sábado, 30 de janeiro de 2016

RWR - Receptores de Alerta Radar #120


A guerra eletrônica (EW) é a grande protagonista dos conflitos modernos, e usada por todos na medida de suas possibilidades. Seu alvos são os sistemas de comunicação do inimigo, bem como seus sistemas guiagem de armas e sensores de campo de batalha. Por definição a EW é toda ação militar envolvendo o uso da radiação eletromagnética para determinar, explorar, reduzir ou impedir a utilização hostil do espectro eletromagnético. Trata-se da negação ao inimigo do uso desta dimensão do campo de batalha, com o objetivo de proporcionar-lhe inoperância de suas comunicações, frustrando seus esforços de comando e controle (C2); impedido que seus sensores, como os radares, cumpram com suas tarefas; além de buscar informações em proveito próprio.

Ela surgiu na Segunda Grande Guerra com a detecção por radar dos ataques da Luftwaffe contra os ilhas britânicas, fator que contribuiu significativamente para a vitória destes na Batalha da Inglaterra. A Luftwaffe simplesmente não estava preparada para enfrentar o radar inglês, além de terem seus sistemas de navegação por rádio degradados por interferência ativa. A história mostra que a inoperância neste campo pode resultar em fracasso operacional.





Radares são um componente fundamental dos modernos sistemas de defesa aérea e foi neste campo que as técnicas de EW encontraram seu campo de aplicação mais fértil. Uma aeronave que puder saber onde estão as ameaças e de que tipo são, tem sua probabilidade de sobrevivência multiplicada. A radiação emitida pelos radares de defesa aérea, sejam baseados no solo ou montados em outras aeronaves, chega até a aeronave alvo e revela aos emissores sua presença e localização. Os Receptores de Alerta Radar (radar warning receivers - RWR) foram desenvolvidos como um sensor capaz de detectar esta radiação e informar ao piloto quando um radar hostil o está iluminando. Foram utilizados pela primeira vez pelo norte-americanos no conflito do Vietnam , e fizeram parte a partir daí de todos os projetos modernos de aeronaves de combate.

A Guerra do Yom Kippur viu os israelenses perderem grande quantidade de aeronaves para os SAMs árabes devido a falta de sistemas de EW adequados. Com a lição bem aprendida, eles não prescindiram destes sistemas na Batalha do Vale de Bekaa, onde neutralizaram grande quantidade de baterias de solo.

Os RWR fazem parte da suite de sistemas eletrônicos defensivos de qualquer aeronave militar moderna. É o componente mais simples de qualquer sistema dessa natureza, e em sua versão mais elementar consiste em apresentar num display de vídeo o sinal da radiação captada por uma antena de banda larga, e após tratamento eletrônico mostra ao piloto a intensidade do sinal na forma de ruído e o quadrante do qual a radiação está sendo emitida. Com antenas montadas nos quadrantes das aeronaves e tendo a recepção de cada quadrante comparada com as dos outros, a direção da radiação é determinada. Construídos em diferentes nível de complexidade, os modelos mais completos e dotados de processadores digitais, podem analisar as características da radiação emitida e determinar a identidade do emissor. Esta tarefa é complexa por ter que lidar com grande quantidade de radiação de natureza diferente, processá-la e classificá-la, exigindo grande poder computacional, fator responsável pela maior parte do custo destes sistemas. Cabe ao sistema ainda priorizar as ameaças e decidir quais as mais urgentes. Receptores mais sensíveis e consequentemente muito mais caros e complexos, são usados apenas em aeronaves de penetração profunda como o F15E e o Tornado IDS.

Além de detectar ameaças para fins defensivos facilitando a evasão, os RWR podem apoiar sistemas interferidores (jammers), parte importante de um arsenal eletrônico. Estes sistemas consistem de um RWR, um processador para tomar as decisões e um interferidor que se ajusta por ordem do processador a frequência captada pelo RWR, e transmite um sinal de engodo ou degradação.

As considerações a respeito dos interferidores seão tratadas e artigos dedicados, e assim que disponíveis acrescentaremos aqui na forma de link.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Operações Singulares, Conjuntas e Combinadas #119


Operações militares são únicas, cada qual com suas características, não se repetindo outras vezes. Mesmo que a situação política venha a se repetir no mesmo local onde já foi solucionada através das armas, fato improvável, e outra vez se faça necessário repetir o intento, não será, de forma nenhuma, de novo a mesma operação.

Além de únicas, operações militares variam muito em escala, algumas demandando um único atirador de elite, enquanto outras envolvendo forças armadas de vários países. Qualquer que seja ela, deve ser executada com profissionalismo e competência.

Os conflitos modernos não admitem mais o emprego de ramos das forças armadas de forma isolada, podendo isto acontecer em operações de pequena escala e baixa intensidade, as estas denominamos operações singulares e são conduzidas, geralmente, no nível tático e com pouco planejamento, de forma inopinada e urgente. Operações normalmente conduzidas com o planejamento adequado, raramente são singulares e desenvolvem-se de modo mais previsível e adequado. Situações que envolvem forças singulares de forma isolada eram mais frequentes em tempos passados em países menos evoluídos militarmente, cuja mentalidade de seus comandantes muitas vezes tomava ares de competição.

O conflitos da atualidade são melhor operados quando aproveitamos as melhores caraterísticas de cada força singular e de cada agência governamental, cujo resultado tende a ser maior que a soma das potencialidades de todas. Pode ter o predomínio de uma das forças dependendo da natureza da operação em si, ou a participação intensa de todas elas, naqueles de maior escala.

