pouco atrito estará pronta para o próximo embate antes de outra mais "cansada".

Toda manobra, seja qual for seu porte contará com um plano de fogo que levará em conta a situação tática e a natureza dos alvos, a munição e os meios disponíveis, a necessidade de fogos não orgânicos e sua duração, o uso de fumígenos e munição especial e os meios de comunicação. Prioriza-se os alvos que representem maior ameaça e os mais próximos, levando em conta o alcance útil de cada uma das armas disponíveis. Fogos excessivos desperdiçam munição que pode fazer falta mais tarde. O uso de marcadores de alvo (eletrônicos, IR, traçantes) é útil em situações de visibilidade limitada.

Os líderes e os operadores devem conhecer as possibilidades e efeitos de cada tipo de arma e munição, de forma a melhor avaliar seus efeitos sobre o alvo. Por exemplo: um ATGW com ogiva HEAT não pode perfurar a blindagem frontal de um MBT moderno, mas pode sim danificar seu trem de rolamento e imobilizar o veículo; metralhadoras médias são efetivas contras veículos não blindados até 1000 m e lança-rojões até 450 m. O fogo deve ser desencadeado o mais cedo possível, com as armas de maior alcance disparando primeiro e forçando o inimigo a reagir o quanto antes, desembarcando e impedindo que sigam seus planos. Deve-se usar cada sistema de armas dentro de seu alcance efetivo, escalonando a profundidade do fogo, debilitando o inimigo a medida que se aproxima, evitando que o combate aproximado seja contra um oponente organizado.



Ao fazer fogo os combatentes devem procurar manter o mínimo de exposição, e quando o fizerem procurar os momentos em que o fogo de cobertura estiver ativo, sempre fazendo com fogo efetivo, sem hesitações. Dobras do terreno, sejam naturais ou preparadas, oferecem abrigo natural; e engajamento pelos flancos e retaguarda, disparo de múltiplas posições e disparos curtos e inesperados reduzem a exposição.

Saber onde está seu companheiro, sua tropa amiga, evita o fogo amigo, bem como conhecer os planos de ataque e manter comunicações constantes. Aos líderes cabe esta tarefa de coordenar seus comandados a fim de evitar acidentes, orientando-os e sabendo onde estão cada uma de suas subunidades. O campo de batalha moderno é multidimensional e muitas vezes não existe “front” definido, exigindo uma coordenação espacial mais apurada de cada elemento. 

Durante progressões sob condições de visibilidade limitada pode-se usar marcações térmicas ou por IR para sinalizar o progresso de cada fração, evitando que frações adjacentes disparem umas contra as outras. Luzes químicas podem ser ligadas em seqüência para marcar um corredor já percorrido, porém deve-se assegurar que estas marcações não possam ser vistas pelo inimigo, por exemplo, se ele dispuser de capacidade de visão noturna infravermelha.

Nevoeiro denso, chuva, tempestades de areia e o uso de fumígenos pelo inimigo podem reduzir significativamente a capacidade do líder de controlar os fogos diretos dos seus. Nesta condições deve-se fazer o uso máximo do equipamento disponível como miras térmicas e sistemas de visão noturna que permitem aos esquadrões manterem o contato com o inimigo como se o engajamento fosse em dia claro.

Nada se faz sem um plano, e nele se considera todos os ativos disponíveis, sempre com medidas alternativas para o caso de equipamento ou pessoal ter sido colocado fora de combate. Capacidades redundantes e ocorrências mais prováveis devem ser a diretriz principal, como por exemplo, setores de fogo alternativos para o caso de elementos ficarem incapacitados.

O combate se vence pelo fogo bem administrado e efetivo, quebrando o poder de combate do inimigo e preservando a integridade dos meios a disposição e do pessoal que integra a tropa própria e aliada.



domingo, 12 de agosto de 2018

O Míssil Antirradiação (ARM) #151




O Míssil antirradiação (ARM) é um projétil destinado a neutralizar sistemas emissores de radiação como radares de vigilância e diretores de tiro a fim de inviabilizar a operacionalidade de baterias antiaéreas, através da busca da radiação emitida pelo alvo, operando desta forma sensores passivos de busca. É um equipamento complexo e difícil de desenvolver, porém de altíssimo valor militar e tecnicamente destina-se a realizar as missões de supressão de defesas (SEAD).

