FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."
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terça-feira, 23 de julho de 2024

Reconhecimento e Vigilância *032


Reconhecimento e Vigilância são práticas constantes na atividade militar, seja operando em combate ou em tempos de paz, e praticados por todas as unidades, dedicadas ou não, em maior ou menor escala, pela própria natureza desta atividade. Constituem-se nas mais importantes tarefas executadas, e estão intimamente relacionados à segurança destas unidades e do território ao qual protegem, à eficaz coleta de subsídios no planejamento de operações e a formação de inteligência militar para uso oportuno. São implementadas por todos os escalões de todas as forças armadas, em maior ou menor escala, e visam manter os comandos a par de tudo o que for de interesse, seja para segurança de instalações ou formação de bancos de dados.

Desenvolvem-se numa ampla categoria de atividades dedicadas à dar suporte ao desenvolvimento, planejamento e tomada de decisões de inteligência das unidades e operadores, seja para se manter atento ao que acontece em suas áreas de interesse ou subsidiar o planejamento de operações. Destina-se ainda a manutenção do alerta quanto a possíveis ameaças à integridade física de instalações, unidades em operação e fronteiras. Operadores em combate executam ações de reconhecimento constantemente, seja qual for a missão que devem cumprir, pois deste reconhecimento virão as decisões mais realistas à cada situação em particular.

O Reconhecimento é uma operação de missões específicas que emprega os ativos de obtenção de inteligência das unidades, dedicadas ou não, para observar áreas de interesse nomeadas e áreas-alvo, por métodos visuais ou de detecção, a fim de coletar inteligência militar para subsidiar planejamento de operações ou atividades de vigilância. É uma ação conduzida de modo a colher subsídios sobre o inimigo e a área de operações, podendo ser realizado por todos os meios, terrestres, aéreos e navais. É orientado para colher informes sobre as tropas e unidades inimigas, os acidentes capitais do terreno e suas características, os pontos sensíveis, localidades, rotas, áreas específicas ou zonas de atuação. Buscam sempre os informes necessários a missão a qual devem subsidiar, porém repassam qualquer informação que for considerada relevante e colhida de forma inopinada, o que deve ser feito em tempo real e na forma de fatos, isentando-se de opiniões subjetivas.

A tropa em reconhecimento deve evitar engajar-se em combate, salvo se este engajamento for necessário ao cumprimento da missão ou à autodefesa. As unidades mais vocacionadas à esta missão na força terrestre são as de cavalaria ligeira, porém, todas as unidades em combate tem condição de realizá-la. As forças aéreas possuem aeronaves dedicadas a esta tarefa como as de AEW, ISR e aviação de caça, entre outras, e a marinha de guerra tem em seus submarinos meios ideais para reconhecimento e vigilância, além dos meios de superfície.

Estar alerta é vital e preserva o poder de combate, razão de ser das forças em campanha. A vigilância é condição fundamental à integridade das forças, pois o desconhecimento de atividade inimiga próxima é condição perigosa e inaceitável. Também é uma constante em tempos de paz para a segurança das instalações e para a monitoração de atividade suspeita próxima às fronteiras e águas adjacentes. Também se estende aos países próximos, cuja atividade de cunho militar deve ser acompanhada. Ela envolve a observação sistemática de áreas de interesse por meios visuais, eletrônicos, fotográficos, satelitais e outros.


A vigilância é a contínua e sistemática observação do espaço de batalha, com foco nos pontos de maior ameaça como estradas, pontes, áreas de lançamento e aterragem, terreno restrito e outras áreas críticas, além dos limites das posições de tropas e instalações militares e estratégicas. É o principal meio para detecção de atividade inimiga, e diretamente influenciada pelas condições de visibilidade, pelas características do terreno, pela defesa antiaérea e possibilidades do equipamento de vigilância. É rotina de todas as unidades em todos os tipos de operação, e tem como grande potencializador equipamentos de alta tecnologia como NVGs, Câmeras de TV e IR, radares e equipamento ESM, aeronaves RPV, entre outros.

A vigilância garante aos comandantes que não serão surpreendidos pelo inimigo, sendo o reconhecimento, mesmo que com outras finalidades, uma forma de vigilância. Sabendo que ameaças estão ou podem se fazer presentes, as unidades em combate podem tomar as medidas necessárias a garantir sua segurança, planejando a segurança de sua posição como defesa imediata e/ou lançando operações ofensivas contra unidades inimigas que representem grande ameaça. Um exemplo de ameaça imediata à integridade de unidades são unidade de artilharia de longo alcance, aviação de bombardeio e mísseis de longo alcance, entre outras.

Numa situação hipotética um comandante de infantaria envia uma patrulha para reconhecer um possível alvo, sobre o qual pretende atuar. Esta patrulha de reconhecimento deverá avaliar o dispositivo inimigo, seus números e equipamento, porém evitando ao máximo envolver-se com este (engajar-se em combate). Ao realizar sua missão, a patrulha detecta que o inimigo está fazendo o mesmo, posicionando-se no terreno de forma habilmente furtiva, de uma maneira que as sentinelas não poderiam detectar. Ao perceber a armadilha que se forma, os precursores alertam seu comandante que toma as providências adequadas e evita a surpresa contra sua posição. Este pequeno exemplo ilustra como uma operação de reconhecimento de cunho ofensivo, contribuiu para o dispositivo de vigilância desta unidade.

Ao proteger as unidades contra a operações de inquietação, a surpresa e observação por parte do inimigo, preserva-se o sigilo das operações, condição para a manutenção da iniciativa a liberdade de ação, além de garantir a segurança da posição. Cabe aos operadores dos dispositivos de vigilância o alerta antecipado e preciso sobre a atividade inimiga, de forma que o comandante possa reagir pró-ativamente em favor da superioridade tático-estratégica-operacional, dependendo do seu escalão. As sentinelas deverão estar postadas distantes da tropa a qual protegem, de forma a permitirem a esta espaço para manobrar depois do alerta dado, adotando a solução tática mais adequada. Elas mantêm-se em contínuo reconhecimento de sua área de responsabilidade, de forma agressiva e com constante fluxo de informes, mantendo o contato continuamente porém com discrição, só o rompendo por ordem superior. Sentinelas próximas proporcionam uma segurança mais pontual  e reagem ao contato.

As atividades de vigilância e reconhecimento complementam-se mutuamente e não podem ser separadas. Uma patrulha inimiga próxima em missão de reconhecimento, uma incursão inimiga para missões de sabotagem às áreas onde estão estacionadas as tropas, uma força potente posicionando-se ao longo da fronteira prestes a realizar um ataque ou uma frota se aproximando de forma ameaçadora do litoral são alguns exemplos de alvos das missões de vigilância.

Ao empreender uma operação que vise exclusivamente a segurança de uma área (uma operação de vigilância), uma unidade em combate pode atuar de forma ofensiva, agindo preventivamente contra ameaças potenciais e recolhendo informes que poderão subsidiar planos do escalão superior, executando operações de reconhecimento involuntárias que podem ser de grande valia.

Toda unidade é responsável por sua segurança, mesmo que outras a estejam protegendo. Não se justifica a adoção de medidas extremas de segurança, no entanto, que causem impacto negativo no cumprimento de suas missões. Forças de segurança devem ser suficientemente fortes para engajar-se com o inimigo pelo tempo suficiente para que as tropas protegidas possam assumir condição adequada, mantendo o engajamento apenas pelo tempo necessário à missão.

Estas forças podem agir em cobertura, engajando o inimigo pelo tempo necessário; em proteção, atuando fragmentariamente sobre ações de flanco e de contra-observação; e em vigilância, onde limita-se a ações de observação e alerta.


ISR (Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance)

ISR (Intelligence, surveillance, and reconnaissance) é o termo atualmente aplicado a uma operação de habilitação de armas combinadas que combina o que era descrito anteriormente como reconhecimento e vigilância (uma tarefa de manobra) com a produção e disseminação de inteligência. ISR é uma operação contínua e recursiva focada na coleta de informações relevantes que são analisadas para criar inteligência para informar a visualização do comandante e dar suporte ao ciclo operacional.

