quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Planejamento Militar - Introdução ao PPM (Parte 1) *204



Generalidades

O planejamento militar é o conjunto de percepções e intenções que surgem quando um problema militar tem que ser resolvido, entendendo como problema militar uma situação em que forças antagônicas de naturezas diversas estão predispostas a impedir que a intenção do comando, seja ela qual for, seja cumprida. Cabe ao Estado Maior (EM) das forças encarregadas de resolver o problema, executar o planejamento que deve resultar em um plano de ação factível, realista e que traga as mínimas consequências colaterais possíveis, sempre buscando poupar vidas e integridade ambientais e das estruturas. A solução do problema militar é o restabelecimento de uma condição anterior ou a criação de uma nova condição desejável, e é de responsabilidade do comandante designado, que deverá emitir as diretrizes de um plano de ação e orientar seu planejamento, durante o detalhamento pelo EM, que identificará as particularidades deste plano e encaminhará a solução de seus problemas.

Uma ação militar envolve a movimentação de tropas e meios militares, seja com ou sem resistência, que deverá contar com todo o apoio necessário, dentro de um envelope de segurança aceitável com riscos calculados, devidamente coordenado e com seus efeitos avaliados, e se necessário com a implementação de ações complementares que visem aproximar estes efeitos da condição desejada, visando cumprir os objetivos traçados, sempre buscando a eficiência máxima.

O comandante e seu EM planejarão sua ação e transmitirão ordens operativas, que devem ser claras e objetivas (vide Princípios de Guerra). Este planejamento dar-se-á em todos os escalões de comando, envolvendo militares de diversas patentes, sendo atribuição dos oficiais, porém poderá envolver praças se aqueles não estiverem disponíveis e a situação assim o exigir, pois na guerra nem sempre os meios que se tem são os desejáveis.

Uma ação militar bem executada é aquela que cumpre seu objetivo preservando a integridade material e pessoal dos fatores envolvidos ao máximo, preservando a vida de civis e soldados, bem como a integridade das estruturas e atingindo a condição política desejável. A habilidade dos planejadores é o primeiro passo para se alcançar este objetivo.

O Processo de Planejamento Militar (PPM) é a ferramenta que os oficiais planejadores utilizam para conduzirem sua atividade. O PPM não desenvolve no comandante e em seus oficiais, habilidades individuais ou criatividade e perspicácia, mas se vale das ideias e capacidade de resolver problemas dos que já possuem estas habilidades, não se prestando a criá-las.

A complexidade da guerra moderna decorrente de toda a estrutura tecnológica de que é dependente, torna impeditiva a condução de uma operação militar unicamente pelo comandante, mesmo que brilhante, tão complexos os problemas que se apresentam. A volatilidade das situações e mesmo a possibilidade do comandante estar impedido por qualquer razão de exercer sua autoridade, além da necessidades de coleta de inteligência, análise e síntese, requer a presença de uma assessoria na forma do EM, afinal um grupo trabalha melhor que a soma de cada um de seus integrantes isoladamente.

Consciência Situacional

Decisões oportunas e eficazes são a base de um plano bem arquitetado, tomadas com base no julgamento preciso dos conhecimentos e das informações disponíveis. Desenvolver a mais apurada consciência situacional possível é um fator essencial para que um comandante e seu EM possam conduzir um planejamento eficaz, avaliando ações com precisão e tomando decisões adequadas à situação, para se chegar à planos de ação eficazes.

Consciência situacional consiste na percepção precisa e permanentemente atualizada do quadro de situação no qual o comandante ou qualquer outro militar se encontra ou tem que enfrentar. A integração de diversas fontes de conhecimentos, inteligência e da experiência profissional dos planejadores e operadores contribui para uma melhor percepção do ambiente operacional. A capacidade de agregar na percepção do quadro de situação, cada elemento que possa ter influência em relação à missão atribuída, contribui para que esta condição seja atingida da forma mais abrangente. A menor distância entre a situação percebida e a situação real é a condição mais desejada e contribui significativamente para um processo decisório mais pragmático.

A Intenção do Comandante

Ao receber uma missão do escalão superior, um comandante militar inicial seu ciclo de planejamento. De forma totalmente mental ele procura entender o problema militar a ser solucionado e visualiza genericamente como enfrentá-lo. Da mesma forma, se a missão for primeiramente recebida pelo seu EM. este pode também mentalmente, absorver sua essência e ao encaminhar a designação recebida ao seu comandante, sugerir possíveis formas de abordagem. A absorção de um problema militar requer que o comandante e seu EM lancem mão de seus conhecimentos acadêmicos, suas experiências tanto no campo do planejamento como da execução, das características do ambiente operacional e das forças envolvidas; além é claro de pragmatismo, bom senso e capacidade empreendedora.

Todas as circunstâncias que envolvem a situação serão posteriormente avaliadas durante o PPM. Para que o comandante possa mentalizar o entendimento do ambiente operacional presente e do problema militar que lhes foi confiado, deve fazê-lo com seus conhecimentos já adquiridos e informações conhecidas, deixando para o PPM a busca de informações completas, detalhadas e oportunas. Um planejamento conceitual inicial ajudará o comandante a obter uma compreensão do ambiente operacional e do problema, permitindo, conceber uma ideia base para a confecção de sua diretriz inicial ou carta de instrução e chegar até a linha de ação mais adequada mais à frente.

Uma vez alcançada a compreensão inicial quanto ao ambiente operacional e ao problema militar designado, parte-se para a visualização da situação final desejada e das possíveis alternativas possíveis para sua resolução. Este processo mental definirá a visão do comandante, que poderá ser refinada através de troca de ideias com seu EM e comandantes subordinados, e fornecerá a base para a diretriz citada. A sequência deste primeiro entendimento será descrita ao EM e aos comandantes subordinados, caso ainda não tenham este conhecimento, a fim de nivelar o entendimento da missão por todos antes do início do PPM propriamente dito. É importante que todos compreendam o problema, antes de iniciar o planejamento. Este entendimento deverá gerar uma diretriz inicial, expressa de forma escrita e também oral se desejar, que será usada como base para o início do PPM, e deve ser clara e de fácil memorização, de forma a poder ser distribuída aos escalões inferiores.

Deverá conter a intenção do comandante, a diretriz de planejamento e os elementos essenciais de inteligência. A intenção do comandante deverá expressar a finalidade da operação e o resultado final desejado. Proporcionará foco para o trabalho do EM e auxiliará os comandantes subordinados e elementos de apoio a agirem para a busca dos resultados desejados sem a necessidade de novas ordens, mesmo quando a operação não se desenvolver como foi planejada. Durante o planejamento, a intenção do comandante direciona o desenvolvimento das linhas de ação; durante a execução, permite a aplicação da iniciativa dos subordinados diante de situações imprevistas ou no combate de ameaças. A diretriz de planejamento transmitirá ao EM a essência da visão do comandante, descrevendo de forma geral – O QUE, O QUANDO, O ONDE e O COMO (opcional) – o comando pretende empregar o seu poder de combate para cumprir a missão. Incluirá uma abordagem operativa, que se constituirá na base do conceito da operação. Descreverá também as lacunas existentes em sua visualização, indicando quais são os elementos essenciais de inteligência a serem buscados e quais informações devem ser protegidas, que se obtidas por força oponente, podem comprometer o cumprimento da missão.

Etapas do PPM

O PPM se dá em 3 etapas: Primeiro a análise da situação com a inserção da missão no cenário existente e a coleta de inteligência para subsidiar esta primeira etapa, elencando os desafios e obstáculos para se chegar ao objetivo; depois se parte para a coleta de inteligência para verificar a exequibilidade das ideias e hipóteses iniciais, com o desenvolvimento do plano de ação e emissão das ordens de execução subsequentes; e finalmente, já durante o curso da operação, o seu controle e avaliação dos resultados em tempo real.

