Os sistemas de Alerta Aéreo Antecipado (AEW -
Airborne Early Warning) surgiram após a Segunda Guerra Mundial como uma
resposta aos duros ataques kamikazes contra a US Navy, pela conversão de
aeronaves Avenger TBM-3 em TBM-3W, que foram equipadas com um radar APS-20 em
um radome ventral.
Este conceito origina-se no fato de que um radar de
busca montado no mastro de um navio é incapaz de ver alvos além do horizonte,
podendo, devido a curvatura da terra, operar em alcances de no máximo 40 km
quando sua estrutura for muito alta, ou menos com a diminuição da altura da
antena. A montagem de um equipamento similar em uma aeronave permite superar
esta restrição e estender o horizonte-radar de um frota para muito além. Um
sistema AEW operando a 3.000 m de altura, pode detectar aeronaves ou mísseis
voando baixo em distâncias de até 220 km, aumentando o tempo de reação em até
4x e permitindo que as defesas da força neutralizem bombardeiros antes mesmo
que lancem seus mísseis.
Os equipamentos AEW são dispositivos que compõem
complexos sistemas de medidas de apoio eletrônico (ESM - Eletronic Support Measures) e de identificação
amigo-inimigo (IFF - Identification friend or foe), integrados a redes de comunicação e enlace de dados (NCW - Network Centric Warfare)
destinados a detectar a presença de aeronaves e mísseis hostis a distâncias bem
maiores que os radares baseados na superfície, auxiliar na organização do
espaço aéreo e coordenar a reação às ameaças detectadas, potencializando e
efetividade dos interceptadores, sistemas SAM e de AAAé, sendo usados na
atualidade por todas as forças aéreas com recursos para obtê-los, além das
marinhas de guerra. Plataformas de AEW também são invariavelmente equipadas com
equipamento para vigilância SIGINT (Signalls Intelligence).
Os sistemas baseados no APS-20 representaram a
primeira geração de sistemas AEW e experimentaram um uso extensivo até os anos
setenta, quando a USAF implantou seus E-3A Sentry, baseado no Boeing C-137
(707) e a USN substituiu seus últimos AEW de primeira geração pelos E-1 Tracer
e E-2 Hawkeyes embarcados. A Royal Navy adotou este conceito com aeronaves
Skyrider norte-americanas, transferindo posteriormente seus APS-20 para os
Gannet AEW e, com a retirada em serviço destes, para os Shackleton da RAF.
Reconhecido atualmente como parte indispensável de
qualquer sistema de defesa aérea moderno, uma aeronave AEW pode ir mais além e
desempenhar as funções de vetoramento de forças de ataque, de interceptação e
anti-submarinas, patrulha e reconhecimento marítimo e meteorológico, guerra
eletrônica, comando e comunicações e busca de superfície, e integrado ao
sistema por data-link, pode, juntamente com os radares de superfície, compor
uma ampla rede de detecção e alerta. Um radar operando em meio aéreo também
evita que os navios tenham que fazer emissões com seus radares e denunciarem sua posição.
Um grupo-tarefa (GT) naval, que não disponha destes
sistemas, fica exposto em demasiado a bombardeiros e helicópteros de ataque
voando baixo e que podem se posicionar incógnitos a fim de lançar mísseis antinavio. Este episódio aconteceu em 1982 no conflito das Falklands/Malvinas.
A ausência deste sistema fez com que a frota britânica tivesse que posicionar
suas escoltas como piquetes-radar à grande distância da frota, quando o HMS
Sheffield operando nesta função foi atingido por um míssil Exocet AM-39 lançado
pelos Super Etendard argentinos, provocando seu afundamento. Os britânicos logo
sentiram a necessidade destes sistemas, e logo depois da guerra adaptaram seus
helicópteros Sea King para esta missão.
Se operando em proveito de uma força naval, as
aeronaves AEW permitem-lhe capacidade oceânica, liberando-a de tarefas
limitadas próximas ao litoral, aumentando-lhe a segurança e efetividade. Caso
os navios-aeródromo não estejam disponíveis a operação destas aeronaves fica
limitada a bases em terra, assim como os caças. Operações em mar muito agitado
também podem sofrer sérias restrições.