Os comandantes integram missões ISR em um único plano que capitaliza as diferentes capacidades de cada elemento e outros ativos de coleta de informações. Eles sincronizam missões de reconhecimento e vigilância que empregam unidades de manobra com o plano ISR e o esquema de manobra. O reconhecimento e a vigilância bem-sucedidos dependem de fundamentos como Iniciar o reconhecimento e a vigilância o mais cedo possível e conduzi-os continuamente com ações de ISR adequados à situação, integrar as atividades de reconhecimento com os ativos de reconhecimento e vigilância das unidades especializadas, integrar as equipes no planejamento de reconhecimento e vigilância, maximizar os recursos disponíveis e relatar informações obtidas e análises de forma rápida e precisa com os escalões para os quais esta informação será útil.

Engajamento em Combate

Uma das formas mais eficazes de vigilância em combate é a manutenção do contato com o inimigo. Mantê-lo ocupado, fazendo reagir ao invés de agir, trás segurança às forças amigas. O contato também permite manter-se atualizado a respeito de suas intenções e sua atividade diária.

Sentinelas nas Unidades

A forma mais básica de vigilância é a de estabelecer sentinelas (soldados) integrados a um plano de defesa de pequena área, como um quartel ou base militar, onde os olhos e ouvidos humanos são o principal sensor. Toda unidade militar ou com conteúdo sensível deverá adotar um dispositivo de vigilância que poderá integrar olhos e ouvidos humanos à câmeras e outros sensores a fim de impedir invasões.


ESMs (Electronic Support Measures)

O suporte eletrônico é um ramo da guerra eletrônica (EW) que envolve a coleta de informações eletrônicas do inimigo, como a localização de sistemas de comunicação e os padrões de transmissão, monitoração de sistemas de rádio, etc... Isso permite que as forças amigas saibam onde o inimigo está e o que ele está fazendo. No campo de batalha moderno, saturado com emissões eletromagnéticas, a vigilância eletrônica é de grande valia.

Esclarecimento Marítimo

A patrulha marítima é implementada por toda força armada que tenha sob sua responsabilidade extensões marítimas. Ela deve monitorar o tráfego rotineiro em tempos de paz e manter-se alerta para atividade militar hostil próximo a sua área de atuação. Também atua no apoio a missões de busca e salvamento (Missões SAR) e em apoio a polícia marítima.

Estar alerta à movimentações no espaço marítimo é vital para que as nações possam exercer sua soberania nesta fronteira. A patrulha marítima deve manter este alerta, e as autoridades marítimas das nações o fazem com patrulha de superfície e por aeronaves, sendo estas últimas capazes de ver muito longe e cobrir grandes distâncias em missões de muitas horas.

A aviação de patrulha marítima baseada em terra é a mais comum e numerosa e capaz de cobrir maiores distâncias. Aeronaves de porte maiores tem mais autonomia e podem manter-se mais tempo em missão. Pode carregar sensores sofisticados, armas potentes como mísseis antinavio e suítes completas de inteligência eletrônica (elint).

Reconhecimento Aéreo

O reconhecimento aéreo é um importante meio de coleta de reconhecimento e vigilância, seja na intenção de saber “o que está acontecendo no lado de lá”, como na avaliação de resultados. Pode ser cumprido por aeronaves diversas, drones e satélites. Podem ser feito em espaço aéreo hostil (em tempo de guerra) ou pela vigilância a partir das fronteiras. Demanda meios eletrônicos e pode ser integrado à suas bases em tempo real.


Alerta Aéreo Antecipado (AEW)

Parte indispensável de qualquer sistema de vigilância aérea, permite o monitoramento de espaço aéreo de cima, minimizando os pontos cegos aos sistemas de vigilância terrestres. uma aeronave AEW pode ainda desempenhar as funções de apoio a interceptação e anti-submarinas, patrulha e reconhecimento marítimo e meteorológico, guerra eletrônica, comando e comunicações e busca de superfície, e juntamente com os radares de superfície, compor uma ampla rede de detecção e alerta.

Controle de Espaço Aéreo

A utilização eficiente do espaço aéreo sobre a uma área de operações ou a operação de aeronaves diversas em tempos de paz sobre o próprio território requer controle e coordenação de um sistema dedicado. O Alerta contra aeronaves não autorizadas também é outra tarefa desempenhada pelo sistema que controla o espaço aéreo de uma nação. Uma eficiente rede de radares de alerta é importante para o controle e alerta de aeronaves na área defendida.

Também em operações de guerra um sistema eficiente de controle de espaço aéreo é peça fundamental nas operações, assegurando a sincronização necessária para a operação na terceira dimensão. É um importante meio de vigilância.


quinta-feira, 18 de julho de 2024

Valor Militar do Terreno *005



Aspectos Estratégico-Operacionais

Toda operação militar se dá no terreno, e sua análise é um dos primeiros fatores a ser considerado no planejamento militar. Suas características irão ditar as linhas de ação dos comandantes militares, pois em função delas se dará toda a manobra pretendida, bem como se desdobrará o suporte logístico necessário. Ao analisarmos o terreno sob a ótica das operações militares, podemos dividir esta análise em dois aspectos distintos, o tático e o estratégico-operacional.

A análise estratégico-operacional do terreno deve ser efetuada por todos aqueles envolvidos no Processo de Planejamento Militar (PPM), sendo praticada principalmente pelos Estados-Maiores das unidades. Quanto maior o escalão envolvido, maior se torna sua importância. Seja na articulação de um sistema de defesa de tempos de paz, ou no planejamento da ocupação de um terreno já defendido pelo inimigo, os estrategistas de uma força armada devem conhecer cada particularidade do terreno que servirá de teatro de operações a fim de que sua características possam ser aproveitadas em benefício da operação. Seu uso racional e inteligente tende a minimizar esforços logísticos desnecessários e prevenir surpresas por parte do inimigo e das condições locais, evitando armadilhas e minimizando perigos que possam se apresentar. As linhas de ação adotadas devem fazer uso das vantagens táticas oferecidas pelas condições já existentes, viabilizando uma manobra eficaz, proporcionando economia de meios e recursos militares limitados, poupando vidas humanas e esforços desnecessários, permitindo a consecução dos objetivos estratégicos em tempo reduzido e causando o menor impacto a população e infraestrutura locais, além de permitir que as forças envolvidas operem dentro do maior nível de segurança possível.

Um processo específico de Integração Missão-Inimigo-Terreno-Condições Meteorológicas-Tempo-Tropas Disponíveis e Assuntos Civis (METT-TC no USArmy) será útil nesta compreensão, pois resulta numa série de mapas e gráficos envolvendo os aspectos do terreno propriamente dito relacionados aos demais aspectos ali presentes.



Ocupando o Terreno

A ocupação militar de um terreno pode-se dar através de um desembarque administrativo, quando não existe perigo de resistência inimiga, onde os modais de desembarque estão dominados por forças amigas, e as forças o ocupam de forma tranquila através da utilização de estradas, portos e aeroportos já defendidos ou não ameaçados. Ou através de um assalto, onde o inimigo espera a invasão e oporá resistência, demandando uma operação militar complexa e traumática, que poderá fracassar se mal implementada, como ocorreu na operação "Market-Garden" na Segunda Guerra Mundial.

Um primeiro aspecto a ser observado é a forma de se chegar ao local das operações, se através de praias ou portos, aeroportos e bases aéreas, fronteiras secas usando estradas e pontes, rodoviárias e ferroviárias. Estes terminais. mesmo os secundários, deverão ser ocupados o quanto antes, pois será através deles que toda a logística fluirá ao longo da campanha, e não somente no dia D da operação de ocupação. Quanto mais adequados forem os terminais, mais facilmente o apoio chegará a frente.

