terça-feira, 14 de setembro de 2021

Operações Militares - Generalidades *220


A faina das armas é uma atividade de alta complexidade, que demanda um grande número de práticas e sistemas, alguns complexos pelo número e outros pela sofisticação, para atingir com eficiência o objetivo, que é a busca da supremacia militar sobre o inimigo nos teatros operativos. Estas práticas e sistemas operados pelas forças armadas e outras agências, devem atuar de forma harmônica visando complementar-se entre si, provendo ao todo um poder de combate efetivo e superior, multiplicando a eficiência de cada elemento envolvido, principalmente os de linha de frente que efetivamente entram em contato com o inimigo e estão sujeitos a um atrito superior.

Para vencer uma campanha deve-se levar o inimigo a condição de imobilidade estratégica, que é quando ele nada mais pode fazer para reverter a sua situação. Para tanto, uma força se vale de ações políticas travadas em alto escalão junto a outros agentes políticos, como governos amigos por exemplo, e no campo militar através da dissuasão, da debilitação da capacidade militar inimiga e da ocupação de sua áreas estratégicas. Os comandantes militares, estejam eles no quartel general em solo pátrio ou em campo junto às unidades de vanguarda devem observar algumas premissas básicas quando do planeamento de suas operações e ações, presentes em quase todas as situações.


Dissuasão Militar

Sistemas de defesa bem concebidos e integrados, dotados de tecnologia moderna, operados por pessoal competente e bem treinado, seguindo doutrinas efetivas e em constante adequação, tanto na tecnologia como na evolução do pensamento, não só são capazes de se mostrar superiores quando postos em ação, mas cumprem o papel de dissuadir potenciais inimigos a empreenderem qualquer aventura militar contra as nações que os possuem.

A dissuasão é o primeiro resultado alcançado por um sistema de defesa, mesmo contra nações militarmente superiores, pois o custo de uma empreitada militar, mesmo com a vitória assegurada, pode se mostrar deveras oneroso a qualquer nação se confrontadas por um inimigo competente. Na guerra Russo-Finlandesa ou Guerra de Inverno, apesar a superioridade dos soviéticos (3x1), a manobra finandesa naquele teatro de inverso se mostrou superior, inflingindo-lhes pesadas perda e forçando as negociações. Para dissuadir é preciso ser capaz de implementar pronta resposta a quem desafiar, de forma efetiva e contundente. Cada inimigo em potencial, se acreditar que sua investida será coroada com revezes inaceitáveis, procurará outros meios de resolver a situação. É preciso saber combater e estar preparado, sob todos os aspectos operacionais ou logísticos, para colocar em prática esta ciência.




Sistemas de defesa devem ter a capacidade de atuar em todos os ambientes possíveis e necessários a defesa de sua nação, e se operando de forma expedicionária naqueles que irá encontrar. Os macro-ambientes mais óbvios e presentes em quase todas as situações são o espaço aéreo, a superfície terrestre e as águas interiores e marítimas, razão pela qual as forças armadas da maioria das nações são estruturadas em 3 ramos distintos e independentes na forma de uma força aérea capaz de mostrar seu poder de forma absoluta no controle do espaço aéreo e no apoio às forças de superfície; uma força terrestre que agrega efetivos maiores que as demais e atua na superfície e próximo dela conquistando, ocupando e mantendo áreas geográficas e pontos de interesse estratégico; e uma força naval capaz de controlar ou negar o uso das águas próximas ou de alto mar pelas forças inimigas. Estas três forças devem ainda ser capazes de operar de forma integrada e em apoio mútuo.

Diversos cenários operativos podem se fazer presentes, sejam montanhas ou praias, e as forças devem ter a capacidade de operar em todos eles, onde quer que se façam necessárias. Teatros no além fronteiras também podem exigir a intervenção das forças armadas de um país, e é conveniente que se tenha alguma “expertise” nos mais prováveis ou comuns, para que se possa constituir tropas em tempo reduzido a partir daquelas já existentes.