Operações conjuntas são caracterizadas pelo emprego de um grande número de meios, de 2 ou mais forças singulares, que são conduzidas sob comando único e representam a evolução do pensamento militar. Para que operações conjuntas se deem de forma natural, é necessário que as forças adotem doutrinas integradas, buscando a padronização de procedimentos e se possível de meios naquilo que for possível, doutrina esta afinada por um constante treinamento em conjunto, desde as fases iniciais onde se geram as capacidades individuais até o emprego dos escalões maiores.

Normalmente se dão no nível operacional e contam com um estado maior operacional conjunto permanente, que desenvolvem constantemente planos e procedimentos padrão que devem ser conhecidos por todos, de forma que quando uma operação real se configurar a transição para ela se dê naturalmente, sem que treinamentos de compatibilidade sejam necessários.  

As operações combinadas são aquelas realizadas por forças e 2 ou mais nações, na esfera de uma aliança ou coalizão. São operações de implementação mais complexa, uma vez que barreiras de língua e cultura podem dar diferentes enfoques a mesma situação. Eles requerem um compromisso inequívoco com a missão e uma boa vontade mútua entre as forças que participam da missão, deixando de lado rixas e rivalidades porventura existentes. É necessário ainda que se estabeleça uma língua comum entre os operadores, conhecimento da doutrina e capacidades um do outro e tempo suficiente para que se realize a integração necessária. 


Sejam conjuntas ou só combinadas, as operações militares modernas requerem de todos o estabelecimento de cadeias de comando e responsabilidades bem definidas, sistemas de C2 integrados e estruturas logísticas que contemplem as necessidades de todos.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Os Níveis da Guerra *118



A guerra é o meio pelo qual a política impõem sua vontade em situações antagônicas e conflitantes, quando a diplomacia e a negociação se mostram impotentes.  Fazer a guerra significa impor a vontade pela força, assumindo riscos colaterais de pequena envergadura mas relativamente abundantes, como pequenas tragédias pessoais, por exemplo e outros de maior envergadura como ruína econômica e comprometimento de infraestrutura, muitas vezes em locais que não as tem de forma satisfatória. 

Sun Tzu disse que a guerra é o assunto mais importante do estado, e como tal deve ser tratada. Em outras palavras, evite-a ao máximo, mas se chegar a se envolver nela, faça de tudo para vencê-la no menor espaço de tempo possível e da forma menos nociva.

O mérito da guerra é imutável e traduz a natureza do ser humano, misturando em um único evento decisões racionais justificadas por motivos irracionais e questionáveis. Uma das facetas racionais deste evento nefasto aos seus envolvidos, é a forma como é conduzida, pois seus atores principais, os militares, se valem da organização e do planejamento minucioso para levar a cabo suas ações.

Diferentemente dos conflitos da antiguidade, a guerra moderna é um evento extremamente complexo e como tal deve ser tratado. Conduzir uma campanha nos tempos atuais significa administrar milhares de recursos de natureza diferente, no tempo e no espaço, de forma a cumprir objetivos tal qual faz uma empresa, com o diferencial que existem forças que usarão de violência extrema para que tais objetivos não se consolidem, com pouca ou nenhuma observância aos princípios que norteiam a convivência entre os homens, o que é compreensível neste contexto.

Para se administrar empreitadas tão complexas, os estrategistas se viram obrigados a dividi-las em níveis, de forma a gerenciar o emprego da força de forma ótima, ou seja procurando alcançar os objetivos com o menor custo pessoal e material, no menor tempo possível.





O Nível Político

A moderna doutrina prevê que a guerra se dá em 4 níveis distintos, hierarquicamente dependentes. O primeiro nível e que engloba todos os outros é o nível político-estratégico, estando fora da esfera militar e por vezes aranhado por ela. Ele é exercido pelos chefes de estado em nível de governo, e é o encarregado de traçar os objetivos político-estratégicos, alinhavar alianças convenientes e possíveis, estabelecer diretrizes estratégicas e observar considerações de direito internacional, além de impor limitações ao emprego de meios militares e de espaço geográfico.

"A guerra é a continuação da política por outro meios" - Clausewitz

O Nível Estratégico

Formuladas as diretrizes político-estratégicas e uma vez decidido o uso da força das armas, iniciam-se as operações militares propriamente ditas, que são conduzidas em 3 níveis distintos e intimamente relacionados de forma dinâmica, com seus limites nem sempre claros, um em relação ao outro. A relação de propósito, tempo e espaço é que determinará a divisão entre eles.

O estabelecimento de metas que visem alcançar os objetivos políticos e o planejamento para alcançá-las, são o cerne do nível estratégico-operacional da guerra. Neste nível se fixam os objetivos estratégicos militares, que são a adequação ao contexto militar dos objetivos políticos. Formula-se ainda a estratégia a ser adotada para atingi-los e se conduz as operações dos grandes escalões de emprego como àqueles encarregados das atividades da mobilização geral. Entre outras medidas, este nível trabalha com:
  • o estabelecimento da inter-relação dos objetivos políticos com os objetivos estratégicos,
  • as condicionantes políticas de planejamento e implicações legais do emprego das tropas,
  • a identificação dos centros de gravidade das situações a considerar,
  • os desembaraços financeiros do que será executado,
  • o momento (as condições) em que se atingirá o objetivo final,
  • os desdobramentos de meios a serem estabelecidos,
  • a definição das áreas de responsabilidade,
  • os comandos operacionais a serem acionados,
  • a viabilização de bases de operação
  • os meios físicos a serem disponibilizados,
  • a mobilização a ser desencadeada, seja operacional ou de base,
  • as principais ações estratégicas preliminares a serem iniciadas,
  • outras medidas de alto escalão que se façam necessárias.
Planos estratégicos, pré-planejados, de vários tipos são estabelecidos e sua realização desencadeada.