Verificar as condições locais permitirão a ocupação ou se providência devem ser implementadas, que características possuem, se estão defendidos ou não, se comportam o volume da invasão, se as tropas que chegam terão espaço suficiente para estacionamento, se recursos valiosos como fontes de água potável e energia elétrica existentes podem ser utilizados, etc... Uma vez ocupado o terreno e estabelecida a chamada cabeça de ponte, deve-se desdobrar o aparato logístico necessário ao suporte às tropas na velocidade suficiente para que possa suportar as forças em ocupação de forma que estas possam resistir com sucesso aos contra-ataque dos defensores. A proximidade de fronteiras de países aliados ou hostis deve ser observada e as consequências desta consideradas.

Áreas de estacionamento específicas para o aparato logístico e combatente devem ser estabelecidas, sempre próximas à linhas de comunicação adequadas e suficientes, como malhas várias e ferroviárias, aeródromos e portos com capacidades compatíveis às demandas, áreas de segurança em torno desta vital retaguarda e rotas de fuga que se fizerem necessárias. Uma avaliação imprecisa do terreno pode condenar tropas por falta de suprimento, imobilizar colunas motorizadas por deficiência de malha rodoviária ou atolamentos, criar congestionamentos entre unidades impedindo, por exemplo, uma uma tropa em reforço chegue a tempo em uma área de contato com o inimigo. Outro fator que deve ser alvo de atenção são os obstáculos, evitando por, exemplo que um rio não possa ser transposto porque sua ponte foi destruída ou as portadas ainda não desembarcaram do navio. Todo este planejamento se dará através do PPM, já citado.

Organização do Terreno

Todo o terreno ao ser ocupado demandará uma organização tática, de forma a aproveitar suas características no sentido de aumentar o poder combativo da força ocupante, permitindo-lhe o melhor emprego de suas armas e poder de manobra e mobilidade, além de obras de infraestrutura necessárias. Também se busca restringir as possibilidades de atuação do inimigo buscando-se implementar ações de proteção como a construção de fortificações, implementação de dispositivos de camuflagem, construção de obstáculos e outras ações.

Os trabalhos de fortificações de campanha geralmente são realizados em contato com o inimigo ou quando este contato é iminente. Diferenciam-se dos trabalhos de fortificação permanente, realizados em tempo de paz ou quando o inimigo está longe, por serem mais sumários. Enquanto a fortificação permanente é obra de especialistas, a de campanha é missão de todas as tropas de combate, apoio ao combate ou de serviço.

A camuflagem consiste em todos os trabalhos e medidas destinados a proteger a tropa e as instalações contra s observação inimiga. Deve ser encarada como vital e levada a efeito simultaneamente com os trabalhos de fortificações.

Centro Urbanos

De todos os ambientes que se apresentam em uma operação, o ambiente urbano apresenta uma combinação de dificuldades raramente encontradas nos demais. Suas características distintas resultam de uma topografia intrincada e alta densidade populacional. A complexidade da topografia decorre das características artificiais e da infraestrutura de suporte sobreposta ao terreno natural. Centenas, milhares ou milhões de civis podem estar próximos ou misturados com soldados amigos e inimigos, e muitas vezes pode ser difícil distinguir quem é um simples civil e quem é o inimigo. Este segundo fator, e a dimensão humana que representa, é potencialmente o mais importante e desconcertante para os comandantes e os seus Estados-Maiores compreenderem e avaliarem.

Embora as áreas urbanas possuam semelhanças gerais, cada ambiente é distinto e reagirá e afetará a presença e as operações das forças operativas de forma diferente. Uma técnica ou tática eficaz em uma área pode não ser eficaz em outra área devido a diferenças físicas, como padrões de ruas ou o tipo de construção existentes. Uma política aplicada de forma popular à um grupo urbano pode não ser bem aceita por outro devido à diferenças culturais. Todas os ambientes apresentam dificuldades, mas estas são potencializadas nas operações em áreas urbanas. Entra as os dificultadores deste ambiente temos a presença humana que dificulta a manobra sem efeitos colaterais e muitas vezes em precárias condições, as múltiplas possibilidades de emboscadas e esconderijos ao inimigo, a grande quantidade de obstáculos causado por explosões e demolições, a intrincada rede de vias, e outras. Assim, os comandantes em todos os níveis fazem esforços extraordinários para avaliar e entender o ambiente urbano particular para planejar, preparar e executar operações eficazes (combate em localidade).


As áreas urbanas variam em função da sua história, das culturas dos seus habitantes, do seu desenvolvimento económico, do clima local, dos materiais de construção disponíveis e de muitos outros fatores. A mistura em constante mudança de características naturais e artificiais em áreas urbanas apresenta aos comandantes alguns dos terrenos mais difíceis para conduzir operações militares. Embora as áreas urbanas possuam características semelhantes, não há duas idênticas. Operar em Los Angeles, por exemplo, tem pouca semelhança com uma operação em Nova Délhi. Embora conquistar áreas urbanas seja um dos objetivos de muitas operações, sempre que possível devem ser evitadas.

Suprimento de Água, Alimentos, Energia e Recursos Existentes

O suprimento de água é muito importante. As fontes locais, sempre que possível, devem ser utilizadas, pois trazer água de grandes distâncias demanda esforço e dispêndio de recursos que podem ser úteis em outras tarefas, além de oneroso. Deve-se sempre estar atento para a existência de reservatórios, rios e estações de tratamento, e buscar o domínio destes assim que a ocupação for implementada. A ocupação de regiões áridas e com este recurso escasso deve ser cuidadosamente planejada e seu suprimento assegurado. Alimentos "in natura" também podem ser obtidos localmente se existirem e forem de boa qualidade. O suprimento de energia também deve ser aproveitado ao máximo, e o domínio de subestações e linhas de transmissão operacionais pode ser muito útil, além das usinas de produção. Depósitos de combustível, se tomados incólumes, aliviam em muito as necessidades logísticas.

Assuntos Civis

A população local influenciará nas operações de uma forma ou outra, mesmo que de forma passiva e não intencional. Deve-se analisar com detalhes suas características como estruturas, disposição da população de colaborar com as forças amigas e inimigas, organizações relevantes, refugiados, eventos, idiomas, etc...

Forças Marginais

Grupos de ativistas armados, guerrilheiros, carteis de organizações criminosas e outros grupos armados e de ativismo político, marginais às operações, podem estar presentes na área que se vai operar e representarem uma ameaça. Estar bem informado sobre estes grupos é importante, pois eles podem empreender ações hostis às tropas. Se necessário, empreender ações de segurança pode ser essencial na defesa contra esses grupos. Ente outras, deve-se empreender reconhecimentos constantes da área de retaguarda; patrulhamento agressivo nas áreas de defesa e entre as instalações; apoio mútuo entre forças vizinhas; defesa de instalações e zonas críticas; escoltas armadas; emprego de civis como guias; etc... Em situações especiais estes grupos podem aturem como aliados, como no caso da Resistência Francesa e Partisans na Segunda Guerra Mundial, pois geralmente detém um conhecimento apurado do terreno e podem atuar como guias. Forcas policiais devem ser consideradas.

Deve-se buscar informações sobre bases de guerrilhas, líderes dos guerrilheiros e seus colaboradores civis, meios de comunicações e fontes de suprimento. Sua eficiência depende de informes atualizados, e cuidados especiais para impedir que eles os obtenham sobre as operações das forças amigas, instalações e movimentos de tropas devem ser empenhados. Deve ser prestada atenção particular à segurança das comunicações.

Especial atenção deve ser dada às medidas para impedir o apoio logístico à força de guerrilha. Ela não pode operar eficientemente, a menos que obtenha, de algum modo, o apoio da população local. Deve-se envidar esforço continuado para que seja impedido esse apoio nas operações contraguerrilhas.

Aspectos Táticos


Sob o aspecto tático o terreno tem que ser considerado por todos os escalões. Seja no planejamento ou na execução da operação. O comandante militar deverá usá-lo para deslocar e posicionar suas tropas com segurança e efetividade. As características do relevo, vegetação, natureza do solo, hidrografia, obras de arte, localidades e vias de transporte são de suma importância. Dentre o que deve ser minuciosamente analisado estão os corredores de Mobilidade, Acidentes Capitais e Vias de acesso, bem como campos de observação e de tiro, cobertas e abrigos, obstáculos, acidentes capitais, prováveis áreas de engajamento ou de emboscada e outros.