A primeira etapa é a base do processo. Reconhece-se o problema militar, analisa-se minuciosamente a missão, e se coaduna as conclusões iniciais com as características da área de operações e seus fatores. Considera-se o tempo e forças disponíveis, as distâncias envolvidas, condições meteorológicas e do terreno. Analisa-se também as possibilidades de reação do inimigo, identificando linhas de ação prováveis e decide-se qual a melhor estratégia a adotar, demandando os serviços de inteligência necessários a tomada de decisão.

Na segunda etapa, baseada na linha de ação adotada, parte-se para a elaboração de um plano detalhado, tão detalhado quanto a situação o exigir, e expedição de ordens aos diversos operadores deste plano. Novamente serviços de inteligência necessários ao detalhamento do plano serão demandados.

Na terceira etapa acompanha-se em tempo real o desenrolar da operação, efetuando correções onde se fizerem necessárias, com avaliação dos resultados.

Características do PPM

O PMM é flexível, cíclico e contínuo. Flexível porque pode ser usado na solução de qualquer problema militar, simples ou complexo, operacional ou tático, não sendo suas etapas rígidas, podendo ser desenvolvidas ou mesmo eliminadas. O método (PPM) é que deve adaptar-se ao problema, e não o contrário. Cíclico porque pode-se desenvolver partes já desenvolvidas tantas vezes quanto for necessário, a luz de novos fatos ou melhor análise. Contínuo porque o planejamento só cessa com a resolução do problema ou seja, o cumprimento da missão.

Um PMM deve ser conduzido à luz de preceitos fundamentais. Primeiro que somente se aceite como verdadeiro aquilo que se apresentar claro e indiscutível. Segundo deve ser analisado em partes, tantas quanto necessárias, a fim de simplificar cada ponto a facilitar sua análise e encaminhamento. Terceiro que cada decisão em particular deve ser somada às outras a fim de partir do simples para o complexo. Quarto que todos os fatos e conclusões devem ser enumerados, permitindo que tantas revisões quanto necessárias sejam efetuadas, eliminando a possibilidade de se desconsiderar aspectos relevantes.

Os planejadores devem sempre ter em mente que estão planejando uma "operação militar", que por natureza é perigosa e com grandes chances de "dar errado", que ariscarão a vida de pessoas, utilizarão equipamento caro e muitas vezes difícil de obter ou repor, onde cada detalhe pode ser vital no sucesso ou fracasso da missão.

A sistematização do PPM confere confiança a quem o executa, reduz a subjetividade das conclusões e traz mais confiabilidade ao plano.

Ao empreender um PPM os oficiais planejadores concluem suas sínteses e análises elencando o que as forças devem fazer, na forma de ordens que na prática são a missão de cada uma das tropas ou atores envolvidos. Um quadro sistemático será elaborado com as tarefas serem realizadas e os efeitos que se deseja de cada uma, sendo a soma destes efeitos a condição que se espera, que culminará no cumprimento da missão.

A Emissão de Ordens

As ordens podem ser emitidas determinando qual tarefa a se cumprir, ou qual o resultado que se espera, ou ambos. Por exemplo, o comandante do batalhão pode determinar que a 1ª Cia Fuzileiros domine uma “cabeça de ponte” sobre um determinado rio (tarefa a ser realizada), ou determinar que seja garantida a transposição deste rio para que uma coluna mecanizada possa transpô-lo sem problemas, sem dizer como (efeito desejado), ou ambos.

É importante que os operadores da missão se concentrem em seu objetivo principal (transpor o rio ou dominar a ponte) não perdendo tempo e recursos com objetivos não relacionados a missão. Objetivos eventuais, por exemplo um comboio logístico inimigo casualmente encontrado, podem ser atacados desde que não coloque em risco o cumprimento do objetivo principal. No filme “O Resgate do Soldado Ryan” o Capitão Miller ordenou o ataque a uma posição alemã casualmente encontrada. Seu argumento foi que o objetivo era vencer a guerra e qualquer ação contra os alemães somava. No entanto se seu ataque resultasse na inoperância de seu grupo, sua busca pelo paraquedista perdido não seria levada a efeito, ou seja, sua missão (objetivo principal) não seria cumprida. Além do objetivo principal podem ser designados objetivos secundários, tarefas que podem ser cumpridas se possível, mas não tem a importância do objetivo principal (se der execute, se não deixa pra lá). Por exemplo, no caminho para a ponte tem um transformador de alta tensão que supre uma instalação inimiga e deve ser neutralizado, destruam-no se possível (se der coloquem explosivos nele, senão depois mandamos alguém fazer isso). Desta forma deverá estar claro aos operadores qual é o objetivo da missão (vide Princípios de Guerra).

Assim podemos definir missão como sendo o binômio “tarefa a cumprir + propósito” unidos pela expressão “a fim de”. Dizer “o que fazer” e “porque fazer” é a função do enunciado da missão.  Por exemplo, a missão da 1ª Cia de Fuzileiros poderia ser de “Estabelecer o controle sobre a ponte sobre o Rio Diamante a fim de garantir que a FT Blindada Azul possa transpô-lo imediatamente”. Uma missão poderá conter mais de uma tarefa e mais de um propósito, mas deverão estar sempre unidos por esta expressão, uma única vez. Uma missão poderá ser imposta pelo escalão superior ou empreendida por iniciativa do próprio comandante, sendo que esta deverá estar dentro dos propósitos dos objetivos perseguidos e ser plenamente factível, não sendo admitidas aventuras duvidosas.

A Diretiva é o nome do documento que contém a missão, e é composta, normalmente, por 5 títulos principais e numerados como segue (modelo sugerido, existem outros):

1. Situação
0. Forças Inimigas
1. Forças Amigas
2. Meios
3. Hipóteses Básicas
2. Missão
0. (tarefa) + “a fim de”
1. (propósito)
3. Execução
0. (decisão)
1. (tarefa das forças componentes)
0. força a
1. força b
2. etc..
4. Logística
5. Comando, Controle e Comunicações
6. Outros (administração e assuntos civis por exemplo)

Cada comandante subordinado deverá retirar da diretiva vinda do escalão superior a tarefa que deve empreender (sua missão designada – item 3.2), sendo seu propósito a decisão de seu superior (item 3.1), para elaborar sua própria diretiva. No título “3. Execução” cada parágrafo refere-se a uma força componente a cada comandante deverá identificar o seu.

Quando a decisão da diretiva superior (ítem 3.1) for igual ao propósito (ítem 2.2) da diretiva do comandante subordinado, este propósito deverá ser retirado diretamente da missão (item 2.1) da diretiva superior, pois cabe a este comandante desenvolver o esforço principal. Se o comandante não estiver sozinho no empenho do esforço principal ou estiver em missão de apoio/proteção, seu propósito sempre se iniciará com a expressão “contribuir para”.

Por exemplo: a 10ª Bda Inf Bld expede uma ordem de operações cuja missão é "Desdobrar meios para transposição do Rio dos Remédios pela rodovia 880, a fim de permitir que as forças designadas possam fincar posição ao norte deste, entre as cotas 678 e 780". No título Execução diz: 

  1. O 101º Btl Eng Cmb Bld desdobrará seus meios de transposição de curso d'agua a fim de permitir às forças designadas a transposição do Rio dos Remédios na rota 670 em D+3, 
  2. O 110º Btl Inf Bld ocupará a área de transposição designada pelo 101º Btl Eng Cmb Bld a fim de contribuir para a segurança da transposição do Rio dos Remédios pelas forças designadas, 
  3. A 120º Bia AAAé proverá segurança antiaérea à transposição desde o início dos trabalhos de desdobramento de meios, a fim de contribuir para a segurança antiaérea da transposição do Rio dos Remédios pelas forças designadas.