Ao se lançar em uma missão militar a primeira atividade a ser implementada é a busca de inteligência militar. As forças operativas devem conhecer o terreno onde terão que atuar, suas capacidades frente aos potenciais inimigos, os sistemas de armas e doutrina militar destes, sua forma de operar e o pensamento de seus comandantes. Esta  busca deve ser contínua, tanto na paz como na guerra, e deve priorizar o conhecimento de tudo o que existe no meio militar a fim de associar-se das boas ideias e tendências mais modernas, os fatores que influem direta ou indiretamente nos teatros de operações prováveis e possíveis, as áreas e benfeitorias mais importantes à existência da nação (áreas e pontos sensíveis), e o aperfeiçoamento e evolução do pensamento doutrinário. Na guerra esta busca passa a ser focada prioritariamente nas operações e problemas mais urgentes, porém sem esquecer fatores externos de importância.



Meios Operativos

A empreitada militar demanda meios tecnologicamente modernos e capazes de fazer frente aos inimigos, operado por pessoal treinado dentro de uma doutrina validada pela prática constante e a experiência das operações passadas, e que seja adequada às ameaças que se apresentam, sempre levando em consideração as características do meio onde se irá operar e em número compatível. Cada força ou agência deverá estruturar suas unidades para atuar em seu ambiente específico, sempre se utilizando dos subsídios oferecidos pela inteligência militar.

Doutrina Moderna e Adequada

A doutrina militar é a linha de pensamento que rege o emprego das forças operativas e delineiam todas a atividade de suporte a estas forças em tempos de paz, norteando seu treinamento e as especificidades dos meios materiais, bem como os planos de emprego destes meios. Uma doutrina inadequada pode fazer o melhor equipamento operado por um tropa bem treinada se tornar inútil, como os franceses experimentaram quando as tropas de Hitler invadiram a França, desviando da "Linha Maginot" e impondo a "Blitzkrieg", um forma nova e moderna de lutar dentro do conceito de "Guerra de Movimento". Os franceses, que contavam com blindados superiores e poderiam ter invadido preventivamente a Alemanha, enquanto esta se ocupava com a Polônia, preferiram esperar e reagir ao invés de lutarem com iniciativa, empregando conceitos ultrapassados da primeira grande guerra de luta estática. A adequação da doutrina é fundamental e seu estudo deve ser uma prática constante em todas as forças que buscam a superioridade militar. 




Sistemas de defesa complexos demandam estruturas logísticas complexas, como parques industriais e centros de pesquisa que lhes deem suporte. Estruturas de apoio à mobilidade como portos, aeroportos e estradas para poderem se deslocar rapidamente são essenciais a sua eficiência. Fornecimento de insumos variados como combustível, munição e alimentação, entre outros, também são condições essenciais. Estes suprimentos podem chegar a milhões de itens vindos da indústria, e matéria prima para que esta possam manufaturá-los na escala adequada também deve ser garantida. Todo esse suporte é vital a operação das forças e alvo valioso ao inimigo. De nada adianta ter uma competente indústria de pneus, se o suprimento de borracha ficar comprometido, por exemplo. As guerras são vencidas pela logística, e a inviabilização desta é uma das principais linhas de ação em combate.

Sistemas logísticos eficientes devem ser planejados de forma que as forças estejam sempre bem supridas e possam desempenhar suas missões com eficiência. Avanços muito rápidos podem forçar a capacidade de colunas logísticas mal dimensionadas e depósitos de suprimentos devem sempre ser alocados próximos às vanguardas, como experimentou o General Patton, que teve que paralisar seu avanço quando seu combustível foi redirecionado às tropas de Montgomery em suas manobras mirabolantes. O avanço alemão nas vastas distâncias russas colocou em xeque uma mal dimensionada "cauda logística" desprovida de linhas ferroviárias e portos, em um teatro eminentemente terrestre que forçou as comunicações ao limite e paralisou o avanço, condição agravada pela precariedade das estradas e falta de uma eficiente estrutura de engenharia militar e de combate. Deve-se procurar proporcionar conforto a tropa de forma a manter alto seu moral, proporcionando-lhes serviços de banho, boa comida, contato com seus lares, descanso e lazer. Deve-se procurar ainda manter um padrão alto de condições sanitárias e de saúde geral, bem como um efetivo apoio médico a feridos e indivíduos com saúde debilitada. Napoleão Bonaparte disse "Os exércitos marcham sobre seus estômagos" e esta afirmação se mantem mais que atual.