Aspectos Sanitários

Aspectos singulares de cada região não devem ser negligenciados: doenças endêmicas devem ser previnidas, como por exemplo a presença de mosquitos que podem ser muito danosos as forças, transmitindo malária, dengue e outras. Águas não tratadas podem transmitir cólera e outras doenças parasitárias. Doenças podem minar totalmente o poder de combate de uma força inteira.

Mobilidade, Obstáculos e Cobertura

Estradas são de importância vital em qualquer ocupação, e embora forças militares contem com veículos "off road", este tipo de deslocamento só é viável em percursos pequenos. Seu domínio, bem como seus entroncamentos são objetivos primários de qualquer força ocupante. É importante assegurar os pontos críticos dos itinerários como pontes, túneis e locais de afunilamento.

Terrenos restritos como áreas muito acidentadas com abundância de elevações íngremes, desfiladeiros e áreas pantanosas são propícios à defesa por obrigar a passagem em pontos pré-definidos, e podem amenizar a provável superioridade numérica do atacante. Estes locais são propícios a construção de obstáculos e canalização do movimento, facilitando o escalonamento de um dispositivo de defesa em profundidade. Terrenos planos e amplos facilitam a ação de forças mecanizadas e são mais difíceis de defender. Áreas minadas são especialmente adequadas a prover segurança neste tipo de terreno, porém demandam campos minados extensos.


Rios podem ser grandes obstáculos ao deslocamento e excelentes posições defensivas. O domínio de suas pontes é importante e a inoperância ou inexistência destas pode criar grandes problemas ao deslocamento de tropas amigas, exigindo esforços da engenharia, muitas vezes em áreas pesadamente defendidas que exigem grande preparação para travessia, que além do trabalho dos pontoneiros demandam medidas extremas de segurança como a obtenção da superioridade aérea relativa.

Outros obstáculos como barreiras provocadas pelo desabamento de encostas e campos minados exigem esforços de engenharia para ser removidos e podem demandar tempo para serem transpostos. 

Áreas de cobertura são necessárias, principalmente na prevenção a observação aérea. O terreno deve proporcionar esta cobertura através de matas e florestas e instalações subterrâneas, áreas urbanas onde o número de locais cobertos é grande são muito úteis. Áreas urbanas também facilitam a ocultação de tropas numerosas. Em áreas florestais, a vegetação, se densa, pode inviabilizar o movimento motorizado "off road" e sua remoção exigirá esforços de engenharia.


Pântanos devem ser evitados por serem de difícil transposição e abrigarem animais perigosos como crocodilianos e mosquitos. Áreas inundáveis devem ser prevenidas, pois podem causar estragos de grande monta se o inimigo puder manipular comportas e diques.


Elevações e Terreno Alto

O terreno alto propicia o comandamento da região, facilitando a observação e o comando. Posições de tiro, observadores de artilharia, desdobramentos de redes de comunicação e controladores aéreos avançados, também farão bom uso dele. O terreno alto também propicia massa de cobertura a tropas em reserva, áreas de retaguarda e posições de artilharia. O controle destes pontos é importante para se operar em torno deles.


Montanhas e Terreno de Altitude


Operações em áreas montanhosas são revestidas de características próprias. Desprovidas de estradas são uma obstáculo quase intransponível, apenas à tropas a pé especialmente treinadas, muitas vezes servindo como barreira natural. O terreno restringe de forma significativa a manobra, que fica limitada à rede de estradas, se existirem. Montanhas baixas (cerca de até 1500 m) apresentam principalmente restrições ao movimento e queda significativa de temperatura, porém altitudes mais elevadas apresentam frio extremo com rápidas mudanças na temperatura, ventos fortes, ar rarefeito que afeta de forma mais perceptível combatentes e motores a combustão, radiação solar e ultravioleta são mais intensas, tempestades violentas e acúmulo significativo de neve podem ocorrer podendo causar isolamentos por uma ou mais semanas, neblina igualmente intensa ocorre frequentemente, assim como avalanches e deslizamento de rochas. Em altitudes superiores a 3.000 m temos ausência total de árvores.

Altitudes extremas são mais perigosas para as condições físicas do combatente que o fogo inimigo. Um ferimento comum em terreno normal como de um projetil ou estilhaço, pode ser fatal em grandes altitudes. Deslocamentos em alta montanha resultam, com alguma frequência, em ossos quebrados, lacerações profundas, contusões e ferimentos internos causados por quedas ou deslocamentos de pedras. Ulcerações causadas pelo frio e a hipotermia são perigos constantes. O mal da montanha agudo e os edemas pulmonares e cerebrais são frequentemente, podendo ser fatais, e a aclimatação é sempre necessária.

A respiração difícil resultante da baixa pressão atmosférica e do oxigênio rarefeito é outro problema enfrentado pelas tropas. Aqueles que irão operar neste ambiente devem ser selecionados por sua condição física que deve ser acima da média. Soldados de baixa estatura são mais adaptados que os altos e musculosos. Devem ter inteligência acima da média para adaptação mais rápida ao terreno, pois a habilidade mental e física decresce a grande altitude, existindo a possibilidade de ocorrências de desordens de personalidade. Perde-se peso rapidamente. Um programa de aclimatação é o primeiro passo para operar de forma efetiva neste ambiente e demora de 2 a 3 semanas. É necessário fazer um rodízio das tropas em altitudes elevadas a cada 10 dias.

Equipamentos não funcionam como deveriam e as viaturas tem sua capacidade reduzida em 25%, consumindo até 75% a mais de combustível. Motores à diesel não configurados perdem sua eficácia a 3.000 m e podem deixar de funcionar completamente pela insuficiência de oxigênio. A artilharia perde seus parâmetros devido a menor resistência do ar, com os disparos alcançando distâncias maiores, tornando as tabelas de tiro inúteis. Os lubrificantes podem congelar.

O terreno inclui alturas que dominam estradas e vias, as passagens entre as montanhas e os vales, facilitando a vigilância quando não há neblina. Os helicópteros são de muito valor para o movimento da tropa e o transporte do equipamento no terreno difícil, porém perdem sustentação em grandes altitudes, e o transporte feito por animais adaptados pode ser uma alternativa interessante nos extremos. Armas que têm um elevado ângulo de tiro são mais eficientes e pequenos efetivos, em operações descentralizadas são os mais adequados.

Ataques frontais devem ser evitados e a infiltração é a manobra mais usada, demandando forças especialmente treinadas. Forças aeromóveis são muito adequadas para os desbordamentos de maior amplitude. Blindados são pouco efetivos neste locais, mas seu poder de fogo é desejável, sendo a infantaria a estrela neste ambiente. Flancos, desfiladeiros, estradas e os centros de comunicações devem ser sempre protegidos. As operações em montanha são normalmente utilizadas para defender ou conquistar regiões de passagem não sendo um objetivo final. A vigilância aérea é de grande utilidade como um meio de segurança. Embora os contra-ataques sejam operações difíceis, podem ser decisivos.



Meteorologia

Fatores meteorológicos influenciam significativamente nas operações, podendo até inviabilizá-las. Seu entendimento não deve ser negligenciado, especialmente em áreas muitos instáveis. O desembarque na Normandia na Segunda Guerra Mundial foi adiado em um dia por causa da meteorologia. Devem ser prevenidos ainda calor ou frio excessivos, particularidades do clima como as chuvas de monções e nevascas que possam inviabilizar a mobilidade. As características do solo que pode ser barrento ou excessivamente fofo também podem prejudicar a mobilidade. Terrenos congelados em fase de derretimento podem gerar lamaçais capazes de imobilizar exércitos inteiros.

Também devem ser considerados os riscos sanitários como a presença de insetos perigosos como mosquitos transmissores de doenças e animais selvagens que ofereçam risco.



