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GUERRA DA CORÉIA - 1950
Sempre que um exército subjuga um inimigo mais fraco, O comandante vitorioso vê-se tentado a aproveitar ao máximo essa situação vantajosa, avançando tão rapidamente quanto possível. Mas isso aumenta a distância a ser coberta, dificultando as comunicações e o reabastecimento das tropas em ação na linha de frente.
GUERRA DA CORÉIA - 1950
Sempre que um exército subjuga um inimigo mais fraco, O comandante vitorioso vê-se tentado a aproveitar ao máximo essa situação vantajosa, avançando tão rapidamente quanto possível. Mas isso aumenta a distância a ser coberta, dificultando as comunicações e o reabastecimento das tropas em ação na linha de frente.
O avanço dos norte-coreanos para o sul em direção a Pusan,
com a consequente dificuldade logística de suprir a vanguarda com armas,
munições e alimento é exemplo típico dessa situação. Um dos principais
problemas do exército invasor era a escassez de estradas de ferro e de rodagem
na península coreana. As poucas vias de comunicação existentes, cortavam-na no
sentido norte-sul, e devido às escarpadas montanhas do interior, passavam todas
pela região da capital sulista, Seul.
Já em sua primeira estada na República da Coréia, após a
invasão comunista, o General Douglas MacArthur havia percebido aquela
possibilidade estratégica. Se as linhas de comunicação inimigas fossem
cortadas, o ritmo de seu avanço diminuiria sensivelmente, aliviando a pressão
enfrentada pelas forças do comando unificado da ONU e da Coréia do Sul, que
lutava com extrema dificuldade para proteger sua posição.
A decisão de efetuar um desembarque anfíbio, foi tomada em
29 de junho de 1950 – apenas 4 dias depois que o Exército Popular da Coréia do
Norte (EPCN) atravessou a linha do paralelo 38, iniciando a Guerra da Coréia. De
volta a Tóquio, MacArthur iniciou no dia 4 de julho o planejamento da operação,
que recebeu o codinome de “Bluehearts”. O general pretendia desembarcar a 1ª
Divisão de Cavalaria americana (parte da guarnição do Japão) rapidamente,
reforçada para participar dos combates.
Mas este primeiro momento o ímpeto de MacArthur esbarrou em
2 obstáculos. O primeiro e mais importante deles foi o rápido avanço do EPCN em
direção a extremidade sul da península. As poucas unidades disponíveis no Japão
(inclusive a 1ª Div Cav) tiveram de ser mobilizadas para a defesa da cabeça de
praia em torno do porto de Pusan. Em segundo lugar, o desembarque só podia ser
efetuado em 22 de julho, por causa das marés. Isso deixou os oficiais diante da
tarefa, considerada impossível, de reunir muitos homens, navios, aviões e armas
em apenas 18 dias.
A Operação Bluehearts foi cancelada em 10 de julho, mas MacArthur
continuou fazendo repetidas requisições de homens e material bélico necessários
a um desembarque em outra data. O Estado-Maior da Forças Armadas percebeu a
necessidade de se iniciar uma mobilização de grande porte e prometeu colocar uma
divisão de Marines a disposição de MacArthur. Até o dia 4 de agosto seriam
convocados mais de 29.000 reservistas dos Fuzileiros Navais.
Diante disso, o HQ de MacArthur no Japão pôs-se em intensa
atividade e começou a planejar e preparar a nova operação, agora cognominada “Chromite”.
No início, os problemas a serem enfrentados pareceram
insuperáveis. O acesso ao porto dava-se através do canal do Peixe Voador, uma
longa e estreita passagem, de curso extremamente recurvado. Seria impossível
aos navios de maior porte aproximar-se do porto. Esse canal criava obstáculos
de monta a uma frota invasora, prejudicando a ação de destroieres e cruzadores,
encarregados do fogo de artilharia naval para dar cobertura ao desembarque.
Acresce que o canal era pontilhado por rochedos, ilhas e recifes, muitos dos
quais ainda nem sequer mapeados.
Também as marés eram de importância crítica. Incheon tem
enormes variações de marés, com até 11 metros de diferença entre a maré baixa e
a preamar. A frota invasora só conseguiria chegar ao porto de Incheon, pelo
canal do Peixe Voador, na preamar. Mas quando a maré baixasse, qualquer navio
atracado no porto ficaria atolado. A rapidez do fluxo e refluxo das marés
obrigaria as embarcações a ficarem ancoradas durante o combate – o que faria
delas alvos fáceis para a artilharia inimiga baseada na costa. De qualquer
maneira, o canal era tão estreito que os navios não poderiam manobrar sem
correr o risco de encalhar nos bancos de lodo adjacentes, constantemente
deslocados pela maré. Receava-se também que o canal do Peixe Voador e os acessos
imediatos ao porto estivesse minado.
