terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Política, Estratégia e Poder *208


Introdução

Os estados, através de seus governos buscam a consolidação de seus interesses nacionais. Quanto mais rico e evoluído o estado for, maior e mais complexa será esta teia de interesses, e por consequência a constituição dos instrumentos e a formulação de políticas para persegui-los. O estado mais poderoso da atualidade são os EUA, que por exemplo, mantém bases militares no mundo todo, pois seus interesses se estendem sobre todo o globo, sejam econômicos ou de segurança.

Estes interesses nacionais das diversas nações, especialmente as mais abastadas e poderosas, podem ser legítimos ou não, e por vezes podem se sobrepor aos interesses de outros estados, gerando os conflitos. Podemos citar o expansionismo nazista na primeira metade do século XX, principalmente sobre o território russo que era visto como um “espaço vital” para que a pretensa “Grande Alemanha” pudesse ser suprida com sua crescente necessidade de recursos naturais.

As nações do mundo, no intuito de defender os interesses nacionais de cada estado de uma forma harmônica entre todos, criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), órgão supranacional que agrega vários sub órgãos subordinados, que cuidam de áreas específicas, como a UNESCO, o UNICEF, Conselho de Segurança, a OMC, etc... Estas organizações atuam criando mecanismos legais que se aplicam aos países signatários, que funcionam como leis internacionais, e na maior parte das vezes são capazes de resolver os conflitos que não raro surgem nas relações entre as nações do mundo. Pelo menos este é o objetivo, porém a ONU e suas subdivisões, é uma organização contaminada pelos interesses supremos, e muitas vezes tende a atender interesses específicos e subterrâneos, infelizmente.

Estes mecanismos, entre outras funções, procuram disciplinar o uso do mar que é considerado um território internacional, impor políticas quanto as armas de destruição em massa como as nucleares por exemplo, auxiliar a zonas de calamidade e desarranjo social, traçar políticas no sentido da preservação do meio ambiente global, resolver e minimizar no menor espaço de tempo possível as situações de conflito armado e outras situações que representem a quebra da normalidade ou constituam ameaças internacionais, disciplinar o comércio internacional, preservar o patrimônio cultural e outras questões necessárias.

Segundo a ONU, existem cerca de 194 países no mundo, detentores de diferentes realidades econômicas, sócio-culturais, de recursos naturais e de localização geopolítica. A disparidade destas realidades é muito grande, seja no tamanho de seus territórios ou seus pesos sócio-econômicos. Cada qual, teoricamente, é guardião de sua soberania e garantidor da própria segurança. Como esta condição, tal qual afirmada, está bem longe da realidade, os estados formam alianças regionais e mundiais, que garante que a soberania relativa de cada um seja respeitada, pelo menos de forma aparente. A ONU representa a maior destas alianças, e de uma forma ainda imperfeita, garante uma certa ordem jurídica em um mundo altamente desigual. Relações comerciais e interesses de toda ordem contribuem para que os mais poderosos, mesmo que informalmente, abriguem os mais fracos sob seus “guarda-chuvas” protetores, formando as chamadas “esferas de influência”.

Estas “esferas” são formadas por interesses em comum, principalmente comerciais, mas também pela identidade cultural entre os povos. Assim existem fortes laços entre norte-americanos e britânicos, portugueses e brasileiros, alemães e austríacos, entre outros. Antigas colônias possuem tratados com suas metrópoles de outrora. Seguindo os EUA como potência hegemônica, Rússia e China vêm logo atrás, assim como outras potências nucleares como Reino Unido e França. Armas nucleares são um grande trunfo no balanço do poder militar mundial. Ciência e tecnologia fazem a diferença no poder destas potências, e organizações não estatais como o Taliban no Afeganistão e o Estado Islâmico no Oriente Médio também exercem sua influência regional, impondo seus interesses. Um único porta-aviões dos mais de 10 que os EUA tem, é mais poderoso que a maioria da forças aéreas do mundo, tal a discrepância no balanço do poder mundial.

Assim as nações ensejam ter acesso à água potável, à terras férteis, à rotas para que seu comércio possa fluir com saídas para o mar, à recursos naturais como minérios por exemplo, à licenças para expansão de suas fronteiras econômicas, à áreas de pesca, etc...

Vale frisar também que as medidas adotadas pelos acordos internacionais, especialmente no âmbito da ONU, carregam consigo um grande peso imposto pela vontade dos países mais poderosos, porém estes nem sempre conseguem impor suas vontades e por vezes a união dos países de menor expressão ou maioria fica valendo. Devido a uma estrutura anômala criada quando da sua fundação, os EUA, A Rússia, A China, a França e o Reino Unido tem poder de veto no Conselho de Segurança, não por acaso os vencedores da Segunda Grande Guerra, influenciando todas as decisões neste sentido à revelia dos outros países ou nações, que votam como membros temporários sob o risco de serem vetados por estes países dominadores.


Política, Estratégia e Poder


Política

A Política é o instrumento de relacionamento entre as pessoas e por consequência entre as nações. Através dela os governos formulam os objetivos que pretendem alcançar e definem os rumos que a estratégia deverá seguir.



Estratégia

A Estratégia é o instrumento que a política usa para definir os caminhos a serem seguidos na busca dos objetivos traçados. Cabe a estratégia definir opções, considerar recursos, riscos e prioridades. É o conjunto de procedimentos adotados na busca da solução de um determinado problema. Enquanto a política é subjetiva e depende muito da visão do estadista, a estratégia segue uma metodologia mais objetiva e um roteiro mais rigoroso de planejamento e aplicação do poder em proveito dos objetivos políticos. Embora a fronteira entre política e estratégia seja nebulosa, pois muitas vezes uma invade o campo da outra, a estratégia sempre é subordinada à política, e nunca o contrário.

