segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Planejamento Militar - O Exame da Situação (Parte 2) *205



Parte 1 - Generalidades

1ª Etapa - Exame da Situação

O exame da situação é a base de todo o processo de planejamento militar. O comandante concebe as linhas mestras daquilo que será executado. Se dá em 5 fases: 

1. Recebimento da missão e sua análise (reconhecimento do problema),

2. Entendimento da situação e sua compreensão (coleta e análise das restrições e suas relações com o problema),

3. Identificação das possibilidades do inimigo com suas possíveis linhas de ação (comparação das restrições e sugestão de possíveis soluções),

4. Comparação das linhas de ação propostas com àquelas que o inimigo possivelmente adotará (comparação entre as possíveis soluções) e

5. Tomada de decisão (escolha da solução).


Fase 1 - Análise da Missão (reconhecimento do problema)

Ao receber a missão o comando designado partirá para o seu entendimento, buscando conformar-se à intenção de seus superiores e aos problemas que desafiarão cada um de seus subordinados.

Neste momento procura-se formar uma ideia clara e completa do problema militar, compreendendo a situação que seu comandante busca e seus efeitos desejados, tanto do comando como os seus próprios. A partir da origem da missão a primeira linha que o comandante escreverá será o enunciado de sua tarefa e deduzirá o seu propósito, sempre de modo claro e preciso; enunciado este que poderá conter mais de uma tarefa e mais de um propósito, porém sempre unidos por uma única expressão “a fim de”, o que caracteriza uma única missão com um só planejamento. Cada missão tem seu processo específico. O comandante deverá procurar entender de forma abrangente a missão de seu superior e, se possível, a dos escalões mais elevados, formando um quadro abrangente do problema militar no maior nível possível, que resulte em conclusões amplas em que se possa identificar eventuais desvios para fora das diretivas recebidas e limitações que poderão afetar o planejamento.

Ao analisar a própria missão, o comandante deverá evitar análises vagas com pouca objetividade e que levem a planejamentos volumosos e confusos, com o enunciado da missão e seus propósitos sempre em vista. 

Um pequeno roteiro pode auxiliar em um resultado mais desejável:

1. Identificação dos efeitos desejados: Uma meta específica, realista e clara

2. Identificação dos objetivos principais e eventuais:

3. Contribuição para o efeito desejado pelo comando superior: Compara sua missão às dos outros comandantes de mesmo escalão, identificando se está realizando o esforço principal ou de apoio; Compara se sua linha de ação pode interferir na ação de outras unidades e toma medidas para corrigir a interferência; e por fim identifica as possibilidades de sua ação contribuir marginalmente para o esforço principal, e potencializa, se possível, esta contribuição

 4. Verifica se os objetivos eventuais contribuirão para a obtenção do efeito desejado do escalão superior, e se é conveniente executá-los;

5. Identifica se sua tarefa consiste em uma linha de ação pré-definida. Por exemplo: Uma patrulha de defesa aérea está lá para garantir a defesa de um determinado espaço aéreo em uma situação de conflito aberto, e se houver aeronaves inimigas, os caças em CAP deverão destruir estas aeronaves com seus mísseis (ação pré-definida).

6. Dados importantes relativos ao problema: São condicionantes impostas pelo superior com influência sobre o planejamento.

7. Limitações sobre o planejamento: A violação das limitações impostas ou existentes tornará a linha de ação inadequada.

8. Tempo: urgência e grau de prioridade da operação; tempo disponível para o planejamento e duração da operação, além de horário limite para o início;

9. Se a tarefa é estratégica, operacional ou tática, ofensiva, defensiva ou de apoio;

10. Quais as forças disponíveis, sua disponibilidade e grau de prontidão, onde estão e se devem ser deslocadas.

11. Regras de engajamento.

12. Relação da operação com outras em andamento.

13. Outras limitações impostas pelo comandante. Este deverá procurar impor o menor número de restrições possíveis, evitando reduzir a flexibilidade e amplitude das soluções.

