FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

terça-feira, 27 de agosto de 2019

O Raid Aéreo Israelense na Guerra dos 6 Dias *174




Roy Reis Friede

Guerra dos 6 dias, 1967. Israel executa uma impressionante operação de bombardeio contra as bases aéreas egípcias e destrói em menos de 3 horas, em uma das mais espetaculares ações militares já vistas, a quase totalidade da força aérea daquele país ainda no solo.

Às 07:45 h da manhã de segunda-feira. 5 de junho, houve o primeiro ataque aéreo israelense. Foi dirigido contra 10 aeroportos, dos quais 9 foram atingidos, precisamente ao mesmo tempo. O décimo, foi atacado poucos minutos mais tarde, pois ainda estava semi-encoberto pela neblina matinal sobre o canal.

Os aparelhos tinham levantado voo a intervalos cuidadosamente cronometrados, a fim de atingirem o alvo ao mesmo tempo, tirando assim, partido de um máximo de surpresa.

Cada ataque foi levado a cabo por 4 aeronaves voando aos pares, os quais chegaram aos seus objetivos e executaram suas missões exatamente de acordo com as instruções e todas as bombas explodiram. Os 10 aeroportos atacados foram: El Arish, Gebel Lbni, Bir Gifgafa, Bir Thamada, Abu Sueir, Kabrit, Inchas, Cairo Oeste, Beni Sueif e Fayid.

A maior parte da Força Aérea Egípcia foi surpreendida no solo, com exceção de 4 aeronaves que, no momento do ataque compunham uma esquadrilha em treinamento desarmadas, pilotados por 1 instrutor e 3 alunos.

A Escolha do Horário

4 razões fizeram que este horário (07:45- hora de Israel) fosse escolhido:

  1. O estado de alerta do Egito estava em nível máximo. Era fácil presumir que desde que os egípcios iniciaram sua concentração de tropas no Sinai, há 3 semanas, haviam várias esquadrilhas de Migs-21 esperando na cabeceira da pista prontos para decolar em 5 minutos, todas as manhãs. 1 ou 2 patrulhas provavelmente estariam no ar àquela hora, propícia a um ataque inimigo, porém seria pouco provável que a prontidão fosse mantida indefinidamente. Ao constatar que nenhum ataque ocorrera dentro de 2 ou 3 horas após a alvorada, o estado de alerta foi relaxado desligando alguns de seus radares. Os israelenses estimaram em 07:30 h (08:30 no Cairo) para esta condição.
  2. Ataques aéreos são feitos ao alvorecer. Como os pilotos tem que estar prontos 3 horas antes da decolagem, significa que precisam levantar-se por volta da meia-noite, ou simplesmente não dormirem. Ao anoitecer do primeiro dia de guerra eles teriam estado de vigília durante 36 horas, com toda a noite e possivelmente o dia seguinte de ação a sua frente. Efetuando o ataque às 07:45 eles poderiam dormir até perto das 4 horas.
  3. Nesse período do ano, uma neblina matinal cobre o Nilo, o Delta e o Canal de Suez. Por volta das 07:30 h ela geralmente se dispersa e, às 08:00 h o tempo costuma estar ótimo e a visibilidade atinge o máximo, devido ao âgulo do sol, o ar fica parado, fator importante para a pontaria dos bombardeiros sobre as pistas-alvo.
  4. 07:45 (hora de Israel) equivale às 08:45 no Cairo. Por que 07:45 em vez de 08:45? Os egípcios começam a trabalhar às 09:00. Um ataque 15 minutos antes surpreenderia os generais e comandantes da Força Aérea Egípcia a caminho dos seus gabinetes,e os pilotos e o pessoal de terra dirigindo-se para seus cursos de treinamento e outras atividades.
O General Hod estava em seu QG quando a última patrulha matinal egípcia levantou voo e mostrou-se nos radares israelenses. Olhou para seu cronômetro. Sabia perfeitamente quanto tempo eles permaneceriam no ar. Às 07:45 as patrulhas estariam quase sem combustível e preparando-se para aterrizar.




