terça-feira, 28 de abril de 2020

Operação Overlord - O Pré-Desembarque *193




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Os Primórdios da Operação Overlord

Winston Churchill, primeiro-ministro britânico precisava afastar de uma vez por todas a ameaça dos nazistas pisarem no solo das ilhas de Sua Majestade, com o primeiro passo dado pela vitória na Batalha da Inglaterra, uma disputa entre a RAF e a Luftwaffe pela supremacia aérea no espaço sobre o Canal da Mancha e as ilhas ao norte. Ele sabia que os alemães deveriam ser derrotados em solo francês, de onde partiria o golpe final até Berlim a consequente derrocada das forças de Hitler. Mesmo beneficiado pelo atrito que a Wehrmacht vinha sofrendo no front oriental, sabia que a empreitada não seria fácil e a abertura deste segundo front para as forças alemães deveria ser um golpe poderoso e bem planejado, não dando chance para uma aventura frustrada, pois uma nova tentativa não seria possível em prazo aceitável, uma vez que a ameaça de Stalin podia se configurar no domínio total da Europa ou uma eventual reação nazista os colocaria muito fortes.

Partiu-se então para o fortalecimento do Royal Army, extremamente enfraquecido pela desastrosa campanha do início do conflito, quando tiveram que ser evacuados das praias francesas por milhares de embarcações civis e militares. Eram necessários novo treinamento e equipamentos, e para tal voltou-se o olhar para o extraordinário potencial do poder industrial dos EUA. Em 1939, a experiência em operações anfíbias era extremamente débil em quase todas as forças do mundo, para não dizer inexistente. Não existiam equipamentos adequados e nem doutrina, bem como a percepção das singularidades táticas e estratégicas de uma operação de desembarque, notadamente do vulto da operação necessária. Este conhecimento começou a ser forjado com a criação de uma organização chamada “Combined Operations” que passou a realizar incursões anfíbias em pequena escala atacando pontos sensíveis de natureza tática e estratégica. Foram criadas unidades conhecidas hoje como “comandos”, especializadas nestas empreitadas de assalto em condições especiais, com a primeira missão acontecendo na ilha de Guernesey, localizada a oeste da península de Cotentin cerca de 50 km.

No front leste prosseguia a campanha dos alemães em território russo, com estes solicitando aos aliados a abertura de uma segunda frente. Norte-americanos e ingleses passaram a enviar equipamentos, combustível e munições para eles, porém Stalin não estava nada satisfeito em enfrentar sozinho a máquina de guerra germânica. Em 1942 a vitória em Stalingrado marcou a virada nos rumos desta campanha, e o Exército Vermelho começou a reconquistar territórios antes cedidos às tropas invasoras, porém a situação era extremamente difícil e os apelos do líder soviético por decisões militares decisivas era constante.

Os norte-americanos súditos de Sua Majestade, fizeram uma operação anfíbia na cidade de Dieppe na costa norte francesa denominada operação “Jubilee” em agosto de 1942, de forma a demonstrar a Stalin seu comprometimento. Este ataque teve por objetivo fornecer informações sobre a “Muralha do Atlântico”, e a reação dos defensores, sem ter por objetivo ocupar a França ou vencer a guerra. Rendeu milhares de relatórios de inteligência com uma amostra valiosa do potencial de defesa da Wehrmacht neste setor. Foi liderado pela 2ª Divisão Canadense e apoiada por blindados “Churchill” de 40 toneladas que fixaram o inimigo em sua linha frontal, com os “Comandos” atacando pelas laterais as baterias costeiras instaladas nos penhascos. A Royal Navy, temerária quanto a colocar sua frota no canal, não ofereceu fogo de preparação. Aos atacantes foi desejada sorte, pois reforços não foram enviados por tratar-se de um teste, com apurada observação e cronometragem, para servir de subsídio a um ataque posterior em escala real.

Em 28 de novembro de 1943 os líderes aliados incluindo Stalin se reuniram em Teerã e decidiram pela abertura da segunda frente. Churchill queria que o desembarque se desse nos Bálcãs, porém a logística deveria partir da Inglaterra, e o ponto de desembarque deveria ficar mais próximo. As costas atlânticas foram consideradas distantes e perigosas pela presença dos U-Boots, o mesmo valendo para as costas da Bretanha. As praias belgas possuem correntes muito fortes e são arriscadas e as praias da Holanda possuem excesso de terreno inundado com vias de acesso restritas, impossibilitando a instalação da cabeça de praia.

