CC NILSON AUGUSTUS
GONÇALVES DE SOUZA
Poucas batalhas navais
mudaram o rumo da guerra no mar. Entre aquelas que conseguiram, um grupo
muito seleto tornou-se reconhecido. Ou essas batalhas alteraram a
balança do poder no mundo, como ocorreu em Trafalgar, ou esses feitos
testemunharam a introdução de um conceito totalmente novo na
condução da Guerra Naval, como o ocorrido em Midway.
A Batalha de Latakia,
cidade Síria cuja importância estratégica deve-se à posse do único porto
bem protegido da sua costa, logrou contemplar as duas
situações, provando ao mundo que a Marinha Israelense estava no mesmo
nível das demais forças singulares. Destacou-se por ser a primeira batalha
naval na História em que foram empregados os mísseis e a tática do
jamming, Medida de Ataque Eletrônico (ESMs) que visa inserir no
receptor radar inimigo um sinal de interferência, de forma
a despistá-lo. Essa batalha demonstrou o poder de um ataque realizado
com rapidez e a efetividade das técnicas evasivas contra mísseis.
O pequeno combate,
ocorrido em sete de outubro de 1973, na costa da Síria, durante os
primeiros momentos da Guerra do Yom Kippur, travada entre Israel e
uma coalizão de países árabes, durante o feriado judeu que leva
o mesmo nome, foi um sinal de como se deu a evolução na Guerra Naval e da
mudança na tática de engajamento de Forças Navais.
Durante o primeiro dia
das hostilidades, a Força-Tarefa Israelense foi enviada com a tarefa de atrair
os navios-patrulha sírios, de modo a afastá-los do porto e, então,
engajá-los. Vários acontecimentos concorreram para tornar difícil esta
tarefa. Os mísseis superfície-superfície (MSS) subsônicos Gabriel,
com alcance de 11 milhas náuticas (MN) e guiagem semi-ativa, que equipavam
os navios israelenses, ainda não haviam sido empregados contra alvos reais
e, por isso, não tinham sua eficácia conhecida. Além disso,
eles possuíam aproximadamente a metade do alcance do MSS SS-N-2 Styx
sírio, de fabricação soviética, que, em 21 de outubro de 1967, durante a
Guerra dos Seis Dias, havia afundado o Destróier Eilat, também israelense,
quando foi lançado de um navio-patulha rápido egípcio da
classe Komar, marcando a primeira ocorrência de afundamento de um
navio por míssil.
As defesas israelenses
contra o Styx consistiam de ESMs, que, até aquele momento, também
não haviam sido empregadas. Esses desafios, contudo, foram
enfrentados pela Força-Tarefa Israelense operando em duas
colunas paralelas de três navios-patrulha, na direção do porto sírio
da Latakia. Naquela ocasião, foi detectado pelos radares um contato de
superfície ao norte da posição em que se encontravam. Sem terem o quadro
tático completamente compilado, os israelenses fizeram fogo com seus
canhões de 76 mm, e, rapidamente, foram respondidos por salvas de
canhões de 40 mm sírios. O contato havia sido estabelecido.
O oficial em comando tático
da força-tarefa israelense, Almirante Michael Barkai, ordenou ao
Hanit destacar-se da coluna e engajar o navio-patrulha sírio, nesse
momento, já identificado. O navio foi facilmente afundado, atingido no
alcance máximo do canhão do Hanit. Sem saber se o navio-patrulha sírio
havia denunciado a posição da Força-Tarefa, os
israelenses apressaram-se em fechar distância de terra.
Com a aproximação de
terra da força-tarefa israelense, um novo contato radar surgiu, dessa vez
a 12 MN a nordeste de sua posição. Um dos navios lançou um míssil Gabriel,
mas, como o contato estava fora do alcance, o armamento foi perdido na
água. A perseguição continuou até entrar no alcance do armamento do
Navio Patrulha Reshef, da coluna de boreste, que disparou outro MSS
Gabriel a 9 MN, afundando um navio varredor sírio de 560 toneladas.
Os israelenses sabiam
que o verdadeiro desafio eram os Styx e mantiveram o rumo até as
proximidades do porto sírio de Latakia. Três contatos surgiram nos
seus radares, próximos à costa. Eram navios-patrulha sírios, um da classe
Osa 3 e dois Komars, que lançaram mísseis a uma
distância superior ao alcance dos Gabriel. Contudo, os
israelenses lançaram despistadores chaff e usaram jamming para
enviar sinais falsos contra os mísseis, numa tentativa de confundir
seus radares.
Cabe destacar que a
tecnologia e os procedimentos supracitados, desenvolvidos pelos próprios
israelenses, apesar de terem sido usados em combate pela primeira vez,
tiveram logo constatada suas validades. Os mísseis foram desviados com
sucesso, perdendo-se no mar. Os israelenses continuaram a aproximação,
confiantes na sua tática, até então inovadora, que empregava
uma forma furtiva de aproximação, levando seus oponentes a lançarem
seu armamento no alcance máximo, combinada com a utilização de chaff
e jamming. Somente um dos navios sírios ainda possuía mísseis –
o Osa.
Os israelenses fecharam
distância em velocidade máxima, lançaram uma salva devastadora de mísseis Gabriel
e efetuaram jamming contra outros dois mísseis Styx, logrando mais uma vez
êxito na tática empregada. Os 150 kg da cabeça de combate dos MSS Gabriel foram
mais do que suficiente para garantir a destruição dos navios-patrulha
sírios, que afundaram rapidamente. Após os engajamentos de Latakia, a
Marinha Síria foi contida em seus portos. O combate encerrou-se com
um total de cinco unidades de superfície sírias afundadas.
As perdas
israelenses nesse episódio foram nulas. Chegou-se a um ponto decisivo na guerra
naval. As inovações introduzidas pelo uso do chaff e jamming forjaram os
procedimentos evasivos básicos empregados até hoje. De fato, até as
marinhas dos países árabes atualmente empregam a mesma tática que
a Marinha Israelense tornou conhecida em Latakia.
O míssil Gabriel atuou
com perfeição, sendo capaz de detectar alvos de pequeno porte e, apesar de
seu limitado alcance, angariou fama nos anais da Guerra
Naval. Atualmente, ele é também empregado pelas Marinhas do Chile,
Equador, Quênia, Taiwan, Singapura, África do Sul e Tailândia.
O desenvolvimento
tecnológico alcançado pelos israelenses na construção do equipamento
de ESM, bem como as informações de inteligência sobre o míssil
Styx, que muito pouco tempo antes havia afundado o destróier Eilat,
demonstra a importância do aprestamento de sua Força Naval. Tendo sido
testada e aprovada, com sucesso, no mar, contribuiu na imposição de uma
derrota de caráter tático e moral ao seu inimigo.
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