Os sistemas AEW podem ser baseados em plataformas
de asas fixas ou rotativas. Aeronaves convencionais possuem as vantagens de ter
um teto operacional maior com consequente horizonte-radar ampliado, maior
velocidade, tempo de ascensão mais rápido, maior autonomia e menor consumo de
combustível.
Os sistemas baseados em plataformas de asa rotativa
são especialmente adequados a forças navais dotadas de navios-aeródromo
pequenos, podendo também operarem a partir dos outros navios capazes de operar
helicópteros, se os navios-aeródromo não estiverem disponíveis. Podem ainda,
operar juntamente com o radar, mísseis antinavio.
Uma configuração típica seria posicionar-se a cerca
de 200 km a frente da frota, coberto pelos caças-interceptadores mais a frente
cerca de 100 km na direção mais provável da ameaça. As aeronaves AEW possuem
alto valor militar e são alvos muito cobiçados pelos caças inimigos, razão pela
qual devem sempre operarem de forma protegida. Se operando próximo ao
litoral estas aeronaves podem operar cobertas pelas armas antiaéreas da frota,
uma vez que a posição desta certamente será conhecida.
Os sistemas AEW mais usados na atualidade são o
Boeing E-3 Sentry AWACS e o Northrop Grumann E-2 Hawkeye norte-americanos, O
sueco Erieye montados nas plataformas Embraer EMB-145SA AEW&C e SAAB
340 AEW, o russo A-50 Mainstay, entre outros. Os britânicos usam o Helicóptero
Sea King AEW com radar Searchwater, que está sendo substituído pelos Merlim HM2 Crowsnest; e a Boeing está oferecendo um novo modelo de
aeronave AEW baseada na aeronave 737 AEW&C já adotado pela Coréia do Sul,
Turquia e Austrália. O Japão opera uma versão AEW do boeing 767.
AEW - Uma Perspectiva do Sistema
A intensidade e o ritmo da batalha aérea moderna
com a sua ênfase na degradação operacional das instalações de Comando, Controle e
Comunicações (C3) com técnicas de guerra eletrônica (EW) e exploração da penetração em
baixo nível para alvos, exige o uso de AEW como um guarda-chuva de defesa
aérea. A capacidade de um radar que olha para baixo de sua plataforma, remove
uma vantagem chave possuída pelo atacante, a surpresa. Para explorar plenamente
o terreno elevado detido pela plataforma AEW, é, no entanto, essencial que um
radar secundário (IFF) seja transportado para gerir a sua própria aeronave e
sistemas extensivos de voz e dados sejam instalados para distinguir as
aeronaves aliadas e meios de superfície. Para isso devem ser adicionados sistemas
ESM, sofisticados receptores de alerta de radar (RWR - Radar Warning Receiver), que permitem a detecção
passiva de longo alcance de ameaças em aproximação e fornecem a capacidade de
identificar contatos não autenticados (ou seja, aqueles que ignoram o IFF).
Com várias centenas de faixas geradas pelo radar,
IFF e ESM, a tarefa de correlacionar essas faixas e manter seu histórico, exige
automação e, portanto, poderosos computadores que devem ser transportados.
Estes irão interagir com os operadores através de consoles sofisticados,
enquanto se armazena considerável volume de dados, que deverão ser suportados.
Este hardware por si só é complexo e exigente em volume e carga útil,
capacidade de refrigeração e poder de processamento, todos os quais, por sua
vez, demandarão adequada capacidade de potência instalada. Toda esta
complexidade, no entanto, exige softwares dedicados, alguns dos quais executam tarefas
especializadas, tais como processamento de sinais e a maioria dos quais
controla o radar, IFF, ESM e outros .
O AEW portanto, consome um volume grande de
recursos para projetar, construir, implantar, apoiar e treinar tripulação, porém
todo este esforço trás em contrapartida uma vantagem tática inestimável.