O Nível Operacional

Uma vez de posse dos objetivos estratégicos, cabe ao nível operacional delinear, planejar e executar as campanhas necessárias. Definem-se os objetivos operacionais e desencadeiam-se as operações táticas necessárias, ou seja faz-se a ligação entre a estratégia e a tática. Autoriza-se e faz-se acontecer as primeiras ações e se alocam os recursos necessários para sustentá-las. Dimensionam-se as ações no tempo, no espaço e na finalidade, e principalmente aciona-se a vital máquina logística da qual qualquer força em campanha é totalmente dependente.

Neste nível os comandantes militares aliados decidem que para derrotar os nazistas e conquistar o domínio da parte ocidental da Europa, por exemplo, é importante um desembarque de grandes proporções nas costas francesas do norte. Aliviar a pressão até então suportada pelos russos, com a abertura de uma segunda frente, foi decidida lá na esfera político-estratégica. Decide-se neste nível também que o desembarque será na Normandia e não em Pas de Calais, onde será empreendida uma operação de engodo e diversão, além de conceber que paraquedistas saltariam a frente das tropas de desembarque para protege-las.

O Nível Tático

Este é o nível onde se executam as ações de combate, logísticas e de apoio em geral, sem se preocupar com a relação entre elas. É o nível onde as coisas acontecem na prática. Cada grupo de forças desencadeia suas missões táticas ou administrativas e mantém seu foco nelas, não importando o que as outras estão fazendo, cabendo aos comandantes operacionais se preocupar com isto.

O planejamento neste nível é mais mecânico, rígido e objetivo do que criativo, mais atrelado aos manuais de campanha, embora sempre sejam necessárias as iniciativas pessoais destes comandantes e suas habilidades que fazem a diferença, uma vez que no nível tático as ações são um conjunto de técnicas de combate aplicadas em uma ordem pré-definida, e a técnica tende a variar muito pouco. A competência dos comandantes é fator preponderante, já que cabe a eles orientar suas tropas, motivá-las e coordenar as diversas ações a serem executadas, em um ambiente de alta pressão inimiga, bem como criar os planos destas ações.

No nível tático, por exemplo, os paraquedistas aliados saltam na Normandia e vão em busca de suas pontes, não se importando se a infantaria que desembarcará nas praias está desencadeando suas ações, enquanto que no nível operacional os paraquedistas estão lá para proteger o desembarque. Neste caso o nível estratégico preocupa-se na consolidação da cabeça de praia, sem se ater se haverá ou não paraquedistas.




A Relação entre os Níveis da Guerra

Ao se engajar em combate, uma força aplica todo o seu poderio para alcançar o sucesso desejado, seja no combate propriamente dito ou nas ações de apoio e administrativas. Porém se o sucesso obtido nesta ou naquela operação não contribuir para consecução do objetivo estratégico, de nada o esforço, por mais memorável que seja, terá sido útil. Um sucesso tático não terá valor se não for parte de um esforço maior para vencer a guerra. De nada adiantaria os paraquedistas na Normandia conquistarem uma ponte, se ela não servisse para as tropas de desembarque avançarem ou de bloqueio ao contra-ataque alemão, por mais bem executada que a ação fosse. 


Um sucesso tático, por si só, não resulta em um sucesso estratégico. No Vietnam os EUA venceram muitas batalhas, aplicaram seu poder de fogo esmagador e desdobraram seu aparato militar superior, e mesmo assim perderam a guerra. Todas as ações tem que convergir para um único caminho, como os afluentes de um rio que o tornam cada vez maior, não contribuindo aqueles que não desaguam ali.

O nível operacional situa-se justamente como uma ponte entre a estratégia as ações táticas. Ele escolhe quais batalhas serão empreendidas, cabendo aos comandantes táticos conceber a melhor forma de vencê-las. O comandante operacional é o comandante do teatro de operações, e sob suas ordens todas as esquadras navais, forças aéreas designadas e exércitos de campo deste teatro atuarão; onde, como e quando seu comando decidir, sob comando único, escolhendo em que condições oferecerão combate ou o recusarão.

A estratégia determinará quais ações de grande vulto, militares ou não, deverão ser postas em prática para a consecução dos objetivos políticos, porém ela deverá adaptar-se à realidade que moldarão as operações. Uma estratégia concebida à margem do contexto do possível se mostrará inútil e resultará em consequências nefastas, desperdiçará recursos e levará à ruína do todo.

A estratégia proverá os recursos e ativará o apoio político aos operadores militares, e o comandante operacional avaliará o que lhe foi disponibilizado, buscará mais se julgar insuficiente e proporá a adequação dos objetivos se concluir que são intangíveis. Cabe a estratégia ainda, baseada nas diretrizes políticas, impor as restrições que se façam necessárias aos seus operadores.

Enquanto os comandantes táticos lutam as batalhas, os operacionais olham além delas e preveem seu resultado, antecipando-os, baseados no seu desenrolar, e reconfiguram seus planos se as coisas não correrem como o planejado; exploram em proveito dos objetivos estratégicos, êxitos não previstos e os canalizam em favor daqueles, abreviando ações que não se façam mais necessárias e implementando outras, requeridas pela nova situação criada.