Contrapor a ameaça aérea é uma das grandes prioridades de qualquer força armada, pois ela representa a ponta de lança de qualquer ação militar e seu poder de destruição é verdadeiramente devastador. Na guerra moderna as forças em combate tem como missão inicial a conquista da supremacia aérea, que nada mais é que o domínio do espaço aéreo para que os meios aéreos próprios ou aliados possam voar suas missões de combate em relativa segurança (superioridade aérea) ou mesmo em segurança absoluta (supremacia aérea).

A campanha inicia-se com ações aéreas suportadas por intenso apoio de EW a fim de neutralizar a aviação de defesa aérea inimiga, seja em combates ar-ar abatendo os caças no ar, ou bombardeando bases aéreas com sua infraestrutura de alerta e detecção, bem como a aviação que se encontra em terra. Esta ação inicial pode se dar de duas formas: a primeira em condição de surpresa total com a maioria das aeronaves em terra e cujo protagonista será o bombardeio das bases e suas defesas de ponto, ou uma condição em que o inimigo esteja esperando o ataque, e neste caso, com uma parcela significativa de seu elemento de alerta voando em patrulhas de combate aéreo (CAP). Um exemplo clássico da primeira condição foi materializado na Guerra dos Seis Dias em 1967, onde a aviação de Israel destruiu em terra a quase totalidade da aviação egípcia.

Uma vez alcançada esta condição de liberdade operacional, onde a aviação de defesa aérea do inimigo não representa mais uma ameaça significativa, ou mesmo quando o alerta aéreo inimigo está relaxado e a defesa baseada em terra é o meio de reação mais imediato, os atacantes aéreos tem que se preocupar com os sistemas de defesa aérea localizados em torno das bases aéreas em momentos iniciais, e posteriormente numa segunda fase da campanha em pontos sensíveis como parques industriais, bases militares, usinas de energia e outros alvos ganham importância, e estão cobertos por redes antiaéreas baseada em terra.

Estes sistemas de defesa antiaérea, geralmente baseados em SAMs de médio e longo alcance e canhões de tiro rápido, tem seus disparos endereçados por sistema de radar. Sejam radares de vigilância e alerta antecipado ou diretores de tiro, neutralizar a capacidade destes sistemas significa colocar as armas propriamente ditas (SAMs) em condição de “cegueira” operacional, impedindo que sejam disparadas com efetividade.



O míssil antirradiação (ARM) visa alcançar estas antenas de sistemas RADAR e colocá-los foram de combate antes que qualquer ação de defesa aérea possa ser implementada, uma vez que é guiado através da radiação emitida por estas antenas, não alertando o inimigo sobre sua aproximação, salvo de for captado pelo próprio RADAR. São utilizados por aeronaves que voam a frente dos escalões de bombardeio propriamente ditos, e disparados a fim de criar um corredor livre de alerta aéreo para que o “grosso” destes possam alcançar em relativa segurança seus alvos no solo, que poderão inclusive ser as próprias baterias antiaéreas.

Estes mísseis são construídos para seguir a radiação inimiga, e portanto não são eficazes contra qualquer outro tipo de alvo. As antenas deste sistemas-ameaça são alvos pouco resistentes, de forma que os mísseis não precisam carregar uma carga explosiva muito potente, sendo que até um impacto sem explosão pode ser suficiente para colocar o sistema inoperante. Aeronaves que portam ARMs geralmente levam também outros petardos para destruir fisicamente o restante do sistema, depois da antena do alerta estar neutralizada.

Muitas vezes os operadores dos sistemas de alerta ao simplesmente "desconfiarem" da aproximação destes mísseis, os desligam para evitar “impacto”, cegando seus “seekers”, fazendo com que o sistema de defesa fique inoperante e míssil mesmo assim cumpra sua missão, pois neutralizou o sistema. Outra forma de contramedida é a instalação de chamarizes (mais de uma) nas imediações do radar atacado que transmitam na mesma RF do RADAR-alvo. Os chamarizes emitem pulsos em intermitência com o radar verdadeiro, fazendo com que o foco do míssil comece a vagar não selecionando qualquer um deles. Modelos mais sofisticados tem a capacidade de “memorizar” a posição do alvo captada antes de seu desligamento, fazendo que voo se dê a um ponto provável.

Os primeiros ARMs como o AGM-45 Shrike usado na Guerra das Falklands/Malvinas não possuíam a capacidade de acertar seu alvos se o RADAR desligasse suas antenas. Modelos posteriores com o AGM-78 Standard e AGM-88 Harm passaram a contar com sistemas INS que permitem a memorização da posição do alvo e seu curso até lá. O modelo europeu ALARM possui um paraquedas que permite que desça lentamente até que o RADAR volte a ser ligado, quando volta a acender seu motor.

