Apesar de não ser objetivo deste blog divulgar as características deste ou daquele equipamento, postamos o artigo que segue do Capitão de Cavalaria Daniel Bernardi Annes publicado na Revista Ação de Choque / N°09 do CI Bld - Centro de Instrução de Blindados "General Walter Pires" - Santa Maria/RS, por seu conteúdo elucidativo entre diferentes gerações de carros de combate, bem como das características gerais destes.
O projeto do Leopard começou na Alemanha em novembro de 1956. O veículo deveria ser leve, resistir a tiros rápidos de 20mm e ter proteção contra agentes químicos e biológicos
A
mobilidade teve prioridade em relação ao poder de fogo e a blindagem,
considerando-se as modernas armas anti-carro. A empresa alemã Krauss-Maffei
Wegmann (KMW) fez as primeiras Intregas em 1965 e diversos países europeus
adquiriram o veículo.
No
início da década de 80, o exército alemão dispunha de aproximadamente 1200
Leopard 1 A1A1, que apresentavam acentuada defasagem tecnológica depois da
entrada em serviço do Leopard 2. Assim, para adequar-se à nova demanda, estes CC
receberam o sistema de controle de fogo EMES da nova versão, além de outras
modificações, que originaram o Leopard 1A5, a versão mais moderna da família 1.
Desde
1990, o Leopard 1 vem gradualmente sendo empregado em funções secundárias na
maioria dos exércitos, mas o Brasil, este ano, está recebendo 220 unidades
repotencializadas e batizadas de VBC Leopard 1 A5 BR. O Leopard 2, por sua vez, é
um carro de combate desenvolvido no início dos anos 70. Entrou em serviço no ano
de 1979 e substituiu os Leopard da família 1.
O
Leopard 2 A4 é o mais numeroso de todos os carros de combate da família Leopard,
pois praticamente todos os carros das versões anteriores (A1, A2 e A3) foram
convertidos para a versão A4. Vários países europeus optaram por este carro de
combate, especialmente pela sua comprovada resistência e confiabilidade
mecânica. Na América do Sul, o Chile adquiriu em 2007, 132 unidades do também
rebatizado Leopard 2 A4 CHL.
CARACTERÍSTICAS
Depois
do breve histórico das VBC a serem estudadas, para iniciarmos a presente
análise, recorreremos às características principais de um carro de combate,
aquelas que lhe conferem a ação de choque. Ação de choque é o efeito resultante
da associação entre a mobilidade e a potência de fogo, reforçada pela proteção
blindada. Traduz-se no impacto físico e psicológico exercido sobre o inimigo,
mediante fogos diretos potentes, desencadeados a distâncias curtas.
PROTEÇÃO
BLINDADA
O
grau de proteção proporcionada pela blindagem é um fator de sobrevivência nos
campos de batalha. Normalmente, a proteção convencional de aço é capaz de
impedir danos causados por projetis de metralhadoras, pequenos canhões e
granadas alto-explosivas de artilharia. Para proteção contra munição
especializada anti-carro, um considerável reforço na blindagem torna-se
necessário, envolvendo considerável aumento de peso.
O
Leopard 1 A5 possui blindagem de 70mm na parte frontal e 35mm nas laterais, além
de uma blindagem adicional espaçada de 5mm, contra munição de carga oca, nas
laterais e na torre. O Leopard 2 A4 possui de 700 a 1000mm de blindagem na parte
frontal, 200mm nas laterais, além de uma proteção adicional para o motorista,
com cerca de 150mm. O aspecto proteção blindada é uma das grandes diferenças
entre as versões comparadas, pois o 2 A4 possui cerca de dez vezes mais
blindagem.
MOBILIDADE
A
despeito de todas as medidas de proteção, o fator que garantirá à VBC maior
capacidade de sobrevivência é a sua mobilidade, ou seja, a capacidade de
ultrapassar obstáculos, realizar manobras rápidas e atingir maiores velocidades
em terreno desfavorável.
O
Leopard 1 A5 é dotado de um motor de 830hp, que lhe confere uma relação
peso/potência de 20hp/ton, lhe permitindo atingir velocidades de 45Km/h em
terreno desfavorável e até 65Km/h em estradas.