O Terreno Ideal

Não se escolhe o terreno em que se vai operar. A situação é que toma esta decisão. Porém quando se tem características diversas em um mesmo local, opta-se pela mais favorável, e o conhecimento do terreno subsidia esta decisão. No aspecto geral o terreno deve ser aproveitado no sentido de proporcionar cobertura as forças, abrigá-las do fogo inimigo, permitir o deslocamento rápido e eficiente valorizando a mobilidade das tropas, Não conspirar contra estas através de particularidades indesejáveis como doenças e revoltas de forças subterrâneas, fornecer sempre que possível recursos diversos e água em abundância, facilitar a manobra e a consecução do objetivo. 

quarta-feira, 22 de março de 2023

Elementos do Poder de Combate *239


Elementos do Poder de Combate

O poder de uma força militar é definido pela balanceamento de 5 fatores que o comandante deve lançar mão no campo de batalha. Sua utilização é vital e necessária a consecução bem sucedida das operações. São eles: A Manobra, O Poder de Fogo, A Liderança, A Proteção e a Informação.

A Manobra

É a combinação de fogo e movimento, sincronizados no tempo e no espaço, de forma a posicionar-se de forma vantajosa em relação ao inimigo, a fim de pô-lo fora de ação pela quebra de seu poder de combate e consequente fuga, destruição ou rendição, sempre em consonância com os objetivos da missão. É através da manobra que se alcança surpresa, choque, iniciativa e domínio do campo de batalha. A manobra é implementada nos 3 níveis diferentes da guerra e hierarquicamente dependentes, sendo estes níveis o estratégico, o operacional, e o tático ou combate aproximado.

A manobra estratégica é o nível mais alto e corresponde a todo o movimento de meios desde as bases permanentes até as áreas de concentração estratégica, pondo-se em condições de desencadear a manobra operacional. A manobra operacional é o nível intermediário e mais alto da manobra de campo, e visa posicionar-se vantajosamente em relação ao inimigo antes de se atingir a fase de engajamento. Manobra-se operacionalmente antes de qualquer batalha ou campanha a fim de alcançar a vantagem inicial, com o adequado posicionamento de tropas combatentes e meios de apoio. Ela cria as condições preconizadas no planejamento da missão de forma a tornar possíveis e vitoriosas as subsequentes ações táticas. Manobra tática é o nível onde se faz contato com as posições inimigas a fim de iniciar e dar sequência ao engajamento em busca dos objetivos traçados. Através da manobra tática procura-se sempre manter a iniciativa criando um volume de problemas progressivo ao inimigo, fazendo-o reagir a situações inesperadas e frustrando continuamente o seu planejamento. Enquanto o inimigo tiver problemas a resolver, dificilmente terá oportunidade de criar situações em seu favor. Em operações de estabilidade a manobra visa inviabilizar opções táticas efetivas por parte do inimigo, concentrando poder de combate onde possam as forças aliadas dissuadir ou reduzir os efeitos de suas ações. O combate aproximado é o nível mais íntimo da manobra tática, onde se dá o engajamento propriamente dito. O combate aproximado é levado a cabo com o efetivo emprego de fogo direto, indireto, ar-terra e outros meios de combate. É no combate aproximado que se derrota ou destrói as forças inimigas, conquistando ou mantendo o terreno. Pode-se dar a milhares de metros com armas de alcance condizentes ou em contato "corpo-a-corpo".

Todas as ações táticas requerem inevitavelmente a posse de determinado terreno ou área geográfica, como pré-condição para se alcançar o objetivo ou como sendo o próprio objetivo da missão. O combate aproximado se faz necessário quando o inimigo estiver ali presente e ficar claro que não tem intenções de cedê-lo. No final das contas, o resultado de todas as batalhas, operações e campanhas dependem da habilidade das forças em combate de engajar o inimigo, destruindo-o ou frustrando sua capacidade combativa.

Uma manobra bem conduzida nos níveis mais altos pode colocar o inimigo numa condição em que este preveja sua derrota e seja persuadido a render-se, pois só os tolos lutam batalhas perdidas. Neste caso o combate aproximado se faz desnecessário, poupando-se recursos e vidas. Em operações de estabilidade, a provável superioridade nas ações de combate aproximado das forças estabilizadoras pode influenciar as ações do adversário. Em todos os casos, a habilidade das forças aliadas em se ocupar das ações de combate aproximado é o fator decisivo na derrota inimiga ou controle de uma situação.

A Potência de Fogo

É a força letal aplicada ao inimigo a fim de inviabilizar sua condição e disposição de luta, e parte fundamental da manobra. É empregada na destruição de suas forças e meios, restringindo ou anulando sua capacidade de reação e possibilidades de êxito. Na manobra, através da sincronização de movimentos pertinentes e coordenados, criam-se as condições para o uso efetivo da potência de fogo. Embora a manobra ou o fogo possam dominar uma fase da ação em particular, eles são onipresentes em todas as operações, sendo que seu emprego simultâneo e sincronizado aumenta o impacto de ambos, e a ausência de qualquer um deles torna o outro inócuo na maior parte das vezes.

Combinados, produzem efeitos devastadores e eficazes. Potência de fogo é a quantidade de fogos que uma posição, unidade ou sistema de armas podem alocar em determinado espaço físico durante determinado tempo. Os fogos incluem ainda as missões de apoio implementadas pela artilharia e aviação de forma separada ou em combinação com a manobra. A eficácia da potência de fogo é função direta da precisão dos sistemas de armas modernos, sejam diretos ou não, da capacidade dos sistemas de aquisição de alvos, do alcance e cadência de tiro das armas, bem como de suas capacidades de colocar-se em posição e serem continuamente supridas.

Fogos operacionais são a aplicação pelos comandantes de alto escalão de meios letais ou não, para realizar seus objetivos durante a conduta de uma campanha ou operação principal, sendo componente vital de qualquer plano operacional. São empregados contra objetivos cuja neutralização podem afetar significativamente uma campanha ou operação principal. O planejamento destes fogos inclui a alocação conjunta de meios aéreos, terrestres e navais. Podem ou não ser projetados para alcançar um único objetivo, como por exemplo a interdição de forças inimigas principais para criar as condições favoráveis a manobra das forças aliadas.

Tanto a manobra quanto os fogos operacionais podem acontecer simultaneamente, podendo ou não buscar objetivos muito diferentes. Em termos gerais não se comportam como fogos de apoio e a manobra operacional não necessariamente depende deles, porém quando empregados em sincronia, as oportunidades daí surgidas competentemente exploradas, produzem resultados muito efetivos. Fogos e manobra operacional combinados de forma sinérgica geram batalhas assimétricas, altamente produtivas e unilaterais.

Fogos táticos são àqueles aplicados para neutralizar as forças inimigas, suprimir seus fogos e desarticular seus movimentos. Eles criam as condições necessárias ao combate aproximado, e devem ser sincronizados com os efeitos de outros sistemas. Concentrar fogos de forma a obter máxima letalidade requer uma compreensão completa da intenção do comando e habilidade de empregar todos os meios disponíveis simultaneamente contra uma variedade de objetivos. A aplicação efetiva de fogos táticos deve obedecer a uma escala de prioridades; localizando e identificando alvos; alocando potência de fogo onde for necessária e avaliando seus efeitos. Uma demanda efetiva de fogos requer unidades competentemente conduzidas com um alto grau de compreensão situacional.

A Liderança

É a capacidade de inspirar as forças combatentes a acreditarem no sucesso, sendo o elemento mais dinâmico do poder de combate. Uma liderança confiante, audaciosa e competente é capaz combinar de forma harmoniosa os outros elementos deste poder e servir como catalisador na criação das condições para o sucesso. Forças motivadas são de fundamental importância ao sucesso, e para tal devem conhecer propósito, direção, e relevância de todas as ações. Líderes fazem frequentemente a diferença entre sucesso e fracasso, particularmente em pequenos escalões.