Possuem modos diversos de operação, podendo ter seu alvo designado por “travamento” através do RWR da aeronave, por inserção de coordenadas em sua memória de forma manual valendo-se de seu GPS e INS. Podem ainda ser lançados sem alvo definido esperando-se que o adquiria durante o voo num engajamento de oportunidade (Stand-Alone).

Na década de 2010 A FAB solicitou aos EUA a compra de um lote de mísseis AGM-88 Harm, o qual foi negado sob a alegação de que não era interessante (para eles) a introdução deste tipo de arma no cenário latino-americano. Em resposta o DCTA partiu para o desenvolvimento de um modelo nacional, hoje denominado MAR-1 e já operacional. É um projeto ainda envolto em mistério mas sabe-se que é capaz de detectar radares de baixa potência como o Skyguard a 500 km de distância, possui um ogiva de 90 Kg e alcance desconhecido, especulado em torno de 60 km. Sua velocidade é próxima a do som e dimensões similares ao ALARM, porém menor que este, pesando 266 kg.



domingo, 5 de agosto de 2018

Os Soldados de "Omaha Beach" *150




No dia 06 de junho de 1944, 34 mil soldados norte-americanos embarcaram em uma missão decisiva. Em média eles tinham 22 anos e muitos acreditavam que não conseguiriam voltar. A Europa estava ocupada pelos nazistas, e os Exércitos Aliados lançaram a maior operação anfíbia da história, visando a reconquista deste território, contra um litoral fortemente defendido pelas forças alemãs. A "Operação Overlord" iniciou-se com um lançamento em massa de cerca de 3 divisões aeroterrestres e o assalto anfíbio à 5 praias denominadas "Utah", "Omaha", "Sword", "Gold" e "Juno", nome este código para efeito militar. Aos paraquedistas cabia proteger os anfíbios quanto a chegada de reforços, e aos anfíbios a consolidação de uma cabeça de praia para possibilitar que o "grosso" das tropas aliadas pudessem desembarcar em segurança. Era uma chance única e não podia dar errado.

Mas para cada um dos soldados americanos que desembarcou em "Omaha Beach", só o fato de chegar em terra já era uma conquista, pois foi uma corrida pela sobrevivência. Esta batalha épica de 12 horas pelas conquista de uma cabeça de praia na mais "difícil" das 5 escolhidas, marcou esta grande operação de retomada da Europa Ocidental, que mesmo minuciosamente planejada apresentou muitas falhas, tal sua magnitude e a dificuldade de se implementar um assalto sem precedentes.

Fatores surpreendentes e artimanhas extraordinárias marcaram esta operação que tantas vidas custaram aos exércitos envolvidos. Não foram apenas homens e armas, mas truques de ilusionismo e invenções bizarras como carros de combate adaptados como viaturas anfíbias de forma improvisada, paraquedistas falsos que explodiam e mensagens passadas através de pombos-correio. Fatores como a previsão do tempo ou a fivela do arnês dos paraquedas influenciaram significativamente o que estava por vir. Mesmo em um episódio onde defesas engenhosas a estratégias clássicas de defesa espalhadas ao largo de 300 metros de areia exposta, o desfecho dependeu de liderança e bravura, onde a determinação de homens, que vendo seus colegas tombarem sob o incessante fogos de morteiros e automáticas alemães, lograram por conquistar seu objetivo a duras penas.

Após 5 anos do início da 2ª Guerra Mundial o futuro da Europa estava ameaçado. O Nazistas de Hitler ocuparam todo o continente e os Estados Unidos e a Inglaterra encabeçavam uma luta de oposição aos invasores, juntamente com seus aliados. Eram 06:00 AM ao largo do litoral norte francês, e uma primeira onda de 8 companhias do US Army posicionava-se para desembarcar em “Omaha Beach” e iniciar uma das mais memoráveis batalhas de todos os tempos. Centenas de homens apreensivos aguardavam, cientes de enfrentariam uma empreitada difícil e que muitos não voltariam. Era o batismo de fogo da maioria e o silêncio imperava dentro dos lanchões de desembarque, pois todos sabiam o que iriam enfrentar.