O sistema de radar de uma plataforma AEW é a chave de
sua capacidade e, em última análise, uma medida de seu valor tático. O desempenho "look-down" (olhar para baixo) do radar em intervalos longos sobre a massa de
terra, é visto geralmente como o critério de desempenho determinando ao julgar
uma plataforma de AEW. Deficiências nesta área conduziram à desativação muito
anunciada do BAe Nimrod AEW.3 da RAF. Os aviões modernos AEW possuem duas
formas de radar, MTI (Moving Target Indicator) e Pulse Doppler (PD), ambos
radares de pulso com processamento de sinal adicional para explorar o efeito
Doppler na localização de alvos escondidos pelos ecos da superfície.
O radar ilumina os alvos com uma onda
eletromagnética e, em seguida, ouve a reflexão (eco) desta onda a partir do
alvo. Viajando a velocidade constante (da luz), este reflexo permitem determinar
então a escala do alvo, sua distância e direção. Um radar sempre tem três
componentes básicos, uma elemento transmissor, uma antena e um elemento
receptor. A corrente do transmissor é uma fonte de alta potência de sinal
eletromagnético e pode ser gerada por um oscilador de alta potência. As
ondas que produz devem ser focalizadas em um feixe e apontadas em alguma
direção procurada pela antena. O feixe então se propaga através do espaço,
atinge um alvo e parte da energia do feixe é devolvida.
Como a onda se enfraquece com a distância
percorrida (lei do quadrado inverso) e o alvo reflete apenas uma pequena fração
da onda incidente, o retorno (eco) ficará muito fraco quando chegar à antena do
radar, e cabe a antena concentrar este fraco retorno em um sinal válido para o receptor.
O sinal de retorno recebido é então manipulado de
várias maneiras inteligentes, amplificado substancialmente e no caso mais
simples alimentado a um display que apresenta uma imagem sincronizada com o
movimento da antena.
O leitor atento notará que este radar está
transmitindo e recebendo com uma única antena, na prática não é bem assim pois
a quantidade de potência que deixa a antena cegaria o receptor aos ecos fracos
que está escutando .
Radares de vigilância são construídos como radares
de pulso. Um radar de pulso transmite apenas por um tempo muito curto, geralmente
cerca de um microssegundo ou assim em duração de cada vez, após o que ele
escuta ecos enquanto o pulso se propaga. Como o pulso está afastando-se do
radar a uma velocidade constante, o tempo decorrido desde o instante em que o
pulso foi enviado até o momento em que é recebido um eco, é uma medida clara da
distância da linha de visada ao alvo. O pulso seguinte só pode ser enviado
após passado o tempo de ida e volta ao alcance operacional de um pulso que
reflete a partir de um alvo no limite da faixa de detecção do radar. Se um
pulso for enviado mais cedo, o eco do primeiro (ou seja, precedente) pulso de
um alvo distante poderia ser confundido com um eco do segundo pulso de um alvo
próximo.
O intervalo de tempo entre os pulsos é denominado
Intervalo de Repetição de Pulso (PRI), e seu inverso é um parâmetro importante
denominado Frequência de Repetição de Pulso (PRF). Os radares de
vigilância têm PRFs tipicamente de centenas de pulsos por segundo (ou Hertz
[Hz]). Necessário será dizer que a PRF é uma assinatura distinta e revela a
identidade do modo de funcionamento de um radar para qualquer RWR em operação.
Se o radar olha para um alvo voando acima com uma
colina grande ao fundo, o retorno da colina será muito mais forte do que o
retorno da aeronave, e o alvo ficará invisível. Tal fato foi uma causa de
grande “dor de cabeça” para os primeiros projetistas, sendo este problema só tratado
adequadamente nas últimas duas décadas.