A competência de um líder requer proficiência no relacionamento com seus comandados e superiores, capacidade de entendimento situacional, além de conhecimento técnico e tático. Treinamento ininterrupto permite concatenar estas habilidades às capacidades e deficiências das tropas. Competência profissional aliada a personalidade firme dos comandantes em todos os níveis, representam uma parte significativa do poder de combate de toda uma unidade. Líderes devem demonstrar caráter forte e padrões éticos altos, conhecer e entender as necessidades de seus subordinados, agir com coragem e convicção, saber quando e onde intervir e tomar decisões de forma a influenciar positivamente a situação.

Trabalho de equipe, espírito de corpo e confiança são atributos fundamentais na atividade de combate. Os soldados têm que confiar em seus líderes, e estes têm que conquistar a sua confiança. Confiança perdida pode inviabilizar ações subsequentes e comprometer a missão. Em situações difíceis o líder competente faz a diferença e viabiliza as ações de seus comandados.

A Proteção

É a preservação da integridade e potencial de combate de uma força, de forma que esteja disponível quando for necessária. A adoção de medidas de proteção não é sinal de covardia, timidez ou incapacidade de correr riscos, mas sim sinal de prudência e bom senso. Forças armadas invariavelmente operam em ambientes hostis, onde vida e morte andam juntas e vítimas se fazem a todo momento. As operações criam uma sobreposição entre as necessidade de realizar a missão e evitar vítimas, comumente difíceis de conciliar. Realizar a missão tem precedência a evitar as vítimas, pela própria natureza do combate, porém os combatentes são o recurso mais importante das forças em combate, e baixas excessivas podem comprometer missões futuras, além é claro de ser moral e politicamente indesejáveis. Comandantes são responsáveis por realizar as missões com o menor número de baixas possível.

A proteção tem 4 componentes: proteção da força, disciplina de campo, segurança, e prevenção ao fratricídio. A proteção da força, o componente primário, minimiza os efeitos da potência de fogo inimiga, sua manobra e coleta de informações. Disciplina de campo impede baixas por ações do ambiente. Segurança reduz o risco inerente de mortes fora de batalhas e danos. Prevenção ao fratricídio minimiza a ocorrência de baixas por fogo amigo.

Proteção da Força

Proteção da força é o conjunto de todas as medidas implementadas a fim de impedir ou minimizar baixas, pessoais ou materiais, causadas pelo inimigo. A proteção é implementada seja o combate ou em nos recursos e instalações, além da vital proteção a informação crítica. Ações de proteção conservam a integridade da força em combate, preservando seu potencial para que possa ser aplicado quando e onde necessário. Não é objetivo das medidas de proteção da força derrotar o inimigo ou protege-se contra acidentes, intempéries ou doenças.

As medidas de proteção pode lançar mão de todos os meios disponíveis tais como componentes aéreos, espaciais, defesa anti-míssil, defesa NBC, ações anti-terrorismo; operações de contra-informação e segurança para forças operacionais e seus meios. Forças inimigas de menor poderio e que são incapazes de desafiar seus adversários em combate convencional, freqüentemente buscam ações assimétricas, com armas ou táticas não convencionais. Esta ameaça não pode ser negligenciada.

A proteção da força em todos os níveis minimiza as baixas por ações hostis. Ações de contra-inteligência hábeis e agressivas e avaliações de ameaça diminuem a vulnerabilidade das forças aliadas. Disciplinas de dispersão reduzem perdas por fogos inimigos e ações terroristas. Disciplinas de camuflagem, segurança local, e fortificações de campo fazem o mesmo. Proteção de ligações eletrônicas, incluindo tropas com dispositivos eletrônicos, são vitais à segurança das informações e sistemas de informação. No nível operacional, áreas de retaguarda e segurança de bases contribui para aumentar a proteção. Forças de artilharia de defesa antiaérea protegem instalações e populações civis do assédio de mísseis táticos com ogivas de combate convencionais e WMD. Aviação de caça e sistemas de controle de espaço aéreo e unidades de defesa anti-míssil complementam o controle do componente pelo controle do espaço aéreo. Artilharia de costa e forças navais guardam os flancos para o mar e acesso aos portos. Medidas preventivas contra ações de natureza NBC proveem a capacidade para sustentar operações nestes ambientes.

Disciplina de Campo

Disciplina de campo, um segundo componente da proteção, impõem regras aos soldados, preservando-os dos efeitos físicos e psicológicos do ambiente. Ambientes opressivos podem solapar muito mais depressa o moral dos soldados que a ação inimiga. Embora estes possam adaptar-se ao ponto das populações nativas, esta adaptação só é conseguida a custa de muito treinamento em habilidades de campo e aspectos particulares da região.

Todas as medidas de precaução para manter os soldados saudáveis e de moral alto devem ser implementadas. Sistemas adequados instalados em locais pertinentes preservam a saúde dos combatentes, previnem doenças endêmicas e sazonais, e proporcionam atendimento rápido dos feridos. Sistemas efetivos para manutenção, evacuação, e substituição rápida ou conserto de equipamento preservam o valor do material empregado. A saúde básica e o bem estar da tropa devem estar em primeiro lugar, evitando-se exposições desnecessárias a condições debilitantes, tais como frio e calor extremo, desidratação e insetos, por exemplo.

Segurança

Segurança é o terceiro componente da proteção. Condições operacionais impõem frequentemente riscos significativos aos soldados. Tripulações tem que ser treinadas e operadores têm que saber as capacidades e limitações de seus sistemas de armas. Em condições que extrapolam os limites humanos, meios extras de proteção devem ser providenciados. Em combate, a fadiga reduz reações e a agilidade mental, resultando em acidentes fatais, perda de poder de combate, e de oportunidades táticas. Atenção e disciplina de segurança em níveis altos vem a minorar estes riscos. Operações seguras decorrem de padrões rígidos de treinamento. Enquanto expor-se a riscos calculados é inerente às operações, lançar mão de todos os meios para minorar a probabilidade destes é obrigação do comando

Prevenção ao Fratricídio

O quarto componente da proteção é a prevenção ao fratricídio. Fratricídio é a matança ou ferimento não intencional de pessoal através de fogo amigo. O poder destrutivo e diversidade das armas modernas, aliadas a alta intensidade dos combates, aumentam o potencial para o fratricídio. Manobras táticas, terreno, e condições de tempo também podem aumentar este perigo. A redução dos riscos de fratricídio deve ser buscada sem desencorajar a coragem e audácia. Liderança competente resulta em eficaz controle de armas, movimentos de tropa, e disciplina nos procedimentos operacionais, contribuindo para alcançar esta meta. Compreensão situacional por parte das forças aliadas e métodos de identificação de veículos também ajudam. A Eliminação do fratricídio aumenta nos soldados a vontade de agir corajosamente, confiante que fogos aliados não os atingirão.

Informação

Informação adequada multiplica os efeitos da boa liderança, manobra, poder de fogo e proteção. No passado, quando forças estabeleciam contato com o inimigo, a busca de informação era implementada. Hoje usa-se informação previamente acumulada por uma grande gama de sistemas, desde patrulhas de reconhecimento até sistemas não tripulados e de satélites, para traçar o quadro da situação muito antes dos momentos de contato iminente com o inimigo. Operações de informação ofensivas (IO) são usadas para entender o ambiente operacional e criar as condições de emprego para os outros elementos do poder de combate.

Um quadro operacional em constante atualização, baseado em capacidade de inteligência potencializada, vigilância e reconhecimento (ISR), todos com alta tecnologia se disseminou através dos sistemas de informação modernos, proporcionando uma perspectiva em tempo real muito precisa da situação que irão encontrar. Informação atualizada permite adquirir conhecimento situacional real, possibilitando que se combine elementos do poder de combate de modos novos e mais efetivos. Por exemplo, o adequado conhecimento da situação permite evitar áreas inimigas desfavoráveis, enquanto se concentra fogos e manobra em locais e momentos adequados. Esta capacidade aumenta a probabilidade de sobrevivência da força sem ter que aumentar o esforço de sistemas passivos de proteção na mesma proporção, como a capacidade das blindagens. Sistemas de informação modernos ajudam em todos os níveis a melhores e mais rápidas decisões. Decisões mais rápidas e efetivas, prontamente comunicadas permitem a força potencializar os efeitos do poder de combate mais efetivamente que o inimigo. Isto habilita a força a ver, entender e agir primeiro.

