sábado, 6 de julho de 2024

Engenharia Militar *241



A Arma de Engenharia, uma da 5 armas-componente presentes em qualquer exército moderno, tem por missão apoiar a manobra das demais tropas no que tange a serviços e informações especializadas, proteção, mobilidade e contramobilidade, além de executar serviços de infraestrutura de toda ordem.

Os meios de Engenharia de uma força armada terrestre devem ser capazes de acompanhar a força a qual apoiam, garantindo seu avanço durante as operações através dos obstáculos que se configurem, permitindo-lhe sua progressão ininterrupta através do terreno, necessitando dessa forma possuir a mesma mobilidade das demais unidades.

Para tanto as tropas de Engenharia sempre compõem a vanguarda de qualquer avanço, colhendo informações técnicas através das atividades de reconhecimento especializado e trabalhando para a consecução de estradas e vias de transposição de terreno sólidas e capazes de suportar o pesado tráfego demandado pelos veículos militares, além de pontes e outros dispositivos necessários a superação de pontos críticos como rios, depressões, terrenos difíceis, florestas densas, campos minados, etc...

Devido as estas condições de emprego, onde o risco de contato com o inimigo está no mesmo nível daquele encontrado pelas tropas das armas-base, as tropas de Engenharia devem dispor de meios e treinamento adequados à sua sobrevivência, sendo uma força combatente com capacidade técnica para serviços especializados, podendo se for necessário, engajar com o inimigo em situações de autodefesa, ou mesmo em reforço às tropas das armas-base.

Além do fundamental apoio a mobilidade desempenhado, as tropas de Engenharia proporcionam também apoio a contramobilidade em combate, através de ações que visem dificultar a manobra inimiga no terreno, como a construção de obstáculos (campos minados, obstrução de vias, alagamento de áreas, etc...) e obras de infraestrutura e proteção.



Reconhecimento de Engenharia

A Engenharia produz dados de inteligência, quer para subsidiar a inteligência militar ou de forma mais especializada com dados importantes às operações das unidades apoiadas. Produzir estes dados é um processo contínuo e permanente. Uma coluna motorizada, por exemplo, não pode deslocar-se por uma via desconhecida sem saber se as pontes suportarão o peso dos veículos, especialmente se estes veículos forem caminhões ou blindados pesados. Este reconhecimento deverá ser intimamente coordenado pelo pessoal de inteligência do escalão superior, o qual agregará aos planos operacionais, através de sua seção de informações, os dados que julgar pertinentes.

Busca-se, através da Engenharia informações sobre meteorologia, topografia, localidades, hidrografia, corredores de mobilidade, itinerários em rodovias e ferrovias ou mesmo “off road”, acidentes capitais relevantes, obstáculos, pontes, vaus, balsas, portos, aeródromos, túneis, campos de observação, campos de tiro, cobertas e abrigos, locais de construção, material e equipamentos de Engenharia, dados sobre suprimento de água e outros itens relevantes. Todas as fontes são úteis como reconhecimento aéreo e terrestre, radares, cartas e fotografias, imagens de satélite, civis e prisioneiros de guerra, dados fornecidos por outras unidades, panfletos e outros.

O reconhecimento, invariavelmente, é executado em áreas próximas ao inimigo, e estes destacamentos que contam com capacidade plena de combate e autodefesa, devem fazê-lo sem engajarem-se em combate se este puder ser evitado, pois não é esta sua missão, salvo ordem contrária. Pode-se obter informes de caráter geral em determinada área ou informes detalhados para uma tarefa específica, sendo que estes seguem-se ao primeiro. O terreno e sua influência nas operações é um dos principais componentes do estudo de situação no PPM (Processo de Planejamento Militar). Determinar sua influência e das condições meteorológicas nas operações é de vital importância.



Emprego Tático

A tropa de Engenharia atua no apoio à mobilidade dos elementos de manobra, executando todos os trabalhos que visem permitir a manobra da força apoiada como a remoção de obstáculos, construção de pontes, demolições necessárias, abertura de brechas em campos minados, consolidação de vias de tráfego e outros que se façam necessários. Atua também no apoio à contramobilidade dificultando a manobra do inimigo através da demolição de pontes, lançamento de campos minados, construção de obstáculos diversos, inundação de áreas alagadiças e outras ações afins. Uma terceira forma de apoio aos elementos são os serviços de proteção que visem reduzir sua vulnerabilidade contra o inimigo e as intempéries, como a construção de fortificações e serviços de camuflagem, construção de instalações que aumentem o bem estar dos combatentes, bloqueio de vias por onde o inimigo possa acessar áreas mais vulneráveis de retaguarda, infraestruturas diversas e outros.