As técnicas exploram de uma ou outra maneira, o
efeito Doppler (a freqüência de uma onda refletida por um objeto que se
aproxima aumenta constantemente, e um objeto que se afasta diminuiu da mesma
forma). O radar mais elementar que pode detectar um objeto nestas condições é
um radar Indicador de Movimento de Alvo (MTI). Um MTI é um radar de pulso
que irá comparar os retornos sobre dois ou mais intervalos de repetição de
pulso. Qualquer alvo que se mova em relação ao radar registrará uma alteração
num parâmetro de sinal, enquanto que o retorno de fundo permanece inalterado. O
sinal resultante é um resultado da filtragem entre o não se alterou entre os
dois sinais. Na prática, esta filtragem pode ser realizada por hardware ou
por algoritmos de software, abordagem mais moderna e flexível..
Os MTI que operam a uma PRF constante sofrem uma deficiência
fundamental: são cegos para alvos com velocidades relativas particulares (que
incorrem em desfasamentos de múltiplos de 180 graus) e são ditos ambíguos em
velocidade. Os MTIs modernos transmitem vários PRF escalonados de tal modo
que as velocidades cegas em cada PRF são cobertas por outros PRFs.
O equipamento para superar este mascaramento é o radar pulso-doppler (PD). Os radares PD empregam um processamento
substancialmente mais complexo do que os MTIs. Em um radar PD os retornos
contendo alvos em mascaramento são alimentados em um banco de filtros Doppler,
cada um dos quais é sintonizado para uma determinada freqüência. Desta forma,
os alvos com velocidades dadas registram como saídas de determinados filtros,
que podem ser implementados em hardware ou software. Nesta forma básica,
um radar PD não pode resolver intervalo de destino (de MTI) e é dito ser
ambíguo na faixa. É então necessária mais manipulação para definir a gama,
isto é normalmente feito dividindo o PRI de impulsos em fatias denominadas
células de intervalo, o banco de filtros doppler é então alimentado seletivamente
durante uma dada célula de intervalo. Isto é denominado portão de intervalo e
resulta num conjunto de saídas de filtro indicando a velocidade de quaisquer
alvos detectados naquela célula de intervalo. Como os típicos radares pulso-doppler operam em PRFs médias a altas (geralmente milhares de Hertz), a
técnica acima se torna ambígua no intervalo e são usados múltiplos PRF
escalonados (do MTI) juntamente com algum processamento inteligente para
decidir qual o alcance real do alvo
Os radares PDs geralmente são considerados
superiores ao MTIs na detecção de alvos voando baixo com mascaramento pesado, e é
o tipo preferido nos modernos radares de interceptação/controle de fogo, como
por exemplo, o AN/ APG-63, 65, 66, 67 e 70. Nos radares PD atuais, a maior
parte do processamento é realizada digitalmente. Os algoritmos usados podem ser
rapidamente alterados trocando chips de memória ROM, o que, assim, permite
burlar rapidamente as técnicas de interferência de um oponente, se necessário,
garantindo a flexibilidade.
Radar PD aerotransportado
Colocar um radar em uma aeronave apresenta uma
ampla gama de problemas. O movimento da aeronave determina que a antena seja
estabilizada em 3 eixos, para fornecer uma imagem estável sem variações, isso trás
um custo de peso para a antena. Outro grande problema é, obviamente, o
movimento da aeronaves, que por sua vez, terá um Doppler relativo à superfície
da Terra, portanto, transferindo o retorno do mascaramento em freqüência.
À primeira vista, este seria um problema simples
para resolver, ao filtrar todo o retorno com o Doppler terrestre esperado, que
é dado pela velocidade instantânea da aeronave e a direção na qual a antena é
apontada. A realidade não é tão simples, já que as antenas não são ideais e, na
melhor das hipóteses, tentarão produzir um feixe apertado, emitindo energia em
feixes mais fracos do eixo pelos denominados lóbulos laterais (e recebendo
retornos mais fracos indesejados na direção desses feixes). Como é
evidente, as diferentes direções que os lóbulos laterais apontam para dentro,
resultará em deslocamentos doppler diferentes em comparação com o lóbulo
principal da antena, com o resultado obviamente que o mascaramento produzido
pelos lóbulos laterais serão difíceis de remover.
