No dia 06 de junho de 1944, 34 mil soldados norte-americanos
embarcaram em uma missão decisiva. Em média eles tinham 22 anos e muitos
acreditavam que não conseguiriam voltar. A Europa estava ocupada pelos nazistas, e os Exércitos Aliados lançaram a maior operação anfíbia da história, visando a
reconquista deste território, contra um litoral fortemente defendido pelas
forças alemãs. A "Operação Overlord" iniciou-se com um lançamento em massa de cerca de 3 divisões aeroterrestres e o assalto anfíbio à 5 praias denominadas "Utah", "Omaha", "Sword", "Gold" e "Juno", nome este código para efeito militar. Aos paraquedistas cabia proteger os anfíbios quanto a chegada de reforços, e aos anfíbios a consolidação de uma cabeça de praia para possibilitar que o "grosso" das tropas aliadas pudessem desembarcar em segurança. Era uma chance única e não podia dar errado.
Mas para cada um dos soldados americanos que desembarcou em "Omaha Beach", só o fato de chegar em terra já era uma conquista, pois foi uma corrida pela sobrevivência. Esta batalha épica de 12 horas pelas conquista de uma cabeça de praia na mais "difícil" das 5 escolhidas, marcou esta grande operação de retomada da Europa Ocidental, que mesmo minuciosamente planejada apresentou muitas falhas, tal sua magnitude e a dificuldade de se implementar um assalto sem precedentes.
Mas para cada um dos soldados americanos que desembarcou em "Omaha Beach", só o fato de chegar em terra já era uma conquista, pois foi uma corrida pela sobrevivência. Esta batalha épica de 12 horas pelas conquista de uma cabeça de praia na mais "difícil" das 5 escolhidas, marcou esta grande operação de retomada da Europa Ocidental, que mesmo minuciosamente planejada apresentou muitas falhas, tal sua magnitude e a dificuldade de se implementar um assalto sem precedentes.
Fatores surpreendentes e artimanhas extraordinárias marcaram
esta operação que tantas vidas custaram aos exércitos envolvidos. Não foram
apenas homens e armas, mas truques de ilusionismo e invenções bizarras como
carros de combate adaptados como viaturas anfíbias de forma improvisada,
paraquedistas falsos que explodiam e mensagens passadas através de
pombos-correio. Fatores como a previsão do tempo ou a fivela do arnês dos paraquedas
influenciaram significativamente o que estava por vir. Mesmo em um episódio
onde defesas engenhosas a estratégias clássicas de defesa espalhadas ao
largo de 300 metros de areia exposta, o desfecho dependeu de liderança e
bravura, onde a determinação de homens, que vendo seus colegas tombarem sob o
incessante fogos de morteiros e automáticas alemães, lograram por conquistar
seu objetivo a duras penas.
Após 5 anos do início da 2ª Guerra Mundial o futuro da Europa
estava ameaçado. O Nazistas de Hitler ocuparam todo o continente e os Estados
Unidos e a Inglaterra encabeçavam uma luta de oposição aos invasores,
juntamente com seus aliados. Eram 06:00 AM ao largo do litoral norte francês, e
uma primeira onda de 8 companhias do US Army posicionava-se para desembarcar em
“Omaha Beach” e iniciar uma das mais memoráveis batalhas de todos os tempos.
Centenas de homens apreensivos aguardavam, cientes de enfrentariam uma empreitada
difícil e que muitos não voltariam. Era o batismo de fogo da maioria e o
silêncio imperava dentro dos lanchões de desembarque, pois todos sabiam o que
iriam enfrentar.
Um contingente de 1.200 militares alemães defendiam esta
praia, equipados com a mais rápida metralhadora do mundo, a excepcional MG 42, que
possuía uma cadência 2x maior que a Browning dos assaltantes. Seus tiros não podem ser ouvidos
individualmente e seu som assemelha-se a um tecido sendo rasgado. Seu ferrolho
dotado de cilindros deslizantes lhe proporcionava uma cadência de 1.500 tpm a
880 m/s, disparando 50 tiros em 2,5 s e requerendo troca de cano a cada 400
disparos para evitar superaquecimento. 5 destas armas começaram a atingir
incessantemente os lanchões, antes que qualquer soldado saísse deles, com 125
projéteis chegando a cada segundo. O sucesso do desembarque dependia do
silenciamento delas, o mais rápido possível. Este foi um grave erro de
planejamento: um veículo blindado e especialmente adaptado para o desembarque, para
neutralizar as MG 42 deveria fazer a ponta de lança do assalto, e ainda deveria ter acontecido intensa preparação por parte da artilharia naval, o que não aconteceu, pois confiou-se nos bombardeios aéreos. Esqueceram que nuvens não estão nem aí para planos militares. Mergulhadores de combate poderiam ter minado os obstáculos anti-desembarque, para que os carros de combate pudessem fazer a vanguarda.