No seguimento o comandante do 101ª Btl Eng Cmb emite sua diretiva: Desdobrar meios para transposição do Rio dos Remédios em D+3 a fim de permitir que as forças designadas possam fincar posição ao norte deste, entre as cotas 678 e 780; e o 110ª Btl Inf Bld a sua: Prover segurança a área de transposição a fim de contribuir para que as forças designadas possam fincar posição ao norte deste, entre as cotas 678 e 780.

Outras formas de diretivas são possíveis e poderão apresentar-se em formatos rígido ou não, cabendo neste caso aos comandantes subordinados extraírem suas tarefas do local onde estiverem dispostas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O Míssil Antinavio *203


A Evolução do Míssil Antinavio
(Jon Lake)

O míssil antinavio já percorreu um longo caminho desde as armas guiadas rudimentares testemunhadas pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial.

Há uma gama espantosa de sistemas de armas otimizados para a destruição de embarcações de superfície. No auge da Guerra Fria, a aeronave Blackburn Buccaneer da RAF tinha um arsenal que incluía mísseis Matra Martel guiados por radar e TV, mísseis antinavioBAE (agora MBDA) Sea Eagle de longo alcance, Texas Instruments (agora Raytheon) Paveway bombas guiadas a laser e armas nucleares táticas, enquanto durante a Guerra das Malvinas, os corajosos e altamente habilidosos pilotos argentinos causaram estragos na força-tarefa naval britânica - em grande parte usando 'bombas de ferro' não guiadas. A Royal Navy (RN) foi salva do desastre em grande parte porque algumas dessas armas não haviam se armado no momento em que atingiram seus alvos. Durante um confronto entre a US Navy e as forças iranianas em 1988 (Operação Praying Mantis), Aeronaves dos EUA atacaram navios inimigos usando mísseis AGM-84 Harpoon, bombas propelidas por foguete AGM-123 Skipper, bombas guiadas por TV Walleye e bombas não guiadas de 1.000 libras (453 kg).

Mas com a sofisticação e a letalidade crescentes das defesas antiaéreas de hoje, os ataques antiaéreos são melhor realizados sem ter que sobrevoar o alvo e, idealmente, a partir de um alcance significativamente maior, e para fazer isso requer o uso de mísseis antinavio (AShMs).

Eles variam de pequenas armas destinadas ao uso contra pequenos barcos rápidos e ágeis a mísseis balísticos projetados para derrubar um navio da capital. Existem sistemas que podem ser disparados de outros navios, ou de plataformas terrestres, ou de helicópteros ou aeronaves de asa fixa, enquanto alguns mísseis possuem variantes para cada uma dessas classes de plataforma de tiro. Essas várias armas antinavio empregam diferentes tipos de orientação, usam diferentes tipos e tamanhos de ogivas e seguem uma ampla variedade de perfis de voo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as aeronaves antinavio aliadas usaram canhões, foguetes não guiados, bombas e torpedos teleguiados contra navios inimigos, mas a Alemanha desenvolveu os primeiros mísseis antinavio operacionais, que usavam orientação de comando de rádio. Armas como o Henschel Hs 293 e o sem motor, perfurante Fritz X, obtiveram algum sucesso, especialmente no Teatro Mediterrâneo, de 1943 a 1944, afundando ou danificando gravemente pelo menos 38 navios, incluindo o encouraçado italiano Roma e o cruzador USS Savannah. O Hs 293B guiado por fio e as variantes do Hs 293D guiado por televisão foram desenvolvidos para combater o congestionamento de rádio aliado, mas nenhum deles alcançou o serviço operacional.

Do lado dos Aliados, a US Navy implantou a bomba planadora guiada por radar ASM-N-2 Bat, que foi considerada a primeira arma antinavio autônoma do mundo dirigida por radar, e a usou operacionalmente contra os japoneses em Abril de 1945. O McDonnell LBD-1 Gargoyle motorizado não teve uso operacional.

Durante a Guerra Fria, as Marinhas Ocidentais estavam mais preocupadas em enfrentar ameaças aerotransportadas e subaquáticas do que em engajar navios de guerra inimigos, uma vez que as capacidades de 'água azul' da Marinha Russa eram relativamente limitadas, enquanto a missão antinavio tendia a cair para submarinos, usando torpedos, e para plataformas aerotransportadas - particularmente jatos rápidos - usando praticamente as mesmas armas que empregaram contra alvos terrestres. Por muitos anos, a tecnologia de mísseis foi insuficientemente avançada para permitir o desenvolvimento de mísseis antinavio eficazes, embora algumas aeronaves maiores (como o soviético Tu-16 'Badger' e Tu-95 'Bear') carregassem grandes mísseis de cruzeiro (geralmente nucleares) destinado ao uso contra grandes alvos navais como porta-aviões dos EUA.


Mísseis antinavio modernos ganharam destaque após o naufrágio do destróier israelense Eilat (o antigo HMS Zealous ) por barcos com mísseis egípcios em 1967, enquanto modelos lançados do ar foram usados ??na Guerra das Malvinas de 1982. Cinco mísseis Exocet foram entregues à Argentina antes da guerra e foram usados ??para afundar o destróier britânico Tipo 42 HMS Sheffield em 4 de maio de 1982. O relatório oficial do Conselho de Investigação da Royal Navy afirmou que as evidências indicavam que a ogiva não havia detonado - demonstrando a letalidade dos AShMs modernos. Um único Exocet que não explodiu deixou um Destroyer inoperante na água e que afundou 4 dias depois. Outros 2 Exocets foram então usados para afundar o navio porta-contêiner de 15.000 toneladas Atlantic Conveyor em 25 de maio.

Durante a longa Guerra Irã-Iraque na década de 1980, o Irã e o Iraque almejaram os navios mercantes um do outro, especialmente os petroleiros, no que ficou conhecido como Guerra dos Tanques. A Força Aérea Iraquiana usou MiG-23s, Mirage F1s e helicópteros Super Frelon armados com mísseis Exocet durante a primeira fase desta campanha, antes que a França fornecesse Dassault Super Etendards em 1984, permitindo ao Iraque aumentar o alcance de seus Exocet. Um petroleiro liberiano, o Neptunia, foi atingido por um Exocet iraquiano em fevereiro de 1985, tornando-se o primeiro petroleiro a afundar como resultado de um ataque com míssil. Em 1987, uma fragata de mísseis guiados da Marinha dos EUA, USS Stark, foi atingida por um Exocet disparado por um Mirage F1 iraquiano.

A maioria dos primeiros mísseis antinavio lançados do ar eram derivados de armas originalmente desenvolvidas para o combate navio contra navio, incluindo o US AGM-84 Harpoon, o chinês YJ-83, o francês AM39 Exocet, o italiano Marte, o norueguês Penguin, O russo Zvezda Kh-35 e o sueco RBS-15, embora alguns mísseis dedicados lançados pelo ar também tenham sido desenvolvidos e implantados, incluindo o anglo-francês Martel e seu derivado Sea Eagle ativo de radar-homing e turbojato.

Enquanto os primeiros mísseis antinavio usavam orientação por comando de rádio, a maioria dos mísseis modernos são do tipo 'dispare e esqueça' e usam infravermelho ou radar ativo, muitas vezes em conjunto com orientação inercial.

Escumadores do Mar

A maioria dos mísseis antinavio segue uma trajetória de voo um pouco acima da superfície do mar, muitas vezes com uma corrida final supersônica, embora alguns mísseis balísticos tenham sido reaproveitados ou projetados para uma função antinavio, especialmente pela Marinha do Exército de Libertação Popular da China . Mísseis balísticos antinavio se aproximariam de seus alvos a uma velocidade enorme, com energia cinética suficiente para paralisar ou destruir um grande navio da marinha (incluindo os maiores porta-aviões) com um único golpe, mesmo com uma ogiva convencional, além de ser muito difícil de interceptar.