Embora exista uma hierarquia clara entre os citados níveis, não existe uma linha divisória bem definida entre eles. Ações táticas empregando técnicas de combate consagradas, porém não imutáveis, seguem um plano com vistas a cumprir o planejamento das campanhas, que por sua vez são o componente de um conjunto maior de ações que visam a cumprir objetivos estratégicos, que nada mais são que a expressão militar dos objetivos políticos.

Planos e ações elaborados e executados com desempenho acima do esperado por um determinado nível, poderão superar desempenhos medianos em outro, porém operadores incapazes ou incompetentes quase sempre pesarão negativamente sobre todo o esforço. Inabilidade tática não é corrigida por planos de ação bem concebidos, e ações operacionais de sucesso são inúteis se a estratégia for falha.




A Campanha

A campanha é a ferramenta pela qual o comandante operacional ou de teatro busca alcançar seus objetivos. Todas as campanhas e seus desdobramentos deverão ser coordenadas, convergentes aos objetivos e neles focalizadas, cabendo a elas pavimentar o caminho da vitória final. O desfecho de um embate só tem significado no contexto da campanha que o originou, e o sentido desta só pode ser visualizado no contexto maior dos objetivos estratégicos. Elas podem durar poucos dias ou até anos, englobar grandes contingentes ou apenas unidades restritas, mobilizar todo o alto escalão de comando chegando até os níveis políticos ou contar com apenas alguns comandantes de teatro. São empreendidas em sequência ou simultaneamente e buscam na maior parte das vezes um único objetivo.

Devido aos imponderáveis da guerra, o desenrolar de uma campanha é incerto, mutável e fluído, exigindo do comandante correções constantes de rumo. O primeiro princípio que se deve observar na condução de uma campanha depois de seu objetivo é o da economia. Qualquer ação que não contribua para o objetivo deve ser evitada. O objetivo operacional pode mudar durante a campanha, devido a insucessos, custos inaceitáveis, conquistas imprevistas, etc... porém o objetivo estratégico deve ser mantido em foco. Quanto mais limitado for o conflito, mais difícil será explicitar os objetivos a serem alcançados, e por consequência elencar as condições e serem transpostas para se atingi-lo.

Uma campanha deve ser planejada do fim para o início, partindo dos objetivos estratégicos, e daí definir as ações táticas necessárias. A melhor forma de derrotar o inimigo é neutralizando aquilo que de mais crítico ele possui para implementar sua reação, seu centro de gravidade operacional. Este fator pode não estar disponível para neutralização imediata, e as condições para tal deverão ser construídas. A partir daí se lista "o que", "como" e "quando", sempre procurando não explicitar a verdadeira intenção do que se pretende, de forma a não induzir o inimigo a reforçar suas defesas ao verdadeiro intento, desencadeando a ação no tempo adequado, da forma mais rápida e fluida possível. Quando se desembarcou na Normandia, se montou uma operação de grande vulto para que os alemães acreditassem que o desembarque se daria em Pas de Calais, isto evitou que tropas lá dispostas fossem deslocadas para o objetivo real.




domingo, 10 de janeiro de 2016

O Pelotão de Infantaria #117



O pelotão é a unidade tática básica da infantaria e base para a formação das companhias. Sua organização pode variar de uma força para outra, porém as variações não são significativas. Mesmo em unidades de infantaria de uma mesma força a composição do pelotão pode mudar de acordo com as singularidades de cada tropa. Um fator determinante da composição de cada tipo de tropa é a capacidade dos veículos que a transportam, pois procura-se acomodar cada "grupo" de forma coesa em um mesmo veículo, seja ele um helicóptero, viatura blindada ou outro qualquer.

No Exército Brasileiro, o pelotão de infantaria é formado por 3 grupos de combate (GC) e 1 grupo de comando e 1 grupo de armas de apoio. No US Army a denominação do GC é de esquadrão (squad), e a organização do pelotão é muito semelhante, totalizando no modelo aqui descrito 42 integrantes.  Uma das capacidades principais do pelotão de infantaria é a de organizar-se como força-tarefa tática, com seus elementos orgânicos e outros agregados em reforço de acordo com cada missão, dando ao comandante de companhia um fração de tropa altamente flexível e poderosa, que pode cumprir tarefas de forma autônoma como parte do esforço desta e do batalhão. A arma do combatente de infantaria é o fuzil de assalto, e a exceção dos metralhadores é dotação comum a todos eles. 




O Grupo de Comando

O grupo de comando (platoon headquarters - PLT HQ no US Army) do pelotão tem por missão prover comando e controle (C2) aos demais. Este grupo atua ainda nas funções de ligação com sua companhia, com os elementos que fornecem apoio de fogo e apoio logístico. Tipicamente é formado por um oficial subalterno ou tenente líder de pelotão, um sargento antigo adjunto ao líder que atua como subcomandante e um sargento ou cabo operador de sistemas de comunicação ou radioperador (RTO no US Army). Conta ainda com um sargento "caçador" (Sniper) e um cabo observador auxiliar deste. Esta equipe agrega a função de observador avançado (OA) dos grupos de morteiros e são os encarregados da ajustagem do tiro destes. Um sexto integrante é um sargento paramédico ou enfermeiro, e ainda, se for o caso, um motorista.



O Líder de Pelotão

O líder do pelotão deve comandar com base no exemplo, com a autoridade que lhe é de direito, assumindo a responsabilidade global pelas ações de seus subordinados, agindo de forma decisiva nas ações e na manutenção da disciplina. Quando em combate sua atuação deverá ser no sentido da atribuição de missões específicas a cada um, sempre dando espaço a iniciativa de seus comandados.