14. Hipóteses Básicas (HB) são situações que podem se materializar ou não, das quais não se pode ter certeza devido à informações não consistentes. São formuladas pelo comandante, que fará suposições a respeito da operação futura e da situação presente. Quanto maior for o escalão, maiores serão os prazos de execução e a necessidade de hipóteses básicas. As hipóteses básicas do escalão superior serão tratadas como fatos pelo planejador subordinado. O comandante planejador formulará suas hipóteses baseadas em suas impressões, experiência e conhecimento. Estas hipóteses tomarão o lugar de um conhecimento imprescindível que não está disponível, e são fundamentais para que se complete a análise. A consideração da hipótese básica poderá ser desconsiderada se o planejamento levar em conta a situação mais desfavorável possível.

Para cada possibilidade existirá uma HB, e para cada uma deverá ser elaborado um plano de contingência (“plano B”). Estas hipóteses só deverão ser formuladas se estritamente necessárias, evitando-se esforços demasiados com planos desnecessários. A regra para validar uma hipótese básica é a possibilidade de interferência de forma significativa no plano que está sendo montado, caso se concretize ou não, e caso seja negativa deve ser descartada. Um plano abrangente e bem elaborado pode reduzir, ou mesmo eliminar o número de hipóteses básicas.

A formulação de uma hipótese básica requer conhecimento profundo da situação, experiência e conhecimentos profissionais, sendo que sua redação deverá descrever precisamente a situação que envolve o planejamento em curso.

Relação da missão com as de outros comandantes, suas interferências e possibilidades de sinergia;

15. Os efeitos desejados pelo inimigo devem ser considerados como o oposto dos efeitos desejados pelo comandante. É comum considerar-se que o inimigo possa fazer tudo o que de pior possa realizar dentro de suas limitações. Qualquer consideração mais branda deverá estar baseada em dados de alta confiabilidade.

16. Um resumo dos tópicos mais importantes já analisados facilitará consultas posteriores, visto que as missões são cíclicas e contínuas.


Fase 2 – Entendimento da Situação

Nesta fase o Comandante e seu Estado Maior, analisarão a Área de Operações e os meios e forças disponíveis, relacionando-os aos fatos já elencados. As conclusões desta análise servirão de lastro para a tomada de decisão.

O pequeno roteiro a seguir mostra de forma sintética o caminho para a tomada de decisão:

O Esboço da Situação

Faz-se um esboço da situação, listando todos os fatores considerados relevantes para a tomada de decisão. Este memento será elaborado pela seção ou turma de informações à disposição do comandante, e depois de ser aprovado, será distribuído às demais seções do EM.

Relatórios complementares a este memento sobre forças amigas e inimigas serão elaborados pela Seções de Inteligência (S2), e pelas Seções de Logística (S4) e de Operações (S3) e outras seções se houverem, apontando o parecer de cada uma dessas seções em suas áreas específicas. Serão gerados relatórios diversos sobre as forças amigas, o inimigo, aspectos logísticos, comunicações, guerra eletrônica, mobilidade e contramobilidade, ameaça aérea, aviação de apoio, apoio de fogo, guerra submarina, assuntos civis, etc....

O Esboço da Situação servirá ao EM como ponto de partida para seus esforços de coleta de dados, limitando seu campo de trabalho ao que realmente interessa ao cumprimento da missão do Comandante.

Posteriormente todos estes pareceres e dados coletados serão integrados pela seção de operações (S3) em um único documento de Exame da Situação feito pelo comandante.

A Área de Operações

Veja Valor Militar do Terreno

A análise da área de operações identificará sua influência na missão e que medidas afins deverão serem tomadas. Deve-se ater somente aos fatores relevantes à missão. Um processo específico de Integração Missão-Inimigo-Terreno-Condições Meteorológicas-Tempo-Tropas Disponíveis e Assuntos Civis (METT-TC no USArmy) será útil nesta compreensão, pois resulta numa série de mapas e gráficos envolvendo estas variáveis.