Outro fator levado em consideração foi a estratégica ilha de
Wolmi-do, logo ao lado de Incheon e ligada a terra por um passadiço. Dos morros
dessa ilhota controlavam-se todo o acesso ao porto e o próprio porto,
localizado na planície costeira. Wolmi-do era extremamente fortificada, de modo
que precisaria ser neutralizada antes que ocorressem os desembarques
principais.
Havia ainda dúvida a respeito da escolha das praias
adequadas ao desembarque. Na verdade não existia nenhuma praia, no sentido
convencional da palavra. O ataque principal teria que ser feito nas
proximidades da cidade de Incheon, de encontro a paredões rochosos construídos
contra a penetração do mar. Essas muralhas precisariam ser escaladas e
imediatamente rompidas pelas primeiras tropas de assalto, de modo que
possibilitasse o rápido desembarque de tanques, veículos e armas.
A necessidade de se manter segredo sobre o desembarque em Incheon
inviabilizava um reconhecimento detalhado, marítimo ou aéreo, que facilitasse a
solução da maioria desses problemas. A alternativa foi usar métodos mais discretos.
Cerca de duzentos agentes coreanos infiltraram-se na área, com a missão de
analisar desde o tamanho e a localização das tropas inimigas até pormenores
relativos aos paredões.
Além disso, no dai 1º de setembro um tenente da US Navy
desembarcou numa pequena ilha periférica ao porto. Usando-a como base de suas
operações, ele conseguiu – ajudado por pescadores locais – inúmeros dados a
respeito de posições inimigas, marés, bancos de lodo e paredões. Sua maior
façanha, contudo, foi reativar um farol na ilha de Walmi-do, de modo que
funcionasse na noite do desembarque, ajudando a guiar a frota americana.
Para distrair a atenção do norte-coreanos das inevitáveis
atividades na área de Incheon, efetuaram-se bombardeios, buscas e
reconhecimento (aéreos e marítimos) também nas costas leste e oeste da
península coreana. Essa ideia teve êxito, pois nada foi feito pelos comunistas
para reforçar as guarnições de Seul e Incheon.
O planejamento detalhado da Operação Chromite começou no dia
12 de agosto. A tarefa de planejá-la ficou a cargo do Grupo de Planos e
Operações Estratégicas (GPOE) do HQ do Comando do Extremo Oriente. Um núcleo
composto por oficiais do GPOE foi nomeado para formar o comando do 10º Corpo do
Exército, ativado para efetuar o desembarque. Esse Corpo era comandado pelo
Major-General Edward Almond , chefe do Estado-Maior de MacArthur, e compreendia
a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, e a
7ª Divisão de Infantaria das forças de ocupação do Japão.
Decidiu-se que o desembarque ocorreria em Incheon mesmo, no
dia 15 de setembro. Mas nos momentos finais do planejamento houve muita
ansiedade e tensão. Os oficiais do GPOE , deparavam, em todas as fases, com
obstáculos aparentemente insuperáveis. Além de as condições de desembarque
serem tão arriscadas, haviam problemas relacionados com a reunião dos recursos
necessários: homens, armas, veículos, navios e barcaças de desembarque. As
exigências imperativas por parte da cabeça-de-praia de Pusan, devidas aos
contínuos ataques norte-coreanos, causaram muitos problemas. Até mesmo nos
últimos dias anteriores ao desembarque em Incheon, elementos da 7ª Divisão de
Infantaria continuavam de prontidão, reforçando a defesa de Pusan. Apesar do
empenho sobre-humano para reunir os Marines, o 7º Regimento só chegaria ao
Japão em 17 de setembro (2 dias após o desembarque). Assim. Fuzileiros navais
sul-coreanos foram mobilizados para formar, no início da operação, a força de
reserva do desembarque.
A escassez de navios de desembarque de carros de combate
constituiu outro pesadelo. O número necessário, segundo cálculos mais realistas,
era 47, mas a US Navy só conseguiu mobilizar 17. Os 30 restantes foram
fornecidos pelo Japão, ondem haviam sido usados como balsas de transporte entre
ilhas. Esses navios vieram com sua própria tripulação; um deles era comandado por
almirante e 2 outros por capitães – e os 3 haviam integrado a Marinha Imperial Japonesa,
durante a guerra.
Em 23 de agosto, compareceram a uma reunião realizada em Tóquio
MacArthur, seus oficiais, o chefe de Estado-Maior do Exército e o chefe de operações
navais. Estes 2 representantes do Estado-Maior, em Washington, haviam viajado
ao Japão especialmente para saber detalhes da Operação Chromite. Apesar dos
justificados temores de seus oficiais e das sérias reservas do Estado-Maior, em
Washington, sobre a viabilidade do ousado golpe estratégico, MacArthur
conseguiu contagiar a todos com seu otimismo e autoconfiança.