O
Leopard 2 A4 possui um motor de 1500hp, que proporciona uma relação
peso/potência de 27hp/ton, lhe permitindo atingir velocidades de 55Km/h em
terreno desfavorável e até 72 Km/h em estradas, velocidades estas
significativamente maiores que do nosso exemplar.
Além
disso, apesar de mais pesado, o Leopard 2 A4 possui uma reduzida pressão sobre o
solo, 0,85Kg/cm2, menor do que o Leopard 1 A5, que é de 0,86 Kg/cm2, o que
favorece a maneabilidade, em especial nas operações em terreno pouco firme. Em
contra partida, a necessidade de empregar as estradas e pontes existentes é um
dos óbices do 2 A4, que pesa 55,1ton contra as 42,4ton do 1 A5. No aspecto
mobilidade, o 2 A4 possui vantagem devido a sua maior relação peso/potência e
menor pressão sobre o solo, porém, seu peso maior acarreta em sérios problemas
de trafegabilidade, principalmente em estradas não pavimentadas e pontes.
PODER
DE FOGO
O
desempenho de um CC é diretamente proporcional ao seu calibre, à cadência de
tiro, à capacidade do seu sistema de controle de fogo e à sua capacidade de
busca, aquisição e transferência de objetivos.
O
Leopard 1 A5 é dotado de um canhão de 105mm, raiado, modelo L7 A3 da Royal
Ordnance, britânica. A versão 2 A4 possui um canhão L44 Rheinmetall alemão de
120mm e com alma lisa que dispara munição desencartuchada.
O
canhão de alma lisa do 2 A4 é menos preciso que o raiado do 1 A5 e sua munição é
mais cara que a convencional. Em contra partida, tem maior poder de penetração e
a capacidade de disparar, segundo o manual do fabricante, a 5500m, enquanto o 1
A5 o faz a 4000m. Na prática, estas distâncias não puderam ser confirmadas. Os
impactos ao primeiro disparo mais longos realizados pelo autor foram de
aproximadamente 4000m com o 2 A4 e de 2500m com o 1 A5.
O
fato de o 2 A4 utilizar munição desencartuchada afeta positivamente sua cadência
de tiro, pois, além de auxiliar na limpeza do canhão, permite a execução de
vários disparos sem a necessidade de esvaziar o cesto do armamento, atividade
esta que deve ser realizada a cada 3 ou 4 tiros, com o 1 A5.
Ainda
sobre aspectos que influenciam na cadência de tiro, o Leopard 2 A4 utiliza
munição de 120mm, que é mais pesada que a munição 105mm, dificultando a recarga.
Possui
um bunker para
o armazenamento da munição, com capacidade para 15 tiros, este proporciona
segurança à tripulação, mas acarreta no aumento do tempo de recarga.
Além
disso, o canhão 120mm do 2 A4, após o disparo, corta a estabilização
automaticamente e toma a posição de carregamento, que pode ser regulada de
acordo com o biótipo do Aux Atdr a fim de facilitar o carregamento,
principalmente quando o CC está em movimento. A entrada em posição de
carregamento também aumenta o tempo de recarga, diminuindo, consequentemente a
cadência de tiro.
Sobre
o sistema de controle de fogo, o EMES 18 do Leopard 1 A5 é uma cópia do EMES 15
da versão 2 A4. As diferenças são: a configuração das caixas, que no Leopard 2
A4 encontram-se melhor distribuídas, facilitando a operação e o fato de que o
Leopard 1 A5 não possui o compensador de movimento próprio.
Este
recurso, ainda que não afete significativamente na técnica de tiro ou no tempo
de engajamento, torna desnecessário o uso da taquimetria quando o alvo está
parado, compensando o movimento próprio até 10s ou 170m.