Um novo comando chamado de COSSAC foi criado para a coordenação de operações combinadas. Ao COSSAC coube escolher os locais dos desembarques, reunir toda a inteligência possível utilizando a experiência das operações combinadas anteriores e viabilizar as forças de transporte que apoiaram a invasão. As costas da Normandia foram escolhidas pela similaridade das praias com as costas inglesas, apresentando a areia com a mesma resistência, além é claro da localização próxima. Outro local possível seria Pas-de-Calais, porém por ser o ponto mais próximo da Inglaterra foi onde os alemães concentraram sua defesa mais potente.

Em 1942, os primeiros navios transportando equipamentos e tropas que participariam da invasão da França deixam as terras americanas rumo ao Reino Unido. A Batalha do Atlântico visando tornar a travessia segura se intensifica, pois os submarinos alemães passam a assediar os comboios que transportam tropas e suprimentos para as ilhas britânicas, com os aliados vencendo em 1943 e tornando este oceano mais seguro. Soldados são instalados em bases dispersas ondem refinam seu treinamento e grande quantidade de equipamento e suprimento armazenado longe das vistas. O fornecimento de todo este suprimento foi negociado com os ingleses em troca do uso de bases pelo mundo inteiro. A aviação de reconhecimento aliada entra em atividade frenética visando produzir inteligência para os planos de invasão. As ilhas britânicas se tornam uma grande base militar, onde soldados treinam, equipamento é armazenado, unidades de preparação operam incessantemente e navios começam a se acumular ao largo de toda a costa britânica em seus diversos portos, além dos ataques aéreos à costa francesa que se intensificam em todos os pontos, a fim de não revelar o local da invasão.

Como ocultar tamanha movimentação é muito difícil, e os alemães entendem rapidamente que algo grande está em preparação, com agentes sendo infiltrados em território britânico. Esta situação não fora negligenciada pelo comando aliado, que para confundir os espiões pos em prática a operação “Fortitude” que montou um exército fantasma com blindados infláveis, armas de madeira, unidades falsas e outros artifícios, tudo posicionado na área de Dover, próxima a Pas-de-Calais. Aeronaves de reconhecimento alemães passam a observar este dispositivo falso comandando por um general de verdade de grande credibilidade, o General Patton. O 15º Exército Alemão recebe ordens para desdobrar-se nesta região da França e preparar-se para repelir a invasão, coroando a operação “Fortitude” de sucesso.

A resistência francesa participou da coleta de informações de inteligência, que recebe mensagens da BBC codificadas durante a transmissão francesa. O desembarque denominado operação “Overlord”, deverá contar com o apoio dos partisans franceses antes e durante a invasão. Mensagens improváveis como um poema francês transmitido pela BBC avisaram a data do desembarque, quando os partisans intensificaram seus atos de sabotagem, destruindo ferrovias e linhas telefônicas, instalando minas e outros.



A Resistência Francesa

Os “Partisans” franceses desempenharam papel vital para viabilizar a operação “Overlord”. Segundo o General Willian Donovan, chefe da inteligência dos EUA, a maior parte das informações úteis durante o desembarque foram fornecidas por eles, embora seja difícil quantificar uma organização que trabalhava na clandestinidade e sem arquivos, e talvez por este motivo muitas vezes esquecida. A Resistência Francesa começou tão logo os nazistas ocuparam a França, em 1940. Em 22 de junho deste ano o cabo telefônico entre o aeródromo de Boos e o comando alemão em Rouen foi destruído, inaugurando as ações desta organização, ainda que de forma individualizada. Com o tempo as redes foram surgindo e se adaptando às necessidades, como a evacuação de aviadores abatidos e sabotagem das linhas de comunicação eletrônica e ferroviárias.

Desprovida de refúgios adequados como platôs e montanhas, a Normandia não era o melhor lugar para uma rede subterrânea atuar, dispondo apenas das florestas da região. A França de Vichy obrigou vários franceses a prestarem trabalho aos nazistas, empurrado muitos voluntários às fileiras da resistência, que atingiu mais de 10 mil indivíduos, só na Normandia. A Gestapo reagiu com prisões e execuções. A falta de um comando central que agregasse os esforços de várias células não permitiu que todo o potencial desta organização fosse explorado. Comunistas, Gaulistas e grupos pró-britânicos não conversavam entre si, embora buscassem o mesmo propósito. Em fevereiro de 1944 organizaram-se as FFIs, Forças Francesas do Interior, com a agregação de várias redes e movimentos.

