A
infantaria é uma tropa que pode combater qualquer tipo de missão, em qualquer
ambiente. Suas ações lastreadas no combate aproximado (close combat), geram nos
combatentes grande estresse psicológico, devido à extrema violência do contato
próximo, com proximidade corpo-a-corpo em muitas ocasiões e visualização dos
semblantes inimigos, além dos efeitos físicos que os embates geram nos combatentes
feridos e mortos, sejam ele amigos ou não. Ao engajar-se em um combate, deve-se
fazê-lo de forma insensível e implacável, sob pena de permitir ao inimigo
conquistar a iniciativa e o comando da situação, exigindo ao extremo as
qualidades físicas e mentais dos soldados. É a necessidade de se estar
preparado para este tipo de situação-limite que norteia o treinamento do
combatente, sobretudo do combatente de infantaria, treinamento este muitas vezes
incompreendido por aqueles que nada sabem sobre o ofício das armas.
De
todos os ramos da atividade militar, a infantaria é única devido a sua
proficiência combativa estar centrada na ação do indivíduo. Enquanto outros
ramos da organização militar se concentram na operação de sistemas e
plataformas de armas, a infantaria tem como base a ação individual atuando em
prol de uma equipe, sendo os indivíduos e não suas armas o centro de sua
atuação. Esta característica enfatiza a disciplina individual, a iniciativa
responsável e a capacidade de liderança como fatores determinantes ao sucesso
destes combatentes.
Embora
o campo de batalha possa ser alcançado por uma variedade grande de meios, é
através da mobilidade a pé que o soldado de infantaria luta no final das
contas. Atirar e manobrar é a premissa básica deste tipo de combate, pois nem o
movimento e nem o fogo, quando empregados isoladamente, produzem resultados
decisivos. Combatentes de infantaria tem que alocar grande volume fogo
certeiro, em curtos intervalos de tempo e em qualquer direção, ao mesmo tempo
em que se move para onde for necessário, quantas vezes a situação exigir,
transpondo condições das mais diversas e singulares. Esta realidade impõem aos
combatentes e comandantes, 3 limitações distintas:
- Coordenar
a linha de avanço de forma a manter a coesão e não criar vulnerabilidades;
- Dimensionar
a carga individual de cada soldado, de forma a ter sempre disponível seu equipamento
e munição suficiente sem no entanto comprometer sua capacidade física e poder
de combate e;
- Preservar
as condições físicas e morais dos combatentes, sempre vulneráveis aos efeitos
dos fogos direto e indireto, e maltratos do ambiente e das duras condições de
combate.
Os
infantes enfrentam situações que exigem de seus líderes a rápida compreensão da
situação tática e conseqüente tomada de decisão oportuna. O combate pode-se dar
ofensivamente para conquistar terreno e subjugar o adversário, e defensivamente
para negar o terreno e proteger forças amigas, que modernamente é feito de
forma ofensiva a fim de preservar a iniciativa e o comando das ações. Seja qual
for a situação o infante sempre está atacando ou se preparando para atacar.
Ataque e defesa são operações de amplo espectro e diferenciadas apenas nos
escalões mais altos, sendo indiferentes aos pelotões e pequenas frações.
Princípios
Táticos da Infantaria
O
combate da infantaria está centrado na manobra e vantagem tática, na combinação
efetiva de seus meios de combate, na capacidade de liderança e tomada efetiva
de decisões, no poder combativo de cada unidade ou fração e no entendimento
correto da situação tática.
A
manobra tática como já descrito é a aplicação do poder de combate.
Movimentar-se a fim de alcançar posições efetivas ao fogo das armas e atirar
para possibilitar o movimento são a base da manobra de infantaria. Fogo sem
movimento não produz resultados decisivos e movimento sem fogo torna os
combatentes vulneráveis com resultados potencialmente desastrosos.
A
vantagem tática consiste no aproveitamento de todos os fatores presentes em
cada situação; valendo-se sempre que possível de facilitadores do terreno e do
clima, treinamento e tecnologias superiores, surpresa nas ações engajando o inimigo
quando está despreparado, eficiente escopo defensivo e de segurança,
conhecimento dos dispositivos e pontos fortes e fracos do inimigo, poder de
fogo superior, organização, disciplina e moral elevados. Impor ao inimigo
problemas inesperados e insolúveis, evitando-se procedimentos óbvios e
previsíveis.
A
combinação de meios de combate como tipos de armas e munições, apoio de
unidades externas como operadores de engenharia de combate e alocação de fogos
de artilharia e morteiros, solicitação de apoio aéreo aproximado e apoio a
mobilidade por helicópteros, entre outras; valendo-se do conceito sempre eficaz
das armas combinadas.