É sempre desejável que a tropa de Engenharia de combate opere sob coordenação de um escalão superior da mesma arma, onde se obtém maior eficiência operacional, podendo no entanto, que destacamentos possam operar vinculado a elementos de manobra quando este operar isoladamente. Este destacamento será normalmente, por exemplo, de um pelotão de Engenharia de combate para um batalhão de infantaria. Poderá ainda esta tropa ser destacada como um elemento de trabalho para cumprir uma tarefa específica, sendo que nesse caso, a composição será variável de acordo com a natureza da tarefa a ser executada.

Enquanto as unidades de Engenharia de combate atuam junto às tropas em apoio a estas, a Engenharia de construção atua normalmente nas áreas de retaguarda em apoio aos grandes comandos logísticos do teatro de operações, que são à princípio zonas mais seguras, em tarefas mais técnicas e planejadas, como as já citadas obras de infraestrutura, fortificações de campanha elaboradas e campos de prisioneiros de guerra. Cabe salientar que em um teatro de guerra nenhum lugar é totalmente seguro e os cuidados com a vigilância e proteção devem sempre ser considerados.

Uma das missões mais importantes da Engenharia é a manutenção em condições de tráfego das vias de transporte. As operações, impõem às vias de transporte um volume de tráfego intenso e vias precárias deterioram-se rapidamente, e cabe à Engenharia manter estas vias operacionais e criar novas se necessário, elaborar cartas rodoviárias e ferroviárias, identificar e precaver-se sobre eventuais obstáculos (pontes, locais de queda de barreiras, pistas inferiores, etc...). A construção, a reparação e a conservação das pontes fixas e o desdobramento de pontes provisórias, em um teatro de operações, constituem uma das mais importantes e complexas missões da Engenharia, sendo as pontes vitais para a manobra terrestre. As pontes demandam ainda proteção e controle de tráfego. Todos os tipos de edificações a serem executadas de qualquer natureza, sejam novas ou reparações, também são atribuições da Engenharia.

Dentre a inúmeras atribuições desta tropa altamente especializada temos a organização do terreno, que consiste em modificar suas características, por meio de construções e destruições, com a finalidade de potencializar o poder de combate amigo e prejudicar o do inimigo, através de ações de fortificações de campanha e camuflagem. A construção de barreiras que são uma série de obstáculos, dispostos em profundidade que barram, restringem ou canalizam as vias de acesso do inimigo em uma determinada direção. Elas aproveitam ao máximo os obstáculos naturais e utilizam o mínimo necessário de obstáculos artificiais, apoiando a manobra tática e aumentando a eficiência dos fogos amigos, impedindo o inimigo de passar, retardando seu avanço ou canalizando-o para uma “zona de morte” onde os fogos amigos podem atuar com maior eficiência.

A destruição de pontos críticos são outra atribuição da Engenharia, que são locais de passagem obrigatórios ao longo de um itinerário, onde a vulnerabilidade da tropa pode chegar a níveis perigosos, facilitando a ação inimiga ou mesmo impedindo o avanço por causas outras, ou ainda que por características próprias coloque a tropa em risco. Estes locais devem ser trabalhados na forma que o risco seja minimizado, seja por obras necessárias, ocupação ou destruições. O lançamento e a abertura de brechas, ou mesmo limpeza de campos minados constituem a guerra com minas. Abrange o emprego de minas contra o inimigo, como também de contramedidas face à utilização de minas pelo mesmo. Compreende todas as formas e todos os processos de utilização de minas. Embora todas a tropas tenham habilidade para evita-las ou utiliza-las de alguma forma, cabe a Engenharia sua manipulação de forma mais abrangente, lançando campos minados ou neutralizando-os.

A Engenharia é responsável ainda por todas as construções militares no teatro de operações terrestre e sua respectiva reparação e conservação, exceto as de comunicações e as obras especificas de outras armas, além dos serviços de tratamento de água, energia e esgoto, e a segurança destes canteiros. Atua em aeródromos, portos e instalações portuárias, oleodutos, instalações ferroviárias, acantonamentos, campos de instrução e de prisioneiros de guerra, instalações de assistência ao pessoal, instalações de comando, instalações logísticas, como depósitos e hospitais; e sistemas de iluminação, de energia e de abastecimento de água. Outras atribuições são a produção de cartas, o suprimento e manutenção de material de Engenharia, a obtenção e otimização de imóveis, a disponibilização de áreas de estacionamento e o combate a incêndios.

Dentre a infindáveis possibilidades desta arma, está ainda a assistência técnica às outras armas na construção de obstáculos; destruições e demolições; minas e armadilhas; serviços de camuflagem; aparelhos de força; abrigos e instalações diversas embarcações fluviais e navegação; organização de posição defensiva, e outras operações especiais.