Um contingente de 1.200 militares alemães defendiam esta praia, equipados com a mais rápida metralhadora do mundo, a excepcional MG 42, que possuía uma cadência 2x maior que a Browning dos assaltantes.  Seus tiros não podem ser ouvidos individualmente e seu som assemelha-se a um tecido sendo rasgado. Seu ferrolho dotado de cilindros deslizantes lhe proporcionava uma cadência de 1.500 tpm a 880 m/s, disparando 50 tiros em 2,5 s e requerendo troca de cano a cada 400 disparos para evitar superaquecimento. 5 destas armas começaram a atingir incessantemente os lanchões, antes que qualquer soldado saísse deles, com 125 projéteis chegando a cada segundo. O sucesso do desembarque dependia do silenciamento delas, o mais rápido possível. Este foi um grave erro de planejamento: um veículo blindado e especialmente adaptado para o desembarque, para neutralizar as MG 42 deveria fazer a ponta de lança do assalto, e ainda deveria ter acontecido intensa preparação por parte da artilharia naval, o que não aconteceu, pois confiou-se nos bombardeios aéreos. Esqueceram que nuvens não estão nem aí para planos militares. Mergulhadores de combate poderiam ter minado os obstáculos anti-desembarque, para que os carros de combate pudessem fazer a vanguarda.

O mar estava desfavorável, com forte balanço e água entrado no interior dos lanchões. A US Navy, no intuito de aumentar o moral dos soldados, lhes serviu uma refeição pesada algumas horas antes. Esta refeição aliada ao balanço constante da embarcação, dentro da qual os soldados tiveram que esperar alguma horas, acabou por enausear boa parte da tropa, debilitando sua capacidade de combate. Às 06:40 AM os soldados já desembarcavam. Com frio, molhados, enuseados, carregando cerca de 50 kg de equipamento e sob o assédio da MG 42. Assim que a rampa abaixava o fogo alemão era para ali dirigido, abatendo os assaltantes como que num matadouro. Para fugirem do fogo mortal que ali se abatera muitos soldados começaram a pular pela lateral, caindo dentro da água com cerca de 3 m de profundidade, prática esta que foi advertida para que não fosse implementada. Sua carga de equipamentos e a profundidade fez com que muitos se afogassem. Muito entraram na guerra para não disparar um único tiro, morrendo ali mesmo. Muitos se livraram do equipamento, da jaqueta molhada e da munição e conseguiram voltar a superfície. Aqueles que voltavam a superfície reencontravam a saraivada de projéteis de 7,92 mm, que eram mortais até 30 cm sob a água. A resistência da água é tão grande que um projétil destes para totalmente em menos de um metros de trajetória subaquática. Manter esta distância vital pode ter, involuntariamente, salvado a vida de muitos. Dos cerca de 1.450 homens da primeira leva, estima-se que cerca de 450 morreram nos primeiros momentos. Toda esta carnificina ocorreu ainda dentro da água, sem que os homens sequer chegassem a praia, a parte mais difícil. Atravessar os 300 metros de praia repleta de obstáculos e sob o fogo incessante era o desafio que estava por vir. Cavalos de frisa e estacas, arame farpado e campos minados eram os principais meios de retardamento, expondo as vítimas para as MG 42 e os obuses. Após estes obstáculos vinham as dunas e seria a partir daí que a luta ficaria mais equilibrada.



Colocar carros de combate na praia antes da infantaria teria evitado o desastre inicial, porém os estrategistas consideraram que as embarcações que os transportariam eram muito vulneráveis. Blindados Sherman denominados “tanques DD” foram construídos especialmente, e nada mais eram que este carro de combate montado dentro de uma saia de lona que o fazia flutuar e com propulsores, e seria abaixada assim que chegasse a praia. Era uma adaptação de tempos de guerra e não um veículo dedicado, porém apresentou-se promissora nos testes realizados. O plano era colocar um “tanque DD” a cada 45 metros, apoiando a infantaria, totalizando 32 veículos. O problema é que eles foram testados em lagos e não em um mar revolto e agitado. As ondas no Canal da Mancha tinham quase 2 m de altura, e o tempo mostrava-se adverso já há dias. Porém a concentração no sul da Grã-Bretanha para o desembarque era difícil de ser ocultada, e os aliados não podiam esperar mais, sob o risco de serem descobertos. A 3.200 km dalí, dias antes, navios meteorológicos indicaram o dia 06 como climaticamente mais favorável, e este dia seria único e não poderia ser adiado. A decisão foi tomada, o tempo melhorou, mas o mar continuou agitado. A 5 km da praia a embarcação dedicada lançou seus “tanques DD” e as ondas altas e a pressão da água cobraram seu preço. Os blindados começaram a afundar e dos 29 lançados, 27 não chegaram a praia, deixando a infantaria por conta própria. Alguns soldados, principalmente motoristas afundaram com seus veículos.

