domingo, 3 de janeiro de 2016

Fundamentos do Combate de Infantaria #116



A infantaria é uma tropa que pode combater qualquer tipo de missão, em qualquer ambiente. Suas ações lastreadas no combate aproximado (close combat), geram nos combatentes grande estresse psicológico, devido à extrema violência do contato próximo, com proximidade corpo-a-corpo em muitas ocasiões e visualização dos semblantes inimigos, além dos efeitos físicos que os embates geram nos combatentes feridos e mortos, sejam ele amigos ou não. Ao engajar-se em um combate, deve-se fazê-lo de forma insensível e implacável, sob pena de permitir ao inimigo conquistar a iniciativa e o comando da situação, exigindo ao extremo as qualidades físicas e mentais dos soldados. É a necessidade de se estar preparado para este tipo de situação-limite que norteia o treinamento do combatente, sobretudo do combatente de infantaria, treinamento este muitas vezes incompreendido por aqueles que nada sabem sobre o ofício das armas.

De todos os ramos da atividade militar, a infantaria é única devido a sua proficiência combativa estar centrada na ação do indivíduo. Enquanto outros ramos da organização militar se concentram na operação de sistemas e plataformas de armas, a infantaria tem como base a ação individual atuando em prol de uma equipe, sendo os indivíduos e não suas armas o centro de sua atuação. Esta característica enfatiza a disciplina individual, a iniciativa responsável e a capacidade de liderança como fatores determinantes ao sucesso destes combatentes.

Embora o campo de batalha possa ser alcançado por uma variedade grande de meios, é através da mobilidade a pé que o soldado de infantaria luta no final das contas. Atirar e manobrar é a premissa básica deste tipo de combate, pois nem o movimento e nem o fogo, quando empregados isoladamente, produzem resultados decisivos. Combatentes de infantaria tem que alocar grande volume fogo certeiro, em curtos intervalos de tempo e em qualquer direção, ao mesmo tempo em que se move para onde for necessário, quantas vezes a situação exigir, transpondo condições das mais diversas e singulares. Esta realidade impõem aos combatentes e comandantes, 3 limitações distintas:
  • Coordenar a linha de avanço de forma a manter a coesão e não criar vulnerabilidades;
  • Dimensionar a carga individual de cada soldado, de forma a ter sempre disponível seu equipamento e munição suficiente sem no entanto comprometer sua capacidade física e poder de combate e;
  • Preservar as condições físicas e morais dos combatentes, sempre vulneráveis aos efeitos dos fogos direto e indireto, e maltratos do ambiente e das duras condições de combate.

Os infantes enfrentam situações que exigem de seus líderes a rápida compreensão da situação tática e conseqüente tomada de decisão oportuna. O combate pode-se dar ofensivamente para conquistar terreno e subjugar o adversário, e defensivamente para negar o terreno e proteger forças amigas, que modernamente é feito de forma ofensiva a fim de preservar a iniciativa e o comando das ações. Seja qual for a situação o infante sempre está atacando ou se preparando para atacar. Ataque e defesa são operações de amplo espectro e diferenciadas apenas nos escalões mais altos, sendo indiferentes aos pelotões e pequenas frações.



Princípios Táticos da Infantaria

O combate da infantaria está centrado na manobra e vantagem tática, na combinação efetiva de seus meios de combate, na capacidade de liderança e tomada efetiva de decisões, no poder combativo de cada unidade ou fração e no entendimento correto da situação tática.

A manobra tática como já descrito é a aplicação do poder de combate. Movimentar-se a fim de alcançar posições efetivas ao fogo das armas e atirar para possibilitar o movimento são a base da manobra de infantaria. Fogo sem movimento não produz resultados decisivos e movimento sem fogo torna os combatentes vulneráveis com resultados potencialmente desastrosos.

A vantagem tática consiste no aproveitamento de todos os fatores presentes em cada situação; valendo-se sempre que possível de facilitadores do terreno e do clima, treinamento e tecnologias superiores, surpresa nas ações engajando o inimigo quando está despreparado, eficiente escopo defensivo e de segurança, conhecimento dos dispositivos e pontos fortes e fracos do inimigo, poder de fogo superior, organização, disciplina e moral elevados. Impor ao inimigo problemas inesperados e insolúveis, evitando-se procedimentos óbvios e previsíveis.

A combinação de meios de combate como tipos de armas e munições, apoio de unidades externas como operadores de engenharia de combate e alocação de fogos de artilharia e morteiros, solicitação de apoio aéreo aproximado e apoio a mobilidade por helicópteros, entre outras; valendo-se do conceito sempre eficaz das armas combinadas.