Como um golpe direto é necessário para ser eficaz, eles precisariam de um sistema de orientação terminal preciso e de alto desempenho. Essas armas também podem ser lançadas do ar. O Kh-47M2 Kinzhal da Rússia, por exemplo, foi desenvolvido para atingir navios de defesa contra mísseis balísticos e pode ser carregado por bombardeiros Tu-22M3 ou interceptores MiG-31K.


Quer sejam balísticos ou de trajetória de cruzeiro, os modernos mísseis antinavio são difíceis de se evitar uma vez que o alvo foi adquirido. Para conter a ameaça, a moderna nave de superfície deve evitar ser detectada, ou deve enganar ou destruir todos os mísseis que se aproximam ou suas plataformas de lançamento de mísseis - idealmente destruindo o último antes mesmo de os mísseis terem sido disparados.

Um míssil que se aproxima não tem as coisas "à sua maneira", no entanto, e terá que superar as defesas em várias camadas, talvez começando com o patrulhamento de porta-aviões ou aviões de caça baseados em terra transportando mísseis de longo alcance. Seu alvo provavelmente será equipado com sistemas integrados de controle de fogo por computador para mísseis superfície-ar (SAMs), guiados por sistemas de radar poderosos e ágeis, e pode ser capaz de rastrear, engajar e destruir simultaneamente vários mísseis antinavio de entrada ou aeronaves hostis. O míssil também terá que lidar com contramedidas eletrônicas, chaff e iscas, e uma "camada interna" de defesas de mísseis, usando mísseis de curto alcance como o Raytheon Sea Sparrow ou o Rolling Airframe Missile (RAM). Até mesmo o armamento principal da própria nave alvo pode ser usado defensivamente, bem como sistemas dedicados de armas próximas (CIWS), usando armas de disparo rápido.

O desenvolvimento de novos mísseis antinavio lançados pelo ar diminuiu após o fim da Guerra Fria, à medida que as marinhas operavam cada vez mais na zona litorânea e à medida que a necessidade de se preparar para combates entre pares deu lugar à necessidade de engajar pequenos , barcos manobráveis e outras ameaças assimétricas - até mesmo homens-bomba usando jet skis. Isso, no entanto, levou ao desenvolvimento de uma classe totalmente nova de mísseis leves e baratos para uso contra essa classe de alvo. A chance de confrontos entre pares ou quase-pares (cada vez mais envolvendo guerra marítima navio-contra-navio) parecia aumentar com o aumento das tensões entre os EUA e seus aliados de um lado, e China e Rússia do outro, e isso levou a alguma renovação ênfase no desenvolvimento e aquisição de mísseis antinavio maiores.

A maioria da nova geração de AShMs são furtivos, altamente supersônicos e autônomos, e muitos deles carregam grandes ogivas - suficientes para infligir uma morte por manobra até mesmo nos alvos maiores, e capazes de cortar navios menores pela metade. Eles vêm gritando nas alturas do mar, dando às defesas pouco tempo para reagir e apresentando um alvo difícil para os sistemas defensivos.

O conjunto russo-indiano PJ-10 Brahmos tem uma ogiva de 660 lb (300 kg) e é considerado o míssil de baixa altitude mais rápido do mundo, ao mesmo tempo que desfruta de um alcance de 500 km. O Brahmos é movido por um motos de 2 estágios, com um foguete de combustível sólido fornecendo o primeiro estágio, acelerando o míssil a velocidades supersônicas e com um jato de combustível líquido como o segundo estágio, acelerando-o para Mach 2.8 na altura do topo das ondas. O BrahMos-II, é uma versão hipersônica com velocidade de Mach 7-8. O teste deve começar em 2020.

O novo ASM-3 do Japão concluiu os testes e deve entrar em serviço em breve, equipando inicialmente os caças Mitsubishi F-2 do JASDF e, talvez, mais tarde, o F-35A e o Kawasaki P-1. O XASM-3 é um míssil furtivo de deslizamento do mar com desempenho hipersônico, seu foguete de combustível sólido e ramjet integrado que o impulsionam a velocidades de até Mach 5. O alcance está sendo alargado para 400 km, mas o peso exato da ogiva permanece secreto.

Menos Velocidade; Maior Discrição

Mas nem todos os novos AShMs são hipersônicos ou mesmo altamente supersônicos. O Míssil de Ataque Naval Kongsberg da Noruega (alegado ser o primeiro míssil antinavio de 5ª geração do mundo) depende de furtividade em vez de velocidade e é considerado "totalmente passivo", não usando sensores ativos para rastrear alvos e não emitindo infravermelho ou radar poderia ser detectado por navios inimigos. O míssil é movido por um pequeno turbofan (após um impulso inicial de foguete) e tem um alcance de 185 km. Carrega uma ogiva de 125 kg. Um derivado, o JSM (Joint Strike Missile) de desenvolvimento, é projetado para ser capaz de missões ar-solo e antinavio. O JSM vai caber no compartimento de armas interno do Lockheed Martin F-35.

Outro engenho relativamente lento é o Míssil Antinavio de Longo Alcance Americano (LRASM), destinado a ser um sucessor e um substituto do Harpoon AGM-84. LRASM é um derivado do míssil de cruzeiro JASSM-ER usado pelos bombardeiros da USAF e é furtivo e resistente a interferência, não produzindo nenhum retorno de radar rastreável e nenhuma assinatura IR real. O LRASM usará essa baixa observabilidade e seus recursos autônomos para detectar e atacar alvos enquanto evita suas defesas. LRASM tem um alcance de mais de 500 milhas, em comparação com 67 milhas do Harpoon. Ele pode entregar uma ogiva de penetração de 1.000 libras (453 kg), atingindo alvos com uma precisão de até 3 metros.

Para os EUA e seus aliados, o LRASM promete ser um meio útil de enfrentar a crescente ameaça representada pelas forças navais chinesas no Pacífico Ocidental, protegendo as rotas marítimas internacionais e evitando que a China desvie a área entre sua costa e a cadeia de ilhas que se estende desde o Arquipélago japonês para as Filipinas em uma área proibida para navios aliados e um santuário próprio.

No outro extremo da escala, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de armas como o MBDA Brimstone e Sea Venom produziram uma nova geração de mísseis de curto alcance para uso contra alvos marítimos, substituindo AShMs mais leves como o Aerospatiale AS 15 TT e o MBDA Sea Skua. O Sea Venom é um míssil antinavio anglo-francês leve que foi projetado para equipar helicópteros Wildcat da Royal Navy e Pantera da Marinha Francesa e o helicóptero NH90. A arma deve entrar em serviço na Royal Navy no final de 2021.




O Míssil Antinavio em Ação

Os primeiros mísseis antinavio surgiram durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Luftwaffe equipou suas aeronaves com os modelos experimentais Henschel Hs 293 e Fritz X, usando-os contra navios aliados no Mediterrâneo com bons resultados. Todos os modelos eram guiados por rádio, forçando as marinhas aliadas a desenvolverem contramedidas. Os aliados por sua vez também fizeram suas experiências.