No topo das dunas 14 “bankers” de concreto infernizavam a vida dos norte-americanos que chegavam a praia, com suas automáticas. As guarnições de defesa estavam ali há meses e tanto soldados quanto oficiais não acreditavam que o assalto ocorresse na Normandia, tal qual o alto comando. Eram instalações confortáveis e com boa comida. Esta sensação de que o ataque não seria ali deveu-se a um bem orquestrado plano de engodo e dissimulação. Foi criado uma força de invasão falsa próximo à Pas de Calais, no ponto onde o Canal da Mancha é mais estreito, fazendo com que os alemães concentrassem suas forças neste ponto, a cerca de 300 km do intencionado. Depois de 2 semanas do desembarque os nazistas ainda acreditavam em um desembarque em Calais. Infláveis simulando veículos e aeronaves, instalações falsas, pesado tráfego de comunicações e a participação do Gen George Patton deram credibilidade ao embuste, arquitetado por um ilusionista profissional. O Marechal de Campo Erwin Rommel, no entanto, não negligenciou as defesas deste setor e reforçou as defesas. Na manhã do dia D os defensores alemães, habituados a uma rotina de um dia depois do outro, depararam-se com uma frota monumental na linha do horizonte.



Para os soldados assaltantes não havia outra alternativa senão enfrentar o fogo das metralhadoras, morteiros e artilharia. Mas os comandantes aliados sabiam o tipo de apoio de fogo de que os alemães dispunham, e foi planejado neutralizar estas armas antes do assalto. Haviam cerca de 30 armas anticarro, 17 morteiros e mais de 20 obuseiros, dispostos dentro de abrigos (“bunkers”) de concreto em “Omaha”. Cerca de 4 horas antes do assalto, bombardeiros aliados decolaram para neutralizar estas ameaças, com mais de 400 aeronaves carregando seus mais de 13.000 petardos, que seriam lançados sobre as defesas na maior missão de preparação de campo de batalha da guerra com bombardeio de precisão, dentro do possível com a tecnológica da época. A USAAF acreditava na capacidade e precisão apurada de seus meios. Porém as nuvens estavam densas e os bombardeiros dependiam do radar, uma novidade na época com sua confiabilidade pouco testada. A Marinha não confiava no radar e temia que as bombas atingissem seus próprios navios. Por conseqüência os bombardeiros receberam ordens para atrasar em até 30 segundos a liberação de suas cargas. Voando a 3.000 m de altura e 240 km/h um atraso de alguns segundos pode mudar tudo. Apenas 5 s significa que a bomba em queda livre cairá 400 m depois do programado, e 30 s o impacto se dará 2,5 km depois. De forma inacreditável a totalidade do bombardeio atingiu o “nada”, deixando as posições alemãs intactas, constituindo uma das maiores falhas de C2 nos plano aliados.

Os soldados perceberam que a paralisia onde estavam, a despeito do fogo inclemente, era uma sentença de morte e começaram a progredir em direção às dunas. Depois de uma hora de desembarque a operação parecia um desastre. A 6 km dali Rangers implementavam a missão mais perigosa do dia. Neutralizar algumas bocas de fogo posicionadas no alto de rochedos, que ameaçavam diretamente os navios ao largo, repletos de soldados. Por todo o litoral haviam armas de grosso calibre posicionadas, constituindo ameaça direta tanto a praia como à frota. Neste rochedo denominado Poinet Du Hoc de 45 m, onde 5 grandes bocas de fogo de 155 mm Skoda, capturadas aos tchecos, ameaçavam tudo num raio de 24 km, incluindo “Omaha”, “Utah” e os meios de desembarque. O ataque a uma colina íngreme, fazendo uso da escalada por cordas, é uma das mais difíceis empreitadas que um infante pode enfrentar. Durante meses este assalto foi praticado, com ganchos lançados por morteiros, porém nos exercícios não havia o fogo das metralhadoras e as cordas estavam secas. Ao desembarcarem, os Rangers tinham que atravessar a praia e chegar ao pé do rochedo sob fogo intenso. Ao alcançarem o rochedo, devolveram o fogo e prepararam seus ganchos-morteiros, cujo lançamento da maioria não atingiu o topo devido ao peso extra das cordas molhadas. Alguns ganchos foram lançados com sucesso, devido a suas cordas secas, permitiram que a escalada fosse realizada. Os soldados que conseguiram subir deram continuidade a batalha, com alguns perecendo e outros logrando avanços. Ao chegar no objetivo, os soldados descobriram que ao canhões não estavam lá, e eram apenas postes telegráficos adequadamente dispostos, simulando uma posição de armas. Frustrados descobriram que se prepararam por meses para nada. Na verdade os canhões foram removidos para posições mais a retaguarda 2 dias antes, por ordem de Rommel, e destruídos na sequência dos acontecimentos, de forma que mesmo assim eles estavam lá.