A Informação não é neutra; lados adversários usam-na para capitalizar vantagens exploráveis e aplicá-las contra objetivos selecionados direta ou indiretamente. Da mesma maneira que fogos são sincronizados e endereçados, assim é a informação. Alguns exemplos ilustram o uso da informação como um elemento de poder de combate: Durante a operação Tempestade no Deserto, unidades de operações psicológicas acompanharam forças em manobra, em muitos casos convencendo o inimigo a se render. Na mesma operação, operações diversionárias dos Marines (um elemento de IO ofensivo) resultou na divisão de forças, alocando uma parte da força inimiga para longe da operação decisiva.

O implemento de sistemas informatizados e integrados permite as forças em combate agilidade no trâmite e processamento de informação a um grau sem precedentes. Os sistemas de Guerra Centrada em Redes (NCW) tem efeitos multiplicadores do poder de combate. O objetivo destas melhorias é proporcionar informação em tempo real que permita entender a situação tática e agir dentro da intenção do comando, aumentando a capacidade da força e diminuindo os desafios operacionais. Enquanto os subordinados tem acesso à uma situação tática mais abrangente, o comando têm acesso a camadas de detalhe tático mais específicas.

sábado, 18 de março de 2023

Fator Militar *238


O Fator Militar é a consideração das inúmeras variáveis que influem no desempenho de uma força militar. O comandante deve avaliá-las de forma a tirar o máximo de proveito da situação, corrigir falhas e viabilizar um estratégia viável e bem sucedida. Ao conjunto destes elementos denominamos Fator Militar. São eles: logística, comando, estado-maior, tropa, equipamento, terreno, condições meteorológicas, imponderáveis da guerra, incerteza da situação, confusão no combate, aplicação dos fundamentos da arte da guerra, grau de operacionalidade, moral, pensamento militar e tecnologia. 

São variáveis sempre presentes que influenciam a missão, e que interagem sempre. O Fator Militar é composto de 2 ordens de forças: As materiais e as morais. As últimas assumem relevância nos exércitos menos abastados.

  • Logística é a capacidade de manutenção de uma força combatente. Cabe a ela suprir as forças em todos os ítens imagináveis e necessários ao combate. Alimentação, munição, combustíveis, suprimentos médicos, reposição de pessoal, equipamentos e materiais dos mais diversos; além do transporte, estocagem e distribuição destes ítens, nos locais e momentos adequados. A logística ainda engloba a manutenção de equipamento, seja de serviço ou corretiva, a instalação e manutenção de hospitais de campanha e serviços de transporte, a triagem de feridos e serviços funerários, a manutenção e construção de vias de acesso e áreas de estacionamento, a manutenção de instalações de cunho estratégico como portos, bases aéreas, centros de comunicações, usinas de provimento de energia e água, e outras que se mostrarem importantes às operações. Pode-se dizer que o fator logístico é o pilar central de toda e qualquer campanha, sendo sua importância diretamente proporcional a duração das operações. O próprio foco de qualquer operação continuada é a inviabilização do sistema logístico do inimigo, fator que decidiu quase todas as operações listadas pela história.
  • Comando é o agregador de todos os elementos do fator militar. Cabe ao comando a implementação de uma situação de sinergia de todos os elementos operativos. Um comandante deve desenvolver continuamente seu caráter, capacidade, experiência profissional e características de liderança. Conhecer as características do comandante inimigo é importantíssimo na medida que se deseja antecipar suas decisões. Uma força privada do seu elemento de comando continua detentora de seu potencial orgânico, porém está totalmente incapacitada de aplicá-lo, e se o fizer será de maneira limitada e desordenada.
  • Estado-Maior é o "Staff" do comandante. Cabe ao Estado-Maior ocupar-se dos detalhes da missão, permitindo que o comandante se concentre nas linhas de ação principais. Fator multiplicador do poder de combate, um Estado-Maior eficiente pode ser a diferença entre a vitória e o fracasso. Um Estado-Maior típico constitui-se de uma seção de pessoal (1ª seção), de informações (2ª seção), de operações (3ª seção) e de logística (4ª seção); podendo conter outras como de instrução, ações psicológicas, assuntos civis, comunicação social e o que mais se achar necessário. A missão do Estado-Maior é transformar a intenção do Comando em ordens operacionais. 
  • Tropa é o elemento operativo propriamente dito. Caracteriza-se pelo seu número, nível de adestramento, padrões sanitários e motivação. Uma tropa desmotivada ou mal assistida no quesito de saúde não desempenhará a contento. Uma tropa em número insuficiente poderá sucumbir facilmente a não ser que outros fatores como a tecnologia e o adestramento compensem esta deficiência.
  • equipamento é o conjunto de recursos materiais, nos aspectos quantitativo e qualitativo, postos a disposição da tropa. Material Bélico, Suprimentos e materiais de toda ordem fazem parte deste item. Um aspecto material que assume especial importância são os meios de comunicações disponíveis, vitais ao exercício do comando. Sem elas operando plenas, o comando terá dificuldades em bem reger a orquestra posta a sua disposição. Fica mudo e impotente. A experiência histórica tem demonstrado, em guerras recentes, que exércitos dispondo de bom equipamento, não foram capazes de tirar rendimento satisfatório dos mesmos, por deficiências culturais da tropa.
  • terreno influi diretamente no grau de dificuldade de uma operação, e repercute sensivelmente no Fator Militar. Seus elementos topo-táticos servem para a pesquisa e estudo crítico de uma operação militar. O sucesso da operação está diretamente relacionado a capacidade de superar os obstáculos existentes, a capacidade de utilizar o terreno para ludibriar a percepção inimiga da situação e impor dificuldades a sua manobra e reação.
  • As condições meteorológicas como chuva, neve, ventos, nevoeiro, fases da lua, partes do dia, temperaturas, crepúsculo, etc., influem diretamente nas operações e repercutem no Fator Militar, e devem ser consideradas com atenção.
  • Os imponderáveis da guerra são circunstâncias imprevisíveis num combate, influindo decisivamente em seus resultados. Um incêndio florestal, condições meteorológicas adversas, uma revolta não esperada de populares, o assédio de criminosos, animais selvagens, um terremoto, etc... podem influir, dependendo das circunstâncias nas operações.
  • incerteza da situação está baseada no fato de que, normalmente, o comandante não dispõe de informações suficientes para lastrear seu Estudo de Situação. As medidas de contra-informação do inimigo restringem a ação de seu setor de informações. Daí decorre o risco calculado. Prejudicar a observância de um princípio de guerra em beneficio de outro. Churchill já afirmava "não se pode conduzir uma guerra na base da certeza". O chefe, nestas ocasiões, procura apoiar-se nos princípios de guerra da Segurança e da Economia de Forças, para precaver-se contra a incerteza.
  • confusão no combate estará sempre presente. Situações não previstas (imponderáveis) podem acontecer pondo abaixo todo um planejamento. O comando e a tropa têm que estar preparados e com as cabeças frias, para exercitarem o espírito da iniciativa, em situações confusas de combate, contornando de forma eficiente os problemas que vierem a aparecer. Um bom método de fazer isto é reunir várias cabeças e pedir para que relacionem tudo aquilo que pode acontecer, elencar as situações mais prováveis ou nocivas e precaver-se contra elas. É na ausência de ordens, que a criatividade e a iniciativa dos comandantes mais capazes podem fazer a diferença.
  • Observância dos mandamentos e preceitos da guerra, que fundamentam as decisões de campo é de vital importância ao sucesso operacional que se está buscando. Iniciativa é sempre bem vinda e fará a diferença em qualquer situação, porém deve ser responsável e competente, sem deixar a disciplina de lado.
  • grau de operacionalidade é a capacidade de uma força em aplicar de forma plena seu poder militar. Uma força deverá dispor de comandante e estado-maior conhecedores de seu ofício e se possível experientes, tropa bem adestrada, equipamento moderno e bem manutenido, moral elevado, etc... para bem poder desempenhar suas atribuições. Deverá também saber operar em conjunto com outras forças que se façam presentes.
  • moral é a pré-disposição para lutar. Quanto mais elevado, maior será a qualidade do Fator Militar. É o combatente motivado para a luta. Influem no moral da tropa e por consequência no seu rendimento, fatores como alimentação, notícias do andamento das operações e da segurança de seus familiares, o sentimento da sua importância junto a seus comandantes, estresse a que está submetida, serviço de saúde de que dispõem, perspectiva do desenvolvimento das operações, sentimento em relação a própria segurança, exposição a cenários como de morte intensa, genocídios, amigos e colegas feridos em níveis degradantes, e outros.
  • Espírito crítico e criatividade fazem parte do pensamento militar. É o estado de espírito que deve dominar todos os integrantes de uma força. Pensar para rejeitar, modificar, aperfeiçoar, inovar e progredir. A capacidade de criticar sadiamente ideias previamente aceitas, visando a rejeitá-las, ou modificá-las. Todos os conceitos da doutrina militar resultaram do pensamento militar criador. Todas as inovações na doutrina militar foram em determinada ocasião uma ideia revolucionária de um comandante ou pensador militar. Este espírito sempre enfrentará a tradicional resistência à mudanças, constante no meio militar, e deve ser empregado com cautela e conhecimento. Deve-se tomar cuidado para não se ferir a hierarquia e a disciplina, pilares da doutrina militar.
  • tecnologia sempre fará a diferença. A qualidade do Fator Militar depende muito do grau tecnológico dos equipamentos disponíveis, que não deve ser superior a capacidade dos soldados de utilizá-la.