Os Migs em voo

Os objetivos principais do primeiro ataque eram tornar as pistas inutilizáveis e destruir o maior número de Migs-21 possível, pois eram os únicos caças egípcios que poderiam frustar os planos da aviação israelense de destruir a forças de bombardeiros egípcios de longo alcance, maior ameaça a população civil de israel. 8 formações de Migs-21 foram destruídas quando estavam rolando  à extremidades das pistas.

Antigamente os israelenses tinha conseguido persuadir os egípcios a remover 20 dos seus caças de primeira linha, 12 Migs-21 e 8 Migs-19 da área ao redor do Cairo e do Canal de Suez (onde estão concentradas as principais bases egípcias) para Hurghada, mais ao sul, onde estavam praticamente fora de combate.

Os israelenses tinham conseguido isso alguns dias antes, enviando aeronaves de reconhecimento para sobrevoar o Golfo de Ácaba, fazendo-os pensar que o ataque seria a leste, na extremidade da península do Sinai ao invés de um envolvimento pelo oeste vindo do mediterrâneo. Em Hurghada eles ficaram efetivamente afastados das áreas de atuação da aviação israelense. Após o ataque, estas aeronaves não mais se dirigiram para o sul rumo a Luxor e outras bases no Egito Superior, às quais lhes dariam proteção, dirigiram-se para o norte, para as bases próximas ao Canal, onde constataram que suas pistas estavam destruídas e caíram em mãos inimigas.

Além destes, apenas 2 esquadrilhas de 4 Migs-21 puderam levantar voo, e conseguiram abater 2 caças israelenses, os quais posteriormente foram abatidos.


O Ataque

A aviação israelense, em esquadrilhas de 4 aeronaves, avançou por diversas rotas, algumas por uma curta rota circular a direita por sobre o mar, rumo às bases ao redor do Cairo, do Canal e do Sinai. Outras avançaram diretamente para as bases no Egito Superior. Voando extremamente baixo, não mais que 10 metros da superfície, mantiveram-se fora das telas dos radares egípcios. Os israelenses também não queriam aparecer nas telas dos radares russos, ingleses e americanos que também estavam presentes e monitoravam a situação.

O uso do radar já era intenso àquela época. Os egípcios tinham 16 unidades só no Sinai, e outros países também queriam saber o que se passava. Haviam navio russos ancorados na área e a Sexta Frota americana fazia voar suas patrulhas-radar baseadas em porta-aviões, além de seus radares de superfície e do navio de elint USS Liberty. Os ingleses possuiam um radar baseado em Chipre, no alto do monte Trudos.

Os sistemas de ECM vinham sendo aperfeiçoados desde a II Guerra, a fim de interromper, confundir ou despistar por meio de artimanhas eletrônicas, os radares inimigos. Os israelenses não estavam alheios a estas práticas, nem tampouco eram novatos nela. Durante a II Guerra os ingleses utilizaram-se de  transmissores-rádio de alta potência, com controladores de fala alemã, para transmitir informações falsas aos pilotos do Reich, nas frequências que se sabia que utilizavam. Eram todos recrutados entre judeus que haviam fugido da Alemanha antes da eclosão da guerra. Os israelense estavam na vanguarda da utilização destes sistemas, atividades ECM e similares.

Embora 23 estações-radar egípcias tivessem sido postas foram de ação, dentre elas as 16 do Sinai, iso não foi feito antes da tarde de segunda-feira. As ECM não foram usadas antes 07:45 h  para não alertar os egípcios de algo estava para acontecer. Mas não ha dúvidas de que depois disso os israelenses  interferiram pesadamente não só contra os radares egípcios, mas também contra os observadores indesejados.