Quando da Conferência de Teerã em novembro de 1943, os Aliados ainda não tinham muita noção do potencial desta organização, ignorando-a inicialmente em seus planejamentos iniciais e capacidade de executar ações táticas. O próprio General De Gaulle não estava a parte das minúcias dos preparativos da invasão. O tempo veio a aproximar os “Partisans” e os serviços de inteligência Aliados com uma série de operações clandestinas coordenadas a partir do “Dia D”, principalmente envolvendo sabotagem. As comunicações receberam especial atenção com mensagens enviadas para Londres por pombos-correio e transmissões de rádio fornecidos pelos aliados, com a BBC passando instruções e informações gerais de forma ostensiva ou codificada. Por causa da natureza clandestina da organização, os combatentes da resistência careciam de meios antitanque e metralhadoras pesadas, que os Aliados buscaram preencher com o suprimento pelo ar de armas e equipamentos.

Agentes especializados em transmissão, demolição e armamento também foram enviados à França, através do SOE (Special Operations Executive). Esse comando de operações especiais britânico, criado por Winston Churchill, também operou em países neutros como a Espanha. Apelidados de “Jedburghs” e organizados em equipes de 3, esses agentes tinham a missão de apoiar e aconselhar a Resistência na Europa continental: eles foram responsáveis ??por informações sobre as ações dos Aliados, preparavam armas, munições e outros materiais e instalaram um sistema de comunicação viável. Os Jedburghs podiam, se necessário, assumir o comando das unidades de resistência locais. Os Aliados não limitaram seus preparativos apenas à Normandia: eles também planejaram ações em toda a França para retardar o progresso dos reforços alemães. Eles também procuraram evitar a sabotagem indiscriminada, de forma a preservar certas infraestruturas que poderiam ser úteis para os exércitos de libertação. Para esse fim, instruções precisas foram transmitidas de Londres. Os principais feitos da resistência normanda antes do início da Operação “Overlord”, foram essencialmente a aquisição de inteligência. Os Aliados fizeram milhões de fotos de praias e zonas de desembarque, concatenando-as às muitas informações sobre o terreno, infraestrutura, equipamento e moral do ocupante fornecidas pelos locais.

Desde o início de 1942, os alemães começaram a construção do “Muro do Atlântico” contra a possibilidade de um ataque anfíbio vindo da Inglaterra. Eles montaram milhares de estruturas defensivas, contando principalmente com a força de trabalho local: na Normandia, os combatentes da resistência se envolvem em vários destes projetos para estabelecer secretamente planos para essas instalações; alguns aproveitam a oportunidade para colocar cubos de açúcar em misturadores de concreto para reduzir a resistência dos bunkers de concreto construídos ao longo da costa. Cópias desses planos chegaram à Inglaterra, onde foram analisadas pelos serviços de inteligência. As informações obtidas pela resistência também permitiram aos Aliados refinar seu grau de conhecimento sobre as unidades alemãs presentes na Normandia: as ordens de batalha e a história das várias divisões presentes foram detalhadas até o nível de companhia, permitindo uma estimativa de seu valor de combate. Assim, se informou Londres da chegada da 352ª divisão de infantaria alemã a partir de 15 de março de 1944, uma unidade forjada por longos meses de luta na frente russa que representariam um formidável oponente às forças aliadas. Para aumentar as chances de sucesso da operação Overlord, as redes francesas recebem uma sucessão de ordens para entrar em ação, essencialmente através das “mensagens pessoais” da BBC. Cada frase codificada foi enviada a uma rede específica, que conhecia seu significado e data de execução, a fim de iniciar as ações de sabotagem e interromper as forças alemãs. Assim, de 1 a 3 de junho de 1944, a primeira parte do verso de “Verlaine” é transmitida nas ondas radiofônicas. Em 5 de junho de 1944, às 21h15, foram transmitidas as seguintes mensagens: “... feriram meu coração com uma lentidão monótona”: os resistentes tinham, neste caso, 48 horas para realizar uma ação de sabotagem específica. Por inferência, algumas redes provavelmente estabeleceram que a Operação Overlord ocorreria nas próximas 48 horas.