Outro fator complicador é a interação da estrutura
da aeronave com o lóbulo principal e laterais da antena, provocando reflexões
em direções diversas que não aquelas do eixo da antena, causando desordem nas
emissões, o que requer um projeto cuidadoso no que tange ao posicionamento da
antena no corpo da aeronave. Quanto mais longo o comprimento de onda em relação
ao tamanho da antena maiores serão os lóbulos laterais, maior será o problema,
e quanto maior o tamanho da antena em relação ao comprimento de onda mais
apertado será p feixe emissor. Para contornar esta situação os radares PD de
projeto específico usam comprimentos de onda mais curtos, operando nas bandas E\F
com antenas de 3 a 8 metros e I\J para inteceptadores com antes da 1 metro, com
o ônus de custos de projetos maiores.
Este aspecto de desempenho pode criar dificuldades
na definição do projeto, na medida em que comprimentos de onda mais longos
tendem a fornecer retornos mais fortes e mais estáveis com desempenho junto a
alvos com tecnologia furtiva, em comparação a ondas mais curtas (microondas)
com fornece retorno óticos (região ótica RCS) revelando o aspecto do alvo, o
que por sua vez requer sistemas de processamento mais capazes para tal. A
decisão de utilizar um dado comprimento de onda e configuração de antena não é
assim trivial, com custos substanciais e penalidades de complexidade do sistema
ligadas ao uso de antenas de microondas de desempenho superior. Todos estes fatores
afetam a instalação física dentro da aeronave. A eletrônica mais sofisticada
tende a consumir mais energia, requer mais resfriamento e ocupa mais espaço,
enquanto custa mais e requer mais manutenção por pessoal mais qualificado.
Ao discutir os requerimentos de desempenho e
resistência ao ECM, o desempenho de ECCM (eletronic counter-countermeasure) deve ser considerado com cuidado,
particularmente quando se está diante de um oponente melhor equipado. Antenas
com grandes lóbulos laterais são inerentemente vulneráveis a interferências de
alta potência de ruído e geradores de alvos falsos, demandando um radar AEW
moderno que deve ter agilidade de freqüência, com a capacidade de se ajustar
rapidamente e de forma automática a ação de jammers (interferidores). As ECMs são uma ameaça não
letal que pode ser combatida com ECCMs inteligentes, e a proliferação de
mísseis anti-radiação (ARMs) de alto desempenho acabará por tornar muito vulneráveis
as plataformas AEW convencionais. O único contraponto real é o uso de
sofisticadas técnicas de baixa probabilidade de interceptação (LPI) que
requerem antenas em phased array (antenas de varredura eletrônica sem partes mecânicas) e processamento de sinais muito sofisticado,
controle de varredura e processamento de dados. Isso resultará em maior
complexidade em hardware e particularmente em software, mas com um grande
capacidade de resistência ao bloqueio e uma capacidade de interromper o
rastreamento por um buscador ARM.
IFF, ESM, Processamento de Dados e Sistemas C3
Uma vez instalado o radar de forma ótima na célula
da aeronave, ele deve ser integrado com um sistema de hardware adequado,
software e consoles de operação. O software que está sendo executado irá
comandar o radar e seu processador de sinal dedicado para modos operacionais
determinados, enquanto recebe e gerencia as informações produzidas. As faixas
são exibidas nos consoles do operador.
As faixas de destino são geralmente identificadas
ou marcadas, dependendo do seu status de IFF e ESM, uma tarefa denominada
associação que envolve a correspondência de faixas de alvo de radar com faixas
de IFF e leituras de rolamento/tipo de ESM. O IFF, que se baseia em respostas
codificadas por "transponders" transportados por aeronaves aliadas, é um
complemento essencial para um radar AEW, fornecendo identificação positiva destas
aeronaves que responderem. As antenas do IFF são geralmente montadas de costas nas
antenas de radar em rotodomes ou no eixo com antenas parabólicas convencionais,
compartilhando canais de acesso e implicitamente estabilizando o movimento da
antena.
