A guerra é um
jogo sem regras definidas, onde tudo vale. Apesar de acordos internacionais
como as "Convenções de Genebra" por exemplo, tentarem impor-lhe
alguma disciplina, freqüentemente estas regras são desrespeitadas. Ela acontece de maneira
dinâmica, onde todo e qualquer planejamento exige alterações constantes para se
adequar a uma nova situação.
Existem conceitos
consagrados ao longo do tempo que compõem a doutrina militar vigente, que com
pequenas variações nas diversas forças armadas, são aceitos universalmente.
Estes conceitos, porém, não são imutáveis e evoluem constantemente, a medida
que a tecnologia e o pensamento militar lhes impõem novas feições. A Segunda Guerra Mundial, por exemplo, trouxe a "blietzkrieg", uma guerra de movimento altamente móvel em contraponto ao impasse das trincheiras da Primeira Grande Guerra. Os franceses tentaram contrapor os alemães empregando esta doutrina obsoleta através de fortificações fixas altamente sofisticadas e o resultado foi o fracasso, pois os alemães simplesmente contornaram a "Linha Maginot" e subjugaram as forças francesas.
Cada conceito
militar existente pode ser aplicado ou não a uma determinada situação, e cabe
aos gestores do campo de batalha a obrigação de conhecer sua dinâmica, a fim de
viabilizar a aplicação correta e oportuna de cada ensinamento adquirido ao
longo dos tempos, ou ainda criar novos conceitos que venham a se mostrar na
cabeça dos pensadores da arte da guerra.
A Situação
Situação é o
conjunto de fatores de natureza geopolítica que demandem a utilização do poder
nacional para ser equacionada, na satisfação dos interesses da nação. O poder
nacional vale-se de meios diversos como negociações diplomáticas, sanções de
natureza política e econômica, entre outros, para atingir seus objetivos. Um
desses meios é o poder militar que tem no emprego da força ou na possibilidade
de usá-la, o aspecto que melhor o caracteriza, por meio da dissuasão ou da
coerção, como medida extrema ao esforço diplomático mal-sucedido.
O Poder Militar
de uma nação é comumente expresso pelas suas Forças Armadas exercendo o Poder
Naval, o Poder Militar Terrestre e o Poder Militar Aeroespacial,
respectivamente personificados pela Marinha de Guerra, Exército e Força Aérea.
Cabe às Forças Armadas dissuadir possíveis ameaças aos interesses vitais da
Nação; respaldar decisões políticas independentes na ordem internacional; e
impor a vontade nacional, pela força, quando se fizer necessário.
Para cumprir
estas missões fundamentais elas deverão estar em condições de operar
eficientemente em todo o espectro de conflitos previsíveis; atuarem de forma
coordenada e integrada, não se admitindo mais sua atuação isolada, salvo em
ações pontuais; serem empregadas em espaço de tempo muito curtos, pois os
conflitos modernos tendem a ser breves e surgirem sem aviso, tendo dessa forma
que manter a instrução e o adestramento em níveis elevados e a necessidade de
recompletamento em material e pessoal das unidades das forças de emprego
imediato em níveis mínimos. As Forças Armadas também devem manter-se em
condições de atuarem juntas à forças armadas de países amigos e dentro de
alianças, situação muito comum na atualidade.
Missão
Define-se missão como a tarefa que o comando que a prescreve espera do comando designado. A missão deve ser a mais clara possível, apontando de forma inequívoca os objetivos a serem alcançados e os limites a serem observados, complementada com os meios e recursos disponíveis, que poderão ou não compor o escopo da missão. Poderão compor a designação da missão outro fatores auxiliares que estejam disponíveis, como informações sobre o inimigo e cuidados a serem observados, como por exemplo a suspeita do emprego de armas de destruição em massa (WMD). É importante que o comando designador da missão se limite a dizer o quer e o que não se pode fazer, deixando o "como fazer" por conta do comandante designado.
Estudo de
Situação
Uma vez recebida
a missão do escalão superior, o comandante designado constitui um Estado-Maior (staff) ou se já tiver o seu, confronta a missão recebida com a situação
existente, levantada através das informações disponíveis, identificando os
principais problemas a serem enfrentados e elencando soluções viáveis para
eles, traçando dessa forma um croqui do Plano Geral de Ação através de
um Processo de Planejamento Militar (PPM). Este pré-plano geral de ação
deve ser submetido a aprovação do escalão designador, e uma vez aprovado,
encaminhado ao estado-maior da missão para detalhamento e providências
iniciais.
