FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Planejamento Militar - O Exame da Situação (Parte 3) *230

 


Parte 2- O exame da situação

Fase 3 – Linhas de Ação x Possibilidades do Inimigo

Cada Linha de Ação (LA) a ser adotada deve ser comparada com as Possibilidades do Inimigo (PI) em relação a esta linha de ação. Nesta fase, o comandante já dispõem das informações necessárias a respeito de sua missão. Ao final deste estudo serão elencadas as LA Provisórias que tenham as melhores chances de alcançar os objetivos definidos. É importante que sejam sugeridas propostas de LA sem qualquer restrição prévia, dando-se “asas à imaginação”, desde que não se desvie dos objetivos da missão. Ideias rejeitadas previamente podem conter fragmentos úteis, que podem ser encaixados com sucesso em proposições mais pragmáticas, tornando estas mais robustas. O planejamento é um processo cíclico, onde as ideias são refinadas paulatinamente, e ideias pouco ortodoxas podem contribuir para o refinamento daquelas mais factíveis.

Possibilidades do Inimigo (PI)

As PI são as linhas de ação que inimigo pode adotar para contrapor uma LA planejada. Elas devem ser compatíveis com os meios que o inimigo tem sua disposição e serem capazes de interferir no cumprimento da missão. A seção de informações da unidade (S/2 ou outra conforme a força) é a principal fonte das informações a cerca das PI, que são supostas ações amplas, que podem ser empreendidas dentro de determinas condições aceitáveis ao inimigo.

Valendo-se das conclusões da análise prévia da fase I, o órgão de informação (S/2) a disposição do comandante, listará todos os prováveis e possíveis objetivos que o inimigo buscará para frustrar a missão ora em planejamento, e em seguida identificará de que forma estas supostas ações poderão influir. Dessa forma se definirão as ações adequadas a evitar esta interferência. Deverão ainda ser tabuladas em ordem decrescente de possibilidade de adoção, cada uma das ações inimigas prováveis. É importante ressaltar que cada  ação provável do inimigo listada deverá ser considerada nos critérios de factibilidade de execução e se afetará a missão de forma importante. Ações não factíveis devem ser desconsideradas após análise, porém desfazer-se de ações relativamente improváveis mas factíveis, pode resultar em surpresas desagradáveis, podendo o inimigo adotá-las se levar em consideração que foram desprezadas.

Uma PI que deve sempre ser considerada é a de frustração da mobilidade das forças que irão executar a missão. O inimigo pode ser capaz de realizar simultaneamente múltiplas ações combinadas, que afetarão de modos particulares o cumprimento da missão. As PI elencadas devem especificar claramente essas múltiplas ações, sob pena de conclusões incorretas acerca da capacidade de cumprimento da missão. A avaliação das PI não é um processo estático, devendo prosseguir durante as 3 Etapas do Planejamento.

Em seguida se analisa, apenas com as PIs consideradas, a ordem de probabilidade de sua adoção pelo inimigo. Prioriza-se as PIs que ofereçam maiores vantagens ao inimigo, com menores riscos; após as que oferecem um melhor aproveitamento das características da área de operações, associadas às deficiências e vulnerabilidades das forças amigas e por último as ações atualmente sendo executadas pelo inimigo (histórico recente). Ao comandante caberá a palavra final desta análise.

Linhas de Ação (LA)

Uma Linha de Ação é um plano factível capaz de cumprir a missão. Ela será construída como resultado nos dados e conclusões da fase 2. Deve exprimir o que deve ser feito para o cumprimento da missão e de que forma (que ações serão tomadas), impondo, se for o caso, os limites a serem observados (regras de engajamento), sempre em linguagem simples e clara, evitando interpretações.

Como exemplo de LA corretamente redigidas podemos citar: “Destruir a ponte sobre o Rio das Correntes usando explosivos plantados”, ou “Ocupar a subestação do Bairro Formiga em Rio das Algas sem danificá-la severamente, e estabelecer lá um ponto forte”. A ação poderá ser omitida quando seu enunciado causar redundância. Num enunciado “Prover o bombardeio da Área Alfa em preparação ao assalto pela infantaria em D+1 às 0500 pelo Grupo de Artilharia”, pode ser omitido a unidade que irá realizar, pois a missão já é implícita, considerando o grupo de artilharia orgânico da grande unidade que está executando a missão. Se o bombardeio tivesse que ser executado pela aviação tática, aí sim seria importante enunciar a unidade executora.