Findo o conflito e com o advento da guerra fria, os aliados ocidentais abandonaram estes desenvolvimentos, concentrando-se na consolidação de sua estratégia de aviação naval. Os grandes encouraçados de outrora já haviam cedido seu trono a era dos porta-aviões, que reinam até os dias de hoje como as principais belonaves usadas para projeção de poder e controle de área marítima. Os EUA começaram em 1955 a mobiliar sua armada com estes super-navios capazes de embarcar quase uma centena de aeronaves. As forças da NATO passaram a contar, onde quer que estivessem, com ampla cobertura aérea de longo alcance em torno de suas frotas. Os estrategistas soviéticos consideravam o território da URSS um grande navio-aeródromo e não viam estes navios como uma prioridade, até porquê mesmo com todo o seu tamanho o território russo e das outras ex-repúblicas soviéticas tem acesso limitadíssimo ao mar. Suas numerosas bases aéreas lhes proporcionavam uma presença em grande parte do território mundial e fazer frente às armadas da NATO delineou sua estratégia naval, baseada em submarinos, minas navais e mísseis antinavio. Em caso de bloqueio naval ao território russo os submarinos são os que mais chance tem de "furar" este bloqueio.
A Guerra dos Seis Dias de 1967, um dos episódios mais conhecidos da aparentemente sem fim disputa árabe-israelense, marcou a estréia de uma nova arma. Um projétil até então desconhecido do mundo, o Raduga P-15 Termit de origem soviética, mais conhecido pela sua designação NATO SS-N-2 Styx , atingiu o destróier do país judeu Eilat. Dois FACs da classe Komar (NATO) egípcios dispararam 4 mísseis desde uma distância de 23 km de Port-Said, onde serviam como unidades de defesa costeira. Apesar do fogo defensivo da tripulação do navio, que imaginou estar sendo atacada por aeronaves, já que estas armas eram novidade. 3 Styx o atingiram selando seu destino, que afundou em algumas horas matando 47 e ferindo gravemente grande parte de tripulação. Devido ao ineditismo da situação, o treinamento dos artilheiros para engajar este tipo de arma era inexistente.

O episódio provocou uma reação de surpresa e pânico nos estrategistas ocidentais, que se deram conta que não tinham nada parecido. Claramente os EUA (e a NATO) e seus poderosos porta-aviões estavam vulneráveis ao impacto de um pequeno projétil de pouco mais de 2 toneladas baseado na fuselagem de uma pequena aeronave experimental. Havia um imenso “gap” entre a URSS e a NATO, e esta pôs mãos a obra com o intuito de superá-lo.
O desafio soviético era o de penetrar defesas poderosas e profundas para atingir navios muito grandes, representadas por ampla cobertura aérea vinda dos navios-aeródromos escoltados por sistemas antiaéreos Terrier/ Tartar e Talos e posteriormente pelo que de melhor existem em cobertura antiaérea naval na atualidade, o sistema AEGIS. Durante a 2GM o canhão era a principal arma naval, logo superado pelo avião no pós-guerra, que por sua vez dependia dos grandes e caros navios-aeródromos, só disponíveis às grandes marinhas. Penetrar estas defesas fazendo o uso de aeronaves de bombardeio não era uma tarefa fácil, o que resultou em desenvolvimentos de mísseis de longo alcance, dotados de ogivas potentes e empregados em lançamentos de saturação.
Diante destas necessidades tático-operacionais distintas, os mísseis antinavio soviéticos e ocidentais seguiram uma filosofia própria. Enquanto que os países da NATO desenvolveram engenhos menores, que podiam ser vetorados por caças capazes de levar seus mísseis mais próximos de seus alvos, com o intuito de atingir navios menores como eram aqueles do Pacto de Varsóvia, os soviéticos desenvolveram projéteis até hoje sem equivalentes no ocidente. Como tinham que lançar seus mísseis de alcances maiores acabaram por construir projéteis comparados a pequenas aeronaves pelo seu tamanho, deslocando-se a altas velocidades, por vezes supersônicas, para vencer defesas pesadas provenientes dos navios-aeródromos e com ogivas pesadas, algumas nucleares, para alvejar navios grandes, que por sua vez voavam mais alto e podiam ser mais facilmente detectados e interceptados, além de pouco manobráveis.

Na guerra naval existe uma distância padrão que é de 38/39 km. Esta distância se refere ao alcance de um radar montado no mastro de um navio qualquer, não importando sua potência. Esta limitação se dá pela curvatura da terra, a partir da qual o navio simplesmente não “enxerga”. Nenhum míssil disparado de uma nave de guerra pode atingir seu alvo além desta distância, simplesmente porque o navio não sabe que ele está lá, razão pela qual, por exemplo, o míssil francês MM38 Exocet foi concebido com alcance similar. Para contornar esta limitação e dispor de um alcance maior para suas armas, as marinhas de guerra tem duas alternativas: contar com suas várias unidades operando em comunicação constante, modernamente na forma de NCW, dizendo umas as outras onde os alvos estão, o que não resolve o problema, pois sempre haverá a nave que está mais à vanguarda, ou contar com meios aéreos que tem um horizonte-radar muito ampliado e podem designar alvos para mísseis com alcance superior ao padrão citado. Estes meios aéreos podem ser aeronaves de patrulha marítima ou AEW baseadas em terra, aeronaves baseadas em navios-aeródromos, helicópteros baseados em todos os tipos de navios, drones, dirigíveis, balões, etc...
A designação do alvo por um helicóptero naval, por exemplo, justifica a existência de mísseis lançados da superfície com alcance superior ao padrão citado. O meio aéreo tem que dizer onde o alvo está, e o míssil chegará até lá guiado pelos dados inseridos em sua memória antes do lançamento e trajetória garantida pelo INS. Ao aproximar-se do alvo, que não estará mais lá, pois deslocou-se e na guerra naval ninguém fica parado, o míssil ligará seu radar de busca e fará o ajuste fino de sua pontaria compensando a mudança de posição do alvo. Dessa forma temos mísseis com alcances bem superiores aos 38 km do horizonte-radar naval. Os mísseis antinavio lançados do ar não estão submetidos a esta limitação, pois o radar de seu lançador pode endereçá-lo diretamente. Por esta razão muitas marinhas que não dispõem de navios-aeródromos equipam seus helicópteros com estes projéteis, podendo helicópteros mais pesados portarem mísseis mais capazes.


Os mísseis soviéticos destacam-se pelo tamanho, alguns baseados em fuselagens de aeronaves já existentes como o Mig-15. Equipam bombardeiros, navios de superfície e submarinos. Possuiam ogivas poderosas e grande alcance como os Raduga KSR-2  (AS-5 Kelt) e Raduga KSR-5 (AS-6), com ogivas de 1 ton ou mesmo nuclear de 350kt, com alcance acima dos 300 km e velocidade acima de mach 3,5, tão grandes que um bombardeiro Tu-16 carregava apenas um deles nos tempos da Guerra Fria. Seguiram-se outros modelos como o P-120 Malakhit (SS-N-9) de mach 0,9 e alcance em torno dos 100 km+, o Raduga P-270 Moskit (SS-N-22) com alcance de até 270 km e velocidade de mach 3 e o P-800 Oniks (SS-N-26) que deu origem ao indiano Brahmos, também supersônicos (mach 2,5) e alcance por volta dos 300 km.

O ocidente adotou o conceito “sea skimming” , com o míssil voando rente a superfície do mar, não detectável, portando, por grande parte de sua trajetória, dificuldade esta acentuada pelo tamanho reduzido dos projéteis. Os modelos Exocet francês e Harpoon dos EUA se valem deste perfil operacional. Esta postura exige do projétil um rigoroso controle de altitude de forma a não se chocar com a superfície do mar, controle este desempenhado por um radar-altímetro. Vôos baixos não combinam com altas velocidades pois o arrasto é muito grande com impacto direto no alcance, e o supersônico Brahmos indiano voa baixo apenas em sua trajetória final.
Mísseis com maior velocidade reduzem o tempo de reação das defesas, porém consomem mais combustível e possuem maior assinatura térmica e radar, além de menor capacidade de manobra. Outra forma de dificultar o trabalho dos defensores é realizar ataques de saturação, onde vários mísseis são lançados ao mesmo tempo sobre um mesmo alvo. A guerra do Atlântico-Sul em 1982 mostrou ao mundo o poder destes projéteis, quando um AM39 Exocet da Armada Argentina fulminou o destróier de sua majestade HMS Sheffield, um pouco acima da linha d’agua, pondo-o a pique, impacto este fruto de uma série de indecisões a falta de efetividade por parte dos defensores. Os últimos anos trouxeram radares capazes de “ver” de forma efetiva os mísseis de voo baixo , que acoplados a sistemas antimísseis automáticos, com mísseis antimísseis ou canhões de tiro rápido, constituíram uma contramedida considerável, o que está forçando os projetistas a considerarem as tecnologias furtivas, pois aquilo que não se pode ver não se pode abater. Considera-se as tecnologias já conhecidas de materiais e formas, porém a operação passiva com disciplina de emissões também é importante.

