Eduardo Atem de
Carvalho, PhD
Universidade
Estadual do Norte Fluminense
Rogério Atem de
Carvalho, DSc
Instituto Federal
Fluminense
INTRODUÇÃO
Resumo
A Engenhariade Combate Blindada, na guerra assimétrica, deixou de ser apenas elemento
orgânico da Bda Bld para ser parte integrante, combatente, das
eventuais Forças-Tarefa (FT) organizadas para o cumprimento de uma dada
missão. A presença de meios adequados associados à tecnologia de ponta se
tornam características desta arma, que pode atuar de forma tática, mantendo os
tempo de deslocamento da FT e protagonizando missões, bem como ter uso
estratégico, conquistando uma dada população com sua capacidade de prover uma
região com infra-estrutura que apoie sua subsistência.
A Eng Bld tem à
disposição uma vasta coleção de veículos especializados, tão grande quanto
existam técnicas empregadas por esta arma.
Introdução
A Arma de Engenharia assumiu novas atribuições na guerra moderna, porém suas antigas atribuições permanecem, sendo que a cada conflito mais e mais se espera dela e tarefas inéditas vão sendo adicionadas ao seu leque e competências,
sob o ponto de vista do comando de FTs blindadas.
Na chamada Guerra
Assimétrica, a parte dita “fraca” vai empregar todos os meios para negar
à parte “forte” o uso da potência de fogo superior e da manobra. Como
consequência disto, o Teatro de Operações (TO) passou a incluir áreas urbanas,
além dos espaços abertos. Mesmo assim, a força “forte” se mostrou capaz de
derrotar o adversário, mas o custo em vidas de não-combatentes, decorrentes
disto, acabou por gerar dramas morais e uma reação mundial contra este tipo de
operação. Um dos casos mais emblemáticos do custo da retomada de áreas urbanas
por forças armadas é da Batalha de Manila, na Segunda Guerra Mundial, onde o
Exército Americano desalojou, após um mês de combate, os defensores japoneses,
ao custo da destruição da cidade e da morte de estimados 100.000 filipinos.
No pós-guerra,
com todos os grandes exércitos do mundo apoiando seu poder ofensivo em FT
blindadas, as diversas doutrinas geralmente determinavam que as forças
blindadas evitassem qualquer área urbana ao máximo, limitando-se ao
desbordamento ou envolvimento destas. Mas um novo tipo de cenário surgiu, na
Chechênia e no Oriente Médio, e pode ser entendido na sua plenitude no trabalho
general inglês John Kiszely, onde o inimigo retraiu justamente para as
áreas mais povoadas e com o passar do tempo dispersou suas forças em pequenos
grupos alojados em hospitais, escolas, prédios residenciais e toda instalação
contra qual o uso de armamento pesado pudesse ser classificado como crimes de
guerra, em uma livre interpretação, típica da grande mídia, da Convenção de
Genebra. Assim o lado dito mais “fraco” se defende e tenta anular a
superioridade de potência de fogo, mobilidade e tecnologia, do lado mais “forte”.
Para vencer este
impasse, causado pelo impedimento de usar livremente os fogos de artilharia e
manobras do elemento blindado, uma nova doutrina de emprego vem surgindo, que
leva em conta a necessidade de se dominar áreas urbanas, sem poder contar com
emprego da Artilharia “estatística” (aquela que bate indiscriminadamente uma
área, não um ponto) nem massa de blindados manobrando. Seu emprego se baseia no
uso das frações da tropa, apoiadas por suas viaturas em conjunto com tropa
especializada de Engenharia e apoio de fogo vindos de CCs. Sem a Eng Bld, o
cenário se torna o de impasse, baixas excessivas e derrota estratégica.
O novo cenário
apresentado para as forças convencionais, forçadas a lutar uma guerra
assimétrica, tornaram imperativa a presença da Engenharia de Combate Blindada
não mais como elemento orgânico da Bda Inf Bld ou Bda Cav Bld e sim como parte
integrante da Força Tarefa, avançando dentro da formação da mesma, em proporção
definida pela missão. Seus veículos especializados transportam o material
necessário e combatentes.
Classes de
Veículos Empregados pela Engenharia Blindada
Diversos veículos
são empregados pela Engenharia de Combate, mas este trabalho só ira abordar, e
superficialmente, aqueles que são geralmente encontrados nas unidades de
Engenharia Blindada.
Veículos de
Recuperação
São veículos
empregados na recuperação de CC, CBTP e outras viaturas. Também são capazes de
efetuar reparos em campo. Estas viaturas se encontram, geralmente, em poder das
unidades particulares. Ou com a Arma de Material Bélico, no EB. Mas em outros
países pode ser listado como de “Engenharia”, em geral. São projetados em comum
com carros de combate aos quais prestarão assistências. A seguir alguns dos
seus modelos mais comuns e entre parênteses os CC dos quais se originam:
Bergepanzer (Leopards I e II), Leclerc DNG (Leclerc), BREM (T-80), M88 (M48
A2).