Após enunciar uma LA o comandante deve rever seu entendimento da situação quantas vezes achar necessário, de forma a ter certeza que a LA escolhida é a mais adequada. Devem pesar a capacidade da LA de cumprir com os efeitos desejados e se as suas forças destacadas para esta missão tem a capacidade de cumprir de forma eficaz com suas comissões. Múltiplas LA preliminares podem ser elaboradas para se chegar a uma linha LA de ação definitiva, pois quase sempre haverá mais de um modo de executar uma ação e com o emprego de mais de um sistema de combate.

Muitas ações devem ser executadas para a consecução de uma LA, e a estas denominamos requisitos, que podem ser classificados quanto a sua importância em imprescindíveis (se não for cumprido a LA não será exitosa), importantes (aumentam em muito a possibilidade de sucesso da LA) e desejáveis (se possíveis, facilitam a tarefa a ser executada). Também podemos dividir os requisitos quanto a sua natureza em ofensivos (finalidade de LA), defensivos (garantem a execução), logísticos (suportam a execução), de inteligência (orientam a execução), de movimento (mobilidade da execução), de adestramento (preparo da execução) e de apoio (ações multiplicadoras de força e facilitadoras). A ênfase em cada requisito dependerá da natureza de cada LA. Outros tipos de requisitos poderão se fazer presentes em situações particulares, e cada um destes poderá ser desdobrado em 2 ou mais. Os requisitos devem ser compostos pelo "o que", "como" e "onde", quais as forças envolvidas e por quanto tempo cada ação deve perdurar.

Adequabilidade, Exequibilidade e Aceitabilidade de uma LA Provisória

Uma LA é adequada se puder, por si própria, cumprir a missão. Seus efeitos devem ser compatíveis com a essência e magnitude da missão e capaz de ser executada dentro do tempo máximo suportável para a situação. Se uma LA parecer apenas parcialmente adequada, deve-se agregar a ela as ações necessárias a satisfazer a condição desejada, ou então ser abandonada. Também não poderá ser mais ou menos adequada do que outra, uma vez que, ou ela cumpre ou não cumpre a missão, o que a faz objetiva e absoluta.

Uma LA é exequível se puder ser implementada com as forças e tecnologia disponíveis e dentro do tempo máximo suportado para a situação, e ainda capaz de suportar a pressão que o inimigo envidará para frustá-la. Avaliar se uma LA é exequível ou inexequível, em face da oposição do inimigo, é subjetivo. Isso significa que pode haver diferentes opiniões quanto ao julgamento da possibilidade de êxito. Uma vez definida a possibilidade de êxito, a LA não poderá ser mais ou menos exequível que outra, uma vez que ela é possível ou não de ser implementada, o que a faz subjetiva e absoluta.

Uma LA é aceitável se os resultados compensarem os custos decorrentes. Perdas prováveis, determinadas pela prova de exequibilidade, servirão de base para esta análise, devendo ser considerados os quesitos pessoal, material, tempo e posição. Deve-se evitar inclinar-se a um otimismo exagerado e o comandante deve aceitar a inevitabilidade de perdas na sua força, desde que esta perda obedeça a certos limites. Os ganhos numa interação com o inimigo devem ser confrontados com a capacidade da própria força continuar operacionalmente significativa. Podem haver opiniões divergentes quanto à aceitabilidade de uma LA, dependendo de quem a esteja avaliando. Além disso, ela poderá ser mais ou menos aceitável do que outra. Isso significa que, para cada LA provisória formulada, poderá haver uma "probabilidade de êxito" diferente, o que a faz subjetiva e relativa.

Todas as LA Provisórias devem ser testadas nestes critérios o quanto antes e se não os cumprirem, imediatamente abandonadas ou alteradas.

O julgamento da exequibilidade e da aceitabilidade de uma LA Provisória requer uma análise extensa, e no que se refere à adequabilidade, essa análise é mais simples e pode ser feita antes das demais. A prova preliminar de adequabilidade e e de exequibilidade são inicialmente aplicadas após a formulação e, posteriormente a qualquer momento sempre que o conceito da operação sofra modificações ou mudem as forças à disposição. A prova final será aplicada na Fase 4 desta Etapa, após o levantamento das Vantagens e Desvantagens das LA.

Pode ser conveniente combinar 2 ou mais LA Provisórias para formar outras mais refinadas, caso as primeiras se tenham mostrado parcialmente válidas. Nesta situação deve-se retornar aos subitens anteriores, onde as novas LA serão relacionadas, formulados os seus conceitos sumários, e submetidas à prova, para que sejam verificadas as suas validades. Assim, mais uma vez, a natureza cíclica do processo possibilita o aperfeiçoamento do planejamento. Cabe ressaltar que uma LA se distingue de outra, basicamente, por meio de diferenças em pelo menos um dos seus seguintes aspectos de efeitos desejados, operações e/ou meios empregados.

