As
forças armadas, pertençam a nação a que pertencerem, são a garantia de que os
governos dispõem que sua soberania será exercida e sua política nacional será
posta em prática quando os meios cotidianos não demonstram efetividade. O valor
de cada uma destas corporações está diretamente relacionado a capacidade de
cumprir suas missões estratégicas, e esta capacidade é validada pela presteza
de seu adestramento, da tecnologia de que dispõem e da disciplina a que estão
submetidas. Outro fator de importância vital ao seu sucesso é seu grau de
resiliência em combate ou operacional, ou seja, sua capacidade de permanecer
operando até que seus objetivos sejam atingidos. No conflito das
Falklands/Malvinas por exemplo, a frota britânica operou até seu limite, tendo o Alte Sandy
Woodward declarado que se a guerra se prolongasse a frota teria que se retirar
por incapacidade operativa, ou seja, se os argentinos tivessem frustrado o
desembarque em San Carlos Water, provavelmente teriam vencido.
A
capacidade operativa de uma força armada é o resultado da capacidade de
operação conjunta das diversas unidades que a compõem. Unidades de diversas
naturezas desempenham missões singulares em sinergia, que podem ser muito
diferentes umas das outras, com todas buscando o mesmo resultado que é a efetividade
da força no cumprimento dos objetivos que lhes foram delegados. A infantaria
depende da força aérea para chegar ao teatro de operações; as forças em manobra
dependem dos serviços de inteligência para saberem o que fazer; as linhas de
suprimento necessitam de segurança para poderem manter todos operando
regularmente; a aviação de caça proporciona a segurança que todos precisam, mas
depende de navios logísticos para que suas peças de reposição cheguem a seus
hangares, assim como seu combustível. Estes são exemplos da interoperabilidade
imprescindível entre as unidades.
A
situação político-social da região que a força opera é o fator determinante do
grau de aprestamento de cada uma. Não faz sentido manter uma força mobilizada
em grau máximo em um cenário onde as tensões são pequenas ou inexistentes,
assim como é irresponsável negligenciar sua capacidade de mobilização ou sua
situação de aprestamento em cenários de tensões acentuadas ou extremas. As
forças israelenses, por exemplo, estão num cenário de constante tensão com seus
vizinhos árabes e mantém seu grau de aprestamento em alto nível; já as forças
do Exército Brasileiro não necessitam manter níveis operacionais tão altos e
possuem núcleos mais capazes para fazer frente a ameaças inesperadas, na forma
de uma força de reação rápida, e numa situação que exija forças de maior
envergadura, haverá um período de escalada de tensões quando se capacitará as
demais unidades a colocarem-se em níveis mais adequados.
Em
tempos de paz uma força armada se dedica a manter-se adestrada em níveis médios
e compor reservas, renovar equipamento, adquirir novas tecnologias e manter-se
informada, para que, quando necessário possa passar desta condição para outra
de alta operacionalidade com esforço mínimo. Dessa forma se mantém registros de
reservistas, planos para mobilização das industrias civis e estruturas de
transporte, estoque de material, acompanhamento de tensões que possam ser de
interesse e outros fatores importantes a uma mobilização eficiente. A princípio
uma unidade militar deverá estar sempre pronta para que, quando acionada,
colocar-se em marcha em tempo mínimo. Porém esta condição não pode ser
alcançada o tempo todo, pois existem períodos de férias, de dispensa, de troca
de material, de manutenção e um outros fatores que a afetam. Um navio de guerra
tem um período de manutenção periódica de 6 meses a 2 anos, dependendo de seu
porte, sendo necessário que mais de uma unidade esteja disponível, pois “quem
tem 1 não tem nenhum” como se diz. Em toda mobilização há de se considerar que
sempre uma parte do equipamento de maior complexidade estará passando por
períodos de manutenção, e portanto indisponíveis.
Apronto
Operacional
Considera-se
uma tropa operacional quando ela esta em condições de cumprir as missões para a
qual foi concebida, no tocante a adestramento de seus quadros e condições de
seu equipamento. Em tempos de paz as unidades militares procuram manter-se
neste nível, embora nem sempre seja possível, principalmente devido às condições
do material. A instrução de uma tropa segue um programa padrão de qualificação
que se dá individualmente a cada integrante, para que depois de qualificado
possa ser adestrado em conjunto com os demais. Adestram-se então as seções
individualmente, as subunidades, a unidade como um todo e por fim realizam-se
as chamadas “manobras”, que são exercícios de grande escalão e visam fazer com que
as grandes-unidades operem como uma máquina bem sincronizada e eficaz.
Uma
tropa operacional passa a condição de aprestada (em condições de...) quando lhe
é ministrada a instrução específica para a missão que irá cumprir e abastecida
de todo o suprimento que necessita para operar. A instrução padrão qualifica a
tropa, mas a instrução específica insere a tropa no cenário que irá operar.
Cabe ao escalão superior ministrar esta instrução, bem como prover o suprimento
necessário (combustível, munição, víveres, equipamentos em geral, etc...), além
de transporte estratégico (por ar ou navio, ferrovias, etc...) até às áreas de
destino.
A
uma tropa aprestada (em condições de...) diz-se que está em apronto
operacional. A condição de apronto operacional será buscada a partir dos níveis
de alerta a que estiver submetida. O primeiro nível de alerta é o Sobre-Aviso: Os
militares são alertados sobre a possibilidade de emprego real e começam a
colocar o equipamento em condições, bem como se mantém em contato constante com
sua unidade. Se o emprego for iminente passa-se para o segundo nível de alerta,
a condição de Prontidão: A unidade fica em condições de deixar o aquartelamento
(base naval, aérea) assim que lhe for autorizado. Os militares permanecem dentro
da unidade, equipados, o material acondicionado, viaturas abastecidas e munição
pronta para ser distribuída. Planos iniciais de deslocamento também devem estar
prontos e em condições de serem transmitidos. Geralmente as unidades ficam em
condições de operar por 2 ou 3 dias, a partir do qual necessitarão de
ressuprimento, que será provido pelo escalão superior. O terceiro nível de
alerta é a Ordem de Marcha, condição em que a unidade coloca-se em movimento
para cumprimento da missão ou até um ponto onde aguardará novas ordens. Durante
as condições de Sobre-Aviso e Prontidão a unidade executará sua atividade
rotineira normal.
Toda
unidade militar deverá manter permanentemente um plano de chamada incluindo seu
pessoal ativo e sua reserva, para que possa efetivar em tempo mínimo o
cumprimento do alerta. Os militares deverão ter seu material individual de
campanha sempre organizado e em condições de uso. Cabe aos comandantes de subunidade
realizar inspeções periódicas para conferir tanto o material, quanto o
aprestamento pessoal de seus comandados. Passar de uma condição de normalidade
a uma situação de guerra deve se dar de forma fluída e natural.
É
imprevisível o momento de emprego de cada unidade, seu destino e o tempo de permanência
em condição de combate, e é a disciplina do Apronto Operacional que ditará com
que eficiência cada unidade militar se colocará em condições de cumprir sua
missão, razão de sua existência. Não deverá se deixar espaço para improvisações
e providências de última hora. A existência de uma força armada é uma pré-condição
para a segurança nacional e a eficiência militar, mas é sua capacidade de se
colocar “em condições de...” em tempo adequado que pesará como real fator desta
condição.
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