Quando a primeira vaga atingiam seus alvos, a segunda já estava a caminho e a terceira acabava de levantar voo, com partidas a intervalos de 10 minutos. Cada esquadrilhas de 4 aeronaves tinham 7 minutos para atingir seus alvos, o bastante para 3 ou 4 passagens. Mais 3 minutos foram acrescentados para compensar erros de navegação ou outra passagem sobre o alvo. Os israelenses operavam com incrível rapidez. O tempo de rotação concedido às aeronaves atacantes era o seguinte:

  • tempo até o alvo: aprox 22 1/2 minutos
  • tempo sobre o alvo: aprox 7 1/2 minutos
  • tempo para regresso: aprox 20 minutos
  • tempo de reabastecimento: aprox 7 1/2 minutos
Isto quer dizer que as aeronaves podiam sobrevoar seus alvos pela segunda vez a menos de 1 horado ataque inicial.

Para defender Israel e suas bases a Força Aérea Israelense deixou apenas 12 caças. 8 voando em cobertura e 4 em alerta na extremidade da pista. Israel jogou alto. Era ganhar ou perder, mas os riscos haviam sido cuidadosamente calculados e os planejadores israelense jogaram com confiança e decisão.




Discutindo o bombardeio dos aeroportos egípcios, o Gen Weizmann disse: " Nós podíamos ter sobrevoado os objetivos apenas 1 vez, mas os nossos rapazes não são de poupar esforços". Os pilotos atacantes sobrevoaram várias vezes seus alvos para conseguir melhor pontaria e consequentemente  inflingir maiores danos. Utilizaram-se em grande escala e com máxima eficiência o bombardeio de mergulho. "É por isso que não nos interessam os bombardeiros estratégicos. não temos interesse de atacar a população civil. Para destruir aeroportos e aparelhos os nossos caças são mais que eficientes" comentou Weizmann.


As bombas Israelenses

A quase total destruição da aviação egípcia em terra não se deveu apenas à surpresa, mas em parte também a uma bomba que os israelenses desenvolveram e aperfeiçoaram especificamente para destruir pistas. Assim que a bomba deixa seu vetor, um foguete de retroação é disparado e fim de deter-lhe o impulso, diminuindo sua velocidade. A seguir um foguete propulsor a acelera em direção a pista. Mal ela penetra no concreto uma espoleta de tempo a detona, podendo ser instantaneamente ou de ação retardada. Normalmente as pistas são fáceis de consertar, mas a situação se complica se  as bombas continuam a explodir.

O objetivo dessa bomba especial é permitir que os caças atinjam as pistas em voo rasante  em alta velocidade. Uma bomba comum, lançada desta maneira, rebateria e causaria danos superficiais. O engenho israelense afasta a necessidade de voar até junto às bocas da antiaérea inimiga num taque de mergulho. Nem todos os caças atacantes possuíam estas bombas, e muitos valeram-se de bombas comuns de 200 e 500 kg, lançados em mergulho de 2000 metros de altura. Os caças egípcios, tanto em terra quanto no ar, foram quase todos destruídos por fogo de canhão.




A Antiaérea Egípcia

O fogo antiaéreo egípcio foi bem mais leve que os israelenses esperavam, e não muito certeiro. Embora os egípcios lançassem vários dos seus SA-2 da fabricação soviética nem um só aparelho israelense foi atingido por eles. A altitude em que os israelenses os operavam, provaram ser totalmente ineficazes. Demoram muito para adquirir velocidade, sendo inúteis abaixo dos 1500 m de altitude. Em certo momento um piloto israelense viu o que parecia ser outra aeronave aproximando-se calmamente, como se para juntar-se ao dele em formação. Tornou a olhar e percebeu que se tratava de um míssil. Voava na mesma direção que sua aeronave e aproximava-se dele pelo lado. O piloto chegou-se para ele e deixou-o passar por baixo. O míssil continuou a voar até perder-se de vista. Estes mísseis foram por muito tempo a principal arma de defesa russa. Sua inutilidade, além do fato de vários deles caírem em mãos ocidentais foi de muita preocupação para os planejadores soviéticos.

