Reflexões Teóricas Sobre Conflitos Assimétricos:
Introdução ao Momento Atual
DEFESANET
DEFESANET
Prof.
Rogério Atem de Carvalho, D.Sc
Instituto
Federal Fluminense
Prof.
Eduardo Atem de Carvalho, Ph.D
Universidade
Estadual do Norte Fluminense
O
campo de batalha contemporâneo apresenta características da dita guerra
assimétrica, onde o tempo passou a ser um fator crucial, superando o domínio do
terreno em vários casos. Os Exércitos precisam manter o controle sobre o tempo
para evitar uma derrota no nível estratégico, ainda que tenha sido capaz de
vencer no nível tático. Este artigo busca comentar brevemente os principais
pontos da guerra contemporânea e servir de introdução para uma série de outros
que tratarão de aspectos basilares desse tipo de conflito.
Escopo
O
cenário aqui compreendido é o da chamada guerra híbrida, termo entendido como
abrangendo uma combinação de guerra irregular, terrorismo e crime organizado
para alcançar objetivos políticos, onde o caso mais recente parece ser a ação
russa na tomada da Criméia. Assim, considerar-se-á que a guerra
contemporânea é do tipo híbrida.
Cenário
Contemporâneo
Na
atualidade, os exércitos são forçados a se preparar para conflitos de natureza
convencional que podem criar conflitos assimétricos, ou vice-versa. O Oriente
Médio é o melhor laboratório de estudos para este tipo de conflito e suas
experiências não podem ser ignoradas, sob pena de se conseguir custosas
vitórias táticas nos campos de batalha ao mesmo tempo que se sofre fragorosa
derrota estratégica.
Nos
conflitos contemporâneos, como previsto no campo filosófico por Paul Virilio, o tempo passou a ter prevalência sobre o terreno no processo decisório,
tornando-se senhor absoluto no nível estratégico, em todos os conflitos.
Na
guerra convencional os custos progressivos ao longo do tempo do conflito correm
contra os exércitos regulares; na guerra não-convencional o tempo passa a ser
regulado não pelo custo financeiro e humano do conflito, mas pelo custo
político, cabendo às forças regulares a eliminação do inimigo em um prazo muito
mais curto que o desejável, antes que a máquina de propaganda do inimigo comece
a desgastar a imagem da força regular, com informação multimídia manipulada e
plantada em redes sociais e meios de comunicação.
A
Guerra da Chechênia foi o primeiro evento onde uma nova forma de lutar
claramente emergiu, baseada em uma combinação de atores não-estatais agindo em
pequenos grupos – clássica das guerrilhas – com um poder de fogo ampliado pela
ação em rede, fazendo uso de uma pletora de atividades que vão do ativismo ao
terrorismo, passando pelo crime organizado em nível estratégico, a
dita netwar.
Chechênia:
Caso Emblemático
Basicamente
todos os problemas encontrados pela OTAN no Iraque e no Afeganistão foram
enfrentados, em menor escala e por um período mais curto, anos antes na
Chechênia pelos russos. Nesse conflito ficou latente como o modo castrense de
pensar das forças regulares se vê desafiado por duas forças:
- O aumento expressivo da velocidade das ações força a tomada de decisão pelos escalões inferiores ou, não o fazendo assim, cria uma espécie de apoplexia operacional que leva a uma consequente perda da iniciativa no combate, e,
- O uso cada vez maior de forças irregulares, tornado a guerra cada vez mais “civil”, como também já havia previsto Conner.
O
primeiro ponto tem como principal problema o fato de os escalões inferiores
usualmente não terem maturidade nem visão do todo suficientes para tomar as
melhores decisões, ainda mais em cenários de não-guerra, onde o volume de
informações a lidar é muito maior.
O
segundo ponto tem como fator de pressão o fato de que a melhor maneira de se
combater forças irregulares é com forças especiais, mas que país consegue formar
FEs na quantidade suficiente para enfrentar populações hostis inteiras? Não
dispor de FEs em quantidade significa que forças convencionais farão seu papel,
um típico dejavú.
Mas
como dar combate a irregulares em ambientes onde usualmente estes se misturam e
fazem parte da população civil, impedindo a artilharia de realizar seu
devastador apoio de fogo? Assim como o poder decisório, o poder de fogo teve
que ser levado aos escalões inferiores, e também num nível de precisão, de
detalhamento maior. A resposta estaria na tecnologia.
Entra
a Tecnologia
Para
resolver a questão da rápida tomada de decisão, foi adotado o conceito
de Network Centric Warfare (NCW, Guerra Centrada em Redes), originalmente
surgido no cenário aéreo e posteriormente transposto para o mar e a terra.
O
NCW visa prover, simultaneamente, maior consciência situacional ao combatente
individual e aos escalões decisórios, através do emprego de comunicações
seguras, sensores diversos e de fusão de dados, de maneira a manter o combatente
individual conectado na rede de Comando e Controle enquanto que, através
da agregação, tratamento e fusão de dados, cria rápida e dinamicamente,
representações sintéticas do campo de batalha para o comando.
Para
resolver a questão de forças convencionais adquirirem melhor capacidade de
combater irregulares, a tecnologia veio na forma de Carros Blindados de
Transporte de Pessoal (CBTP) com maiores e melhores blindagens, maior poder de
fogo e capacidade de se integrar ao ambiente NCW e fabricados com
características semelhantes aos Carros de Combate - inclusive blindagem, torre
de tiro automática, comunicações digitais e sensores ópticos e térmicos.
Conclusões
As
rápidas conclusões que se pode chegar são as que se seguem:
-
Os tempos nos campos de batalha contemporâneos são bastante curtos. E
determinados pela magnitude e sucesso da ofensiva midiática do oponente. Este
tem que estar derrotado antes que o alienado médio urbano comece a reagir ao
conflito, motivado pelos porta-vozes adversários.
-
A tecnologia passa a ser cada vez mais fator preponderante para aumentar a
coordenação entre os meios e dar poder decisório aos escalões inferiores,
enquanto que se mantém as ações no campo alinhadas aos objetivos estratégicos.
A tecnologia supre também armamento e munições de menor poder destrutivo mas
maior precisão, de maneira a fazer ataques concentrados em alvos dispersos em
meio à população e instalações civis.
-
Cada vez mais as fronteiras entre civil e militar, entre guerra e não-guerra se
tornam difusas e dinâmicas: os cenários mudam com a velocidade da Comunicação.
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