O Estado-Maior da
missão detalha o plano de seu comandante, traçando estratégias gerais, tais
como:
- Define os objetivos secundários,
- Demanda ações de reconhecimento necessárias e solicita informações complementares,
- Designa rotas e bases de operações viabilizando seu uso,
- Estabelece datas, prazos e horários,
- Destaca as unidades operadoras e providencia seu adestramento específico, constituindo as forças-tarefa necessárias,
- Requisita recursos e os encaminha para onde serão necessários,
- Sincroniza todos estes fatores no tempo, no espaço e na logística, e emite ordens de operações, acompanha seu cumprimento e realiza as correções necessárias.
O sucesso de qualquer missão está na consecução eficiente dos objetivos secundários, que deverão contribuir para o atingimento do objetivo principal. Qualquer ação que não contribua para se chegar ao objetivo principal deverá ser descartada, ou se implementada por se avaliar que é possível potencializar o esforço, não poderá resultar em qualquer prejuízo a este.
Operações de Amplo Espectro
A guerra moderna
exige das forças em operação, seja no teatro ou fora dele uma gama de operações
de amplo espectro, ou seja, abordando todas as facetas do conflito. Os
comandantes em todos os escalões, forças e agências podem combinar diferentes
tipos de operações simultâneas e sequenciais, para cumprir suas missões e
complementar as missões de seus pares. Para cada missão, os comandos
determinam a ênfase que as diferentes unidades darão a cada tipo de
operação. As operações ofensivas e defensivas normalmente dominam as
operações na guerra declarada. As operações de estabilidade e de suporte
predominam em outros cenários, como por exemplo as missões de manutenção da
paz.
As operações de
amplo espectro incluem operações ofensivas, defensivas, de estabilidade e de
suporte. As missões em qualquer ambiente exigem que as forças em operação
estejam preparadas para realizar qualquer combinação dessas operações:
As operações
ofensivas visam destruir ou derrotar um inimigo. Seu objetivo é aplicar poder militar sobre o inimigo e obter uma vitória decisiva. As operações
defensivas frustram um ataque inimigo, ganham tempo, economizam forças e
desenvolvem condições favoráveis para a implementação das operações
ofensivas. Normalmente, as operações defensivas sozinhas não podem chegar
a uma condição decisiva. Seu objetivo é criar condições para uma
contra-ofensiva que permita às forças retomar a iniciativa. As operações de
estabilidade promovem e protegem os interesses nacionais, influenciando as
dimensões de ameaças, políticas e informações do ambiente operacional por meio
de uma combinação de desenvolvimento em tempos de paz, atividades cooperativas
e ações coercitivas em resposta às crises. A segurança regional é
apoiada por uma abordagem equilibrada que aumenta a estabilidade regional e a
prosperidade econômica simultaneamente. A presença das forças armadas
promove um ambiente estável. As operações de apoio empregam as forças para
auxiliar as autoridades civis, estrangeiras ou domésticas, enquanto se preparam
ou respondem à crise.
Ao conduzir operações de amplo espectro, os comandantes combinam e sequenciam operações ofensivas, defensivas, de estabilidade e de apoio para cumprir a missão. Os altos comandos determinam a ênfase que as forças dão a cada tipo de operação. Ao longo da campanha, missões ofensivas, defensivas, de estabilidade e de suporte ocorrem simultaneamente. À medida que as missões mudam de promoção da paz para dissuasão de guerra e de resolução de conflito para guerra em si, as combinações e transições entre essas operações exigem avaliação, planejamento, preparação e execução hábeis. As operações projetadas para cumprir mais de um propósito estratégico podem ser executadas simultaneamente, sequencialmente ou ambos. Por exemplo, dentro da área de operações de um comandante combatente, uma força pode estar executando operações ofensivas em grande escala enquanto outra está conduzindo operações de estabilidade. Dentro da zona de combate, as forças podem conduzir operações de estabilidade e operações de apoio, bem como operações de combate.
Os comandantes alocam diferentes proporções de sua força para cada tipo de operação durante as diferentes fases de uma missão. É provável que grandes unidades conduzam operações ofensivas, defensivas, de estabilidade e suporte simultâneas. As unidades em escalões progressivamente mais baixos recebem missões que exigem menos combinações. Em escalões mais baixos, as unidades geralmente executam apenas um tipo de operação. Por exemplo, um corpo do Exército atuando como o componente terrestre de uma força combinada pode alocar 2 divisões para atacar (ataque), enquanto uma terceira divisão protege um complexo logístico que engloba um porto e um aeródromo (defesa). A divisão de defesa pode ordenar que uma brigada elimine pequenos focos de resistência (ofensiva) enquanto outras 2 preparam as defesas em profundidade. Em torno do aeródromo e do porto, unidades designadas distribuem alimentos e fornecem apoio médico à refugiados (apoio).
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