Os mais populares mísseis do ocidente são Harpoon dos EUA, lançado da superfície, ar ou submarinos, subsônico, com até 250 km de alcance e ogiva de 221 kg, guiagem final por radar ativo. O MM-40/SM-39/AM-39 Exocet da MBDA com até 180 km de alcance, lançamento tal qual o americano e ogiva de 165 kg. Existem outros como o sueco RBS-15 com até 250 km de alcance e ogiva de 200 kg, o italiano Otomat e o britânico Sea Eagle, entre muitos outros.
Um míssil antinavio é um pequeno míssil de cruzeiro, sendo que alguns mísseis de cruzeiro podem ser usados na função antinavio, como o Tomahawk dos EUA, o míssil antinavio de maior alcance do mundo, podendo atingir cerca de 1800 km, porém é um míssil de cruzeiro e custa como um. Outro conceito possível é o do míssil balístico, aventado pelo chineses como operacional. O voo balístico combina altíssima velocidade e impacto cinético, prescindindo de explosivos. Como sabemos velocidades de reentrada superam em muito as marcas hipersônicas, e fica a dúvida quanto a efetividade: como se aponta de forma certeira um projétil balístico sobre um alvo móvel? a resposta pode ser o ataque de saturação, onde muitos projéteis sobre uma frota, pode ser que acerte alguém. Radares ativos e aletas defletoras dirigindo um projétil incandescente? Fica a dúvida. Porém, se forem eficazes, contramedidas terão que ser sofisticadas, para não dizer quase impossíveis. Talvez o futuro pertença a velocidade supersônica ou hipersônica e uma aparentemente incompatível capacidade furtiva.

Mísseis menores da variadas características foram desenvolvidos para equiparem os helicópteros navais, que além de designarem alvos para os vasos de superfície podem portar seus próprios projéteis, de alcance mais curto e ogiva menos potente, como o Penguin norueguês e o Sea Skua britânico. Pesam menos de meia tonelada e geralmente alcançam menos que o horizonte-radar da naves de superfície. Mísseis maiores como o AM39 também podem ser lançados dos helicópteros maiores como EC-725 ou Sea King. Estes Engenhos podem afundar barcos menores ou provocar deterioração nos sistemas e operacionalidade dos maiores. Como já citado o AM39 colocou um destróier britânico fora de combate. Uma pequena ogiva pode provocar uma grande dano se atingir um paiol ou reservatório de combustível, ou um dano operacional sério, se atingir, por exemplo um COC, mesmo em um vaso de grande porte. Ogivas podem ser equipadas com material incendiário para maior efetividade.

O foco na guerra de “águas azuis” da guerra fria passou a ser compartilhado com os conflitos assimétricos e mais próximos da costa dos tempos modernos, o que levou os mísseis antinavio a se adaptarem as peculiaridades deste cenário, cheio de meandros e recortes de litoral onde embarcações velozes e bem armadas reinam, operação esta que só se tornou possível devido a precisão de sistemas como o GPS que permitem que estes engenhos contornem os acidentes naturais. As embarcações de pequeno porte, privadas da operação dos grandes canhões no passado, passaram a contar com poder de fogo compatível. 
Para conter esta ameaça, é vital aos navios da atualidade disporem de contramedidas eficazes. O navio primeiramente tem que evitar ser detectado valendo-se de tecnologias furtivas e disciplina nas emissões. A primeira linha de defesa são as patrulhas de combate aéreo (CAPs), e seus mísseis ar-ar (AAM) geralmente oriundas de navios-aeródromos ou mesmo baseadas em terra, estas de alcance limitado. Estas patrulhas podem alcançar centenas de quilômetros à frente da frota. Para aqueles que passem por esta primeira barreira, ou em grupos de combate desprovidos destes navios, a interceptação fica a cargo dos SAMs de defesa de área e que tem capacidade antimíssil, pois não é para qualquer um, como os Standart dos EUA. Se vencida esta segunda barreira fica ainda uma terceira e última camada representada por mísseis de defesa de ponto como o Sea Ceptor ou canhões de tiro rápido como os CIWS. Outras medidas também entram em ação como o lançamento de engodos (chaffs/flares), além de outras ações de EW e a diminuição do perfil, posicionando o navio de forma a oferecer um alvo menor.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Sidewinder AIM-9: Uma Breve História *202



Don Hollway (Fox Two)

O míssil buscador de calor (IR) AIM-9 Sidewinder passou de um exercício de mesa a uma arma de combate aéreo preeminente da era do jato

A Guerra Fria estourou em 23 de agosto de 1958, quando a China comunista bombardeou Matsu e Quemoy, ilhas da República Nacionalista da China (Taiwan). Enquanto os navios de guerra chineses e americanos se enfrentavam no Estreito de Formosa, os F-86F Sabres nacionalistas voaram contra caças MiG, incluindo o novo MiG-17 “Fresco”. Acima e além do alcance das metralhadoras dos Sabres, armas que permaneceram basicamente inalteradas desde o surgimento dos aviões de caça, os pilotos dos MiG-17 desfrutaram não apenas de números superiores, mas de tecnologia superior.

No final de setembro, os Sabres Dos nacionalistas foram equipados com novos armamentos fornecidos pelos americanos: foguetes com quase 3 metros de comprimento e extremidades com barbatanas, com delicados narizes de vidro em vez de ogivas de aço. O novo foguete não tinha fios, nem rádio, nem forma do piloto guiá-lo após o lançamento, no entanto, estava equipado com aletas móveis. Para os pilotos taiwaneses, a conclusão era óbvia, embora inacreditável: os americanos haviam criado um míssil que poderia perseguir e destruir o inimigo por conta própria.

Desde os “Le Prieur” não guiados dos Aliados na Primeira Guerra Mundial até o alemão Ruhrstahl X-4 guiado por fio na Segunda Guerra Mundial, os foguetes ar-ar nunca se mostraram particularmente eficazes. Após este conflito, o combate aéreo deveria envolver a interceptação de bombardeiros estratégicos com armas nucleares de longo alcance. Os especialistas visavam mísseis guiados por radar, embora isso exigisse das aeronaves lançadoras “iluminar” continuamente seus alvos com feixes de microondas durante a trajetória.

Enquanto isso, na Estação de Teste de Artilharia Naval dos EUA em China Lake, no deserto de Mojave, na Califórnia, algumas dezenas de engenheiros comandados pelo físico William B. McLean, estavam trabalhando em espoletas de proximidade de sulfeto de chumbo que eram sensíveis à radiação infravermelha gerada pelo calor. A diretiva de China Lake era de P&D, não de design de armas, e os críticos zombeteiramente se referiram a seu laboratório como "Loja de Hobby de McLean". Mas isso não impediu sua pequena equipe de revolucionar completamente a guerra aérea.



Argumentando que um detonador capaz de explodir uma ogiva perto de um alvo quente também poderia ser direcionado a ele, McLean procurou colocar um sistema de orientação a bordo de um foguete ar-solo padrão de 5 polegadas. Com voluntários internos, fundos diversos e tempo livre - mas sem aprovação oficial - ele se comprometeu a desenvolver um detonador inteligente para um míssil ar-ar buscador de calor. Demorou 5 anos. “Pessoalmente, passei quase 3 anos considerando as possibilidades”, escreveu McLean mais tarde. “É fácil construir algo complicado; é difícil construí-lo de forma simples.”

O projeto final era realmente simples: um espelho parabólico girando giroscopicamente a 4.200 rpm dentro do nariz transparente do foguete. A distância do reflexo de um blip infravermelho do eixo de rotação indicava seu ângulo externo; a corrente do detector de sulfeto de chumbo montado centralmente mantinha o “olho” no alvo por meio de eletroímãs em torno de sua borda e controlava as aletas guia de canard do míssil.