Os problemas em questão podem ser temporários e pontuais, ou poderão ser permanentes, de longa duração. A estratégia definida dependerá destes fatores, dos recursos a disposição, das consequências do emprego de cada recurso e da velocidade a ser empreendida na consecução do objetivo.


Poder

O Poder é a base para que a estratégia seja aplicada, é a capacidade de uma nação impor sua vontade, seja de que forma for. Ele pode ser exercido pela força econômica, pela vontade das maiorias, pela ação das armas, pelas conveniências geográficas, pela informação e desenvolvimento tecnológico, e em um nível mais raro pelo engodo e pela propaganda. A aplicação do poder é resultado da atitude, ou seja, a disposição em alcançar um objetivo aliado a existência de meios necessários para tal.


Estratégia Nacional

A Estratégia Nacional é a aplicação do conceito de estratégia a fim de alcançar os objetivos nacionais, ou objetivos de um país, definidos nos planos de metas de cada governo. A estratégia nacional pode envolver todos os setores da vida nacional. Ela engloba todas as áreas de poder, incluindo o militar, a fim de alcançar os objetivos de uma nação, sejam econômicos, sociais, ambientais, culturais, etc..


Estratégia Militar Geral

estratégia militar geral é o conjunto de procedimentos a serem seguidos a fim de cumprir os objetivos de um país no que concerne a suas atividades militares, ou seja seus objetivos nacionais. Pode ser dividida em vários níveis ou compartimentos, ditando a gestão das forças armadas em tempos de paz, os recursos do país para uso em tempos de guerra, a conduta de uma campanha específica ou outra qualquer situação de cunho militar que se apresente. A estratégia militar dita, por exemplo, a quantidade de tropas mantidas ativas por uma força armada, em que locais, a especialização destas tropas, o equipamento destinado a elas, a base industrial para mantê-las, etc....

Em uma campanha a estratégia militar estabelece os objetivos intermediários a serem buscados, a fim de se obter êxito final que é a busca do objetivo estratégico da campanha.


Estratégia Militar de Guerra

A estratégia militar de guerra pode ser definida como o próprio plano de ação de cada campanha, e deve ser conduzida com conhecimento e cautela. Uma campanha militar deverá aplicar o poder militar de uma nação na medida do necessário, e não a qualquer custo. O objetivo de um conflito armado é alcançar a paz, e não a vitória por ela mesma, com a aplicação de poder desmedido e desnecessário. Vencer um conflito significa sair dele em superioridade estratégica e não simplesmente aniquilar seu inimigo, o que só é desejável por déspotas e sádicos.


Estratégia X Tática x Técnica

Estes conceitos são comumente confundidos e sua linha divisória nem sempre é clara.

A estratégia é o conceito que dita o que deve ser feito ou norteia o início da resolução de um problema, sendo definida a partir do objetivo a ser alcançado.

A tática é o conceito que define como as orientações estratégicas devem ser implementadas, em que momento, com quais recursos, e que técnicas devem ser aplicadas, buscando um enfoque mais objetivo de cada desafio em particular.

A estratégia dos aliados de abrir uma segunda frente na Normandia, por exemplo, foi implementada pela tática de realizar um desembarque anfíbio tendo como cobertura o lançamento de forças paraquedistas que garantiram a integridade de algumas pontes e barraram a chegada de reforços para contrapor o desembarque, usando a técnica do assalto anfíbio e do lançamento aeroterrestre.

A técnica é um modo padronizado de se executar uma tarefa específica. É um procedimento de pouca variabilidade, ao contrário da estratégia e da tática que podem variar segundo cada situação. Temos como exemplo de técnica os procedimentos a serem observados para se efetuar o tiro de uma arma, a forma de se transpor um obstáculo com determinado recurso, como ocupar uma posição em combate, etc...

A tática é aplicada pela implementação sucessiva de várias técnicas militares e operacionais. A técnica pode variar pela evolução do pensamento e da tecnologia, resultado da boa prática e pelo seu sucessivo aperfeiçoamento, e uma vez aperfeiçoada, dificilmente retornará à situação anterior.


Doutrina Militar

É o conjunto de ensinamentos consagrados ao longo dos tempos,  pela experiência adquirida nas diversas empreitadas militares, da aplicação das diversas estratégias, táticas e técnicas desenvolvidas. A doutrina pode mudar com a evolução do pensamento militar e com o avanço tecnológico.

Um exemplo clássico é a evolução da guerra de trincheiras na 1ª Guerra Mundial para a guerra de movimento proporcionada pela implementação da guerra mecanizada, já na 2ª Guerra Mundial. A doutrina militar atual está fundamentada nos Princípios de Guerra, preconizado nos manuais modernos.

A moderna doutrina militar está detalhada nos manuais de campanha, e embora em constante evolução, concilia o tradicional com o contemporâneo, adaptando àquele a evolução da tecnologia, e tornando a arte militar cada vez mais eficiente, permitindo que os conflitos sem deem em espaços de tempo menores, ao custo de menos vidas e de menor destruição da infraestrutura.

Um exemplo é a precisão do bombardeio aéreo moderno, que permite que uma única aeronave atinja resultados mais eficazes que esquadrões inteiros da II Guerra Mundial, com reflexos logísticos, de comando e civis muito diferentes.

Se ainda existem conflitos intermináveis como a guerra civil da Síria, é porque a tecnologia e a evolução da guerra não se fazem presentes na medida que deveriam, fato que reflete a disparidade da evolução dos povos.

Conflitos



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