O mar estava desfavorável, com forte balanço e água entrado
no interior dos lanchões. A US Navy, no intuito de aumentar o moral dos
soldados, lhes serviu uma refeição pesada algumas horas antes. Esta refeição
aliada ao balanço constante da embarcação, dentro da qual os soldados tiveram
que esperar alguma horas, acabou por enausear boa parte da tropa, debilitando
sua capacidade de combate. Às 06:40 AM os soldados já desembarcavam. Com frio,
molhados, enuseados, carregando cerca de 50 kg de equipamento e sob o assédio
da MG 42. Assim que a rampa abaixava o fogo alemão era para ali dirigido,
abatendo os assaltantes como que num matadouro. Para fugirem do fogo mortal que
ali se abatera muitos soldados começaram a pular pela lateral, caindo dentro da
água com cerca de 3 m de profundidade, prática esta que foi advertida para que
não fosse implementada. Sua carga de equipamentos e a profundidade fez com que
muitos se afogassem. Muito entraram na guerra para não disparar um único tiro,
morrendo ali mesmo. Muitos se livraram do equipamento, da jaqueta molhada e da
munição e conseguiram voltar a superfície. Aqueles que voltavam a superfície
reencontravam a saraivada de projéteis de 7,92 mm, que eram mortais até 30 cm
sob a água. A resistência da água é tão grande que um projétil destes para
totalmente em menos de um metros de trajetória subaquática. Manter esta
distância vital pode ter, involuntariamente, salvado a vida de muitos. Dos
cerca de 1.450 homens da primeira leva, estima-se que cerca de 450 morreram nos
primeiros momentos. Toda esta carnificina ocorreu ainda dentro da água, sem que
os homens sequer chegassem a praia, a parte mais difícil. Atravessar os 300
metros de praia repleta de obstáculos e sob o fogo incessante era o desafio que
estava por vir. Cavalos de frisa e estacas, arame farpado e campos minados eram
os principais meios de retardamento, expondo as vítimas para as MG 42 e os obuses. Após estes obstáculos vinham as dunas e
seria a partir daí que a luta ficaria mais equilibrada.
Colocar carros de combate na praia antes da infantaria teria
evitado o desastre inicial, porém os estrategistas consideraram que as
embarcações que os transportariam eram muito vulneráveis. Blindados Sherman
denominados “tanques DD” foram construídos especialmente, e nada mais eram que
este carro de combate montado dentro de uma saia de lona que o fazia flutuar e
com propulsores, e seria abaixada assim que chegasse a praia. Era uma adaptação
de tempos de guerra e não um veículo dedicado, porém apresentou-se promissora
nos testes realizados. O plano era colocar um “tanque DD” a cada 45 metros, apoiando a infantaria, totalizando 32 veículos. O problema é que eles foram
testados em lagos e não em um mar revolto e agitado. As ondas no Canal da
Mancha tinham quase 2 m de altura, e o tempo mostrava-se adverso já há dias.
Porém a concentração no sul da Grã-Bretanha para o desembarque era difícil de
ser ocultada, e os aliados não podiam esperar mais, sob o risco de serem
descobertos. A 3.200 km dalí, dias antes, navios meteorológicos indicaram o dia
06 como climaticamente mais favorável, e este dia seria único e não poderia ser
adiado. A decisão foi tomada, o tempo melhorou, mas o mar continuou agitado. A
5 km da praia a embarcação dedicada lançou seus “tanques DD” e as ondas altas e a
pressão da água cobraram seu preço. Os blindados começaram a afundar e dos 29
lançados, 27 não chegaram a praia, deixando a infantaria por conta própria.
Alguns soldados, principalmente motoristas afundaram com seus veículos.