As 08:30 AM a situação projetava um desastre total nesta praia. Na retaguarda alemã, no entanto, a resistência francesa dava sua cota de apoio ao desembarque. Nos meses que antecederam o desembarque os franceses envidaram um serviço de espionagem, enviado a Londres por vários meios suas observações sobre o dispositivo defensivo alemão. Era um trabalho arriscado e perigoso. Foram usados inclusive os serviços de pombos-correio. Próximos ao dia D os franceses intensificaram ações de sabotagem como a interrupção de linhas de comunicações por fio alemãs e a explosão de composições ferroviárias. Os alemães passaram a atiram em pombos, e membros da resistência foram capturados e executados. Porém os estragos foram feitos e as tropas alemãs na praia encontraram dificuldades em pedir reforços. Já faziam 3 horas que o desembarque havia começado e os sobreviventes estavam presos a um quebra-mar 240 m praia adentro, não haviam mais oficiais e sargentos suficientes e a liderança estava prejudicada, com cada indivíduo cuidando de sobreviver. A sua retaguarda a maré começa a subir.

Na madrugada do desembarque, 8 horas antes do início, um grande número de paraquedistas foi lançado à retaguarda das áreas de desembarque a fim de protegê-los contra a chegada de reforços. Paraquedistas falsos foram lançados em locais afastados para atrair tropas alemãs. O Marechal de Campo Erwin Rommel ordenou a inundação de uma grande área a retaguarda das praias, onde muitos paraquedistas saltaram. Muitos caíram na água e o drama dos anfíbios aconteceu ali também. A dificuldade de soltar o arnês rapidamente fez com que muitos se afogassem. Os arnês britânicos eram de fácil operação, mas os americanos requeriam um trabalho maior. Livrar-se rapidamente do paraquedas para alguém que está dentro da água, com 50 kg de equipamento e cujo velame podia cair por cima era vital. Dos 13.000 paraquedistas, centenas se afogaram.

Para retomar a liderança alguns oficiais ainda embarcados, dentre ele um general, assumiram o papel de capitães e tenentes postos fora de combate e passaram a liderar os soldados retidos no quebra-mar. O general de brigada Normam Cota estava embarcado observando o desastroso avanço da primeira “onda” de soldados na praia e decidiu acompanhar a segunda “onda” de soldados, e ao chegar na praia liderou pelo exemplo, abrindo caminho a frente e ditando palavras de motivação e de comando às tropas que lá estavam. Era o oficial mais velho em terra. Sua liderança surpreendeu aqueles que já estavam na praia, inclusive outros oficiais, e deu ímpeto ao ataque neste local.

A partir do quebra-mar e das dunas começaram a ser transpostos o arame farpado e os campos minados, obstáculos este vencidos com o auxílio dos “Torpedos Bangalore”, tubos de metal contendo explosivos que eram introduzidos na área e abriam brechas por onde os homens passavam. Os soldados estavam exaustos e feridos, porém seus líderes os levaram adiante mostrando a importância do comando competente e motivador. Ao largo, os comandantes navais não tinham autorização para apoiar com fogo o desembarque, pois tinham que proteger os navios, ainda repleto de soldados. Considerou-se desviar estes soldados para desembarcar em outra praia, mas notícias de que as primeiras brechas haviam sido abertas os fez repensar. Após algumas horas de suplício veio o alívio para a infantaria, quando a Marinha autorizou que alguns contratorpedeiros posicionassem-se mais próximos à praia e apoiassem o desembarque com artilharia naval. As situação começou a pender para o lado dos assaltantes.

