sábado, 6 de abril de 2019

Aprestamento Operacional *158




As forças armadas, pertençam a nação a que pertencerem, são a garantia de que os governos dispõem que sua soberania será exercida e sua política nacional será posta em prática quando os meios cotidianos não demonstram efetividade. O valor de cada uma destas corporações está diretamente relacionado a capacidade de cumprir suas missões estratégicas, e esta capacidade é validada pela presteza de seu adestramento, da tecnologia de que dispõem e da disciplina a que estão submetidas. Outro fator de importância vital ao seu sucesso é seu grau de resiliência em combate ou operacional, ou seja, sua capacidade de permanecer operando até que seus objetivos sejam atingidos. No conflito das Falklands/Malvinas por exemplo, a frota britânica operou até seu limite, tendo o Alte Sandy Woodward declarado que se a guerra se prolongasse a frota teria que se retirar por incapacidade operativa, ou seja, se os argentinos tivessem frustrado o desembarque em San Carlos Water, provavelmente teriam vencido.

A capacidade operativa de uma força armada é o resultado da capacidade de operação conjunta das diversas unidades que a compõem. Unidades de diversas naturezas desempenham missões singulares em sinergia, que podem ser muito diferentes umas das outras, com todas buscando o mesmo resultado que é a efetividade da força no cumprimento dos objetivos que lhes foram delegados. A infantaria depende da força aérea para chegar ao teatro de operações; as forças em manobra dependem dos serviços de inteligência para saberem o que fazer; as linhas de suprimento necessitam de segurança para poderem manter todos operando regularmente; a aviação de caça proporciona a segurança que todos precisam, mas depende de navios logísticos para que suas peças de reposição cheguem a seus hangares, assim como seu combustível. Estes são exemplos da interoperabilidade imprescindível entre as unidades.

A situação político-social da região que a força opera é o fator determinante do grau de aprestamento de cada uma. Não faz sentido manter uma força mobilizada em grau máximo em um cenário onde as tensões são pequenas ou inexistentes, assim como é irresponsável negligenciar sua capacidade de mobilização ou sua situação de aprestamento em cenários de tensões acentuadas ou extremas. As forças israelenses, por exemplo, estão num cenário de constante tensão com seus vizinhos árabes e mantém seu grau de aprestamento em alto nível; já as forças do Exército Brasileiro não necessitam manter níveis operacionais tão altos e possuem núcleos mais capazes para fazer frente a ameaças inesperadas, na forma de uma força de reação rápida, e numa situação que exija forças de maior envergadura, haverá um período de escalada de tensões quando se capacitará as demais unidades a colocarem-se em níveis mais adequados.

Em tempos de paz uma força armada se dedica a manter-se adestrada em níveis médios e compor reservas, renovar equipamento, adquirir novas tecnologias e manter-se informada, para que, quando necessário possa passar desta condição para outra de alta operacionalidade com esforço mínimo. Dessa forma se mantém registros de reservistas, planos para mobilização das industrias civis e estruturas de transporte, estoque de material, acompanhamento de tensões que possam ser de interesse e outros fatores importantes a uma mobilização eficiente. A princípio uma unidade militar deverá estar sempre pronta para que, quando acionada, colocar-se em marcha em tempo mínimo. Porém esta condição não pode ser alcançada o tempo todo, pois existem períodos de férias, de dispensa, de troca de material, de manutenção e um outros fatores que a afetam. Um navio de guerra tem um período de manutenção periódica de 6 meses a 2 anos, dependendo de seu porte, sendo necessário que mais de uma unidade esteja disponível, pois “quem tem 1 não tem nenhum” como se diz. Em toda mobilização há de se considerar que sempre uma parte do equipamento de maior complexidade estará passando por períodos de manutenção, e portanto indisponíveis.

Apronto Operacional

Considera-se uma tropa operacional quando ela esta em condições de cumprir as missões para a qual foi concebida, no tocante a adestramento de seus quadros e condições de seu equipamento. Em tempos de paz as unidades militares procuram manter-se neste nível, embora nem sempre seja possível, principalmente devido às condições do material. A instrução de uma tropa segue um programa padrão de qualificação que se dá individualmente a cada integrante, para que depois de qualificado possa ser adestrado em conjunto com os demais. Adestram-se então as seções individualmente, as subunidades, a unidade como um todo e por fim realizam-se as chamadas “manobras”, que são exercícios de grande escalão e visam fazer com que as grandes-unidades operem como uma máquina bem sincronizada e eficaz.

Uma tropa operacional passa a condição de aprestada (em condições de...) quando lhe é ministrada a instrução específica para a missão que irá cumprir e abastecida de todo o suprimento que necessita para operar. A instrução padrão qualifica a tropa, mas a instrução específica insere a tropa no cenário que irá operar. Cabe ao escalão superior ministrar esta instrução, bem como prover o suprimento necessário (combustível, munição, víveres, equipamentos em geral, etc...), além de transporte estratégico (por ar ou navio, ferrovias, etc...) até às áreas de destino.



A uma tropa aprestada (em condições de...) diz-se que está em apronto operacional. A condição de apronto operacional será buscada a partir dos níveis de alerta a que estiver submetida. O primeiro nível de alerta é o Sobre-Aviso: Os militares são alertados sobre a possibilidade de emprego real e começam a colocar o equipamento em condições, bem como se mantém em contato constante com sua unidade. Se o emprego for iminente passa-se para o segundo nível de alerta, a condição de Prontidão: A unidade fica em condições de deixar o aquartelamento (base naval, aérea) assim que lhe for autorizado. Os militares permanecem dentro da unidade, equipados, o material acondicionado, viaturas abastecidas e munição pronta para ser distribuída. Planos iniciais de deslocamento também devem estar prontos e em condições de serem transmitidos. Geralmente as unidades ficam em condições de operar por 2 ou 3 dias, a partir do qual necessitarão de ressuprimento, que será provido pelo escalão superior. O terceiro nível de alerta é a Ordem de Marcha, condição em que a unidade coloca-se em movimento para cumprimento da missão ou até um ponto onde aguardará novas ordens. Durante as condições de Sobre-Aviso e Prontidão a unidade executará sua atividade rotineira normal.

Toda unidade militar deverá manter permanentemente um plano de chamada incluindo seu pessoal ativo e sua reserva, para que possa efetivar em tempo mínimo o cumprimento do alerta. Os militares deverão ter seu material individual de campanha sempre organizado e em condições de uso. Cabe aos comandantes de subunidade realizar inspeções periódicas para conferir tanto o material, quanto o aprestamento pessoal de seus comandados. Passar de uma condição de normalidade a uma situação de guerra deve se dar de forma fluída e natural.

É imprevisível o momento de emprego de cada unidade, seu destino e o tempo de permanência em condição de combate, e é a disciplina do Apronto Operacional que ditará com que eficiência cada unidade militar se colocará em condições de cumprir sua missão, razão de sua existência. Não deverá se deixar espaço para improvisações e providências de última hora. A existência de uma força armada é uma pré-condição para a segurança nacional e a eficiência militar, mas é sua capacidade de se colocar “em condições de...” em tempo adequado que pesará como real fator desta condição.



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