Fatos Pertinentes (FP) são dados ou acontecimentos, evidentes ou comprováveis, que estarão diretamente relacionados com a Missão do Comandante, ou exercerão influência sobre ela. Consequências são os desdobramentos de um FP. Estes desdobramentos nada mais são do que uma dedução possível do FP inicial, tornando-se um novo FP, que será novamente analisado até que se esgote, resultando em alguma conclusão que será considerada ou descartada como irrelevante. Poderá ser considerado isoladamente ou ser agregado ao FP inicial.

A Conclusão é um resultado desta análise pela qual, com base em FP(s): As vantagens e/ou desvantagens; limitações e possibilidades das forças do comandante e do inimigo; e os procedimentos que poderão ser implementados durante a operação.

Os tópicos mais relevantes concluídos na análise da Missão na Fase 1, serão àqueles utilizados pelo EM e se constituirão nos FP(s) ao Problema Militar que está sendo analisado. Deve-se tomar cuidado para não se apresentar como conclusão um fato já conhecido, lembrando de que fato é aquilo que já é real, que não pode ser mudado e conclusão é o resultado de uma análise, algo ainda não concretizado e poderá variar.

Ao final um estudo das Características da Área de Operações deve-se apresentar os FP(s), e a partir destes se fazer uma análise de como eles poderão influenciar a operação, resultando em conclusões que apontem as vantagens e desvantagens, possibilidades, limitações ou procedimentos. Um único FP pode gerar diversas Conclusões; diversos FP(s) podem gerar uma única Conclusão; ou um FP pode não gerar Conclusão alguma porque indica, por si só, um procedimento a seguir.

“Checklist” das Características da Área de Operações

Fatores Gerais

Os fatores gerais são tão mais relevantes quanto maior for o escalão de planejamento. São agrupados em fatores Políticos, Econômicos, Sociais e Tecnológicos.

Fatores Gerais: Políticos

São os fatores que definem o cenário político da área de operações e que poderão influenciar na missão. Podemos listar alguns fatores, porém outros poderão se fazer relevantes. Temos como exemplo deste tópico o nível de estabilidade política interna, atividades subversivas e seu controle; o nível de oposição interna ao governo local; os acordos políticos e alianças militares; as relações exteriores e o nível de interesse externo na situação local; reivindicações territoriais e marítimas; aspectos referentes ao  direito internacional; ideologias políticas: partidos políticos, facções, grupos paramilitares, associações sindicais, organizações não-governamentais (ONG), movimentos populares, lobbies, etc.

Por exemplo: o uso de uma base aérea em um país amigo para viabilizar as operações pode ser condição fundamental a estas, porém este país, apesar de amigo, pode não cedê-la para não se envolver politicamente no conflito. O FP é a neutralidade política e a consequência a não cessão das bases.

Fatores Gerais: Econômicos

Aspectos econômicos são de suma importância em uma operação militar. Eles podem influenciar de forma significativa muitas das decisões sobre uma missão. Temos por exemplo o nível de industrialização; a capacidade de mobilização da indústria, para apoio às hostilidades; a disponibilidade de recursos humanos e materiais; as fontes de matérias-primas; a localização dos principais parques industriais e centros financeiros e comerciais; o nível de dependência externa para a manutenção do esforço de guerra; a capacidade de produção agropecuária e segurança alimentar; as capacidades e localização das fontes de energia, a integração energética do território; os acordos econômicos, etc...

Por exemplo: Na área de operações passa um importante oleoduto que abastece uma importante região do planeta, e a interrupção de sua operação poderá provocar um desequilíbrio que trará sérias consequências. O FP é que a operação do oleoduto terá que ser garantida e a consequência é que sua interrupção poderá provocar questões com países neutros, não desejáveis.