Na madrugada de terça-feira, 6 de junho de 1944, após os primeiros atritos, os membros das redes de resistência foram espontaneamente ao encontro das forças aliadas, às vezes para servir de batedores. Seu excelente conhecimento do terreno tinha um valor agregado inegável para tropas e unidades aéreas. No entanto, os Aliados estavam cautelosos com as informações que podiam obter da população francesa e procuraram primeiro garantir que seus interlocutores não fossem colaboradores que pudessem operar como agentes duplos. Vários normandos que se aproximaram dos soldados aliados foram, portanto, mortos por engano. Os riscos incorridos durante essas ações foram particularmente altos: um grande número deles possuía muito pouco conhecimento militar e se opunham a um treinamento por um exército experiente e melhor equipado. Na noite de 6 de junho de 1944, as perdas da resistência são estimadas em 124 mortos, feridos, desaparecidos ou feitos prisioneiros. No entanto, a natureza repentina e maciça dessas sabotagens surpreendeu profundamente e ajudou a abalar as forças alemãs.

No dia D, dezenas de combatentes franceses da resistência estavam custodiados pelos alemães na prisão de Caen. À medida que os bombardeios aéreos aumentavam, e com o medo de ver as forças aliadas chegarem à capital da Baixa Normandia, os alemães não queriam correr o risco dos prisioneiros fugirem para se juntar aos agressores. Inicialmente, eles planejaram transferi-los de trem para uma instituição penitenciária na região de Paris. Mas as linhas ferroviárias sofreram tanta degradação que qualquer movimento por esse meio era impossível. Os alemães então receberam ordens da Gestapo de Rouen: eles deveriam atirar nos prisioneiros. 87 foram mortos no pátio da prisão. Essas práticas repetiram-se, várias vezes, com os corpos jogados em valas comuns.

Após o desembarque, a Resistência continuou a fornecer inteligência aos Aliados durante toda a Batalha. No início de julho de 1944, quando a frente estagnou, a aquisição de informações sobre posições e dispositivos alemães permaneceu limitada; os Aliados pediram à resistência, via SOE, para obter mais informações para poderem vencer o impasse. A fim de limitar a chegada de futuros reforços alemães à Normandia após o desembarque, comandos franceses foram lançados de paraquedas sobre a Bretanha. Essas operações paralelas ocorreram em junho e agosto de 1944, com a participação de 538 paraquedistas do Serviço Aéreo Especial (SAS). Eles coordenaram as várias redes de resistência para lutar efetivamente contra o ocupante. Sua fraqueza estrutural e falta de recursos paradoxalmente, ajudaram de forma involuntária a resistência francesa, porque os alemães gastaram uma energia cansativa para entender sua organização e o esboço exato de seus muitos dispositivos, sem nunca conseguir pôr um fim às suas atividades. O general Eisenhower, comandante-chefe dos exércitos aliados na Europa, teve que escolher entre coordenar as ações da resistência francesa ou favorecer ações excessivas durante o surto da Operação Overlord. Por estar lutando para esconder suas preocupações com o sucesso desse ataque ousado, ele finalmente fez a escolha da sabotagem em massa, correndo o risco de danificar a infraestrutura potencialmente útil como resultado da guerra.

O impacto preciso da resistência na condução dos desembarques da Normandia não é quantificável, mas não há dúvida de que ela desempenhou um papel de liderança no sucesso dos exércitos aliados. Segundo Eisenhower, a resistência francesa foi inestimável durante a libertação da Europa em 1944: sem a sua grande ajuda, os combates na França teriam durado muito mais tempo e teriam causado mais baixas nas fileiras dos combatentes.



A Muralha do Atlântico

Apesar do foco da Wehrmacht estar no front oriental, a ocupação da França no ano anterior demandou que algumas divisões ficassem ali estacionadas, pois os alemães tinham o desembarque ali, vindo das ilhas britânicas como uma certeza, só não sabiam quanto aconteceria. Esta região também serviria para o descanso e recuperação de divisões que estavam já desgastadas pelo atrito na Rússia, e poderiam ali retomar o fôlego.

Criado por Fritz Todt, ministro do armamento e munição do Reich, a Organização Todt (OT) era um grupo paramilitar especializado em construções militares, como casamatas e estradas para suportar veículo blindados. Em 1941, começaram os trabalhos nas costas do canal da Mancha e do mar do Norte, depois que a invasão alemã contra a Inglaterra (Operação Leão Marinho) foi cancelada. Fortificações de concreto armado forram construídas da Noruega ao País Basco espanhol e também no Mediterrâneo, com campos minados, milhares de quilômetros de arame farpado, casamatas e bunkers de artilharia, obstáculos de praia, valas anti-tanque, etc... Esta fortificação, chamada de “Muro do Atlântico”, foi muito reforçada em áreas “sensíveis”, como as mais próximas da Inglaterra, por exemplo, em Pas-de-Calais, onde um desembarque era mais do que provável, segundo os generais alemães. Baterias costeiras armadas com armas de grande calibre foram construídas em locais importantes da costa para proteger portos e áreas mais prováveis.

