Juan Carlos Losada
A minuciosidade com que o desembarque foi preparado, assim como os intensos trabalhos prévios de destruição de ferrovias e estradas pode ser explicada pelas dúvidas dos Aliados em relação a conclusão da operação. O sucesso dependia de os Aliados poderem desembarcar um número suficiente de efetivos e garantir as praias antes da chegada dos temíveis reforços alemães (que estavam a postos no interior, preparados para socorrer, principalmente, Calais). O plano aliado dependia em grande parte do desempenho das três divisões de comandos e paraquedistas, duas norte-americanas e uma britânica, que somavam cerca de 27 mil homens, e deveriam cair de surpresa sobre a retaguarda alemã, atrás das praias, para desorganizar as já devastadas linhas inimigas, cortando conexões telefônicas, destruindo ninhos de artilharia e tomando pontes e estradas de acesso para o interior.
Essas divisões deveriam saltar horas antes do início do desembarque, para que houvesse tempo de facilitar a operação principal o máximo possível, por meio de ações de sabotagem. As forças deveriam agir também como uma espécie de almofada amortecedora contra possíveis e inesperados reforços inimigos, de forma que os grupos que chegassem às praias tivessem mais tempo de se organizar e ganhar posições sobre o terreno. Assim que alcançassem este objetivo, os paraquedistas deveriam atacar as linhas alemãs próximas da costa que estivessem impedindo o avanço aliado que progrediria vindo das praias. A ideia era atacar as forças nazistas a partir dos dois lados, para que entrassem em colapso. A importância que o Alto-Comando aliado havia dado a essas unidades era tal que o treinamento delas foi realizado de forma intensiva, nos três meses anteriores à operação, e usou fogo verdadeiro - o que resultou em mortos e feridos, mas também em homens capazes de correr a 10 km/h, levando seu equipamento, com a força e habilidade necessária para passar por obstáculos com arame farpado, surpreender forças fixas e ultrapassar barricadas.
As forças aliadas que deveriam chegar com diferentes ondas de desembarque eram significativas. Dez divisões, das quais duas de reserva, totalizando cerca de 250 mil homens entre britânicos, norte-americanos e canadenses, desembarcariam na primeira onda, a bordo de 7 mil barcos e 2,6 mil planadores e aviões. Seriam seguidos por 30 outras divisões nas horas e dias posteriores, formada, além de norte-americanos e britânicos, por três divisões canadenses, uma polonesa e outra francesa. Todas estariam protegidas por uma formidável força aérea composta por mais de 12 mil aviões entre caças, bombardeiros e aviões de transporte, que seriam imbatíveis contra as escassas 500 aeronaves de que os alemães dispunham para defender a área.
Enquanto isso, outros 3 milhões de homens, principalmente britânicos e norte-americanos, estavam na Inglaterra à espera de suas transferências para a França, depois que o sucesso dos desembarques estivesse garantido e se conquistasse terreno suficiente. Junto a eles, em hangares secretos e perfeitamente camuflados entre florestas e edifícios, esperavam mais de mil locomotivas, pontes pré-fabricadas, milhares de quilômetros de trilhos e 20 mil vagões de trem que substituiriam, nas semanas posteriores, o equipamento ferroviário francês totalmente destruído pelos bombardeios aliados, mas que seria essencial para o movimento posterior das forças.
Para sustentar esse deslocamento seriam necessárias toneladas de combustível que deveriam ser transportadas rapidamente para o continente. Para viabilizar esse transporte, os engenheiros militares construíram 1,6 mil quilômetros de oleodutos e dezenas de estações de bombeamento na costa inglesa, disfarçadas como fazendas ou garagens. Desta forma, dezenas de oleodutos permitiram o transporte de milhares de toneladas de combustível da costa britânica para a França. Estes engenhos foram batizados de Pluto (da sigla em inglês para Pipe Line Under The Ocean, encanamento sob o oceano).
É importante assinalar que os ingleses, com menor potencial demográfico do que os norte-americanos e defasados pelas enormes perdas sofridas na Primeira Guerra Mundial, especialmente durante o frustrado desembarque em Gallipoli, estavam obcecados em minimizar o máximo possível seu número de efetivos. Sabendo que a abertura de uma frente na França iria enfrentar uma resistência considerável, em maio de 1943, Churchill encarregou o general Percy Hobart, comandante da 79ª Divisão Blindada e um especialista em guerra de blindados, de elaborar um projeto especial de novos carros de combate, com base em modelos já existentes, destinados a abrir uma brecha na Muralha do Atlântico e aplanar o caminho para a infantaria desembarcada. Para os norte-americanos, eles pareciam superficiais e extravagantes, mas, no final, foram úteis e contribuíram para que houvesse menos baixas nas praias onde os britânicos desembarcaram do que onde os norte-americanos o fizeram.
As inovações variavam: iam de tanques flutuantes - carros de combate Sherman que foram impermeabilizados, a carros de combate dotados de duas hélices, assim como de uma lona inflável, a única inovação que despertou interesse dos norte-americanos. Foi desenvolvido também o tanque Bobbin, que tinha em sua parte dianteira, enrolado, 34 metros de tecido resistente de 3 metros de largura, o que permitia que o carro seguisse em frente e não ficasse preso na areia e lodo; o Crab (caranguejo), um carro equipado com correntes giratórias que se movimentavam à frente do tanque e provocavam a explosão das minas que encontrasse, limpando o caminho para o avanço dos soldados; o Churchill AVRE, que tinha uma ponte acoplada que lhe permitia cobrir fossos de até 9 metros de largura, o Flying Dustbin (lixeira voadora), equipado com um morteiro que lançava projéteis de 18 kg três vezes por minuto, capaz de demolir os bunkers inimigos; e o Crocodile, tanque equipado com um lança-chamas de 110 metros de alcance, com um depósito de mais de mil litros de combustível acoplado.