Outra
distinção no sistema de controle de fogo é o Painel de Controle do Comandante,
que só aparece na versão 2 A4. Não influencia diretamente na execução do tiro
propriamente dito, mas armazena os dados do último disparo, tornando-se uma
ferramenta importantíssima na identificação de possíveis falhas ou erros na
técnica de tiro, além de permitir calcular com relativa precisão a velocidade do
vento no alvo. Sobre busca, aquisição e transferência de objetivos, as
capacidades proporcionadas pelos equipamentos de cada uma das versões comparadas
são muito distintas.
O
Leopard 1 A5 utiliza ainda a ultrapassada luneta TRP, que é manual, tanto o giro
quanto o mecanismo para acoplamento ao canhão, e não pode ser utilizada com o CC
em movimento, sob pena de queimá-la. A transferência de objetivos é realizada
manualmente.
O
2 A4 utiliza o periscópio Peri R-17, com estabilização independente do EMES, o
que permite ao comandante realizar buscas mais precisas. Bem mais moderno,
possui o Integrador, que permite acelerar o giro do periscópio ou ainda imprimir
uma velocidade de giro constante e automática. A transferência de objetivos é
realizada com um simples apertar de botão.
Em
relação ao poder de fogo, o Leopard 2 A4 tem a capacidade de disparar a
distâncias mais longas e com maior poder de penetração, mas o 1 A5 é mais
preciso e tem uma melhor cadência de tiro, mesmo com a necessidade de descartar
os estojos deflagrados. O sistema de controle de fogo de ambas as versões não
apresenta diferenças significativas ou que possam influenciar no tempo de
engajamento, mas a capacidade de busca, aquisição e transferência de objetivos é
muito maior no 2 A4.
COMUNICAÇÕES
Ter
comunicações amplas e flexíveis é outra característica necessária à tropa
blindada. O Leopard 1 A5 possui equipamento rádio israelense com sinal
criptografado, já o 2 A4, além do sinal criptografado, possui rádio israelense
com salto de frequência, sinal GPS e com um Sistema de Gerenciamento do Campo de
Batalha, que permite ao Cmt SU verificar a posição de suas VBC, as medidas de
coordenação e controle da manobra e as atualizações em tempo real a respeito de
qualquer fator que influencie no combate. Neste aspecto, outra vantagem para a
versão da família 2.
CONCLUSÃO
Da
análise dos aspectos comparados entre as VBC CC Leopard 1 A5 e 2 A4, pode-se
concluir que:
A
versão 2 possui maior proteção blindada.
A
mobilidade de ambas as versões é muito boa. O 2 A4 tem melhor relação
peso/potência e pressão sobre o solo. O 1A5 tem melhor trafegabilidade,
principalmente considerando as estradas não pavimentadas e pontes.
Apesar
do 1 A5 ser mais preciso e ter uma melhor cadência de tiro, o poder de fogo do 2
A4 é maior por causa de seu calibre, que lhe permite disparar a distâncias mais
longas com maior poder de penetração e de sua grande capacidade de busca,
aquisição e transferência de objetivos.
O
Leopard 2 A4 possui equipamentos de comunicações com uma maior capacidade.
Levando
em consideração nossas hipóteses de emprego, o teatro de operações onde se
desenvolveriam os combates e nossas possíveis ameaças acredita-se que o conflito
se caracterizaria por combates a curtas distâncias e contra um inimigo com menor
poder relativo de combate.
Dadas
a estas características, o Leopard 1 A5, ainda que inferior ao 2 A4, teria
suficiente mobilidade e proteção blindada.
Mas
é conveniente ressaltar que em combates a curtas distâncias os fatores
preponderantes para o êxito na missão são a necessidade de aquisição rápida de
objetivos e a capacidade em estabelecer e monitorar setores de observação e,
portanto, o Leopard 1 A5, no aspecto poder de fogo, teria uma enorme desvantagem
em relação ao 2 A4, mesmo sendo mais preciso e com melhor cadência de tiro.
Finalizando,
os dois carros de combate pertencem à mesma família e são dotados de um sistema
de controle de fogo muito similar, por isso nossas tripulações estariam em
condições de serem rapidamente adaptadas a operar a VBC Leopard 2 A4, caso haja
futuras aquisições.
Nossa, onde você consegue tanta informação detalhada?
ResponderExcluirAgradeço o prestígio.
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