Mesmo tendo a última palavra nas decisões, deverá aconselhar-se sempre com seu sargento adjunto e conhecer todas a facetas operacionais do emprego de seu grupo. São atribuições do líder:
  • Acionar o pelotão no cumprimento das missões que lhes são atribuídas pelo escalão superior, levando-o de encontro com os objetivos deste;
  • Orientar a manobra do pelotão;
  • Sincronizar seus GCs para que manobrem de forma harmônica;
  • Antecipar as ações que o pelotão deverá executar;
  • Solicitar os apoios que forem necessários;
  • Fornecer aos GCs total suporte de C2;
  • Planejar e implementar a segurança de seu pelotão;
  • Orientar o desdobramento das armas do pelotão;
  • Elaborar relatórios aos seus superiores;
  • Posicionar-se da forma mais adequada quando em ação;
  • Atribuir tarefas e objetivos claros, concisos e realizáveis aos seus GCs;
  • Inteirar-se e entender a missão de sua companhia e batalhão.

O líder deverá sempre estar ciente da situação em que está inserido. Deverá conhecer a situação das tropas amigas, inimigas e neutras; bem como as condições do terreno. Deverá visualizar a situação a ser configurada depois do cumprimento de sua missão e tomar as medidas necessárias para ligar o presente ao futuro esperado, sempre avaliando os riscos envolvidos e tomando as medidas para minimizá-los. 


O Adjunto de Pelotão

O adjunto do pelotão (PSG no US Army) é o auxiliar direto do líder, segundo em comando e conhecedor da tática operacional e todas as armas orgânicas e de apoio. Sua função é assessorar o líder no planejamento e zelar junto aos GCs pelo cumprimento de suas ordens. Suas funções básicas são:
  • Supervisionar o pelotão a fim de garantir seu apronto, com checagens pré-combate e inspeções;
  • Estar apto a assumir a liderança do pelotão, se necessário;
  • Posicionar-se da melhor forma para exercer as tarefas de C2, seja junto a base de fogo ou aos elementos de assalto;
  • Zelar pelo apoio logístico do pelotão, gerenciando inclusive a carga de combate;
  • Zelar pelo apoio médico aos soldados sinistrados, com evacuação de feridos e mortos, controlando as baixas e emitindo relatórios com vistas a reposição de pessoal;
  • Operar os sistemas digitais de C2 do pelotão;
  • Inteirar-se e entender a missão de sua companhia e batalhão, tal qual o líder.

O Rádio-Operador do Pelotão

O rádio-operador (RTO no US Army) é o operador da comunicação do pelotão com o comando de sua companhia, e deve manter o líder e seu adjunto cientes da condição de seus sistemas. Deve ter afinidade com todos os procedimentos de radiotelefonia e emissão de relatórios, pedidos de apoio de fogo e antenas de campo de todos os tipos, além de gerenciar o uso de baterias. Deve ainda conhecer os protocolos de comunicação (frequências e sinais de chamada) de sua companhia e batalhão e dar ciência deles a todos os membros do pelotão, assim como auxiliar na operação dos sistemas eletrônicos de C2.

O Observador Avançado do Pelotão/ "Caçador"

O Sargento "caçador" atua como o observador avançado (OA) do pelotão (FO no US Army), e apoiado pelo Operador de rádio é o responsável pelo planejamento e execução dos fogos de apoio (indiretos), incluindo os morteiros da companhia e do batalhão, artilharia de campanha e outros fogos colocados a disposição. Deve saber localizar e designar alvos, chamar os fogos de apoio e ajustá-los. Deve conhecer a missão do pelotão e os conceitos operacionais afins, bem como a doutrina de fogos de apoio. dentre suas funções específicas destacamos:
  • Manter ciente as equipes de coordenação de apoio de fogo da companhia e do batalhão sobre a localização do pelotão e suas necessidades de apoio de fogo;
  • Manter atualizados mapas e croquis do terreno;
  • Chamar e ajustar fogos de apoio;
  • Operar como equipe junto ao operador de rádio;
  • Selecionar alvos em potencial e informar sua localização ás equipes de coordenação de apoio de fogo;
  • Escolher e preparar os postos de observação (POs) e viabilizar suas rotas de acesso;
  • Operar os terminais digitais de contato com as equipes de coordeção de apoio de fogo;
  • Atuar como atirador de precisão.

O Paramédico do Pelotão

O paramédico do pelotão atua junto ao sargento adjunto no apoio médico ao pelotão, sempre interagindo com as equipes médicas da companhia e do batalhão. Deve zelar pela saúde preventiva dos integrantes do pelotão, e trabalhar no tratamento e evacuação de feridos. Cabe a ele ainda aconselhar o adjunto em assuntos afins, gerenciar o suprimento médico (classe VIII) e elaborar os relatórios médicos solicitados.

A Esquadra

A esquadra (Fire Team no US Army) é o núcleo do pelotão, e constituída para lutar como uma equipe monolítica. Podem atuar de forma auto-suficiente no combate direto ao inimigo, dentro é claro do envelope de combate do pelotão. É comumente constituída por 4 elementos: Um fuzileiro-metralhador (AR no US Army) que fornece volume de fogo a esquadra e é a base de fogo direto desta, alocando fogos contínuos sobre pequenas áreas; o fuzileiro-atirador que bate alvos ponto de curto alcance com disparos de precisão e fornece segurança e inteligência aos demais; um fuzileiro-granadeiro que pode bater pequenas áreas com fogos indiretos explosivos (HE) de curto alcance, inclusive em ângulos mortos; Um cabo líder de esquadra (TL no US Army) que fornece o C2 desta e complementa a ação do fuzileiro-atirador. O binômio metralhador-granadeiro é a base de fogo da esquadra.