Fatores Gerais: Sociais

São os fatores pertinentes à população da área de operações onde a missão se desenvolverá. Temos como exemplo a influência da mídia sobre a população; o nível sócio-econômico da população como a escolaridade, a renda “per capta”, desemprego, distribuição de renda, etc...; etnias; idiomas; religiões e seus desdobramentos; conflitos latentes; raças; valores; sensibilidades; humor em relação ao governo; aspirações; moral; empatia com as forças armadas; situação das forças armadas locais considerando adestramento, condição geral e fidelidade ao comando. Estes fatores normalmente estão presentes em todas as situações, e devem ser considerados com atenção especial, podendo ser explorados em benefício da missão ou ser um obstáculo.

Por exemplo: A área de operações abriga várias tribos antagônicas entre si há vários séculos e da mesma forma hostis ao governo local. Esta situação poderá provocar reações destas tribos contra nossas próprias tropas.

Fatores Gerais: Tecnologia

Estes são fatores pertinentes ao nível de desenvolvimento da região. Como exemplo temos: A sofisticação do armamento das forças locais e dos meios instalados; centros de pesquisa e desenvolvimento; meios industriais; instalações nucleares, químicas e biológicas; tecnologias de sensoriamento como satélites; redes de dados; usinas de força; etc...

Por exemplo: As forças inimigas contam com infraestrutura de sensoriamento por satélite e dificilmente será possível iniciar a operação sem que seja percebida.

Fatores Físicos

São as características físicas da Área de Operações que influenciarão mais diretamente a missão, oferecendo possibilidades e limitações.

Fatores Físicos – Hidrografia

Incluiu todos as variáveis pertinentes à operação de meios aquáticos como meios anfíbios, submarinos e afins. Considera profundidades e gradientes; correntes marítimas; marés; navegabilidade; facilitadores e dificultadores como obstáculos naturais ou não, faróis, etc...; condições de propagação do som, incluindo salinidade e camadas de propagação; arrebentação; etc...

Por exemplo: A praia escolhida para o desembarque apresenta uma barreira de arrecifes de forma parcial, que pode provocar encalhes e danos às embarcações, sendo que sua trajetória deverá ser minuciosamente planejada e conduzida.

Fatores Físicos – Topografia

O terreno onde uma tropa atuará apresenta uma série de particularidades que influenciarão sobremaneira todo o desenrolar da operação. Suas características podem constituir obstáculos ou facilitadores, e devem ser analisadas criteriosamente, procurando fazer cada ponto como um aliado quando possível. Deve-se considerar a vegetação; o relevo; as linhas de costas; os cursos d’água e suas possibilidades de travessia; praias, consistência do terreno para suportar tráfego, etc...

Por exemplo: A única linha de progressão possível sobre a área Foxtrot constitui-se da estrada 45, construída sobre um aterro feito para ela, em uma grande área pantanosa. Não é possível de ser desviada, o que constituí fator de grande vulnerabilidade às colunas que ali trafegam. Uma manobra de segurança de flancos deverá ser previamente implementada antes de sua travessia.

Fatores Físicos – Meteorologia e Fatores Climáticos

Os fatores climáticos influem diretamente nas operações. Chuvas e neve podem provocar alagamentos e prejudicar a trafegabilidade; frio intenso afeta diretamente o moral do combatente e pode provocar mal funcionamento do equipamento, provocar ulcerações e hipotermia; Neblina, chuva e tempestades afetam ou mesmo inviabilizam operações aéreas. Um bom planejamento deve levar os fatores climáticos em conta considerando incidência de ventos, chuva e neve; visibilidade; temperatura do ar e da água; radiação solar; neblina; condições de navegação marítima e aérea; temperaturas; etc...

Por exemplo: A única linha de progressão possível sobre a área Foxtrot constitui-se da estrada 45, construída sobre um aterro feito para ela, em uma grande área pantanosa. Não é possível de ser desviada, o que constituí fator de grande vulnerabilidade às colunas que ali trafegam. Há previsão de chuvas intensas o que pode provocar seu alagamento e possível intransitabilidade, tornando as tropas que ali estiverem extremamente vulneráveis pela imobilidade e falta de condições de abrigo.