Tropas capturadas devem sempre ser mantidas em cativeiro e longe dos seus, para que não sejam libertadas, de forma a evitar que retornem ao combate. Salvados de guerra devem ser destruídos ou deslocados a locais seguros para que o inimigo não volte a utilizá-los, e qualquer achado que mereça atenção especial devem imediatamente ser comunicado aos superiores, pois pode fornecer informações importantes. Ressalta-se a importância de uma estrutura logística para cumprir estas condições tão importantes.




Bases de Operação

Uma operação militar começa a partir de uma base segura. Nenhuma unidade militar pode se lançar em combate se não tiver para onde voltar, assim como uma pessoa sai para seus afazeres diários e retorna a sua casa. Bases militares, sejam permanentes ou temporárias, são de onde se lança o suporte a qualquer tipo de operação.

As bases militares devem localizar-se a distâncias que permitam que suas unidades acessem as áreas de operações em curto espaço de tempo, porém devem ficar longe destas o suficiente para que sua segurança não fique comprometida, assim bases aéreas e navais podem ficar mais a retaguarda, enquanto que bases da força terrestre ficam mais próximas das linhas de frente. No conflito das Falklands/Malvinas os ingleses tinham sua base mais próxima a meio globo do teatro de operações, o que quase lhe custou a guerra, bem como os argentinos voavam além do limite de suas aeronaves, que dependiam de reabastecimento aéreo para operarem oceano adentro.


Estabelecidos dentro destas bases, os quartéis-generais dos grandes comandos dirigem suas unidades, apoiados por uma grande equipe de comando e controle, processando informações vindas de múltiplas fontes e adequando os planos iniciais à dinâmica das operações. Uma prática sempre presente a qualquer comando militar é a de lançar a todo momento missões no sentido de buscar informações a respeito da situação, seja por unidades especializadas na coleta de informações, seja pelas demais unidades, pois todos podem ser fontes deste insumo vital.




Sejam as áreas de retaguarda ou as áreas onde se localizam as tropas de vanguarda, estas devem contar com efetivo controle do espaço aéreo pelas unidades da força aérea e pelas baterias antiaéreas que trabalham de forma integrada com aquela, proporcionando segurança às tropas amigas contra a mortífera e sempre presente ameaça aérea. Uma missão militar que não conta com segurança nesta área esta fadada ao fracasso. Toda missão militar (exceto as especiais ou de pequeno vulto) se inicia com uma campanha visando garantir a superioridade aérea e a supremacia da operação do espectro eletromagnético, pois dele depende a operação de sensores (amigos e inimigos) e da vital malha de comunicações de campanha.





A partir de um ambiente onde se tenha comunicações seguras e proteção efetiva contra a ameaça proporcionada pela aviação de ataque inimiga, pode-se lançar missões efetivas contra o inimigo, impondo-lhe uma guerra ofensiva e forçando-o a reagir em vez de agir. As comunicações são a arma do comando, e sem elas não existe sinergia entre as unidades, passando estas a agir individualmente com resultados degradados pela falta de coordenação. Para que sejam eficientes deve-se contar com modernos equipamentos que operem em faixas mais finas e possam mudar de frequência constantemente, que disponham de softwares poderosos nas tarefas de encriptação e decriptação de dados, devendo ter a mobilidade das demais unidades e resistir ao assédio da interferência inimiga. Devem ser confiáveis e comportar o volume de tráfego desejado.