O Fuzileiro-Atirador

Cabe ao fuzileiro atirador o fogo de precisão da esquadra. Ele prove segurança ao núcleo de fogo da esquadra e trabalha como observador na busca de alvos para o este. São suas atribuições:


  • Efetuar fogo certeiro com seu fuzil e ser especialista em seu emprego, além de saber operar todas as armas da esquadra e poder substituir seus pares, atuando constantemente na segurança de sua equipe;
  • Ser capaz ocupar posições rapidamente de onde possa fazer fogo com eficácia, de dia ou à noite, utilizando os princípios de coberta e abrigo, fortificá-la e camuflá-la;
  • Ter habilidade de transpor obstáculos como campos minados, arame farpado, fossos e paredes, apoiar a lida com prisioneiros, feridos e equipes de demolição; 
  • Repassar ao seu líder toda a informação relevante que adquirir em ação ou que possa ser útil ao esforço da equipe;
  • Atuar em prol da saúde da equipe aplicando medidas de segurança médico-sanitárias ao seu alcance. bem como ter conhecimento de medicina básica de combate;
  • Estar ciente da missão de sua esquadra, pelotão e companhia.


O Fuzileiro-Granadeiro

O granadeiro prove a esquadra fogo de trajetória alta para bate ângulos mortos e forçar o inimigo a abandonar seu abrigo. Todos os soldados podem portar granadas de mão, mas o granadeiro é o único a poder lançar granadas a distâncias maiores (cerca de 300 a 400 m), pode ainda alvejar veículos levemente blindados, desdobrar barreiras de fumaça e iluminar ponto específicos do terreno. Deve ser especialista em seu lançador de granadas e suas munições, sabendo seus limites de segurança. e estar apto a desempenhar todas as funções dos outro integrantes da esquadra. Compõem o núcleo de fogo da esquadra com o metralhador.




O Fuzileiro-Metralhador

O metralhador fornece volume de fogo direto a esquadra e é o componente senior do núcleo de fogo da esquadra. Pode endereçar seus projéteis a qualquer tipo de alvo, menos àqueles abrigados ou providos de armadura. Deve poder ainda substituir qualquer outro integrante da esquadra. Devido a natureza de seu armamento de emprego coletivo, poderá portar uma pistola para defesa pessoal.

O Líder de Esquadra

As atribuições do líder já foram citadas e são invariáveis qualquer que seja o escalão. Ele deve receber suas ordens as cumprir com total liberdade de ação tendo sua iniciativa valorizada. Deve ter a capacidade de pensar rápido e agir demonstrando atitude, imediatismo e precisão, inerentes ao combate de infantaria. O líder ainda complementa a missão do atirador.

Os movimentos da esquadra devem seguir a tradicional prática da infantaria de mover-se rapidamente de um ponto a outro quando o companheiro estiver fazendo fogo, e ao chegar lá fazer fogo para que este possa mover-se. Atirar e manobrar. Todo cuidado deve ser tomado para não se atravessar a linha de fogo dos companheiros.

O Grupo de Combate (GC) ou Esquadrão

O grupo de combate (Squad no US Army)  é formado por 2 esquadras mais um sargento Líder (SL no US Army). Quando embarcados cabem em um IFV ou helicóptero de manobra. É a célula base que o comandante de pelotão usa para manobrar. O sargento comandante de GC tem 2 equipes (esquadras) a disposição e as usa em conjunto; enquanto uma atira a outra manobra.















O líder de GC desempenha as tarefas de líder já citadas, deve ser capaz de substituir o adjunto de pelotão desempenhando todas as suas tarefas e solicitar e ajustar apoio de fogo.

O Atirador de Precisão Designado

Um GC pode ser reforçado por um atirador designado (SDM no US Army) pelo comandante do pelotão, quando for necessário. Este atirador deve estar especialmente treinado em fogo de precisão. Não são franco-atiradores e nem operam nos alcances limite destes, e muito menos de forma autônoma, mas como componentes do GC e sob as ordens de seu líder. Usam armas disponíveis na unidade com mira ótica reforçada.




Ele deve ser escolhido por suas habilidades de tiro, maturidade, experiência, confiabilidade e bom senso. Sua função é a de alvejar alvos de alto valor como oficiais, radio-operadores, metralhadores, atiradores de precisão, operadores de lançadores de rojão e outros. Devem ter a capacidade de alvejar alvos fugazes e expostos por curtos períodos de tempo, em frestas e fendas, parado e em movimento. Pode-se designar um atirador por esquadra no lugar do fuzileiro-atirador, criando-se duas equipes equilibradas e altamente flexíveis, capazes de atingir alvos em distâncias superiores às usuais.

Estes atiradores devem receber treinamento especial no uso de miras telescópicas, tiro de veículos, tiro em movimento, tiro noturno, tiro de engajamento rápido, tiro em combate aproximado (close combat), tiro em até 600 metros, posições de tiro não usuais e tiro de alvo em movimento a longa distância.

O emprego destes atiradores é particularmente indicado em situações onde a precisão é mais importantes que o volume de fogo, como em situações de contra-insurgência, em áreas urbanos a fim de não alvejar civis, em alcances fechados de necessidade imediata, quando o inimigo também os está empregando, situações diversionárias, vigilância de setores e corredores específicos, entre outras.

O Grupo de Armas de Apoio


O grupo de armas de apoio é formado por 2 equipes de metralhadoras médias e 2 equipes de fogo pesado com lançadores de rojões de grande calibre, mais um líder de equipe.