Fatores Físicos – Períodos

São os fatores decorrentes do ciclo dia-noite e suas implicações como os períodos de claridade e escuridão, fases lunares e eclipses. É importante que sejam tabuladas as horas do nascer e pôr do sol e da lua, os períodos de claridade e escuridão, a duração do crepúsculo e as fases da lua.

Por exemplo: Durante os dias x e y haverá lua cheia, o que permitirá uma maior visibilidade para as marchas noturnas programadas, não sendo necessários equipamentos de visão noturna para os motoristas.

Fatores Físicos – Pontos Notáveis

Todos os fatores físicos do terreno que podem prejudicar ou potencializar a missão. Estradas; bases militares, instalações de apoio, fábricas, pontes, posições de tropas e armas, áreas de estacionamento, depósitos, etc... Estas posições deverão ter suas distâncias aéreas, terrestres e marítimas plotadas nas cartas, bem como suas características relevantes. Estes pontos considerados são de natureza estática, não devendo ser confundidos com os fatores de tempo e distância da missão, que serão vistos nos planejamentos propriamente ditos, relacionados ao tempo e a velocidade dos operadores e das forças inimigas.

Por exemplo: O destacamento Delta fará um marcha motorizada de Alfa 1 até Alfa 2 cuja distância supera em muito a autonomia dos veículos. No entanto, ao longo do itinerário existem 3 postos de controle com capacidade de reabastecimento, não sendo necessário o acompanhamento de viatura com combustível para reabastecimento destas colunas.

Fatores Físicos – Linhas de Comunicações

Estes fatores dizem respeito a todas as linhas de comunicações que podem servir para a execução da missão, seu apoio e seu suporte logístico. Considera-se aqui as rotas terrestres rodoviárias e ferroviárias; as rotas marítimas, fluviais e de águas interiores, tais como lagos, baías, canais e rios; rotas aéreas e respectivos aeródromos; linhas de transmissão de energia e de telefonia; gasodutos, oleodutos, aquedutos etc. Devem ser identificados pontos sensíveis que se explorados pelas nossas forças ou do inimigo, poderão interromper ou atingir alguma das linhas de transporte ou de suprimento, além de colocarem nossas forças ou as do inimigo em posição de vulnerabilidade.

Por exemplo: Após a marcha motorizada com término em Alfa 2, o destacamento Delta se reunirá no aeródromo local e embarcará nas aeronaves do destacamento 32 da força aérea do país Azul, que apoiará a transposição por via aérea da cordilheira Vagalume até o aeródromo de Alfa 3. Se as condições meteorológicas não permitirem a decolagem, o destacamento deverá permanecer em Alfa 2 até que seja possível, pois as rotas terrestres através desta cordilheira estão ocupadas por forças subterrâneas hostis, e as colunas de marcha estarão sujeitas a emboscadas.

Fatores Físicos – Fatores Médico-Sanitários

Devem ser considerados os aspectos que possam afetar a saúde das nossas forças, do inimigo e da população levando em conta: condições climáticas capazes de afetar a saúde como o frio intenso; a qualidade da água e alimentos; as doenças endêmicas, como aquelas transmitidas por mosquitos, por exemplo; as facilidades médicas e de pessoal especializado disponíveis na área, etc...

Por exemplo: A área Mike-November onde se localiza o aeródromo de Alfa 3 é uma região endêmica da febre-amarela com grande quantidade de mosquitos presentes, sendo necessária a vacinação com antecedência da tropa que lá desembarcará, conforme os protocolos médicos.

Fatores Físicos – Fatores Operativos

Se refere ao estudo e conhecimento de meios e instalações de interesse operativo, tais como bases diversas, aeródromos, posições de artilharia de costa e antiaérea, redes radar e de AEW, dispositivos defensivos de ponto forte, postos de controle, etc... É importante em alguns casos identificar os recursos ou características especiais de uma base ou instalação de grande valor ao inimigo e verificar a possibilidade de que estes lhes sejam negados.