Medidas de Apoio Eletrônico (ESMs) são um complemento
muitas vezes esquecido para um radar primário e secundário da plataforma AEW,
mas estão se tornando cada vez mais importantes em uma batalha aérea moderna. O
equipamento ESM compreende detectores sensíveis de detecção de radar, acoplados
a uma extensa biblioteca de ameaças, identificando passivamente a fonte de uma
transmissão em intervalos da ordem de duas vezes a do radar com sensibilidade
de recepção comparável. Quando um alvo não está respondendo à interrogação do
IFF e é, portanto, potencialmente hostil, a identificação do ESM pode fornecer
confirmação ou refutar seu status, evitando tragédias como o incidente do "Aegis" do Golfo Pérsico, este evento infeliz fornece uma ilustração clara das
armadilhas implícitas na operação de defesa onde as decisões são baseadas nas
saídas de um único sensor, por exemplo, o radar.
A informação de identidade de destino completa é de
difícil obtenção, mas a integração bem implementada radar/IFF/ESM pode ajudar em
muito a dirimir incertezas. A associação de faixas de radar, IFF e ESM pode ter
lugar antes de as informações de radar serem passadas para processamento de
dados, que tipicamente criará um arquivo de faixa em armazenamento em massa,
sendo o arquivo contendo os parâmetros do destino e sendo mantido enquanto o
alvo é rastreado. Vale ressaltar que qualquer sistema AEW razoável exigirá um
armazenamento de dados considerável.
A limitação imposta pelo processamento de dados
está no número de faixas que podem ser mantidas antes que o sistema fique
saturado, resultando de falhas de software ou faixas desaparecendo das telas. A
falha do APY-920 do Nimrod da RAF deveu-se, em parte, a problemas nesta área,
como o tráfego rodoviário marcado incorretamente como alvos reais saturando o
computador sistema.
O C3 e seus sistemas de gestão associados são outro
componente-chave de um sistema AEW, fornecendo comunicações de voz e datalinks
digitais para aviões de caça e defesas de superfície, estas últimas de
particular importância, pois podem alimentar parâmetros de rotas de destino
diretamente nos sistemas de controle de fogo de interceptadores e SAMs/sistemas
de AAAé, permtindo assim um fogo defensivo coordenado. Em um ambiente onde os
bombardeiros em ataque podem com sucesso saturar os radares menores, o
desempenho superior de ECCM de um radar AEW sofisticado pode permitir uma
interceptação bem sucedida.
A integração de sistemas de processamento de dados
e C3 é, portanto, de particular importância se um usuário busca o benefício completo
do sistema AEW. Deficiências nessa área poderiam encolher o fluxo de
informações vitais para o lugar que é mais necessário, o sistema de controle de
fogo de um interceptador em defesa.
É evidente que a utilidade funcional de um sistema
AEW depende tanto do desempenho do seu radar como da capacidade dos seus
computadores, IFF, ESM, C3 e da capacidade do software que o une.
Desempenho Aerodinâmico e a Célula
Enquanto os sistemas transportados em uma aeronave
AEW determinam em grande parte a capacidade geral do sistema, a estrutura e seu
desempenho aerodinâmico devem ser bem adaptados à eletrônica da missão. Uma
célula deve ter autonomia de vôo compatível com a missão, geração de energia
capaz de suprir todos os sistemas como o receptor, as suítes eletrônicas, os
computadores e os dispositivos de armazenamento de dados associados, e os
consoles dos operadores. Fornecer acesso ao pessoal de manutenção a bordo a
sistemas críticos reparáveis, espaço adequado para consoles e operação do
sistema e acomodação para a tripulação com suporte para longos períodos.
A acomodação para os tripulantes é particularmente
importante, pois a fadiga irá rapidamente degradar o desempenho dos operadores.
Se as missões tiverem mais de duas a três horas de duração, os operadores terão
de ser revezados em turnos. O acesso de manutenção em voo a hacks eletrônicos
também deve ser considerado nestas circunstâncias, pois poderia comprometer
totalmente uma missão no caso de pane reparável em voo em sistemas não
redundantes.