Liderança é a capacidade de incutir em seus subordinados com convencimento o que fazer e o porquê de fazê-lo, deixando o como a critério deles e do seu treinamento. O líder deve ter autoridade reconhecida pelos seus subordinados e liderar pelo exemplo. A tomada de decisões deve ser feita seja no tanto no planejamento das ações como na preparação, execução e avaliação delas. O líder deve exercer o comando e o controle das ações de sua equipe, com avaliações precisas e decisões oportunas, além de eficiente gestão de riscos.

O comando e o controle de um pequeno efetivo de infantaria em combate se dá em torno das funções de combate. Estas funções são o equivalente de pequeno escalão dos sistemas operacionais. São elas as funções de Inteligência, Manobra, Apoio de fogo, Proteção, Suporte logístico e Comando e controle (C2). A cada uma desta funções são alocados pessoal, organização, informação e processos para que se efetivem na prática. Cabe aos comandantes conduzir operações e adestramento em torno das funções de combate.

A Inteligência envolve as tarefas que tratam da compreensão do inimigo, as considerações sobre o terreno e o clima, e as influências dos combate junto a população civil e vice-versa. Envolve ainda as tarefas de vigilância e reconhecimento.

A Manobra é a função que trata da movimentação dos combatentes antes durante e depois do combate, associando a esta o fogo necessário a sua segurança e a degradação do poder combatente inimigo, mobilidade e contra-mobilidade. Através da manobra se alcança o choque, a surpresa e a dominância da situação.

O Apoio de fogo envolve as tarefas de pedido e coordenação de fogos indiretos providos pelo escalão superior. Incluir ainda as funções de sincronização e integração com outras funções de combate.

A Proteção é a função de combate que visa implementar ações de preservação dos combatentes e seus meios, a fim de manter a segurança da tropa e integridade do poder de combate. Incluir as tarefas de prevenção ao fratricídio, defesa antiaérea e antimíssil, prevenção de ações subterrâneas hostis como sabotagens e atentados, ações de sobrevivência, contra-informação, apoio médico-sanitário e atos de segurança direta.

O Suporte logístico é o conjunto de tarefas que visem a sustentação em condições operacionais da tropa através de serviços do suprimento de munição, equipamento, víveres e outros itens necessários; manutenção do equipamento; mobilidade; serviços como o banho e a lavanderia; correspondência; recursos humanos; gestão financeira; serviços de engenharia em geral; apoio religioso; apoio aos serviços de saúde e manuseio de material explosivo a ser destruído. Estes serviços garante a permanência da tropa em operação e geralmente são providos pelo escalão superior em sua maior parte.

As tarefas de C2 envolvem a execução da autoridade e direção. É através das C2 que o comandante integra as outras funções de combate, gerenciando informações relevantes, valendo-se de redes de computadores e sistemas de comunicações, e fazendo chegar a tropa subordinada as ordens e orientações.

Poder de combate é o nível de efetividade que uma unidade operacional pode aplicar sobre o inimigo. É a eficácia da capacidade de lutar. Os líderes da infantaria valem-se das tarefas de planejar, preparar, executar e avaliar para gerar poder de combate. O comandante tático deverá aplicá-lo aos seu objetivo a fim de cumprir sua missão, combinando movimento, poder de fogo e proteção para atingir este objetivo. O entendimento de cada situação, única em combate, é vital a superação do objetivo. Ao planejar cada ação, o líder deverá entender seu propósito e como seu objetivo está inserido no objetivo do escalão superior.

O Combate Aproximado

Um combate aproximado é caracterizado pelo perigo, sacrifício físico, incerteza e oportunidade. Para enfrentá-lo o soldado deverá ter coragem, tenacidade física, equilíbrio mental e flexibilidade.

A coragem é a capacidade de vencer o medo, normal nestas situações, e enfrentar o perigo, sempre presente. Ela é resultante de condicionamento mental forjado em treinamentos contínuos e realistas, conhecimento das técnicas e práticas de combate, entusiasmo, orgulho e crença na causa que defende. A tenacidade física é resultante de condicionamento físico constante e permite ao soldado enfrentar o cansaço e a fadiga muscular. Equilíbrio mental reflete o nível de maturidade que o soldado atingiu. Ele fornece os meios psicológicos para que o soldado coloque a razão como dominante aos efeitos emocionais da situação e tenha capacidade de fazer com competência o que precisa ser feito para cumprir a missão. Avaliar a situação diante da incerteza relativa e tomar decisões dentro do razoável valendo-se das informações disponível é o que se espera. Flexibilidade é a capacidade de lidar com o acaso. O acaso é imprevisível, acontece aos dois lados que se enfrentam, e tem que ser tratado com decisões lógicas e que contribuam para o cumprimento da missão.




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