A Artilharia Balística Egípcia

Havia bastante apreensão por parte da população civil israelense quanto aos tão apregoados mísseis superfície-superfície que Nasser proclamara poderem alcançar Tel-Aviv. Havia anos que sabia=se que uma equipe de cientistas alemães e da Europa Oriental trabalhavam num centro de pesquisas, criado por Nasser nos arredores do Cairo e que os mísseis haviam sido os astros das paradas comemorativas do dia da revolução, na capital egípcia. Mas este tipo de míssil não foi utilizado, e pareceu que não passava de um mito. A aviação israelense não aproveitou a oportunidade que teve de destruir este centro de pesquisas, provavelmente responsável pela fabricação do gás venenoso que as tropas egípcias usaram no Iemem. Lamentou um oficial da Força Aérea Israelense: "Acho que ainda vamos nos arrepender de não termos tomado essa decisão".

O ataque continua

Durante 80 minutos sem trégua, a Força Aérea Israelense, castigou os aeroportos egípcios, seguindo-se após 10 minutos de intervalo 80 minutos de ataques. Nessas 2 horas e 50 minutos, os israelenses destruíram o potencial ofensivo da aviação egípcia, arrasando-a como força de combate.

Ao todo, 19 aeroportos egípcios foram atingidos no primeiro dia de guerra. Além dos 10 anteriores mencionados mais Mansura, Helwan, El Minya, Almaza,  Luxor, Deversoir, Hurghada, Ras Banas e Cairo Internacional foram também atacados nessa manhã.

a Força Aérea Israelense calculou que nesses 170 minutos destruiu 300 das 340 aeronaves de combate egípcias, inclusive todos os 30 bombardeiros TU-16 de longo alcance.

O grande aeroporto de El Arish, no Sinai, foi a única das bases atacadas cujas pistas não foram postas fora de ação, já que os planos israelenses eram de utilizá-lo como base de abastecimento e evacuação de baixas. Na terça-feira ã noite ele já estava sendo utilizado para esse fim.

Em mais de uma das bases egípcias a aviação israelense destruiu todas as aeronaves, ma deixou intactos os falsos aparelhos, sob a sua cobertura de camuflagem. Quando lhe perguntaram se isso se devia a má imitação ou ã capacidade da inteligência israelense, um oficial respondeu que a ambos, acrescentando porém que em Abu Sueir, perto de Ismaília, tinham feito também explodir algumas contrafações, além de atingir todos os aviões de verdade. Disse que nos aeroportos do Sinai, em que a inteligência israelense funcionou ainda melhor do que nos principais aeroportos egípcios, não houve tais enganos.




A resposta da comunidade árabe

Assim como os israelenses haviam calculado não terem as aeronaves soviéticas no Mediterrâneo ligação direta com o alto comando egípcio e serem capazes de transmitir informações do seu radar aos egípcios, no espaço de 10 minutos, igualmente o General Hod contava ter um avanço de umas 2 horas para lidar com a Força Aérea Egípcia, antes da intervenção síria e jordaniana. Na realidade teve 4 horas. Só ao meio-dia é que os sírios e jordanianos envolveram-se no combate. A esta altura os israelenses já haviam destruído a maior parte das aeronaves inimigas e podiam voltar-se contra os novos adversários. "Podemos ter de enfrentar a Síria e a Jordânia em 25 minutos", comentou Hod laconicamente.

Pouco antes do meio-dia da segunda-feira, a Força Aérea Síria lançou suas bombas perto da refinaria de petróleo da baía de Haifa e atacou o aeroporto de Megido, onde destruíram alguma aeronaves de imitação. Os Israelenses reagiram atacando uma base síria perto de damasco.

Após um ataque jordaniano ao meio dia contra a base de satélites israelense de Kefer Sirkin, em que destruiu no solo uma aeronave de transporte Noratlas, a aviação israelense bombardeou os aeroportos de Mafraq e Amã, na Jordânia,  pondo-os fora de ação, e a instalação de radar de Ajlun.


Antes do anoitecer da segunda-feira os israelenses fizeram novas incursões a maioria dos 23 aeroportos que haviam atacado no decorrer do dia. Além de utilizar bombas comuns, empregaram as de ação retardada pra que explodissem periodicamente durante a noite, impedindo qualquer tentativa de reparar as pistas.Como se isso não bastasse, prosseguiram ainda com seus ataques contra estas bases durante a maior parte da noite.