Em agosto de 1942, os Aliados empreenderam um ataque na área de Dieppe, que fracassou, mas cuja intenção era ganhar experiência junto a estas fortificações e na desconhecida arte do desembarque anfíbio. Os oficiais do Estado Maior Alemão estacionaram o forte 15º exército em Pas-de-Calais, com cerca de 150.000 homens. Em janeiro de 1944 um dos mais conceituados generais do Reich, Erwin Rommel foi designado para comandar este setor sensível, sob às ordens de von Rundstedt.

Ele acreditava que o dispositivo defensivo deste setor não era suficiente, e decidiu inundar as áreas baixas para dificultar as manobras de paraquedistas. Instalou campos minados nas praias e obstáculos para o pouso de planadores e a chegada de lanchões. Sua experiência em lutar no norte da África foi de grande valia, pois tinha consciência de que se os Aliados conseguissem desembarcar nas costas francesas, ficaria muito difícil repeli-los de volta ao mar. Assim, o trabalho se intensifica principalmente nas costas do norte da França até a Holanda. Mas a Alemanha ainda está em campanha na Rússia e na Itália, e estas duas frentes exigiam uma quantidade muito grande de matérias-primas e meios militares, o que o atrapalhou em suas requisições. A Organização Todt lançou várias operações em toda a Europa para reunir a quantidade máxima de material que pode durante a criação desse gigantesco “Muro do Atlântico”.

Na Normandia, e como em outros lugares, os alemães construíram baterias de artilharia costeiras, poderosamente armadas e protegidas em seu entorno. Entre Barfleur e Le Havre, existiam pelo menos 6 baterias: as de Merville, Longues-sur-Mer, Pointe du Hoc, Maisy, Azeville e Crisbecq. Elas eram capazes de disparar até 30 km e foram uma grande preocupação para os planejadores Aliados. O “Muro do Atlântico” não foi apenas um dispositivo de obstáculos, casamatas e campos minados. Inúmeras estações de radar foram disponibilizadas ao longo da costa, da Noruega à Espanha, além de estações de escuta. Entre Cherbourg, Vire e Le Havre, existiam 1 radar de identificação, 2 radares do tipo "Freya", 5 radares de vigilância costeira de longo alcance, 7 radares de vigilância costeira e 14 radares gigantes Wurzburg. Frequentemente, esses radares eram associados à armas antiaéreas (canhões FLAK de 88 mm), muito eficazes tanto no fogo antiaéreo como no fogo de apoio terrestre.

Para contra-atacar no caso de um desembarque, as forças alemãs tinham 3 divisões “panzer” e um regimento de “Fallschirmjäger” (paraquedistas), além das divisões de infantaria clássicas posicionadas ao longo da costa e guarnecendo as fortificações, sendo muitas deslas, unidades retiradas da frente oriental e colocadas na Normandia para que pudessem descansar. Sua rotina era a vigilância, principalmente contra os atentados da resistência e bombardeios aliados, que atingiam regularmente alvos costeiros e os lembravam que a guerra não havia acabado.



Forças Alemãs na Normandia

Apesar de todo o dispositivo conhecido como “Muro do Atlântico” desdobrado na costa norte francesa, os alemães sabiam que essas estruturas eram limitadas e não poderiam repelir um ataque anfíbio dos Aliados. O exército alemão guarneceu a região com unidades militares experientes e poderosas, e garantiu que fosse observada uma disciplina rigorosa nos territórios ocupados: essa força de ocupação deveria evitar qualquer desvio de conduta que desse munição à resistência francesa. Longe de Berlim e das zonas de combate do Mediterrâneo e da Rússia, os generais alemães não encontravam muitas ocasiões para mostrar serviço e obter os favores do Führer; outros, muito felizes por estarem distantes da frente, se aproveitaram dessa situação e viviam em magníficas residências requisitadas, onde se interessavam cada vez menos pela guerra.