Este relato mostra um pouco da realidade que os soldados assaltantes enfrentaram no Dia D na praia de “Omaha”, e de como pequenos detalhes podem ter grande influência em uma operação militar. Mostra como um plano deve descer a detalhes aparentemente irrelevantes e que na hora da ação podem fazer toda a diferença. Cordas molhadas ou não, atraso no tempo de lançamento de bombas aéreas e o projeto do arnês dos paraquedas são alguns deles. Enfatiza também o valor da liderança em combate, onde oficiais e sargentos mais experientes podem fazer a diferença quando lideram com determinação e competência. 

Calcula-se que 2.000 americanos morreram naquele dia, com outro tanto de feridos. Ao todo, nas 5 praias 10.000 aliados perderam a vida, cerca de 4.000 alemães e 3.000 civis franceses. Foi o início da retomada da Europa pela frente ocidental.



sexta-feira, 18 de maio de 2018

MAWS - Sistema de Alerta de Aproximação de Mísseis #149


Este sistema faz parte da suite de aviônica das aeronaves modernas mais avançadas, e visa alertá-la quando ameaçada por mísseis anti-aeronaves (AAM ou SAMs). Os sensores do MAWS (Missile Approach Warning System) alertam o piloto sobre estas ameaças para que possa fazer manobras evasivas ou acionar contramedidas, o que também pode ser feito (e deve) de forma automática.

A Segunda Guerra Mundial trouxe estas ameaças aos cenários de combate e nos anos 50 eles começaram a se fazer presente de forma mais significativa. Como é comum na guerra todo ponto gera seu contraponto, ECMs e procedimentos táticos específicos foram aparecendo com bons resultados permitindo às aeronaves maior capacidade de sobrevivência, desde que o alerta com a devida antecedência fosse dado.

Estatísticas da década de 60 demonstravam que a grande maioria dos abates de aeronaves tinham como vilão o míssil guiado a infravermelho (IR). Os mísseis guiados a radar são mais rápidos, manobram melhor, carregam mais explosivos e possuem espoletas de proximidade, porém as contramedidas contra eles foram muito mais fáceis de conceber que contra os primeiros. Os RWR provaram sua eficácia logo que apareceram e aumentaram sobremaneira a taxa de sobrevivência das aeronaves, sendo que aqueles abatidos pelos mísseis IR nunca souberam o que os atingiu.

A partir da década de 1960 começaram a aparecer nos espaços de batalha os MANPADS, SAMs guiados a IR e lançados do ombro do combatentes, compactos, pequenos, baratos e disseminados em grande número, capazes de atingir aeronaves voando baixo. Não demandam infraestrutura de lançamento como os SAMs guiados a radar e por utilizarem um sistema de guiagem passivo não anunciam sua presença. Produzidos desde então em quantidades substanciais, estão disponíveis no mercado negro e consequentemente para milicias "não estatais".



Os MANPADS de primeira geração estavam restritos aos engajamento pelo setor traseiro da aeronave, porém os modelos de segunda e terceira geração que surgiram a partir dos anos 1980, contam com aperfeiçoamentos significativos, com cabeça de busca avançadas e aerodinâmica mais eficiente associada a motores mais capazes. Passaram a um perfil operacional "all aspect", ou seja, podendo serem lançados de qualquer ângulo, tornaram-se mais resistentes a ECMs e com altíssimo potencial de manobra. 

Aeronaves mais lentas como helicópteros e cargueiros militares, além de aviões civis, tornaram-se mais vulneráveis que nunca a estes SAMs, principalmente durante pousos e decolagens. Aeronaves de alto desempenho como caças passam menos tempo dentro desta zona de morte e apresentam menos vulnerabilidade.



MANPADS são armas de curtos alcance, com raio de cerca de 5 km, pequena margem de erro e tempo de impacto a 1 km de cerca de de 3 segundos, e entre 3 e 5 km de cerca 7 a 11 segundos, respectivamente. Fornecer alerta em tempo hábil contra este projéteis é um desafio. Não avisam que vão ser lançados, não dependem de IR ativo ou orientação radar, não são orientados por qualquer tipo de designador com os a laser que sempre emite uma radiação detectável. São do tipo "dispare e esqueça", travando rapidamente em um alvo e destruindo-o em segundos. Seu propulsor queima em intervalo de tempo curto, sendo visível em tempo reduzido, além de possuírem uma RCS muito pequena.

Proteger-se contra estas ameaças tão furtivas depende de um alerta imediato e uma ECM eficiente. Nos modelos de 1ª geração com operação por amplitude modulada, usavam-se jammers IR omnidirecionais sem alerta, que irradiavam continuamente enquanto estavam ligados, com razoável eficácia desde que técnicas corretas fossem aplicadas. As gerações posteriores passaram a operar com modulação de frequência e o papel desta contramedida se inverteu, passando a atrair em vez de enganar.