O futuro astronauta Wally Schirra, então um veterano da Coreia do Sul com um MiG-15 abatido em seu currículo, lembrou-se de sua primeira visita ao laboratório. Os cabeças de ovo de China Lake tinham um “dispositivo em forma de cúpula, feito de vidro ... um globo ocular feito pelo homem”, lembrou ele. “Eu fumava cigarros naquela época e tinha um na mão. Ao cruzar a sala, percebi que o "globo ocular" estava me rastreando.”

O capitão Wally Schirra da USN (2º da direita) recebe um Demônio F2H do chefe de design da McDonnell, David S. Lewis, Jr. Lewis tornou-se presidente da McDonnell e CEO da General Dynamics. Schirra se tornou um dos astronautas do Mercury 7.

Uma vez que o rolamento do míssil iria interferir com o giro do giroscópio, a equipe de McLean criou um dispositivo denominado “rollerons” - rodas de giroscópio acionadas por fluxo de ar, montadas na cauda do míssil, cujo giro neutralizava o do míssil. O toque final, no entanto, foi fazer com que o buscador apontasse não para onde o alvo estava, mas para onde estaria quando lá chegasse. Em combates aéreos, o próprio míssil enfrentaria aeronaves inimigas em seus próprios termos: procurá-los, manobrá-los e derrubá-los. Isso pode ser comum hoje, mas 60 anos atrás, quando os automóveis eram pesados aglometados de aço de Detroit, o protocomputador Eniac precisava de uma sala cheia de tubos de vácuo apenas para calcular trajetórias balísticas e os únicos robôs eram atores fantasiados em filmes de ficção científica, o que Bill McLean's a equipe de China Lake, com apenas 14 tubos e menos de 24 peças móveis, em um pacote de menos de 3 metros de comprimento, 12,7 cm de largura e pesando 73 kg - foi inventar o primeiro dispositivo autoguiado do tipo “dispare e esqueça”: um robô de combate autônomo. Eles o chamaram de Sidewinder, em homenagem à cascavel com chifres do Mojave, que espreita sua presa por suas assinaturas de calor na escuridão e cruza as areias do deserto com um movimento sinuoso não muito diferente da trajetória “saca-rolhas” dos mísseis.



Schirra e outros pilotos de teste se divertiram pegando não apenas os drones voando, mas também locomotivas, reboques de trator e ônibus Greyhound perto de China Lake. A principal reclamação deles, uma vez que os parâmetros de disparo do Sidewinder variavam com a altitude, velocidade do ar e carga G, era ter que verificar um voltímetro da cabine para confirmar o travamento: “Precisamos conseguir algo além do maldito medidor. Não é  possível que um piloto de combate, fique olhando (para baixo) para pequenos medidores engraçados para ver se ele pode atirar ou não.”

Acabou sendo a peça final do quebra-cabeça. Qualquer um que já voou em um simulador de voo de combate conhece o "rosnado" do Sidewinder de 840 Hz, indicando a prontidão do míssil e o alvo definido. Este robô não apenas pensava; falava também.

Apenas 5 anos depois, sob o codinome “Operação Magia Negra”, os americanos nos F-100 Super Sabres, que simulavam os MiG-17 chineses continentais (comunistas), ensinavam os pilotos nacionalistas a potencializarem os lançamentos do Sidewinder contra alvos de grande altitude. Os pilotos do MiG estavam prestes a ter uma surpresa desagradável.

A contagem de perdas em combate depende de qual lado a faz, mas em um único dia, 24 de setembro de 1958, os Sabres equipados com Sidewinder Nacionalistas abateram pelo menos 10 MiG-17. 2 semanas depois, a República Popular da China (comunista) pediu a paz. O comando do ar e, portanto, do campo de batalha, foram devolvidos aos nacionalistas, cortesia do Sidewinder. Ainda assim, um MiG teria retornado à base com um míssil não detonado preso em sua asa. Portanto, apesar da natureza ultrassecreta do projeto, em seu primeiro lançamento o Sidewinder foi descoberto.

Os soviéticos, fornecedores de armas para metade do mundo, mais tarde admitiram que a inteligência quase biológica do Sidewinder foi uma revelação completa para eles. Eles começaram a fazer engenharia reversa de uma cópia - o K15, codinome da OTAN AA-2 “Atoll” - e desenvolver táticas para derrotar os caçadores de calor.

O Sidewinder, agora denominado “Air Intercept Missile” (AIM) 9, provou ser decisivo mais uma vez quando o Paquistão e a Índia entraram em guerra pela segunda vez pela Caxemira em 1965. A batalha aérea foi única: principalmente aviões de guerra americanos contra britânicos e franceses. Os paquistaneses estavam em menor número, 5 para 1, mas tinham Sidewinders.

Em 6 de setembro de 1965, o tenente Aftab Alam Khan, do esquadrão nº 9 da Força Aérea do Paquistão (PAF), engajou 4 caças-bombardeiros indianos Dassault MD.452 Mystère IV que estavam metralhando um trem de passageiros. Seu Lockheed F-104A Starfighter era um interceptor de alto nível, não um “dogfighter”. Ele disparou através da formação de Mystère com fogo máximo. Os índianos se espalharam procurando dispersar suas assinaturas IR. Mas antes que eles pudessem se evadir, Khan usou sua velocidade para colocar o Sidewinder dentro de seu envelope operacional. “Eu mirei na aeronave mais próxima e ouvi o tom alto do míssil”, lembrou ele. “A visão indicava que eu estava ao alcance. Com todas as outras condições de disparo exigidas, apertei o gatilho e o mantive pressionado. Eu esperei, apenas para notar que o míssil não havia disparado. Quando olhei para o míssil esquerdo, vi um grande clarão e o projétil deixando a aeronave. O míssil havia levado, conforme estipulado no manual, aprox. 8/10 de segundo para disparar após o gatilho ter sido pressionado.O radar de controle de solo confirmou o sucesso do míssil de Khan, o primeiro da história por uma aeronave a Mach 2. De acordo com os registros do Paquistão, das 36 vitórias do PAF naquela guerra, 8 foram creditadas aos Sidewinders.



Na época, os Estados Unidos estavam envolvidos em seu próprio conflito asiático. Em 12 de junho de 1966, o comandante da US Navy Harold “Hal” Marr do VF-211 estava voando na cobertura superior para Douglas A-4 Skyhawks do porta-aviões Hancock, bombardeando a noroeste de Haiphong, quando os MiG-17 norte-vietnamitas atacaram. Seu Vought F-8E Crusader, o famoso “Último Gunfighter” da Marinha, era naqueles primeiros anos da guerra sua principal plataforma Sidewinder. Depois de uma batalha de manobras “Dogfight” de 4 minutos variando de 550 a 350 mph, Marr engajou pela cauda de um MiG-17, disparou e gritou "Fox Two!" (Fox Two é a chamada de rádio quando um míssil IR é disparado; Fox One é para um míssil SARH, Fox Three é para um míssil TARH - guiado por radar ativo.) O AIM-9B prontamente percorreu todo o caminho, atingindo o solo.




De Atirador a Plataforma de Mísseis

Seus companheiros de esquadrão voltaram para casa, sem munição e combustível, mas Marr continuou e lançou outro Sidewinder - o seu último. Desta vez, ele lembrou, “o míssil cortou a cauda [do MiG] e foi direto para o solo”.