Por exemplo: A rota Charlie foi minada em ambos os lados em pontos alternados, com cobertura de fogo supressivo destes pontos e armas ATGW dificultando sua varredura e canalizando o tráfego em pontos específicos. Se faz necessário um reconhecimento de engenharia a fim de prover rotas seguras a esta travessia, bem como a neutralização dos pontos de fogo supressivo por destacamentos de assalto a ponto forte.

Fatores Físicos – Meios de Comunicações Eletrônicas

Devem ser relacionados todos os meios de comunicação eletrônica disponíveis na área da missão, que possam ser usados para facilitá-la ou que possam ser usados pelo inimigo para frustrá-la, tais como: estações de rádio civis e militares, Centro de C2, redes de radiogoniometria, redes telefônicas e de telefonia celular, instalações de apoio ao tráfego aéreo e marítimo, sistemas militares de comunicações, cabos submarinos, linhas telegráficas, estações de SATCOM, etc... Estes meios de comunicações considerados não se referem aos meios orgânicos, mas os presentes na área de operações. Devem ser analisadas também a capacidade de interferência eletrônica do inimigo em nossos meios e vice-versa.

Por exemplo: O destacamento de assalto a instalação Foxtrot deverá certificar-se de que a guarnição deste ponto forte não alerte seu comando, neutralizando as torres de telefonia celular da área, bem como cortando a energia do local em ação preliminar ao assalto.

Fatores Físicos – Sistemas e Recursos Presentes no Local

Deve-se analisar a presença de sistemas de armas de alto poder e sistemas e recursos de apoio como mísseis, artilharia, aviação aerotática, engenharia de combate, forças locais amigas (partisans que podem fornecer inteligência de combate) e outros que possam interferir na missão, seja em apoio ou como força de resistência, e a possibilidade de emprega-las em proveito da missão ou de sua neutralização.

Por exemplo: O assalto a instalação foxtrot utilizará uma rota de acesso que transporá uma área de segurança em torno da instalação que poderá conter minas. A Força Golf presente na área possui uma unidade de engenharia de combate que poderá disponibilizar um destacamento para apoiar a transposição deste segmento.

Comparação de Meios Disponíveis

Esta análise visa construir um paralelo entre o poder combatente do inimigo e o das nossas forças, estabelecendo um comparativo de capacidades e deficiências de forma a mensurar os meios necessários para sobrepujar as forças inimigas no cumprimento da missão. Como no item anterior (A Área de Operações) deverá elencar vantagens e desvantagens, limitações e possibilidades das forças em questão, a fim de identificar fatores de força e fraqueza, e possibilitar a formulação da linha de ação (L Aç).

Esta comparação se dá analisando as forças combatentes (próprias, amigas e inimigas), sua competência de comando e controle (C2) pela análise de suas capacidades de comunicações e meios eletrônicos, sua capacidade logística e os fatores que envolvem tempo e distância.

As forças combatentes devem ser comparadas em amplo aspecto dentro do envelope de influência na missão, considerando forças navais, aéreas, terrestres, capacidade de fogo e adestramento. Devem ser analisados suas diversas características como velocidades, autonomia, alcance dos sistemas de armas, radares e sensores, aeronaves, resistência e condições do equipamento, localização, sistemas de controle, suscetibilidade a contramedidas, nível de instrução, moral, capacidades de liderança, experiência, doutrina, resiliência e adaptação ao terreno, estruturas de logística e suprimentos disponíveis, meios navais e outros.

Por exemplo: A Força-Tarefa 21 dispõem de mísseis antinavio Saturno helitransportados a partir de suas escoltas de superfície com alcance de 50 km, superiores em alcance aos mísseis SAM Mercúrio das fragatas inimigas com alcance de 30 km. Dessa forma o assédio a estes navios pelos helicópteros Matador e seus mísseis Saturno é recomendado. Trata-se de uma recomendação ao comandante e não um procedimento já definido. Vale salientar que a comparação deve ser feita sempre entre sistemas que se opõem (helicóptero e seu míssil x míssil SAM) e não entre sistemas paralelos (míssil SAM próprio x míssil SAM inimigo).