Lançadores
de Pontes
Projetados para
permitir o rápido lançamento de pontes metálicas, para cruzamento de vãos,
fossos e obstáculos relativamente estreitos (pontes tem até 30 m de
comprimento). Podem ser feitos a partir de cascos de CC ou não. Seus modelos
mais comuns são: Biber e PSB-2 (Alemanha), Tagash (Israel), Titan (UK), M60
AVLB e M104 Wolverine (EUA).
Movedores de Solo
e Obstáculos Naturais
Recentemente
incorporados às FT, esses veículos podem ser adaptações de veículos civis ou
cascos de CC, que receberam lâmina de “bulldozer”, retroescavadeira, etc...
Existem diversos, e dentre eles: Caterpillar D9 (Israel), M-105 DEUCE e M9 ACE
(EUA), Kodiak e Wiesent (Alemanha), IMR-2 (Russia), Terrier (UK).
Rompedores de
Campos Minados
Veículos
clássicos da Engenharia, os rompedores de campos minados tem entre os mais
conhecidos: Patria HMBV (Finlandia), PUMA (Israel), ABV e SLUFAE (EUA).
Carro Blindado de
Transporte de Engenharia
Aqui chamados de
CBTE (Carro Blindado de Transporte de Engenharia), estes novos veículos tem
sido desenvolvidos e enquanto seus conceitos não são incorporados na geração
seguinte de veículos, se destacam pela natureza improvisada e adaptativa. Um exemplo
pode ser o CBTP “Nagmachon” israelense, que ao centro recebeu uma torre fixa e
alta, onde seteiras e sensores permitem tanto a imobilização de explosivos
improvisados (IED) como a caça à franco atiradores inimigos – esta segunda
função se torna importante visto que uma tática comum de tropas irregulares é
fustigar, e mesmo impedir o trabalho, equipes de desarme de IED através de seus
atiradores, atrasando o movimento – o que causa alto custo para o atacante, a
um baixo custo para o defensor.
Engenharia
Empregada para o Controle dos Tempos
Todo o esforço
hoje empreendido em relação à Engenharia Blindada, no tocante à guerra
assimétrica, visa dotá-la de meios que mantenham a FT em movimento e cumprindo
suas missões, nos tempos previstos. Desta forma, ela recebe também viaturas
blindadas, com capacidade de resistir ao ataque de qualquer armamento tático do
adversário, as CBTE anteriormente listadas. Suas viaturas transportam
combatentes de Engenharia, especializados nas missões descritas, até a
proximidade dos alvos ou regiões de deslocamento que possam estar bloqueadas
pelo inimigo. E oferecem o mesmo apoio dos CBTP, porém sem contar com torres
automáticas de tiro, somente seus sensores e capacidade de transporte seguro.
Todo o exército
moderno que pretenda ser capaz de obter vitórias estratégicas e não apenas
táticas, deve contar com uma Engenharia Bld capaz de manter reduzido o tempo de
deslocamento das FT. Da mesma forma, o inimigo vai empregar todos os meios à
sua disposição para forçar as FT a aumentar este tempo, causando um número
constante de baixas na força atacante, visando provocar o uso pesado e
indiscriminado de artilharia e outros meios de destruição, quando a FT tenta
forçar a volta do movimento.
Como dito,
nota-se o emprego de recursos de baixo custo pelo defensor, como os IED, usados
de maneira a causar danos de alto valor para o atacante, como a perda de vidas
e o aumento dos tempos.
Mantendo a
Velocidade de Deslocamento da FT
Uma das
características da guerra assimétrica contemporânea é a necessidade de superar
obstáculos físicos durante todo o conflito. Não superados em velocidade
condizente com as velocidades da Era da Informação, estes obstáculos físicos
podem se transformar em alicerces para obstáculos político-estratégicos. Desta
forma, as vias que poderiam ser empregadas para deslocamento da FT certamente
estarão repletas de carcaças de veículos destruídos, blocos de concreto
remanescentes de construções demolidas etc, entremeados com Dispositivos
Explosivos Improvisados (IEDs) e minas terrestres. A remoção deste entulho e a
desativação/destruição dos IEDs tem que ser feita por veículo especializado,
capaz de atuar tanto como retroescavadeira, por exemplo, como também CBTP. Esse
tipo de missão irá se repetir à exaustão, junto com as demais já hoje à cargo
da Arma. A missão da Engenharia pode ser definida então como manter a
velocidade de deslocamento da FT.
Mantendo a
Velocidade de Deslocamento da Infantaria Desembarcada
Uma vez
desembarcada e atuando em uma área densamente povoada ou nos arredores
semi-destruídos de uma cidade, a Infantaria Blindada costuma ser detida pela
presença de atiradores, observadores que disparam armadilhas e/ou IEDs e mesmo
pela presença de bandos desorganizados do adversário.