No topo das dunas 14 “bankers” de concreto infernizavam a
vida dos norte-americanos que chegavam a praia, com suas automáticas. As guarnições de defesa estavam
ali há meses e tanto soldados quanto oficiais não acreditavam que o assalto
ocorresse na Normandia, tal qual o alto comando. Eram instalações confortáveis
e com boa comida. Esta sensação de que o ataque não seria ali deveu-se a um bem
orquestrado plano de engodo e dissimulação. Foi criado uma força de invasão
falsa próximo à Pas de Calais, no ponto onde o Canal da Mancha é mais estreito,
fazendo com que os alemães concentrassem suas forças neste ponto, a cerca de
300 km do intencionado. Depois de 2 semanas do desembarque os nazistas ainda acreditavam em um desembarque em Calais. Infláveis simulando veículos e aeronaves, instalações
falsas, pesado tráfego de comunicações e a participação do Gen George Patton deram
credibilidade ao embuste, arquitetado por um ilusionista profissional. O
Marechal de Campo Erwin Rommel, no entanto, não negligenciou as defesas deste
setor e reforçou as defesas. Na manhã do dia D os defensores alemães,
habituados a uma rotina de um dia depois do outro, depararam-se com uma frota
monumental na linha do horizonte.
Para os soldados assaltantes não havia outra alternativa
senão enfrentar o fogo das metralhadoras, morteiros e artilharia. Mas os comandantes aliados sabiam o tipo de apoio de fogo de que os alemães dispunham, e foi
planejado neutralizar estas armas antes do assalto. Haviam cerca de 30 armas
anticarro, 17 morteiros e mais de 20 obuseiros, dispostos dentro de abrigos
(“bunkers”) de concreto em “Omaha”. Cerca de 4 horas antes do assalto,
bombardeiros aliados decolaram para neutralizar estas ameaças, com mais de 400
aeronaves carregando seus mais de 13.000 petardos, que seriam lançados sobre as
defesas na maior missão de preparação de campo de batalha da guerra com
bombardeio de precisão, dentro do possível com a tecnológica da época. A USAAF
acreditava na capacidade e precisão apurada de seus meios. Porém as nuvens
estavam densas e os bombardeiros dependiam do radar, uma novidade na época com
sua confiabilidade pouco testada. A Marinha não confiava no radar e temia que
as bombas atingissem seus próprios navios. Por conseqüência os bombardeiros
receberam ordens para atrasar em até 30 segundos a liberação de suas cargas.
Voando a 3.000 m de altura e 240 km/h um atraso de alguns segundos pode mudar
tudo. Apenas 5 s significa que a bomba em queda livre cairá 400 m depois do
programado, e 30 s o impacto se dará 2,5 km depois. De forma inacreditável a
totalidade do bombardeio atingiu o “nada”, deixando as posições alemãs intactas,
constituindo uma das maiores falhas de C2 nos plano aliados.
Os soldados perceberam que a paralisia onde estavam, a
despeito do fogo inclemente, era uma sentença de morte e começaram a progredir
em direção às dunas. Depois de uma hora de desembarque a operação parecia um
desastre. A 6 km dali Rangers implementavam a missão mais perigosa do dia. Neutralizar algumas bocas de fogo posicionadas no alto de
rochedos, que ameaçavam diretamente os navios ao largo, repletos de soldados.
Por todo o litoral haviam armas de grosso calibre posicionadas, constituindo
ameaça direta tanto a praia como à frota. Neste rochedo denominado Poinet Du
Hoc de 45 m, onde 5 grandes bocas de fogo de 155 mm Skoda, capturadas aos
tchecos, ameaçavam tudo num raio de 24 km, incluindo “Omaha”, “Utah” e os meios
de desembarque. O ataque a uma colina íngreme, fazendo uso da escalada por
cordas, é uma das mais difíceis empreitadas que um infante pode enfrentar.
Durante meses este assalto foi praticado, com ganchos lançados por morteiros,
porém nos exercícios não havia o fogo das metralhadoras e as cordas estavam
secas. Ao desembarcarem, os Rangers tinham que atravessar a praia e chegar ao
pé do rochedo sob fogo intenso. Ao alcançarem o rochedo, devolveram o fogo e
prepararam seus ganchos-morteiros, cujo lançamento da maioria não atingiu o
topo devido ao peso extra das cordas molhadas. Alguns ganchos foram lançados com
sucesso, devido a suas cordas secas, permitiram que a escalada fosse realizada.
Os soldados que conseguiram subir deram continuidade a batalha, com alguns
perecendo e outros logrando avanços. Ao chegar no objetivo, os soldados
descobriram que ao canhões não estavam lá, e eram apenas postes telegráficos
adequadamente dispostos, simulando uma posição de armas. Frustrados descobriram
que se prepararam por meses para nada. Na verdade os canhões foram removidos para posições mais a retaguarda 2 dias antes, por ordem de Rommel, e destruídos na sequência dos acontecimentos, de forma que mesmo assim eles estavam lá.