Criando Segurança Operacional

Unidades de artilharia inimigas devem ser identificadas, evitadas, neutralizadas ou destruídas, pois constituem perigosa ameaça às forças amigas, bem como unidades de caça e bombardeio que devem ser postas foram de ação o quanto antes. Unidades de artilharia amigas devem ser intensivamente empregadas, precedendo o avanço das forças de vanguarda, "amaciando" o terreno por onde estas irão operar, e enfraquecendo suas estruturas de retaguarda, bem como contrapondo a artilharia inimiga. O bombardeio de alvos que constituem ameaça direta às forças amigas pode ser feito também pela aviação de apoio, seja pelos helicópteros orgânicos da força terrestre ou pela força aérea e aviação naval, aeronaves que trazem grande potencial a manobra terrestre e devem sempre estar presentes. Da mesma forma fortificações de vários tipos proporcionam segurança e podem dirigir o avanço inimigo, canalizando itinerários e impedindo o acesso do inimigo a locais não desejados. A engenharia de combate tem grande potencial neste quesito, construindo ou removendo obstáculos como campos minados e outras fortificações. 



Interditando o Teatro de Operações

Unidades navais e terrestres podem então bloquear águas e terrenos importantes, se lançar em profundidade no território de operações buscando o contato com unidades inimigas, sempre precedidas pelo desejável e sempre bem vindo apoio da aviação de ataque amiga, que procura minimizar o poderio do inimigo, seja alvejando diretamente suas unidades de choque, seja frustrando seu sistema logístico, privando-as de combustível e munição, reforços e recompletamento.

O contato com o inimigo é importante e deve ser buscado de forma contínua, mantendo-o ocupado, evitando surpresas e criando um fluxo de informações a respeito deste, para que os comandantes possam adequar seus planos e procedimentos.

Frustrando o C2 inimigo

Outra linha de ação sempre empregada e de grande efetividade é a de neutralização de tudo aquilo que contribua para a cadeia de comando e controle do inimigo. O bombardeio sistemático de postos de comando e redes de comunicação, ou seu assédio por forças especiais contribui para inviabilizar um emprego efetivo de suas unidades, que se privadas de um comando único e sistematizado, podem começar a agir de forma autônoma e com perda de eficiência. Ações de guerra eletrônica também são efetivas nesta área, tendo como alvo suas comunicações.



Manobrando

A manobra se dá pelo fogo e pelo movimento, movimentando-se para alcançar as melhores posições de fogo, fazendo fogo para viabilizar o movimento. Deve-se visar os pontos que apresentem a melhor relação custo-benefício, ou seja aqueles que sejam mais fáceis de suplantar e produzam um ganho estratégico superior, evitando objetivos intermediários que pouco ou nada contribuam para atingir o objetivo final. Deve-se buscar flancos e retaguardas, por estes sempre apresentarem uma dificuldade menor que atacar pela porta da frente. Deve ser sincronizada no tempo, no espaço e no apoio logístico.

Estradas e outras infraestruturas de mobilidade devem sempre ser buscadas, pois delas dependem a velocidade das forças em operação, bem como da efetividade dos meios de apoio logístico, extremamente importantes para a operacionalidade de qualquer força militar. Aeroportos, bases aéreas, portos, ferrovias e rodovias, entroncamentos rodoviários e ferroviários, canais e outras estruturas afins devem ter seu domínio assegurado.



Vencendo a Campanha e a Guerra

A guerra se faz unindo preparo e presteza, maximizando oportunidades e reduzindo riscos. Surpresa  e intensidade (operações violentas e decisivas) devem ser buscadas de forma a não permitir a reorganização do inimigo. Ações devem ser continuadas e sem intervalos, dia e noite, unindo iniciativa, choque e poder. Meios tecnológicos modernos e treinamento em alto nível fazem a diferença. Toda campanha deve ser iniciada de forma que seja resolvida no menor espaço de tempo possível, pois são caras e desgastantes, tanto material como no aspecto humano e político. A guerra é vital ao estado, e dela pode depender a sua sobrevivência como preconizou o pensador Sun Tzu. Deve ser evitada a todo custo, e se materializada vencida sem hesitações.

Fundamentos das Operações Militares

"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar"

Sun Tzu                 



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