Confronto LA x PI

Neste tópico se confronta as LA Provisórias com cada PI. É uma análise dinâmica, na qual cada ação é considerada como uma variável independente interagindo com outras, simultânea ou sucessivamente. Dessa forma se elenca as várias ações que as forças destacadas terão que empreender para executar a LA, revendo e ampliando os conceitos, através da inclusão de alguns detalhes, e de maneira semelhante, considera as ações detalhadas de cada PI, inclusive como seriam implementadas.

Em cada confronto analisado, conclui-se quanto às capacidades do inimigo em se opor a cada LA, às perdas prováveis, à necessidade de subdividir as forças, às ações alternativas convenientes, o grau de eficiência estimado da LA na medida em que ela cumpre a missão, os aspectos relacionados com o tempo, etc. É um jogo de guerra mental.

Cada LA é confrontada com cada PI, observando-se os seguintes subitens:

As ações que o Inimigo pode executar para realizar a PI. Descreve-se como seriam implementadas as ações pelo inimigo, que possam interferir com a LA a ser confrontada. São especificados como, quando e onde o inimigo pode atuar, para obter o efeito desejado da PI considerada.

As ações que devem ser executadas para realizar a LA, em face da oposição dessa PI, que devem ser expandidas e detalhadas em face da PI a ser confrontada. Assim, da mesma forma que no item anterior, especifica-se como, quando e onde pode ser disposta a força destacada.

Fase 4 - Comparação e Escolha das Linhas de Ação

Após as LA terem passado pela prova AEA (adequabilidade, exequibilidade e aceitabilidade) elas devem ser comparadas para que uma seja a escolhida.

Em primeiro lugar deve-se confrontá-las, comparando suas vantagens e desvantagens, de forma a escolher a melhor delas. Um pequeno roteiro facilita esta comparação utilizando os quesitos: mais ofensiva ou defensiva, maior liberdade de ação, maior concentração de forças, melhor unidade de comando, maior surpresa, maior simplicidade, menos necessidade de informações, menos dependência da área de operações, maior favorecimento de operações futuras e maior economia de meios.

Estes conceitos dependem de julgamento pessoal e, portanto, 2 ou mais comandantes poderiam chegar a conclusões divergentes. Assim, uma determinada LA pode parecer perfeitamente exeqüível para um comandante ousado e agressivo, mas inexeqüível para outro mais cauteloso. Além disso, geralmente há um certo grau de aceitabilidade associada a cada LA, estabelecendo, desta forma, o que se pode denominar de uma aceitabilidade relativa. Para determinar a aceitabilidade relativa, são importantes os resultados esperados pela execução com sucesso da LA.

Antes de selecionar uma das LA para a decisão, deve-se submeter todas elas à uma prova final, na qual a riqueza de detalhes dependerá das provas já realizadas e dos resultados de análises posteriores complementares, efetuadas nas fases anteriores. Ao considerar a aceitabilidade da LA, deve-se enfrentar realisticamente a possibilidade de insucesso. Se for considerada que uma LA é aceitável sem levar em consideração uma margem de segurança, qualquer imprevisto poderá facilmente invalidar esta LA na prática e comprometer a operação.

Após a análise final, pode-se concluir que nenhuma das LA em pauta atende as condições que se busca. Nesse caso, deve-se novamente buscar a combinação das LA existentes, reiniciando o processo. Caso mesmo assim as conclusões sejam insatisfatórias, os resultados devem ser encaminhados ao escalão superior para decisão final, onde se assume o ônus de sua adoção ou se busca alternativas. O escalão superior pode ter uma visão diferente das análises feitas e decidir pela sua adoção ou não. Somente quando há condições impostas pelas autoridades superiores, o comandante pode ser parcialmente relevado da responsabilidade quanto à sua decisão, sempre no mesmo nível do que for condicionado. Uma matriz de decisão com os critérios já citados (logística, operações futuras, maior surpresa, etc...) pode auxiliar nesta comparação.

Fase 5 - Decisão sobre a LA escolhida

Após a decisão tomada, esta deve ser expressada como um “Plano de Ação”, trazendo informações do que fazer e como fazer, podendo ainda dizer como e onde. Pode ainda trazer as restrições que forem necessárias. Se a LA for pré-determinada, a própria tarefa será a decisão elencada. A decisão deverá ser clara, objetiva e concisa, prezando pela simplicidade; de forma que todos a compreendam de forma inequívoca. Ao “Staff” da unidade designada, caberá o detalhamento da operação, seja uma divisão ou um grupo de combate, salvo se for decidido de outra forma.

2ª Etapa - O Plano de Ação e Emissão de Diretiva




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