As 08:30 AM a situação projetava um desastre total nesta
praia. Na retaguarda alemã, no entanto, a resistência francesa dava sua cota de
apoio ao desembarque. Nos meses que antecederam o desembarque os franceses
envidaram um serviço de espionagem, enviado a Londres por vários meios suas
observações sobre o dispositivo defensivo alemão. Era um trabalho arriscado e
perigoso. Foram usados inclusive os serviços de pombos-correio. Próximos ao dia
D os franceses intensificaram ações de sabotagem como a interrupção de linhas
de comunicações por fio alemãs e a explosão de composições ferroviárias. Os
alemães passaram a atiram em pombos, e membros da resistência foram capturados
e executados. Porém os estragos foram feitos e as tropas alemãs na praia
encontraram dificuldades em pedir reforços. Já faziam 3 horas que o desembarque
havia começado e os sobreviventes estavam presos a um quebra-mar 240 m praia
adentro, não haviam mais oficiais e sargentos suficientes e a liderança estava prejudicada,
com cada indivíduo cuidando de sobreviver. A sua retaguarda a maré começa a
subir.
Na madrugada do desembarque, 8 horas antes do início, um
grande número de paraquedistas foi lançado à retaguarda das áreas de
desembarque a fim de protegê-los contra a chegada de reforços. Paraquedistas
falsos foram lançados em locais afastados para atrair tropas alemãs. O Marechal
de Campo Erwin Rommel ordenou a inundação de uma grande área a retaguarda das
praias, onde muitos paraquedistas saltaram. Muitos caíram na água e o drama dos
anfíbios aconteceu ali também. A dificuldade de soltar o arnês rapidamente fez
com que muitos se afogassem. Os arnês britânicos eram de fácil operação, mas os
americanos requeriam um trabalho maior. Livrar-se rapidamente do paraquedas
para alguém que está dentro da água, com 50 kg de equipamento e cujo velame
podia cair por cima era vital. Dos 13.000 paraquedistas, centenas se afogaram.
Para retomar a liderança alguns oficiais ainda embarcados,
dentre ele um general, assumiram o papel de capitães e tenentes postos fora de
combate e passaram a liderar os soldados retidos no quebra-mar. O general de brigada Normam Cota estava embarcado observando o desastroso avanço
da primeira “onda” de soldados na praia e decidiu acompanhar a segunda “onda”
de soldados, e ao chegar na praia liderou pelo exemplo, abrindo caminho a
frente e ditando palavras de motivação e de comando às tropas que lá estavam.
Era o oficial mais velho em terra. Sua liderança surpreendeu aqueles que já
estavam na praia, inclusive outros oficiais, e deu ímpeto ao ataque neste local.
A partir do quebra-mar e das dunas começaram a ser transpostos
o arame farpado e os campos minados, obstáculos este vencidos com o auxílio dos
“Torpedos Bangalore”, tubos de metal contendo explosivos que eram introduzidos
na área e abriam brechas por onde os homens passavam. Os soldados estavam
exaustos e feridos, porém seus líderes os levaram adiante mostrando a importância
do comando competente e motivador. Ao largo, os comandantes navais não tinham
autorização para apoiar com fogo o desembarque, pois tinham que proteger os
navios, ainda repleto de soldados. Considerou-se desviar estes soldados para
desembarcar em outra praia, mas notícias de que as primeiras brechas haviam
sido abertas os fez repensar. Após algumas horas de suplício veio o alívio para
a infantaria, quando a Marinha autorizou que alguns contratorpedeiros
posicionassem-se mais próximos à praia e apoiassem o desembarque com artilharia
naval. As situação começou a pender para o lado dos assaltantes.
Este relato mostra um pouco da realidade que os soldados
assaltantes enfrentaram no Dia D na praia de “Omaha”, e de como pequenos
detalhes podem ter grande influência em uma operação militar. Mostra como um
plano deve descer a detalhes aparentemente irrelevantes e que na hora da ação
podem fazer toda a diferença. Cordas molhadas ou não, atraso no tempo de
lançamento de bombas aéreas e o projeto do arnês dos paraquedas são alguns
deles. Enfatiza também o valor da liderança em combate, onde oficiais e
sargentos mais experientes podem fazer a diferença quando lideram com
determinação e competência.
Calcula-se que 2.000 americanos morreram naquele dia, com outro tanto de feridos. Ao todo, nas 5 praias 10.000 aliados perderam a vida, cerca de 4.000 alemães e 3.000 civis franceses. Foi o início da retomada da Europa pela frente ocidental.
Calcula-se que 2.000 americanos morreram naquele dia, com outro tanto de feridos. Ao todo, nas 5 praias 10.000 aliados perderam a vida, cerca de 4.000 alemães e 3.000 civis franceses. Foi o início da retomada da Europa pela frente ocidental.
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