A comparação deve considerar os meios e não o contexto, pois a intenção é possibilitar que o Comandante e seu EM tirem conclusões das capacidades relativas para o cumprimento da sua Missão. Na análise de interações é que se levará em consideração as LAs e seus desdobramentos, abordando o aspecto dinâmico das capacidades, considerando-se um possível apoio que poderá ser recebido, o ambiente da ação e os fatores de tempo e distância.

O Comando e o Controle (C2) da operação se dará utilizando-se as ferramentas de comunicações e EW (guerra eletrônica) e um exame das características dos equipamentos disponíveis e sua doutrina, de ambos, determinarão quais recursos poderão ser empregados e com que proficiência.

Os meios logísticos definirão o alcance operacional da missão e a capacidade de resistência do inimigo. Deve-se listar todos os meios fixos e móveis que poderão ter influência na missão como bases (com sua localização e meios de acesso), capacidade de transporte e disponibilidade de suprimentos como combustível, munição e outros que se façam importantes.

Por exemplo: O bombardeio de um grande depósito de combustível poderá manter um frota no porto e inviabilizar seu emprego numa ação de resistência, podendo ser mais proveitoso e eficiente que bombardear a frota propriamente dita. O bombardeio a Pearl Harbour na Segunda Guerra Mundial visou a frota no porto e deixou de lado os grandes depósitos de combustível dessa frota. Como parte dela estava no mar com todos os seus navios-aeródromo, a capacidade da frota continuou existindo quase que totalmente e seu poder de reação permaneceu intacto, servindo o bombardeio apenas como ato de provocação. Foi um grande erro dos japoneses. A Logística sempre será um fator relevante em todas as operações, seja de quais tipo forem. A estimativa de logística deverá conter informações o mais minuciosas possíveis, cobrindo todos os aspectos da operação.

Os fatores que envolvem tempo e distância são o início do estudo da dinâmica da missão. Eles possibilitam a visualização das possíveis linhas de ação própria e do inimigo e devem ser considerados em todos os estágios do planejamento e em qualquer tipo de operação.

Devem ser analisados o tempo necessário ao planejamento, a mobilização, de adestramento específico das forças, ao desdobramento e posicionamento de meios, os tempos limites para execução da missão, os períodos de vulnerabilidade a ameaça como a aérea e submarina, o tempo necessário a reabastecimentos de todos os tipos, os limitares a atividade aérea e naval como as tempestades e o período noturno, os tempos de carga e descarga, o tempo de recomposição de forças pós-atrito, o tempo para chegada de reforço e outros que se façam necessários. A análise das distâncias está intimamente ligada ao fator tempo pela velocidade das ações.

Pontos a Considerar no PPM

Depois de analisar os dados disponíveis e enumerar as hipóteses sobre aquilo que não se sabe ainda, o comandante deverá reavaliar suas conclusões e rever os aspectos mais importantes e que merecem uma revisão.

  • Deficiência de informações:

Muitos aspectos importantes a uma missão não são totalmente conhecidos, e embora muitas vezes seja possível deduzir de forma bem provável que se deem de determinada maneira, esta dedução poderá não ser totalmente condizente com a realidade. Dessa forma, sempre que possível, deve-se lançar mão de maneiras de obter estas informações faltantes, sejam através de missões de reconhecimento, dados de informantes colhidos nos locais respectivos, missões de sensoriamento, etc... Estes elementos de inteligência que comporão o “quebra-cabeças” do planejamento e que ainda não estão disponíveis, deverão ser listados e sua obtenção demandada, cabendo à unidade de inteligência do comando executante da missão determinar a melhor forma de obtê-los.