Essas unidades pertenciam à Wehrmacht , às SS , à Kriegsmarine e à Luftwaffe . Em 1944, as tropas alemãs já lutavam há cerca de 6 anos e o moral vinha caindo desde o início de 1942. As diferentes forças mantinham rivalidades, principalmente porque seus meios eram muito desiguais: as divisões SS eram duas vezes mais numerosas do que as da Wehrmacht, a Kriegsmarine tinha poucos navios de guerra e a Luftwaffe estava completamente desgastada desde o final da Batalha da Grã-Bretanha, e pelos contínuos bombardeios realizados pelos aliados. A multiplicidade de autoridades militares e a competição contraproducente entre estas forças (particularmente forte entre a Wehrmacht e as SS) eram particularmente prejudiciais para o Reich, com as decisões não sendo necessariamente tomadas no interesse geral da Alemanha, mas, às vezes, no de uma unidade comparada com outra.

O alto comando alemão tinha poder de decisão limitado: deveria necessariamente ter o apoio de Hitler para tomar decisões. Esse detalhe foi importante no decorrer dos eventos. Obviamente, essa fragilidade estrutural das forças alemãs afetava tanto as unidades no oeste quanto as que lutavam no leste e no Mediterrâneo. As forças terrestres alemãs do grupo do exército ocidental foram colocadas sob o comando do Marechal von Rundstedt, cujo posto de comando estava localizado em Saint-Germain-en-Laye. A costa do norte da França estava sob a responsabilidade do grupo B do exército comandado pela “raposa do deserto”, Marechal Rommel (instalado no castelo de La Roche-Guyon). Dois exércitos compartilhavam este setor: o 7º exército do General von Salmuth , instalado ao longo da costa da Bretanha até a foz do Sena, e o 15º exército do General Dollmann, instalado ao longo das costas de Le Havre ao Soma.

As forças marítimas alemãs posicionadas ao longo da costa do Canal da Mancha respondiam ao almirante Friedrich Rieve, cujo posto de comando estava localizado em Rouen. A marinha alemã, Kriegsmarine, controlava as unidades de superfície e submarinas do 3º Reich, bem como as baterias de artilharia costeira. Na primavera de 1944, o Kriegsmarine, na Normandia, estava sob o comando de 2 comandos diferentes: no oeste, o setor do almirante Walter Hennecke com sede em Cherbourg, abrangendo a baía de Mont-Saint-Michel até na foz do Orne, a leste, o setor do contra-almirante Henning von Tresckow com sede em Le Havre, que se estende da foz do Orne ao Somme. Já bastante enfraquecida pelos anos de guerra anteriores, a marinha alemã possuía apenas 163 caça- minas nesta área (Raumboote), 57 barcos de patrulha (Vorpostenboote), 42 barcaças de artilharia (Artilharia-Träger), 34 lanchas-torpedeiras (S-Boote) e 5 barcos de torpedos (Torpedoboote). Meios muito escassos em comparação com o poder dos 6.000 navios de diferentes classes da armada Aliada, que estavam concentrados no Canal da Mancha de junho a agosto de 1944.

A parte da Luftwaffe no oeste pertencia à 3ª Luftflotte, sob o comando do Marechal Speerle. Equipada com menos de 1.000 aeronaves para controlar todo o espaço aéreo francês, estas unidades foram continuamente bombardeadas pelos Aliados e não foram capazes de ocupar os aeródromos localizados ao longo da costa do Canal da Mancha. Na Normandia, em 6 de junho de 1944, apenas os esquadrões I / Jagdgeschwader (JG) 2 (Richthofen), I / JG 26 e III / JG 26 ( Schlageter ) e a Stab estavam presentes no local.

Von Rundstedt e Rommel não concordavam quanto a estratégia de defesa costeira: o primeiro considerava que deveriam deixar seus adversários adentrarem ao interior e depois contra-atacá-los durante a fase de aceleração, enquanto ainda estão em uma condição semi-vulnerável. O segundo pensava, ao contrário, que era importante, acima de tudo, não deixar os Aliados ganharem posição, caso contrário eles não seriam capazes de repeli-los. Os dois generais concordavam em uma coisa, no entanto: eram as formações “panzer” que fariam a diferença. Mas Rommel queria colocá-las imediatamente atrás das praias, enquanto von Rundstedt preferiam posiciona-los longe da costa, capazes de lançar um ataque blindado nas profundezas das linhas inimigas.

Em 6 de junho de 1944, Rommel não estava na Normandia: ele estava na Alemanha para comemorar o aniversário de sua esposa e com intenção de uma audiência com o Führer. Tentaria vender sua visão de que as unidades blindadas fossem posicionadas ao longo da Muralha do Atlântico, mas era tarde demais: os Aliados desembarcariam em seguida ...



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