terça-feira, 14 de março de 2023

Sincronização Operacional *028

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Sincronização é o arranjo das ações das diversas unidades militares e sistemas operacionais envolvidos em uma operação, no tempo, no espaço e na finalidade, de forma que operem harmonicamente, pois quando uma unidade entrar em ação, todas as outras encarregadas de missões preparatórias para a ações desta já o tenham feito com êxito, de forma a maximizar o poder relativo de combate onde se espera, evitando esperas que muitas vezes podem ser de alto risco. Unidades militares devem operar em sinergia de forma que seu efeito combinado seja maior que a soma do efeito de cada unidade operando isoladamente

Um ataque precedido de uma preparação de artilharia, deve ser coordenado de tal forma que quando aconteça, os fogos de preparação já tenham cessado, caso contrário a tropa amiga poderá ser atingida por eles. Durante a execução destes fogos, as forças manobram pelos flancos e retaguarda a fim de posicionar-se e travar contato assim que o bombardeio cessar; uma força blindada deve chegar ao local de transposição de um curso d'água não antes que a engenharia tenha completado a montagem da ponte, evitando colocar-se em vulnerabilidade, salvo se esta força for designada para prover segurança deste local; um ataque principal deverá iniciar-se momentos após o grosso das forças inimigas dirigirem-se ao local do ataque diversivo; o pouso de aeronaves de assalto em um aeródromo hostil deve ser dar somente após seu domínio estar assegurado. Estes são alguns exemplos da importância da Sincronização Operacional.

A sincronização, que será planejada durante o Processo de Planejamento Militar (PPM), visa determinar em que horário cada ação militar componente deverá se iniciar e ser concluída, de forma que seu objetivo tenha sido alcançado antes que a ação subsequente que depende desta primeira, seja iniciada. As diversas ações componentes poderão ocorrer em locais distantes um do outro, em períodos distintos e executando tarefas das mais diversas, mas seus resultados criarão as condições para que a ação principal seja desencadeada de forma satisfatória e eficaz.

Ações preparatórias podem ocorrer bem antes do momento decisivo, desde que não sacrifiquem o fator surpresa. Ações decisivas devem ocorrer sempre após as ações preparatórias imprescindíveis estarem concluídas. A sincronização requer estreita sintonia entre os comandos dos diversos escalões, e estes devem dominar a inteligência da manobra como um todo, visualizando os efeitos desejados e as condições para obtê-los, demandando quando necessário as ações necessárias não previstas. Sendo vital a maximização do poder de combate, o processo de sincronização deve contar com eficiente exploração dos meios de comunicação, pedra fundamental à aplicação deste conceito. 

A estreita coordenação entre várias unidades e atores que participam de uma operação é vital a construção de um processo de sincronização eficaz, porem somente esta coordenação não garante que o processo funcione, sendo necessário que cada comandante visualize o que se espera dele e a importância da sequência das atividades planejadas, onde cada uma contribuirá para o esforço principal, e como poderá ser compensada caso sua execução seja prejudicada pelos imponderáveis da guerra. Os Estados-Maiores são os grandes responsáveis pelos processos de sincronização, sendo importantíssimo que tenham assimilado de forma completa as intenções de seus comandantes. Ensaios são a chave para o êxito das operações sincronizadas. Este processo requer a escolha entre atividades simultâneas e sequênciais. O comandante deve ainda deixar claro ao seu Estado-Maior e comandantes subordinados, quando os efeitos de uma atividade programada são precondição "sine qua non" para a ação subsequente, ou quando são apenas facilitadores. É necessário antecipar eventos e pensar em uma linha do tempo, dominando as relações de tempo e espaço e da interação possível e provável das forças em operação com as do inimigo.

O processo de sincronização demanda um perfeito conhecimento dos efeitos produzidos pelos diversos meios de combate, o conhecimento da relação entre as possibilidades do inimigo e das forças amigas, o domínio perfeito das relações entre o tempo e o espaço, e uma clara unidade de propósito. Por exemplo: não adianta de nada planejar que uma determinada unidade deverá estar na hora H no local L, se este local estiver a uma distância superior a que a unidade pode alcançar naquele tempo determinado; ou que um bombardeio aéreo deverá destruir preventivamente um “bunker” reforçado, se a unidade que o executará não dispuser da munição adequada a penetração deste alvo “endurecido”.

A seguir descrevemos um pequeno exemplo de uma matriz de sincronização.

"Às 0400 horas do dia D a unidade 21 deverá transpor a Rio das Caveiras, porém o rio é largo e profundo e sua ponte foi destruída. Desta forma a Cia de Engenharia de Combate deverá lançar uma ponte de pontões neste rio na rota determinada, cuja montagem deverá estar concluída, e seu uso liberado instantes antes das 0400 horas do dia D. Como o lançamento desta ponte levará 1 hora para ser feito, e a Cia de Engenharia se encontra a 100 km do local, esta deverá iniciar seu deslocamento às 0000 horas do dia D, no máximo, uma vez que o tempo estimado para este deslocamento na via que será utilizada é de 2,5 horas (caso haja a possibilidade de imprevistos durante este deslocamento, antes ainda, conforme avaliação). O Batalhão Logístico em apoio, deverá concluir o abastecimento de combustível das viaturas da Cia de Engenharia antes das 0000 horas do dia D, para que esta possa iniciar seu deslocamento no horário previsto. Como este abastecimento é estimado em cerca de 40 minutos, deverá se iniciado pelo menos 2 horas antes do horário previsto para o deslocamento ou seja, às 2200 horas do dia D-1, no máximo."

Este é um exemplo simplificado de uma matriz de sincronização, que será planejada em um quadro em forma de matriz (linhas e colunas), e a partir da qual serão expedidas as ordens operativas. Os dados de tempo aqui utilizados são totalmente fictícios e uma operação destas demanda um número muito maior de unidades de apoio, porém é o suficiente para ilustrar o conceito.

O objetivo da sincronização é que os meios militares ou não, estejam nos locais e horários que serão demandados, e as condições desejadas destes locais tenham sido alcançadas conforme o planejado, tempestivamente. A sincronização visa a fazer com os objetivos designados às diversas forças componentes sejam cumpridos de maneira satisfatória no momento e no local desejados.