Operações sob Condições Especiais

Nas operações sob condições de frio extremo atua na limpeza da neve e do gelo das estradas. Com o degelo, as estradas sem revestimento tornam se lamacentas, quase impossibilitando o tráfego de viaturas sobre rodas. Impõe-se, nesse caso, a execução de melhoramentos, que podem ser feitos mediante a utilização de cascalho ou troncos de árvores. As pontes, durante o degelo, devem ser muito bem protegidas e a transposição de rios congelados devem ser cuidadosamente reconhecidos, tendo em vista verificar a capacidade de suporte da camada de gelo. Nas operações em regiões desérticas os pontos de suprimento de água e de campos de minas inimigos são aspectos importantes. Praticamente, nada escapa a observação aérea no deserto e a camuflagem se faz relevante, enterrando-se o que for possível. Pontes, estradas e fortificações são de pouca importância devido a facilidade de deslocamento. Os obstáculos são só aqueles baseados em acidentes naturais e extensos campos minados. A principal missão da Engenharia, nas operações ofensivas, é a abertura de passagens nos campos de minas inimigos, e na defensiva o lançamento de minas e destruição de recursos.

Nas operações nas selvas a conquista, construção e a proteção dos aeródromos e de zonas de pouso de helicópteros podem, muitas vezes, constituir o objetivo inicial das forças empenhadas nas operações. Os reconhecimentos de Engenharia apresentam como principal dificuldade a limitação da observação. A Engenharia executa os trabalhos essenciais de construção e manutenção de estradas e pontes, e devido a humidade constante a drenagem destas se faz de grande importância. Neste ambiente a Engenharia atua em pequenas frações. Equipes de Engenharia devem ser enviadas em incursões para destruir pontes, depósitos, barragens e outras instalações inimigas, devido a facilidade de ocultação e acesso a sua retaguarda. Pontes para pequenos cursos d’agua são construídas pela Engenharia com meios locais, e balsas são necessárias para a transposição dos maiores. As cartas geralmente são precárias e desatualizadas e cabe a Engenharia mantê-las operacionais.

Nas regiões montanhosas o apoio aos elementos de combate deve ser maior que o prestado em operações comuns, devido a hostilidade do terreno. A tropa de Engenharia necessita de um treinamento especial e deve ser dotada de equipamento mecânico (perfuratrizes, serras, marteletes) e transportes (motorizados e cargueiros) mais adequados às condições de emprego do que os que possui normalmente. O equipamento é do tipo mais leve e portátil, porém a reparação de estradas pode exigir equipamento pesado. Sob condições de guerra química, biológica e nuclear (NBC) a Engenharia pode ser designada para missões limitadas de descontaminação de ambientes agredidos, tais como: a descontaminação de um aeródromo ou a desobstrução de uma estrada através de uma área contaminada. Depois de uma explosão nuclear, a Engenharia pode ser solicitada para remover destroços, procurar baixas ou extinguir incêndios.



Unidades de Engenharia

As tropas de Engenharia são organizadas como unidades de Engenharia de combate e unidades de Engenharia de construção, podendo ainda existirem outras unidades com funções mais especializadas, dependendo das necessidades de cada força.

As tropas de Engenharia de combate, tem por missão o apoio direto a mobilidade da tropa apoiada, com meios mais adequados a operar próximos às linhas de contato e capazes de prestar apoio rápido e com sofisticação pouco apurada. Podem ser baseadas em companhia ou batalhões atendendo a escalões específicos, sendo que as unidades orgânicas de escalões menores possuem capacidades mais limitadas a fim de prover apoio mais imediato a tropa em manobra. Operam junto às linhas de contato com alto grau de contato como inimigo. Os meios a disposição da Engenharia de combate deverão ser capazes de atender os requisitos mais imediatos que possibilitem a manobra da tropa apoiada.

As tropas de Engenharia de construção são unidades capazes de serviços mais especializados no que tange a construção de dispositivos diversos como fortificações sofisticadas, pontes permanentes, serviços mais completos de infraestrutura e manutenção de estradas e linhas férreas, demolições de grande monta, lançamento e remoção de campos minados de grande porte, e outras obras relacionadas à constrição civil. Compõem escalões mais elevados e operam em área menos “quentes” do teatro de operações, como as retaguardas onde a situação tática está dominada e o assédio inimigo é menos provável.

Outras unidades de variados portes e especialização específica ainda podem ser constituídas onde se faça, necessárias. Podemos ter unidades especializadas em pontes de diversos tipos e de produção de água potável, ferroviárias, de estruturas, cartografia, concreto, embarcações de emprego especializado, serviços gerais, redes elétricas, equipamentos diversos e outras.

A composição das diversas unidades de Engenharia atende a padrões regulares em tempos de paz, porém em situações de emprego em campanha podem ter constituições variáveis, de acordo com a durabilidade exigida dos trabalhos, de sua progressividade, a profundidade do apoio exigido e dos canais técnicos exigidos.

Normalmente se aloca um pelotão de Engenharia de combate para cada batalhão apoiado, porém estes atuam em conjunto e não subordinados a estes batalhões e sim ao seu escalão superior, constituindo unidade próprias como companhia ou batalhões, sendo esta divisão apenas para fins de dimensionamento. Esta ainda pode variar se a situação assim o exigir. A Engenharia de construção será dimensionada de acordo com as condições gerais do teatro de operações.



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