O plano geral previa que um batalhão, o BTL3 do 5º Regimento
de Fuzileiros Navais, desembarcaria na praia Verde da ilha de Wolmi-do,
aproveitando a maré matinal de 15 de setembro. O restante do 5º Regimento
chegaria a noroeste de Pusan, na praia Vermelha, ao passo que o 1º Regimento de
Fuzileiros Navais desembarcaria na praia Azul, ao sul da cidade.
Os primeiros navios com destino a Incheon deixaram o Japão
no dia 5 de setembro. O total da frota sob o comando do Almirante Arthur
Struble somava 260 embracações. E, quando todas já se encontravam a caminho, um
inesperado furacão, no mar Amarelo, pôs a operação em risco. Mas a frota
desviou-se da tempestade e seguiu para enfrentar outros perigos.
A partir de 10 de setembro efetuaram-se ataques aéreos a
Wolmi-do e Incheon. Nos 2 dias anteriores ao desembarque, a marinha fustigou a
ilha de Wolmi-do e a área das praias Vermelha e Azul com fogo de artilharia
naval, complementado por foguetes, bombas e napalm. Navegando próximo a seus
alvos, alguns destroieres desferiram fogo cerrado sobre as trincheira e as
plataformas dos canhões inimigos. Ao mesmo tempo, cruzadores auxiliados por
observação aérea massacraram alvos mais distantes da costa.
Quando os navios que transportavam o BTL3 chegaram a
Wolmi-do, na manhã de 15 de setembro, mal se podiam distinguir a ilha e a região
a leste do porto, encobertas por espessa cortina de fumaça.
As barcaças de desembarque atingiram a praia Verde às 06:33
e quase não encontraram resistência. Às 06:55 a bandeira americana foi fincada no
pico da principal da ilha – que, às 08:00, já tinha sido completamente
dominada. Mas a essa altura a maré havia mudado. Os Marines estavam entregue a
própria sorte, sem nenhuma chance de socorro até o fim da tarde, quando a maré
alta traria as forças principais para as praias Vermelha e Azul. Os comunistas,
porém, não fizeram nenhuma tentativa de contra-ataque, e às 14:30 o fogo de
artilharia naval começou a preparar o desembarque noturno.
As tropas americanas chegaram à praia Vermelha às 17:31.
Após escalarem os paredões rochosos, com escadas de assalto, marcharam
rapidamente para a cidade, sem encontrar muita resistência pelo caminho. À meia-noite,
o 5º Regimento de Fuzileiros Navais já havia alcançado seus objetivos, as
colinas do Observatório e do Cemitério. 8 embarcações de desembarque de carros
de combate (LST) tinham encalhado e despejavam tanques, veículos e armas,
destinados a ajudar na defesa das praias (caso o contra-ataque viesse pela manhã)
ou respaldar o avanço das tropas para Seul, no dia seguinte.
Ao sul da cidade, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais chegou
à praia Azul exatamente às 17:30, mas o desembarque não ocorreu tão facilmente
quanto na praia Vermelha. Algumas barcaças de desembarque atolaram no lodo, a
450 m da costa, e parte do batalhão de reserva desembarcou no local errado,
pois a nuvem de fumaça decorrente do bombardeio anterior ainda obscurecia tudo.
Apesar desse começo infeliz, o 1º Regimento também conseguiu alcançar seu objetivo
até a meia-noite.
Os desembarques se haviam processado com poucas baixas
americanas: 20 mortos em combate, 1 morto em consequência de ferimentos, um
desaparecido em combate e 174 feridos. No entanto, logo se descobriria que,
embora apanhado desprevenido, o inimigo não iria permitir que se tomasse Seul
com facilidade. Praticamente todo o desenrolar da guerra dependeria dessa
batalha.
A capital sul-coreana foi guarnecida por cerca de 20 mil
soldados do EPCN, que resistiram a sucessivos assédios da artilharia americana,
até serem aniquilados. Os Marines chegaram à periferia de Seul em 20 de
setembro e, mesmo com seu superior poder de fogo, levaram 7 dias para tomar
completamente a cidade. Nesse tempo, a destruição e as baixas foram enormes. O
desembarque em Incheon, que havia parecido quase impossível, acabou sendo um
sucesso. Essa “vitória impossível” (como se tornou conhecida) foi a última de
MacArthur.
A partir de então, a Guerra da Coréia entraria em nova fase,
com as forças do comando unificado da ONU tomando a iniciativa do conflito. O
presidente Harry Truman autorizou a invasão da Coréia do Norte e, em 6 de
outubro, a ONU aprovou a resolução americana.
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