Liderança
é a capacidade de incutir em seus subordinados com convencimento o que fazer e o
porquê de fazê-lo, deixando o como a critério deles e do seu treinamento. O líder deve ter
autoridade reconhecida pelos seus subordinados e liderar pelo exemplo. A tomada
de decisões deve ser feita seja no tanto no planejamento das ações como na
preparação, execução e avaliação delas. O líder deve exercer o comando e o
controle das ações de sua equipe, com avaliações precisas e decisões oportunas,
além de eficiente gestão de riscos.
O comando
e o controle de um pequeno efetivo de infantaria em combate se dá em torno das
funções de combate. Estas funções são o equivalente de pequeno escalão dos
sistemas operacionais. São elas as funções de Inteligência, Manobra, Apoio de
fogo, Proteção, Suporte logístico e Comando e controle (C2). A cada uma desta
funções são alocados pessoal, organização, informação e processos para que se
efetivem na prática. Cabe aos comandantes conduzir operações e adestramento em
torno das funções de combate.
A
Inteligência envolve as tarefas que tratam da compreensão do inimigo, as considerações
sobre o terreno e o clima, e as influências dos combate junto a população civil
e vice-versa. Envolve ainda as tarefas de vigilância e reconhecimento.
A
Manobra é a função que trata da movimentação dos combatentes antes durante e
depois do combate, associando a esta o fogo necessário a sua segurança e a
degradação do poder combatente inimigo, mobilidade e contra-mobilidade. Através
da manobra se alcança o choque, a surpresa e a dominância da situação.
O
Apoio de fogo envolve as tarefas de pedido e coordenação de fogos indiretos
providos pelo escalão superior. Incluir ainda as funções de sincronização e
integração com outras funções de combate.
A
Proteção é a função de combate que visa implementar ações de preservação dos
combatentes e seus meios, a fim de manter a segurança da tropa e integridade do
poder de combate. Incluir as tarefas de prevenção ao fratricídio, defesa
antiaérea e antimíssil, prevenção de ações subterrâneas hostis como sabotagens
e atentados, ações de sobrevivência, contra-informação, apoio médico-sanitário e
atos de segurança direta.
O
Suporte logístico é o conjunto de tarefas que visem a sustentação em condições
operacionais da tropa através de serviços do suprimento de munição,
equipamento, víveres e outros itens necessários; manutenção do equipamento;
mobilidade; serviços como o banho e a lavanderia; correspondência; recursos
humanos; gestão financeira; serviços de engenharia em geral; apoio religioso; apoio
aos serviços de saúde e manuseio de material explosivo a ser destruído. Estes
serviços garante a permanência da tropa em operação e geralmente são providos
pelo escalão superior em sua maior parte.
As
tarefas de C2 envolvem a execução da autoridade e direção. É através das C2 que
o comandante integra as outras funções de combate, gerenciando informações
relevantes, valendo-se de redes de computadores e sistemas de comunicações, e
fazendo chegar a tropa subordinada as ordens e orientações.
Poder
de combate é o nível de efetividade que uma unidade operacional pode aplicar
sobre o inimigo. É a eficácia da capacidade de lutar. Os líderes da infantaria
valem-se das tarefas de planejar, preparar, executar e avaliar para gerar poder
de combate. O comandante tático deverá aplicá-lo aos seu objetivo a fim de
cumprir sua missão, combinando movimento, poder de fogo e proteção para atingir
este objetivo. O entendimento de cada situação, única em combate, é vital a
superação do objetivo. Ao planejar cada ação, o líder deverá entender seu
propósito e como seu objetivo está inserido no objetivo do escalão superior.
O
Combate Aproximado
Um
combate aproximado é caracterizado pelo perigo, sacrifício físico, incerteza e
oportunidade. Para enfrentá-lo o soldado deverá ter coragem, tenacidade física,
equilíbrio mental e flexibilidade.
A
coragem é a capacidade de vencer o medo, normal nestas situações, e enfrentar o
perigo, sempre presente. Ela é resultante de condicionamento mental forjado em
treinamentos contínuos e realistas, conhecimento das técnicas e práticas de
combate, entusiasmo, orgulho e crença na causa que defende. A tenacidade física
é resultante de condicionamento físico constante e permite ao soldado enfrentar
o cansaço e a fadiga muscular. Equilíbrio mental reflete o nível de maturidade
que o soldado atingiu. Ele fornece os meios psicológicos para que o soldado
coloque a razão como dominante aos efeitos emocionais da situação e tenha
capacidade de fazer com competência o que precisa ser feito para cumprir a
missão. Avaliar a situação diante da incerteza relativa e tomar decisões dentro
do razoável valendo-se das informações disponível é o que se espera.
Flexibilidade é a capacidade de lidar com o acaso. O acaso é imprevisível,
acontece aos dois lados que se enfrentam, e tem que ser tratado com decisões
lógicas e que contribuam para o cumprimento da missão.