Sendo esta a
maior fonte de baixas do Exército da Israel, na chamada Guerra do Líbano,
surgiu naquele país uma nova doutrina para emprego da Engenharia, e então as
tropas passaram a contar com equipes que abrem furos em paredes de construções
usando explosivos moldados para tal. Desta forma a tropa penetra em um
quarteirão pela parede da primeira construção, limpa a área de combatentes
inimigos e avança para destruir a parede na extremidade oposta da primeira
construção, adentrando a segunda e repetindo o processo, permitindo
deslocamento com segurança pelo grosso da tropa, que é composta de infantes
desembarcados. Desta forma, o número de combatentes perdidos para
franco-atiradores, explosivos etc, cai para um número mínimo. Este tipo de
atuação, pela Eng Bld desembarcada, permite que toda a missão mantenha o
cronograma, vital na guerra assimétrica.
O emprego desta
tática porém deve ser balanceado, posto que, enquanto reduz as baixas amigas –
melhorando a imagem “dentro de casa”, não será livre de questionamentos, dado
que, ao passo e ao cabo de sua execução, destruirá um grande número de
construções, geralmente moradias civis, no caminho até o último ponto de
resistência adversária.
Tropas de Elite
de Engenharia
O confronto do
tipo assimétrico adquiriu tal proporção no Oriente Médio, que levou o Exército
de Israel a criar uma unidade de Forças Especiais de Engenharia, o Sayeret
Yahalom. Embora não exista literatura técnica suficiente disponível sobre a
unidade, sabe-se que ao ser organizada na forma de um “Sayeret”, trata-se de
uma unidade de elite. Diz-se que esta unidade se preparou por um longo tempo
para enfrentar os cenários de um eventual confronto na Faixa de Gaza, mas
obviamente, nada é confirmado. Porém, a lição que fica é que existe a
necessidade de se ter uma tropa de Engenharia capaz de executar estas missões
aqui descritas.
Novos Meios
Uma das grandes
soluções tecnológicas criadas para a guerra assimétrica e posteriormente
incorporada aos exércitos regulares é o uso de VRC (Veículos Remotamente
Controlados), que operados à distância permitem que atividades mais perigosas
realizadas pela tropa sejam realizadas por robôs, com graus variados de
sofisticação. Desde os mais simples, portáteis, que podem ser lançados
manualmente por um combatente, até aqueles dotados de níveis de decisão
próprios. A variedade destes equipamentos é grande, com novos fornecedores
surgindo constantemente. No exército de Israel, parte do patrulhamento ao longo
das cercas que separam o país da Síria e da Faixa de Gaza é realizado por
pequenos robôs. Outro meio já testado na Operação “Protective Edge” foi o uso
de radares portáteis, que permitem “ver” através das paredes. Em 2014 este
equipamento só estava disponível para unidades de elite atuando naquela região,
hoje já se discute distribui-lo para a tropa regular de Engenharia.
Engenharia
Empregada Estrategicamente
Assim como o
papel tático preponderante no campo de batalha moderno e assimétrico, as
possibilidades de prestação de serviços à comunidade, através de provimento de
estruturas e ações de saneamento básico, construção de moradias, abertura de
estradas e ferrovias etc, se tornam um vetor estratégico da Engenharia na
guerra assimétrica. Isto é materializado por um velho ditado português que diz
que “a revolta começa onde acaba a estrada”. Assim sendo, a mesma
Engenharia que destrói no nível tático, constrói no estratégico, colaborando
para conquistar “corações e mentes”, sendo esta segunda missão incumbência da Engenharia de Construção e não à de Combate.
Seleção de
Equipamentos
A solução
clássica adotada por Israel para dotar seu Exército de blindados de Engenharia
capazes de fazer parte de uma FT e ao mesmo tempo cumprir as missões da arma,
tem sido a de transformar antigos CC em novos blindados de Engenharia. No
Brasil, a opção recai sobre a compra de blindados alemães de Engenharia, da
família Leopard, equipados com os equipamentos necessários ao cumprimento
da missão. Pelo que se observa nas campanhas russas (Chechênia),
norte-americanas (Iraque e Afeganistão) e israelenses (Faixa de Gaza e Líbano),
operar com proteção blindada menor que a de um CC típico tornará inócua a
tentativa da Engenharia Blindada de executar suas missões, e a mesma sofrerá
baixas incapacitantes durante as tentativas.
Conclusões
A possibilidade
de enfrentamento na forma de uma guerra assimétrica se tornou presente para
todas as Forças Armadas do mundo, com o aumento no número dos ditos Estados
Falidos, movimentos separatistas ou de afirmação nacional, grupos terroristas e
associações em rede de diferentes tipos de entidades. Nesta forma de conflito
observa-se que:
- O lado “fraco” irá usar de todos os meios para paralisar o movimento da tropa “forte”, enquanto tenta causar baixas politicamente injustificáveis, tanto no lado “forte” quanto no seu próprio lado, de forma a causar derrota no plano estratégico, ao apresentar ao mundo a força atacante como criminosa de guerra.
- A Engenharia Blindada assume papel primordial, ao passar a ser elemento orgânico das FT, responsável pela manutenção da indispensável velocidade de manobra e consequentemente dos tempos reduzidos, que por sua vez irão colaborar para reduzir possíveis danos político-estratégicos.
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