Em um ambiente onde o tempo é escasso, um MAWS deve mostrar-se confiável a fim de permitir o uso de ECMs apropriadas em tempo real. Os pilotos só o utilizarão se confiarem neles, e apresentar uma baixa taxa de alarmes falsos (FAR) mesmo que iluminado por emissores múltiplos é importante. Tempos de resposta rápidos e FAR baixas são requisitos conflitantes, requerendo uma configuração equilibrada. O desejável é de se ter um "tempo para o impacto" (TTI) longo, com um FAR baixo. O sistema tem que recolher dados e tomar decisões baseadas neles quando um nível de confiança razoável for atingido, sem falsos alarmes, o que demanda uma coleta de dados significativa, o que por consequência resulta em um TTI mais baixo. A probabilidade de sobrevivência depende do TTI, o que leva a tolerância de uma FAR mais alta, desde que não comprometa a operação.

É importante que o sistema tenha precisão azimutal (cerca de 2 graus) e de ângulo de ataque (AOA), pois deve-se saber exatamente de onde vem a ameaça. Contramedidas IR direcionais (DIRCM) exigem esta precisão para contrapor mísseis com sucesso. É importante evitar que a aeronave e os chamarizes dispensados fique dentro de um mesmo "campo de visão" do míssil, pois se este superar os "engodos" ainda assim poderá atingir a aeronave, particularmente se esta for lenta e demorar a se desvincular deles. O AOA preciso também é importante quando da manobra brusca de aeronaves rápidas que buscam se distanciar dos chamarizes. A alta velocidade tende a negar este distanciamento, e a aeronave deve procurar aumentar o ângulo de separação, principalmente se a aproximação da ameaça for pela retaguarda  quando um AOA preciso evita que o piloto vire na direção errada, aproximando-se do míssil.

Este sistema deverá ser compacto, pois assim poderá equipar aeronaves pequenas, consumir pouca energia e não causar arrasto aerodinâmico. Visualização integrada aos displays existentes evita a duplicação destes, podendo coexistir com os RWR, porém com exibições claras e sem ambiguidades. Devem ser exibidos na tela também as chamarizes disponíveis, o modo de funcionamento e o estado de manutenção. Outro fator desejável é a possibilidade de ser integrado aos outros sistemas de EW da aeronave.

Os sistemas em uso atualmente usam radares pulso-doppler, sensores IR e UV, cada um com suas vantagens e desvantagens. Os sistemas Pulso-doppler podem medir a velocidade de aproximação e a distância da ameaça, podendo determinar a TTI e otimizar o tempo da ECM, não depende da IR do míssil e é menos sensível às condições climáticas. Revelam a presença da aeronave e podem não engajar mísseis com baixo RCS, com alerta tardio. Não são muito precisos e podem ser interferidos por outras fontes de RF, podendo ainda interferir em radares de solo e são mais difíceis de integrar.



Os sistemas IR  funcionam melhor em condições atmosféricas favoráveis e em altitudes longe da interferência das fontes de solo, sendo mais precisos para dispensar chamarizes. Sofrem interferência da água e do gelo que debilitam totalmente sua precisão, e aliadas ao fundo de solo distorcem totalmente a interpretação dos sensores. Altos níveis computacionais são necessários para compensar os alarmes falsos em condições desfavoráveis. Sensores de duas cores são usados para atenuar a interferência de fundo a FAR mais altas, mas encarecem os sistemas e oferecem complicações técnicas. Não podem medir o alcance nem a velocidade, tem campos de visão estreitos e requerem matrizes de 360 graus, que oneram o sistema. Demandam sensores refrigerados e podem ser ineficientes em motores de novas tecnologias IR/UV.

O sistema UV é imune a alarmes falso naturais por operar nesta faixa do espectro, sendo mais eficiente que os IR no que diz respeito a interferências de fundo. Opera bem em condições adversas e com a presença de umidade, tem campo de visão largo e opera com precisão, sendo o sistema mais simples de todos. Não requer refrigeração nem alta capacidade computacional, com baixo custo de ciclo de vida. Requer que os motores estejam queimando para serem detectados, sendo mais efetivo contra SAMs que contra mísseis ar-ar. Não fornece informações de alcance, mas pode alertar quanto a TTI pela variação da amplitude do sinal. Pode se mostrar ineficiente, tal qual os IR, em motores de nova geração.