Quando na manhã seguinte, a Força Aérea Iraquiana atacou a cidade de Natanya, os israelense imediatamente revidaram atacando a base aérea H3, a mais ocidental do Iraque, próxima da fronteira com a Jordânia.

Após fazer uma demonstração um pouco ao norte do mar da Galiléia, com um par de caças Hawk, um dos quais foi abatido, os libaneses retiraram-se honrosamente da guerra.

O saldo das ações

Até o cair da noite do segundo dia da guerra, os israelense haviam destruídos 416 aeronaves, sendo 393 em terra. Haviam feito mais de 1000 incursões, sendo que alguns pilotos participaram de 8 por dia. Ao anoitecer da terça-feira  um total de 26 caças israelenses haviam sido abatidos, incluindo 6 Fouga Magister de treinamento, equipados com foguetes de 68/80 mm de ação anticarro. 

Foram perdidos 21 pilotos, sendo cerca da metade feitas prisioneiros da Síria e do Egito. O Iraque devolveu 2 aviadores, assim como a Jordânia. Um piloto foi dado como linchado no Egito, e outro voltou a salvo para Israel. Houveram negociações para devolução de 2 outros prisioneiros dos egípcios. Pelo menos 2 dos pilotos atingidos sobre a Síria, preferiram não observar a orientação de seus comandos e se lançar de paraquedas, optando por estatelar-se com suas aeronaves a cair em mãos sírias.

Os danos contra a Força Aérea Egípcia, foram calculados nesses dois dias em cerca de 500 milhões de Dólares, perdendo-se não somente aeronaves, mas também equipamentos de solo, incluindo 23 estações de radar, além de vários parques de lançamento de mísseis superfície-superfície, sendo 16 deles no Sinai.

Porém o equipamento não é tudo e talvez sejam precisos muitos anos para restaurar o moral e o espírito da Força Aérea Egípcia. Calcula-se que cerca de 100 de seus 350 pilotos tenham perecido nos ataques. Em vista da grande quantidade de Migs-21 destruídos rolando pela pista, este números provavelmente incluem uma grande proporção dos mais experientes profissionais da caça egípcia.

Nasser sabia perfeitamente que, pelo menos pelos padrões egípcios, o israelenses não tinham uma grande força aérea. Possuíam um total de cerca de 300 aeronaves, dos quais 50 ou 60 Fouga Magister de treinamento, equipados com foguetes anticarro. Entretando tinha-lhe chegado a noticia de leva após leva de elementos israelenses atacando 19 de suas bases aéreas, a intervalo de 10 minutos, durante 2 horas e 50 minutos, quase ininterruptamente.

No seu discurso de renúncia, a 9 de junho, Nasser declarou: "Se agora dissemos que o golpe foi muito mais forte do que esperávamos, devemos também dizer, ao mesmo tempo e com certeza, que ele foi muito mais forte do que os seus recursos permitiam... O inimigo atacou de uma só vez todos os aeroportos civis e militares da República Árabe Unida. Isso significa que Israel contava com algo mais do que a sua força normal para proteger seus céus de qualquer revide de nossa parte... Pode-se dizer, sem medo de exagerar, que o inimigo contava com uma força aérea 3 vezes mais potente do que a sua normal".


Esta referência de uma força 3 vezes superior é significativa. Sem dúvida ele se baseou no tempo de reabastecimento de sua própria aviação. Os israelense ficaram sabendo, através de planos secretos da Força Aérea Egípcia, apreendidos em El Arish, que os egípcios baseavam seus planos no fato de suas aeronaves voltarem a sobrevoar os alvos de 3 em 3 horas, em vez de em 1 hora ou menos, como neste ataque. E isso, apesar de muitas das aeronaves egípcias terem um distância muito menor a percorrer, para alcançar as principais bases israelenses desde os seus aeroporto no Sinai, do que os israelense para chegar as bases ao redor do Cairo e do Canal de Suez. Comparando com o tempo de abastecimento, que é de 7 a 10 minutos para os israelenses, o dos egípcios era superior a duas horas.