Claramente, o AIM-9 não era infalível em campo. Seu alcance era relativamente curto - de 3 km em grande altitude onde é frio e a atmosfera rarefeita, e menos de 800 metros próximo ao solo, onde é quente e ar é denso. Sua percepção IR em clima úmido era duvidosa, na melhor das hipóteses, e os críticos afirmavam que seus parâmetros de lançamento pela retaguarda das aeronaves-alvo exigiam total cooperação do alvo. Os pilotos de combate aprenderam a evitar os mísseis IR conduzindo-os para as nuvens ou em direção ao sol, gelo ou água reflexivos ou até mesmo terreno quente. Os aviões militares ficaram carregados de lançadores de iscas. Um estudo da USAF descobriu que, de 1965 a 1968, seus pilotos lançaram 175 Sidewinders para marcar apenas 28 abates, uma taxa de sucesso de apenas 16%. Mas o AIM-9 estava apenas começando uma carreira extraordinariamente longa, caracterizada por melhorias quase constantes.




A Evolução do AIM-9

O AIM-9C com buscador por radar projetado para o Crusader, deixou o serviço junto com sua aeronave. O 9D IR, apresentando um buscador refrigerado a nitrogênio para maior sensibilidade, empregou um motor de foguete mais potente para triplicar seu alcance. O 9E introduziu o resfriamento termoelétrico com efeito Peltier, enquanto o 9H e o 9J foram os primeiros a apresentar eletrônicos de estado sólido. Por um tempo, os Sidewinders da Força Aérea e da Marinha foram montados em linhas de produção separadas, mas elas se uniram no AIM-9L do final dos anos 70. Com um buscador de antimoneto de índio resfriado com argônio, o “9 Lima” foi o primeiro modelo “all aspect” que travava nas partes quentes de uma aeronave alvo a partir de qualquer quadrante - como seu nariz ou bordas de ataque das asas.

Muito foi dito sobre essa capacidade de “all aspect”, embora no combate aéreo um tiro frontal geralmente se apresente apenas uma vez por combate - se você puder fazer isso. No incidente do Golfo de Sidra de 1981, dois F-14 da Marinha do VF-41 "Black Aces" interceptaram um par de Sukhoi Su-22 "Fitter" líbios, mas as regras de combate dos EUA exigiam que os Tomcats equipados com 9L só fizessem fogo se o inimigo disparasse primeiro. Quando um dos “Fitter” errou com um Atol quase de frente, os Tomcats com Sidewinders os atacaram pela retaguarda enquanto se evadiam.

Em 1982 foi o ano do AIM-9. Quando a Royal Navy reuniu apenas 20 Sea Harrier para recuperar as Ilhas Falklands/Malvinas, os argentinos tinham cerca de mais de 100 aeronaves de combate, muitos armados com o AIM-9B e suas cópias estrangeiras, incluindo o francês R.550 Magic e Shafrir israelense. Os EUA emviaram 100 AIM-9Ls para os britânicos, talvez na esperança de alcançar a proporção perfeita de 1 para 1 com essa capacidade frontal.




No primeiro encontro de Sea harriers e caças argentinos, O comandante Nigel “Sharkey” Ward, comandando o Esquadrão No. 801, se deparou com caças IAI Dagger (ex-israelense Nesher) do Grupo 6 de Caza (6º Grupo de Caças) e viu rastros descendo em sua direção. “Eu tentei travar um dos meus [Sidewinders] neles”, disse ele, “mas os 'rastros' revelaram ser rastros de fumaça dos mísseis que atiraram contra nós!” Os foguetes argentinos caíram no oceano, mas os Daggers escaparam.

Se o 9L ainda tinha problemas para acertar os alvos de frente, contra escapes de jato era um disparo certeiro. Em 24 de maio, o líder do esquadrão No.800, Tenente Comandante. Andy Auld e seu ala tenente Dave Smith posicionaram-se nas caudas de 4 Mirages argentinos que os atacavam logo acima do mar. Do primeiro lançamento ao último abate, o duelo durou menos de 5 segundos. Como disse Auld: “Descemos a 200, a 550 nós. Disparei 2 mísseis em sucessão muito rápida contra 2 alvos. Os mísseis guiados e ... Eu estava tentando matar o terceiro com o canhão, quando meu ala atirou por cima do meu ombro e seu míssil e acertou.

Com seus canards de duplo delta puxando 35 Gs em uma curva e seu detonador de proximidade ativado por laser detonando uma ogiva de fragmentação de explosão anular de 22 libras, sobre as Falklands/Malvinas o 9L atingiu uma taxa de mortalidade de 82%. O tenente Benito Rotolo, piloto argentino A-4 Skyhawk, relatou: “Tudo o que podíamos fazer era tentar escapar em nível baixo e aceleração máxima .... O Sidewinder L é um míssil muito, muito eficaz e nossos modelos mais antigos não poderiam ter esperança de igualá-los.”




Líbano 1982: O AIM-9 no Vale do Bekaa

Apenas algumas semanas depois, no Vale do Bekaa, no Líbano, os F-15 e os F-16 israelenses usaram os “Limas” para marcar 51 de suas 55 vitórias sobre os MiGs sírios. O 9L provou ser tão mortal, na verdade, que os EUA permitiram que apenas seus aliados mais confiáveis o comprassem. Para o resto do mercado, havia o 9P simplificado, do qual mais de 20.000 foram vendidos. Para os caças americanos, havia o AIM-9M, um 9L com baixo teor de fumaça, com reconhecimento de alvo ainda melhor e resistência  a contramedidas. Equipamento padrão durante a operação “Desert Storm”, a versão "Mike" na verdade pontuou pouco, mas sua reputação foi o suficiente para frustrar o inimigo: Normalmente, os pilotos americanos só tiveram um breve vislumbre dos aviões de Saddam Hussein no alcance extremo do radar, enquanto eles voavam sobre o fronteira com o Irã.

Lançado no solo, o AIM-9 se tornou o MIM-72 Chaparral. Reduzido, inspirou o FIM-92 Stinger, lançado de ombro, que persuadiu os helicópteros Hind soviéticos a deixarem o Afeganistão.

Ao longo das décadas, o Sidewinder e seus parentes buscadores de calor foram tão eficazes que, assim como a ameaça dos predadores obriga as presas a se adaptarem ao reino animal, eles influenciaram a evolução das aeronaves. Que digam o caça furtivo F-117 Nighthawk e o bombardeiro furtivo B-2 Spirit, cujas ranhuras de escapamento deixam rasgos de jato dos escapes do motores amplos, finos e frios.

Cerca de 60 anos depois de ter sido introduzido pela primeira vez, o AIM-9 parece ser uma daquelas armas, como o AK-47 e o B-52, que são melhorados mais facilmente do que substituídos. O britânico AIM-132 ASRAAM não conseguiu; O próprio AIM-95 “Agile” da América também não conseguiu. Até o momento, mais de 200.000 Sidewinders foram construídos para 28 países, tornando-o o míssil mais usado no Ocidente - sem mencionar um dos mais antigos, mais baratos e mais bem-sucedidos, com quase 300 abates em todo o mundo e contando.


AIM-9X: o Sidewinder do século 21

O AIM-9X de quinta geração e modelo atual está para o antigo 9B da mesma forma que os humanos estão para o homo erectus. Endereçado por um visor montado no capacete do piloto, ele pode “olhar” 90 graus para cada lado a procura de seu alvo e, com direção de empuxo vetorial tridimensional, virar 180 graus em perseguição.



Contra oponentes menos armados, os pilotos de teste da Marinha e da Força Aérea alcançaram taxas de abate com o 9X melhores que 50 para 1. Em dezembro de 2007 no White Sands Missile Range, um 9X modificado disparado de um F-16 abateu um foguete de sondagem Orion. As versões mais recentes têm capacidade de “travamento após o lançamento”, prestando-se ao “disparo em nuvem”, com a seleção de alvos em 360 graus via datalink por aeronaves que não o caça lançador.

Não admira que o Sidewinder continue vivo. Espera-se que as suas versões continuem sendo equipamentos padrão ao longo deste século. A essa altura, suas capacidades futuras dificilmente podem ser imaginadas. Se eles aprenderem a reabastecer, corra.