Os Metralhadores

As equipes de metralhadoras médias são compostas cada uma por um metralhador e um metralhador assistente que portam armas de maior potência que as metralhadoras ligeiras que equipam as esquadras, com alcances de até 1.000 metros, fornecendo fogo de supressão de médio alcance. Ao metralhador e seu assistente cabem colocar uma metralhadora média em ação, cuidar de sua manutenção, conhecer sua doutrina de emprego e seu comportamento balístico. Devem ainda assistir seu líder quanto ao emprego da arma, bem com estar apto a substituí-lo, além de conhecer a missão de seu pelotão e companhia. Ao assistente cabe estar apto a assumir o controle da arma se necessário, controlar o fornecimento de munição e trabalhar na designação de alvos ao metralhador sênior.




Os Operadores de Lançadores de Rojões

As equipes de lançadores de rojões são compostas por 1 atirador e 1 assistente. Estas equipes podem operar lançadores de foguetes (rojões) como o AT-4 ou Carl Gustav, ou ainda mísseis leve como Javelin. Elas fornecem ao pelotão uma significativa capacidade anticarro, bem como poder de fogo contra posições fortificadas, em alcances médios. Cabe aos membros da equipe as mesmas funções das equipe de metralhadores, e ao assistente em especial, o gerenciamento no fornecimento de munição. A estas equipes poderão ser alocados mísseis anticarro de maior potência se assim for necessário.

O Líder do Grupo de Armas de Apoio

O líder deste grupo é o substituto natural do adjunto do pelotão e deve conhecer todas as suas atribuições. As demais funções do lider são as mesma já elencadas. Cabe a eles aconselhar diretamente o líder do pelotão quanto ao plano de fogo deste grupo, o gerenciamento do fornecimento de munição do pelotão em auxílio ao sargento adjunto e ao planejamento de emprego das armas de seu grupo.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Fundamentos do Combate de Infantaria #116



A infantaria é uma tropa que pode combater qualquer tipo de missão, em qualquer ambiente. Suas ações lastreadas no combate aproximado (close combat), geram nos combatentes grande estresse psicológico, devido à extrema violência do contato próximo, com proximidade corpo-a-corpo em muitas ocasiões e visualização dos semblantes inimigos, além dos efeitos físicos que os embates geram nos combatentes feridos e mortos, sejam ele amigos ou não. Ao engajar-se em um combate, deve-se fazê-lo de forma insensível e implacável, sob pena de permitir ao inimigo conquistar a iniciativa e o comando da situação, exigindo ao extremo as qualidades físicas e mentais dos soldados. É a necessidade de se estar preparado para este tipo de situação-limite que norteia o treinamento do combatente, sobretudo do combatente de infantaria, treinamento este muitas vezes incompreendido por aqueles que nada sabem sobre o ofício das armas.

De todos os ramos da atividade militar, a infantaria é única devido a sua proficiência combativa estar centrada na ação do indivíduo. Enquanto outros ramos da organização militar se concentram na operação de sistemas e plataformas de armas, a infantaria tem como base a ação individual atuando em prol de uma equipe, sendo os indivíduos e não suas armas o centro de sua atuação. Esta característica enfatiza a disciplina individual, a iniciativa responsável e a capacidade de liderança como fatores determinantes ao sucesso destes combatentes.

Embora o campo de batalha possa ser alcançado por uma variedade grande de meios, é através da mobilidade a pé que o soldado de infantaria luta no final das contas. Atirar e manobrar é a premissa básica deste tipo de combate, pois nem o movimento e nem o fogo, quando empregados isoladamente, produzem resultados decisivos. Combatentes de infantaria tem que alocar grande volume fogo certeiro, em curtos intervalos de tempo e em qualquer direção, ao mesmo tempo em que se move para onde for necessário, quantas vezes a situação exigir, transpondo condições das mais diversas e singulares. Esta realidade impõem aos combatentes e comandantes, 3 limitações distintas:
  • Coordenar a linha de avanço de forma a manter a coesão e não criar vulnerabilidades;
  • Dimensionar a carga individual de cada soldado, de forma a ter sempre disponível seu equipamento e munição suficiente sem no entanto comprometer sua capacidade física e poder de combate e;
  • Preservar as condições físicas e morais dos combatentes, sempre vulneráveis aos efeitos dos fogos direto e indireto, e maltratos do ambiente e das duras condições de combate.

Os infantes enfrentam situações que exigem de seus líderes a rápida compreensão da situação tática e conseqüente tomada de decisão oportuna. O combate pode-se dar ofensivamente para conquistar terreno e subjugar o adversário, e defensivamente para negar o terreno e proteger forças amigas, que modernamente é feito de forma ofensiva a fim de preservar a iniciativa e o comando das ações. Seja qual for a situação o infante sempre está atacando ou se preparando para atacar. Ataque e defesa são operações de amplo espectro e diferenciadas apenas nos escalões mais altos, sendo indiferentes aos pelotões e pequenas frações.



Princípios Táticos da Infantaria

O combate da infantaria está centrado na manobra e vantagem tática, na combinação efetiva de seus meios de combate, na capacidade de liderança e tomada efetiva de decisões, no poder combativo de cada unidade ou fração e no entendimento correto da situação tática.

A manobra tática como já descrito é a aplicação do poder de combate. Movimentar-se a fim de alcançar posições efetivas ao fogo das armas e atirar para possibilitar o movimento são a base da manobra de infantaria. Fogo sem movimento não produz resultados decisivos e movimento sem fogo torna os combatentes vulneráveis com resultados potencialmente desastrosos.