Enquanto os egípcios calculavam 2 incursões diárias para cada aparelho, muitos dos pilotos israelenses fizeram 8 e alguns até mais, na segunda-feira da guerra.

A disparidade destes números fala por si e nela, sem dúvida, reside a principal causa da vitória de Israel.

Pensa-se que Nasser imaginava uma grande batalha de confronto a maneira britânica na península do Sinai, entre suas forças aéreas centrada em duelos aéreos a maneira antiga. Mas mesmo supondo que os israelenses não tivessem dado o golpe decisivo, pegando quase todas as aeronaves egípcias em terra, há poucas razoes pra crer que o resultado final fosse outro. Segundo os israelenses, em 64 lutas de aparelho contra aparelho, 50 Migs egípcios foram abatidos, contra nenhum Mirage israelense. Até mesmo os subsônicos Vautours e Mysteres puderam derrubar os Migs-21.

As aeronaves israelenses destruídas foram atingidas por fogo antiaéreo nos deslocamentos ou quando efetuavam os ataques. O General Hod foi conclusivo: "Em combates entre aparelhos, o escore foi de 50 x 0. Abatemos 50 Migs sem nenhuma perda".

As razões do sucesso

Como conseguiram obter um sucesso tão absoluto em tão pouco tempo? Eis as razões apresentadas pelo General Hod:


  1. 16 anos de planejamento estavam por trás desses 80 minutos iniciais. "Vivíamos com o plano, dormíamos com o plano, comíamos o plano. Estávamos sempre a aperfeiçoá-lo".
  2. Conhecimento dos movimentos e atividades do inimigo e da situação e dos pormenores  das suas bases aéreas: da concentração de suas aeronaves, da localização de seus radares e mísseis antiaéreos.
  3. O controle operacional: capacidade de absorver e integrar nos planos existentes as novas informações que vão chegando e transmiti-las aos pilotos no ar, desempenhou papel vital para o sucesso da operação.
  4. A execução do plano pelo pilotos (cuja idade média era de 23 anos) foi o quarto elo vital para o sucesso. Refletiu anos de treino de voo, de navegação e de precisão de bombardeio. "Normalmente esperamos que os resultados na guerra sejam cerca de 25% inferiores aos dos exercícios em tempo de paz, devido a excitação e ao fogo antiaéreo. Na realidade porém,  os resultados foram ainda melhores que os dos exercícios, talvez porquê os pilotos estavam tensos e procurando concentrar todos seus esforços em obter um máximo de precisão e eficiência. Talvez também por não terem de observar os regulamentos de segurança aérea vigentes em tempos de paz. Ficaríamos satisfeitos se cada aeronave destruísse 1 aparelho inimigo em cada missão. Na realidade os números foram muito superiores". Numa ocasião, 2 aeronaves israelenses destruíram 16 bombardeiros egípcios em terra, num espaço de 4 minutos.
Há anos que os israelenses vinham praticando esse tipo de ataque. No Neguev Meridional há 4 ou 5 alvos várias vezes atingidos por milhares de bombas, em exercícios de ataque. Pelo menos uma vez por ano são efetuados ataques a estes alvos e, assim, nenhuma aeronave deixou de atingir o objetivo no momento exato, embora navegando apenas com base na estimativa.




A boa qualidade humana e o alto nível de treino não desempenharam seu papel apenas nos ares. Foram igualmente importantes em terra. Abastecer modernas aeronaves de combate em 7 ou 10 minutos e conservar uma força aérea que faz mais de 500 incursões diárias, requer enorme capacidade e coordenação. Observou o General Hod após o término da guerra:

"Às 07:45 h da manhã de segunda-feira a disponibilidade das nossas aeronaves era superior a 99% e mantivemos esse nível durante toda a semana de operações. Embora possa ter levado 1 hora remendando buracos em 1 ou 2 aparelhos, nunca nenhum dos nossos caças ficou fora de combate, excluindo os que perdemos. Jamais tivemos pilotos à espera de aeronaves".