Por exemplo: Uma brigada de paraquedistas será lançada junto a ponte de Arnhem na Holanda (Operação Market-Garden, Segunda Guerra Mundial) para garantir o domínio desta ponte até que as colunas blindadas aliadas possam transpô-la. Acredita-se que a forças alemãs no local sejam pouco potentes e a brigada às dominará sem muita dificuldade. Existem rumores, porém, que uma divisão panzer da SS está “descansando” neste local, e embora sejam apenas rumores, um reconhecimento aerofotográfico será de grande valor para uma melhor avaliação das forças ali estacionadas.

  • Disciplina de Informações visando a Segurança

A disciplina de informações deverá igualmente ser tratada com o máximo de cautela, pois o vazamento de informações a respeito do que se está planejando poderá fazer com que o inimigo tome precauções que poderão vir a inviabilizar a missão ou dificultá-la, cobrando um custo maior a sua execução. Desta forma deve-se restringir ao mínimo os conhecedores de intenções e planejamentos, bem como se adotar uma disciplina de tráfego de informações que dificultem ao máximo sua interceptação, usando criptografia, equipamentos dotados de ECCM eficientes e outras medidas como o controle de emissões visando frustrar os esforços de COMINT inimigos.

Por exemplo: o conhecimento pelo inimigo da simples demanda do reconhecimento aéreo de uma determinada área, obtida através da interceptação da mensagem pedindo este reconhecimento, pode induzi-lo a reforçar a guarnição e as medidas de segurança deste local, inviabilizando a missão.

  • Fatores de Força e Fraqueza

Os fatores de força e fraqueza, capacidade e incapacidade, de ambos os contendores, na obtenção dos efeitos desejados, devem ser listados e comparados em forma de síntese que expressem as conclusões obtidas e levem a correção daquilo que for avaliado como necessário ao cumprimento da missão.

Por exemplo: O assalto a cota 312 necessitará a transposição de um corredor que está coberto por 3 posições de metralhadoras, que inviabilizam sua utilização, sendo que as mesmas encontram-se bem fortificadas em casamatas de concreto, dificultando sua neutralização. Recomenda-se que sejam neutralizadas através de bombardeio dirigido aos seus pontos fracos, pois um bombardeio convencional de saturação poderá não produzir os efeitos desejados. Não é uma determinação que assim seja feito, mas uma orientação do que pode ser o melhor a se implementar, cabendo a decisão ao comandante.

Não se deve considerar como fatores de força ou fraqueza fatos, e sim conclusões. Relacionar como fator de força, por exemplo, algo que se tem, mas que não se pode usar em uma missão específica será irrelevante. Por exemplo: Em uma missão de varredura de minas em um canal que dá acesso a um porto, não é um fator de força relacionar que se tem um navio de desembarque anfíbio à disposição fundeado ali perto. Não é fator de fraqueza aquilo que não se dispõem, nem fator de força aquilo que se dispõem (organicamente), a não ser que esta relação seja importante. Não se deve relacionar como fator de força aquilo que já tenha sido relacionado como fator de fraqueza do oponente, e vice-versa. Pode-se relacionar como fator de força ou fraqueza um mesmo fator para ambos os contendores, desde que não se oponham. Por exemplo: poderá ser solicitado o apoio de um pelotão com mísseis anticarro de uma unidade amiga, sendo que o inimigo conta com um pelotão semelhante, porém não será fator de fraqueza do inimigo seus carros de combate serem vulneráveis a estes mesmos mísseis. Os fatores de força devem ser explorados ao máximo, bem como os de fraqueza evitados, procurando se contornar com outras soluções, e vice versa.

  • Determinação da Composição da Missão

O comandante já está em condições de fazer a composição inicial da missão neste momento, sabendo do que necessita para cumpri-la com sucesso e das vulnerabilidades do inimigo, que deverá explorar. As linhas gerais de ação já podem ser definidas e usadas como base do planejamento detalhado da operação.



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