Acessibilidade em geral ajuda a reduzir o tempo de
inatividade e nunca deve ser negligenciada. Outro aspecto importante é a
capacidade dos geradores de energia elétrica a bordo de fornecer as enormes
quantidades de energia necessárias para os transmissores, enquanto os motores
estão em cruzeiro. A potencia instalada também deve considerar a potência
necessária para o resfriamento dos
sistemas eletrônicos e transmissores, o que pode ser substancial em si
mesmo. Os geradores são idealmente redundantes e podem ter que ser alocados
separadamente à fonte de alimentação do transmissor e aos suprimentos
eletrônicos restantes, para garantir que os computadores e os receptores
obtenham energia elétrica limpa sem interferência com vazamento (evitando assim
falhas de software ou outros problemas).
O carga do grupo motopropulsor irá afetar o
desempenho aerodinâmico, que por si só é um fator chave na determinação da
capacidade do sistema. Os parâmetros de desempenho aerodinâmico mais
importantes são a altitude de operação e a resistência. A altitude determina a
distância para o horizonte-radar e, portanto, o limite na faixa de detecção
para alvos de baixo nível. Compreensivelmente o alcance de detecção para alvos
acima do horizonte é maior e muito determinado pelo desempenho dos receptores.
Esta altitude é limitada pelo consumo mínimo de combustível (para maximizar a
permanência). Para um turbojato é próximo à tropopausa (10.600 m) e para um
turboélice geralmente entre 6.000 m e 9.000 m, onde se faz necessário um aumento de
potência com altitude, o que contraria a melhoria do consumo de combustível pelo
aumento da altitude. Onde a faixa com visada para baixo é uma prioridade, uma
aeronave a jato tem uma vantagem, como é aparente a partir de um perfil de
missão.
Um perfil de missão típico envolverá uma subida e
então cruzeiro à órbita de operação da missão, onde a aeronave entra em um
padrão de circuito que mantém tipicamente até que sua carga alocada de
combustível seja consumida, após o qual cruzará de volta a sua base operacional.
O reabastecimento em vôo oferece uma grande vantagem quando a distância até esta
órbita à 180 km, uma vez que o consumo de combustível e o tempo gasto durante o
retorno/reabastecimento são reduzidos, tipicamente em 50%, onde o
reabastecimento em avanço pode dobrar o tempo na órbita. Isso reduzirá o número
de aeronaves AEW necessárias para fornecer cobertura contínua em uma
determinada missão.
Uma aeronave AEW em circuito de missão normalmente
controlará duas ou mais Patrulhas Aéreas de Combate (CAP) em órbitas à esquerda
e à direita do eixo de ameaça (uma linha imaginária entre o alvo defendido e a
ameaça de entrada) com o ônus para a aeronave de AEW em sua posição em relação
a ameaça.
Quando o inimigo usa caças de alto desempenho com
radares de longo alcance e AAM /ARMs, a aeronave AEW terá que estar bem atrás
das CAPs, o que reduz o tempo de aviso e a largura da barreira de interceptação
(linha imaginária perpendicular ao eixo de ameaça). Nenhum elemento hostil deve
passar onde a faixa de detecção de AEW é fraca, e o risco deste posicionamento
deve ser avaliado pela necessidade de parar os penetradores de baixo nível que
disparam PGMs (Precision Guided Munitions - "bombas inteligentes"), ambos os quais são a classe mais
difícil de alvos a detectar e consequentemente se faz necessário uma posição de
AEW possível para maximizar o tempo de aviso.
Se a CAP não estiver disponível e interceptadores
de alerta em terra forem usados, o atraso do tempo de resposta deve ser levado
em consideração e a aeronave de AEW posicionada mais próxima do alvo defendido,
com uma redução inevitável da largura da barreira de interceptação.
Por conseguinte, é muito claro que a escolha do
radar e da estrutura AEW terá de ser cuidadosamente ponderada em relação aos
vários cenários operacionais susceptíveis de serem encontrados, ilustrando os
fatores que levaram várias forças aéreas a desenvolver estruturas e radares
muito diferentes para o papel.
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