E o General Weizmann recordou: "3 ou 4 meses antes da guerra, um grande contingente de americanos provenientes de escolas de estado-maior da aeronáutica, visitou Israel. Tinham estado no Cairo e ficaram impressionados com o que haviam visto. O mesmo aconteceu na Jordânia, em face do que Hussein lhes dissera. Quando me competiu falar-lhes tive a impressão de que achavam que estávamos fritos. Contei-lhes o que costumávamos dizer durante a II Guerra Mundial: Os alemães voltaram a cercar-nos , pobres-diabos! Pareceu-me que eles nos achavam muito pretenciosos. Não se enganavam, mas tínhamos boas razões para isso".

Às 10:35 h (hora de Israel) da manhã de segunda-feira, a Força Aérea do Egito fora destruída. Não mais constituía uma força de combate ativa e não podia dar cobertura ou apoio ao seu exército no Sinai.

O tempo agora era vital para os israelenses. A maioria do gabinete estava apavorada ante a perspectiva de um cessar-fogo premturo. Tinham recordações desagradáveis vividas em  1956, quando a pressão dos EUA levara a ignominia e a derrota a ingleses, franceses com a vitória já à vista. Todo o plano israelense fora concebido pensando-se que haveria pouco tempo e que a vitória teria de ser a mais rápida e decisiva possível. Seu plano era ousado. Alguns diriam mesmo que arriscado. Mas ao contrário dos ingleses e franceses, no seu ridículo fiasco de 1956, os israelenses possuíam uma ideia precisa do inimigo e da sua capacidade. Esse seria o segredo do seu sucesso.

48 horas era tudo precisavam para desmoralizar o exército de 100.000 homens que Nasser tinha no Sinai. Teriam também que alcançar o Canal de Suez, capturar Sharm El Sheikh e tomar Jerusalém e a maior parte da margem ocidental do Jordão. Mas dispunham dessas 48 horas? Dayan estava ansioso. Se Nasser tivesse sido informado pelos comandantes da sua força aérea da verdadeira situação dessa força e considerasse, acima de tudo, os interesses do seu povo, poderia ter exigido uma sessão de emergência do Conselho de Segurança e pedido um imediato e incondicional cessar-fogo. Se Nasser tivesse feito isso, Israel ficaria numa posição difícil. Foi por esse motivo que Dayan exortou os comandantes israelenses a avançarem com o máximo de velocidade, mas poucos precisavam ser exortados.

5 comentários:

  1. ACOMPANHEI A GUERRA DOS 6 DIAS,ATRAVÉS DA RÁDIO GUAIBA-PORTO ALEGRE, QUE ENVIOU O JORNALISTA, JÁ FALECIDO PEDRO ALCARAZ GOMES

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  2. EU TINHA 10 ANOS, NA GUERRA DOS 6 DIAS, 1967, E NÃO PERDI NADA. NA ÉPOCA TORCIA PELOS ISRAELENSES.
    HOJE NÃO APROVO A POLÍTICA DE OCUPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE CASAS E EDIFÍCIOS NA PALESTINA, E A AÇÃO CONTRA OS PALESTINOS, POIS ENTENDO QUE O MELHOR É ENTENDIMENTO, A NEGOCIAÇÃO.

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  3. Errata: - O nome correto do Jornalista anteriormente referido é FLAVIO ALCARAZ GOMES

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  4. Acredito que se Israel é hoje um país deve-se à perícia, extrema ousadia e coragem de seus pilotos de caça.Nasser foi um líder fanfarrão que não média as consequencias de suas ações e, por isto foi derrotado inapelavelmente. Pena que ele e os seus não aprenderam o valor de viver em paz. Então ferro neles!

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    1. Israel começou sua existência como nação soberana sendo atacada por todos os lados por vários países, sem ter força armada constituída e deu a volta em todos eles. Exemplo de competência a ser seguido por todos. Hoje é a maior potência militar daquela região, e dá um show aos seus inimigo desorganizados e incompetentes. Os países árabes ainda não aprenderam a fazer as coisas com seriedade e abundantes são os exemplos de falta de presteza e instrução débil. Deviam aprender com Israel.

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