A vantagem tática consiste no aproveitamento de todos os fatores presentes em cada situação; valendo-se sempre que possível de facilitadores do terreno e do clima, treinamento e tecnologias superiores, surpresa nas ações engajando o inimigo quando está despreparado, eficiente escopo defensivo e de segurança, conhecimento dos dispositivos e pontos fortes e fracos do inimigo, poder de fogo superior, organização, disciplina e moral elevados. Impor ao inimigo problemas inesperados e insolúveis, evitando-se procedimentos óbvios e previsíveis.

A combinação de meios de combate como tipos de armas e munições, apoio de unidades externas como operadores de engenharia de combate e alocação de fogos de artilharia e morteiros, solicitação de apoio aéreo aproximado e apoio a mobilidade por helicópteros, entre outras; valendo-se do conceito sempre eficaz das armas combinadas.

Liderança é a capacidade de incutir em seus subordinados com convencimento o que fazer e o porquê de fazê-lo, deixando o como a critério deles e do seu treinamento. O líder deve ter autoridade reconhecida pelos seus subordinados e liderar pelo exemplo. A tomada de decisões deve ser feita seja no tanto no planejamento das ações como na preparação, execução e avaliação delas. O líder deve exercer o comando e o controle das ações de sua equipe, com avaliações precisas e decisões oportunas, além de eficiente gestão de riscos.

O comando e o controle de um pequeno efetivo de infantaria em combate se dá em torno das funções de combate. Estas funções são o equivalente de pequeno escalão dos sistemas operacionais. São elas as funções de Inteligência, Manobra, Apoio de fogo, Proteção, Suporte logístico e Comando e controle (C2). A cada uma desta funções são alocados pessoal, organização, informação e processos para que se efetivem na prática. Cabe aos comandantes conduzir operações e adestramento em torno das funções de combate.

A Inteligência envolve as tarefas que tratam da compreensão do inimigo, as considerações sobre o terreno e o clima, e as influências dos combate junto a população civil e vice-versa. Envolve ainda as tarefas de vigilância e reconhecimento.

A Manobra é a função que trata da movimentação dos combatentes antes durante e depois do combate, associando a esta o fogo necessário a sua segurança e a degradação do poder combatente inimigo, mobilidade e contra-mobilidade. Através da manobra se alcança o choque, a surpresa e a dominância da situação.

O Apoio de fogo envolve as tarefas de pedido e coordenação de fogos indiretos providos pelo escalão superior. Incluir ainda as funções de sincronização e integração com outras funções de combate.

A Proteção é a função de combate que visa implementar ações de preservação dos combatentes e seus meios, a fim de manter a segurança da tropa e integridade do poder de combate. Incluir as tarefas de prevenção ao fratricídio, defesa antiaérea e antimíssil, prevenção de ações subterrâneas hostis como sabotagens e atentados, ações de sobrevivência, contra-informação, apoio médico-sanitário e atos de segurança direta.

O Suporte logístico é o conjunto de tarefas que visem a sustentação em condições operacionais da tropa através de serviços do suprimento de munição, equipamento, víveres e outros itens necessários; manutenção do equipamento; mobilidade; serviços como o banho e a lavanderia; correspondência; recursos humanos; gestão financeira; serviços de engenharia em geral; apoio religioso; apoio aos serviços de saúde e manuseio de material explosivo a ser destruído. Estes serviços garante a permanência da tropa em operação e geralmente são providos pelo escalão superior em sua maior parte.

As tarefas de C2 envolvem a execução da autoridade e direção. É através das C2 que o comandante integra as outras funções de combate, gerenciando informações relevantes, valendo-se de redes de computadores e sistemas de comunicações, e fazendo chegar a tropa subordinada as ordens e orientações.

Poder de combate é o nível de efetividade que uma unidade operacional pode aplicar sobre o inimigo. É a eficácia da capacidade de lutar. Os líderes da infantaria valem-se das tarefas de planejar, preparar, executar e avaliar para gerar poder de combate. O comandante tático deverá aplicá-lo aos seu objetivo a fim de cumprir sua missão, combinando movimento, poder de fogo e proteção para atingir este objetivo. O entendimento de cada situação, única em combate, é vital a superação do objetivo. Ao planejar cada ação, o líder deverá entender seu propósito e como seu objetivo está inserido no objetivo do escalão superior.

O Combate Aproximado

Um combate aproximado é caracterizado pelo perigo, sacrifício físico, incerteza e oportunidade. Para enfrentá-lo o soldado deverá ter coragem, tenacidade física, equilíbrio mental e flexibilidade.

A coragem é a capacidade de vencer o medo, normal nestas situações, e enfrentar o perigo, sempre presente. Ela é resultante de condicionamento mental forjado em treinamentos contínuos e realistas, conhecimento das técnicas e práticas de combate, entusiasmo, orgulho e crença na causa que defende. A tenacidade física é resultante de condicionamento físico constante e permite ao soldado enfrentar o cansaço e a fadiga muscular. Equilíbrio mental reflete o nível de maturidade que o soldado atingiu. Ele fornece os meios psicológicos para que o soldado coloque a razão como dominante aos efeitos emocionais da situação e tenha capacidade de fazer com competência o que precisa ser feito para cumprir a missão. Avaliar a situação diante da incerteza relativa e tomar decisões dentro do razoável valendo-se das informações disponível é o que se espera. Flexibilidade é a capacidade de lidar com o acaso. O acaso é imprevisível, acontece aos dois lados que se enfrentam, e tem que ser tratado com decisões lógicas e que contribuam para o cumprimento da missão.